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Argamassas industriais com incorporação de granulado de cortiça 
 
 
Dina Frade1, António Tadeu2, Isabel Torres2, Paulo Amado Mendes2, Nuno Simões2, Gina 
Matias2, Ana Neves2 
 
1Secil Martingança, Portugal, dina.frade@secil.pt 
2CICC, Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Coimbra, Portugal, 
tadeu@dec.uc.pt, itorres@dec.uc.pt, pamendes@dec.uc.pt, nasimoes@dec.uc.pt 
 
 
Resumo: O presente estudo refere-se a uma inovação na formulação de argamassas 
industriais, em que o agregado foi parcialmente substituído por granulado de cortiça. 
Estas argamassas foram caracterizadas segundo a norma EN 998, tendo sido realizado 
sobre estas outro tipo de ensaios para melhorar a caracterização das mesmas em 
parâmetros como o comportamento térmico e acústico. 
A apreciação dos resultados de resistência mecânica e resistência ao gelo-degelo foram os 
indicadores avaliados para perspetivar a durabilidade das referidas argamassas. 
Pretende-se ainda avaliar a rentabilidade da sua aplicação em obra com um caso de 
estudo. 
 
Palavras–chave: Inovação; Argamassas Industriais; Granulado de cortiça. 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Os revestimentos e acabamentos das paredes constituem parte significativa da envolvente 
dos nossos edifícios e desempenham um papel importantíssimo no seu comportamento, já 
que, podemos dizer, constituem a “pele” que assegura a proteção das mesmas. São os 
elementos mais expostos, quer às ações climáticas, quer às ações mecânicas e, ainda, às 
ações ambientais. 
O desempenho global de uma parede não depende apenas de um dos seus componentes, 
mas sim da globalidade do conjunto tosco-revestimento. As exigências funcionais 
dependem de agentes mecânicos, eletromagnéticos, térmicos, químicos ou biológicos. 
Alguns destes agentes atuam mais sobre o revestimento, outros agem principalmente 
sobre o tosco e outros ainda sobre o conjunto [1]. O cumprimento de exigências 
funcionais como estanquidade à água, permeabilidade ao vapor, isolamentos térmico ou 
acústico depende muito do desempenho do revestimento. 
As características exigidas aos revestimentos das paredes são cada vez mais severas, quer 
ao nível do comportamento mecânico, quer ao nível do comportamento térmico ou mesmo 
ao nível do desempenho acústico. 
Um dos revestimentos tradicionais que continua muito presente nos nossos edifícios é o 
revestimento à base de argamassas [2]. Nesse sentido, tem-se observado, cada vez mais, a 
aposta na introdução de novos constituintes na sua composição com o objetivo primeiro 
de conseguir melhorar o seu comportamento. 
Nos últimos anos tem-se assistido à crescente utilização de argamassas industriais, por via 
das inúmeras vantagens que introduzem. Um aspeto muito importante é que estas 
argamassas, contrariamente às argamassas tradicionais, permitem assegurar um controlo 
eficaz na sua composição e respetiva produção. Salienta-se, por último, a crescente 
especialização das argamassas pré-doseadas, não apenas as destinadas a reboco mas 
também a outras aplicações como, por exemplo, à execução de juntas de assentamento. 
Estas argamassas apresentam diferentes propriedades químicas e mecânicas apropriadas 
às funções a desempenhar. 
Importa salientar a importância que as questões energéticas, nomeadamente de 
comportamento térmico dos edifícios, cada vez mais assumem, por via das exigências dos 
regulamentos que vão impondo sucessivamente métodos de produção e produtos de 
desempenho térmico melhorado. 
De igual modo, as preocupações com o conforto acústico conferido por paredes exteriores 
e interiores também não têm sido descuradas, levando à adoção de soluções construtivas 
exigentes, capazes de conferir elevados níveis de isolamento acústico. Com efeito, os 
requisitos acústicos estabelecidos nos regulamentos europeus mais recentes impõem, para 
grande parte dos edifícios, designadamente, valores mínimos dos índices de isolamento a 
sons de condução aérea que obrigam ao desenvolvimento e caracterização de técnicas e 
soluções inovadoras. 
Nesse sentido, foram desenvolvidas duas argamassas industriais com introdução de 
grânulos de cortiça em substituição parcial do agregado: uma argamassa de reboco para 
projeção mecânica e uma argamassa de alvenaria leve para aplicação manual ou mecânica. 
O objetivo deste trabalho foi caracterizar o seu comportamento mecânico, térmico e 
acústico. 
Nos pontos seguintes iremos descrever os ensaios realizados, apresentar os resultados 
obtidos e apresentar um caso de estudo. 
 
2. ENSAIOS REALIZADOS 
 
Foram realizados ensaios de caracterização do comportamento mecânico, higrotérmico e 
acústico, para os dois tipos de argamassas industriais. 
A água de amassadura foi determinada tendo por base o valor de espalhamento 
pretendido, de forma a garantir uma boa trabalhabilidade: para a argamassa de reboco 
partiu-se de um valor indicativo de espalhamento de 135 mm e considerou-se 124 mm de 
espalhamento para a argamassa de alvenaria. Todas as argamassas foram preparadas e 
condicionadas em conformidade com as indicações de cada uma das normas de ensaio 
específicas utilizadas. O número de provetes a ensaiar foi estabelecido de acordo com a 
respetiva norma. 
No caso da determinação da resistência ao gelo-degelo, não havendo norma de ensaio para 
este tipo de produto, recorreu-se ao procedimento existente para determinação da 
resistência ao gelo-degelo de pedra natural, aferindo, posteriormente, a redução da 
capacidade mecânica, quer através da determinação do módulo de elasticidade, quer 
através da caracterização das resistências mecânicas, de acordo com o procedimento 
descrito na norma EN 1015-11 [3], relativa a argamassas. Os provetes de ensaio utilizados 
foram os mais comuns para este tipo de produto: prismas com dimensões de 40 mm x 40 
mm x 160 mm. 
 
2.1 Caracterização mecânica e higrotérmica 
2.1.1 Argamassa de reboco 
A caracterização mecânica e higrotérmica da argamassa de reboco com aglomerado de 
cortiça envolveu ensaios de determinação da massa volúmica da argamassa no estado 
fresco, da consistência por espalhamento, da resistência à flexão e compressão, da 
permeabilidade ao vapor de água, da retração (segundo a norma de determinação da 
retração de argamassas para juntas), da resistência adesiva, da absorção de água por 
capilaridade, da massa volúmica da argamassa no estado endurecido, do teor em ar, da 
resistência ao gelo-degelo, da condutibilidade térmica, da porosidade e diâmetro dos poros 
e do calor específico. 
Na Tabela 1 são apresentados todos os resultados obtidos nos ensaios realizados. 
 
Tabela 1: Resultados obtidos nos ensaios realizados à argamassa de reboco com cortiça. 
Ensaio Norma Resultados 
Água da amassadura --- 31,60 % 
Massa volúmica de argamassa 
no estado fresco EN 1015-6 [4] 1200 kg/m
3
 
Determinação da resistência à 
flexão e compressão (28 dias) EN 1015-11 [3] 
Rf = 3,3 N/mm2 
 Rc = 9,8 N/mm2 
Retração de argamassas para 
juntas de ladrilhos EN 12808-4 [6] Retração = 3,17 mm/m 
Determinação da consistência 
por espalhamento EN 1015-3 [7] 136 mm 
Resistência adesiva de 
argamassa de reboco EN 1015-12 [8] 
Fu Sup. tijolo = 0,34 N/mm2 
Fu Sup. betão = 0,65 N/mm2 
Modos de fratura: A e C 
Determinação da absorção de 
água por capilaridade de 
argamassas. 
EN 1015-18 [9] 0,05 
Massa volúmica aparente seca 
de argamassa no estado 
endurecido 
EN 1015-10 
[10] 910,00 kg/m
3
 
Ar Contido EN 1015-7 [11] 30,00 % 
Módulo de elastecidade BS 1881-5 [12] 1009,8 MPa 
Determinação da resistência ao 
gelo-degelo de argamassa 
NP EN 12371 
[13] 
Decréscimo do ME (28 ciclos) = 2,1 % 
Decréscimo da RC (28 ciclos) = 3,5 % 
Condutibilidade térmica EN 12667 [14] λ = 0,163 W/(m.ºC) 
Porosidade e diâmetro dos 
poros 
ISO 15901-1 
[15] 
46,63 % 
Calor específico --- 1,199 J/(g.K)ME – Módulo de elasticidade 
 RC – Resistência à compressão 
 
Após análise dos resultados concluímos que, de acordo com a norma de especificação de 
argamassas de reboco (EN 998-1) [16], a argamassa de reboco analisada poderá ser 
classificada como CS IV relativamente à resistência à compressão aos 28 dias. Quanto à 
absorção de água por capilaridade, a argamassa poderá ser classificada como W2. 
Verifica-se ainda que a argamassa poderá ser considerada uma argamassa leve, uma vez 
que a massa volúmica no estado endurecido é inferior a 1300 kg/m3. Quanto à 
condutibilidade térmica podemos dizer que a argamassa pode ser considerada na categoria 
T1. De acordo com a norma de especificação, esta argamassa poderá ser incluída na 
categoria T (argamassa térmica). 
Estamos perante uma argamassa com uma baixa condutibilidade térmica 
comparativamente aos rebocos tradicionais. Estes últimos, de acordo com a informação 
Técnica de Edifícios nº 50, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (ITE 50) [17] 
apresentam valores compreendidos entre 1,3 e 1,8 W/(m.ºC), respetivamente para massas 
volúmicas entre os 1800 e 2000 kg/m3 e superiores a 2000 kg/m3. Deste modo, em relação 
aos rebocos tradicionais, a argamassa com aglomerado de cortiça contribuirá para uma 
melhoria do desempenho térmico das soluções construtivas em que se aplique. 
A determinação do calor específico é extremamente relevante nas situações em que se 
pretende efetuar a avaliação do comportamento dinâmico das soluções construtivas. O 
calor específico, a condutibilidade térmica e a massa volúmica de cada um dos materiais 
que compõem a solução construtiva vão ser determinantes no atraso térmico e na 
capacidade de armazenamento de energia dessas soluções. Neste caso, a difusividade 
térmica é de 1,26x10-7 m2/s, valor inferior ao que geralmente se obtém com argamassas 
tradicionais. 
Em termos do comportamento face à presença de água, também podemos dizer que esta 
argamassa poderá revelar um bom desempenho, na medida em que o valor do coeficiente 
de absorção de água determinado é bastante reduzido e o valor do coeficiente de 
permeabilidade ao vapor é adequado. 
Relativamente ao comportamento mecânico, tendo em conta o valor reduzido obtido para 
a retração, considera-se que será uma argamassa pouco suscetível à fissuração. Por outro 
lado, os valores obtidos, quer de resistência à flexão e à compressão, quer de resistência 
adesiva, são bastante aceitáveis para uma argamassa de reboco. A reduzida massa 
volúmica permite uma maior versatilidade relativamente ao tipo de utilização. 
No ensaio de gelo-degelo, verificou-se uma redução do módulo de elasticidade, ao fim de 
28 ciclos, pouco significativa. À partida, o resultado obtido revela que se está perante uma 
argamassa de elevada durabilidade em situações de exposição que possam desencadear 
ciclos de gelo-degelo. 
 
2.1.2 Argamassa de alvenaria 
A caracterização da argamassa de assentamento com cortiça envolveu ensaios de 
determinação da massa volúmica da argamassa no estado fresco, da consistência por 
espalhamento, da resistência à flexão e compressão, da permeabilidade ao vapor de água, 
da retração (segundo a norma de determinação da retração de argamassas para juntas), da 
absorção de água por capilaridade e da massa volúmica da argamassa no estado 
endurecido. 
Na Tabela 2 são apresentados todos os resultados obtidos nos ensaios realizados. 
De acordo com a norma de especificação de argamassas para alvenaria, EN 998-2:2010 
[18], poderá classificar-se a presente argamassa, relativamente à resistência à compressão, 
como M 2,5. Esta argamassa tem uma resistência à compressão elevada, podendo ser 
utilizada, de acordo com o Eurocódigo 6 [19], na execução de juntas de alvenaria 
estrutural. 
Quanto à condutibilidade térmica, a argamassa apresenta um valor bastante baixo, o que 
poderá ter algum contributo na melhoria do desempenho térmico da alvenaria [20]. 
 
Tabela 2: Resultados obtidos nos ensaios realizados à argamassa de alvenaria com cortiça. 
Ensaio Norma Resultados 
Água da amassadura --- 40,00 % 
Massa volúmica de argamassa 
no estado fresco EN 1015-6 [4] 1030 kg/m
3
 
Determinação da resistência à 
flexão e compressão EN 1015-11 [3] 
Rf = 1,5 N/mm2 
 Rc = 3,5 N/mm2 
Permeabilidade ao vapor de 
água de argamassas EN 1015-19[5] 
Wvp = 2,49x10-11 kg/m.s.Pa 
µ = 7,8 
Retração de argamassas para 
juntas de ladrilhos EN 12808-4 [6] Ret = 2,68 mm/m 
Determinação da consistência 
por espalhamento EN 1015-3 [7] 126 mm 
Determinação da absorção de 
água por capilaridade de 
argamassas 
EN 1015-18 [9] 0,1 
Massa volúmica aparente seca 
de argamassa no estado 
endurecido 
EN 1015-10 [10] 860,00 kg/m3 
Condutibilidade térmica EN 12667 [14] λ = 0,125 W/(m.ºC) 
 
Foi efetuada uma comparação, em termos de desempenho térmico, da argamassa de 
alvenaria com cortiça relativamente a uma argamassa tradicional de cimento e uma 
argamassa não tradicional de cimento. O cálculo apresentado na Tabela 3 foi efetuado de 
acordo com as normas ISO 6946:2007 [21] e EN ISO 10211:2007 [22]. Considerou-se 
um bloco térmico de betão leve com 28 cm de espessura como suporte, uma argamassa 
tradicional de cimento, com uma massa volúmica compreendida entre 1800 kg/m3 e 2000 
kg/m3 e coeficiente de condutibilidade térmica de 1,3 W/(m.ºC), e uma argamassa não 
tradicional com uma massa volúmica entre 750 kg/m3 e 1000 kg/m3 e um coeficiente de 
condutibilidade térmica de 0,40 W/(m.ºC). Os valores indicados de condutibilidade 
térmica foram retirados da informação Técnica de Edifícios nº 50, do Laboratório 
Nacional de Engenharia Civil (ITE 50) [17]. 
 
 
Tabela 3:Variação do coeficiente de transmissão térmica para um bloco de betão leve com 
uma resistência térmica de 0,89 m2.ºC/W. 
Espessura de assentamento mm 10 15 
RT Global m2.ºC/W 0,96 0,93 
Argamassa tradicional λ = 1,30 W/(m.ºC) UGlobal W/(m2.ºC) 1,04 1,07 
RT Global m2.ºC/W 1,08 1,08 
Argamassa não tradicional λ = 0,40 W/(m.ºC) UGlobal W/(m2.ºC) 0,93 0,93 
RT Global m2.ºC/W 1,14 1,14 Argamassa de alvenaria 
com cortiça 
λ = 0,1247 
W/(m.ºC) UGlobal W/(m2.ºC) 0,88 0,88 
∆Uglobal - Argamassa tradicional % -18,2% -21,6% 
∆Uglobal - Argamassa não tradicional % -5,7% -5,7% 
 
 
2.2 - Ensaios de caracterização do desempenho acústico 
 
No sentido de proceder à caracterização do desempenho acústico das argamassas 
industriais com integração de aglomerado de cortiça, estas foram utilizadas como parte 
integrante de soluções construtivas do tipo parede de alvenaria de tijolo cerâmico. 
O desempenho acústico daquelas soluções, incorporando argamassas de reboco e de 
alvenaria com cortiça, foi analisado através de medições efetuadas em laboratório, nas 
câmaras acústicas horizontais do ITeCons (uma descrição deste sistema de medição e 
ensaio e da sua caracterização pode ser consultada nos trabalhos [23 e 24]). Avaliou-se o 
isolamento sonoro normalizado para sons de condução aérea, na gama de frequências 
entre 100 e 5000 Hz, e calculou-se o índice de isolamento sonoro para sons de condução 
aérea, Rw, segundo as normas NP EN 20140-3 [25] e EN ISO 717-1 [26]. Com estes 
objetivos, foram executadas duas paredes de alvenaria de tijolo cerâmico com 22cm de 
largura. 
 
 
a) b) 
Figura 1 – Aspecto das paredes, instaladas nas câmaras acústicas, na fase de realização 
dos ensaios - a) Parede sem reboco com argamassa de alvenaria corrente; b) Parede sem 
reboco com argamassa incorporando cortiça. 
O primeiro provete ensaiado compreendeu uma parede simples de alvenaria, com 
dimensões de 3,16m *3,16m≈10m2, em tijolos cerâmicos com 22cm de largura, sem 
aplicação de reboco. Os blocos cerâmicos foram assentes com argamassa de alvenaria 
corrente "M10", nas juntas horizontais e verticais entre blocos (a esta parede foi atribuída 
aref.ª “Parede 1, não rebocada”, sendo ilustrada na Figura 1a)). 
A segunda solução construtiva testada correspondeu a uma parede simples de alvenaria 
com aproximadamente 10m2, em tijolos cerâmicos com 22cm de largura, sem aplicação 
de reboco, tendo sido neste caso os blocos cerâmicos assentes com argamassa de alvenaria 
com introdução de granulado de cortiça, nas juntas horizontais e verticais entre blocos 
(parede referida como “Parede 2, não rebocada”, podendo ser observada na Figura 1b)). 
Posteriormente, esta parede foi rebocada em ambas as faces. O reboco da face exterior é 
composto por "RHP" com aglomerado de cortiça, com cerca de 40mm de espessura, 
revestido com uma camada de "RBR20" areado, com 3mm de espessura. O reboco da face 
interior é composto por "RHP PLUS Interior", com cerca de 10mm de espessura, com 
acabamento areado (parede designada pela ref.ª “Parede 2, rebocada”). 
A partir dos ensaios realizados nas câmaras acústicas, determinaram-se, de acordo com as 
normas NP EN 20140-3 [25] e EN ISO 717-1 [26], os valores do índice ponderado de 
isolamento sonoro para sons de condução aérea, Rw, e dos correspondentes termos de 
adaptação espectral (C; Ctr; C100-5000; Ctr 100-5000) das paredes anteriormente descritas. Estes 
valores resumem-se na Tabela 4. Por sua vez, apresentam-se de forma gráfica, na Figura 
2, os valores determinados, por banda de frequência de um terço de oitava, para o 
isolamento sonoro a sons de condução aérea normalizado, R. 
 
Tabela 4 – Resultados obtidos nas câmaras acústicas do ITeCons (índice de isolamento a 
sons de condução aérea e termos de adaptação espectral) 
 
Parede 1, não 
rebocada 
Parede 2, não 
rebocada 
Parede 2, 
rebocada 
índice de isolamento 
Rw [dB] 41 38 43 
termos de adaptação 
espectral 
(C; Ctr) 
(-1; -3) (-1; -2) (0; -3) 
(C100-5000; Ctr 100-5000) (0; -3) (0; -2) (1; -3) 
 
Comparando os valores do isolamento sonoro normalizado das duas paredes sem reboco 
(Tabela 4), verifica-se que a incorporação de cortiça na argamassa de assentamento dos 
tijolos de alvenaria se traduziu num decréscimo de 3dB para o índice de redução sonora. 
As correspondentes curvas, na Figura 2, apresentam um andamento próximo até aos 
1250Hz, ocorrendo uma quebra de isolamento de cerca de 7dB aos 1600-2000Hz, na 
curva de isolamento da parede com argamassa de alvenaria com cortiça. 
Analisando os resultados obtidos nos ensaios da segunda parede, pode verificar-se que o 
ganho obtido, em termos de índice ponderado de redução sonora, com a aplicação de 
reboco em ambas as faces é de 5dB. Neste caso, a aplicação dos rebocos nas faces da 
parede permitiu corrigir duas quebras acentuadas na curva de isolamento, observadas nas 
frequências de 400 e 1600-2000Hz, melhorando muito na gama alta de frequências. A 
curva de isolamento sonoro para sons de condução aérea referente ao provete rebocado é 
sempre superior à do pano de parede de alvenaria simples sem reboco, atingindo esta 
diferença valores superiores a 10dB e apresentando um desempenho significativamente 
superior para frequências acima de 1250Hz. 
 
 
Figura 2 – Isolamento sonoro para sons de condução aérea normalizado das paredes 
testadas, em alvenaria de tijolo cerâmico com as argamassas industriais em 
desenvolvimento. 
 
 
3. CASO DE ESTUDO 
 
A aplicabilidade em obra destas argamassas, foi um dos pressupostos iniciais no 
desenvolvimento das argamassas em estudo. Não se pretendia só realizar um trabalho de 
investigação, mas também que ele fosse traduzido em produtos comerciais para uso geral 
na construção e com domínio de aplicação específico. 
A rentabilidade na aplicação das argamassas em obra, em coerência com as argamassas 
disponíveis no mercado, com recurso aos agregados comuns, foi sem dúvida um dos 
parâmetros importantes deste desenvolvimento. 
 
3.1 Produção em fábrica das argamassas 
O doseamento em unidade industrial das argamassas, não é um processo simples, mas a 
experiência já anteriormente desenvolvida para outro tipo de agregados, contribuiu para o 
sucesso do mesmo. As argamassas foram então preparadas e ensacadas em embalagem de 
12 kg e enviadas para obra. 
3.1.1 Argamassa de reboco 
A argamassa de reboco foi aplicada numa nave industrial, onde a estrutura projetada era 
em betão pré-fabricado, conforme a Figura 3. 
 
 
Figura 3 – Vista global da obra e pormenor do suporte. 
 
Nesta obra específica, o projetista, para além de uma melhoria no desempenho térmico, 
pretendia uma argamassa com um baixo módulo de elasticidade, ou seja, uma baixa 
tendência à fissuração, devido à elevada exposição à vibração da estrutura em causa. 
O suporte de aplicação da argamassa de reboco era bloco de betão, apresentando-se como 
principal área sensível a transição entre a alvenaria e os pilares de betão pré fabricados, 
conforme a Figura 3, estas superfícies caracterizadas pela muito baixa absorção, foram 
devidamente tratadas recorrendo a um primário de aderência e posteriormente com 
recurso a rede de fibra de vidro anti alcalina, no seio da argamassa de reboco. 
A aplicação foi realizada mecanicamente, através de máquina de projetar com doseamento 
automático de água, conforme Figura 4. 
 
 
 
Figura 4 – Equipamento de projeção. Projeção. Aperto da argamassa de reboco. 
Quarenta e oito horas após a aplicação da argamassa de reboco, esta foi revestida com 
uma argamassa hidráulica com cerca de 2 mm de espessura, para a realização do 
acabamento pretendido e posteriormente pintada. A obra decorreu em Maio de 2011. 
A apreciação por parte do aplicador foi positiva, tratando-se na opinião deste de uma 
argamassa muito semelhante às argamassas comuns, mas cujos processos manuais de 
aplicação adquirem grande ligeireza, devido à leveza desta. A avaliação realizada em 
Janeiro de 2012 indica-nos a permanência das características do revestimento, conforme 
objetivo inicial. 
 
3.1.2 Argamassa de alvenaria 
A argamassa de alvenaria, testada em obras diversas, apresenta uma apreciação muito 
positiva por parte do aplicador, conforme Figura 5, embora com uma trabalhabilidade 
significativamente distinta das argamassas de alvenaria comuns. 
 
 
Figura 5 – Aplicação da argamassa de alvenaria. 
 
Futuramente, serão realizadas aplicações em obra recorrendo também a aplicação 
mecânica, por facilitar consideravelmente a trabalhabilidade da mesma e aumentar a 
rentabilidade da aplicação. 
 
4. CONCLUSÕES 
A substituição parcial do agregado por granulado de cortiça tem sido alvo, nos últimos 
anos, de alguns estudos e trabalhos de investigação sobre argamassas cujas conclusões se 
têm revelado encorajadoras. Neste trabalho, pretendeu-se avançar no sentido da 
caracterização de argamassas industriais com incorporação de cortiça, apresentando um 
elevado controlo de produção e uma composição motivada pelo desenvolvimento de 
argamassas leves, mais sustentáveis e com desempenhos mecânico, higrotérmico e 
acústico melhorados. 
Deste modo, para os casos de duas argamassas com cortiça em desenvolvimento, 
designadamente uma argamassa de reboco para projeção mecânica e uma argamassa de 
alvenaria leve para aplicação manual ou mecânica, foram elencados os ensaios de 
caracterização dos comportamentos mecânico, térmico e acústico, tendo sido igualmente 
apresentados os correspondentes resultados. 
São de salientar os valores obtidos que permitem classificar estas argamassas como leves, 
a sua baixa condutibilidade térmica e os bons desempenhos do ponto de vista da retração, 
da exposição à água e a ciclos de gelo-degelo. No que diz respeito ao desempenho 
acústico observado em soluções construtivas de paredes de alvenaria de tijolo cerâmico 
com aplicação daquelas argamassas, foi possível observar que, globalmente, o 
comportamento acústico destes sistemas construtivos não se afastarásignificativamente 
do observado em soluções de alvenaria com argamassas tradicionais. 
Por último, descreveu-se ainda um caso de estudo, que permitiu salientar a versatilidade 
das argamassas desenvolvidas bem como a rentabilidade da sua aplicação em obra, de 
forma coerente com as argamassas tradicionais existentes, com recurso a agregados 
correntes. 
 
AGRADECIMENTOS 
Os autores agradecem à empresa “Secil Martingança” e ao “ITeCons - Instituto de 
Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Ciências da Construção” o apoio 
disponibilizado para a realização deste trabalho, nomeadamente aos técnicos António 
Nascimento, José Nascimento e Saúl Martins. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 [1] LUCAS, J. A. Carvalho - "Exigências funcionais de revestimentos de paredes" - ITE 
25, LNEC, Lisboa, 1990. 
[2] Faria Rodrigues, M. P. (2004). “Argamassas de revestimento para alvenarias antigas – 
contribuição para o estudo da influência dos ligantes”. Tese de Doutoramento, 
Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da 
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa. 
[3] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 11: Determination of flexural and 
compressive strength of hardened mortar - EN 1015-11, European Committee for 
Standardization, Brussels, 1999. 
[4] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 6: Determination of bulk density 
of fresh mortar - EN 1015-6, European Committee for Standardization, Brussels, 1999. 
[5] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 19: Determination of water 
vapour permeability of hardened rendering and plastering mortars - EN 1015-19, 
European Committee for Standardization, Brussels, 2002. 
[6] CEN, Grouts for tiles - Part 4: Determination of shrinkage - EN 12808-4, European 
Committee for Standardization, Brussels, 2009. 
[7] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 3: Determination of consistence of 
fresh mortar (by flow table) - EN 1015-3, European Committee for Standardization, 
Brussels, 1999. 
[8] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 12: Determination of adhesive 
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European Committee for Standardization, Brussels, 2000. 
[9] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 18: Determination of water 
absorption coefficient due to capillary action of hardened mortar. EN 1015-18, European 
Committee for Standardization, Brussels, 2002. 
[10] CEN, Methods of test for mortar for masonry – Part 10: Determination of dry bulk 
density of hardened mortar. EN1015-10, European Committee for Standardization, 
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