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CONTABILIDADE PARA ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR: ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS CONTÁBEIS, SUA IMPORTÂNCIA E UTILIDADE NA ASSOCIAÇÃO ABC Fernanda Kerlen Nyland1 Jaqueline Silveira2 Alexandre André Feil3 RESUMO Este artigo apresenta um estudo sobre a Contabilidade para Entidades do Terceiro Setor, focalizando-se na contabilidade de uma associação educacional sem fins lucrativos da cidade de Santa Cruz do Sul – RS. Este estudo tem por objetivo verificar se as normas contábeis para este tipo de entidade estão sendo observadas na contabilidade da escola objeto deste estudo e verificar se a contabilidade foi utilizada pelos gestores na “prestação de contas” da alocação dos seus recursos aos usuários. Julgou-se necessário esse estudo por se tratar de um tema ainda pouco estudado nos dias atuais, e, também, porque a escola estudada procura obter certificação e/ou titulação de fins filantrópicos, assim, este estudo vem a contribuir para tanto. Palavras-chave: Terceiro Setor, Normas Técnicas Contábeis, Prestação de Contas. ABSTRACT This paper presents a study on the Entities Accounting for the Third Sector, focusing on accounting in a nonprofit educational association of the city of Santa Cruz do Sul - RS. This study aims to verify that accounting standards for this type of entity being observed in accounting school study object and verify that the accounting was used by managers in the "accountability" of the allocation of its resources to users. It was deemed necessary to this study because it is a subject still little studied nowadays, and also because the school studied seeking certification and / or titration of philanthropic, so this study is to contribute to both. Key-words: Third Sector, Technical Accounting Standards, Accountability. 1 Graduanda em Ciências Contábeis pela instituição Faculdade Dom Alberto. 2 Contadora, Professora da Faculdade Dom Alberto. 3 Contador, Mestre em Ambiente e Desenvolvimento pela UNIVATES. [Digite texto] 1 Introdução Há décadas, a ordem sociopolítica brasileira estava dividida em dois setores distintos: o primeiro, denominado público, representado pelo Estado e responsável por questões sociais de interesse geral, e o segundo, privado, compreendia questões individuais. Em seguida, foi reconhecida a existência de organizações privadas e que atendiam a questões sociais de interesse público, porém, sem visar ao lucro. Essas organizações foram denominadas de Terceiro Setor. Por reconhecer a relevância dessas instituições, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) definiu normas técnicas específicas para apresentação das demonstrações financeiras deste setor. As entidades do Terceiro Setor para obterem recursos do governo necessitam de uma contabilidade regular, pois é dela que o Ministério da Justiça extrai os dados que são necessários para a obtenção e manutenção de certificações e qualificações. Nesse sentido, este trabalho tem como tema a contabilidade para entidades do Terceiro Setor, focalizando nos objetivos de: Verificar se na contabilidade de uma entidade deste setor estão sendo observadas as particularidades de procedimentos contábeis, de acordo com as Normas Técnicas, para estas entidades; e Verificar se a contabilidade da entidade foi utilizada para “prestar contas” dos recursos obtidos e sua devida aplicação para seus usuários. A finalidade deste estudo é verificar, de acordo com as normas técnicas contábeis, se estas normas estão sendo observadas na contabilidade da entidade objeto de uso. E caso for constatado alguma irregularidade, ou alguma maneira mais prática e clara de elaborar as informações contábeis, serão feitas sugestões de melhorias que irão ser repassadas a entidade. Uma vez que a entidade busca estar apta a obter o certificado de filantropia, este estudo vem contribuir para tanto. Esta pesquisa também pretende investigar se as informações obtidas pela contabilidade auxiliam os gestores para “prestar contas” do uso dos seus recursos aos seus usuários. Mediante esse contexto, surgem como problemas de pesquisa as seguintes questões: de acordo com as normas legais e fiscais, as particularidades para as entidades do Terceiro Setor estão sendo observadas na entidade objeto de estudo? E a entidade utiliza informações da contabilidade para “prestar contas” da obtenção e do uso dos seus recursos aos seus usuários? 2 Na continuidade do trabalho apresenta-se a revisão teórica, expondo conceitos sobre o Terceiro Setor e sobre a contabilidade para estas entidades. Em seguida, é apresentada a metodologia da pesquisa e o estudo de caso, e após, é exposta a conclusão e as recomendações que surgiram com a presente pesquisa. 2 Revisão Teórica 2.1 Definição de Terceiro Setor A expressão Terceiro Setor, também conhecida como entidades de interesse social, é utilizada para identificar às organizações formadas pela sociedade civil, cujo objetivo não é o lucro, mas sim, a satisfação do interesse público. Essas organizações estão situadas ao lado dos outros dois setores da sociedade: o primeiro setor, ocupado pelo Estado, e o segundo setor, do qual fazem parte todas as entidades privadas que têm finalidade lucrativa, ou seja, as empresas. (MANICA, 2005 apud MOREIRA FILHO, 2009) De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade, o terceiro setor apresenta as seguintes características básicas: a) promoção de ações voltadas para o bem-estar comum da coletividade; b) manutenção de finalidades não-lucrativas; c) adoção de personalidade jurídica adequada aos fins sociais (associação ou fundação); d) atividades financiadas por subvenções do Primeiro Setor (governamental) e doações do Segundo Setor (empresarial, de fins econômicos) e de parti- culares; e) aplicação do resultado das atividades econômicas que porventura exerça nos fins sociais a que se destina; f) desde que cumpra requisitos específicos, é fomentado por renúncia fiscal do Estado. (CFC, 2008, p. 23) Referente à denominação “sem fins lucrativos” Machado (1994, apud CAVAL- CANTE et. AL., 2007) relata que estas entidades podem e devem ter sobras finan- ceiras. Não ter fins lucrativos não significa que as receitas destas entidades devem ser limitadas aos seus custos operacionais, mas que não podem é distribuir lucros. Essas entidades são obrigadas a aplicar seus recursos para que possam progredir, modernizando e ampliando suas instalações, promovendo a manutenção dos seus objetivos institucionais. 3 2.1.1 Benefícios concedidos às entidades do Terceiro Setor Devido ao caráter social da atividade desenvolvida pelas entidades de interesse social, o governo procura auxiliar o setor com a concessão de benefícios financeiros e fiscais, em destaque, as doações e subvenções. Porém, é na parte fiscal que estão identificados os maiores benefícios para essas instituições, como exemplo a imunidade tributária e a isenção. (MOREIRA FILHO, 2009) A imunidade decorre de norma constitucional, que impõe vedações de diversas naturezas ao Poder Público, no que diz respeito a instituição, majoração, tratamento desigual, cobrança de tributos, entre outras limitações. (CFC, 2008) Os requisitos para se obter imunidade tributária estão contidos no art. 14, incisos I, II e III, do Código Tributário Nacional, que dispõe: Art. 14. O disposto na alínea e do inciso IV do art. 9º é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas: I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II – aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III – manterem escrituração de suas receitas e despesasem livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. (CFC, 2008, p.38) Já a isenção é a inexigibilidade temporária do tributo, devido previsão em lei, mesmo com a ocorrência do fato gerador e, em tese, da obrigação tributária. A isenção diferencia-se da imunidade, pois, a imunidade tem caráter permanente, somente podendo ser mudada com a alteração da Constituição Federal, enquanto a isenção é temporária, ou seja, já na sua concessão pode-se delimitar prazo de vigência, pois decorre de lei. (CFC, 2008) Para que a entidade beneficente certificada faça jus à isenção do pagamento das contribuições, deve atender, cumulativamente aos seguintes requisitos: a) não percebam seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores ou ben- feitores, remuneração, vantagens ou benefícios, direta ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em razão das competências, funções ou atividades que lhes sejam atribuídas pelos respectivos atos constitutivos; b) aplique suas rendas, seus recursos e eventual superávit integralmente no território nacional, na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos ins- titucionais; c) apresente certidão negativa ou certidão positiva com efeito de negativa de débitos relativos aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil e certificado de regularidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS; 4 d) mantenha escrituração contábil regular que registre as receitas e despe- sas, bem como a aplicação em gratuidade de forma segregada, em conso- nância com as normas emanadas do Conselho Federal de Contabilidade; e) não distribua resultados, dividendos, bonificações, participações ou par- celas do seu patrimônio, sob qualquer forma ou pretexto; f) conserve em boa ordem, pelo prazo de 10 (dez) anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem e a aplicação de seus recursos e os relativos a atos ou operações realizados que impliquem modi- ficação da situação patrimonial; g) cumpra as obrigações acessórias estabelecidas na legislação tributária; h) apresente as demonstrações contábeis e financeiras devidamente audita- das (..). (apud CRC/RS, 2011, p. 27) 2.1.2 Titulações e Certificações O governo concede às entidades do Terceiro Setor alguns registros e títulos, visando reconhecer a importância do trabalho desenvolvido por essas entidades. Atendendo os requisitos legais, o governo lhe proporciona benefícios e possibilidade do recebimento de recursos públicos, por meio de convênios, contratos, subvenções sociais, auxílios, doações e termos de parceria. (CFC, 2008) O principal título é o Título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que foi regulamentado pela Lei nº 9.790/99, e considerado como o novo marco legal do Terceiro Setor. No início, permitiu a detenção concomitante da qualificação de OSCIP e demais títulos, porém, a partir de 23/3/2004 as entidades ti- veram que optar, caso desejassem permanecer com a qualificação como OSCIP, ocorria a renúncia automática das demais qualificações. (CRC/RS, 2011) De acordo com a Lei nº 9.790/99 em seu 3º art. a qualificação como OSCIP é conferida as organizações que tenham como objetivos sociais pelo menos uma das seguintes finalidades: - promoção de assistência social; - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e ar- tístico; - promoção gratuita da educação; - promoção gratuita da saúde; - promoção gratuita da segurança alimentar e nutricional; - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do de- senvolvimento sustentável; - promoção do voluntariado; - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócioprodutivos e de sis- temas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e asses- soria jurídica gratuita de interesse suplementar; - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da demo- cracia e de outros valores universais; 5 - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produ- ção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas nesse artigo. (apud CRC/RS, 2011, p. 20 e 21) Os principais benefícios para as entidades qualificadas como OSCIP são a possibilidade de celebração de termo de parceria com o Poder Público para recebi- mento de recursos, e a possibilidade dos doadores (pessoa jurídica) deduzir do cál- culo do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro, até o li- mite de 2% sobre o lucro operacional, o valor das doações efetuadas, conforme pre- visto no art. 59, da Medida Provisória nº 2.158-34, de 28/7/2001. (CRC/RS, 2011) E a principal certificação é o Certificado de entidade beneficente de Assistên- cia Social (CEBAS), que é concedido pela União a organizações sem fins lucrativos que atuem especificamente nas áreas da saúde, educação e/ou assistência social. (CRC/RS, 2011) Os órgãos certificadores das entidades beneficentes de Assistência Social são: o Ministério da Saúde (MS), o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A organização deverá pleitear a certificação ao ministério responsável pela respectiva atividade preponderante. (CRC/RS, 2011) Os benefícios concedidos para estas entidades são a imunidade de tributos na esfera federal, estadual e municipal; e a isenção do recolhimento da quota patro- nal para o INSS e das demais contribuições sociais. (CRC/RS, 2011) 2.2 A contabilidade para o Terceiro Setor Para fazerem jus aos benefícios, as entidades devem comprovar que atendem as exigências impostas. De acordo com Machado (2007, apud MOREIRA FILHO, 2009) o melhor meio para comprovar o cumprimento dessas exigências legais é a escrituração contábil. Os usuários da contabilidade das entidades do terceiro setor são: o governo, por ser um dos principais fomentadores de recursos a essas organizações, e também para controlar a continuidade da condição de “sem fins lucrativos” daquelas que gozam de benefícios; e nas instituições de ensino, surge os alunos, já que por pagar mensalidade estes interessam-se em acompanhar onde estão sendo aplicados os valores auferidos com essas receitas. (MOREIRA FILHO, 2009) 6 Os procedimentos de escrituração das transações praticadas pelas Entidades de Interesse Social no Brasil, em alguns aspectos, diferem dos utilizados para as de- mais entidades jurídicas, conforme disciplinado pela Norma Brasileira de Contabili- dade (NBC T 10.19 – Entidades sem finalidades de lucros), elaborada pelo Conselho Federal de Contabilidade. 2.2.1 Prestação de contas Por prestação de contas o CFC (2008) define como: o conjunto de documentos e informações disponibilizados pela entidade aos órgãos interessados, de forma que possibilite o conhecimento e julgamento das contas e da gestão dos administradores das entidades. As associações, conforme Zacarias, Rezende e Leonardo (2007, apud Gimenes, 2010) não possuem a obrigatoriedade de prestação de contas ao Estado, com exceção daquelas às quais foram concedidos algum título ou certificação por órgãos governamentais. A elaboração e apresentação dos relatórios das entidades do Terceiro Setor aos usuários, sejam eles internos (conselho fiscal, colaboradores remunerados ou voluntários ou beneficiados pelas atividades) ou externos (órgãos públicos, empresas privadas, doadores e sociedade civil), devem sempre buscar a maior transparência possível. (Gimenes, 2010) 3 METODOLOGIA Quanto ao tipo de pesquisa, foram utilizados: a pesquisaaplicada, que de acordo com Lakatos e Marconi “caracteriza-se por seu interesse prático, isto é, que os resultados sejam aplicados ou utilizados imediatamente.” (2007, p. 20) e a pesquisa exploratória que de acordo com Beuren (2003) “busca-se conhecer com maior profundidade o assunto, de modo a torná-lo mais claro ou construir questões importantes para a condução da pesquisa”. Os procedimentos de pesquisa utilizados foram: a pesquisa documental, a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso. A pesquisa documental, segundo Silva e Grigolo (apud BEUREN, 2003) visa selecionar, tratar e interpretar a informação bruta, buscando extrair dela algum 7 sentido e introduzir algum valor. Para tanto, foram utilizados documentos contábeis da empresa, sendo eles: o Plano de Contas, o Balanço Patrimonial do exercício de 2010 e o Demonstrativo do Déficit/Superávit do Exercício de 2010. Após a coleta destes dados, os mesmos foram tabulados pelo Software Microsoft Office Excel 20074, comparando e analisando se estão elaborados de acordo com a legislação vigente. A pesquisa bibliográfica é definida por Cervo e Bervian (1983, apud BEUREN, 2003, p. 86) como sendo a pesquisa que “busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema”. Ela possui a finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com o assunto, é levantada por meio de livros, teses, monografias e artigos, ou qualquer bibliografia já publicada sobre o assunto. (LAKATOS; MARCONI, 2007) O estudo de caso, segundo Beuren (2003, pg. 84), caracteriza-se principalmente pelo estudo concentrado de um único caso, onde pesquisadores aprofundam seu conhecimento a respeito de determinado caso específico. Nesta pesquisa, para o estudo de caso foi escolhida a Associação ABC, nome fictício adotado, porém, os dados coletados condizem com a realidade e originam-se de documentos contábeis da empresa. A abordagem do problema de pesquisa foi de forma qualitativa, pela qual tentou-se responder as questões problemas deste trabalho. 3 Descrição e análise dos dados 3.1 Perfil da entidade Para o estudo de caso foi escolhida uma entidade sem fins lucrativos, mais precisamente, uma associação de caráter educacional. A instituição é nova, tendo sido fundada em 25 de junho de 2008, e iniciou seu primeiro ano letivo no ano de 2009. Atendendo ao pedido dos administradores da instituição não será divulgado o seu nome, portanto, será utilizado o nome fictício de Associação ABC. A Associação ABC fica localizada na cidade de Santa Cruz do Sul, e atende cerca de cem alunos por ano. Ela atende o 1º, 2º e 3º ano (antigo 2º grau) e teve sua primeira turma de formandos do Ensino Médio no ano de 2011. 4 Planilha Eletrônica produzida pela Microsof 8 3.2 Particularidades para entidades do Terceiro Setor Com o estudo realizado, pôde ser identificado que algumas terminologias contábeis entre entidades sem fins lucrativos diferem das utilizadas pelas demais entidades, conforme demonstrado no quadro abaixo. Quadro 01 – Principais diferenças nas terminologias contábeis Demais entidades Entidades sem finalidade de lucro Capital Social Patrimônio Social (NBC T 10.19) Lucros ou Prejuízos Acumulados Superávit ou Déficit Acumulados (NBC T 10.19) Demonstração do Resultado do Exercício Demonstração do Superávit ou Déficit (NBC T 10.4) Demonstração das Mutações do Patrimô- nio Líquido Demonstração das Mutações do Patrimônio Soci- al (NBC T 10.4) Fonte: elaborado pela autora, conforme Normas Brasileiras de Contabilidade. Para verificar se na Associação ABC foram utilizadas as terminologias conforme o quadro nº 01 foi utilizado o plano de contas da entidade, conforme o quadro nº 02. Quadro 02 – Parte do Plano de Contas da Associação ABC Classificação Descrição Grau 24 PATRIMONIO LÍQUIDO 2 2401 PATRIMONIO SOCIAL 3 240101 PATRIMONIO SOCIAL 4 2401010002 AJUSTE CONTABIL DE EXERCICIOS ANTERIORES 5 2401010001 PATRIMONIO SOCIAL 5 Fonte: Plano de Contas da Associação ABC, adaptado pela autora. No quadro de nº 02 pôde ser observado que a terminologia Capital Social não é utilizada, mas sim, Patrimônio Social como definido pelas normas. A substituição da conta de Lucros ou Prejuízos Acumulados por Déficit ou Superávit Acumulados também foi realizada pela entidade, conforme podemos identificar no quadro nº 03. Quadro 03 – Parte do Plano de Contas da Associação ABC Classificação Descrição Grau 240204 SUPERAVIT/DEFICIT ACUMULADOS 4 2402040002 (-)DEFICIT ACUMULADO 5 2402040001 SUPERAVIT ACUMULADO 5 9 Fonte: Plano de Contas da Associação ABC, adaptado pela autora. Os últimos dois itens do quadro nº 01 se tratam de demonstrações contábeis, que devem ser elaboradas pelas entidades sem finalidade de lucro. Conforme observado no quadro de nº 04 abaixo, podemos observar o modelo de Demonstração de Déficit ou Superávit do Exercício utilizado pela Associação ABC, onde é utilizada a terminologia correta conforme as Normas Brasileiras de Contabilidade. Quadro nº 04 – Demonstração do Déficit ou Superávit do Exercício do ano de 2010 da Associação ABC DEMONSTRAÇÃO DO DÉFICIT OU SUPERÁVIT DO EXERCÍCIO RECEITA OPERACIONAL BRUTA RECEITA OPERACIONAL BRUTA RECEITA DE MENSALIDADES CONTRIBUIÇÕES PREFEITURAS OUTRAS RECEITAS DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA RECEITA LÍQUIDA CUSTOS LUCRO BRUTO DESPESAS OPERACIONAIS DESPESAS OPERACIONAIS DESPESAS COM VENDAS DESPESAS ADMINISTRATIVAS DESPESAS COM PESSOAL OUTRAS DESPESAS ADMINISTRATIVAS DESPESAS TRIBUTÁRIAS RESULTADO FINANCEIRO LÍQUIDO DESPESAS FINANCEIRAS RESULTADO OPERACIONAL RESULTADO ANTES DA PROVISÃO PARA A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL RESULTADO ANTES DA PROVISÃO PARA O IMPOSTO DE RENDA DÉFICIT OU SUPERÁVIT DO EXERCÍCIO Fonte: Demonstração do Déficit ou Superávit do Exercício da Associação ABC – adaptado pela autora. De acordo com a NBC T 10.19, existem algumas informações acerca da entidade que devem estar contidas em notas explicativas. No quadro de nº 05 podemos identificar o que devem conter nas notas explicativas e se as demonstrações contábeis da Associação ABC continham as mesmas. 10 Quadro nº 05 – Notas Explicativas Nota Explicativa SIM NÃO Resumo das principais práticas contábeis; x Critérios de apuração das receitas e das despesas, x especialmente com gratuidades, doações, subvenções, contribuições e aplicações de recursos; Contribuições previdenciárias relacionadas com x a atividade assistencial devem ser demonstradas como se a entidade não gozasse de isenção, conforme normas do Instituto ser Nacional do Seguro Social (INSS); Subvenções recebidas pela entidade, a aplicação dos recursos x e as responsabilidades decorrentes dessas subvenções; Fundos de aplicação restrita e responsabilidades decorrentes desses fundos; x Evidenciação dos recursos sujeitos a restrições ou x vinculações por parte do doador; Eventos subseqüentes à data do encerramento do exercício x que tenham, ou possam vir a ter efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados futuros da entidade; Taxas de juros, as datas de vencimento x e as garantias das obrigações a longo prazo; Informações sobre os tipos de seguro contratados; x Entidades educacionais, além das notas explicativas, devem x evidenciar a adequação das receitas com as despesas de pessoal, segundo parâmetros estabelecidos pela Lei das Diretrizes e Bases da Educação e sua regulamentação; Entidades beneficiadas com isenção de tributos econtribuições x devem evidenciar suas receitas com e sem gratuidade de forma segregada, e os benefícios fiscais gozados. Fonte: NCB T 10.19 e notas explicativas da Associação ABC de 2010, adaptado pela autora. Foi verificado neste estudo, que a Associação ABC apresentou apenas três notas explicativas no ano de 2010, que contiveram as seguintes informações: a data de encerramento do balanço, o valor do seu Patrimônio Social no final do exercício, e que as demonstrações contábeis foram elaboradas de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade. Portanto, não conteve nenhuma das informações que a NBC T 10.19 disciplina. 3.3 Prestação de contas para entidades do Terceiro Setor Uma vez recebidos recursos tanto do setor público quanto do setor privado cabe a entidade recebedora prestar contas à sociedade da utilização destes. Os gestores devem disponibilizar como foram aplicados os recursos recebidos. 11 Sendo assim, podemos verificar a utilização dos recursos recebidos e sua destinação pela tabela abaixo. Tabela nº 01 – Receitas X Despesas do ano de 2010 Total da Receita 560.059,20 Contribuições Alunos 156.859,20 Receitas Diversas 200,00 Outras Contribuições 48.000,00 Doações 160.000,00 Convênios Prefeituras 195.000,00 Total das despesas - 596.078,31 Despesas com pessoal - 410.345,10 Despesas Administrativas - 175.408,03 Despesas Financeiras - 10.325,18 Déficit/Superávit do Exercício - 36.019,11 Fonte: Demonstração do Déficit do Exercício de 2010, adaptado pela autora. Podemos verificar pela tabela acima que a Associação ABC teve um déficit no ano de 2010 no valor de R$ 36.019,11, tendo sido compensada por superávits em períodos anteriores. As despesas no ano de 2010 foram pagas todas em dia, pois a Associação no inicio do período contava com um saldo positivo em Caixa/Bancos no valor de R$ 44.451,41. As despesas com pessoal no valor de R$ 410.345,10 compreendem a folha de pagamento dos professores e dos demais funcionários, bem como todos os encargos sobre a mesma, como INSS, FGTS, IRRF. As despesas administrativas compreendem os valores de água, luz, telefone, aluguel, material de expediente, material de limpeza, comida, entre outros. O valor mais expressivo durante o ano de 2010 foi das despesas com alimentação dos alunos, que somou R$ 79.240,89, depois veio as despesas com aluguel, que somou R$ 27.600,00. Conforme verificado a maior fonte de recursos da entidade são os valores repassados pelas Prefeituras Municipais, que no ano de 2010, correspondeu a 34,82% da receita total anual da instituição (Gráfico nº 01). Gráfico 01 – Receitas Associação Educacional ABC referente ao ano de 2010 12 Fonte: Demonstração do Déficit do Exercício de 2010, adaptado pela autora. Torna-se indispensável prestar contas de onde foram aplicados estes recursos. Sendo assim, foi verificado que a Associação ABC elabora uma prestação de contas para cada município contribuinte. Mencionando-se quando ocorreu o depósito em sua conta corrente bancária, e uma listagem das despesas pagas com o valor da contribuição. Constam também em anexo cópias dos documentos quitados e do extrato bancário corresponde ao depósito. Assim, a Associação Educacional ABC comprova que a aplicação dos recursos recebidos está sendo para pagamento de despesas da instituição. Como as prefeituras não são as únicas que contribuem com a escola, após o encerramento do exercício, a Associação ABC realiza uma Assembleia Geral, onde demostra, por meio de uma apresentação de slides, todos os recursos recebidos durante o ano, e também a aplicação dos mesmos. Desta Assembleia Geral participam pais de alunos da escola, colaboradores, e a sociedade em geral que tiver interesse. A Assembleia acontece normalmente no inicio do ano letivo seguinte, mais precisamente, por meados do mês de março. Os dados apresentados na Assembleia são retirados de uma planilha eletrônica de dados (Microsoft Excel) criada pelo escritório contábil, e os dados desta planilha são retirados dos balancetes mensais gerados pela contabilidade da escola. Esta planilha é criada para que os administradores consigam ter uma fácil visualização dos valores, e assim, consigam montar uma apresentação para os demais, que leigos no assunto, não conseguiriam visualizar diretamente das demonstrações contábeis. As prestações de contas não devem ser vistas somente como exigências le- gais, mas sim, como uma maneira da entidade mostrar transparência de suas ativi - 13 dades. Para tanto, destacamos a figura da Contabilidade como ferramenta de con- trole, pois, contribui para uma elaboração eficaz das prestações de contas. Conclusão e Recomendações Esta pesquisa teve como objetivo principal verificar se as demonstrações contábeis da Associação ABC apresentavam-se de acordo com as Normas Técnicas Contábeis para entidades do Terceiro Setor. Pôde ser observado com este estudo, que as terminologias contábeis que diferem das utilizadas pelas demais entidades, foram, em sua totalidade, observadas nas demonstrações contábeis da Associação ABC. Porém, existem algumas informações acerca da entidade que devem estar contidas em notas explicativas das demonstrações contábeis, e estas informações não constavam no encerramento do exercício de 2010 da Associação ABC. Fica como sugestão de melhoria, que para o próximo encerramento de exercício estas informações sejam incluídas em Notas Explicativas. Pôde ser observado com este estudo também, que a entidade presta contas aos usuários de como aloca os recursos recebidos. Demonstrando assim, que se preocupa em mostrar transparência nas suas atividades. Podemos destacar neste sentido, que a Contabilidade foi utilizada para uma elaboração eficaz das prestações de contas, demonstrando que não é apenas uma exigência legal/fiscal, mas tam- bém, uma ótima ferramenta de gerenciamento de dados e/ou controle financeiro. Para continuidade do estudo, propõem-se que a entidade busque junto ao ór- gão competente algum tipo de certificação e/ou titulação para que possa usufruir de benefícios concedidos pelos órgãos governamentais. REFERÊNCIAS 14 BEUREN, Ilse Maria et al. Como elaborar trabalhos monográficos em Contabilidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2003. CAVALCANTE, Rivanísio Cláudio Bezerra et AL. A evidenciação das informações contábeis para o Terceiro Setor: um estudo de caso. X SEMEAD – Seminários em Administração FEA-USP, 2007. Disponível em: http://www.ead.fea.usp.br/semead/10semead/sistema/resultado/an_resumo.asp? cod_trabalho=186 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Manual de Procedimentos Contábeis para Fundações e Entidades de Interesse Social. 2 ed. Reimp. Brasília: CFC, 2008. Disponível em: http://www.cfc.org.br/uparq/Manual_procedimentos2008.pdf GIMENES, Éder Rodrigo. Transparência na prestação de contas por organizações do Terceiro Setor. Revista Urutágua, Maringá, n. 20, 2010. Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Urutagua/index LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. MOREIRA FILHO, Francisco. 2009. 116 f. A contabilidade como mecanismo de aferição da imunidade tributária em entidades de educação sem fins lucrativos: um estudo com associações de educação em Manaus. Dissertação (Mestrado em Contabilidade e Controladoria), Universidade Federal do Amazonas, Manaus. 2009. Disponível em: http://www.ppgcc.ufam.edu.br/trabalhos-publicados/36--a-contabilidade-como-mecanismo-de-afericao-da-imunidade- tributaria-em-entidades-de-educacao-sem-fins-lucrativos-um-estudo-com- associacoes-de-educacao-em-manaus. Acesso em: 24/04/2011. 15 CONTABILIDADE PARA ENTIDADES DO TERCEIRO SETOR: ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS CONTÁBEIS, SUA IMPORTÂNCIA E UTILIDADE NA ASSOCIAÇÃO ABC RESUMO Palavras-chave: Terceiro Setor, Normas Técnicas Contábeis, Prestação de Contas. ABSTRACT 1 Introdução
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