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Manual de Prática Penal Revisado 2019 Atualizado

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MANUAL DE 
PRÁTICA PENAL 
APOSTILA SISTEMATIZADA 
 
 
 
PROFESSOR ANDERSON PINHEIRO DA COSTA 
09 de fevereiro de 2019 
 
 
 
 
MATERIAL COMPLEMENTAR – MANUAL DE PRÁTICA PENAL I 
 
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2019 
 
I – COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO PENAL 
 
1 - JURISDIÇÃO 
 
Inicialmente, cabe consignar o sentido da palavra “Jurisdição”. A mesma 
vem do latim, “jurisdictio”, e significa prerrogativa de dizer o direito, decidir. 
 
Além disso, podemos dizer que a jurisdição é: 
Uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos 
interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito 
que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da 
vontade do direito objetivo que rege o caso apresentando em concreto para 
ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o 
processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma 
sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito 
estabelece (através da execução forçada)1. 
 
Pode-se concluir pelo exposto, que jurisdição é o poder-dever do Estado de 
solucionar, através do processo, os conflitos de interesses (lides) que são trazidos à sua 
apreciação, isto é, o Estado tem por objetivo agir em prol da segurança jurídica e da 
ordem para que haja paz na sociedade. 
 
Cabe ressaltar que a jurisdição é una, uma só, porque tem por objetivo a 
aplicação do direito objetivo privado ou público. Contudo, se a pretensão de alguém é a 
aplicação de norma de Direito Penal, ou de Direito Processual Penal, a jurisdição 
será penal, se a finalidade é a aplicação de norma jurídica extrapenal, a jurisdição 
é civil. 
 
Em síntese, nota-se que jurisdição penal é o poder de solucionar o conflito 
entre os direitos relacionados à liberdade do indivíduo e a pretensão punitiva. 
1.1 Princípios da Jurisdição 
 
Convém ressaltar que a atividade jurisdicional é regida por certos princípios 
fundamentais, quais sejam: 
 
O Princípio do juiz natural diz que “ninguém será processado nem 
sentenciado senão pela autoridade competente (art.5º, LIII, da CF)”. Ademais, este 
princípio garante a proibição do juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, CF). 
 
Em decorrência do Princípio do devido processo legal (due process of law) 
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal 
(art.5º, LIV, CF)”. 
 
Consoante o Princípio da investidura, “a jurisdição só pode ser exercida por 
quem tenha sido regularmente investido no cargo e esteja em exercício”. 
 
1 CINTRA, Antônio Carlos de A.; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do 
processo. São Paulo: Malheiros editores, 2008. p. 147. 
 
 
 
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Já o Princípio da indeclinabilidade da prestação jurisdicional diz que 
nenhum juiz poderá subtrair-se do exercício da função jurisdicional. Outrossim, este 
princípio determina que o legislador não poderá produzir leis que restrinjam o acesso 
ao Poder Judiciário (art.5º,XXXV, CF). 
 
Pelo Princípio da improrrogabilidade, o juiz não poderá invadir nem ter sua 
competência invadida por outro juízo. 
 
Conforme o Princípio da indelegabilidade, o juiz não poderá delegar sua 
jurisdição a outro órgão, exceto nos casos taxativamente permitidos, como ocorre, por 
exemplo, nas cartas precatórias. 
 
Já o Princípio da inevitabilidade ou irrecusabilidade, determina que as partes 
não poderão recusar o juiz que o Estado designou, salvo nos casos de incompetência, 
impedimento e suspeição. 
 
De acordo com o Princípio da inércia ou da titularidade (ne procedat judex 
ex officio) “a função jurisdicional só pode atuar mediante provocação das partes, não 
sendo lícito ao juiz instaurar ações penais de ofício, sob pena de não estar agindo com a 
necessária imparcialidade”. 
 
Segundo o Princípio da correlação ou da relatividade “ou da congruência da 
condenação com a imputação ou ainda da correspondência entre o objeto da ação e o 
objeto da sentença”, o réu não poderá ser condenado sem, previamente, ter ciência dos 
fatos criminosos que lhe são imputados pela acusação. Ademais, sob o mesmo ponto de 
vista, Mirabete diz que: 
não pode haver julgamento extra ou ultra petita (ne procedat judex ultra 
petitum et extra petitum). A acusação determina a amplitude e conteúdo da 
prestação jurisdicional, pelo que o juiz criminal não pode decidir além e fora 
do pedido em que o órgão da acusação deduz a pretensão punitiva. Os fatos 
descritos na denúncia ou queixa delimitam o campo de atuação do poder 
jurisdicional2. 
 
Por fim, o Princípio da unidade e identidade da jurisdição, ou seja, a 
jurisdição é única em si e em seus fins, diferenciando-se somente no julgamento de 
ações penais ou cíveis. 
 
2 - COMPETÊNCIA 
 
É importante salientar que o poder jurisdicional é privativo do ESTADO-
JUIZ. Entretanto, em face de uma expansão territorial, de determinadas pessoas (ratione 
personae) e de determinas matérias (ratione materiae), o exercício desse poder de 
aplicar o direito (abstrato) ao caso concreto sofre limitações, nascendo daí a noção de 
competência jurisdicional. Pode-se, pois, conceituar a competência como sendo o 
 
2 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.153 
 
 
 
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âmbito, legislativamente delimitado, dentro no qual o órgão exerce seu Poder 
Jurisdicional. 
 
2.1 Competência pelo lugar da infração 
 
A competência pelo lugar da infração (competência ratione loci), via de 
regra, é determinada pelo lugar em que se consumar o delito, ou, no caso de tentativa, 
pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. 
 
Convém ressaltar que: 
A competência pelo lugar da infração, também chamada de competência de 
foro ou territorial, determina qual será a comarca competente para o 
julgamento do fato criminoso. Esse critério é o mais utilizado porque inibe a 
conduta de todas as pessoas que vivem no local e tomaram conhecimento do 
fato e, além disso, possibilita maior agilidade à colheita de provas sem que 
seja necessária a expedição de cartas precatórias para oitiva de testemunha, 
realização de perícias, etc3. 
 
Para melhor esclarecimento podemos citar como exemplo o entendimento 
do STF e do STJ em relação à emissão de cheques sem fundos, ou seja, nesse caso será 
competente o juízo do local onde ocorreu a recusa do pagamento pelo banco. 
 
Imperioso consignar que a regra da competência pelo lugar da infração foi 
adotada pelo código de processo penal em seu art. 70. 
 
2.1.2 Competência pelo domicílio ou residência do réu 
 
A competência pelo domicílio ou residência do réu, também chamada 
de foro subsidiário, está disposta no artigo 72 do CPP, o qual determina que; “não sendo 
conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência 
do réu”. 
 
É válido frisar um exemplo, bem ilustrativo, abordado por Tourinho Filho, 
que diz: 
Suponha-se que um cadáver apareça boiando nas águas do Tietê, na comarca 
de Bariri. Foi ele arrastado pela correnteza. Constatou-se ter havido 
homicídio. Das investigações levadas a cabo, descobriu-se quem foi o 
criminoso. Este não soube explicar o local do crime. Disse apenas que 
ocorrera bem distante. Nessa hipótese, o processo deve tramitar pelo foro do 
domicílio ou residênciado réu4. 
 
 
3 SANTOS, Vauledir Ribeiro; NETO, Arthur da Motta Trigueiros. Como se preparar para o exame de Ordem, 1ª fase: 
Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2010. p. 65. 
4 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 30. ed. revista e atualizada.São Paulo: Saraiva, 2008. 2 v., 
p. 116. 
 
 
 
 
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Ressalta-se, ainda, que excepcionalmente, nos casos de ação penal privada 
exclusiva, o autor poderá escolher o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda 
quando conhecido o lugar da infração. É o chamado foro alternativo, que não se aplica 
ao caso de ação penal privada subsidiária. 
2.1.3 Competência pela natureza da infração 
 
Uma vez fixada a competência pelo lugar da infração ou pelo domicílio ou 
residência do réu (art.69, I e II, do CPP), será necessário fixar a justiça competente em 
razão da natureza da infração (ratione materiae), melhor ainda, em razão da matéria. 
 
Oportuno se torna dizer que: 
a jurisdição (justiça) pode ser Especial, que se divide em Justiça Militar e 
Justiça Eleitoral ; e Comum, que se divide em Justiça Federal e Justiça 
Estadual. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de 
organização judiciária (federal ou estadual), salvo a competência privativa do 
Tribunal do Júri, cuja competência é atribuída pela Constituição Federal5. 
 
O Tribunal do Júri tem a competência para julgar os crimes dolosos contra a 
vida, tais como o homicídio doloso, o infanticídio, previstos nos arts. 121 e 123 do 
CP. 
Em relação à jurisdição especial, a Constituição Federal determina que 
compete à Justiça Eleitoral (art.121 da CF), julgar os crimes eleitorais e os seus 
conexos. A Constituição Federal também prevê a competência da Justiça Militar 
(art.124 da CF), qual seja, processar e julgar os crimes militares previstos em lei. 
 
Além do mais, a Constituição Federal também prevê a competência da 
jurisdição comum (federal ou estadual), por exemplo, compete à Justiça Federal 
processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a 
competência da Justiça Militar (art.109,IX,da CF). 
 
Finalmente, a Justiça Comum Estadual tem a competência residual. Em 
outras palavras, é competência da Justiça Estadual tudo o que não for de competência 
das jurisdições federal e especial. 
 
2.1.4 Competência por prevenção e distribuição 
 
Através da distribuição (art. 69, IV, do CPP), haverá a fixação da 
competência do juízo quando houver mais de um juiz igualmente competente em uma 
mesma circunscrição judiciária. 
2.1.5 Competência por conexão ou continência 
 
Há conexão (art.69, V, do CPP) quando duas ou mais infrações estão ligadas 
por um liame, sendo que estes crimes devem ser julgados em um só processo em virtude 
da existência desse nexo. 
 
5 SANTOS, Vauledir Ribeiro; NETO, Arthur da Motta Trigueiros. Como se preparar para o exame de Ordem, 1ª fase: 
Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2010. p. 67. 
 
 
 
 
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Além disso, “há continência quando uma coisa está contida em outra, não 
sendo possível a separação. No processo penal a continência é também uma forma de 
modificação da competência e não de fixação dela”. Ademais, ocorrerá a continência 
quando duas ou mais pessoas são acusadas pelo mesmo crime, ou se o comportamento 
do indivíduo configurar concurso formal, aberratio criminis (resultado diverso daquele 
pretendido) com duplo resultado e aberratio ictus (erro na execução). 
 
Diante do exposto, nota-se que a continência e a conexão são critérios de 
prorrogação de competência e não de fixação. Outrossim, a existência de continência e 
conexão ocasionará a reunião de processos e prorrogação da competência. Todavia, 
segundo a Súmula 235 do STJ “a conexão não determina a reunião dos processos, se um 
deles já foi julgado”. 
2.1.6 Competência por prerrogativa de função 
 
Cumpre-nos assinalar que a competência por prerrogativa de função (art. 
69, VII, do CPP) ou competência ratione personae (em razão da pessoa) é determinada 
pela função da pessoa, ou melhor, é garantia inerente ao cargo ou função. Ademais, a 
prerrogativa surge da relevância do desempenho do cargo pela pessoa e devido a isso, 
não pode ser confundida com o privilégio, uma vez que este constitui um benefício 
concedido à pessoa. 
 
Convém enfatizar que a competência pela prerrogativa de função referente, 
por exemplo, ao Supremo Tribunal Federal, está prevista na Constituição Federal. 
Vejamos: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a 
guarda da constituição, cabendo-lhe: 
I – processar e julgar, originariamente: 
(...) 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice- 
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios 
Ministros e o Procurador-Geral da República; 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os 
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da 
Aeronáutica, ressalvado o disposto no artigo 52, I, os membros dos 
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes 
de missão diplomática de caráter permanente; (...) 
 
2.1.7 Modificações de competência 
 
Pela modificação de competência podemos entender que há regras sobre 
competência material e funcional, que por sua vez poderão ser modificadas nas 
hipóteses de prorrogação de foro, delegação (interna ou externa) e desaforamento. 
 
A prorrogação da competência é: 
a possibilidade de substituição da competência de um juízo por outro, 
podendo ser necessária ou voluntária; a necessária decorre das hipóteses de 
conexão (é o nexo, a dependência recíproca que as coisas e os fatos guardam 
entre si) e continência (como o próprio nome já diz é quando uma causa está 
contida na outra, não sendo possível a cisão); e a voluntária ocorre nos casos 
 
 
 
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de incompetência territorial quando não oposta a exceção no momento 
oportuno (caso em que ocorre a preclusão), ou nos casos de foro alternativo6. 
 
A delegação é o ato pelo qual um juiz transfere para o outro a atribuição 
jurisdicional que é sua. Essa delegação pode ocorrer de duas formas, interna ou externa. 
A delegação interna ocorre nos casos de juízes substitutos e juízes auxiliares do titular 
do Juízo, melhor ainda, é quando um juiz cede a outro a competência para praticar atos 
no processo, inclusive decisórios, cabe entendermos que neste caso não há uma 
modificação de competência, mas sim de atribuições. Já a delegação externa é utilizada 
nos casos em que os atos são praticados em juízos diferentes, isto é, quando há o uso 
das cartas precatórias, rogatórias e de ordem. 
 
O desaforamento nada mais é do que o instituto privativo dos crimes de 
competência do Tribunal do Júri. Nos casos em que houver necessidade desse instituto, 
o pedido poderá ser proposto pela acusação (MP ou querelante, em casos de ação 
privada subsidiária), por representação do juiz, pelo assistente de acusação ou a 
requerimento do acusado e será endereçado ao Tribunal de Justiça. Neste sentido, a 
Súmula 712 do STF diz que “é nula a decisão que determina o desaforamento de 
processo da competência do júri sem audiência da defesa”. 
 
2.1.8 Competência absoluta e relativa 
 
Chama-se competência absoluta, visto queas competências em razão da 
matéria e a por prerrogativa de função, tem conteúdo de interesse público e, por isso, 
não podem ser prorrogadas e nem modificadas pelas partes e o seu reconhecimento, que 
pode ocorrer em qualquer tempo ou grau de jurisdição, gera nulidade absoluta do 
processo. 
 
Para entendermos competência relativa, é indispensável uma breve análise 
da Súmula 706 do STF que diz; “é relativa a nulidade decorrente da inobservância da 
competência penal por prevenção”. Outrossim,, na competência territorial, na qual o que 
prevalece é o interesse privado de uma das partes, é prorrogável se não for alegada no 
tempo oportuno e é capaz de gerar, se comprovado o prejuízo pela parte interessada, 
apenas a nulidade relativa do ato ou de uma fase do processo. 
 
3 - CONCLUSÃO 
 
Diante da exposição construída ao longo do texto, observa-se que a 
jurisdição não é absoluta para um determinado juiz, isto é, a jurisdição não pode incidir 
sobre todos os tipos de demanda. Logo, para que haja uma delimitação para a atuação 
dessa jurisdição o legislador disciplinou regras sobre competência. 
 
Percebe-se, ainda, que a jurisdição é o poder do Estado decorrente de sua 
soberania, para editar leis e ministrar a justiça, além de ser um poder legal no qual são 
 
6 SANTOS, Vauledir Ribeiro; NETO, Arthur da Motta Trigueiros. Como se preparar para o exame de Ordem, 1ª fase: 
Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Método, 2010. p. 75. 
 
 
 
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investidos certas pessoas e órgãos. Já a competência é a capacidade de uma autoridade 
pública de efetuar determinados atos, ou ainda, qualidade legítima de apreciar e julgar 
um pleito ou questão dentro de uma determinada divisão judiciária. 
 
 
II - QUEIXA CRIME: 
 
 
Trata-se de ação penal privada e, como ocorre nas ações penais públicas, 
deve estar amparada por prova pré-constituída. O ofendido, antes da propositura da 
queixa, deve requerer a instauração de inquérito para ofertar justa causa à ação penal 
privada, indicando materialidade e indícios de autoria, salvo se possuir indícios 
suficientes para tal. 
 
O advogado deve receber poderes especiais para propositura da queixa 
crime, ou seja, a procuração deve fazer expressa menção à propositura da ação penal 
privada, com um breve resumo dos fatos. Se preferir, o ofendido pode assinar a queixa 
juntamente com o advogado (art. 44 do CPP). 
 
Cuidando-se de dois ou mais agentes, em homenagem ao princípio da 
indivisibilidade da ação penal privada, é indispensável o oferecimento de queixa contra 
ambos, sob pena de configuração de renúncia (art. 48 e 49 do CPP). Importante ressaltar 
o prazo para oferecimento da queixa, que é de 06 meses contados da data em que se tem 
conhecimento da autoria do crime. Este prazo é decadencial e de natureza penal, ou 
seja, conta-se o dia do início e exclui-se o dia do fim, diferente do que ocorre na 
contagem de prazo processual. 
 
Como saber se o crime será processado mediante queixa? 
 
O próprio tipo penal ou o capítulo em que tal crime estiver inserido irá 
trazer a ressalva de que o crime em análise se procede mediante queixa, a exemplo dos 
crimes contra honra (Art. 145 do Código Penal), Induzimento a erro essencial e 
ocultação de impedimento (art. 236, parágrafo único do CP), Exercício arbitrário das 
próprias razões sem emprego de violência (art. 345, parágrafo único, do CP) e crime de 
Dano (art. 167 do CP). Mais corriqueiro e presente no cotidiano da maioria dos 
profissionais do direito, estão os crimes contra a honra. 
 
a) CRIMES CONTRA A HONRA: 
 
O Cap. V do Título I da Parte Especial do Código Penal Brasileiro trata 
“Dos Crimes Contra a Honra”. O conceito de honra abrange tanto aspectos objetivos 
como subjetivos, de maneira que, aqueles representariam o que terceiros pensam a 
respeito do sujeito – sua reputação - enquanto estes representariam o juízo que o sujeito 
faz de si mesmo – seu amor-próprio. 
 
A honra é vista como o conjunto de atributos morais, físicos e intelectuais 
de uma pessoa, que a tornam merecedora de apreço no convívio social e que promovem 
a sua autoestima. 
 
 
 
 
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Em tal capítulo temos a presença de três modalidades de crimes que violam 
a honra, seja ela objetiva ou subjetiva, a saber: a Calúnia ( art. 138 ), a Difamação ( art. 
139 ) e a Injúria ( art. 140 ). Tais crimes são causadores de freqüentes dúvidas entre os 
profissionais da área jurídica, que, muitas vezes, acabam fazendo confusão entre 
aqueles. 
 
Inicialmente, insta fazer a exposição da definição de cada modalidade de 
crime com alguns exemplos, para, posteriormente, diferenciá-las. Cabe ressaltar, 
também, que o prazo para intentar a queixa-crime nos casos aqui expostos é decadencial 
(06 meses), incluindo-se neste computo o dia do inicio e excluindo do mesmo a data 
final. Se o prazo cair em dia não útil, ou seja, final de semana ou feriado, deve-se 
ANTECIPAR o prazo e final e não prorrogá-lo para o próximo dia útil subseqüente, 
como se faz no prazo processual. 
 
A calúnia consiste em atribuir, falsamente, à alguém a responsabilidade pela 
prática de um fato determinado, definido como crime . Na jurisprudência temos que “a 
calúnia exige dolo específico e exige três requisitos : imputação de um fato + 
qualificado como crime + falsidade da imputação”. Assim, se “A” diz que “B” roubou 
a moto de “C”, sendo tal imputação falsa, estamos diante de crime de calúnia. 
 
A difamação, por sua vez, consiste em atribuir à alguém fato determinado 
ofensivo à sua reputação. Assim, se “A” diz que “B” foi trabalhar embriagado semana 
passada, constitui crime de difamação, pois sua reputação perante os colegas de trabalho 
foi atingida. 
 
A injúria, de outro lado, consiste em atribuir à alguém qualidade negativa, 
que ofenda sua dignidade ou decoro. Assim, se “A” chama “B” de imbecil, ou imprime 
uma palavra ofensiva em um papel higiênico e espalha pelo condomínio, dentre outras 
condutas, constitui crime de injúria. 
 
Momento Consumativo: A Calúnia e a difamação, por serem crimes que 
atentam contra a honra objetiva, se consumam a partir do momento em que terceiros 
tomam conhecimento do fato. A injúria, por sua vez, se consuma no instante em que o 
próprio ofendido tem conhecimento do fato. 
 
b) RESUMÃO: 
 
CALÚNIA - falsa imputação de FATO CRIMINOSO a outrem. 
 
DIFAMAÇÃO - imputação a alguém de FATO OFENSIVO a sua reputação. 
 
INJÚRIA - ofensa à dignidade, decoro ou qualidade de outrem. Manifestação de 
desrespeito e desprezo. 
 
c) MACETES: 
 
 
"C" ALÚNIA - começa com "C" de CRIME 
 
 
 
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DI "FA" MAÇÃO - a segunda sílaba é "FA" de FATO, pouco importante se tal fato é 
mentira ou verdade. 
 
"IN" JÚRIA – INternamente, ataquei alguém ao falar mal de atributos desta pessoa. 
Pode-se pensar também nesta frase que não me agrada muito, mas... “Essa pergunta eu 
não sei responder porque quem me ensinou é muito "IN"GUINORANTE. Pronto, sem 
querer eu injuriei o meu professor”. 
 
CALÚNIA 
 
Imputação de um fato concreto a alguém determinado; 
Essa fato deve ser falso ou quando o fato em si for verdadeiro, mas o agente imputa 
aquele fato à vitima falsamente. Ex: Fulano roubou a moto de cicrano, mas beltrano diz 
que o verdadeiro autor do roubo é altrano, mesmo sabendo que é fulano. 
Esse falso deve ser definido como crime (se for contravenção ocrime será de 
difamação) 
 
Considerações: 
A calúnia atinge a honra objetiva, ou seja, o status que a pessoa goza no meio social. 
Assim, o crime só se consuma quando terceiro toma conhecimento das alegações 
caluniosas; a vítima pode estar ausente. 
 
PESSOA JURÍDICA- não pode ser vítima de calunia (apesar da Lei 9605). No caso, as 
pessoas responsáveis pela pessoa jurídica é que podem ser caluniadas. 
 
O § 1º do art. 138 pune a conduta de quem, sabendo falsa a imputação, a propala e 
divulga; 
A calúnia contra os mortos é punível, mas os sujeitos passivos serão os familiares e não 
o cadáver. O crime de calúnia admite a exceção da verdade. A lei de imprensa 
(5.250/67) pune a calúnia e a difamação contra a memória dos mortos. 
 
DIFAMAÇÃO 
imputar fato concreto; 
imputando FALSAMENTE OU NÃO; 
fato ofensivo à reputação; 
 
Considerações 
1) O crime atinge a honra objetiva (reputação). Assim, só estará consumado após 
terceiro tomar conhecimento. 
 
2) Exceção da verdade – em regra não é admitida, salvo se o ofendido é funcionário 
público e se a ofensa é relativa ao exercício das funções. 
 
INJÚRIA 
Como dito, é a ofensa à dignidade, decoro ou qualidade de outrem. Manifestação de 
desrespeito e desprezo. 
 
Tipos : a) Injúria Simples 
 b) Injúria Real (art. 140, § 2º) – por violência ou vias de fato. 
 
 
 
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 c) Injúria Racial (art. 140, § 3º) – “ÍNDIO É RAÇA DE GENTE 
FEDORENTA”. 
 
 O crime de injúria não admite a exceção da verdade. 
 
d) DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO CONDICIONAL 
DO PROCESSO: 
 
Dispõe o artigo 89 da Lei 9.099/95: 
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano 
(Cabe no crime de furto e apropriação indébita, por exemplo), abrangidas ou não por 
esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do 
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou 
não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que 
autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). 
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, 
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período 
de prova, sob as seguintes condições: 
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; 
II - proibição de freqüentar determinados lugares; 
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; 
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e 
justificar suas atividades. 
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, 
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. 
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser 
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do 
dano. 
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do 
prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. 
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. 
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. 
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá 
em seus ulteriores termos. 
 
 
 
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Trata-se da suspensão condicional do processo, um instituto de despenalização, ou seja, 
uma alternativa à jurisdição penal que tem natureza penal material. Com sua utilização 
evita-se a aplicação da pena. 
Uma vez preenchidos os requisitos legais, a suspensão do processo é um direito do 
acusado. Logo, o termo utilizado no caput do artigo 89, da Lei 9.099/95, "poderá", 
indicando que o Ministério Público teria a faculdade de propor ao acusado a suspensão 
condicional do processo, em verdade deve ser entendido como um "deverá". 
Vale dizer que, de acordo com os ensinamentos de Damásio de Jesus, o instituto 
disciplinado no artigo 89 é aplicável dentro e fora do Juizado Especial Criminal. A 
conclusão n. 2 da Comissão Nacional de Interpretação da Lei 9.099/1995 diz o 
seguinte: "São aplicáveis pelos juízos comuns (estadual e federal), militar e eleitoral, 
imediata e retroativamente, respeitada a coisa julgada, os institutos penais da Lei 9099, 
como a composição civil extinta da punibilidade (art. 74, parágrafo único), transação 
(arts. 72 e 76), representação (art. 88) e suspensão condicional do processo (art. 89)". 
Veja-se que diante do caso concreto, o Promotor de Justiça tem duas opções: indicar a 
transação penal, prevista no artigo 76, da mesma Lei (Art. 76. Havendo representação 
ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de 
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena 
restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta) ou propor a suspensão 
condicional do processo. 
Neste sentido, vale mencionar as diferenças entre a transação penal e suspensão 
condicional do processo. A transação é cabível quando a pena máxima abstrata 
cominada ao delito não seja superior a dois anos (art. 61 da Lei 9.099/95). A suspensão 
é para os crimes cuja pena mínima não seja superior a um ano (art. 89, da mesma Lei). 
A transação encerra-se com a aplicação de pena restritiva de direitos ou multa, enquanto 
que a suspensão, não havendo motivos que justifiquem sua revogação, culmina com a 
extinção da punibilidade, não havendo imposição de pena. 
Os parágrafos 3º e 4º dispõem, respectivamente, sobre os casos obrigatório e facultativo 
de revogação do benefício e, de acordo com o entendimento do STF, nos termos 
indicados neste informativo, o benefício poderá ser revogado após o período de prova, 
desde que os fatos que ensejaram a revogação tenham ocorrido antes do término deste 
período. 
 Observação importante: Crime do art. 236 do Código Penal!! 
 
 
 
 
 
 
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QUEIXA – CRIME: MODELO E ESTRUTURA DA PETIÇÃO. 
 
Caso: Danildo Salomão, em reunião de prestação de contas da empresa, da qual 
participam vários diretores e gerentes, imputou ao senhor Fausto Faustino de 65 anos, 
sabendo-o inocente, a conduta de ter constrangido, mediante grave ameaça, o contador 
Hildebrando Fialho a não exercer sua atividade. Fausto Faustino, assim teria agido, com 
o propósito de se vingar da gerência que não o promoveu ao posto almejado. Fausto 
Faustino, sentindo-se injustiçado, contratou você para promover a medida processual 
cabível. Insta consignar que o fato ocorreu em 01 de fevereiro de 2011 e Fausto 
Faustino soube quem era o responsável por espalhar as informações aqui citadas em 05 
de junho de 2011. A empresa Millenium é situada na Asa Sul, Brasília-DF. 
 
 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA 
CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA-DF 
 
 
 Fausto Faustino, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão), portador do RG nº 
e do CPF nº, com endereço de email (incluir) residente e domiciliado em (Colocar o Endereço), 
por intermédio de seu advogado que esta subscreve, conforme instrumento de mandato em 
anexo em conformidade com o artigo 44 do Código de Processo Penal, vem perante Vossa 
Excelência, com fulcro nos arts. 30 e 41 e ss. do Código de Processo Penal em combinação com 
os artigos 100 §2º e 145, caput, ambos do Código Penal, oferecer (gente, lembrando que é 145por ser crime contra a honra. Quando não for, colocar o 100, §2º, do Código Penal e a 
fundamentação do artigo específico que se procede mediante queixa). 
 
QUEIXA CRIME 
 
em face de Danildo Salomão, (Nacionalidade), (Estado Civil), (Profissão), portador do RG nº e 
do CPF nº ..., endereço de email (incluir), residente e domiciliado em (Colocar o Endereço), por 
ter tido sua conduta subsumida nas penas do art. 138 c/c 141, III e IV, ambos do Código Penal, 
baseada esta peça acusatória nas provas colhidas no inquérito policial que segue juntamente 
com esta petição e pelos motivos de fato e de direito abaixo alinhavados. 
 
 Preliminarmente, cabe mencionar que a presente ação penal de iniciativa privada é 
tempestiva visto que (trazer a tempestividade). 
 
No dia 01 de fevereiro de 2011, por voltas das 16:00 horas, em reunião realizada na 
sede da empresa Millenium, situada na Asa Sul, nesta cidade, na presença de inúmeros diretores 
e gerentes, muitos dos quais constam do rol de testemunhas abaixo indicado, o querelado 
imputou ao querelante a prática do crime descrito no art. 197, I, do Código Penal. Afirmou, 
sabendo ser o querelante inocente, que os dados contábeis da empresa não se encontravam 
regulares, tendo em vista que o querelante, por ter sido preterido em promoção realizada no dia 
29 de dezembro de 2010, para vingar-se da gerência que deixou de indicá-lo ao posto, teria 
constrangido o contador Hildebrando Fialho, mediante grave ameaça, a deixar de realizar sua 
atividade, durante certo período. A ameaça fundar-se-ia na expulsão do filho do contador da 
 
 
 
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escola particular onde atualmente cursa a segunda série do ensino médio, com bolsa integral, 
levando-se em conta que a esposa do querelante é a diretora geral do referido estabelecimento 
de ensino.7 
 
A honra é bem jurídico de alta relevância, sendo protegido pelo inciso X do artigo 
5º da constituição federal. A violação pode se dar em face da honra objetiva ou subjetiva, 
incidindo em condutas devidamente tipificadas no código penal brasileiro. 
 
A criativa história idealizada pelo querelado teve o fim de prejudicar o querelante, 
conspurcando sua reputação diante de terceiros, sendo certo saberem eles que não foi feito nada 
contra Hildebrando. A conduta do querelado evidencia seu inquestionável dolo em ferir a honra 
objetiva do querelante. 
 
Apurou-se no incluso inquérito policial ter o contador negligenciado seus afazeres 
em virtude de problemas pessoais, razão pela qual os dados estavam, de fato, incompletos, 
porém, nada disso teve por origem qualquer ameaça proferida pelo querelante. 
 
Como é sabido, no ordenamento jurídico pátrio, a calúnia consiste em atribuir, 
falsamente, a alguém a responsabilidade pela prática de um fato determinado, definido como 
crime. Na jurisprudência tem-se que a calúnia exige dolo específico e três requisitos, a saber: 
imputação de um fato + fato qualificado como crime + falsidade da imputação. 
 
O querelado não só sabia ser inocente o querelante como também engendrou a 
versão apresentada na reunião mencionada com o objetivo de macular sua imagem entre os 
diretores e gerentes, justamente para afastá-lo da concorrência ao próximo cargo de gerência a 
ser disputado dentro de alguns meses, quando ocorrerá a aposentadoria do atual ocupante. 
Portanto, maliciosamente, o querelado, concorrente do querelante, buscou vincular a negligência 
do contador da empresa a uma inexistente grave ameaça, associada a um desejo de vingança 
igualmente fictício, com o fim de prejudicar de forma leviana e covarde o querelante. 
 
O fato evidentemente é considerado crime sob a ótica da teoria tripartida. É fato 
típico por preencher todos os requisitos que o caracterizam (dissertar). É antijurídico (você 
explique o porque) e é culpável, na medida em que abarca todos os seus requisitos, quais sejam 
(dissertar). 
 
Torna-se nítida a prática do delito de calúnia por parte do querelado, sem perder de 
vista que foi o fato divulgado na presença de várias pessoas, além de possuir o querelante mais 
de sessenta anos, o que torna o delito mais grave, pois devem incidir sobre o fato as causas de 
aumento disciplinadas pelo diploma repressivo. 
 
Diante do exposto, por ter o querelado infringido os ditames do art. 138 c/c 141, III 
e IV, ambos do Código Penal pugna o querelante para que seja designada audiência preliminar 
para eventual composição e transação, nos termos do art. 520 do CPP (se fosse juizado, seriam 
os artigos 70 a 76 da Lei 9099). Se infrutíferas, que seja recebida a presente queixa crime em 
face do querelado com a consequente citação e designação de audiência de instrução, debates e 
julgamento, na forma dos arts. 396 a 399 do CPP (se for juizado especial, os artigos são 77 a 83 
da Lei 9099/95), com vistas ao Ministério Público para que o mesmo oficie como custus legis, 
até final sentença de condenação nas penas dos crimes de (inserir o tipo penal e os dispositivos 
legais pertinentes). Requer, ainda, a condenação do querelado nas custas, honorários 
advocatícios e a fixação de um valor mínimo a título de reparação pelos danos efetivamente 
causados, conforme expresso no art. 387, IV, do CPP. 
 
 
7 A história que trouxe na petição tem detalhes que o modelo não trouxe, mas na peça que faram vocês 
terão riquezas de detalhes. 
 
 
 
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Requer, ao final, sejam inquiridas as testemunhas ora arroladas nesta petição, e 
colhidas suas declarações, a fim de corroborar os fatos articulados pelo querelante em sua peça 
processual. 
 
IV - ROL DE TESTEMUNHAS 
 
1) , qualificado à fl. ; 
2) , qualificado à fl. ; 
3) , qualificado à fl; 
 
Nestes termos, pede deferimento. 
 
Brasília, 04 de dezembro de 2011. (antes do prazo decadencial, ficar atento!). 
 
 
 
Advogado 
 OAB 
 
 
 
 
Obs: importante frisar que o número de testemunhas a serem arroladas em sede de 
juizado especial é 3, por analogia ao art. 34 da lei 9099. Isso é o que sustentam alguns 
doutrinadores. Outra grande porte sustenta que são até 5 testemunhas8. No rito comum e 
 
8 O Código de Processo Penal estabelece claramente o número máximo de testemunhas para os procedimentos 
ordinário e sumário. No artigo 401 regra o procedimento ordinário e deixa registrado que o número é de oito 
testemunhas. Por seu turno, no artigo 532 consigna que no procedimento sumário o número máximo de testemunhas é 
de cinco. Entretanto, a Lei 9099/95, que rege o chamado Procedimento Sumaríssimo, sempre foi lacunosa quanto ao 
número máximo de testemunhas a serem arroladas na seara criminal. À míngua de uma determinação legal expressa, 
a melhor doutrina havia se assentado no entendimento de que dever-se-ia fazer analogia ao regramento existente 
“intra lege” para os Juizados Especiais Cíveis, solucionando o caso com o artigo 34 da própria Lei 9099/95, que impõe 
o número máximo de três testemunhas. Essa solução parecia pouco discutível, embora não pacífica, tendo em vista 
não haver outras regras a ocasionarem alguma dúvida ou polêmica. 
Ocorre que com a reforma implementada pela Lei 11.719/08 perdeu o legislador a chance de tornar essa questão mais 
clara, estabelecendo expressamente um número máximo de testemunhas para o sumaríssimo e ainda ensejou um 
clima de maior dúvida com a criação de dois novos dispositivos. 
Em primeiro lugar passou a dispor o artigo 394, § 5º., CPP, que “aplicam-se subsidiariamente aos procedimentosespecial, sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário” (grifo nosso). Esse dispositivo, aliado ao 
artigo 92 da Lei 9099/95, que manda aplicar subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal que não 
conflitarem com aquele diploma, leva a crer que o número máximo de testemunhas, a partir do momento que não é 
explicitado na lei de regência, passa a ser aquele do procedimento ordinário, que se aplica subsidiariamente, ou seja, 
oito testemunhas (artigo 401, CPP). 
Não obstante, estabelece o artigo 538, CPP, que naqueles casos de infrações de menor potencial que forem 
encaminhados ao Juízo Comum, nos termos dos artigos 66, Parágrafo Único e 77, § 2º., da Lei 9099/95, aplicar-se-ão 
as normas do procedimento sumário. Agora, à vista deste outro dispositivo do mesmo Código de Processo Penal e 
novamente sua conjunção com o artigo 92 da Lei dos Juizados Especiais Criminais, parece que o número de 
testemunhas pode ser de cinco e não de oito, de acordo com o disposto no artigo 532, CPP. Ora, se as infrações 
afetas normalmente ao procedimento sumaríssimo devem assumir as regras do sumário quando remetidas ao juízo 
comum, parece sustentável que no silêncio da Lei 9099/95 quanto ao número de testemunhas deva prevalecer o 
número previsto para o procedimento sumário, mais próximo do sumaríssimo, inclusive tendo em vista os princípios de 
celeridade, simplicidade e economia processual que regem os Juizados Especiais Criminais. 
Note-se que se antes o silêncio da Lei 9099/95 era acompanhado pela omissão do Código de Processo Penal, 
tornando pouco discutível a aplicação subsidiária “intra lege” do artigo 34 da própria Lei 9099/95, apontando o número 
de três testemunhas, atualmente as novas disposições do Código de Processo Penal passaram de um silêncio 
sepulcral para uma tagarelice babélica. Agora podem surgir ao menos três posições plenamente sustentáveis em 
 
 
 
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na primeira fase do júri são 8. Na segunda fase do plenário, em sede do art. 422 do CPP, 
novamente podem ser arroladas até 5. No rito sumário, também temos como número 
máximo 5. 
 
Na queixa crime e na resposta à acusação SEMPRE se arrolam testemunhas, sob pena 
de preclusão temporal, visto que é o momento processual oportuno para se fazer isso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
bases legais quanto ao número de testemunhas no procedimento sumaríssimo: oito por aplicação subsidiária do 
procedimento ordinário; cinco por aplicação subsidiária do procedimento sumário ou a reiteração do antigo 
entendimento de que o número seria mesmo de três testemunhas, considerando o disposto na própria Lei 9099/95 
para os Juizados Especiais Cíveis. 
Certamente o legislador deixou escapar duas chances de ouro: aquela de esclarecer uma questão um tanto quanto 
obscura anteriormente e outra de não obscurecer ainda mais a velha dúvida. 
Considerando os princípios peculiares a regerem os Juizados Especiais Criminais, principalmente a celeridade, 
simplicidade e economia processual seria desejável que o legislador houvesse expressamente assentado o número 
máximo de três testemunhas. Mas, como não o fez, parece ser o melhor entendimento, mesmo ante as normativas 
acima elencadas, a causarem certa confusão, aquele que aponta a antiga solução de aplicação subsidiária da regra 
expressamente prevista para os Juizados Especiais Cíveis, ou seja, o número máximo de três testemunhas nos termos 
do artigo 34 da Lei 9099/95. (Fonte: http://www.jurisite.com.br/doutrinas/Penal/douttpen103.html) 
 
 
 
 
 
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CASO PARA RESOLUÇÃO 
 
 
Jorcileide Soraya, brasileira, casada, inscrita no CPF 005111888-09, manicure 
no salão “Silvana Cabelereiros”, reside na QI 10, conjunto 23, casa 102, no Guará-DF, 
com seus dois filhos e seu marido. 
 
No dia 28 de abril de 2018, Jorcileide encontrava-se em sua residência, quando 
bateram na porta e a manicure foi atender. Neste instante, Jorcileide recebeu, por uma 
vizinha, (Odete Simária) a notícia de que sua honra estava abalada na vizinhança, pois 
Maricreuza, Joelitana e Odileuzina estavam afirmando que Rosicleide era uma “corria 
atrás dos maridos das outras e que de dia era manicure, mas que a noite era ‘mulher 
da vida” e “que explorava os homens cobrando preços altos pelos programas”. 
 
Revoltada, Jorcileide foi se informar acerca da veracidade e autoria dos fatos, 
concluindo, com certeza, que quem falou a seu respeito foi Maricreuza Ozózino, 
brasileira, solteira, desempregada, vizinha de Jorcileide que residia na casa 104, não 
tendo Joelitana e nem Odileuzina nada a ver com esta história e que elas nem sabiam 
dos fatos levados ao conhecimento da ofendida. Tal informação foi descoberta no dia 19 
de maio de 2018, oportunidade em que Jorcileide foi tirar satisfações com Macricreuza 
que lhe proferiu os seguintes dizeres: “Sua gorda estúpida! Você é uma vaca e não me 
arrependo de nada do que disse na rua e falo agora na sua cara!”. 
 
Por esta razão, Jorcileide lhe procurou em 10 de junho de 2018 para, na 
qualidade de advogado, apresentar a medida processual privativa cabível, bem como 
para as teses a serem utilizadas e último dia de prazo para propositura da medida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RELAXAMENTO DE PRISÃO 
 
Prisão em Flagrante: São hipóteses autorizadoras da prisão em flagrante por 
qualquer pessoa do povo (flagrante facultativo) ou pela polícia (flagrante obrigatório): 
 
a) Estar o agente cometendo a infração penal (art. 302, I, CPP, denominado 
flagrante próprio); 
b) Ter o agente acabado de cometer a infração penal (art. 302, II, do CPP, 
denominado também de flagrante próprio ou quase flagrante); 
c) Haver perseguição, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer 
pessoa, em situação que se faça presumir ser autor da infração penal (art. 302, 
III, CPP, denominado de flagrante impróprio); 
d) Ser o agente encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou 
papéis que façam presumir ser ele o autor da infração penal (art. 302, IV, 
CPP, denominado flagrante presumido). 
 
Realizada a prisão, o detido é encaminhado pelo condutor (aquele que lhe 
deu voz de prisão) à autoridade policial. Esta, por sua vez, entendendo válido o ato, 
lavra o auto de prisão em flagrante. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se 
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e 
à família do preso ou à pessoa por ele indicada. Em até 24 (vinte e quatro) horas após a 
realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante 
e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria 
Pública. No mesmo prazo (em 24 horas), será entregue ao preso, mediante recibo, a nota 
de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os 
das testemunhas. 
 
Se tudo estiver formalmente em ordem, o juiz mantém o flagrante, mas pode 
colocar o indiciado em liberdade provisória, com ou sem fiança. Assim, agirá, se não 
vislumbrar presentes os requisitos da prisão preventiva (art. 312 do CPP). 
a) RELAXAMENTO DE PRISÃO 
 
Quando do recebimento do Auto de Flagrante,o juiz deve apreciar a peça 
flagrancial e checar a existência dos indícios de autoria e materialidade a fim de 
homologar o flagrante. Caso entenda existir alguma ilegalidade ou desatendimento à 
exigência legal, pode relaxar a prisão Ou seja, o relaxamento da prisão em flagrante 
ocorre quando há ilegalidade ou vício insanável, resumidamente falando. 
 
Ressalte-se que, caso o juiz homologue o flagrante e a defesa entenda pela 
existência de ilegalidade, após pedido fundamentado, o juiz pode rever a decisão 
homologatória e reconhecer a ilegalidade, relaxando a prisão E nesse caso não há a 
exigência de assinar Termo de Compromisso. Cabe ressaltar, entretanto, que o 
 
 
 
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relaxamento de prisão é cabível sempre que a prisão for ilegal. Ex: A pessoa foi presa 
preventivamente mesmo diante das gritantes provas de que cometeu o fato abrangido 
por estado de necessidade. O art. 314 do Código de Processo Penal veda a prisão 
preventiva em tais casos. Assim, a pessoa está presa ilegalmente, cabendo, no caso, 
relaxamento de prisão. 
 
A prisão é imediatamente relaxada quando é constada sua ilegalidade, 
nos termos do Art. 5º, LXV da CF/88. As hipóteses são as seguintes: a) na falta de 
formalidade essencial na lavratura do auto. Ex.: falta de entrega da nota de culpa ou 
assinatura desta fora do prazo legal; b) quando não estiverem presentes os requisitos da 
prisão em flagrante presentes no Art. 304, 306 e parágrafos, bem como art. 307 do CPP; 
c) quando do fato atípico; d) quando os prazos não forem respeitados ou quando houver 
excesso no prazo da prisão, lembrando que o prazo para se findar o inquérito policial 
com réu preso é de 10 dias, improrrogáveis. Se for excedido tal prazo, o acusado DEVE 
ser posto em liberdade. É necessário que se observem estes requisitos para que a prisão 
não seja relaxada. 
 
No caso de crimes envolvendo a lei 11.343 (lei antidrogas), ficar atento ao 
art. 48, §2º, tendo em vista que a conduta prevista no art. 28 desta Lei, não comporta 
prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo 
competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se 
termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias 
necessários. Se houver prisão em flagrante, cabe relaxamento, porque a lei não admite a 
referida medida. 
Ainda, com base nesta mesma Lei, conforme o Art. 51, o inquérito policial 
será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 
(noventa) dias, quando solto. Em que pese o parágrafo único estabelecer que os prazos a 
que se refere este artigo poderem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, 
mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária, findo tal prorrogação o 
acusado DEVERÁ ser colocado em liberdade, sob penal de ilegalidade da prisão, 
comportando o caso, desta feita, o relaxamento da prisão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Esqueleto da petição: 
 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL 
DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE (LOCAL DO FATO). 
 
OBS: Observar se a competência é do Juiz da Vara do Tribunal do Júri, ou do juizado 
especial de violência doméstica e familiar contra a mulher, visto a possibilidade de 
prisão em flagrante nestes casos. Se a prisão em flagrante for ilegal, cabe relaxamento). 
 
 
Fulano de Tal (sempre qualificar), vem à presença de Vossa Excelência, por 
intermédio de seu advogado infra constituído, conforme instrumento de procuração em 
anexo, com fulcro no art. 5º, LXV da CF/88, c/c art. 310, I (se for flagrante), do CPP, 
requerer: 
 
RELAXAMENTO DE PRISÃO 
 
com base nos fatos que a seguir expõe: 
 
I – BREVE SÍNTESE DA DEMANDA: 
 
Narrar como se deu o flagrante, ressaltando o vício que será atacado no tópico 
“do direito”. 
 
EX: Fulano foi preso em flagrante pelo crime de roubo cometido em tal dia, em tal 
lugar. 
 
Após ser regularmente recolhido ao cárcere, teve lavrado contra si lavrado auto 
de prisão em flagrante 4 dias após a prisão, assinando sua nota de culpa também no 
quarto dia, fato que torna sua prisão contrária à lei, conforme disporá a defesa nas linhas 
seguintes. 
 
II – DO DIREITO 
 
Informar, aqui, o que diz o Código de Processo penal sobre tal prazo, 
transcrevendo o artigo e contrapondo-o ao caso dos autos, logo em seguida. 
 
Ex: O art. 306 do Código de processo penal estabelece o prazo de 24 horas para 
assinatura da nota de culpa, (fazer uma explanação)... 
 
Ocorre, Excelência, que tal prazo não foi respeitado. Observe-se que o indiciado 
somente assinou tal documento 4 dias após sua prisão, fato que torna sua prisão em 
flagrante ilegal. Não obstante tal fato, a lavratura do auto se deu também em prazo 
 
 
 
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diverso ao determinado pelo citado artigo do já mencionado diploma legal, (fazer uma 
explanação)... 
 
Pode-se concluir pelo exposto que a prisão do indiciado fere garantias e 
dispositivos constitucionais basilares, tais como dignidade da pessoa humana (falar a 
respeito), devido processo legal (falar a respeito)... Com base nisso, a prisão deve ser 
imediatamente relaxada. 
 
III – DO PEDIDO: 
 
Requer o indicado o imediato relaxamento da prisão em flagrante ora combatida, 
com a respectiva expedição de alvará de soltura em nome do mesmo, conforme 
preconiza o artigo ... (ver a fundamentação). 
 
Nestes Termos 
Pede Deferimento. 
 
Local, data. 
 
Advogado. 
OAB. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CASO PARA RESOLUÇÃO 
 
Elenilde Maridélia, brasileira, casada, policial civil, residente e domiciliada na SQS 315, 
Bloco W, Apartamento 1001, Asa Sul, estava em sua casa em 15 de maio de 2017, 
quando, avistando uma sombra passando pela sala, dirigiu-se sorrateiramente até o 
cômodo, momento em que presenciou um meliante arrombando a maçaneta da porta 
com um maçarico e portando na cintura uma pistola semiautomática. 
 
Apavorada, Elenilde foi até o quarto e pegou seu revólver calibre 38, se dirigindo até o 
citado elemento para afastá-lo de sua residência. Neste instante, o indivíduo já adentrava 
a sala de Elenilde e lhe apontava a arma, quando, para evitar a injusta agressão que seria 
perpetrada contra sua vida, Elenilde desferiu um único tiro no indivíduo, atingindo-lhe o 
peito, fato que levou o meliante a óbito. 
 
Após colocar o corpo no automóvel e dirigir-se à Delegacia de Polícia mais próxima, 
Elenilde entregou, perante a autoridade policial, o cadáver e a arma, narrando os fatos 
da forma como se deram. O delegado, não convencido da versão apresentada por 
Elenilde, decretou sua prisão em flagrante, lavrando o respectivo auto. 
 
Em 18 de maio de 2017, Elenilde recebeu sua nota de culpa, tendo informado que não 
possuía defensor constituído e que desejava comunicar sua prisão ao seu marido. A 
autoridade policial, munida do auto de prisão em flagrante, enviou uma cópia do auto, 
exclusivamente ao ministério público, entendo que este por ser o dominus litis, era o 
maior interessado na causa, comunicando, em seguida, a prisão de Elenilde à seu 
esposo. 
 
Diante dos fatos, como advogado de Elenide, apresente a medida processual privativa,se atentando para as teses possíveis a serem alegadas em favor de Elenice. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES PERTINENTES A CONCESSÃO DE 
LIBERDADE PROVISÓRIA: 
 
 
É concedida a liberdade provisória quando houver prisão em flagrante 
válida, mas o indiciado/acusado não necessita ficar detido enquanto transcorre o 
processo. Tal fato se dará quando os requisitos para a decretação da prisão preventiva 
não estiverem presentes (art. 312 do CPP) e isto for observado em sede de PRISÃO EM 
FLAGRANTE. A prisão em flagrante é a “MÃE” da liberdade provisória. 
 
A liberdade provisória com ou sem arbitramento de fiança, conforme art. 
321, do CPP, é cabível sempre que os requisitos da preventiva não estiverem presentes, 
podendo o juiz, caso se mostrem adequadas ou suficientes outras medidas cautelares 
que não a prisão, aplicá-las ao agente. (Medidas cautelares – art. 319 do CPP - Prisão 
domiciliar – art. 317/318; comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições 
fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; proibição de acesso ou 
frequência em determinados lugares; proibição de manter contato com pessoa 
determinada; proibição de ausentar-se da Comarca; recolhimento domiciliar noturno e 
nos dias de folga; suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza 
econômica ou financeira quando houver justo receio de que delas poderá advir prática 
criminosa; fiança, quando admitido; internação provisória do acusado em caso de 
crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem que o 
agente é inimputável ou semi-imputável e houver risco de reiteração). 
 
Pode ser a liberdade provisória pleiteada para qualquer delito. Exemplo: Se 
alguém for preso em flagrante por roubo, pode o magistrado determinar a sua soltura, 
mediante liberdade provisória sem fiança. DICA: Sempre que o problema falar em 
crime apenado com reclusão, sempre caberá liberdade provisória sem fiança. Não 
precisa adentrar o mérito do instituto, basta citar na petição: LIBERDADE 
PROVISÓRIA COMPROMISSADA. 
 
O art. 310, III, parágrafo único, do CPP, trata da liberdade provisória nos 
casos de legitima defesa, estado de necessidade e estrito cumprimento do dever legal ou 
exercício regular do direito (conhecidas como excludentes de ilicitude). Se o Juiz, pelo 
auto de prisão em flagrante, observar que o agente praticou a infração abrangido por 
qualquer destas situações, poderá, de forma fundamentada, conceder ao acusado 
liberdade provisória compromissada. 
 
A liberdade provisória, com arbitramento de fiança, destina-se aos delitos 
considerados afiançáveis. Conforme o art. 322 do CPP, a autoridade policial somente 
poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima 
 
 
 
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não seja superior a 04 anos. Em outros casos afiançáveis, a fiança será requerida ao Juiz, 
que decidirá em 48 horas. 
 
a) São inafiançáveis: 
 
Art. 323 do CPP – Racismo, Tortura, Tráfico ilícito de entorpecentes e 
drogas afins, terrorismo, crimes definidos como hediondos, crimes cometidos pos 
grupos armados – civis ou militares – contra a ordem constitucional e o Estado 
Democrático; 
Art. 324 – Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança 
anteriormente concedida ou infringido, sem justo motivo, qualquer das obrigações a que 
se referem os arts. 327 e 328 do CPP – comparecimento quando intimado e mudança de 
endereço ou ausência do domicílio por mais de 8 dias sem comunicar a autoridade). 
 
Os valores da fiança estão dispostos no art. 325 do CPP. Entretanto, 
conforme entendimento uníssono da doutrina, não há mais sentido para se arbitrar 
fiança para crimes menos graves, quando delitos mais graves admitem a liberdade 
provisória sem fiança. 
 
Com base em tal fato, Guilherme Nucci (in Prática Forense Penal, 2009, 
pág. 169/170), informa que “os magistrados têm optado por conceder, sempre, liberdade 
provisória sem fiança (a única exceção tem ficado por conta dos crimes contra a 
economia popular, sonegação fiscal, crimes de violência doméstica e crimes por direção 
de veículo automotor, estando o motorista alcoolizado. Nestes dois últimos casos, a 
pena é de detenção e comporta fiança). Entretanto, com a mudança na lei, em que a 
fiança se tornou uma medida cautelar, o instituto voltou a ter força na concessão da 
liberdade provisória condicionada ao seu pagamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA 
CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE (LOCAL DO FATO). 
 
OBS: Observar se a competência é do Juiz da Vara do Tribunal do Júri. 
 
Distribuição por dependência ao auto de prisão em flagrante n. 
 
 Fulano de tal, nacionalidade, profissão, residente e domiciliado na ... , portador 
do RG e do CPF ..., (temos que qualificar por ser uma peça que vai apartada aos autos 
principais) vem à presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado que 
esta subscreve, conforme procuração acostada, com fulcro no art. 310, III, e art. 321, 
ambos do Código de Processo Penal (Temos que observar aqui se é o caso de 
excludente de ilicitude ou ausência de requisitos que autorizam a prisão preventiva do 
acusado. Sendo o caso é de ausência de requisitos do art. 312 do CPP, a fundamentação 
passa a ser art. 310, III e 321, do CPP. Se for excludente de ilicitude teremos o art. 310, 
parágrafo único, do código de processo penal), combinado com o artigo art. 5º, inciso 
LXVI, da Carta Constitucional, requerer 
 
LIBERDADE PROVISÓRIA 
 
pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor: 
 
I – BREVE SÍNTESE DA DEMANDA: 
 
Informar aqui, de forma sucinta, o caso que ensejou a prisão em flagrante. 
 
EX: O requerente foi preso em flagrante delito no dia tal, pela prática do crime de furto, 
tendo em vista que o mesmo está sendo indiciado pelo fato de ter subtraído duas barras 
de chocolate da loja “doce mais”, localizada em tal local. 
 
A prisão em flagrante se fundamentou no fato de que o requerente já havia sido 
processado anteriormente, mas deve-se lembrar que até o momento não há sentença 
transitada em julgado, condenando-o. 
 
II – DO DIREITO 
 
Explicar aqui que, conforme o auto de prisão em flagrante, a autoridade policial 
presumiu que o indiciado tinha personalidade voltada para o crime. Neste momento, 
devemos falar dos requisitos do art. 312 do CPP e debater todos aqueles que podem ter 
ensejado a prisão, mostrando ao juízo que não há necessidade de o indiciado ficar preso. 
Falar, neste momento, da liberdade como regra e dissertar acerca dos requisitos do 312 
do CPP confrontando-os com os argumentos da defesa, a fim de tornar a prisão 
desnecessária. Pode-se, inclusive, falar de outras medidas cautelares mais benéficas ao 
requerente, que não a prisão. 
 
EX: A prisão em flagrante faz presumir que o indiciado tem a personalidade voltada 
para o crime, devido o fato de já ter sido processado. Ora, Excelência, a personalidade 
de uma pessoa deve ser atestada como “perigosa” somente quando há uma sentença 
penal transitada em julgado afirmando tal situação. Não se pode manter o acusado em 
 
 
 
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cárcere com suposições de que, se solto, poderá cometer novos delitos, desestabilizandoa ordem pública. (Falar de cada um dos requisitos). 
 
III – DO PEDIDO 
 
 Aqui, fazemos o pedido de concessão da liberdade, mediante compromisso de 
comparecer a todos os atos do processo, com a consequente expedição de alvará de 
soltura em favor do requerente. 
 
 Subsidiariamente, se for do entendimento do juízo, que seja concedida a 
liberdade provisória pleiteada condicionada à imposição de uma das medidas cautelares 
elencadas no art. 319 do Código de Processo Penal, observadas as disposições expressas 
no art. 282 do mesmo diploma legal. 
 
Nestes Termos 
Pede Deferimento 
 
Local, data. 
 
ADVOGADO. 
OAB 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CASO PARA RESOLUÇÃO 
 
Marcolino Jorgito, técnico em enfermagem do hospital Anchieta, em Taguatinga-DF, 
profissional regular da instituição há 13 anos, reside na SQS 100, Bloco H, apartamento 
701 (há 6 anos, sendo proprietário do referido imóvel) com sua esposa e seus três filhos 
pequenos, sendo um de 3 anos e dois de 6 anos, cada. 
 
No dia 15 de abril de 2018, Marcolino foi desrespeitado por um paciente dentro do 
hospital em que labora. Altamente alterado, Viníciusley Romério pegou um bisturi e 
tentou agredir o referido técnico em enfermagem que lhe prestava atendimento, 
momento em que Marcolino teve que quebrar o braço do agressor visivelmente 
transtornado para desarmá-lo, causando-lhe as lesões que foram descritas no laudo de 
exame de corpo de delito lavrado no mesmo dia, sendo que em tal documento constava 
que o agredido iria ficar afastado de suas ocupações habituais por no mínimo 45 dias. 
 
Uma enfermeira que estava no momento do ocorrido e uma secretária que estava 
presenciando o fato, prestaram declarações na DP, informando que se o técnico não 
agisse da forma que agiu, o paciente poderia ter lhe ferido letalmente, pois demonstrou 
inequívoca intenção de atentar contra a vida do Sr. Marcolino, tendo em vista este ter 
pedido que o paciente aguardasse mais alguns minutos para ser atendido. 
 
Dois enfermeiros que chegaram ao local logo após o ocorrido informaram que o Sr. 
Marcolino possui um temperamento difícil, sendo “grosso” com os pacientes do 
hospital, afirmando que o técnico quebrou o braço do paciente de forma desnecessária, 
pois é uma pessoa de temperamento difícil e de convivência insuportável dentro do 
hospital. 
 
Diante de tal situação, Marcolino foi preso em flagrante delito pelo crime de lesão 
corporal grave, pois a autoridade policial entendeu que a conduta do técnico pode ter 
constituído um crime doloso, pois dois enfermeiros não corroboraram a versão das duas 
outras testemunhas. Lavrado o auto de prisão em flagrante em 24 horas, a autoridade 
policial o encaminhou à autoridade judicial, ao Ministério Público e ao Defensor 
Público para verificação. 
 
Diante da situação de Marcolino e dos fundamentos legais que possam interessar para 
sua defesa, redija a peça processual privativa de advogado, que seja cabível na situação 
exposta, se atentando para as formalidades atinentes ao caso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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PRISÃO PREVENTIVA / REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA 
 
 
É a principal modalidade de prisão cautelar, de cuja base nascem as demais. 
Portanto, para se sustentar uma prisão preventiva, torna-se imperioso checar se os 
requisitos desta prisão estão presentes. Do contrário, o correto é permitir ao indiciado ou 
réu aguardar o julgamento em liberdade, com ou sem arbitramento de fiança. 
 
Para a sua decretação são exigidos, ao menos, três requisitos: 
 
a) materialidade do crime; 
b) indícios suficientes de autoria; 
 
Estes acima narrados são básicos. Os abaixo elencados, basta a presença de 
ao menos um deles, quais sejam (art. 312 do CPP): 
 
a) Fundamentos 
 
Provada a existência do crime e havendo indícios suficientes de autoria – 
fumus comissi delicti e periculum libertatis, elementos que fundamentam a medida 
cautelar (art. 312 CPP), a prisão preventiva poderá ser decretada : 
 
• como garantia da ordem pública – evitar que o delinquente pratique novos crimes 
contra a vítima e seus familiares; 
• como garantia da ordem econômica – Lei nº 8.884/84, 8.137/90 (crimes contra a 
economia popular e sonegação fiscal); 
• por conveniência da instrução criminal – para assegurar a prova processual, de 
modo a impedir a ação do criminoso no sentido de fazer desaparecer as provas do 
crime, apagar vestígios, subornar, aliciar testemunhas ou ameaçá-las, etc; 
• para assegurar a aplicação da lei penal - impede-se o desaparecimento do autor da 
infração que pretenda se subtrair aos efeitos penais da eventual condenação. 
• Descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas 
cautelares (art. 282, parágrafo 4º, do CPP). 
 
Cabimento da prisão preventiva – art. 313 do CPP: Nos casos de crimes 
dolosos punidos com reclusão, cuja pena máxima seja superior a 4 anos; condenação 
por outro crime doloso, com sentença transitada em julgado (reincidência); violência 
doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa 
com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; ou no 
caso de dúvida acerca da identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer 
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente 
em liberdade após identificação, exceto se outra hipótese recomendar a manutenção da 
medida. 
 
O despacho do juiz que decretar a preventiva deverá ser sempre 
fundamentado. Deixando de subsistir o motivo pelo qual a preventiva foi decretada, o 
Juiz poderá revogá-la, bem como poderá decretá-la novamente se o motivo de sua 
decretação voltar a perdurar. 
 
 
 
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A garantia da ordem pública abrange enorme aspecto de subjetividade do 
magistrado. Configura-se, em regra, levando-se em conta os seguintes pontos: 
 
- gravidade da infração penal + periculosidade do réu + repercussão causada 
pelo crime. 
 
A garantia da ordem econômica, leva em consideração a magnitude da lesão 
concreta causada pela lesão à ordem econômico-financeira 
 
A conveniência da instrução criminal concentra-se na produção de provas. 
 
Assegurar a aplicação da lei penal – se finda a instrução, a lei deve ter 
condições de ser devidamente aplicada. Visa evitar a potencial fuga do acusado. 
 
Quando o juiz decretar a prisão preventiva, se, porventura, cessar a razão 
que a determinou, deve o magistrado revogá-la, simplesmente, tornando o 
indiciado/acusado à situação de liberdade anterior. O art. 316 do Código de Processo 
Penal é o que dá fulcro ao pedido de revogação da prisão preventiva. 
 
b) Decretação 
 
A prisão preventiva pode ser decretada em qualquer fase do inquérito 
policial (não sendo o caso de prisão em flagrante) ou da instrução criminal, tanto nos 
casos de ação penal pública ou privada, desde que presentes os pressupostos, 
fundamentos e condições de admissibilidade previstos em lei (art. 311 CPP). 
 
Não há recurso, somente o pedido de habeas corpus com fundamento em 
constrangimento ilegal, decorrente da inadmissibilidade da medida amparada em falta 
de fundamentação adequada, na inexistência de pressupostos, etc. 
 
c) Fundamentação 
 
O despacho quedecretar ou denegar a prisão preventiva será sempre 
fundamentado (art. 315 CPP). É indispensável que se fundamente em fatos concretos 
que lhe proporcionem fomento. A fundamentação do pedido da revogação da prisão 
preventiva é o art. 316 do CPP c/c art. 5°, LXVI da CF/88. 
 
No caso da Lei Maria da Penha a possibilidade de decretação de preventiva 
está no art. 20 da citada Lei e a sua revogação está inserida no parágrafo único do 
mesmo artigo. 
 
Dentre todos os tipos de violência contra a mulher, existentes no mundo, 
aquela praticada no ambiente familiar é uma das mais cruéis e perversas. O lar, 
identificado como o local acolhedor e de conforto passa a ser, nesses casos, um 
ambiente de perigo contínuo que resulta num estado de medo e ansiedade permanentes. 
Envolta no emaranhado de emoções e relações afetivas, a violência doméstica contra a 
mulher se mantém, até hoje, como uma sombra em nossa sociedade. 
 
 
 
 
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A violência praticada contra mulheres é conhecida como violência de 
gênero porque se relaciona à condição de subordinação da mulher na sociedade, que 
constitui na razão implícita do número estarrecedor de casos de agressões físicas, 
sexuais, psicológicas, morais e econômicas (patrimoniais), perpetrados em desfavor de 
mulheres, revelando a incontestável desigualdade de poder entre homens e mulheres, 
sobretudo nas relações domésticas. 
 
O efeito da violência doméstica e familiar contra a mulher, decorrentes de 
maus tratos, humilhações, agressões físicas, sexuais, morais, patrimoniais e 
psicológicas, é, sem dúvida, devastador para sua auto-estima, sem falar no medo 
vivenciado cotidianamente, temor aterrorizante causador de insegurança e instabilidade, 
agravados pelo fato das vítimas nunca saberem a razão capaz de desencadear nova fúria 
dos agressores e na vergonha que passam diante de familiares, vizinhos, amigos e 
conhecidos. Essa situação provoca ansiedade, depressão, dores crônicas, dentre outras 
moléstias. Estando tal quadro instalado, necessária se faz a intervenção do Estado, por 
meio de efetivação de políticas públicas adequadas, com mecanismos de discriminação 
positiva ou de ações afirmativas, capazes de reduzir a tragédia da violência de gênero, 
fim a que se destina a Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. 
 
No dia 22 de setembro de 2006 entrou em vigor a Lei 11.340, de 07 de 
agosto de 2006, que cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e 
familiar contra a mulher, dispondo sobre a criação dos Juizados de violência doméstica 
e familiar contra a mulher (são os competentes para julgar casos de violência doméstica 
contra a mulher!) e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em 
situação de violência doméstica e familiar. Esse diploma legal, tão aguardado 
especialmente pelas instituições e organizações que militam na tutela dos direitos de 
gênero e de enfrentamento da violência doméstica, evidencia a preocupação de 
minudenciamento e pormenorização de direitos e garantias da mulher. 
 
É uma lei inovadora, porque nela o legislador incluiu a instituição de 
medidas protetivas de urgência, com possibilidade inclusive de concessão de alimentos 
provisórios ou provisionais, em favor da mulher, bem como aumento da pena do crime 
de lesão corporal praticado com violência doméstica, dando elasticidade considerável 
ao conceito para nele imbutir toda e qualquer forma de violência, seja ela física, 
psicológica, moral ou sexual, elevando-a, inclusive, ao patamar de violação de direitos 
humanos. 
 
Dentre as inovações da Lei, destaca-se: 
• tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher; 
• estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como física, 
psicológica, sexual, patrimonial e moral; 
• determina que a mulher somente poderá se retratar de sua representação perante 
o juiz e ministério público, com audiência específica para tanto; 
• determina que a violência doméstica contra a mulher independa de sua 
orientação sexual; 
• ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas); 
• é vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor; 
• a mulher vítima de violência doméstica será notificada dos atos processuais, em 
especial quando do ingresso e saída da prisão do agressor; 
 
 
 
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• a mulher deverá estar acompanhada de seu advogado(a) ou defensor(a) em todos 
os atos processuais; 
• retira dos juizados especiais criminais a competência para julgar os crimes de 
violência doméstica contra a mulher; 
• altera a Lei de Execuções Penais para permitir que o juiz determine o 
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e 
reeducação; 
• determina a criação de juizados especiais de violência doméstica e familiar 
contra a mulher com competência cível e criminal para abranger as questões de 
família decorrentes da violência; 
• altera o Código de Processo Penal para possibilitar ao juiz a decretação da prisão 
preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica da mulher; 
• caso a violência doméstica seja cometida contra mulher com deficiência, a pena 
será aumentada em 1/3. 
• O juiz poderá conceder, no prazo de 48 horas, medidas protetivas de urgência 
(suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do agressor do lar, 
distanciamento da vítima, dentre outras), dependendo da situação, a 
requerimento do Ministério Público ou da ofendida. 
• Modifica a ação penal no crime de lesão corporal leve, que passa a ser pública 
incondicionada. 
• Aumenta a pena de lesão corporal no caso dela ser praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha 
convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de 
coabitação ou hospitalidade. 
• Permite a autoridade policial prender o agressor em flagrante sempre que houver 
qualquer das formas de violência contra a mulher 
• Proíbe a aplicação da lei dos juizados especiais criminais (Lei 9.099/1995) aos 
crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Uma vez feita a ocorrência na delegacia de polícia, o Ministério Público 
apresentará a denúncia ao juiz e poderá propor penas de 3 meses a 3 anos de detenção. 
d) Tipos de violência 
 
Conforme o artigo 5º da Lei Maria da Penha, a violência doméstica e 
familiar contra a mulher é entendida como qualquer ação ou omissão baseada no gênero 
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou 
patrimonial. 
 
A violência pode se dar no espaço de convívio permanente de pessoas, com 
ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas (âmbito da unidade 
doméstica), ou na comunidade formada por indivíduos que são ou que se consideram 
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa (âmbito 
da família) ou ainda em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou 
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Vale ressaltar ainda 
que essas relações pessoais mencionadas acima independem de orientação sexual. 
 
Formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: 
 
 
 
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1. Violência Física – entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou 
a saúde corporal da mulher. A infração penal que configura essa forma de 
violência é a lesão corporal e as vias de fato. A ação penal é pública 
incondicionada.

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