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Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 82 A biorremediação como ferramenta para a descontaminação de ambientes terrestres e aquáticos Danielle de Arruda Carneiro Lucas Paulo Gariglio Resumo A biorremediação é um processo do qual se utilizam micro-organismos na remoção de contaminantes tóxicos do meio ambiente. Essa técnica é bastante promissora, pois visa à minimização dos impactos antrópicos e à reestruturação dos habitats naturais. Relativamente nova, essa tecnologia tem sido alvo de inúmeras pesquisas, pois oferece uma maior segurança, uma menor perturbação ao meio ambiente e também é uma ferramenta eficiente a custos baixos. A biorremediação possui grande aplicabilidade e a otimização do seu processo depende das condições ambientais, do tipo de contaminante e da técnica empregada. Os tratamentos se diferenciam por ser “in situ” (quando é realizado no próprio local) ou “ex situ” (quando há remoção do contaminante para tratamento em outro ambiente). A biorremediação é uma técnica inovadora que merece atenção e incentivo nos processos de recuperação ambiental. O objetivo dessa revisão é conhecer o processo de biorremediação, suas técnicas e aplicabilidades. Palavras-chave: Biodegradação; micro-organismos; contaminantes ambientais. A Revolução Industrial representava naquela época, avanço tecnológico, desenvolvimento e acúmulo de capitais com a expansão do comércio mundial. A produção industrial em larga escala era necessária para manter os padrões de consumo impostos pelo capitalismo. Somente no final dos anos 60 que os impactos gerados pela Revolução Industrial foram percebidos, as pessoas se reuniram em grupos e ONG’s para protestarem contra a devastação ambiental exigindo a proteção da natureza. O aumento da conscientização sobre os problemas ambientais contribuiu significantemente para que as Nações Unidas convocassem uma conferência sobre o meio ambiente. A conferência de Estocolmo foi um marco histórico para a questão ambiental, a preocupação com o meio ambiente se tornou mundial, os países iniciaram o controle da poluição, fundando órgãos ambientais, criando leis e Bióloga pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e pós-graduada em Análise Ambiental pelo Centro Universitário UNA. danielly_arr@hotmail.com Engenheiro Civil e mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Professor da disciplina de Gestão e gerenciamento de projetos do Centro Universitário UNA. lpgariglio@hotmail.com Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 83 desenvolvendo tecnologias mais limpas a fim de diminuir os impactos gerados à natureza. O Brasil hoje demonstra uma maior preocupação quanto ao meio ambiente, há inúmeros mecanismos legais que visam assegurar a proteção ambiental, mas infelizmente esses mecanismos por si só não são capazes de acabar com a degradação desenfreada dos recursos naturais (ABBAS, 2003). Para proteger o meio ambiente é necessário que o desenvolvimento seja de forma sustentável, que o manejo dos recursos naturais seja feito com responsabilidade e consciência, preservando assim para as futuras gerações. Além do correto manejo, os resíduos gerados pelas atividades antropogênicas devem ser tratados e dispostos adequadamente. Quando isso não acontece é necessário então reparar os danos ambientais com rapidez de modo adequado e integral, com a prerrogativa de compatibilizar técnicas eficientes e economicamente viáveis. Esta é uma questão difícil de conciliar, pois os processos de reparação ambiental estão associados a longos períodos e a altos custos. (ABBAS, 2003; SILVEIRA E SPAREMBERGER, 2004). Por isso a biorremediação tem sido um processo de crescente pesquisa, pois tem como vantagem oferecer maior segurança e uma menor perturbação ao meio ambiente, além de ser uma ferramenta eficiente a baixo custo. (ABBAS, 2003; SANTOS, et al., 2007). Biorremediação é uma tecnologia da qual se utilizam agentes biológicos para remover poluentes tóxicos do ambiente terrestre e aquático (PELCZAR, Jr, et al., 1997, p.415). Este processo teve início em 1988, quando cientistas começaram a utilizar micro- organismos para limpar poluentes e lixos tóxicos (TORTORA, et al., 2005, p.17). A partir daí vários estudos têm sido conduzidos na tentativa de decompor os diversos tipos de poluentes. Os micro-organismos podem ser encontrados praticamente em todos os lugares no nosso planeta, eles contribuem enormemente para a manutenção do equilíbrio entre os seres vivos e os compostos químicos do nosso ambiente (TORTORA, et al., 2005, p. 1). A biorremediação utiliza tanto os micro-organismos do próprio ambiente como também culturas geneticamente modificadas, especialmente adaptadas para uma determinada situação. As substâncias tóxicas são transformadas em atóxicas através do metabolismo microbiano. (PELCZAR, Jr, et al., 1997, p. 415). A terra possui um vasto recurso genético capaz de solucionar os problemas de limpeza do meio ambiente (MADIGAN E MARTINKO, 2006, p. 8- tradução). Portanto a biorremediação é uma tecnologia que pode ser utilizada em diversos fins, como por exemplo: na remoção de toxinas de poços subterrâneos, na descontaminação do solo, em derrames químicos, locais de lixo tóxicos, derrames de óleo, degradação de herbicidas, decomposição de substâncias orgânicas e inorgânicas, desentupimento de bueiros entre outros (TORTORA, et al., 2005 p.17). Por isso o estudo da biorremediação é de grande importância ambiental, econômica e social, uma vez que o processo consiste em degradar substâncias tóxicas do meio ambiente (CERQUEIRA E COSTA, 2006). Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 84 Frente ao exposto, o objetivo maior desta revisão bibliográfica é conhecer os diferentes processos de biorremediação que estão sendo utilizados atualmente para a remoção de contaminantes do solo e da água. Princípios da biorremediação Vários são os micro-organismos responsáveis por diminuir a contaminação do ambiente, tais como as bactérias, os fungos e as leveduras. Embora muitos destes têm a necessidade nutricional igual a nossa, outras metabolizam substâncias como: metais pesados, petróleo, enxofre, gás nitrogênio, xenobióticos, mercúrio e até mesmo os PCBs (bifenil policlorados) (ABBAS, 2003; TORTORA, et al., 2005 p. 34). A biorremediação é baseada em três princípios básicos: a presença do micro- organismo com capacidade metabólica, a disponibilidade do contaminante e as condições ambientais adequadas para o crescimento e atividade microbiana (PEREIRA e LEMOS, 2005, apud MENEGHETTI, 2007). Mesmo fundamentada apenas no processo de biodegradação, a biorremediação possui variação quanto ao tipo de tratamento, estes podem ser “in situ” (Latim = no seu lugar de origem) e “ex situ” (Latim =fora do lugar de origem) e podem envolver os diversos tipos de procedimentos (MENEGHETTI, 2007). Fatores determinantes na biorremediação Biorremediação é a aceleração do processo de biodegradação e por isso pode estar limitada à disponibilidade de nutrientes, a umidade, a temperatura, ao pH, a concentração de minerais, ao potencial redox, a natureza do contaminante e as características físicas e químicas dos ambientes contaminados (ROSA E TRIGUIS, 2005). Os poluentes orgânicos possuem uma estrutura química que influencia diretamente na habilidade dos micro-organismos metabolizarem estas moléculas, principalmente na biodegradação (MARIANO, 2006). Para que o processo de biorremediação ocorra de forma eficiente, os micro- organismosdevem estar ativos e saudáveis. Para isso algumas medidas biocorretivas devem ser adotadas; estas medidas visam aumentar a população microbiana proporcionando uma condição ambiental ótima para o seu desenvolvimento. As medidas biocorretivas podem ser aplicadas em condições aeróbias (na presença de oxigênio) ou anaeróbias (na ausência de oxigênio) (ABBAS, 2003). O sucesso da biorremediação está ligado diretamente a uma ampla compreensão das condições físicas, químicas, biológicas e de uma minuciosa avaliação da aplicabilidade das técnicas “in situ” e “ex situ” (SANTOS, et al., 2007). Técnicas para a biorremediação do solo e da água De acordo com Soares (2006) apud Nunes (2008), o solo pode ser definido como uma camada superficial da Terra, substrato essencial para a biosfera terrestre, cuja principal função é de ser suporte e fonte de nutrientes para a vegetação e, como tal, base de toda cadeia alimentar. O solo apresenta um sistema trifásico, em porções variáveis, constituído de fase gasosa, fase líquida e sólida, o que pode variar consideravelmente a composição dos solos. Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 85 A contaminação do solo é uma grande preocupação ambiental, uma vez que interfere no ambiente global da área afetada (água, ar, fauna, vegetação) podendo ocasionar problemas de saúde publica (LEMOS, et al., 2008). “A água, como os demais recursos da biosfera, é escassa e seu uso racional inclui a preservação de sua qualidade. A degradação deste recurso por problemas de poluição vem agravando as dificuldades pelo seu aproveitamento e intensificando sua escassez”. [sic] (BRANCO et al., 1991 apud MANCINI 2002 apud NUNES 2008). De acordo com Nunes (2008), a presença de substâncias químicas estranhas ao ambiente natural provoca um desequilíbrio físico-químico que, por sua vez, induzirá uma série de transformações nesse local até que seja atingida uma nova condição de equilíbrio. A biorremediação tem se mostrado como uma alternativa promissora na descontaminação do solo e da água. Processos de biorremediação “in situ” As técnicas de remediação “in situ” são aquelas em que não há necessidade de remoção do material, sendo a biorremediação realizada no próprio local contaminado. Isso evita custos e distúrbios ambientais associados ao movimento do material contaminado para o local de tratamento (JACQUES et al., 2006; MARIANO, 2006). Biorremediação passiva ou intrínseca É um processo de atenuação natural de um contaminante orgânico, sem que haja acréscimo de nutrientes ou adequação de qualquer condição ambiental. Os micro- organismos presentes no local passam então a utilizar o composto orgânico poluente como fonte de carbono, reduzindo assim sua concentração com o tempo (MENEGHETTI, 2007). De acordo com Corseuil e Marins (1998) apud Mariano (2006), a remediação natural não se trata de uma alternativa de nenhuma ação de tratamento, mas sim uma forma de minimizar os riscos para a saúde humana e para o meio ambiente. A biorremediação passiva por ser uma técnica que depende exclusivamente dos processos naturais, por isso pode ser muito lenta, o que exige o uso conjunto de outras técnicas e o monitoramento do local por um longo período de tempo (JACQUES, et al., 2006). Bioestimulação Ao contrário da biorremediação passiva, na bioestimulação há um acréscimo de nutrientes orgânicos e inorgânicos que visam estimular a atividade microbiana (JACQUES, et al., 2006). Frequentemente são empregadas populações de micro- organismos autóctones, com objetivo de aumentar as taxas de biodegradação (ATLAS, 1997 apud MARIANO, 2006). Vários nutrientes devem estar disponíveis no meio ambiente, pois os micro-organismos não dependem somente da energia do carbono, o nitrogênio e o fósforo são considerados fatores limitantes para a degradação microbiana, por isso são comumente utilizados na técnica de bioestimulação (LIEBEG e CUTRIGHT, 1999 apud BAPTISTA, 2003). O nitrato é também um componente importante na bioestimulação, pois ele é utilizado por alguns micro-organismos em duas diferentes rotas metabólicas; Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 86 como fonte de nutrientes no metabolismo assimilativo ou como receptor de elétrons no metabolismo dissimilativo (COSTA, A et al., 2008). Para que o processo de bioestimulação possa ser utilizado, deve-se analisar primeiramente o local contaminado, para verificar a presença de uma população natural de micro-organismos capazes de degradar o contaminante presente (RAMASWAMI e LUTHY, 1997 apud MARIANO, 2006). Gaylard et al., (2005), relata que as técnicas de bioestimulação demonstraram um aumento de 5 a 10 vezes nas taxas de degradação do contaminante. No entanto, existem dúvidas sobre os efeitos em longo prazo, uma vez que as taxas de degradação tendem a se equalizar com o tempo. Bioventilação A bioventilação ou bioaeração é uma técnica que se caracteriza pela adição de oxigênio no solo contaminado, para estimular o crescimento dos organismos naturais e/ou introduzidos. Esta é uma tecnologia considerada promissora, pois a disponibilidade de oxigênio molecular tem um grande efeito na biodegradação de vários compostos (MENEGHETTI, 2007; MARIANO, 2006). A técnica da bioventilação é eficiente quando se trata de contaminante degradável em meio aeróbio. Este processo tem como vantagem a minimização da extração de vapores, a utilização de equipamentos de fácil instalação e aquisição, a atuação em locais de difícil acesso e o pequeno impacto na área contaminada (CETESB on-line). Há algumas limitações para a bioventilação como, por exemplo: baixa umidade, presença de lençol freático alto, solos com pouca permeabilidade e temperaturas amenas. Estes fatores limitam a atividade de degradação microbiana (FRTR on-line traduzido). A figura 1 apresenta o modelo da técnica de bioventilação. FIGURA 1: Modelo de bioventilação no tratamento de solos contaminados. Fonte: FEDERAL REMEDIATION TECHNOLOGIES ROUNDTABLE, on-line Alguns critérios básicos devem ser observados para que o processo de bioventilação ocorra com sucesso. Primeiro, o ar injetado deve ser capaz de passar através das camadas do solo em quantidade suficiente para manter condições aeróbias. Segundo, Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 87 a população microbiana degradante deve estar presente em grandes concentrações para obter uma boa taxa de degradação (FRTR on-line traduzido). Bioaumentação O processo de bioaumentação é aquele no qual há adição de micro-organismos especializados. Pode fazer uso de micróbios que foram previamente selecionados para se desenvolverem em certos poluentes, ou bactérias geneticamente modificadas que são adaptadas para metabolizar determinados produtos (TORTORA et al., 2005, p.772). O bioaumento é um processo de importante utilização em locais contaminados, principalmente naqueles que não possuem ou possuem em pequenas quantidades as populações de micro-organismos necessários para que o processo de biodegradação ocorra (MARIANO, 2006). Para que haja um efetivo benefício dessa técnica, condições mínimas devem ser fornecidas aos micro-organismos que foram introduzidos no local, como: a manutenção do pH, a temperatura e o fornecimento de nutrientes (LAZZARETTI, 1998 on line). De acordo com Mariano (2006) a bioaumentação, quando é bem utilizada pode intensificar o processo de biodegradação do contaminante. Entretanto devem ser considerados os seguintes aspectos: a aprovação do órgão ambiental competente, sua eficiência e inocuidadeao ambiente e os micro-organismos aplicados devem atuar em sinergia sem interferir nos processos biogeoquímicos naturais. Air Sparging O Air Sparging é um importante meio de remoção e destruição do contaminante “in situ”. Esta tecnologia se dá através do processo de volatilização, no qual o vapor utilizado em forma de pressão positiva empurra os contaminantes do solo para a atmosfera, onde serão contidos e tratados (FERNANDES E ALCÂNTARA, 2004). A biodegradação dos contaminantes orgânicos por micro-organismos é reforçada pelo aumento da concentração de receptores de elétrons e nutrientes nas águas subterrâneas, superficiais e no chorume (FRTR, on line). O Air Sparging é utilizado também para a descontaminação de aquíferos. As bolhas de ar injetadas na zona saturada elevam-se através das águas subterrâneas fazendo com que os contaminantes passem para a zona não saturada do subsolo, onde haverá a extração e o tratamento dos vapores (FRTR, on line traduzido). A figura 2 mostra o modelo de Air Sparging. Para a instalação e otimização dessa tecnologia algumas características devem ser observadas, como: a permeabilidade do aquífero, a hidrologia local, o oxigênio dissolvido, o pH e a profundidade, o tipo, a concentração e as condições redox, a temperatura, a biodegradabilidade do contaminante e principalmente a presença de uma população considerável de micro-organismos capazes de degradar o poluente (FRTR, on line). Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 88 FIGURA 2: Modelo de Air Sparging utilizado na descontaminação de aqüíferos. Fonte: FEDERAL REMEDIATION TECHNOLOGIES ROUNDTABLE (FRTR) on-line Processos de biorremediação “ex situ” Na tecnologia “ex situ” o material contaminado é retirado do local de origem e encaminhado para outro adequado, esta técnica é necessária para evitar o alastramento do contaminante e é muito utilizada em contaminações de cursos de água e lençóis freáticos (ALEXANDER, 1999 apud SANTOS et al., 2007). As técnicas de biorremediação “ex situ” produzem um resultado mais rápido, pois são mais fáceis de serem controladas e apresenta uma maior versatilidade para o tratamento de vários tipos de contaminantes (ABBAS, 2003). Entre as técnicas mais utilizadas nos processos “ex situ” encontram-se o Landfarming, a compostagem e os biorreatores. Landfarming De acordo com a NBR 13894 (1997) apud Castro et al., (2005), landfarming é um método de tratamento do solo, onde um substrato orgânico de um resíduo é degradado biologicamente na camada superior do solo. A figura 3 mostra o processo de landfarming e a sua operação. Em vários países inclusive no Brasil o biotratamento em “landfarming” é bastante utilizado em compostos de hidrocarbonetos de petróleo nas indústrias e refinarias. Este sistema pode ser citado como “in situ” ou “ex situ” quando é necessário fazer escavação (FERNANDES E ALCÂNTARA, 2004; JACQUES, et al., 2006). A biodegradação é base deste tratamento, por isso é importante manter uma comunidade microbiana heterotrófica ativa. Para otimizar esse processo algumas condições devem ser monitoradas, como: o teor de umidade, a aeração, o pH, os nutrientes, Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 89 permeabilidade, volume do solo e etc (FRTR on line traduzido; U.S. EPA on line traduzido). FIGURA 3: Típica unidade de tratamento por landfarming Fonte: FEDERAL REMEDIATION TECHNOLOGIES ROUNDTABLE, on-line Para garantir sua efetividade o sistema landfarming deve ser monitorado periodicamente para que se possa verificar a redução da concentração dos constituintes, a emissão de vapores, a migração dos constituintes no solo e as águas subterrâneas (U.S. EPA on line). De acordo com Tocchetto (2008), “a eficiência do landfarming depende das características do solo, dos constituintes do resíduo e de circunstâncias climáticas”. [sic] O quadro 1 apresenta as vantagens e desvantagens desse processo. Quadro 1: Vantagens e desvantagens do Landfarming VANTAGENS DESVANTAGENS Projeto e implementação relativamente simples. Redução de concentrações maiores de 95% e concentrações menores que 0,1 ppm são muito difíceis de serem alcançadas. Tempo pequeno de tratamento (de 6 meses a 2 anos em condições ótimas). Pouco eficiente para constituintes pesados (maior que 50 ppm). Custo competitivo $30-60 por tonelada de solo contaminado. Presença de metais pesados pode inibir o crescimento microbiano (acima de 2,5 ppm). Eficiente para constituintes orgânicos com baixa biodegradabilidade. Presença de compostos voláteis que tendem a evaporar antes do processo de biodegradação. Necessita de grandes extensões de terra. Geração de poeiras e vapores durante a aeração da célula. Requer rede de coleta para lixiviados e tratamento. Fonte: Adaptado de Tocchetto (2008). Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 90 Compostagem De acordo com Fernandes e Silva (1999), “a compostagem pode ser definida como uma bioxidação aeróbia exotérmica de um substrato orgânico heterogêneo, no estado sólido, caracterizado pela produção de gás carbônico, água, liberação de substâncias minerais e formação de matéria orgânica estável”. Ahtiainen et al., (2002) apud Jacques et al., (2006), demonstra que o processo de compostagem é eficiente para a biorremediação de solos contaminados com HAPs (Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos). O solo geralmente é removido do local de origem e acondicionado em forma de pilhas, em um local que permite o controle da lixiviação e do escoamento dos líquidos gerados. Sendo um processo biológico, alguns fatores influenciam na degradação da matéria orgânica como: a temperatura, a umidade, aeração, tamanho das partículas e a disposição dos nutrientes (FERNANDES E SILVA, 1999). “Sob condições favoráveis, bactérias termofílicas irão aumentar a temperatura do composto para 55-60°. C em poucos dias. Depois que a temperatura baixar a pilha pode ser revirada para renovar o suprimento de oxigênio, e em segundos o aumento de temperatura irá ocorrer. Com o tempo populações microbianas termofílicas são substituídas por populações mesofílicas que continuam lentamente a conversão para um material semelhante ao húmus” (TORTORA, et al., 2005 p.774). [sic] O controle operacional é necessário para a otimização do processo de compostagem. Os custos variam de acordo com a quantidade de solo que vai ser tratado, o tipo de contaminante e o tipo de projeto que será utilizado (FRTR, on line traduzido). Sistema de Biorreatores De acordo com Lalli e Russel (1996) traduzido, “o termo biorreator no contexto do solo e biorremediação de água, refere-se a qualquer recipiente onde a degradação biológica do contaminante está isolada e controlada”. Os biorreatores mostram-se eficientes na recuperação de solos e águas contaminados com hidrocarbonetos e orgânicos. Os nutrientes são muitas vezes adicionados aos biorreatores para otimizar a taxa de crescimento dos micro-organismos (LALLI E RUSSEL 1996; FRTR, on line). A figura 4 detalha um modelo de biorreator. Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 91 FIGURA 4: Modelo de biorreator. Fonte: FEDERAL REMEDIATION TECHNOLOGIES ROUNDTABLE (FRTR) on-line Essa tecnologia foi utilizada durante muitas décadas no tratamento de efluentes urbanos e industriais. No entanto, somente nessa ultima década é que se intensificaram os estudos para analisar a eficácia dos biorreatores no processo de biorremediação(FRTR, on line). Aplicabilidades A biorremediação é uma alternativa promissora na descontaminação dos ambientes aquáticos e terrestres. Sua grande aplicabilidade é devido à existência de milhares de micro-organismos com capacidade de degradação. Ver quadro 2. Quadro 2: Aplicabilidade da biorremediação Classe do Contaminante Freqüência Evidência de sucesso Limitações 1. Hidrocarbonetos e derivados Gasolina e óleo Muito frequente Fácil, biorremediação aeróbia e anaeróbia. Formação de fase livre e leve (LNAPL). Poliaromáticos (naftaleno e antraceno) Comum Biorremediação aeróbia sob condições específicas. Forte absorção em superfície. Álcool, acetona e éster Comum Fácil remediação aeróbia e anaeróbia. Éter Comum Biorremediação aeróbia e anaeróbia sob condições específicas. 2. Halogenados alifáticos Altamente clorados – PCE, TCE Muito frequente Cometabolizado em condições anaeróbias e aeróbias em casos Forma fase livre densa (DNAPL). Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 92 específicos. Fracamente clorados – VC Muito frequente Biorremediação aeróbia em condições específicas e cometabolizado em condições anaeróbias. Forma fase livre densa (DNAPL). 3. Halogenados aromáticos Altamente clorados (hexaclorobenzeno Pentaclorofenol) Comum Biorremediação aeróbia sob condições específicas e cometabolizado em condições anaeróbias. Absorve em superfície. Forma fase líquida (NAPL) e sólida (NASP). Fracamente clorados – cloro e diclobenzeno Comum Fácil biorremediação aeróbia. Forma fase líquida (NAPL). 4. Bifenilas Policloradas Altamente clorados Pouco frequente Cometabolizado em condições anaeróbias. Absorve fortemente em superfície. Fracamente clorados Pouco frequente Biorremediação aeróbias sob condições específicas. Absorve fortemente em superfície. Nitroaromáticos Comum Biorremediação aeróbia e anaeróbia. 5. Metais Cr, Cu, Ni, PB, Hg, Cd, Zn etc Comum Processos microbianos afetam sua solubilidade e reatividade. Disponibilidade altamente variável, controlada pelas condições químicas. Fonte: Adaptado de CETESB – GTZ Para que a biorremediação traga resultados satisfatórios, é de fundamental importância o conhecimento dos princípios e das técnicas. Isso possibilita uma utilização e seleção correta de acordo com as condições específicas de cada local e de cada contaminante presente (JACQUES, et al., 2006). Considerações finais A biorremediação é uma técnica de descontaminação que vem alcançando importância mundial devido à desenfreada degradação do meio ambiente. Essa tecnologia já é bastante utilizada em outros países como os Estados Unidos e a Holanda. No Brasil sua utilização ainda é pequena, mas várias pesquisas já têm sido desenvolvidas para a sua aplicação em locais contaminados com petróleo e seus derivados. Como foi visto, essa tecnologia possui grande aplicabilidade e tem sua eficiência comprovada na remoção dos diversos tipos de contaminantes. No entanto, é importante ressaltar que a otimização do processo de biorremediação depende de estudos minuciosos quanto às condições ambientais, o tipo de contaminante e a técnica empregada. A biorremediação é uma técnica promissora que visa à minimização dos impactos antropogênicos e a reestruturação dos habitats naturais, por isso merece atenção e incentivo quanto à sua utilização nos processos de recuperação ambiental. Revista Tecer - Belo Horizonte – vol. 3, nº 4, maio 2010 93 Abstract Bioremediation is a process in which microorganisms are used in the removal of toxic contaminants in the environment. This technique is very promising, since it seeks to minimize the human impact and the restructuring of natural habitats. Relatively new, this technology has been the subject of numerous studies, because it offers greater safety, less perturbation to the environment and is also an effective tool to lower costs. Bioremediation has wide applicability and the optimization of the process depends on environmental conditions, type of contaminant and technique applied. The treatments are distinguished by being “in situ” (when it is done on site) or “ex situ” (when there is removal of the contaminant for treatment in another environment). Bioremediation is an innovative technique that deserves attention and incentive in the process of environmental recovery. The purpose of this review is to know the process of bioremediation, its techniques and applicability. Key word: Biodegradation; microorganisms; environmental contaminants. Resumen La biorremediación es un proceso que utiliza microorganismos para eliminar los contaminantes tóxicos del medio ambiente. Esta técnica es muy prometedora, porque se trata de minimizar los impactos humanos y la reestructuración de los hábitats naturales. Relativamente nuevo, esta tecnología ha sido objeto de numerosos estudios, porque ofrece una mayor seguridad, una menor perturbación para el medio ambiente y es también una herramienta eficaz a bajo costo. La biorremediación tiene una amplia aplicación y la optimización de su proceso depende de las condiciones ambientales, el tipo de contaminante y la técnica empelados. Los tratamientos se distinguen por ser “in situ” (cuando se realiza en el mismo lugar) o “ex situ” (cuando se retira el contaminante para el tratamiento en otro entorno). La biorremediación es una técnica innovadora que merece atención y estímulo en el proceso de recuperación del medio ambiente. El objetivo de esta revisión es entender el proceso de biorremediación sus técnicas y su aplicabilidad. Palabras clave: Biodegradación; microorganismos; contaminantes del medio ambiente. Referências ABBAS, Marilda Zanoni Mariotti. A biorremediação como ferramenta para a minimização de problemas ambientais. 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A biorremediação como ferramenta para a descontaminação de ambientes terrestres e aquáticos Resumo Princípios da biorremediação Fatores determinantes na biorremediação Técnicas para a biorremediação do solo e da água Processos de biorremediação “in situ” Biorremediação passiva ou intrínseca Bioestimulação Bioventilação Bioaumentação Air Sparging Processos de biorremediação “ex situ” Landfarming Quadro 1: Vantagens e desvantagens do Landfarming Compostagem Sistema de Biorreatores Aplicabilidades Quadro 2: Aplicabilidade da biorremediação Considerações finais Abstract Resumen Referências