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UNIDADE I - FORMAS, SISTEMAS E REGIMES POLÍTICOS - Formas de governo - Regime de governo - Sistema de governo ROTEIRO Nesta unidade, nosso objetivo é trabalharmos alguns conceitos de Teoria Geral do Estado, com o intuito de compreendermos as formas básicas de organização do Estado. Antes de adentrarmos no estudo da Constituição, lei fundamental que organiza o Estado, indispensável o conhecimento de alguns conceitos como os de Estado, formas de Estado, formas de governo, sistemas de governo e regimes políticos. ORIGEM E FORMAÇÃO DO ESTADO Maquiavel em sua obra “O Príncipe”, de 1513, inicia a discussão sobre o Estado. Naturalmente isso não significa que antes não houvesse formas de governo, formas de poder. Até porque, controversos são os estudos sobre o surgimento do Estado. Basicamente existem três posições: 1. O Estado, assim como a própria sociedade, sempre existiu visto que o homem desde que vive na terra está integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento social de todo o grupo; 2. Outros autores defendem que a sociedade existiu sem o Estado durante um certo período e depois, por diversos motivos, foi se constituindo o Estado para atender às necessidades dos grupos sociais; 3. Alguns autores somente admitem como Estado a sociedade política dotada de certas características bem definidas, o que só ocorreu a partir do século XVII. Assim, percebe-se, a doutrina resume em duas correntes básicas para mostrar como o Estado se formou. De forma natural: quando afirma que o Estado se formou naturalmente e não por ato de vontades; ou contratual: que, ao contrário, assegura que foi necessário um acordo de vontades de alguns homens ou de todos para que o Estado passasse a existir. Importante, também, considerar as causas determinantes do aparecimento do Estado. Algumas teorias procuram justificá-lo: a) TEORIA EVOLUCIONÁRIA: o Estado tem origem no desenvolvimento interno da sociedade. É o próprio desenvolvimento espontâneo da sociedade que deu origem ao Estado. A família se ampliou, desenvolveu-se naturalmente a partir da união de laços de parentesco. Exemplo: clãs, tribos, agricultores etc. b) TEORIA DA FORÇA: O Estado origina-se a partir de atos de força, de violência ou conquistas econômicas e patrimoniais. A superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados. É a visão marxista – o Estado surge com a luta de classes. O acúmulo de riquezas individuais deteriorou a convivência harmônica, surgindo assim a necessidade do reconhecimento de novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras, num acúmulo acelerado de riquezas que dividia a sociedade em classes, sendo a classe possuidora exploradora da não-possuidora, dominando-a, nascendo a instituição Estado; c) TEORIA DO DIREITO DIVINO: O Estado foi criado por Deus. Europa, no período dos séculos XV a XVIII. Deus concedia o poder divino de governar aos reis (despotismo esclarecido). Absolutismo moderno. d) TEORIA DO CONTRATO SOCIAL: O Estado nasce do contrato social. Séculos XVII e XVIII. Desenvolvida pelos filósofos John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rosseau. Para esse importante pensador, somente um pacto legítimo pautado na alienação total da vontade particular geraria uma condição de igualdade entre todos. BREVE EVOLUÇÃO DO ESTADO Georg Jellinek (1851-1911), um dos expoentes da Teoria Geral do Estado, explica que embora haja uma enorme variedade de organizações políticas ao longo da história, é possível delimitar algumas características perenes que distinguem o Estado. O filósofo alemão apresenta os tipos históricos de Estado conforme a organização política e o papel nela desempenhado pelo indivíduo. 1. Estado Antigo: também chamado de oriental e teocrático. Exemplos: Egito, Pérsia, Babilônia etc. Características: natureza unitária (família, religião, Estado, economia formam um todo), religiosidade (teocracia, onde o poder deriva da divindade); despotismo (poder monárquico exercido de forma autoritária); 2. Estado Grego. 776 e 323 a.C. São as cidades-Estado gregas. Unidades políticas, econômicas e sociais geograficamente delimitadas. Exemplos: Atenas, Esparta etc. Características: liberdade política (participação direta do povo nas decisões políticas e no exercício de cargos públicos); conceito restrito de cidadania (o povo era composto somente dos homens livres, maiores de idade e nascidos na cidade ou de seus descendentes, o que representava no máximo 15% da população); ausência de noção de direitos individuais (o cidadão só existia como parte do Estado) Nesse ponto, o autor francês Benjamim Constant escreveu sobre liberdade dos antigos, onde, de fato, havia uma interessante participação política, porém sem a noção de direitos individuais. O que se contrapõe à liberdade dos modernos, caracterizada pelo respeito aos direitos individuais, mas com baixo grau de participação política. 3. Estado Romano. Outra forma de cidade-Estado. Passou pelas fases da Monarquia, República e Império. Expandiu-se por quase toda a Europa, parte do Oriente Médio e norte da África. As decisões políticas eram tomadas em Roma. Início da distinção entre Direito Público e Direito Privado. A queda do Império Romano em 476 d.C ocorreu por vários fatores, dentre eles o grande crescimento territorial, o avanço do cristianismo e das invasões bárbaras; 4. Estado Medieval. Após a concentração do poder político do Império Romano, o ocidente sofreu uma dispersão do poder político. As cidades foram abandonadas e a população passou a viver no campo, sob a proteção de grandes latifundiários – feudos (sistema feudal). Com as invasões bárbaras, foram criados pequenos reinos. O Cristianismo passou a exercer grande influência e a Igreja ganha poder. É um período de ausência de Estado propriamente dito, mas com pluralidade e sobreposição de poderes e ordens jurídicas, que traziam insegurança e levaram a um desejo de ordem e unidade, que foi a semente do Estado Moderno; 5. Estado Moderno. Século XI em diante. Surge a partir da fuga da opressão feudal e retorno às cidades em busca de liberdade. Com o crescimento das cidades, surge a burguesia – uma nova classe social de comerciantes que dá apoio à unificação do poder, enfraquecendo a Igreja e os senhores feudais. Características: soberania e territorialidade (Paz de Wesfália, em 1648), dando surgimento aos primeiros Estados modernos através das monarquias absolutistas – Inglaterra, Portugal, Espanha, França etc. CONCEITO DE ESTADO É para Darcy Azambuja “a organização político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem público/comum, com governo próprio e território determinado”. Para Sahid Maluf não há nem pode haver uma definição de Estado que seja consensualmente aceita. Em cada definição se espelha uma doutrina. O renomado jurista de Teoria Geral do Estado considera que só a Nação é de direito natural, enquanto o Estado é criação humana, e, levando em conta que o Estado não tem autoridade nem finalidade próprias, ele apresenta o seguinte conceito: “O Estado é o órgão executor da soberania popular”. Destaca-se, também, a definição de Clovis Beviláqua: “O Estado é um agrupamento humano, estabelecido em determinado território e submetido a um poder soberano que lhe dá unidade orgânica. Percebe-se assim, que ele, influenciado pela doutrina norte-americana, conceitua Estado com base em seus elementos constitutivos: povo, território e governo. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO Diversas definições de Estadopartem de seus elementos constitutivos, como visto acima. São eles: 1. POVO: é o ELEMENTO HUMANO DO ESTADO. Grupo humano visto em sua integração numa ordem estatal determinada – considerado pelo aspecto puramente jurídico. Ocorre quando o conjunto de indivíduos sujeita-se às mesmas leis, detentores de direitos e deveres. O que é diferente de POPULAÇÃO, que é o conjunto de pessoas que se encontra no território de um determinado Estado, pelo qual se tornam parte integrante deste - conceito numérico. E também distingue de NAÇÃO, que consubstancia a ideia de patriotismo – entidade moral, realidade sociológica. É uma comunidade de consciência, unida por um sentimento complexo, com interesses e aspirações comuns, conforme distinção apresentada por Darcy Azambuja. 2. TERRITÓRIO: é o ELEMENTO MATERIAL DO ESTADO. É a base espacial do poder jurisdicional do Estado, onde este exerce o poder coercitivo estatal sobre os indivíduos humanos, sendo materialmente composto pela terra firme, incluindo o subsolo e as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo mar territorial, pela plataforma continental, pelo espaço aéreo, navios e aeronaves civis em alto-mar ou sobrevoando espaço aéreo internacional e navios e aeronaves militares onde quer que estejam; 3. GOVERNO: É o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem jurídica e da administração pública. Para Duguit, a palavra governo tem dois sentidos; coletivo e singular. O primeiro, como conjunto de órgãos que presidem a vida política do Estado. O segundo, como poder executivo, “órgão que exerce a função mais ativa na direção dos negócios Alguns autores citam, como quarto elemento constitutivo do Estado, a soberania. Para os demais, no entanto, a soberania integra o terceiro elemento. O governo pressupõe a soberania. Se o governo não é independente e soberano, não existe o Estado Perfeito. O Canadá, Austrália e África do Sul, por exemplo, não são Estados perfeitos, porque seus governos são subordinados ao governo britânico. Há doutrinadores que incluem, ainda nos elementos constitutivos do Estado, a FINALIDADE, que é a realização do bem comum. Ou seja, o Estado não deve ser um fim em si mesmo, mas uma forma de satisfazer as necessidades do povo organizado politicamente sobre determinado território. FORMAS DE ESTADO Diz respeito ao modo pelo qual o Estado se estrutura. É o modo de exercício do poder político em função do território de um dado Estado. Pode ser classificado como simples e composto. SIMPLES OU UNITÁRIO. Formado por um Estado, existindo uma unidade do poder político interno, cujo exercício ocorre de forma centralizada. A maioria dos países do mundo é formada de Estados unitários, principalmente porque muitos deles não possuem uma vasta extensão territorial que justifique uma separação de poderes em suas divisões internas. Qualquer grau de descentralização depende da concordância do poder central. Podem ser: 1. Centralizados: em que há uma só esfera de poder político; 2. Descentralizados ou Regionais: que admitem algum grau de descentralização política ou administrativa em determinadas regiões ou províncias, mas submetidas à vontade política do poder central. Exemplos: Brasil-Império, Itália, França e Portugal. COMPOSTO OU COMPLEXO. Formado por mais de um Estado, existindo uma pluralidade de poderes políticos internos. Possui as seguintes espécies: 1. União Pessoal: possível somente em Estados monárquicos, é a união de dois ou mais Estados sob o governo de um só rei, em virtude de casamento ou sucessão hereditária. Exemplo: Espanha e Portugal entre 1580 a 1640, época em que o Brasil esteve sob o domínio espanhol, em razão de Felipe II ser o herdeiro das duas coroas A União pessoal é uma forma composta de Estado, exclusiva às monarquias, pois ocorre quando o mesmo monarca ocupa o trono de dois ou mais Estado. Os Estados que se unem por união pessoal não perdem as respectivas independências, tanto no plano interior como no plano exterior, mantendo cada Estado sua vida própria, sua organização jurídico-política, sua atividade econômico-financeira, sua representação diplomática, seu poderio armado, etc; Na União Pessoal deparam-se-nos os seguintes traços dominantes: a) a União é casual ou fortuita, decorrente de mera coincidência na ordem sucessória dinástica (Stier-Somlo); b) tem caráter transitório, visto que cessa o vínculo com a extinção da dinastia ou a aparição de impedimentos jurídicos, quais os que puseram termo à união pessoal da Inglaterra com Hanover, ao tempo da Rainha Vitória, pois neste último reino, com a lei Sálica, as mulheres ficavam excluídas da sucessão ao trono; c) não se forma nenhum fundamento jurídico unitário entre os Estados participantes, que mantêm intacta sua soberania, sendo a União destituída de personalidade jurídica internacional, de sorte que o monarca atua como chefe de governos separados e distintos: d) inexistem requisitos especiais para a dissolução da União Pessoal, que se desfaz por si mesma, bastando por exemplo se venha a substituir a pessoa do monarca por um regente, ainda que este exerça o poder em nome daquele (Nawiasky e Seidler); e) o único traço de união entre os Estados fica sendo a pessoa do monarca comum, que simultaneamente pode presidir a instituições distintas e até mesmo opostas, como no caso da União pessoal da Bélgica com o Estado Livre do Congo (1885-1908), quando o mesmo rei num Estado era monarca constitucional, noutro monarca absoluto (Prélot), conforme se deu com Leopoldo II, cuja morte ocasionou o fim da referida União, volvendo-se o Congo em simples colônia da Bélgica. 2. União Real: é a união de dois ou mais Estados sob o governo do mesmo rei, guardando cada um deles a sua organização interna. A união real só é possível em monarquias. Resulta da união de dois ou mais Estados sob o governo de um único soberano, guardando cada Estado a sua personalidade interna; no entanto na vida externa estão fundidos num só. Nas relações internacionais determina uma única pessoa jurídica, embora os Estados conservem suas diferenciadas organizações nacionais. A união real é definitiva, diferentemente da pessoal que é transitória. Com a união real verifica-se a associação de Estados em que o vínculo resulta proposital e deliberado, fundado na vontade unânime e convergente dos Estados-membros. Ao contrário, pois da União Pessoal, caracterizada pela ausência de intencionalidade e ocorrente por mero efeito do acaso. Exemplo: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algaves, de 1815 a 1822. UNIÃO PESSOAL UNIÃO REAL Só em Estados Monárquicos Só em Estados Monárquicos Ocorrência involuntária, acidental ou fortuita em virtude de casamento ou sucessão hereditária O vínculo é proposital e deliberado Independência interna e externa Autonomia interna, mas ligados a um mesmo monarca. Mas, no plano externo, forma-se uma única pessoa jurídica. Caráter transitório, pode ser dissolvida a qualquer momento A união é definitiva Ausência de fundamento jurídico entre os Estados participantes União consolidada através de uma Constituição Tratado ou mesmo de legislações paralelas. 3. Confederação: é a união permanente e contratual de Estados que se ligam para fins de defesa externa, paz interna e outras finalidades que possam ser ajustadas. Os Estados confederados conservam a soberania, guardando inclusive a possibilidade de se desligarem da União. É uma forma instável (dissolúvel) de união política. Exemplo: Estados Confederados da América – união política de 1861, que reuniu seis Estados do Sul dos Estados Unidos (Alabama, Carolina do Sul, Flórida,Geórgia, Louisiana e Mississipi), após o abolicionista Abraham Lincoln ter vencido as eleições presidenciais de 1860; 4. Federação: é a união de dois ou mais Estados para a formação de um novo, em que as unidades conservam autonomia política, enquanto a soberania é transferida para o Estado Federal. Na Federação não há possibilidade de secessão, e a base jurídica é a Constituição. Ou seja, não poderão dissolver a unidade, imprescindível para a manutenção do próprio Estado Soberano. Exemplos: Brasil e Índia. A CF 1988 adotou como FORMA DE ESTADO, integrado por diferentes centros de poder político. Assim, temos um poder político central (União), poderes políticos regionais (estados) e poderes políticos locais (municípios), além do DF, que, em virtude da vedação constitucional à sua divisão em municípios, acumula os poderes regionais e locais (CF, artigo 32, parágrafo primeiro). O Brasil não surgiu como Estado federado. Inicialmente, adotou-se no País a forma unitária de Estado, a qual foi substituída pelo modelo federativo com a Constituição de 1981. A federação brasileira, diz Marcelo Alexandrino, não é um típico Estado Federado, porque nas federações clássicas só há um poder central (União) e os centros regionais de poder (estados). A RFB é composta de quatro espécies de entes federados dotados de autonomia, duas delas de entes federados típicos (União e estados) e duas de entes federados atípicos ou anômalos (DF e municípios). O Estado federado pode formar-se por agregação ou por desagregação. Agregação quando antigos Estados independentes ou soberanos abrem mão de sua soberania e se unem para a formação de um único Estado federal, indissolúvel, no qual gozarão, apenas de autonomia. É a formação em um movimento centrípeto, de fora para dentro. É o modelo clássico de federação, como a dos Estados Unidos da América. A federação é formada por desagregação quando um Estado unitário descentraliza-se, instituindo uma repartição de competências entre entidades autônomas, criadas para exercê-las. Ocorre um movimento centrífugo, de dentro para fora. É o caso do Brasil. FORMAS DE GOVERNO As formas de governo referem-se à forma de organização da sociedade, modo institucionalizado do poder político, que recebe influências de natureza moral, intelectual, geográfica, econômica etc. Sofrem mudanças constantes e historicamente se renovam de acordo com as necessidades sociais e o surgimento de novos ideais. Podem ser locais, regionais e nacional e refletem a maneira como os órgãos fundamentais do Estado se formam, assim como seus poderes e relações. É, sinteticamente, o modo de organização política do Estado, como se dá a relação entre governantes e governados e ela pode manifestar-se de várias formas, de acordo com a escolha de cada população. Veremos a seguir as classificações mais usuais. Existem duas formas básicas de governo: Monarquia e República. É tradicional a classificação apresentada por Aristóteles a respeito das formas de governo, que foi feita com base em suas observações quanto a organização dos Estados Gregos e com inspirações éticas e políticas. Inicialmente ele apresenta três formas puras, perfeitas ou normais, pois visam o bem da coletividade: 1. Monarquia: poder centrado em um indivíduo; 2. Aristocracia: poder centrado em um pequeno grupo de pessoas; 3. Democracia ou Politeia (nome dado à revolta contra a oligarquia de ricos ou militares): que é o governo da maioria. A democracia para Aristóteles era considerada a melhor forma de governo, tendo em vista que a população possuía mecanismos de participação ativa. A seguir, entretanto, ele apresenta as formas impuras, corruptas ou imperfeitas de governo, as quais objetivam, primordialmente, atender aos anseios dos governantes em detrimento de todo o restante da população. São elas: 1. Tirania: forma distorcida de Monarquia; 2. Oligarquia: forma impura de Aristocracia; 3. Demagogia ou Olocracia: é a corrupção da Democracia. Clássica, também, a classificação de Maquiavel, que apresenta um conceito dicotômico: 1. Principado monarquia: corresponde ao reino e podem ser hereditários ou novos; 2. República: através da Aristocracia ou Democracia. Para Maquiavel não há classificação entre boas e más formas de governo, o que a caracteriza é a sua estabilidade, ou seja, “os fins justificam os meios”. Por fim, para Hans Kelsen, as formas de governo podem ser divididas em: 1. Governos Democráticos: que são caracterizados pela participação do povo na formação e criação das normas de direito; 2. Governos Autocráticos: caracterizados pela falta de participação popular. Monarquia. Palavra de origem grega, monarchía, governo de um só, caracteriza- se pela vitaliciedade, hereditariedade e irresponsabilidade do Chefe de Estado (o rei não tem responsabilidade política). O monarca governa enquanto viver. É a forma típica de governo de pessoas – o poder supremo está nas mãos de um só indivíduo, o Monarca ou Rei. A antiga noção de Monarquia afirmava que o poder do Monarca era absoluto. Por vezes, o Monarca era responsável somente perante Deus – Doutrina do “Direito Divino”, que subsiste no Vaticano. Ela já foi adotada em todo o mundo, predominou na Europa até o século XVIII e hoje está restrita a alguns Estados. Com o surgimento do Estado Moderno, e a necessidade de poder forte, houve o fortalecimento da monarquia absolutista, mas com o tempo se consolidou a ideia do Estado Constitucional, surgindo as monarquias constitucionais, estando o Rei sujeito à Constituição. Atualmente, ainda existe a monarquia, porém com limitação do poder na qual o Rei reina, mas não governa, é chamada de monarquia parlamentar. Espécies de monarquia: 1. Monarquia absoluta: o rei está acima da lei. Todo o poder se concentra em suas mãos, não tendo que prestar contas de seus atos. O livre arbítrio prevalece; 2. Monarquias limitadas ou relativas: o poder central pode ser repartido. a. Monarquia de estamentos ou de braços: o rei descentraliza algumas funções que são delegadas. É a forma que caracterizava o regime feudal; b. Monarquia constitucional ou parlamentarista: o rei é reconhecido como eleito ou hereditário e exerce a função de Chefe de Estado, mas há uma Constituição que limita os seus poderes. A chefia de governo é exercida pelo primeiro-ministro ou por um conselho de ministros. Exemplo: Reino Unido, Espanha, Japão e Brasil-Império. República. Palavra de origem latina, res publica, coisa pública, caracteriza-se pela eletividade, temporariedade e responsabilidade do Chefe de Estado. Há eleições periódicas e o dever de prestar contas. Na República, ao menos em tese, a ideia é de uma participação popular mais ampla, contrário à monarquia, por apresentar uma possibilidade maior de participação do cidadão, o que a aproxima da democracia, embora possa haver repúblicas não democráticas como Zimbábue e Angola. Suas principais características são: responsabilidade, eletividade, temporariedade e pluralidade de funções. Espécies: 1. República Democrática: o poder pertence ao povo ou a um parlamento que o represente. Decorre da soberania popular e tem origem nas conquistas constitucionais e revolucionárias americanas e francesas: a. Democracia Direta: onde a população exerce diretamente as funções do Estado. Exemplo: Cantões da Suíça; b. Democracia Indireta ou Representativa: os poderes são integrados por órgãos que representam o povo. i. República Presidencialista: onde o presidente ocupa as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo; ii. República Parlamentarista: onde as funções são compartilhadas. Presidentecomo Chefe de Estado e o Primeiro-Ministro ou Conselho de Ministros com a Chefia de Governo; 2. República Aristocrática: o governo é exercido por uma minoria imperante, considerada mais notável. Aproxima-se da Oligarquia. REGIME DE GOVERNO Varia de acordo com o grau de respeito à vontade do povo nas decisões estatais. Podem ser classificados em democráticos e não democráticos, semelhante à classificação de Hans Kelsen. Democracia. Palavra de origem grega, demos – povo, e arché – governo, é o regime político em que todo o poder emana da vontade popular. Pode ser exercido das seguintes formas: 1. DIRETA: as decisões são tomadas pelo próprio povo em assembleias. Exemplos: Cantões suíços; 2. REPRESENTATIVA: ou por representantes. As decisões são tomadas por pessoas livremente escolhidos pelo povo; 3. SEMI-DIRETA: conjunção das duas formas anteriores. É a democracia representativa, com alguns instrumentos de participação direta do povo na formação da vontade nacional. É O REGIME ADOTADO PELA CF 1988, artigo 1., parágrafo único. Ela estabelece as formas de participação direta do povo no artigo 14, incisos I, II e III – plebiscito, referendo e a iniciativa popular. Regimes não democráticos (autocracia). Quando não há prevalência da vontade popular na formação do governo. Os destinatários das normas e da política governamental não participam da sua produção. Exemplos: regimes autoritários, ditatoriais e totalitários. SISTEMA DE GOVERNO Refere-se ao grau de relacionamento entre os Poderes Executivo e Legislativo. Existem três sistemas de governo. PRESIDENCIALISMO. É o sistema de governo em que os Poderes Executivo e Legislativo são independentes. É quando há a transferência do poder soberano do povo ao governo eleito por ele através do voto. Na prática, é uma adaptação da monarquia à forma republicana, mas com a substituição dos princípios da vitaliciedade e hereditariedade pelos da temporariedade e eletividade. Há, também, uma espécie de irresponsabilidade do Chefe do Executivo, já que, no regime presidencialista, o Presidente da República não depende de maioria no Congresso Nacional para permanecer no poder e não pode ser destituído do cargo pelo Poder Legislativo por meros erros, desmandos ou incompetência, a menos que cometa crime de responsabilidade, que autorize o processo de impeachment. É a chamada “ditadura do prazo certo”. Lembremos que o povo brasileiro já foi convocado a manifestar-se sobre o sistema de governo a ser adotado no Estado brasileiro, em 1963 e em 1993 (ADCT, artigo 2.), tendo optado, nas duas oportunidades, por ampla maioria, pelo presidencialismo. É o sistema adotado pela CF 1988. Entretanto, o Brasil já viveu na sua história política duas experiências parlamentaristas: uma na época do Brasil Império e outra, de curta duração, às vésperas do golpe militar de 1964 (1961-1963). Possui as seguintes características: a. Chefia de Estado e Chefia de governo atribuídas a uma única pessoa – o Presidente da República (forma monocrática de poder); b. Presidente da República eleito pelo povo, de forma direta ou indireta; c. Mandato certo para o exercício da chefia de poder, não podendo o Presidente da República ser destituído por motivos puramente políticos; d. Participação do Poder Executivo no processo legislativo; e. Separação entre os Poderes Executivo e Legislativo. PARLAMENTARISMO. É o sistema de governo que se adapta às formas de governo da monarquia e república. Baseia-se na existência de partidos fortes e organizados, caracterizando um profundo respeito à opinião da maioria e por uma constante subordinação dos corpos representativos à vontade soberana do povo. Há uma interdependência entre os Poderes Executivo e Legislativo. São características do parlamentarismo: a. Chefia de Estado e Chefia de Governo atribuídas a pessoas distintas. A função de representação externa e interna, é designada ao Presidente da República ou ao Rei; a Chefia de governo, condução das políticas do Estado, é atribuída ao Primeiro-Ministro (forma dualista de poder); b. Chefia de governo com responsabilidade política, pois o Primeiro- Ministro não tem mandato. Permanece no cargo enquanto mantiver apoio da maioria dos parlamentares. Pode ser destituído pela maioria do parlamento ou pela aprovação de moção de desconfiança; c. É possível a dissolução do Parlamento pelo Chefe de Estado, com a convocação de novas eleições gerais; d. Interdependência dos Poderes Legislativo e Executivo, pois compete ao próprio Parlamento a escolha do Primeiro-Ministro, que permanece no cargo enquanto gozar da confiança da maioria dos parlamentares. A exigência, o que pode ser tornar uma desvantagem no sistema presidencialista, é a existência de partidos sólidos, sob pena de maior instabilidade política. No Reino Unido, por exemplo, as decisões do Parlamento Britânico concentram-se entre os Conservadores, os Liberais-democratas e o Partido Trabalhista, em governo parlamentar consistente em fortes tradições – o Sistema Westminster, copiado em todo o mundo, com um governo democrático parlamentar. Diferente de nossa democracia, incipiente e frágil, em que há uma proliferação de partidos, verdadeira deformação da representação popular. DIRETORIAL OU CONVENCIONAL. É quando todo o poder de Estado se concentra no Parlamento, sendo a função executiva exercida por uma junta de governança por delegação, subordinando o executivo ao legislativo. Adotado na Suíça e na extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Em relação ao Brasil, resumidamente, temos: 1. Forma de Estado: Federação; 2. Forma de Governo: República; 3. Regime Político: Democracia mista ou Semi-direta; 4. Sistema de Governo: Presidencialista. BIBLIOGRAFIA: ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Resumo de direito constitucional descomplicado. 3.ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO. AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 36 ed. São Paulo: Globo, 1997 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2007 KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. Tradução: Luis Carlos Borges. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000 MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 1998 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Trad. José Antônio Martins. São Paulo: Hedra, 2011. PINHO, Rodrigo César Rebello. Teoria geral da constituição e direitos fundamentais, volume 17. Saraiva, 2001.
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