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A relação entre tabagismo e habilidades sociais uma revisão da literatura

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REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS, 2010 VOLUME 6 N°2 
83
ARTIGOS 
A relação entre tabagismo e habilidades sociais: uma revisão 
da literatura 
Relationship between smoking behavior and social skills: a 
literature review 
 
Regina de Cássia Rondina 1 
1-Doutora em Psicologia, pela Universidade de São Paulo (USP/RP) 
Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (UNESP, Marília) 
Departamento. de Psicologia e Educação 
 
Correspondência: Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. (UNESP, 
Marília) Av. Hygino Muzzi Filho, n737, CEP:17525-900, Departamento de Psicologia. 
rcassiar@terra.com.br. 
RESUMO 
A literatura sugere associação entre consumo e dependência de drogas e o repertório de 
habilidades sociais do indivíduo. Contudo, ainda há relativamente poucos trabalhos 
enfocando, especificamente, a relação entre tabagismo e habilidades sociais. Além disso, 
ainda há escassez de estudos brasileiros sobre o assunto. Este trabalho apresenta uma 
revisão da literatura sobre tabagismo e habilidades sociais, destacando os alicerces 
teóricos que fundamentam as pesquisas, bem como os principais dados obtidos até o 
momento. Um dos temas mais investigados é a relação entre assertividade e tabagismo. 
Supõe-se que a falta de assertividade e, em especial, a habilidade de recusa à oferta de 
drogas e / ou pressão dos pares para o consumo possa ser fator de risco para iniciação 
do tabagismo, principalmente em adolescentes. Contudo, a bibliografia nesse sentido 
ainda é controversa. Novos estudos no sentido de elucidar essas associações, poderiam 
contribuir com programas de prevenção e intervenção para consumo de tabaco, que 
utilizem o treino em habilidades sociais como estratégia. 
Palavras-chave: Tabagismo, habilidades sociais, cognitivo- comportamental 
 
 
 
REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS, 2010 VOLUME 6 N°2 
84
ABSTRACT 
The literature suggests an association between drug use and addiction and the repertoire 
of social skills of the individual. However, there are still relatively few studies focusing 
specifically on the relationship between smoking and social skills. Moreover, Brazilian 
studies on the subject are scarce. This paper presents a review of the literature about 
smoking and social skills, emphasizing the theoretical underpinning research, as well as 
the main data obtained so far. One of the most investigated issues is the relationship 
between assertiveness and smoking. It is assumed that the lack of assertiveness and in 
particular the ability to refuse the supply of drugs and / or peer pressure to consumption 
can be a risk factor for smoking initiation, especially in adolescents. However, the 
literature on this issue is still controversial. It is assumed that further studies to elucidate 
these associations could contribute to prevention programs and intervention for tobacco 
use, using social skills training as a strategy. 
Key words: Smoking behavior, social skills, cognitive behavioral 
 
INTRODUÇÃO 
Há evidência de que o repertório de habilidades sociais do indivíduo é 
relacionado a aspectos como saúde física e mental, qualidade de vida, sucesso 
profissional, realização pessoal, além de aspectos relacionados ao desenvolvimento 
humano, em diferentes fases do ciclo de vida (Del Prette & Del Prette, 2001; Caballo, 
2005; Furtado, Falcone & Clark, 2003). Assim sendo, o estudo científico das habilidades 
sociais vem se tornando foco de interesse crescente entre terapeutas, educadores, 
executivos, empresários e público em geral (Del Prette & Del Prette, 2001; Caballo, 
2005). O termo “competência social” refere-se ao desempenho manifesto pelo indivíduo 
em situações de interação social. O nível de competência social de alguém exprime-se 
pelo seu desempenho ou pelo comportamento apresentado, em termos de sua 
funcionalidade / coerência com os pensamentos e sentimentos do indivíduo (Del Prette 
& Del Prette, 2001). Por outro lado, entende-se por habilidades sociais, “aquelas classes 
de comportamento existentes no repertório do indivíduo que compõem um 
comportamento socialmente competente” (Del Prette & Del Prette, 2001, p.8). 
 As dimensões comportamentais mais abrangentes ou básicas que compõem as 
habilidades sociais são: fazer elogios, aceitar elogios, fazer pedidos, expressar amor, 
agrado e afeto, iniciar e manter conversações, defender os próprios direitos, recusar 
 
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pedidos, expressar opiniões pessoais, inclusive desacordo, expressar incômodo, 
desagrado ou enfado justificados, pedir a mudança de conduta do outro, desculpar-se ou 
admitir ignorância, enfrentar as críticas (Caballo, 2005). O processo de avaliação / 
atribuição de competência social a um determinado desempenho requer uma série de 
critérios, como a consecução dos objetivos de uma situação de interação social, a 
manutenção ou melhora da relação com o interlocutor, a manutenção ou melhora da 
autoestima, o respeito e a defesa dos direitos humanos básicos, além da busca de 
equilíbrio nas relações interpessoais (Del Prette & Del Prette, 2001). 
 Os déficits em habilidades sociais podem estar associados, de alguma forma, 
a numerosos problemas emocionais e comportamentais em diferentes etapas do ciclo de 
vida, tais como desajustamento e evasão escolar, problemas com autoconceito, 
delinqüência juvenil, fraco aproveitamento acadêmico, surgimento e/ou evolução de 
transtornos psiquiátricos, crises conjugais e desordens emocionais variadas, iniciação do 
consumo e/ou dependência de substâncias psicoativas, dificuldades e conflitos nas 
relações interpessoais, pior qualidade de vida e diversos tipos de transtornos 
psicológicos como a timidez, o isolamento social, o suicídio, entre outros problemas 
(Caballo, 2002; Cia & Barham, 2009; Fonseca & Rondina, 2009; Murta, 2005; Caballo, 
2005; Del Prette & Del Prette, 2001; Furtado, Falcone & Clark, 2003). 
Déficits de aquisição resultam tanto da ausência de conhecimento sobre como 
desempenhar uma dada habilidade social, como da inabilidade de apresentar sequências 
de comportamentos sociais; ou ainda, dificuldade em conhecer qual habilidade social é 
apropriada em situações específicas. Por outro lado, déficits de desempenho podem ser 
definidos como uma falha no desempenho de uma determinada habilidade social, 
mesmo quando se sabe como desempenhá-la (Del Prette & Del Prette, 2009). 
A bibliografia recente vem enfatizando o estudo da associação entre déficits 
em habilidades sociais e o aparecimento e / ou a evolução de quadros psicopatológicos 
como esquizofrenia, depressão, transtornos de ansiedade, transtornos emocionais na 
infância e adolescência, transtornos de personalidade, transtornos afetivos, transtornos 
 
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invasivos, como autismo, abuso e dependência de substâncias psicoativas, entre outros ( 
Caballo, 2005; Murta, 2005; Wagner & Oliveira, 2007; Wagner & Oliveira, 2009; Cia & 
Barham, 2009; Fonseca & Rondina, 2009; Cunha etal. 2007; Furtado, Falcone & Clark, 
2003). Há um número crescente de estudos destinados a investigar, especificamente, a 
relação entre déficits em habilidades sociais e transtornos relacionados ao abuso e / ou 
dependência de substâncias psicoativas em geral: (...) os déficits em habilidade social 
estão não somente associados às principais formas de psicopatologia, mas também com 
outros comportamentos disfuncionais, como problemas sexuais, abuso de álcool, 
consumo de drogas e mau funcionamento do casal (Caballo, 2005, p. 316). 
Diferentes hipóteses são apresentadas sobre a natureza da associação entre 
transtornos relacionados a substâncias psicoativas e problemas/ dificuldades no âmbito 
interpessoal: 
No caso especifico de transtornos por uso de substâncias, 
os chamados déficits em habilidades sociais podem estar 
presentes sobre a forma de baixa competência social e 
dificuldades específicas, como enfrentamento de 
situações de risco à auto estima e resolução de 
problemas. Essas dificuldades levam o jovem a uma 
fuga, via uso de substâncias, as quais ocasionam ainda 
mais perturbações em seu desempenho social, além de 
que a pressão do grupo de pares pelo uso da droga exige 
um comportamento assertivo de saber recusar. Dessa 
forma, é possível afirmar que problemas em diferentes 
áreas do funcionamento diário do indivíduo são 
fortemente relacionados ao consumo de álcool e outras 
drogas entre os jovens (...) na prática clínica, constata-
se que muitos indivíduos acabam buscando no uso de 
substâncias psicoativas uma forma de se tornarem mais 
 
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sociáveis e com melhor capacidade de interação com 
seus pares (Wagner & Oliveira, 2007, p.103). 
(...) O abuso de álcool nos indivíduos com déficits nesta 
área serviria como ferramenta para enfrentar as 
interações sociais e diminuir a tensão por elas gerada, já 
que faltam aos alcoolistas, principalmente, as habilidades 
necessárias para lidar com situações de conflito. É 
provável, portanto, que o álcool seja consumido, em 
circunstâncias diversas, como maneira de enfrentamento 
para situações sociais ansiogênicas (Cunha et al.2007, 
p.33). 
A maioria dos trabalhos sobre o assunto parte do pressuposto de que é 
necessário identificar fatores de risco e de proteção contra a iniciação do consumo de 
substâncias e/ou desenvolvimento da dependência, com a finalidade de desenvolver 
estratégias de prevenção e intervenção para o problema. Supõe-se que déficits em 
habilidades sociais específicas possam se constituir, de alguma forma, em fatores de 
risco para o problema. Por outro lado, a aquisição de determinadas habilidades sociais 
poderia se traduzir em fator de proteção contra iniciação do consumo e/ou 
desenvolvimento de transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas (De 
Pinho & Oliva, 2007; Wagner & Oliveira, 2007; Cunha et al. 2007; Caballo, 2005; Murta, 
2005). Especialistas sugerem que o trabalho nesse sentido pode envolver, por exemplo, 
a construção de habilidades sociais como enfrentamento, resistência ao oferecimento de 
drogas, auto-eficácia, comportamento assertivo, além do estímulo à capacidade de 
tomada de decisões, entre outros aspectos (Wagner & Oliveira, 2009; Wagner & Oliveira, 
2007; De Pinho & Oliva, 2007; Cunha etal. 2007; Pereira & Moreira, 2000). 
Contudo, em comparação a trabalhos sobre consumo de álcool e outras 
substâncias, ainda há escassez de estudos específicos sobre a relação entre habilidades 
sociais e consumo de tabaco / dependência nicotínica. É possível que a identificação de 
 
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déficits em habilidades específicas, contribua também com o estabelecimento de 
programas de prevenção e/ou intervenção para o comportamento de fumar tabaco, que 
tenham como componente o treino em habilidades sociais como estratégia (De Pinho & 
Oliva, 2007; Santiaga et al. 2004; Rodrigues, 2008). 
Um estudo brasileiro recente buscou preliminarmente conhecer a relação entre 
habilidades sociais e a condição de ser fumante, não fumante ou ex-fumante. A hipótese 
desse estudo foi a de que os ex-fumantes seriam mais habilidosos socialmente. No 
trabalho citado, embora a diferença encontrada não tenha sido significativa, as 
habilidades sociais se mostraram mais elaboradas entre os ex-fumantes, em 
comparação a fumantes (De Pinho & Oliva, 2007). 
Assim sendo, este trabalho consiste em uma revisão da literatura sobre o assunto. 
A meta central consiste em descrever alicerces teóricos das pesquisas sobre relação 
entre habilidades sociais e consumo de tabaco e /ou dependência nicotínica, bem como 
os principais resultados obtidos até o momento em estudos sobre a referida associação. 
Não será apresentada uma revisão sistemática, e sim uma descrição narrativa sobre os 
principais resultados encontrados. 
DESENVOLVIMENTO 
O consumo de drogas, em geral, parece estar relacionado a repertório diminuído 
de habilidades sociais - seria como um meio para enfrentar pressões externas, tendo 
portanto, uma natureza instrumental (Caballo, 2005; Rodrigues, 2008). A falta de 
destreza em situações sociais variadas pode ser fator predisponente para o 
comportamento de fumar tabaco. O indivíduo pode fumar, por exemplo, na tentativa de 
manejar sentimentos de impotência ou falta de habilidades em ocasiões de interação 
interpessoal. Supõe-se que o tabagismo seja utilizado como recurso de enfrentamento 
(De Pinho e Oliva, 2007; Shiffman et. al.1993; Rodrigues, 2008). 
Estudos de revisão sobre tabagismo e habilidades sociais revelam que a literatura 
contém, principalmente, trabalhos envolvendo temas como fatores de risco para iniciação 
 
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do consumo, a relação entre habilidades sociais diversas e tabagismo, assertividade em 
recusar o cigarro e o tratamento envolvendo o treinamento de habilidades sociais 
(Rodrigues, 2008). 
Um dos principais temas investigados por pesquisadores é a relação entre 
tabagismo e assertividade. A assertividade é considerada uma das dimensões centrais 
das habilidades sociais (Almanza & Pillon, 2004; Furtado, Falcone & Clark, 2003). 
Entende-se por assertividade, a capacidade de expressar o que se pensa, crê e sente, de 
maneira direta e clara e em momento oportuno. Essa dimensão contempla a conduta 
interpessoal, que implica a expressão direta dos próprios sentimentos e a defesa dos 
próprios pontos de vista, sem negar os dos outros. A assertividade é definida, portanto, 
como a capacidade de colocar limites de mante-los; trata-se de um estilo de 
comportamento que permite atuar pensando no próprio bem estar, exercendo seus 
próprios direitos e respeitando os direitos dos outros (Almanza & Pillon, 2004; Rodrigues, 
2008; Caballo, 2005). 
O pressuposto é o de que a falta dessa habilidade, especialmente em 
adolescentes, dificultaria o comportamento de recusa às drogas em geral, tornando-se 
um fator de risco para a iniciação do tabagismo e / ou alcoolismo (Almanza & Pillon, 
2004; Rodrigues, 2008; Suelves and Sánchez-Turet, 2001). 
O desejo de ser aceito pelo grupo de pares é fundamental, principalmente durante 
a adolescência. A maioria dos estudos publicados até o momento foi efetuada com 
adolescentes. Tem-se a hipótese que adolescentes com alta assertividade tenham maior 
eficácia em recusar a oferta de drogas, dentre elas o tabaco. Parte-se da premissa de 
que programas de natureza preventiva, que incluem o THS, poderiam atuar no sentido 
de preparar os adolescentes para que consigam identificar em que momento estão sendo 
pressionados pelo grupo, bem como desenvolver atitudes de recusa às drogas em 
geral. (Almanza & Pillon, 2004; Rodrigues, 2008). 
 
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Contudo, os resultados das pesquisas ainda sugerem controvérsias nesse sentido. 
Em alguns estudos, adolescentes com baixa assertividade apresentaram maior 
probabilidade de serem tabagistas (Nichols, et al. 2006; Epstein, et al. 2000). Por outro 
lado, o trabalho de Carvajal (2000) revelou que adolescentes com alta assertividade 
apresentaram maior probabilidade de serem fumantes. No trabalho de Suelves, Sanches 
and Turet (2001), não foi encontrada associação entre tabagismo e essefator. Por outro 
lado, no estudo citado, os autores ressaltam que foi encontrada associação positiva entre 
o fator “agressividade” e tabagismo (Suelves and Sanches-Turet 2001). 
Especialistas ressaltam ainda a importância de investigar as associações entre 
tabagismo e uma gama de aspectos específicos, como grau de auto-estima, auto-
eficácia percebida e habilidades de enfrentamento. Supõe-se que essas características 
poderiam atuar como fatores de proteção contra o consumo de drogas em geral 
(Rodrigues et al. 2008; Almanza & Pillon, 2004; Pereira & Moreira, 2000; Donato, 2009; 
Mundim & Bueno, 2006; Maldonado et al. 2008). Parte-se também da premissa de que 
programas de intervenção para o uso de drogas em geral, poderiam se beneficiar da 
utilização de técnicas de promoção dessas habilidades (Pereira & Moreira, 2000). 
A noção mais aceita no cenário científico contemporâneo é a de que a iniciação do 
tabagismo e / ou a dependência nicotínica seja influenciada por um conjunto integrado 
de variáveis de natureza diversa, como fatores genéticos, neurobiológicos, psicossociais e 
culturais. Além disso, já existe forte evidência de associação entre tabagismo / 
dependência nicotínica e determinadas características psicológicas, além de transtornos 
psiquiátricos como depressão maior, esquizofrenia e alguns quadros de ansiedade 
(Rondina, 2004, 2005, 2007). 
 Atualmente, se considera que os transtornos psicológicos só podem ser 
entendidos em uma dimensão multidimensional e integrada, ou biopsicossociocultural 
(Barlow e Durand, 2008). Um dos principais fatores que contribuem para o aparecimento 
e /ou evolução dos transtornos psicológicos, e dentre eles os transtornos relacionados ao 
uso de substâncias psicoativas, é o estresse (Holmes, 2001; Barlow & Durand , 2008). É 
 
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interessante notar que já existem evidências de associação entre estresse e habilidades 
sociais (Furtado, Falcone & Clark, 2003; Lipp, 1996). Um estudo brasileiro sobre o 
assunto revelou associação, embora os resultados denotem diferença entre os sexos e 
ainda não seja comprovada uma relação causal entre os dois aspectos (Furtado, Falcone 
& Clark, 2003). 
Assim sendo, é possível supor que os déficits em habilidades sociais sejam um dos 
fatores relacionados ao aparecimento de estresse e que concomitantemente, tais déficits 
predisponham o individuo ao consumo de drogas. Contudo, a literatura sugere a 
necessidade de mais estudos, no sentido de confirmar essas associações, bem como 
elucidar sua natureza. Considerando a estreita associação entre déficits em habilidades 
sociais e quadros psicopatológicos, anteriormente mencionada, é possível afirmar que o 
assunto é intrincado e complexo. É de se supor que fatores como características de 
personalidade, repertório de habilidades sociais, presença de eventos estressores, 
quadros psicopatológicos diversos, consumo e dependência nicotínica estejam fortemente 
entrelaçados de alguma forma. Torna-se necessário desenvolver novos estudos sobre o 
assunto, no sentido de subsidiar a elaboração e aperfeiçoamento de estratégias de 
prevenção e / ou tratamento para tabagismo. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Programas de treinamento em habilidades sociais são utilizados para diminuir 
fatores de risco à saúde, incrementar fatores de proteção ao desenvolvimento humano, 
tratar problemas já existentes e reduzir as conseqüências de déficits graves em 
habilidades sociais em portadores de condições crônicas, em diferentes contextos 
(Cunha, et al. 2007; Murta, 2005). Os programas de treinamento efetuados até o 
presente momento, se pautam em referenciais teóricos diversificados, como as teorias de 
natureza humanista, sistêmica, cognitiva e comportamental (Murta, 2005; Del Prette & 
Del Prette, 2009). Contudo, o maior aporte teórico disponível até o presente momento 
refere-se, principalmente, a teorias e técnicas em abordagem cognitivo-comportamental 
(Murta, 2005); sendo que o treinamento em habilidades sociais é um dos componentes 
 
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da maioria dos programas de tratamento da dependência nicotínica, em abordagem 
cognitivo-comportamental (Almanza & Pillon, 2004; Mundin & Bueno, 2006; Donato, 
2009). 
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Nota sobre a autora: 
Docente do Departamento de Psicologia e Educação da Universidade Estadual Paulista Julio 
Mesquita Filho (UNESP, Marília). 
Psicóloga Clínica, Doutora em Psicologia pela USP/RP 
Coordenadora do programa de extensão em assistência psicológica ao acadêmico da 
Universidade Estadual Paulista Julio Mesquita Filho (UNESP, Marília).

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