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Dependencia-Quimica

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LIFE PSICOLOGIA ®.
LIFE PSICOLOGIA ®.
https://sun.eduzz.com/1453019?utm_source=dentro-apostila
COMPREENSÕES PSICOLÓGICAS 
SOBRE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
RESUMO 
Este estudo investiga as compreensões de algumas abordagens psicológicas sobre o
uso abusivo de substâncias psicoativas, ou para fins deste trabalho, a 
dependência química. Inicialmente, apresentamos o desenvolvimento deste conceito por 
refletir as transformações do entendimento sobre fenômeno, influenciado por fatores que não 
se restringiam somente à esfera biológica. Entre os estudos encontramos hipóteses
formuladas por abordagens baseadas na teoria sistêmica, fenomelógico-existencial, 
cognitiva e comportamental, antecedidas por compreensões de disciplinas como a 
medicina e a sociologia. No entanto, no campo das compreensões psicológicas, a teoria 
psicanalítica foi a que mais se deteve sobre o tema, refletindo numa extensa produção, e 
portanto, sendo trazida com maior ênfase. Para tal, empreendemos uma revisão 
bibliográfica expositiva, servindo-se de obras de referência e artigos indexados nas bases de 
dados SciELO, LiLACS, PePSIC, tendo como critério a seleção dos trabalhos sua 
contribuição para a identificação dos conceitos de dependência, das hipóteses etiológicas. 
LIFE PSICOLOGIA ®.
1. INTRODUÇÃO
O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado em 
2005, aponta que 12,3% das pessoas pesquisadas, com idades entre 12 e 65 anos, preenchem 
critérios para a dependência do álcool (BRASIL, 2005). Frente a esse e outros resultados, de 
pesquisas nacionais e internacionais, é necessário nos perguntarmos: de qual fenômeno estamos 
falando? 
Uma relação de dependência se estabelece quando há um investimento desproporcional do 
sujeito sobre um objeto específico, de tal forma que, esse envolvimento prejudique a participação 
em outras esferas da vida do sujeito (laboral, afetiva, social) (MORGADO, 1985). 
No caso da dependência de substâncias psicoativas, estamos diante de um fenômeno que se 
constitui a partir de três elementos: a substância, o indivíduo e o contexto sócio-cultural 
(SILVEIRA, 1996). O que nos leva a considerar cada vez mais, a impossibilidade de uma única 
instância ser capaz de fornecer o conhecimento sobre etiologia, seja ela biológica, psicológica ou 
social (MOTA, 2007). 
Inicialmente, a medicina ocupou o lugar central na tentativa de dar respostas ao uso massivo 
de opiáceos, cocaína, álcool, considerando suas implicações para a saúde, a economia e a política, 
num momento em que essa era uma questão abordada por julgamentos morais e respostas penais. 
A aquisição de status que a profissão ganhava, especializando-se e reivindicando o reconhecimento 
de sua autoridade científica, contribuiu para que o discurso médico assumisse uma posição de 
destaque em relação à adição (BERRIDGE, 1994; MACRAE, 2001). 
No que se refere à psicologia, não há uma teoria comum sobre as causas da dependência, mas 
explicações construídas a partir de abordagens distintas, com enfoques diferentes. Nesse contexto, 
as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de aprendizagem (modelo comportamental) se 
destacaram na produção de possíveis explicações para uma conduta adicta (MOTA, 2007). As 
primeiras em decorrência do papel decisivo que teve para a refutação das teorias da degeneração 
hereditária e também, por expandir o foco da psiquiatria para além de um público restrito 
(indigentes, dementes e degenerados) (BERRIDGE, 1994). No segundo caso, a conformação com 
o método científico, confere um lugar dentro dos debates intelectuais e maior aceitabilidade entre
os modelos biológicos que estudam o problema (SONENREICH; ESTEVÃO; FILHO, 2001). 
Tendo em vista a dimensão psicológica, o presente trabalho visa investigar como a psicologia 
compreende a dependência química, através de um enfoque na teoria psicanalítica. Para tal, a 
experiência de estágio em um centro de convivência que tinha como objetivo facilitar o acesso à 
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rede de serviços (saúde e sociais) foi de fundamental importância para despertar a curiosidade 
sobre as particularidades que estão encobertas pelo rótulo da dependência química. Como 
estudante de psicologia, me interessou a compreensão sobre os sentidos e as funções que as drogas 
(como são conhecidas as substâncias psicoativas), ocupavam na vida das pessoas. No entanto, ao 
entender que nem todo consumo de substância psicoativa, resulta em um problema para o sujeito, 
é importante esclarecer que neste trabalho, nosso objetivo é investigar o uso na sua forma mais 
problemática, ou seja, a dependência. 
Para tal, utilizamos como metodologia, a revisão bibliográfica expositiva, selecionando 
textos encontrados em obras de referência e artigos indexados nas bases de dados SciELO, 
LILACS e PePSIC. O critério de seleção foi a relevância da obra e sua possível contribuição para 
a identificação dos conceitos, das hipóteses etiológicas e das hipóteses comportamentais e 
psicodinâmicas da dependência. Selecionamos trabalhos que apresentavam: a evolução dos 
conceitos de dependência e suas possíveis etiologias, as perspectivas sociológicas sobre o 
problema, as contribuições no campo da psicologia e a abordagem da Organização Mundial da 
Saúde, órgão responsável para tratar dos assuntos relacionados ao consumo de substâncias 
psicoativas (BERRIDGE, 1994; BABOR, 1994; MORGADO, 1985; MOTA, 2007; 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004). 
O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi entendido como uma doença. Até o 
séc. XIX atrelava-se à uma deficiência de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o 
consumo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o uso e a falta dele, a 
concepção de doença sobre este último, passa a ser largamente adotada. Dessa maneira, por ser 
considerada como doença, diversos investimentos são feitos com o objetivo de identificar a(s) 
causa(s) da dependência (BERRIDGE, 1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006). 
Na década de 50, a influência das tendências científicas enfatizava o nível bioquímico da 
dependência, acarretando num postulado que atrelava, em grande parte, os fenômenos da 
dependência às propriedades farmacológicas das substâncias psicoativas (BERRIDGE, 1994; 
MORGADO, 1985). 
No entanto, ao dispor de recursos teóricos imprescindíveis, a abordagem sociocultural 
contribuiu para uma compreensão interdisciplinar da questão através das análises sociais e 
históricas, que devem ser estudadas em consonância com as interpretações biológicas e 
psicológicas, evitando assim uma abordagem unidimensional (BUCHER, 1992). 
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2. DEPENDÊNCIA QUÍMICA: A EVOLUÇÃO DO CONCEITO
Uma relação de dependência se estabelece quando há um investimento desproporcional do 
sujeito sobre um objeto específico, de tal forma que, esse envolvimento prejudique a participação 
em outras esferas da vida do sujeito (laboral, afetiva, social) (MORGADO, 1985). 
Ao se tornar o órgão responsável pelos assuntos relacionados às substâncias psicoativas, a 
Organização Mundial de Saúde (OMS), antes de buscar medidas para lidar com o problema da 
dependência, deu início a produção de definições que objetivavam designar o consumo compulsivo 
de uma determinada substância e suas características. A partir dessas definições, surgiam também, 
formas diferentes de abordar o fenômeno (BERRIDGE, 1994). 
Inicialmente, houve uma separação dos conceitos de hábito e vício, e posteriormente sua 
substituição pelo conceito de dependência, devido à conotação moral imbuída no termo vício. 
Surge então, a proposta de diferenciar as drogas que produziam apenas dependência física, das que 
produziam apenas dependência psicológica. Por observar o consumo compulsivo de substâncias 
que aparentemente não produziam dependência, bem como, casos em que ocorriam a interrupção 
do uso, sem grandes dificuldades, de substâncias como a morfina,que se associavam a grave 
dependência física (CRUZ, 2002). 
Duas situações específicas nos servem para ilustrar a diferenciação feita sobre as 
dependências físicas e psicológicas. Durante a Guerra de Trincheira, o tratamento das neuroses de 
guerra motivou pesquisas que levaram ao reconhecimento dos fatores psicológicos envolvidos na 
dependência. Refutando o argumento sustentado pelas teorias da degeneração hereditária, que 
defendiam a existência de uma causa orgânica, transmitida hereditariamente. Influência que se 
manteve presente durante várias décadas no pensamento psiquiátrico (DRUMONND, 1992; 
STONE, 1985 apud BERRIDGE, 1994). 
Da mesma maneira, um estudo emblemático realizado com soldados enviados à Guerra do 
Vietnã, constatou que durante o período da guerra, 43% da amostra (13.760 soldados) consumia 
alguma substância psicoativa, e dentro desse percentual, 20% tornou-se dependente de heroína, 
reconhecida pela alta capacidade de causar dependência. No entanto, ao contrário do esperado, ou 
seja, a permanência dessas taxas após o regresso da tropa, o que ocorreu foi que dos 20% de 
soldados que haviam se tornado dependentes, apenas 1% manteve-se nessa condição. Esses 
resultados apontaram para a evidente importância do contexto sociocultural, no estabelecimento 
de relações de dependência com determinada substância psicoativa (ROBIN e col. 1974 apud 
MORGADO, 1985). 
Ainda assim, mesmo com as descobertas envolvendo a dependência, as mudanças das 
definições oficiais adotadas não representavam as evoluções obtidas no entendimento do 
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fenômeno, já que mantiveram o postulado de que eram as propriedades farmacológicas que 
engendravam a dependência (MORGADO, 1985). 
Na década de 50, a influência das tendências científicas enfatizava o nível bioquímico da 
dependência, acarretando num postulado que atrelavam, em grande parte, os fenômenos da 
dependência às propriedades farmacológicas das substâncias psicoativas (BERRIDGE, 1994; 
MORGADO, 1985). Por sua vez, as críticas embasadas por evidências que invalidavam esse 
pensamento, impulsionaram a continuidade na formulação de conceitos que visassem abranger 
todos os fatores (biológicos, psicológicos e sociais) envolvidos no desenvolvimento e 
estabelecimento do problema (CALANCA, 1991). 
Frente a essa situação é importante trazermos as tentativas sociológicas de definir a 
dependência, que nos ajudam a ampliar o entendimento do problema, para além do sujeito em sua 
dimensão biológica. 
 As perspectivas mediacionais, destacavam as desigualdades das estruturas sociais, que 
criariam condições para o desenvolvimento e manutenção da dependência. Na perspectiva 
construcionista, a dependência é entendida como um conceito cultural, que envolve uma variedade 
de significados e funções, independente das sequelas fisiológicas que muitas definições apresentam 
(BABOR, 1994). De acordo com essa compreensão, não existiriam droga a priori, pois são a 
atividade simbólica e o conjunto das motivações do consumidor, que transformariam uma 
substância psicoativa em droga. Esta perspectiva privilegia a noção do sujeito ativo e não, 
necessariamente, dotado de uma personalidade patogênica (BUCHER, 1992; MACRAE, 2001). 
A terceira e última perspectiva chamada é chamada de rotuladora, e se relaciona com a 
anterior (construcionista), ao apresentar a dependência em termos do que seria o papel do doente, 
criado pelas expectativas sociais. Essas expectativas interfeririam no comportamento, no padrão 
de uso e no estabelecimento da dependência, a medida em que o sujeito que faz o uso de alguma 
substância psicoativa, aceitasse o rótulo que lhe é conferido. (BABOR, 1994). 
Ao dispor de recursos teóricos imprescindíveis, a abordagem sociocultural contribuiu para 
uma compreensão interdisciplinar da questão através das análises sociais e históricas, que devem 
ser estudadas em consonância com as interpretações biológicas e psicológicas, evitando uma 
abordagem unidimensional (BUCHER, 1992). 
No conceito de farmacodependência, desenvolvido em 1969, os fatores sociais ainda não são 
mencionados entre causas: 
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sempre incluem um impulso a utilizar a substância de modo contínuo ou periódico, com 
a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, de evitar o 
desconforto da privação. A tolerância pode estar presente ou não (ORGANIZAÇÃO 
MUNDIAL DA SAÚDE, 1969 apud SILVEIRA, 1996). 
Atualmente, a mudança é percebida nos fatores considerados pela OMS - prejuízos sociais, 
ocupacionais e psicológicos, além dos fisiológicos – para o estabelecimento do diagnóstico de 
dependência. Porém, o reconhecimento da complementaridade entre os fatores biopsicossociais, 
na configuração de um consumo compulsivo de uma ou mais substâncias, não foram suficientes 
para mudar o pensamento hegemônico, de que cabem as abordagens biológicas (médicas e 
farmacológicas) o papel de tratar a questão (CRUZ, 2002). 
2.1 Hipóteses etiológicas 
O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi entendido como uma doença. Até o 
séc. XIX atrelava-se à uma deficiência de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o 
consumo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o uso e a falta dele, a 
concepção de doença sobre este último (sem controle), passa a ser largamente adotada. Dessa 
maneira, por ser considerada como doença, diversos investimentos são feitos com o objetivo de 
identificar a(s) causa(s) da dependência (BERRIDGE, 1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006). 
Nas ciências biológicas, as hipóteses etiológicas, baseiam-se na ideia de predisposição 
orgânica e hereditária de alguns sujeitos, que interferem na vulnerabilidade para o desenvolvimento 
da dependência. Essas concepções surgiram num contexto em que as ciências positivistas, 
ganhavam notoriedade ao propor medidas combativas para os problemas sociais, a exemplo da 
criminalidade, do alcoolismo e da prostituição (MOTA, 2007). 
No trecho abaixo, podemos vislumbrar o entendimento do fenômeno, no século XIX, através 
das ideias da predisposição fisiológica: 
[...] a insanidade hereditária deve-se à transmissão de pai para filho, não de pensamentos 
anormais, mas sim do próprio tecido cerebral mórbido, onde originam-se tais pensamentos. 
De maneia similar, o bebedor não transmite a sua prole o desejo intenso pelo álcool, mas 
sim o tecido corporal orgânico anormal, que dá origem a este desejo (HARLEY, 1884 apud 
BERRIDGE, 1994, p. 18). 
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A medicina foi uma das disciplinas que se entusiasmaram, com as possibilidades de resolução 
dos problemas sociais, através da aplicação dos conhecimentos hereditários, que caracteriza a 
eugenia, utilizando-as para fundamentar suas práticas (MOTA, 2007). 
Seguindo essa tendência, as associações entre a hereditariedade e a dependência continuam 
a ser pesquisados, com vistas a esclarecer os enigmas da etiologia que as categorias diagnósticas 
psiquiátricas, não foram capazes de solucionar. Para tal, emprega-se o modelo epigenético que 
“compreende a herança genética das vulnerabilidades e sua modulação ao longo dos anos pelos 
efeitos ambientais” (p.55) Por seu caráter complexo, a dependência química é comparada a doenças 
como a diabetes e a hipertensão, em decorrência do seu efeito genético ser proveniente de vários 
genes que atuam em conjunto, gerando uma situação de vulnerabilidade, junto à ação ambiental 
(MESSAS; VALLADA FILHO, 2004). 
No relatório de neurociências sobre o consumo e a dependência de substâncias psicoativas, 
produzido pela OMS, a dependência é vista como um transtorno cerebral, que causa alterações nas 
funções cerebrais, desde o nível molecular e celular até alterações em processos cognitivos 
complexos. A possibilidade de herança genética, que venha a explicar as variações de consumo 
também é abordada no documento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004). 
Além da perspectivados determinantes hereditários, as ciências biológicas se valeram de 
outro modelo explicativo, baseado nas descrições dos quadros explicativos da abstinência, que 
justificavam o uso contínuo de uma substância, para evitar o sofrimento causado por sua falta no 
organismo. Mesmo não sendo corroborada pela prática, a ideia da abstinência como suficiente para 
explicar a causa da dependência e outras questões do uso de drogas, foram e são até hoje, bastante 
difundidas (CRUZ, 2002; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006). 
A compreensão do fenômeno da dependência, pelo modelo biológico de doença é criticável 
na medida em que: 
[...] baseia-se em modelos genéticos controversos e em generalizações questionáveis de 
determinados experimentos para o fenômeno da dependência como um todo; não descreve 
uma história natural da relação do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de uma 
teoria da dependência; não abrange grande contingente de casos que, embora não 
preencham critérios para sua inclusão nesta categoria nosológica, correlacionam-se com 
taxas de morbidade e mortalidade diretamente ligadas ao consumo de álcool e drogas 
(SILVEIRA, 1996 p.11). 
Se por um lado, a ideia de doença implica na ausência ou abrandamento da responsabilidade 
do sujeito sobre seus atos, principalmente sobre a condição de estar doente, acompanhado por 
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concepções que perpetuam a noção de incurabilidade e impotência diante do mal (CRUZ, 2002). 
O compartilhamento massivo da perspectiva que analisa o problema através de suposições sobre 
distúrbios de personalidade, oriundos de causas orgânicas, endossam o imaginário de que o 
contexto social, pouco tem a ver com o desenvolvimento e a manutenção da condição de 
dependente (MOTA, 2007). 
3. COMPREENSÕES PSICOLÓGICAS
Formada por sistemas teóricos distintos, a psicologia não dispõe de uma teoria comum sobre 
a (s) causa (s) da dependência de substâncias psicoativas. Como resultado, encontramos a 
elaboração de diferentes hipóteses, que dão destaque a determinados elementos, de acordo com 
sua leitura acerca do funcionamento psíquico e/ou as relações estabelecidas entre os homens e o 
meio. Contudo, as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de aprendizagem (modelo 
comportamental) se destacaram na produção de possíveis explicações para uma conduta adicta. De 
forma resumida, nos modelos psicanalíticos, a dependência é compreendida como um sintoma e 
não necessariamente como causa. Na tentativa de viver continuamente sobre o domínio do 
princípio do prazer, o sujeito incorpora a sua rotina um hábito de consumo de substâncias 
psicoativas que vem a gerar a dependência (MOTA, 2007). 
Por sua vez, no modelo inspirado nas teorias de aprendizagem, a dependência se originaria a 
partir de uma estratégia habitual de automedicação, na tentativa de debelar sentimentos como 
ansiedade, raiva ou depressão (MOTA, 2007). 
Neste capítulo, apresentaremos as concepções psicológicas sobre o fenômeno, baseadas em 
aportes teóricos distintos, para em seguida, nos determos sobre as perspectivas comportamentais e 
psicanalíticas. 
Na abordagem sistêmica, o foco da atenção terapêutica recai sobre as relações interpessoais 
que se dão no seio familiar, entendida como um sistema de forças (SEADI, 2007). Nessa 
perspectiva, o conceito de dependência é entendido enquanto um mecanismo natural de adaptação, 
em que o sujeito busca uma solução para questões que exigem uma resposta adaptada. Desta 
maneira, recorre-se a droga como algo que irá conferir ao sujeito uma competência relacional que 
lhe falta em determinados contextos (SUDBRACK, 2000). 
Outra visão, dentro da abordagem sistêmica, enxerga o sujeito dependente como portador do 
sintoma da disfunção familiar, que contribui para a manutenção da mesma, na medida em que seu 
consumo retira o foco dos problemas relacionais existentes entre os outros membros da família 
(ORTH, 2005). 
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Na abordagem fenomenológico-existencial, a dependência constitui-se como uma 
possibilidade de escolha dentre as possíveis disponíveis no mundo. Essa escolha, pelo uso de 
psicoativos, é tida como inautêntica e deliberada, ao transferir para a droga o seu projeto de existir 
(OLIVEIRA, 2007). Para a Gestalt-terapia, de base fenomenológica- existencial, as pessoas 
reconhecidas como dependentes, estão fora de seu equilíbrio ótimo, frequentemente incapazes de 
perceber quais as suas necessidades. Ocorrendo então, alterações nos processos funcionais de 
contato e afastando, distorcendo a existência do sujeito enquanto ser unificado (TELLEGEN, 1984; 
PIMENTEL, 2003 Apud OLIVEIRA, 2007). 
Com o foco na reestruturação de cognições disfuncionais, a teoria cognitiva acredita que a 
dependência é resultado da interação entre o contato inicial com a droga e as cognições que se 
formarão por influência das crenças básicas (SILVA; SERRA, 2004). 
A partir de crenças básicas disfuncionais, o sujeito faz suposições de como deverá agir diante 
de situações específicas, criando uma espécie de ciclo, repetindo o mesmo comportamento em 
ocasiões similares. Para aliviar o desconforto, em decorrência dos sentimentos suscitados pela 
crença básica disfuncional, criam-se então as chamadas estratégias compensatórias. Nesse caso o 
consumo de uma substância psicoativa, como estratégia compensatória, poderá desenvolver um 
novo grupo de crenças que manterá relação com a crença básica (SILVA, 2004). 
Por representarem os modelos que mais contribuíram para o entendimento da dependência, 
iremos discorrer sobre as hipóteses comportamentais mais atuais para a etiologia do problema. 
3.1 Perspectiva comportamental 
Para a teoria comportamental, todo comportamento é conseqüência da interação do indivíduo 
com seu ambiente. São os eventos ambientais que determinam o comportamento, e não a 
consciência e o autocontrole. No modelo do reforço, a manutenção e a extinção de determinados 
comportamentos são explicadas pelos conceitos de reforço e punição. 
Pensando no consumo de substâncias psicoativas, estas são entendida como um estímulo cuja 
função dependerá das consequências produzidas e do contexto em que é administrada. A repetição 
do consumo ocorreria pelo papel reforçador da substancia, ou seja, a substancia pode desempenhar 
um papel de reforçador positivo, onde o aumento da probabilidade de repetir o uso estaria 
relacionado às consequências recompensadoras, prazerosas, desse consumo. Na função de 
reforçador negativo, o aumento do consumo da substância se justificaria pela retirada de algo 
aversivo, desagradável, à exemplo, afastar/ aliviar os sintomas da abstinência (GARCIA-
MIJARES; SILVA, 2006). 
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Entretanto, o modelo do reforço possui restrições para explicar a dependência. Se o 
comportamento não é controlado somente pelos reforçadores, mas também pelos punidores (que 
diminuem a probabilidade do comportamento), como justificar a manutenção do comportamento 
de consumir substâncias psicoativas, quando as conseqüências aversivas (na saúde, trabalho, 
família) são maiores do que os reforços propiciados pelo consumo (GARCIA-MIJARES; SILVA 
2006)? 
Frente a essas objeções, teorias atuais da dependência que entendem o problema como 
resultante de um processo de aprendizagem, onde a substância e os estímulos associados a seus 
efeitos adquirem controle potente sobre o comportamento, são propostas para explicar a etiologia 
da dependência. Apresentaremos essas teorias, que se diferenciam quanto aos processos de 
aprendizagem envolvidos (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006). 
A teoria comportamental como escolha, desenvolvida por Heyman (1996 apud GARCIA-
MIJARES; SILVA, 2006), entende que a dependência é um processo em que o consumo repetido 
da substância, diminui progressivamente o valor reforçador de outras atividades, por serem as 
substâncias psicoativas um reforçador atípico (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006). 
 A estratégia de escolhaque controla o comportamento do indivíduo é base da explicação 
para o desenvolvimento da dependência. Nesses casos, o sujeito se vale da estratégia de melhoração 
(sic), que tem como objetivo obter o maior benefício no momento, ou seja, escolhem-se as 
alternativas, que possuam maior taxa de reforço local. A escolha em recorrer a essa estratégia varia 
de acordo com as contingências. (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006). 
Outra teoria que visa explicar a dependência é a teoria da sensibilização, que propõe que a 
dependência acontece porque a administração repetida de uma substância psicoativa causa 
mudanças cerebrais (sensibilização neural), que tornam os sistemas associados à motivação, 
hipersensíveis aos efeitos das substâncias. Desta forma, qualquer estímulo associado à substância 
psicoativa acarretará num comportamento de procura e consumo da substância (GARCIA-
MIJARES;SILVA, 2006). 
Por fim, a teoria neurobiológica de Kalivas e outros (2005 apud GARCIA-MIJARES; 
SILVA, 2006), integra as duas primeiras, descrevendo as mudanças no circuito do reforço que 
acontecem no processo de dependência. O consumo repetido de psicoativos produziria mudanças 
no sistema nervoso, em vias dopaminérgicas e glutamatérgicas especificas, que ocasionariam a 
diminuição do valor reforçador de estímulos naturais, com o aumento da resposta à estímulos 
associados com a substancia, alterando o comportamento de escolha (GARCIA-MIJARES; 
SILVA, 2006). 
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No que concernem as técnicas, a abordagem comportamental possui grande reconhecimento 
no tratamento da dependência, sendo largamente recomendados por guias terapêuticos médicos, 
pela sua aceitabilidade na área psiquiátrica (SONENREICH; ESTEVÃO; FILHO, 2000). 
 É importante ressaltar a existência de diversas terapias denominadas cognitivo-
comportamentais, havendo em comum entre elas a influência da cognição sobre o comportamento 
e a modificação do comportamento que pode ser realizado por mudanças cognitivas (MARQUES; 
SILVA, 2000). 
Entretanto, mesmo com o reconhecimento e a recomendação sobre a utilização das técnicas 
oriundas das teorias comportamentais e cognitivas, nos casos de dependência de álcool, cerca de 
50 a 60% dos pacientes não se beneficiam desses procedimentos (RAMOS; WOITOWITZ, 2004). 
Para nós, esse tipo de dado é importante na medida em que aponta para a necessidade de produção 
de explicações plurais, que explorem elementos distintos do fenômeno, e assim, contribuam na 
construção de propostas terapêuticas capazes de agregar aqueles que não se beneficiem dos 
métodos padrões. 
3.2 Perspectiva psicanalítica 
O foco deste trabalho na compreensão da teoria psicanalítica, em relação ao fenômeno da 
dependência, se deu em virtude do reconhecimento da influência fundamental da psicanálise, para 
a clínica psicológica. O método psicanalítico, operou uma mudança em relação aos métodos 
terapêuticos da clínica médica, ao dar à escuta o lugar central na busca diagnóstica, em contraponto 
às observações e uso de complexas tecnologias, lançados mão pela clínica biomédica (MOREIRA 
et al., 2007). 
A tarefa diagnóstica passou a objetivar o conhecimento e reconhecimento das formas de 
aparecimento dos transtornos, indo além da identificação categórica, mas detectando e 
interpretando o funcionamento de organizações psíquicas inconscientes, próprias das alterações 
manifestas (SAURÍ, 2001). 
Para a investigação de um consumo prejudicial de substâncias psicoativas (dependência), o 
método psicanalítico foi além das constatações biológicas e observáveis através do comportamento 
do sujeito. Pois, diante das particularidades que diferenciam as toxicomanias dos outros fenômenos 
psicopatológicos, o conhecimento sobre este, só se dá a partir da fala do sujeito identificado como 
toxicômano (BUCHER, 1992). 
 Então, à constatação de que a dinâmica inconsciente possuía um papel importante no 
desenvolvimento da dependência, abriu-se espaço para a produção de várias teorias dinâmicas 
sobre a gênese dos comportamentos aditivos (MOTA, 2007). 
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A produção dessas teorias não garantiu à psicanálise um corpus teórico consistente, que se 
atenha sobre a drogadição, em suas diversas formas de uso, incluindo a toxicomania. Essa 
constatação é vista com surpresa, tendo em vista que o fenômeno pode suscitar diversos 
questionamentos passíveis de serem explorados pela psicanálise (BUCHER, 1992). 
No entanto, as críticas apresentadas por Bucher (1992), sobre a escassez de estudos na teoria 
psicanalítica sobre a toxicomania, não desconsidera as reflexões psicanalíticas sobre o assunto, 
mas a falta de articulação entre as hipóteses desenvolvidas pelas diversas escolas. 
Porém, antes de expor algumas interpretações, é preciso fazer algumas considerações sobre 
o termo toxicomania, que nasceu no campo médico, no fim do século XIX, associado aos sentidos
de degenerescência, imoralidade e paixão. A psicanálise passa a utilizá-lo para se referir à 
intoxicação crônica de substâncias psicoativas (BENTO, 2006; RIBEIRO, 2008). 
As primeiras investigações de Freud, sobre as substâncias psicoativas, em especial a cocaína, 
foram realizadas enquanto atuava como neurologista. Seu interesse era em relação aos possíveis 
benefícios da cocaína ao organismo. Desde este momento que podemos chamar de pré-
psicanalíticos, a abordagem empreendida por Freud ia de encontro com as formulações 
psiquiátricas da época, que creditavam à cocaína a causa por alguma espécie de lesão funcional 
(RIBEIRO, 2008). 
Inicialmente, as hipóteses freudianas sobre o consumo de cocaína, acreditavam que o 
organismo poderia ser capaz de realizar uma maior quantidade de trabalho com um menor gasto 
de energia, promovendo um efeito econômico. Em seguida, surgiu a proposição de que os efeitos 
da cocaína seriam diferentes para cada pessoa. A semelhança entre os efeitos da cocaína e os efeitos 
da libido, que intoxicam o corpo, produzindo o efeito da economia da energia, também é observada 
nas formulações pré-psicanalíticas e são reconsideradas quando, uma possível relação entre as 
toxicomanias e o narcisismo são propostas. Foi a partir da fundação da psicanálise, que Freud 
passou a enfatizar o papel desempenhado pelas substâncias psicoativas na economia psíquica 
(RIBEIRO, 2008). 
Em suas teorizações e constantes mudanças, Freud situou a dependência não na relação do 
humano com a substância, mas no vinculo desenvolvido com o objeto, ou ainda, na forma como o 
objeto permite ao sujeito relacionar-se com os outros ao seu redor (RIBEIRO, 2008). 
Apesar dessas investigações com a cocaína, a problemática das toxicomanias se encontra 
escassa no percurso freudiano. Existem referências esparsas à psicose alcoólica e indagações sobre 
a relação da mania com a ingestão das drogas estimulantes (BIRMAN, 2005). 
Foram as investigações de Radó (1926), com a elaboração do conceito de orgasmo 
farmacogênico (apoiado no conceito de orgasmo alimentar do erotismo oral), que tiveram um efeito 
marcante no pensamento psicanalítico. O consumo da substância psicoativa é articulado no registro 
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da oralidade, de forma que o sujeito toxicômano viveria a demanda repetida da incorporação de 
um objeto capaz de lhe restituir a completude perdida do orgasmo alimentar. (BUCHER, 1992; 
BIRMAN, 2005). 
A influência dessa perspectiva fez com que surgissem interpretações que abordam uma 
relação materna insatisfatória, como se o toxicômano buscasse com a substância psicoativa, uma 
figura materna preenchedora, que lhe faltou na história infantil (BUCHER, 1992; BIRMAN, 2005; 
MOTA, 2007). 
As críticas direcionadas a essa interpretação da toxicomania, se dão pela falta de relação com 
uma dimensão estrutural dessa modalidade de funcionamento mental (BIRMAN, 2005). A busca 
por uma estrutura exclusiva da toxicomania provoca discordância entre os trabalhos pós-
freudianos, Zafiropoulos (1984) e Olivenstein(1983) pressupõem uma estrutura, ou uma 
preexistência para a toxicomania, que é de difícil definição (BUCHER, 1992). Por outro lado, 
Melman (1989), acredita que é a droga que cria o estado de adição por provocar “a suspensão da 
existência” (MELMAN, 1989 apud BUCHER, 1992). Ao questionar essa ideia, Freda (1989), 
endossa o lugar do sujeito no desenvolvimento de uma dependência, dizendo que “é o toxicômano 
que faz a droga”, pois conceder aos efeitos das substâncias psicoativas a preeminência sobre o 
desenvolvimento da toxicomania é concordar com um determinismo mecânico que torna inviável 
uma concepção de sujeito (FREDA, 1989 apud BUCHER, 1992). 
Sem chegar a uma resposta final, sobre a existência ou não de uma quarta estrutura, 
permanece a ideia de que a manifestação toxicomaníaca, não é exclusiva de uma das três estruturas 
propostas (neurose, psicose, perversão). Sendo a importância de cada estrutura, na relação 
estabelecida com o objeto droga (GIANESI, 2005). 
A manutenção das hipóteses do estado-limite e a hipótese da problemática narcísica, por 
considerá-las mais cautelosas, críticas, autocríticas e mais adequadas para passarem pelo “crivo da 
experiência clínica” (BUCHER, 1992 p.281), é defendida por Bucher (1992), tendo o estado atual 
da questão. A primeira, desenvolvida por Glover (1932), postula que tal estado é criado por uma 
reação específica em decorrência de fantasias sexuais primitivas. Estas operariam uma transição 
entre a fase psicótica precoce e a fase neurótica (BUCHER, 1992). 
A referência ao narcisismo, concebida por Freud, destaca as substâncias psicoativas como a 
alternativa mais interessante na tentativa de amenizar o mal-estar, causado pela renúncia da 
satisfação total dos desejos. Essa característica dos psicoativos passou a ser vista, como capaz de 
promover um redirecionamento da libido investida nos objetos, para o eu (ego), de tal forma que 
há um desinvestimento do mundo externo, que quando bem-sucedido, ocasiona o abandono de 
outras atividades (RIBEIRO, 2008). 
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Por fim, o recurso da droga pode ser usado para lidar com a dor de existir, o sofrimento de 
sua divisão subjetiva, o insuportável do impossível da relação sexual e o mal-estar existente na 
cultura e nos laços sociais. E é essa diversidade de objetivos, para os quais as substâncias 
psicoativas podem ser utilizadas, que denotam as singularidades que cada sujeito irá estabelecer 
com as drogas (OLIVEIRA, 2010). 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, percebemos que as investigações sobre a etiologia da dependência 
química encontram diversos caminhos a serem trilhados, até mesmo dentro de uma disciplina, 
como é o caso da psicologia, bem como de um campo, pensando então na psicanálise. 
A própria definição do conceito, serve para exemplificar a diversidade de entendimentos que 
se construíram ao longo dos anos. O lugar, antes ocupado pela medicina, ainda precisa ser 
questionado, não no intuito de deslegitimar os avanços conferidos por esse discurso, mas para abrir 
espaço para outros saberes que ampliam a compreensão de um fenômeno de bastante 
complexidade, e consequentemente, passível de leituras diversas. 
Longe de esgotar o assunto, buscamos contribuir para a difusão do pensamento de que, em 
se tratando de dependência de drogas, uma única resposta não é possível. Sendo necessária a 
consideração de diversos fatores que configuram o problema e que estão para além da dimensão 
biológica do sujeito. 
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Inserção do psicólogo na atenção básica: uma visão integral 
na atenção a usuários de álcool e drogas 
(Psychologist insertion in primary care: a comprehensive view on 
the attention to alcohol and drug users) 
Resumo. Este capitulo, através de revisão bibliográfica, aborda o
crescimento de problemas individuais e coletivos relacionados ao consumo 
de álcool e drogas. A Atenção Básica através da Estratégia de Saúde da 
Família é a estrutura do SUS mais viável para apoiar a reinserção social 
do dependente químico, pois a mesma coexiste na realidade do mesmo. 
Considera-se relevante a abertura de espaços para se repensar e pesquisar a 
função do psicólogo na saúde pública, em especial na atenção básica. Conclui-
se que, através do trabalho do psicólogo junto a equipe na atenção básica pode-se 
reconhecer as necessidades e subjetividades do ser humano a ser atendido 
embasado em uma abordagem integral e humanística. 
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Introdução 
A progressiva descentralização do Sistema Único de Saúde (SUS) exige que se aplique 
e reflita em relação ao principio da integralidade. Entendemos a integralidade no cuidado de 
pessoas, grupos e coletividade tendo o usuário como sujeito histórico, social e político, 
articulado ao seu contexto familiar, ao meio ambiente e a sociedade na qual se insere 
(MACHADO, 2007). Nessa lógica, o desenvolvimento de pesquisas, no reconhecimento dos 
aspectos biológicos, psicológicos e sociais relativos à saúde da população, viabilizando dentro 
da realidade a objetividade do atendimento oferecido à mesma, é de grande relevância. Nessa 
perspectiva, este artigo pretende discutir aspectos da saúde mental na Atenção Básica e 
atuação do psicólogo dentro desse contexto, focalizando essa integralidade e busca de 
soluções concretas de intervenção para maior eficácia na reinserção social de dependentes 
químicos após internação em instituições terapêuticas especializadas. 
A diversidade e constante crescimento de problemas individuais e coletivos da 
sociedade relacionados ao consumo de drogas permite dizer que o uso compulsivo/obsessivo 
de substâncias psicoativas é um fator de altíssima relevância dentro dos estudos sobre a saúde 
pública, pois a mesma necessita de maior intervenção nas ações de prevenção, tratamento e 
principalmente, reinserção social destes usuários (BRASIL, 2006). Segundo o Relatório 
Mundial sobre Drogas de 2015 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes 
(UNODC) estima-se que um total de 246 milhões de pessoas - um pouco mais do que 5% da 
população mundial com idade entre 15 e 64 anos - tenha feito uso de drogas ilícitas em 2013. 
Cerca de 27 milhões de pessoas fazem uso problemático de drogas, das quais quase a metade 
são pessoas que usam drogas injetáveis (PUDI). Estima-se que 1,65 milhão de pessoas que 
injetam drogas estavam vivendo com HIV em 2013. Homens são três vezes mais propensos 
ao uso de maconha, cocaína e anfetamina, enquanto que as mulheres são mais propensas a 
usar incorretamente opióides de prescrição e tranquilizantes. A ONU enfatiza em seu 
relatório que o Brasil é um país vulnerável ao tráfico de cocaína, devido à sua geografia 
estratégica no tráfico para a Europa, e também ao fato de ser um mercado consumidor devido 
à grande população urbana. Citando dados da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre 
Drogas), o estudo indica que 3% dos estudantes universitários, de todas as idades, usam 
cocaína. 
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http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article%5Edlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=MACHADO,+MARIA+DE+FATIMA+ANTERO+SOUSA
Metodologia 
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, estudo descrito e exploratório, relacionado à 
atuação do psicólogo em situações envolvendo álcool e drogas através da integralidade das 
ações na atenção básica. Foi realizado levantamento bibliográfico nas bases de dados 
SCIELO e Google Acadêmico e sites específicos de programas governamentais. 
As palavras chaves utilizadas foram: serviços de saúde mental, atenção básica, 
psicologia 
Referencial Teórico 
Políticas Públicas direcionadas a álcool e drogas no Brasil 
Estrategicamente, as ações do governo para reduzir as consequências do uso de 
entorpecentes estão vinculadas, basicamente, emações de segurança pública, no combate ao 
tráfico e redução da oferta; ações em saúde e assistência social, na recuperação dos indivíduos 
com transtornos mentais e comportamentais relacionados ao uso; e ações em educação e 
informação, focadas na prevenção do uso (BRASIL, 2013). 
Muitas são as instituições junto à sociedade civil que têm se proposto a desenvolver 
um trabalho de assistência e tratamento a dependentes químicos: grupos anônimos, clínicas ou 
casas de recuperação, hospitais, etc. O número delas cresce à medida em que a demanda 
aumenta, levando grupos, comunidades, associações, clubes de serviços e igrejas a 
organizarem trabalhos de atendimento a esse segmento. As propostas oferecidas para o 
atendimento a essa população específica variam de acordo com a visão de mundo e 
perspectiva ideológica e religiosa dos diferentes grupos que propõe alternativas de tratamento. 
O atendimento a pessoas com problemas resultantes do uso e/ou abuso de substâncias 
psicoativas e portadores de outros transtornos psiquiátricos, devem seguir o modelo 
psicossocial, padrão este estabelecido pela Resolução – RDC nº 101, de 30 de maio de 2001 
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. O modelo psicossocial é entendido 
como sendo: 
Serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de 
substâncias psicoativas (SPA), em regime de residência ou outros vínculos de 
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um ou dois turnos, segundo modelo psicossocial, são unidades que têm por 
função a oferta de um ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, 
que forneça suporte e tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de 
substâncias psicoativas, durante período estabelecido de acordo com programa 
terapêutico adaptado às necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal 
instrumento terapêutico é a convivência entre os pares. Oferece uma rede de 
ajuda no processo de recuperação das pessoas, resgatando a cidadania, 
buscando encontrar novas possibilidades de reabilitação física e psicológica, e 
de reinserção social (ANVISA, 2001, p.2). 
A internação, em qualquer de suas modalidades, só será iniciada quando os recursos 
extra-hospitalares se mostrarem insuficientes (BRASIL, 2001). O tratamento em regime de 
internação, de acordo com a lei, será estruturado de forma a oferecer assistência integral à 
pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, 
psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros. 
A Lei N
o
 10.216, de 6 de abril de 2001 (BRASIL, 2001), diz ainda, que a internação
para tratamento da dependência química somente será realizada mediante laudo médico 
circunstanciado que caracterize os seus motivos. São considerados os seguintes tipos de 
internação: voluntária (aquela que se dá com o consentimento do usuário); involuntária 
(aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro); e compulsória 
(aquela determinada pela Justiça). 
Em decorrência, ao término do tratamento, o que geralmente dura 6 meses, o sujeito 
recuperado se vê diante de outro desafio: o retorno ao meio sócio-familiar. Trata-se do 
reinicio das relações no âmbito da família, do trabalho, da escola. Essa é a chamada 
reinserção social. Etapa decisiva para o seu retorno ou não do individuo ao consumo de 
drogas. Dependerá de como essa reinserção é trabalhada, enfrentada e assumida por todos os 
envolvidos nesse processo: profissionais, egressos e familiares. 
O Art. 4
o
.§ 1
o
 diz, “O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção
social do paciente em seu meio”. 
Em seus 12 artigos, a Lei 10.216/01 estabelece que o tratamento dos portadores de 
transtornos mentais visará como finalidade permanente a reinserção social do paciente em seu 
meio. A norma estabelece que é obrigação do Estado o desenvolvimento da política de saúde 
mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, 
com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento 
de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em 
saúde aos portadores de transtornos mentais (BRASIL, 2001). 
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No atual contexto social, a Reinserção Social tem sido considerada central nas ações e 
preocupações de vários agentes da rede de intervenção na área da toxicodependência. A 
Reinserção exige uma intervenção de carácter multi, inter e transdisciplinar. Essa intervenção 
inicia-se quando o indivíduo toma consciência do seu problema e recorre a qualquer espécie 
de ajuda, prolonga-se durante todo o tratamento e só se apresenta eficaz quando em todas as 
suas dimensões, biológica, psicológica, afetiva, cultural e social, esse indivíduo consegue 
estabelecer um quadro de vida com autossuficiência e satisfação pessoal. 
Em virtude das características de heterogeneidade relacionadas ao abuso de 
substâncias psicoativas, uma vez que a dependência afeta as pessoas de diferentes maneiras e 
por inúmeras razões, nos mais diversos contextos e circunstâncias, uma política de atenção 
deve privilegiar as necessidades dos usuários, que, muitas vezes, não correspondem às 
expectativas dos profissionais de saúde com relação à abstinência, fator esse que dificulta a 
adesão ao tratamento, bem como as práticas preventivas ou de promoção voltadas aos 
usuários que não se sentem acolhidos em suas diferenças (BRASIL, 2004): 
Reconhecer o consumidor, suas características e necessidades, assim como as 
vias de administração de drogas, exige a busca de novas estratégias de contato 
e de vínculo com ele e seus familiares, para que se possa desenhar e implantar 
múltiplos programas de prevenção, educação, tratamento e promoção, 
adaptados às diferentes necessidades. Para que uma política de saúde seja 
coerente, eficaz e efetiva, deve-se levar em conta que as distintas estratégias 
são complementares e não concorrentes, e que, portanto, o retardo do consumo 
de drogas, a redução dos danos associada ao consumo e a superação do 
consumo, são elementos fundamentais para sua construção (BRASIL, 2004, 
s/p.). 
A Estratégia Saúde da Família (ESF), eixo estruturante da Atenção Básica à Saúde, 
concebe a família de forma integral e sistêmica, como espaço de desenvolvimento individual 
e grupal, dinâmico e passível de crises, inseparável de seu contexto de relações sociais no 
território em que vive (BRASIL, 2013). Para que haja uma reinserção social dentro dos 
pressupostos citadas, a Atenção Básica com a ESF é a estrutura do SUS mais viável para 
apoiar a reinserção social do dependente químico, pós-internação em instituição 
especializada, pois a mesma coexiste na realidade do mesmo. 
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e a Saúde mental 
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A constituinte de 1988, no capítulo VIII da Ordem Social e na secção II referente 
à Saúde, define, no artigo 196 que: 
A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos, e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, s/p.). 
Nos anos 80 e 90 a população brasileira era muito envolvida em questões sociais e 
diante desse contexto se deu a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de 
melhorar a qualidade no atendimento houve a iniciativa da criação da Política Nacional de 
Atenção Básica (PNAB), para se enquadrar aos princípios do sistema. Com os avanços fez se 
necessário a criação de um Programa de Saúde da Família (PSF) que mais tarde se tornou 
Estratégia de Saúde da Família (ESF) que tem por finalidade organizar a atenção básica nos 
pais, e torna a família o foco principal. A saúde mental por sua vez, começa na Atenção 
Básica, que é a porta de entrada ao sistema. 
Diante do contexto acima citado, podemos estabelecer uma relaçãoentre a atenção 
básica e a saúde mental, visto que para tal encontramos grandes desafios e limites 
principalmente por conta do modelo de assistência manicomial pré estabelecido há décadas, 
atitude essa que ao longo dos anos vem sendo alvo de discussões e através destas, originou-se 
a chamada Reforma Psiquiátrica. 
A reforma da assistência psiquiátrica, ou seja, a extinção de manicômios e a 
substituição por outros recursos assistenciais, de acordo com a lei federal 10.216/01 (Dispõe 
da Reforma psiquiátrica) e da portaria 224/92 (Dispõe sobre as diretrizes e normas para a 
oferta de serviços de saúde mental) defende diferentes pensamentos no processo saúde/doença 
mental /cuidado e deseja mudança de doença para *existência-sofrimento*, buscando 
exercício de cidadania. No entanto quando escolhe o território como estratégia, aumenta a 
participação na comunidade às redes social em que se inserem, assumindo responsabilidades 
na atenção e tomando atitudes terapêuticas, baseando no contato, cuidado e acolhimento 
(CABRAL, 2001 apud COIMBRA, 2005). 
O que se espera da reforma psiquiátrica não é apenas a retirada dos pacientes 
portadores de transtornos mentais dos hospitais, deixando-os sob cuidados de um cuidador ou 
até mesmo esperar que ele possa cuidar-se sozinho. Na verdade o objetivo é que este possa se 
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resgatar e se estabelecer como cidadão e o respeito a sua individualidade transforma-o numa 
peça fundamental para o sucesso de próprio tratamento (GONÇALVES; SENA, 2001). 
A Atenção Básica que se caracteriza como porta de entrada preferencial do SUS é 
onde ocorre a abordagem inicial ao dependente que será encaminhado para as entidades 
cadastradas nos Programas públicos de tratamento a dependência química. Esse trabalho 
inicial é executado pelas secretarias de saúde e promoção social dos municípios. Se o 
município não possuir vagas conveniadas, pode acionar a rede de acolhimento social 
disponível no Estado pelos centros de referências de assistência social e saúde mental, 
conhecidos como CRAS, CREAS e CAPS. Essas estruturas referenciam o sujeito, após 
triagem, para uma entidade cadastrada dentro das delimitações geográficas pré-determinadas. 
(PROGRAMARECOMEÇO – 2016) 
 No Brasil, assim como em vários países, além da estigmatização desta clientela, 
podemos ver dificuldades no acesso ao serviço de saúde e na estruturação destes serviços para 
apoio e reinserção social. Esta categoria da população é excluída, o que a afasta dos serviços 
de saúde, algumas vezes por não ter profissionais com treinamento mínimo necessário para 
que possam realizar os cuidados básicos e o encaminhamento adequado (CARNEIRO 
JUNIOR, 1998). 
 As estruturas da atenção básica que referenciaram o sujeito para a entidade recebe 
novamente o mesmo. Ela deviria fazer o trabalho de apoio para a reinserção social do 
individuo. A pergunta que surge é a seguinte: Será que a Atenção Básica está preparada para 
receber e fazer o trabalho de apoio a reinserção social desse individuo em especial? 
 Segundo Brêda e Augusto (2005), os profissionais das equipes da Estratégia Saúde da 
Família (ESF) têm grande dificuldade de identificar e/ou interferir no processo saúde-doença, 
em meio à situação de dependência química nas comunidades. Existe necessidade de estudos 
mais profundos que possam apontar estratégias para a resolutividade e eficácia da assistência 
aos usuários de drogas no Programa Saúde da Família. Percebe-se também que há muitas 
questões a serem exploradas quanto à temática que envolve os usuários de drogas e as 
possíveis contribuições do Programa de Saúde da Família (BRASIL, 2003). À área da saúde 
cabe refletir sobre como este grupo social concebe em seu próprio corpo a relação entre 
saúde/doença/meio ambiente/modos de viver e como pensam a relação profissionais-
pacientes-instituição e seu papel nesta dinâmica (SUPERA, 2009). 
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 Para que a relação entre a Saúde Mental e a Atenção Básica seja efetiva, é necessário que 
os profissionais tenham maior proximidade com clientes e suas famílias, considerando-o sem 
seus vários aspectos (credos, valores, cultura), só assim o antigo modelo de tratamento 
manicomial com referência hospitalar, pode ser instinto. (RIBEIRO, et. al, 2009). 
 Um dos maiores obstáculos encontrados para efetivação das ações de saúde mental na 
Estratégia Saúde da Família, é oferecer atendimento integral a este público, pois apesar da 
similaridade de conceitos e diretrizes teóricas, as práticas têm sido divergentes. (NEVES, et. 
al, 2010) 
Silva e De Sena (2008) nos apresentam uma definição muito clara do conceito de 
integralidade: 
No Brasil, um dos pilares da atenção básica é o princípio da integralidade, 
que se baseia em ações de promoção, prevenção de agravos e recuperação da 
saúde. A integralidade permite a percepção holística do sujeito, considerando 
o contexto histórico, social, político, familiar e ambiental em que se insere.
(p.48)
Portanto, qualquer tentativa de tratar o indivíduo isoladamente é inútil, pois para que 
ocorra um tratamento com sucesso, deve-se ocorrer um planejamento conforme o contexto 
familiar, porque quando a individuo sofre algum transtorno mental a família e todos ao redor 
sentem também a situação do doente. (SARACENO, 1999 apud MACHADO; MOCINHO, 
2003). 
 Segundo Brêda et al (2005), os profissionais das equipes da Estratégia Saúde da 
Família (ESF) têm grande dificuldade de identificar e/ou interferir no processo saúde-doença, 
em meio à situação de dependência química nas comunidades. Existe necessidade de estudos 
mais profundos que possam apontar estratégias para a resolutividade e eficácia da assistência 
aos usuários de drogas no Programa Saúde da Família. Percebe-se também que há muitas 
questões a serem exploradas quanto à temática que envolve os usuários de drogas e as 
possíveis contribuições do Programa de Saúde da Família (BRASIL, 2003). À área da saúde 
cabe refletir sobre como este grupo social concebe em seu próprio corpo a relação entre 
saúde/doença/meio ambiente/modos de viver e como pensam a relação profissionais-
pacientes-instituição e seu papel nesta dinâmica (SUPERA, 2009). 
O psicólogo nas ações de saúde mental na atenção básica 
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Psicólogos são especialistas que tem como objeto de estudo de estudo o 
comportamento humano e toda subjetividade que compõem o mesmo; usam métodos 
científicos para estudar os fatores que influenciam o modo como as pessoas sentem, agem, 
aprendem e pensam, bem como estudam as estratégias e intervenções baseadas em evidências 
para ajudar as pessoas a superar suas queixas. 
O psicólogo se configura a partir de uma ação multifacetada, isto é, possui vários 
modelos de trabalho em uma única ciência, cada abordagem com sua especificidade e seus 
objetivos particulares. Assim, a Psicologia encontra-se nos mais diversos setores atendendo às 
demandas sociais “tradicionais” e “emergentes” que surgem no dia-a-dia. O diferencial da 
Psicologia é seu caráter único, seu objeto de estudo e seu fazer que se desvela a partir de uma 
ótica ampliada frente às várias realidades que se apresentam no contexto contemporâneo. 
Vivemos um momento de construção e consolidação do lugar do psicólogo nos 
serviços públicos de saúde, mais especialmente na atenção básica, assim, consideramos de 
extrema importância a abertura de espaços para se repensar e pesquisar a função da Psicologia 
e do psicólogo na área de assistência pública à saúde, em especial dos profissionais 
responsáveis pela atenção básica, bem como tomar conhecimento dos paradigmas que 
embasam suas práticas nessas instituições. Para tanto, compreender a adequação/reinvenção 
dos mesmos a um modelo assistencial que responda às premissas da integralidade e qualidade 
nos serviços de saúde, respondendo de fato às necessidadesdos usuários. 
O psicólogo, enquanto profissional no Brasil, tem uma história muito recente. Apesar 
de o ensino da Psicologia ser feito desde os anos 1930 nas escolas normais dos Institutos de 
Educação do país e, em 1956 ter sido implantado um curso de formação de psicólogo na 
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e em 1957 na Universidade de São Paulo, 
foi somente em 1962 - por força da Lei Federal n° 4.119 - que a Psicologia passou a existir 
como profissão. No ano de 1964 foi regulamentada a formação do psicólogo e seu exercício 
profissional pelo Conselho Federal de Educação com o Decreto n° 53.464. Com isso o Brasil 
tornou-se um dos poucos países a adotar uma legislação reguladora da profissão em todo 
território nacional. 
A inserção do psicólogo nos serviços públicos de saúde no Brasil tem se dado mais 
claramente a partir do final dos anos 70 e início dos anos 80. Sua entrada neste campo de 
atuação se deu em decorrência de transformações da sociedade brasileira em geral, e no 
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campo da saúde, em especial. De um lado, a crise econômica e social que afastou os clientes 
dos consultórios privados, forçando os psicólogos a buscarem outros contextos de atuação. De 
outro lado, as políticas de saúde mental que promoveram a ambulatorização dos serviços e a 
multiprofissionalidade na atenção dos portadores de sofrimento psíquico (DIMENSTEIN; 
SANTOS, 2005). 
Contudo, este novo contexto de atuação profissional exige outras posturas do 
psicólogo que tem que enfrentar uma nova realidade para a qual não havia sido preparado 
durante a graduação na universidade. Assim, a Psicologia aos poucos tenta construir o seu 
lugar no campo da saúde. Conforme (SPINK; LIMA, 1999). 
A psicologia chega tarde neste cenário e chega „miúda‟, tateando, buscando 
ainda definir seu campo de atuação, sua contribuição teórica efetiva e as 
formas de incorporação do biológico e do social ao fato psicológico, 
procurando abandonar os enfoques centrados em um indivíduo abstrato e a-
histórico tão freqüentes na psicologia clínica tradicional (SPINK, 2003, p. 
30). 
Esta defasagem entre a formação do psicólogo e as necessidades atuais da saúde 
pública no Brasil tem levado os psicólogos que atuam nessa área ao enfrentamento de 
inúmeros desafios, tais como o desconhecimento do SUS e da realidade das instituições de 
saúde pública. Este desconhecimento tem promovido uma atuação profissional indiferenciada 
segundo os objetivos de cada um dos níveis de atenção, comprometendo a eficiência e a 
eficácia do trabalho realizado. (OLIVEIRA, 2005) 
Em um estudo sobre a atuação do psicólogo na Estratégia Saúde da Família (ESF), 
Diógenes e Pontes (2016) observaram que abordagens psicológicas que trazem visões de 
mundo e de homem que se aproximam do que preconiza a ESF, facilitam o trabalho. A ênfase 
dada pelos autores é nas abordagens humanistas, ainda assim, afirmam que “...todos os 
entrevistados relataram intervenções que partiam sempre das demandas que indivíduos ou 
coletivos expressavam e só depois da sua compreensão, essas intervenções eram postas em 
prática” (p.169). Isto indica que o trabalho da Psicologia, que normalmente é representante da 
saúde mental na atenção básica, não é engessado e sim dinâmico e que atende as necessidades 
reais da população atendida. 
Moraes (2014) atenta para o papel da Psicologia na questão da saúde mental: 
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Penso que nosso papel (psicólogos e psicólogas) é ter um compromisso 
ético-político engajado nas questões sociais e na luta pelos direitos humanos. 
É ter uma postura crítica frente às relações de poder observadas, tanto nas 
intersubjetividades do cotidiano, quanto nas macrorrelações políticas, 
econômicas e sociais. Independente de teoria psicológica, religião e cultura, 
nossa compreensão de sujeito deve abarcar o sujeito psicológico e social que 
vive em uma sociedade marcada por relações que seguem a lógica 
excludente do capitalismo (lucro a qualquer custo, vaidade acima da vida 
humana etc). Os psicólogos e psicólogas devem ser criativos e encontrar 
maneiras de potencializar os seres humanos que estão em sofrimento ético-
político e de lutar contra todas as formas de maus tratos e exclusão 
(MORAES, 2014, p.159). 
Neste contexto de saúde mental na atenção básica, é imprescindível a compreensão do 
sujeito, a partir do que Moraes (2014) chama de sofrimento ético-político. Este modo de 
enxergar a pessoa deve introduzir os conceitos de afetividade e sofrimento na análise da 
dialética exclusão/inclusão social, o que desestabiliza análises em que o sujeito é visto como 
número. Isto permite ainda a não culpabilização daquele que sofre, entendendo que as formas 
de exclusão estão nas relações intersubjetivas delineadas socialmente. Atuar nesta perspectiva 
é promover bons encontros que potencializam ações e respeitam as pessoas enquanto seres 
humanos que tem infinitas possibilidades e sonhos (SAWAIA, 2011). 
Conclusão 
Os psicólogos junto às equipes de saúde da família e demais equipes da atenção 
básica, reinventam o modo de enxergar e, sobretudo, de promover cuidado aos cidadãos com 
necessidades de enfrentamento a distúrbios relacionados a álcool e drogas e demais agravos 
em saúde mental. 
Ao construir a integralidade das ações em saúde mental, é importante não perder de 
vista os aspectos individuais e coletivos dos sujeitos envolvidos nas ações de saúde mental 
sob a ótica do enfrentamento de situações relacionadas a álcool e drogas. 
Através do trabalho do psicólogo junto a equipe na atenção básica pode-se reconhecer 
as necessidades e subjetividades do ser humano a ser atendido embasado em uma abordagem 
integral e humanística. 
Dessa forma faz-se necessário a união de esforços junto a equipe multiprofissional e 
interdisciplinar para enfrentamento deste problema de saúde pública. 
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DEPENDÊNCIA QUÍMICA E 
TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS: 
ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA 
A PARTIR DE 1999
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1. Resumo
O uso de drogas atualmente é considerado um grave problema social e de 
saúde pública, sendo que uma em cada cinco pessoas que fazem uso de substâncias 
químicas possuem tendência à diagnóstico de dependência. O objetivo do presente 
trabalho foi fazer uma análise da produção científica sobre o tema da síndrome da 
dependência e abuso de substâncias químicas, com um direcionamento para o 
impacto psicológico que pode vir a causar transtornos mentais ao indivíduo. Foi 
realizada uma pesquisa nas bases de dados LILACS, Google Acadêmico, Pepsic e 
SciELO. Após a seleção dos artigos, foi utilizada uma ficha de avaliação atendendo 
aos objetivos específicos propostos. Neste estudo foram analisados 33 artigos 
científicos, escritos por 103 autores. Os artigos trazem 18 transtornos mentais, sendo 
que 9 deles foram efetivamente constatados, indicando correlação com a dependência 
química. Os resultados apontam que não houve correlação significativa entre a 
dependência química e os transtornos de Fobia, Pânico, Esquizofrenia e 
Hiperatividade, estando mais fortemente relacionados aos transtornos depressivos e 
ao transtorno de Personalidade Dissocial. Estes resultados indicam que ainda existem 
muitas dúvidas em relação aos impactos físicos e psicológicos que a dependência 
química pode causar, uma vez que muitos dos sintomas apresentados não possuem 
evidências suficientes para sustentar uma afirmação categórica a respeito de sua 
relação com o abuso de drogas. 
2. Introdução
 O abuso de substâncias químicas tornou-se um grave problema de saúde 
pública, e pode estar associado com comportamentos violentos e criminais, como 
acidentes de trânsito e violência familiar (Scheffer, Pasa, & Almeida, 2010). Nos 
últimos vinte anos, devido ao progresso das produções científicas, a dependência 
química passou a ser entendida como um sério problema de saúde, que afeta o 
cérebro e, consequentemente,o comportamento (Scheffer et al. 2010). Como 
explicado por Sintra, Lopes e Formiga (2011) “A toxicodependência surge na 
encruzilhada de múltiplas dimensões inclusa na via humana, designando, na maioria 
das vezes, uma representação de usos nocivos, autodestrutivos e alienantes.”. 
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Cerca de uma em cada cinco pessoas que faz uso de drogas ilícitas possui 
critério para diagnóstico de dependência (Claro et al., 2015). De acordo com a 
Organização Mundial da Saúde [OMS] (n.d.), a síndrome da dependência é definida 
por: 
Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se 
desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente 
associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o 
consumo, à utilização persistente apesar das suas consequências nefastas, a uma 
maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e 
obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de 
abstinência física. (OMS, n.d.) 
O uso de substâncias químicas pode estar relacionado à comorbidade entre a 
síndrome da dependência e diferentes quadros de transtorno mental (Hess, Almeida 
& Moraes, 2012). Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por 
perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no 
comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos 
psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento 
mental. (American Psychiatric Association [APA], 2013). 
O uso crônico de algumas substâncias, como o álcool, a cocaína e o crack, 
pode ser um fator desencadeante ou consequente de transtornos mentais, 
especialmente Transtornos do Humor, como: Episódio Depressivo Maior e Risco de 
Suicídio (Scheffer et al. 2010). Pode também estar associado com prejuízos nas 
habilidades sociais, aspectos cognitivos, e sintomas indicativos de ansiedade e 
depressão (Wagner, Silva, Zanettelo & Oliveira, 2010). 
No estudo feito por Hess et al. (2012) ao investigar a frequência de comorbidades 
psiquiátricas em adultos dependentes químicos, observou-se a presença do 
Transtorno de Personalidade Anti-social [TPAS] nos grupos de consumidores de 
Álcool, maconha, crack/cocaína e no grupo de dependentes de múltiplas substâncias 
psicoativas. 
De acordo com Costa & Valerio (2008): 
-dados indicam uma forte correlação entre transtornos por uso de substâncias e
Transtorno de Personalidade Anti-social, demonstrada por marcadores biológicos e 
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fatores de riscos ambientais em comum, agravamento do quadro clínico, 
significativos prejuízos aos indivíduos em longo prazo e necessidade de tratamento 
em maior extensão. (Transtorno de personalidade anti-social e uso de substâncias 
section, para. 8). 
O transtorno de Personalidade Dissocial é definido pela OMS como “Transtorno de 
personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de 
empatia para com os outros” (OMS, n.d.). Este transtorno é intitulado de “Transtorno 
da Personalidade Antissocial” pelo DSM-V (APA, 2013). 
Dependentes de substâncias químicas como o crack, o cannabis, o álcool, o tabaco, 
a cocaína e outras drogas também podem apresentar sintomas depressivos (Alves, 
Kessler & Ratto, 2004; Andrade & Argimon, 2006; Degenhardt, Hall, Lynskey, Coffey 
& Patton, 2004; Silva, Kolling, Carvalho, Cunha, & Kirstensen, 2009) 
Segundo a OMS, nos episódios depressivos: 
-o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e
diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, 
perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em 
geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo (OMS, n.d.). 
A intoxicação por Cannabis pode causar a depressão indiretamente ao prejudicar o 
ajustamento psicológico no indivíduo. (Degenhardt et al., 2004). Além disso, pode 
afetar a serotonina e outros neurotransmissores, de maneira a produzir sintomas 
depressivos (Degenhardt et al., 2004). 
O álcool também pode produzir sintomas de depressão, ansiedade, agitação e 
hipomania/mania durante a intoxicação e a abstinência (Alves, et al., 2004). 
 Para Scheffer, et al. (2010) “É importante o conhecimento de alterações emocionais 
para um melhor planejamento de programas preventivos, buscando uma metodologia 
mais eficaz para dependentes de drogas” (p. 539). O objetivo deste trabalho foi fazer 
uma análise de produções científicas realizadas na área da saúde que investigam o 
tema da síndrome da dependência e abuso de substâncias químicas com um 
direcionamento para o impacto psicológico que podem causar transtornos ao 
indivíduo. 
3. Objetivos:
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 O objetivo geral foi realizar uma revisão sistemática das produções científicas 
publicadas nas bases de dados LILACS, Google Acadêmico, Pepsic e SciELO, sobre 
a temática “Dependência Química: Perfil de usuários e seus Transtornos 
Psicológicos”. 
Especificamente, objetivou-se avaliar as seguintes variáveis: autoria (única, coautoria, 
múltipla); gênero (masculino, feminino, indefinido); tipo de pesquisa; substâncias e 
transtornos psicológicos pesquisados pelos autores dos trabalhos. 
4. Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura de estratégia documental para a produção 
cientifica. Segundo Campos (2001), a pesquisa documental tem como objetivo colocar 
o pesquisador em contato direto com tudo o que foi dito, escrito ou filmado sobre
determinado assunto. 
5. Desenvolvimento
Foi realizada uma busca por artigos científicos sobre “Dependência Química e 
seus Transtornos Psicológicos” nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Google Acadêmico, Pepsic 
(Periódicos Eletrônicos de Psicologia) e SciELO (Scientific Electronic Library Online). 
Não foram utilizados limitadores temporais. Dessa forma todo o conteúdo das 
bases consultadas contendo as palavras utilizadas para a busca foi contemplado. 
5.1 Levantamento de Dados 
Para o levantamento dos dados no presente estudo, foram utilizadas as 
seguintes palavras-chave “transtornos, dependência química, drogas, crack, perfil, 
usuários, psicológico, produção científica” e foram obtidos trabalhos do período de 
Dezembro de 1999 até Novembro de 2015, limitado ao idioma Português do Brasil. 
Foram incluídos estudos realizados no Brasil, contendo textos completos e tema 
compatível ao pesquisado. A partir desses critérios, foram identificadas 57 
publicações pela leitura dos resumos. A primeira seleção foi retirar a duplicidade nas 
bases de dados, das quais sobraram 46 artigos. Destes, após leitura na integra foram 
excluídos 12 que não abordavam o tema compatível ao pesquisado ou aqueles que 
não atendiam ao objetivo. Ao final do levantamento, totalizaram-se 33 artigos 
científicos (Figura 1). 
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Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos sobre o Tema Dependência química e 
seus transtornos mentais. 
5.2 Análise dos Artigos 
Após a seleção dos artigos, foi utilizada uma ficha de avaliação atendendo aos 
objetivos específicos propostos. Esta ficha continha dados pertinentes ao tema, 
autoria, resumo e tipo de estudo. Também foram registradas todas as substâncias 
químicas que os autores pesquisaram em seus artigos e analisadas as anormalidades 
psíquicas que possivelmente eram causadas pela sua dependência. 
5.3 Análise Estatística 
Os dados foram digitados em planilha eletrônica e apresentados em formato de 
tabelas e gráficos. Para descrever os dados, foram utilizados a frequência e 
porcentagens bem como média e desvio padrão. A análise estatística foi feita com o 
software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science), versão 21.0. 
6. Resultados
Neste estudo foram analisados 33 artigos científicos, escritos por 103 autores, 
em média 3,1 por artigo, com desvio padrão de 1,5. 
Quase todosforam estudos de levantamento ou correlacional (tabela 1), o 
mesmo foi observado no estudo de Ferreira e Oliveira (2007) que classificaram Estudo 
de levantamento ou correlacional como “Pesquisa” e os estudos de revisão de 
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literatura como “teórico”, podemos verificar que os dois temas, sendo um sobre o 
Autismo e este sobre Dependência Química e transtornos mentais, têm a prevalência 
de estudos de levantamento ou correlacional. 
Tabela 1 
Frequência e porcentagem do tipo de estudo dos artigos 
Tipo de estudo N % 
Estudo de levantamento ou correlacional 28 85 
Revisão de literatura 5 5 
Total 33 100 
No total, os 33 artigos investigam a relação de 15 tipos de substâncias com 
diversos transtornos psicológicos. Houve um alto índice de estudos sobre 
dependência em Cigarro, Álcool, Maconha, Cocaína e Crack e uma minoria optou por 
pesquisar sobre os demais psicotrópicos (Tabela 2). 
Tabela 2 
Frequência e porcentagem de drogas estudadas nos artigos 
Descrição N % 
Álcool 20 60,6 
Cocaína 16 48,5 
Maconha 14 42,4 
Cigarro 8 24,2 
Crack 8 24,2 
Heroína 3 9,1 
Anfetaminas 3 9,1 
Ansiolítico 
Inalantes 
3 9,1 
Ópio 2 6,1 
Estab. de humor 2 6,1 
Antidepressivo 2 6,1 
Solventes 2 6,1 
Alucinógeno 1 3 
Anabolizantes 1 3 
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Sedativo 1 3 
Os artigos trazem 18 transtornos mentais que são especificados pela 
OMS(n.d.) e APA(2013). Entretanto, os resultados dos artigos analisados mostram 
que apenas 9 transtornos têm correlação com a dependência química dos 
participantes, e destes a maior ocorrência são os transtornos de Depressão e de 
Personalidade Dissocial. Enquanto que, dos transtornos, os que mais foram 
apontados pelos artigos de que não há relação significativa com a dependência de 
substancia químicas são de Fobia, Pânico, Esquizofrênico e Hiperatividade. O uso da 
maconha, sendo uma das substâncias mais estudadas, pode estar relacionado com a 
depressão, como mostra o estudo de Sanches e Marques (2010). O álcool também é 
comumente associado à depressão, cerca de 23 a 70% dos pacientes dependentes 
de álcool sofrem de transtornos depressivos. (Alves, et al., 2004). Substâncias, como 
o Crack, o tabaco e a cocaína, também podem estar relacionadas com episódios
depressivos. (Andrade & Argimon, 2006; Silva, Kolling, Carvalho, Cunha, & 
Kirstensen, 2009). Como citado na introdução, o estudo de Costa e Valerio (2008) 
verificou uma forte correlação entre transtornos por uso de substâncias e transtorno 
de personalidade anti-social. Os estudos feitos por Hess, et al. (2012) e Scheffer et al. 
(2010) respectivamente, verificaram a frequência de comorbidade psiquiátrica entre a 
síndrome da dependência e o TPAS em grupos de usuários de substâncias como o 
álcool, a maconha, o crack e a cocaína. 
Tabela 3 
Frequência e porcentagem de transtornos mentais específicos que são 
correlacionados ou não com a dependência química 
Descrição Não há correlação Há correlação 
N % N % 
Depressão 1 3 11 33,3 
Personalidade dissocial 4 12,1 
Bipolar 1 3 1 3 
Cleptomania 1 3 
Estresse Pós Traumático 1 3 
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Fobia especifica 4 12,1 
Hiperatividade (TDAH) 2 6,1 
Hipocondria 1 3 
TOC 1 3 
Alimentares (não especificados) 1 3 
Humor 1 3 3 9,1 
Delirante 1 3 
Distímico 1 3 
Esquizofrênico 3 9,1 
Somatização 1 3 
Memoria 3 9,1 
Desesperança 1 3 
Pânico 4 12,1 
7. Considerações Finais
Ao final da análise sobre a produção científica na temática “Transtornos 
Mentais Causados pela Dependência Química”, foi verificado o predomínio de 
trabalhos do tipo pesquisa em relação a trabalhos teóricos. 
Os resultados apontam que, das substâncias estudadas, não houve correlação 
significativa entre sua dependência e os transtornos de Fobia, Pânico, Esquizofrenia 
e Hiperatividade, estando mais fortemente relacionadas aos transtornos depressivos 
e ao transtorno de Personalidade Dissocial. Os resultados indicam que ainda existem 
muitas dúvidas em relação aos impactos físicos e psicológicos que a dependência 
química pode causar, uma vez que muitos dos sintomas apresentados não possuem 
evidências suficientes para sustentar uma afirmação categórica a respeito de sua 
relação com o abuso de drogas. 
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HABILIDADES SOCIAIS, DEPENDÊNCIA QUÍMICA E ABUSO DE 
DROGAS: UMA REVISÃO DAS PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS 
RESUMO 
O presente estudo tem como objetivo uma revisão bibliográfica dos assuntos habilidades
sociais, dependência química e abuso de drogas. Para a realização desta pesquisa foram 
pesquisadas as bases de dados da Biblioteca Virtual de Psicologia - Bvs-Psi, da 
Scientific Electronic Library Online – Scielo e o Portal de periódicos da PUC/RS na 
revista Psico. As expressões buscadas foram “abuso de drogas”, “dependência 
química”, “habilidades sociais e dependência química”. Concluiu-se que a literatura 
revisada apresentou concisas evidências de que indivíduos abusadores e dependentes de 
substâncias psicoativas podem apresentar déficits nas habilidades sociais, independente 
da substância utilizada e do transtorno relacionado - abuso ou dependência química. 
INTRODUÇÃO 
A dependência química é uma mazela que cresce rapidamente e este fenômeno 
pode ser observado analisando os dados dos Levantamentos Domiciliares, onde 
correlacionando as pesquisas de 2001 e 2005, observa-se que no ano de 2001, 19,4% da 
população das 108 cidades com mais de 200 mil habitantes, já fizeram uso na vida de 
drogas ilegais sendo que esta porcentagem corresponde 9.109.000 de brasileiros. No 
ano de 2005, respectivamente, 22,8% e 10.746.991 de pessoas. Desta forma pode-se 
ilustrar a dimensão desta doença e sua rápida progressão (CARLINI et al, 2006). 
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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dependência química 
é atualmente reconhecida como doença; no entanto, a mesma destaca que a dependência 
química deve ser tratada concomitantemente como uma doença médica e como um 
problema social (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2001). 
Dentre as diversas formas de compreensão do abuso e dependência de drogas, 
investigar o papel das habilidades sociais para conhecer os fatores que influenciam esta 
doença é imensamente relevante, visto que as habilidades sociais compreendem o 
estudo das várias classes de comportamentos sociais, e estes comportamentos 
contribuem para a qualidade e a efetividade das interações que o indivíduo estabelece 
com as outras pessoas. Desta forma as habilidades sociais, podem auxiliar o indivíduo a 
apresentar melhores repostas sociais quanto ao enfrentamento de situações de risco, 
auxiliando como fator de proteção ao abuso e dependência de drogas (DEL PRETTE & 
DEL PRETTE, 1999; ZANELATTO, 2013). 
Deste modo, observa-se que este fenômeno está cada vez mais presente nas 
famílias brasileiras, envolvendo novas formas de resolução, entrelaçando as mais 
diversas áreas do conhecimento em seu tratamento. Sendo assim, o objetivo deste artigo 
é a revisão bibliográfica em publicações científicas que abordem os assuntos: 
habilidades sociais, dependência química e abuso de drogas, nas as bases de dados da 
Biblioteca Virtual de Psicologia - Bvs-Psi, da Scientific Electronic Library Online – 
Scielo e o Portal de periódicos da PUC/RS na revista Psico, nos últimos cinco anos 
(2007 -2012). 
REVISÃO DO TEMA 
Dependência Química e Abuso de drogas: diagnóstico e nomenclatura 
A Dependência Química é fenômeno que envolve um conjunto de aspectos 
físicos e mentais, sendo resultado da ingestão do uso contínuo de substâncias 
psicoativas, geralmente caracterizada por reações comportamentais como busca 
incontrolável pela substância utilizada, apesar das conseqüências danosas, buscando ora 
para aliviar o desconforto da sua falta, ora para gerar novamente a sensação de prazer 
obtida em sua primeira experiência com a substância. 
Ainda, Silva (2011) aponta que a dependência procede de uma inter-relação 
complexa

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