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PRINCÍPIO DA INOCÊNCIA E PRISÃO EM 2º INSTÂNCIA

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RESENHA CRÍTICA
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E PRISÃO EM 2º INSTÂNCIA
Maria Rafaela Faria
Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE. Curso de Direito, Presidente Prudente– SP.
Danielle Yurie - Direito Penal
1 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Presunção de inocência e prisão cautelar.
Brasil. Constituição (1998). Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
Brasil. Vade Mecum. 15 ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2018.
JULGAMENTO HISTÓRICO: STF muda jurisprudência e permite prisão a partir da decisão de segunda instância. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI234107,51045-JULGAMENTO+HISTORICO+STF+muda+jurisprudencia+e+permite+prisao+a Acesso em: 12.03.2019
2 CREDENCIAIS DO AUTOR
Antônio Magalhaes Gomes Filho possui graduação (1970), mestrado (1982), doutorado (1989), livre docência (19950 e Titularidade pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi diretor da Faculdade de Direito da USP (2010 à 02/2014). Área de atuação: processo Penal, Juizados Especiais Criminais, Direito Penal e Presunção de Inocência.
3 RESUMO DA OBRA
	O livro é constituído em duas seções, sendo na primeira parte tratado o tema da presunção de inocência, trazendo o assunto em diversos contextos histórico-culturais. A segunda parte é voltada à analise da disciplina da prisão cautelar verificando à luz dos conceitos da teoria geral do processo e dos princípios constitucionais.
	No capitulo inicial o autor expõe as razões da escolha do tema. O texto inicia-se cintando a Constituição Federal de 1988, e o principio da presunção de inocência presente no art. 5.º, LVII, que diz “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória”. o autor escreve que a Lei fundamental e nítida porem não parece estar assegurada diante da realidade social brasileira. Neste capítulo o autor traz a ideia de que qualquer investigação no caso da presunção da inocência que não leve em conta o ambiente político-social em que foi elaborado irá gerar uma falsa impressão de uma garantia absoluta contra o arbítrio na aplicação de sanções punitivas.
	O segundo capítulo trata da origem histórica do princípio. Neste capitulo o autor fala sobre a origem da máxima in dubio pro reo onde ela pode ser vislumbrada desde o direito romano, especialmente por influência do cristianismo. A obra traz também a lógica do ordenamento pré-revolucionário, onde o acusado não é um simples suspeito, mas ele já é alguém considerado culpado pela a opinião pública. O crescente processo de urbanização, resultado da revolução industrial fez com que a reestruturação da justiça criminal se tornasse imperiosa com o objetivo de fazer da punição uma função regular: “não punir menos, mas punir melhor”. Segundo o autor o apelo a presunção da inocência assumia, assim, importante valor emblemático no quadro de uma reforma penal e processual-penal. 
	O terceiro capitulo traz a presunção da inocência no debate das escolas penais. É citado o art. 9.º da Declaração de 1789, que fala sobre a reação contra os abusos da prisão provisória, que levara o legislador a restringi-la através da Lei de 22 de julho de 1794. No século XIX a presunção de inocência passa a constituir um dogma fundamental na elaboração doutrinaria de direito repressivo.
	No quarto capitulo o autor fala sobre o pensamento técnico-jurídico e a ideologia fascista. É tratado o Código de Processo Penal italiano onde as colocações técnico jurídicas tiveram uma importância fundamental na sua elaboração em 1931. Que por sua vez serviu de modelo para o nosso estatuto de 1941, que estava vigente durante o Estado Novo onde tinha como objetivo oferecer “maior eficiência e energia da ação repressiva do Estado contra os que delinquem”.
	Em seu quinto capitulo a obra trata sobre a desastrosa experiencia da Segunda Guerra Mundial que impôs a consciência universal que era preciso afirmar-se, em um documento supranacional, que traria os valores fundamentais de respeito a pessoa humana. Dentre estes direitos incluem-se diversas disposições relativas as garantias do “justo processo”, entre eles está presente o princípio da presunção de inocência.
	Já no sexto capítulo o autor traz a presunção de inocência nos textos constitucionais modernos. Utilizando-se de subtítulos o capítulo trata das constituições francesas, italiana, portuguesa, espanhola e a brasileira, retratando como se dá a presunção de inocência em cada uma delas.
	O sétimo capítulo fala sobre os significados da presunção de inocência. Nesse texto o autor expõe sua opinião de uma maneira objetiva:
“Em primeiro lugar, a afirmação ‘tout homme étant présumé innocent’, constante do texto da Declaração de 1789, não pode ser pensada a partir de um sentido puramente técnico de prova indireta; o apelo à ‘presunção’, no caso, pouco tinha que ver com ideia de consequência que a lei extrai de um fato conhecido para um fato desconhecido”.
	É explicito também neste capítulo que o autor está convicto de que a expressão “presunção de inocência” deve ser entendida prioritariamente a partir de seu valor ideológico.
	O oitavo capítulo esta inserido na segunda seção do livro que trata sobre a prisão cautelar. Esta parte inicia-se abordando o tema das medidas cautelares e a técnica do processo. E dito neste texto que para que a prisão cautelar seja valida ela deve apresentar-se com probabilidades razoáveis (fumus boni iuris). O capítulo se encerra com a conclusão de que a prisão cautelar constitui uma técnica processual destinada a superar riscos inerentes à própria estrutura do processo.
	Em seu nono capítulo a obra traz o tema da cautelaridade no processo penal, observa-se que neste capítulo o autor afirma que as medidas cautelares no processo penal atingem o réu, afetando-lhe a liberdade e a dignidade. É ressaltando que é importante evitar a utilização das medidas de natureza cautelar, que acabam por subverter os princípios fundamentais do Estado de Direito.
	O décimo capítulo introduz a prisão cautelar. Nesta seção o autor discorre ainda mais claro sobre a sua posição em relação à prisão cautelar. Em suas palavras:
“Diversa da prisão penal propriamente dita, a prisão cautelar, que alguns também denominam ‘prisão processual’, não deve objetivar a punição, constituindo apenas instrumento para a realização do processo ou para a garantia de seus resultados.”
	No décimo primeiro capítulo trata a prisão cautelar e presunção de inocência, nessa parte o autor afirma que as prisões que foram decretadas anteriormente à condenação, que numa visão mais radical do princípio nem sequer poderiam ser admitidas, segundo ele essas prisões encontram justificação apenas na excepcionalidade de situações em que a liberdade do acusado possa comprometer o regular desenvolvimento e a eficácia da atividade processual.
“À luz da presunção de inocência, não se concebem quaisquer formas de encarceramento ordenadas como antecipação da punição, ou que constituam corolário automático da imputação, como sucede nas hipóteses de prisão obrigatória, em que a imposição da medida independe da verificação concreta do periculum libertatis.”
O texto também apresenta o tema da reparação da prisão cautelar injusta, que seria uma tentativa do Estado de indenizar o réu devido à condenação equivocada. O autor faz uso da frase de Mario Chiavario, que diz:
“Nenhuma soma de dinheiro poderá verdadeiramente curar a ferida provocada pelo tempo transcorrido em detenção.”
	O autor expõe que não parece satisfatório o tratamento que é dado à questão pelos textos internacionais de direitos humanos que preveem o direito a reparação somente nos casos de detenção “ilegal”. Segundo o autor mesmo as prisões provisórias determinadas em conformidade com normas legais podem ser injustas e, consequentemente, ensejar a reparação.
	O decimo segundo capítulo traz um texto sobre a prisão cautelar e “devido processo legal”. Este capítulo cita o artigo 5.º, LXI da Constituição Federal que diz “ninguémserá preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciaria competente.”. São citados também os artigos 5.º, LXV e art. 5.º, LXVI da Constituição Federal. Ao citar esses artigos o autor busca mostrar que, todavia, mais do que atribuir com exclusividade aos órgãos jurisdicionais o exame das condições para qualquer prisão, o texto constitucional fixou balizas para o exercício da atividade correspondente, ao garantir: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” artigo 5.º, LIV da Constituição Federal.
	 O décimo terceiro capítulo é o ultimo desta obra, ele traz as conclusões do autor. Segundo Antônio Magalhães Gomes Filho, seu trabalho não constituiu o objetivo da formulação de conclusões definitivas sobre as consequências da referencia expressa ao princípio da presunção de inocência pelo novo texto constitucional. O autor diz ainda que:
“A aceitação da presunção de inocência como pressuposto indispensável da persecução penal no moderno Estado de Direito deve objetivar fundamentalmente, a superação das desigualdades sociais que são naturalmente traídas para o âmbito do processo, assegurando-se uma efetiva ‘paridade de armas’, sem a qual a dignidade da pessoa humana não estaria preservada.”
Então o autor conclui que: 
“Essencialmente, em face dessas garantias, não e legitima a prisão anterior a condenação transitada em julgado, senão por exigências cautelares indeclináveis de natureza instrumental ou final, e depois de efetiva apreciação judicial, que deve vir expressa através de decisão motivada.” 
4 APRECIAÇÃO CRÍTICA
	Dado o exposto entendemos que o autor baseia seus argumentos no artigo 5.º, LVII da Constituição Federal. O escritor entendeu que a prisão anterior à condenação transitada e julgada não é legitima. Observa-se que sua obra foi escrita no ano de 1991, pensando no cenário politico atual devemos analisar com cautela as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal de Justiça a partir da publicação da obra.
Até o ano de 2009 a jurisprudência do STF permitia a execução provisória da pena depois do segundo grau. De 2009 à 2016 preponderou-se a 3ª posição, ou seja, prisão só após o trânsito em julgado final (STF HC 84.078/2010).
Vale ressaltar que a segunda instância não visa mais reavaliar as provas e nem buscar absolvição, logo não há que se falar em inocência. O recurso não tem efeito suspensivo. Segundo as súmulas 716 e 717 do STF é permitido o início da execução da pena antes do trânsito em julgado e progressão de regime.
No ano de 2016 o STF julgou o Habeas Corpus de numero 126.292, a partir dai mudou-se então o entendimento, por maioria, 7 votos a 4, o plenário mudou a jurisprudência da Corte, afirmando que é, sim, possível a execução da pena depois de decisão condenatória confirmada em segunda instância.
A partir desta decisão passou-se a interpretar que a execução da pena a partir da condenação em segundo grau não afronta o principio da inocência.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Barroso fala sobre a mutação constitucional, onde as modificações da realidade social trazem novas interpretações dos textos constitucionais. Segundo o ministro, a excessiva demora da execução de pena trouxe como consequência o alargamento abusivo dos recursos protelatórios. Ou seja, no momento em que aquele individuo que tem melhores condições ele pode protelar ao máximo gerando assim um desequilíbrio social.
Levando em consideração estes aspectos, entendemos que não se pode tirar do judiciário a liberdade de análise do caso concreto. O fato é que a execução da pena em segunda instância é razoável, porém devendo-se analisar cada caso individualmente.
O artigo 5.º, LVII da Constituição Federal diz: “Ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória.” O sentido da palavra “culpado” se refere às provas e princípios, não se refere a quem sofreu um julgamento em primeiro e segundo grau, portanto a palavra “culpado” não tem a faculdade de dizer que é impossível a execução provisória segundo o STF.
A partir dos fatos mencionados, entende-se que foi feito uma interpretação onde se adaptou o sentido da regra, as mudanças das perspectivas sociais quanto à efetividade do processo e o fim da impunidade a partir de uma transformação social sentida pelo judiciário.

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