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A etnobotânica e o conhecimento popular

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1 
A etnobotânica e o conhecimento popular: estudos de caso na cidade de 
Sorocaba, SP, Brasil. 
Bruno Henrique Justo a*, Débora dos Santos Mota a, Samuel Coelho a 
a Universidade Federal de São Carlos - Campus Sorocaba, Rodovia João Leme 
dos Santos, Km 110 - SP-264, Bairro do Itinga, Sorocaba - São Paulo – Brasil 
* + 55 17 9167-2301 brunohjusto@hotmail.com 
 
Palavras-chave: conhecimento etnobotânico, biodiversidade, plantas medicinais. 
 
A etnobotânica e o conhecimento popular. 
 
ABSTRACT 
Brazil is a country that presents a great biodiversity of flora and fauna. This wide 
variety of plants, animals and ecosystems, among other things, is because of the vast 
territorial extension and the diversity of climates in the country. In studies of the plants, 
the ethnobotany enters as a tool that understanding the relationship between plants and 
humans societies, contributing in the achievements of scientific knowledge. The 
objective of this work was to raise the knowledge that common people have about 
plants, their medicinal utilities and so on. Two studies of case were done with people 
residents in Sorocaba, São Paulo. The manner proposed to obtain the data was the 
qualitative boarding, with semi-structured interviews derived from themes generators, 
always with the concern of design for the purposes of work. It was raised a total of 47 
species, distributed in 44 genres and 27 families, and the vast majority of species is 
referred as herbaceous and are very common to urbanized environment, which confirms 
the idea that the convenience of cultivation of these plants contributes in its greatest use, 
 2 
and that knowledge about cosmopolitan species may be related to the replacement of so-
called popular values for an industrial culture. The aim of this paper is show the 
relevance on the study of ethnobotany, because it is noticed that understanding the 
interrelations between human and botany serves as a means of awareness to 
environmental preservation. 
 
RESUMO 
O Brasil é um país que apresenta uma grande biodiversidade de flora e fauna. 
Essa enorme variedade de plantas, animais e ecossistemas, sendo alguns de caráter 
ímpar, se devem à grande extensão territorial e à diversidade de climas no país. No 
estudo da flora, a etnobotânica entra como uma ferramenta que busca a compreensão 
sobre a relação existente entre os vegetais e as sociedades humanas, contribuindo no 
acervo do conhecimento científico. O objetivo deste trabalho foi levantar o 
conhecimento adquirido e acumulado que pessoas comuns possuem sobre as espécies 
vegetais, suas utilidades medicinais e outras. Para tanto, foram realizados dois estudos 
de caso com pessoas residentes no município de Sorocaba, São Paulo. Utilizou-se da 
abordagem qualitativa, por meio de entrevistas semi-estruturadas derivadas de temas 
geradores, sempre com a preocupação do delineamento para os objetivos do trabalho. 
Foram levantadas um total de 47 espécies distribuídas em 44 gêneros e 27 famílias, 
sendo a grande maioria das espécies denominadas herbáceas e comuns ao ambiente 
urbanizado. Tal fato confirma a idéia de que a praticidade do cultivo destes vegetais 
contribui no seu maior uso, além de que o conhecimento sobre espécies cosmopolitas 
pode estar relacionado com a substituição dos valores ditos “populares” para uma 
cultura industrializada. O presente trabalho mostra a relevância sobre o estudo de 
etnobotânica, pois é percebido que a compreensão sobre as relações existentes entre 
 3 
botânica e o homem servem como forma de conscientização para a preservação 
ambiental. 
 
INTRODUÇÃO 
A Etnobotânica é a ciência que estuda as interações dinâmicas entre as plantas e 
o homem; consistindo também na compreensão dos usos e aplicações tradicionais dos 
vegetais pelas pessoas. Ligada à botânica e à antropologia, é uma ciência 
interdisciplinar que também engloba conhecimentos farmacológicos, médicos, 
tecnológicos, ecológicos e lingüísticos (Amorozo, 1996). 
No seu início, a Etnobotânica tinha um caráter mais restrito, estudando as inter-
relações entre os vegetais com as sociedades ditas “primitivas”. Com o passar do tempo 
esta limitação foi sendo superada e sua investigação expandiu-se, fazendo parte agora 
do seu campo de estudo, não somente as sociedades indígenas, mas também as 
sociedades industriais e suas relações estabelecidas com a flora (Albuquerque, 2005). 
Além de o conhecimento etnobotânico contribuir para o conhecimento científico 
das espécies vegetais, seu estudo deve ter como foco, também, na reversão do 
conhecimento fornecido pelos informantes para sua própria comunidade. Desta forma, a 
etnobotânica não serve apenas como ferramenta para resgatar o conhecimento 
tradicional, mas também é importante no resgate dos próprios valores das culturas que 
entra em contato (Prance, 1987; Delwing et al, 2007). 
O Brasil, por possuir a maior biodiversidade vegetal do planeta, utiliza a 
etnobotânica como ferramenta importante na compreensão de vários fatores referentes 
ao desenvolvimento e conservação de espécies utilizadas por populações que habitaram 
ou habitam diferentes biomas brasileiros. Na história do Brasil, o primeiro registro 
etnográfico referente a plantas brasileiras foi realizado por Caminha, no ano de 1500 
 4 
(Ming, 2009). Espécies como o urucum (Bixa orellana L.) e o inhame (Manihot spp) 
foram citadas, aclarando que a primeira era utilizada pelos indígenas na pintura do 
corpo para rituais e proteção e, a segunda espécie, utilizada na alimentação (Ming, 
2009). 
Fortemente ligada à etnofarmacologia, o conhecimento etnobotânico do Brasil 
favorece a área de produtos naturais, notadamente oriundos das plantas superiores, das 
toxinas animais e dos microorganismos. Estes são usados como matéria-prima na 
síntese de moléculas complexas de interesse farmacológico, utilizando substâncias 
ativas presentes na planta como um todo, ou em parte dela, na forma de extrato total ou 
processado (Calixto, 2003). 
 O conhecimento tradicional, neste âmbito, constitui um recurso importante na 
elaboração de drogas terapêuticas, sendo que muitos antibióticos, tranqüilizantes, 
sedativos, anestésicos, analgésicos e laxantes são oriundos desta fonte Gallote & 
Ribeiro, (2005). Contudo, como já explicitado, a etnobotânica não se refere apenas ao 
estudo de plantas medicinais, mas abrange também o uso de espécies vegetais para 
diversos outros fins (Prance, 1987). 
O objetivo geral deste trabalho foi realizar um levantamento do conhecimento 
popular que pessoas comuns possuem sobre a etnobotânica, enfocando no uso de 
espécies medicinais. No entanto, durante as entrevistas, levantou-se também espécies 
úteis para outros fins, como alimentação, artesanato, fibras, religião, utensílios e outros. 
 
METODOLOGIA 
A abordagem utilizada neste presente estudo foi qualitativa, caracterizado assim 
devido os dados terem sido obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas, ou seja, 
dados descritivos oriundos de relatos do público alvo. A fundamentação na abordagem 
 5 
deste trabalho, com a metodologia qualitativa, abrange uma construção socioafetiva do 
conhecimento, uma vez que tal conhecimento faz parte integrante da história e da 
realidade dos sujeitos (Gomes, 1999). Pelo motivo de ter sido um estudo detalhado de 
um contexto específico e bem delimitado, foi qualificado como um estudo de caso. 
Para elaboração do questionário foi levada em consideração as advertências 
feitas por Darrell A. Posey (1987) no capítulo de seu livro intitulado Etnobiologia: 
Teoria e Prática, com algumas adaptações por se tratar de uma sociedade industrial e/ou 
urbana, no qual o autor diz que as perguntasdevem ser as mais abertas possíveis para 
que não haja o risco de restringir as respostas dadas pelos entrevistados. Assim, as 
entrevistas foram pautadas em temas geradores e, conforme o andamento, essas eram 
conduzidas aos objetivos estabelecidos por este trabalho. 
Segundo Posey (1987), entre outros (Albuquerque, 2005; Prance 1987) para uma 
pesquisa de qualidade em etnobotânica, além de informações referentes aos usos de 
plantas é importante o registro de como são feitos esses usos e quais as partes dos 
vegetais utilizados. 
Para esta pesquisa foram realizados 2 (dois) estudos de caso, feitos com pessoas 
de ambos os sexos, residentes no município de Sorocaba no estado de São Paulo. Um 
entrevistado possui ensino superior completo e, a outra, ensino básico incompleto. A 
escolha dos entrevistados deu-se com base no conhecimento com relação ao uso de 
plantas medicinais e, por pessoas que pelo motivo de terem um jardim contendo uma 
grande variedade de plantas, nos chamou a atenção para questioná-las se naquele jardim 
havia alguma planta que não era meramente ornamental. O conhecimento que ambas as 
pessoas possuem sobre as plantas foi adquirido durante a vida, principalmente com 
parentes e amigos. 
 6 
A confirmação da grafia dos nomes científicos e sinonímia botânica foi obtida 
através da consulta ao índice de espécies do Missouri Botanical Garden's VAST 
(VAScular Trópicos – W3TRÓPICOS), Nomenclatural Database and Associated 
Authority Files (conforme referência). 
 A discussão fundamentou-se principalmente acerca de espécies indicadas para 
usos medicinais, onde buscou-se bibliografia para verificar se já havia estudos com tais 
plantas que comprovassem seus princípios de “cura”. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
A área estudada, embora esteja em constante crescimento, é considerada uma 
cidade de interior e, por este motivo, ainda é possível encontrar modos de pensar 
tradicionais que abrange várias áreas do conhecimento, inclusive no que diz respeito à 
saúde. Desta forma, embora haja centros médicos, é muito comum o uso de plantas com 
finalidades terapêuticas. Além do uso medicinal, nos dados coletados, pudemos 
observar o emprego de plantas em outras situações. 
Na prática, havia sim muitas espécies presentes nos jardins dos entrevistados; no 
entanto, a maioria das plantas não era cultivada para fins medicinais. Um dos 
entrevistados aclarou que, quando necessário, compra as plantas para seu uso e nos 
indicou onde consegui-las, no Mercado Municipal de Sorocaba. 
Listou-se um total de 47 espécies, distribuídas em 44 gêneros e 27 famílias 
(Tabela 1). A grande variedade de gêneros levantados demonstrou que o uso das plantas 
é bem abrangente e que o uso de diversas plantas para um mesmo fim não está 
relacionado com a proximidade taxonômica das espécies. 
A grande maioria das espécies citadas são herbáceas. Sendo assim, normalmente 
são plantas rasteiras que não tem preferência de habitat, ou seja, são fáceis de encontrar 
 7 
mesmo em calçadas (Ex: Poejo, Beldroega), podendo esse fator ser um dos que 
influência o uso popular destas ervas e o plantio em seus quintais. As outras, de porte 
arbustivo ou mesmo arbóreo, tem menor freqüência nos relatos, o que corrobora com a 
idéia de que a facilidade em encontrar estas plantas implica num maior uso. 
 
Tabela 1. Espécies vegetais citadas pelos entrevistados. 
Família Nome Científico Nome Popular 
Amaranthaceae Amaranthus viridis L. Caruru-de-porco 
Apiaceae Coriandrum sativum L. Coentro 
Apiaceae Pimpinella spp Erva-doce 
Araceae Dieffenbachia picta Schott Comigo-ninguém-pode 
Asteraceae Baccharis trimera (Less.) DC. Carqueja 
Asteraceae Egletes viscosa (L.) Less. Marcela 
Asteraceae Lactuca sativa L. Alface 
Asteraceae Sonchus oleraceus L. Serralha 
Brassicaceae Brassica oleracea L. Couve 
Cannaceae Canna indica L. Cana-da-Índia 
Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L. Erva-de-Santa-Maria 
Cucurbitaceae Cucurbita spp Cambuquira 
Euphorbiaceae Ricinus communis L. Mamona 
Fabaceae Glycine max (L.) Merr. Soja 
Fabaceae Hymenaea courbaril L. Jatobá 
Fabaceae Stryphnodendron obovatum Benth. Barbatimão 
Lamiaceae Mentha pulegium L. Poejo 
Lamiaceae Mentha viridis (L.) L. Hortelã 
Lamiaceae Ocimum basilicum L. Alfavaca 
Lamiaceae Origanum majorana L. Manjerona 
Lamiaceae Rosmarinus officinalis L. Alecrim 
Lauraceae Laurus nobilisL. Louro 
Lauraceae Persea americana Mill. Abacate 
Liliaceae Allium cepa L. Cebola 
Liliaceae Allium fistulosum L. Cebolinha 
Liliaceae Allium sativum L. Alho 
Liliaceae Aloe succotrina Lam. Babosa 
Liliaceae Sansevieria trifasciata Prain Espada-de-São-Jorge 
Linaceae Linum usitatissimum L. Linhaça 
Monimiaceae Peumus boldus Molina Boldo-do-Chile 
Moraceae Morus nigra L. Amora 
Myrtaceae Eucalyptus spp Eucalipto 
Phytolaccaceae Petiveria tetrandra B.A. Gomes Guiné 
Plantaginaceae Plantago spp L. Tanchagem 
Poaceae Andropogon schoenanthus L. Erva-cidreira ou capim-limão 
Poaceae Bambusa spp Bambu 
 8 
Poaceae Phalaris canariensis L. Alpiste 
Potulacaceae Portulaca halimoides L. Beldroega 
Punicaceae Punica granatum L. Romã 
Rosaceae Fragaria vesca L. Morango 
Rosaceae Malus communis Poir. Maça 
Rutaceae Ruta graveolens L. Arruda 
Sapindaceae Paullinia cupana Kunth Guaraná 
Solanaceae Capsicum frutescens L. Pimenteira 
Urticaceae Parietaria officinalis L. Parietária 
Zingiberaceae Renealmia exaltata L. f. Pacova 
Zingiberaceae Zingiber officinale Roscoe Gengibre 
 
No entanto, o conhecimento de apenas espécies cosmopolitas, ressalta Amorozo 
(2002), pode ser devido à substituição dos valores, o que significa que a cultura 
industrial, na qual os remédios já estão prontos e é só comprar, diminui a procura ou 
deixa cair no esquecimento espécies de plantas que curariam aqueles males, não sendo 
mais necessário procurar um vegetal de tão difícil acesso. 
Para cada espécie os entrevistados indicaram um ou mais usos (Tabela 2). As 
partes mais usadas são as folhas para os preparos medicamentosos, e seu uso geralmente 
se dá por meio de chá, provavelmente devido à facilidade de se extrair suas 
propriedades por meio do cozimento. 
Algumas espécies apresentam em suas folhas os chamados taninos, que estão 
presentes nestas para inibição da predação por insetos, fungos e bactérias e são 
formados por polifenóis, que tem importância medicinal por serem capazes de precipitar 
as proteínas superficiais das células (Pansera, 2003). Assim, é possível que o motivo 
pelo qual, em muitos casos, sejam utilizadas as folhas em infusões é devido à suposição 
de que o sucesso ocorrido em uma determinada planta possa ser expandido à outra. 
As doenças que foram indicadas são consideradas de fácil tratamento, segundo a 
classificação da Organização Mundial da Saúde (2009), como gripe, dor de garganta, 
dor de estômago. Porém, ao contrário do que se alega no trabalho de Silva-Almeida & 
Amorozo (1998), um dos entrevistados utiliza somente as plantas para doenças 
 9 
consideradas mais sérias como inflamação urinária e colesterol alto, com a justificativa 
de não querer ficar “refém” de remédios. 
Como pode ser visto na Tabela 2, não há indicação de quantas vezes ao dia, por 
exemplo, deve-se fazer o uso dos medicamentos naturais. Como também foi dito no 
trabalho de Silva-Almeida & Amorozo (1998), uma das explicações de não haver 
dosagem é a crença em que “se bem não faz, mal é que não vai fazer” (fala de um dos 
entrevistados). No entanto, como alerta neste mesmo trabalho, há plantas que são 
tóxicas, como é o caso da “comigo-ninguém-pode” (Dieffenbachia picta Schott). O uso 
indiscriminado desta planta, segundo Carneiro et al (1985), pode desencadear crises 
alérgicas por conter cristais de oxalato de cálcio, que causama lise da membrana 
celular. 
A romã (Punica granatum L.) também é outra planta tóxica e pode ser fatal 
dependendo da quantidade ingerida; sua toxidade é devido à presença de alcalóides, 
provocando náuseas e vômitos (Plantas e Ervas Medicinais, 2009). Ainda assim, seu uso 
foi confirmado, servindo dentre outros fins também para dores de garganta (Biazzi, 
2002); e uso como cicatrizante (informação não encontrada na literatura para 
confirmação de seu uso para este fim). No entanto, talvez essa fama tenha sido cunhada 
devido a ser um bom anti-séptico, limpando a ferida e conseqüentemente ocasionando 
uma boa cicatrização. 
Embora não tenha sido encontrada nenhuma confirmação medicinal a respeito 
de algumas plantas para os fins dados, como a cebola (Allium cepa L.) que aliviaria a 
dor de cabeça, outras citadas foram comprovadas cientificamente seus benefícios à 
saúde (Plantas e Ervas medicinais, 2009). Algumas, como a alface, que tem como 
constituintes químicos vitaminas A e C, cálcio, fósforo e ferro, possui ações como 
 10 
antiácida e diurética e corrobora com o citado pelo entrevistado, possuindo ação 
sonífera (Biazzi, 2002). 
Há outras como o poejo que suas propriedades indicam uma finalidade diferente 
do citado. Sendo boa como digestivo, expectorante e antiespasmódico, também pode ser 
utilizado como combate a vermes, mas nada dito sobre o ranger de dentes (bruxismo) 
(Plantas e Ervas medicinais, 2009). Outros usos, como confecção de sabão (sementes de 
mamona), repelente (fumaça de eucalipto), espantar mau-olhado (do folclore), dentre 
outros, são usos que não necessitam de confirmação literária, servindo apenas para 
demonstrar a variedade de utilidades/relações que se pode ter/estabelecer com uma 
determinada planta, levando as pessoas que as utilizam a preservá-las, como anuncia 
Posey (1987). 
 
Tabela 2. Os usos indicados para as espécies citadas, as partes utilizadas e seu modo de 
preparo. 
Nome Popular Parte usada Modo de preparo Posologia Usos populares 
Abacate 
Polpa da 
fruta 
Com leite de soja, 
ou com açúcar Via oral 
Diminuir o colesterolB; 
lavagem do cabeloA 
Alecrim1 Folhas 
Infusão; plantar 
num vaso; 
Via oral, 
banho e 
vapor 
CalmanteB; proteção 
espiritual e defumar a 
casaA 
Alface2 Folhas Infusão Via oral Para dormirB 
Alfavaca ou 
Manjericão1 Folhas 
Infusão; secagem 
das folhas; natural 
Banho, e 
via oral 
Proteção espiritual e como 
temperoA 
Alho 
Bulbos 
(dentes) Curtido em óleo 
Aplicação 
no local Dor de ouvidoA 
Alpiste Sementes Infusão Via oral Baixar a pressãoB 
 
 
Amora Galho 
Cortar um galho 
de 1 metro em 
forma de Y. 
Equilibrar 
na altura 
da 
cintura. 
Achar água no 
subterrâneo 
 
Arruda1 Folhas 
Infusão; plantar 
num vaso; secagem 
das folhas; 
Banho, 
vapor e via 
oral 
Espantar mau olhado, 
banho espiritual, defumar a 
casa (proteção)A 
Babosa Folhas Extração do sumo 
Aplicação 
no local Lavar o cabeloA 
 
Bambu Caule Deixar secar ao sol 
Artesanatos diversos, 
lanças e vara de pescarA 
 11 
 
Barbatimão 
Casca do 
tronco Infusão 
Banho de 
assento 
 
O banho na vagina 
enrijece a musculatura e 
é cicatrizanteA 
Beldroega Folhas Ao natural Via oral 
Alimentação e elimina as 
“vermes” do intestinoA 
Boldo-do-Chile Folhas Infusão Via oral Para má digestãoA 
Cambuquira Brotos Cozimento Via oral Alimentação (sopa)A 
Cana-da-Índia Caule Infusão Via oral Inflamação na bexigaB 
 
Carqueja Folhas 
Infusão e curtido no 
álcool Via oral 
Emagrecimento, má 
digestão e confecção de 
pingaA 
Caruru-de-
porco Folhas Ao natural Via oral Alimentação na saladaA 
 
Cebola Bulbo 
Ao natural (fatiado 
em rodelas) 
Aplicação 
na testa Dor de cabeçaA 
Cebolinha Folhas Ao natural Via oral AlimentaçãoA 
Coentro Folhas Ao natural Via oral AlimentaçãoA 
 
Comigo-
ninguém-pode1 Folhas 
Infusão; plantar; 
secagem das 
folhas; 
Banho e 
vapor 
Espantar mau olhado, 
protecão espiritual, 
defumar a casaA 
Couve 
Caules e 
folhas 
Batido no 
liquidificador Via oral Azia, gastrite e mal-estarB 
Erva-cidreira Folhas Infusão Via oral CalmanteA 
Erva-de-Santa-
Maria Folhas Infusão Via oral 
Regulação da 
menstruaçãoA 
Erva-doce Folhas Infusão Via oral Gripe e resfriadoB 
 
Espada-de-São-
Jorge1 Folhas 
Infusão; plantar 
num vaso; secagem 
das folhas; 
Banho e 
vapor 
Espantar mau olhado, 
banho espiritual, defumar a 
casa (proteção)A 
 
Eucalipto 
Tronco e 
folhas 
Infusão e ao 
natural 
Inalar e 
vapor 
Dificuldade em respirar, 
aroma para saunas, 
lenha e repelenteA 
Gengibre 
 
Bulbo 
Curtido em álcool e 
desnaturado 
 
Via oral 
Bebida de festa junina e 
irritação da gargantaA 
Guaraná Fruto Infusão Via oral 
Emagrecer e diminuição 
do colesterolB 
 
Guiné1 Folhas 
infusão; plantar num 
vaso; secagem das 
folhas; 
Banho e 
vapor 
Espantar mau olhado, 
banho espiritual, defumar a 
casa (proteção)A 
 
Hortelã Folhas Infusão Via oral 
Calmante e para matar 
vermesA; relaxamento e 
ajuda na respiraçãoB 
Jatobá Sementes Ao natural Via oral AlimentaçãoA 
 
Linhaça Sementes 
Curtir para fazer 
óleo; triturar Via oral 
Baixa o peso e fortalece 
o corpoB 
Louro Folhas Secagem das folhas Via oral Alimentação (tempero)B 
 
Maça2 Fruto Infusão Via oral 
Emagrecimento e 
diminuição do colesterol 
 
Mamona 
Tronco, 
folhas e 
sementes 
Ao natural, 
secagem das folhas Via oral 
Confecção de cachimbos, 
folhas como fumo e 
confecção de sabãoA 
Manjerona Folhas Ao natural Via oral Alimentação (tempero)A 
 12 
 
Marcela Flores Secagem das flores Inalar 
Confecção de travesseiros, 
aroma calmante e melhora 
a respiraçãoA 
Morango Fruto Ao natural Via oral Controle de ácido úricoB 
 
Pacová Sementes Infusão do triturado Via oral 
Eliminação de vermes e 
diminuição do bruxismoB 
Parietária Folhas Infusão Via oral Inflamação urináriaB 
Pimenteira1 
 
Folhas 
Infusão; plantar 
num vaso; secagem 
das folhas 
 
Banho e 
vapor 
Espantar mau olhado, 
banho espiritual, defumar a 
casa (proteção)A 
 
Poejo Folhas 
Infusão do 
triturado Via oral 
Eliminação de vermes e 
diminuição do bruxismoB 
Romã Casca e fruto 
Infusão, curtido no 
guaraná 
Via oral e 
aplicação 
local 
Dor de garganta, diarréia e 
cicatrizanteB 
 
Serralha Folhas Ao natural Via oral 
Alimentação e elimina as 
vermes do intestinoA 
Soja Sementes Leite Via oral Azia, gastrite e mal-estarB 
Tanchagem Folhas Infusão Via oral 
Antibiótico e inflamação 
na gargantaB 
Nota1: Chamados sete ervas, apenas juntas elas são eficazes para os usos indicados. 
Nota2: Para eficácia do uso é preciso que estas plantas estejam em conjunto. 
NotaA: Estudo de caso realizado com um homem que viveu muitos anos em sítio. 
NotaB: Estudo de caso realizado com uma mulher possuidora de um jardim. 
 
CONCLUSÃO 
Ao realizar essa pesquisa constatou-se a importância de se haver estudos em 
etnobotânica, primeiro pela necessidade de resgatar um conhecimento popular que está 
desaparecendo conforme a sociedade se torna mais urbanizada. Segundo, como foi 
comprovado com o presente trabalho, muitas indicações feitas pelos entrevistados têm 
fundamentos farmacológicos reais, mostrando a relevância de se estudar as espécies 
citadas. Por fim, como resgata Posey (1987), as relações estabelecidas entre botânica e 
homem são importantes para preservação ambiental; assim, caso se perca estes 
conhecimentos populares, também será perdido uma parcela importante que preserva e 
mantêm em seus quintais as espécies vegetais. 
 
 13 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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Pp.47-68. In: L.C. Di Stasi (org.). Plantas medicinais: arte e ciência - Um guia de 
estudo interdisciplinar. São Paulo, Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996. 
 
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Leverger, MT, Brasil. Acta botanica brasilica. 16(2): 189-203, 2002. 
 
Biazzi, E. O maravilhoso poder das plantas. Casa publicadora brasileira. 2ª Ed. 2002. 
 
Calixto, J. B. Biodiversidade como fonte de medicamentos. Ciência e Cultura., São 
Paulo, v. 55, n. 3, Sept. 2003 . Disponível em: 
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252003000300022&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 08/08/2009. 
 
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etnobotânica como ferramenta da validação do conhecimento tradicional: 
manutenção e resgate dos recursos genéticos. Resumos do II Congresso 
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AGRADECIMENTOS 
 Somos profundamente gratos às pessoas entrevistadas, pela acolhida, pela 
colaboração irrestrita e pela amizade ao nos receber. Aos amigos e companheiros de 
pesquisa pelo amor incondicional; e à docente Célia Regina Tomiko Futemma pela 
ajuda e guia na realização deste trabalho.

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