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Indaial – 2022 Fitoterapia Prof. Fellippe Ramos Wolff 1a Edição Farmacognosia e Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 Elaboração: Prof. Fellippe Ramos Wolff Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI W855f Wolff, Fellippe Ramos Farmacognosia e fitoterapia. / Fellippe Ramos Wolff – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 257 p.; il. ISBN 978-85-515-0536-6 ISBN Digital 978-85-515-0537-3 1. Farmacognosia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 615 Caro acadêmico, seja bem-vindo a mais uma disciplina do curso de Farmácia: a Farmacognosia e Fitoterapia. A Farmacognosia é o ramo mais antigo das ciências farmacêuticas, pois, nela, estudamos a aplicação simultânea de várias disciplinas científicas, com o objetivo de conhecer fármacos naturais sob todos os aspectos. É considerada uma ciência multidisciplinar, que contempla o estudo das propriedades físicas, químicas, bioquímicas e biológicas dos fármacos sintéticos ou de origem natural, bem como busca por novos fármacos a partir de fontes naturais. Devido a seu aspecto interdisciplinar, fazendo interface com botânica, etnobotânica, antropologia médica, microbiologia, fitoquímica, fitoterapia, farmacologia, farmácia clínica, agronomia, entre outros, a Farmacognosia é uma área extremamente importante para o profissional farmacêutico. Na Unidade 1, veremos uma introdução ao estudo da Farmacognosia e de sua importância na biodiversidade e no uso de plantas tradicionais, assim como temas como segurança e toxicidade, legislação em vigor, identificação de componentes anatômicos e espécies vegetais, e desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos. Na Unidade 2, estudaremos os métodos de cultivo, obtenção e preparação da droga vegetal, como realizar a extração de substâncias químicas produzidas pelas plantas e quais são os tipos de compostos fitoquímicos derivados de seu metabolismo primário e secundário, e sua importância clínica. Para finalizar, a Unidade 3 abordará as ferramentas da qualidade na produção de fitomedicamentos, a ação farmacológica e terapêutica de produtos derivados de organismos vegetais, e a prática clínica da fitoterapia e da aromaterapia. Esperamos que as informações apresentadas sejam de grande valia na prática da profissão e que permitam atuar em qualquer espaço que contemple os assuntos abordados nesta disciplina de forma segura, ética, responsável e competente. Bons estudos e sucesso! Prof. Fellippe Ramos Wolff APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. 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Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS E CONCEITOS DE PRODUTOS NATURAIS .................................. 1 TÓPICO 1 - INTRODUÇÃO À FARMACOGNOSIA ....................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ...............................................................................................3 3 BIODIVERSIDADE E ECOSSISTEMAS BRASILEIROS ........................................................5 3.1 BIODIVERSIDADE BRASILEIRA .......................................................................................................... 6 3.2 BIOMAS ...................................................................................................................................................8 4 PRODUTOS NATURAIS COMO MATÉRIAS-PRIMAS ...................................................... 20 4.1 CORANTES E TINTURAS ...................................................................................................................20 4.2 ALGAS MARINHAS .............................................................................................................................22 4.3 USO TRADICIONAL DE PRODUTOS VEGETAIS ...........................................................................23 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 25 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 26 TÓPICO 2 - ETNOFARMACOLOGIA ..................................................................................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29 2 O USO TRADICIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS .......................................................... 29 3 INTERAÇÕES ENTRE PLANTAS MEDICINAIS, ALIMENTOS E MEDICAMENTOS ...........37 3.1 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ...................................................................................................383.1.1 Interações farmacocinéticas ..................................................................................................38 3.1.2 Interações farmacodinâmicas................................................................................................39 3.1.3 Interações de efeito .................................................................................................................39 3.1.4 Interações farmacêuticas .......................................................................................................39 4 TOXICIDADE DE PRODUTOS VEGETAIS ........................................................................ 42 5 LEGISLAÇÃO APLICADA À FITOTERAPIA ...................................................................... 45 5.1 FARMACOPEIA BRASILEIRA ..............................................................................................................45 5.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ...............................................................................................................46 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 49 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 50 TÓPICO 3 - FARMACOBOTÂNICA ....................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 53 2 TAXONOMIA VEGETAL .................................................................................................... 53 3 NOMENCLATURA E IDENTIFICAÇÃO DE PRODUTOS VEGETAIS .................................. 56 4 MORFOLOGIA VEGETAL .................................................................................................. 58 4.1 MORFOLOGIA BÁSICA EXTERNA DAS RAÍZES ............................................................................58 4.2 MORFOLOGIA BÁSICA EXTERNA DOS CAULES............................................................................61 4.3 MORFOLOGIA BÁSICA EXTERNA DAS FOLHAS .........................................................................62 5 MICROTÉCNICA VEGETAL .............................................................................................. 63 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 65 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 68 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 69 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 71 UNIDADE 2 — METABOLISMO VEGETAL E SUBSTÂNCIAS ATIVAS ...................................81 TÓPICO 1 — ESTUDOS FITOQUÍMICOS ............................................................................... 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 83 2 CULTIVO, OBTENÇÃO E SEPARAÇÃO DE DROGAS VEGETAIS ..................................... 84 2.1 CULTIVO ................................................................................................................................................86 2.2 ESCOLHA DAS ESPÉCIES A SEREM CULTIVADAS ......................................................................87 2.3 ESCOLHA E PREPARO DA ÁREA PARA CULTIVO ....................................................................... 88 2.4 COLHEITA, SECAGEM E ARMAZENAMENTO ................................................................................ 91 3 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO, PURIFICAÇÃO E ISOLAMENTO DE COMPOSTOS ATIVOS .......... 94 3.1 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO .................................................................................................................99 3.1.1 Extrações a frio ...........................................................................................................................99 3.1.2 Extrações a quente em sistemas abertos .........................................................................101 3.1.3 Extrações a quente em sistemas fechados ......................................................................101 3.2 OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO E DE SECAGEM ..................................................................101 3.3 ANÁLISE FITOQUÍMICA PRELIMINAR ...........................................................................................102 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................108 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................109 TÓPICO 2 - FUNDAMENTOS DO METABOLISMO VEGETAL ..............................................111 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................111 2 METABOLISMO PRIMÁRIO VEGETAL .............................................................................111 2.1 FOTOSSÍNTESE ..................................................................................................................................112 2.2 CARBOIDRATOS ................................................................................................................................115 2.3 LIPÍDIOS ...............................................................................................................................................121 2.4 PROTEÍNAS ....................................................................................................................................... 122 3 METABOLISMO SECUNDÁRIO VEGETAL .......................................................................126 3.1 INTERAÇÃO PLANTA-AMBIENTE ................................................................................................... 126 3.2 BIOSSÍNTESE DE COMPOSTOS .................................................................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 131 TÓPICO 3 - QUÍMICA DOS PRODUTOS NATURAIS ...........................................................133 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................133 2 COMPOSTOS FENÓLICOS ...............................................................................................133 2.1 ÁCIDOS FENÓLICOS ..........................................................................................................................136 2.2 FLAVONOIDES ..................................................................................................................................138 2.3 TANINOS ...............................................................................................................................................141 2.4 TOCOFERÓIS .....................................................................................................................................143 2.5 POLIFENÓIS ......................................................................................................................................144 3 TERPENOS .......................................................................................................................145 3.1 TERPENOIDES ....................................................................................................................................146 3.2 CAROTENOIDES ................................................................................................................................1503.3 GLICOSÍDEOS ....................................................................................................................................150 4 COMPOSTOS NITROGENADOS.......................................................................................152 4.1 ALCALOIDES ...................................................................................................................................... 153 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................155 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................163 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................164 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................165 UNIDADE 3 — FITOTERAPIA ...............................................................................................171 TÓPICO 1 — FITOTERAPIA: O USO DE PLANTAS MEDICINAIS......................................... 173 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 173 2 FITOTERAPIA .................................................................................................................. 173 2.1 PRESCRIÇÃO FITOTERÁPICA .......................................................................................................... 174 2.2 ATENÇÃO FARMACÊUTICA EM FITOTERAPIA ............................................................................ 179 2.3 A RENAME E AS PLANTAS MEDICINAIS ......................................................................................180 3 FITOFARMACOLOGIA E INDICAÇÃO DE FITOTERÁPICOS ...........................................183 3.1 ALCACHOFRA (CYNARA SCOLYMUS L.) .....................................................................................183 3.1.1 Atividades biológicas ..............................................................................................................184 3.2 AROEIRA (SCHINUS TEREBINTHIFOLIA RADDI) ........................................................................185 3.2.1 Atividades biológicas ..............................................................................................................186 3.3 BABOSA (ALOE VERA (L.) BURM. F) ............................................................................................. 187 3.3.1 Atividades biológicas ..............................................................................................................188 3.4 ESPINHEIRA-SANTA (MAYTENUS ILICIFOLIA MART. EX REISSEK) ......................................190 3.5 GARRA DO DIABO (HARPAGOPHYTUM PROCUMBENS DC. EX MEISSN.) ...........................191 3.6 GUACO (MIKANIA GLOMERATA SPRENG.) .................................................................................. 192 3.7 HORTELÃ (MENTHA X PIPERITA L.) .............................................................................................. 193 3.8 ISOFLAVONA DA SOJA (GLYCINE MAX (L.) MERR) ................................................................... 194 3.9 PLANTAGO (PLANTAGO OVATA FORSSK) ................................................................................... 195 3.10 SALGUEIRO (SALIX ALBA L.) ........................................................................................................ 196 3.11 UNHA DE GATO (UNCARIA TOMENTOSA WILLD.) .....................................................................198 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................... 200 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................201 TÓPICO 2 - ÓLEOS ESSENCIAIS E AROMATERAPIA ....................................................... 203 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 203 2 O USO DE ÓLEOS ESSENCIAIS ...................................................................................... 203 2.1 EFEITOS NO SISTEMA RESPIRATÓRIO ..........................................................................................207 2.2 ATIVIDADE ANTIMICROBIANA, ANTIFÚNGICA E ANTIVIRAL ...................................................211 3 A APLICAÇÃO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS NA AROMATERAPIA .....................................214 3.1 FORMAS DE UTILIZAÇÃO DOS OES .............................................................................................. 216 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................218 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................219 TÓPICO 3 - NATUROPATIA E FITOTERÁPICOS ................................................................221 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................221 2 NATUROPATIA .................................................................................................................221 2.1 FLORAIS ...............................................................................................................................................222 2.2 HOMEOPATIA .................................................................................................................................... 228 2.2.1 Diluição ...................................................................................................................................... 230 2.2.2 A dinamização ........................................................................................................................ 230 3 CHÁS MEDICINAIS .........................................................................................................231 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 235 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 239 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 240 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 242 1 UNIDADE 1 - PRINCÍPIOS E CONCEITOS DE PRODUTOS NATURAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os conceitos que englobam a Farmacognosia; • entender como são realizados os estudos de propriedades físico-químicas, biológicas, bioquímicas e terapêuticas de plantas; • compreender o uso tradicional de plantas medicinais; • conhecer as principais legislações que regulamentam o cultivo e o preparo de medicamentos fitoterápicos obtidos de plantas medicinais. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO À FARMACOGNOSIA TÓPICO 2 – FARMACOBOTÂNICA TÓPICO 3 – ETNOFARMACOGNOSIA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 INTRODUÇÃO À FARMACOGNOSIA 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos alguns conteúdos fundamentais para o entendimento da disciplina, os conceitos mais utilizados, um histórico sobre o uso tradicional das plantas e o desenvolvimento da fitoterapia. Para iniciar os estudos no universo da Farmacognosia, primeiramente, refleti- remos sobre as riquezas da mãe natureza e sua imensavariedade de espécies de seres vivos, sejam eles micro-organismos, animais ou vegetais. Devido a suas características diversas, os seres são capazes de metabolizar substâncias para o seu crescimento e produção de energia (carboidratos, aminoácidos, lipídios), substâncias essenciais à vida do planeta (por exemplo, a produção de oxigênio pelo processo de fotossíntese realiza- da por espécies vegetais e algas marinhas). Também podemos encontrar outras subs- tâncias que os seres humanos podem extrair e utilizar de maneira sustentável, como o látex, para a fabricação de borracha; as castanhas, para alimento; sementes, para produção de corantes biodegradáveis etc. Desse modo, percebemos que o estudo da biodiversidade das espécies vegetais é fundamental para o profissional farmacêutico, seja para uma simples indicação terapêutica, seja para a obtenção de compostos fitoquímicos com possível potencial terapêutico e que podem ser empregados no desenvolvimento de novos fármacos, sendo eles fitoterápicos ou sintéticos. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 Acadêmico, é importante lembrar que o seu interesse e a sua dedicação são fundamentais para o sucesso da sua carreira; portanto, realize sempre as autoatividades propostas no final de cada tópico deste livro e acesse os artigos complementares expostos ao longo dos temas abordados. DICA 2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES Para facilitar a compreensão dos assuntos a serem vistos a seguir, precisa- mos rever alguns conceitos que serão aplicados nesta disciplina. Entretanto, antes de discutirmos sobre termos mais complexos, é importante entendermos, afinal, o que significa a Farmacognosia. 4 Etimologicamente, Farmacognosia significa o conhecimento (gnose) dos fármacos ou venenos (pharmacon). Uma definição atualizada também a considera o estudo de matérias-primas e substâncias de origem biológica, obtidas de vegetais e animais ou por fermentação a partir de micro-organismos, com finalidade terapêutica (BUENO, 2016). Ainda envolve o estudo da identificação de drogas vegetais por caracteres morfológicos e anatômicos, sua origem e as formas de produção, controle da qualidade, composição fitoquímica, elucidação estrutural e conhecimento das propriedades físico-químicas das substâncias ativas, bem como o estudo de suas propriedades farmacológicas e toxicológicas (SANTOS et al., 2018). Após entendermos o significado e a abrangência dos temas discutidos na disciplina, é preciso elucidar outros termos e definições presentes ao longo das próximas unidades, sendo de grande valia observarmos que todas essas definições podem ser encontradas nos compêndios oficiais e ainda previstos em legislações específicas para a área de concentração do estudo de plantas e produtos derivados farmacêuticos: • Derivado vegetal: produto da extração da planta medicinal fresca ou da droga vegetal, que contenha as substâncias responsáveis pela ação terapêutica, podendo ocorrer na forma de extrato, óleo fixo e volátil, cera, exsudato, entre outros (BRASIL, 2014a). • Droga vegetal: planta medicinal ou suas partes que contenham as substâncias ou classes de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta, estabilização, quando aplicável, e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada (BRASIL, 2014a). • Exsicata: fragmento ou exemplar vegetal, dessecado, prensado, fixado em mostruário, etiquetado ou rotulado com informações sobre a coleta (nome da planta, data e local da coleta etc.) (BRASIL, 2014a). • Composição fitoquímica: também conhecida como fitocomplexos, é o conjunto de todas as substâncias, originadas do metabolismo primário ou secundário, responsáveis, em conjunto, pelos efeitos biológicos de uma planta medicinal ou de seus derivados (BRASIL, 2014a). • Flora: é o conjunto de espécies vegetais que compõe a cobertura vegetal de uma determinada área. A flora brasileira é reconhecida como uma das mais importantes. No Brasil, há milhares de espécies vegetais nativas ainda não estudadas (IBGE, 2021). • Fitoterápico: produto obtido de matéria-prima ativa vegetal, exceto substâncias isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa, incluindo medicamento fitoterápico e produto tradicional fitoterápico. Pode ser simples, quando o ativo é proveniente de uma única espécie vegetal medicinal, ou composto, quando o ativo é proveniente de mais de uma espécie vegetal (BRASIL, 2014a). • Insumo farmacêutico ativo vegetal (IFAV): matéria-prima ativa vegetal, ou seja, droga ou derivado vegetal, utilizada no processo de fabricação de um fitoterápico (BRASIL, 2014a). • Marcador fitoquímico: substância ou classe de substâncias utilizadas como referência no controle da qualidade, desde a droga vegetal até o produto formulado e, quando pertinente, nos estudos de resíduo, tendo correlação, preferencialmente, 5 com a atividade biológica. O marcador pode ser do tipo ativo, quando relacionado com a atividade biológica do fitocomplexo, ou analítico, quando não demonstrada, até o momento, a sua relação com a atividade biológica do fitocomplexo (BRASIL, 2020). • Matéria-prima vegetal: planta medicinal fresca, droga vegetal ou derivado de droga vegetal (BRASIL, 2010a). • Medicamento: produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico (BRASIL, 1973). • Medicamento fitoterápico (MF): medicamento obtido empregando-se exclusivamen- te matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Sua eficácia e segurança são validadas por meio de levantamentos etnofarmacológicos, de utilização, documentações tecnocientíficas ou evidências clínicas. Não se considera me- dicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais (BRASIL, 2010a). • Nomenclatura botânica: espécie (gênero + epíteto específico) (BRASIL, 2014a). • Perfil cromatográfico: padrão cromatográfico de constituintes característicos do fitocomplexo, obtido em condições de reprodutividade previamente definidas, que possibilite a identificação da espécie vegetal em estudo e a diferenciação de outras espécies (BRASIL, 2014a). • Planta medicinal: espécie vegetal, cultivada ou não, utilizada com propósitos terapêuticos (BRASIL, 2013a; 2013b; 2014a; 2014b). • Planta medicinal fresca: a planta medicinal usada logo após a coleta sem passar por qualquer processo de secagem (BRASIL, 2014a). • Princípio ativo: também denominado fármaco ou ainda insumo ativo, é o componente farmacologicamente ativo destinado ao emprego em medicamento (BRASIL, 2007). • Produto tradicional fitoterápico (PTF): obtido com emprego exclusivo de matérias- primas ativas vegetais, cuja segurança seja baseada na tradicionalidade de uso, caracterizado pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade (BRASIL, 2013a). • Pureza: é um dos principais atributos de qualidade de matérias-primas farmacêuti- cas, já que a identificação e a determinação quantitativa de impurezas podem ajudar a controlar/minimizar o risco de efeitos adversos de medicamentos (JUNQUEIRA, 2012). 3 BIODIVERSIDADE E ECOSSISTEMAS BRASILEIROS Como o próprio nome indica, biodiversidade trata da diversidade de vida em to- dos os ecossistemas existentes. De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica (BRASIL, 2018, s. p.), a biodiversidade pode ser definida como: “a variabilidade de organis- mos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”. Com isso, podemos compreender que a biodiversidade é um agregado de ele- mentos, da qual a vida se faz presente e que é estudada para averiguar os maisvariados tipos de animais e plantas que fazem parte desse meio natural – atualmente, de certa 6 forma, modificado por um ser desse meio natural, o homem –, sendo que alguns se- res vivos são protegidos e selecionados pelo homem em detrimento dos outros (ROOS, 2012). O detrimento das espécies implica não somente no empobrecimento genético, levando, em última consequência, à extinção de espécies, mas também uma dimensão muito maior, afetando direta ou indiretamente a economia, a saúde e o bem-estar do ser humano (STEHMANN; SOBRAL, 2017). Seguindo este aspecto, Ramos observa que: seja como for, a visão atual de natureza, potencializada pela tecnologia, herdou o projeto de dominação assentado no dualismo homem-natureza, na qual a última é instrumentalizada em benefício do primeiro. Em outras palavras, universalizou-se a postura – que se tornou dogma – de transformar o conhecimento da natureza em instrumento de domínio da mesma (RAMOS, 2011, p. 83). Nesse contexto, um marco importante foi a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, também conhecida como Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. No evento, foi aprovada a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), ratificada por 168 países, propondo regras para assegurar a conservação da biodiversidade, seu uso sustentável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu território. Esse marco foi importante devido à questão da Biodiversidade ter entrado, a partir dele, na agenda oficial dos países signatários, responsáveis pela gestão do patrimônio natural biológico presente em seus territórios. Metas são propostas a cada década na tentativa de assegurar o cumprimento da convenção e avançar efetivamente nas estratégias de conservação e uso sustentável da biodiversidade. O inventário das espécies existentes no planeta é uma das metas assumidas na década passada e uma questão primordial ainda não respondida (STEHMANN; SOBRAL, 2017). 3.1 BIODIVERSIDADE BRASILEIRA Estima-se em 264 a 279 mil o número de espécies de plantas conhecidas no mundo, ou seja, de espécies formalmente descritas e documentadas em coleções biológicas (por espécimes, mas também, algumas vezes, por uma iconografia) (PEIXOTO; MORIM, 2003). 7 Iconografia: forma de linguagem visual, que usa imagens para representar algum tema. A iconografia estuda a origem das imagens e como elas são expostas e formadas. Em nosso contexto, podemos observar que, apesar da medicina ocidental ter se especializado na criação de fármacos produzidos a partir de processos complexos, houve um tempo em que todos os tratamentos eram feitos com compostos naturais, especialmente ervas e outros alimentos. Com a ausência de tecnologia e métodos de captura de imagens, no início da Idade Moderna, médicos e boticários, através do estudo da botânica, utilizavam ilustrações de plantas para facilitar o acesso e a identificação de espécies vegetais com potencial medicinal para tratar seus pacientes (PITA, 2000). Um dos guias mais antigos manuscritos conhecido sobre essas práticas foi disponibilizado na internet pela Biblioteca Britânica (2017), detentora da única edição do guia, o qual acredita-se ter sido escrito no século XI em idioma anglo-saxão, uma forma primitiva do idioma inglês que conhecemos hoje. O livro é repleto de ilustrações das substâncias que, segundo os autores, podiam resolver dezenas de problemas. Vale a pena conferir essas imagens, então acesse: https://bit.ly/3uye8Gu. DICA O Brasil possui um território de 8.514.877 km² (IBGE, 2012) e é considerado o país de maior diversidade biológica, destacando-se no ranking mundial e abrigando cerca de 14% da diversidade de plantas do mundo (STEHMANN; SOBRAL, 2017). Estima-se que existam 1,8 milhão de espécies, apenas em torno de 45,3 a 49,5 mil o número de espécies de plantas descritas. Em relação aos fungos, estima-se que o planeta abrigue entre 70,5 e 72 mil espécies, das quais o Brasil detém 12,5 a 13,5 mil. Esse alto padrão de diversidade dá ao país extraordinária competitividade diante de demandas ambientais e biotecnológicas, nas quais o capital natural gera grandes benefícios econô- micos, convertendo-se, mesmo, em poder (LEWINSOHN; JORGE; PRADO, 2012). Diante disso, podemos perceber que o território brasileiro possui uma fábrica natural e sofisticada de substâncias de classes diversas e estruturas químicas inusitadas que teria, se bem aproveitada, um potencial enorme para inovações radicais e incrementais para os setores de fármacos, cosméticos, fragrâncias, agroquímicos e suplementos alimentares (BOLZANI, 2016). Devido a seu tamanho e suas particularidades biogeográficas, apresenta uma variedade de climas, relevos, solos e vegetação, e as combinações desses fatores produzem diferentes biomas e ecossistemas. 8 3.2 BIOMAS Como definição, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021), bioma é um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação que são próximos e que podem ser identificados em nível regional, com condições de geologia e clima semelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria (KAUST; ROMAGNOLO, 2019). Assim, no Brasil, podemos encontrar seis tipos de biomas: Amazônia, Mata Atlântica, cerrado, caatinga, Pampa e Pantanal. Esses biomas são importantes não somente como recursos naturais para o país, mas também se destacam como ambientes de grande riqueza natural para o planeta (IBGE, 2021). Não podemos deixar de citar individualmente algumas das características mais marcantes no que diz respeito à riqueza da variabilidade vegetal desses sistemas. A seguir, veremos como estão dispostos em nosso território e quais são os valores de cada um desses sistemas, começando pela Figura 1. FIGURA 1 – BIOMAS BRASILEIROS FONTE: <https://bit.ly/34kACA9>. Acesso em: 20 ago. 2021. 9 TABELA 1 – ÁREA DOS BIOMAS NO TERRITÓRIO BRASILEIRO FONTE: Vilela; Callegaro; Fernandes (2019, p. 25) Identificação Bioma Área (km2) Território brasileiro (%) 1 Amazônia 4.198.273 49,3 2 Cerrado 2.047.190 24,04 3 Mata Atlântica 1.110.456 13,04 4 Caatinga 829.436 9,74 5 Pampa 178.831 2,10 6 Pantanal 151.581 1,78 TOTAL 8.515.767 100 Atualmente, como resultado da expansão das atividades agropecuárias e da urbanização no país, todos os biomas brasileiros correm risco de extinção caso sejam mantidos os mesmos padrões de exploração. Dois desses biomas, o cerrado e a Mata Atlântica, já se encontram na lista mundial de hotspots, isto é, áreas com grande diversidade que se encontram ameaçadas de extinção (IBGE, 2021). Conforme mostra a Tabela 2, no total, 900 áreas foram identificadas como prioritárias para a conservação da biodiversidade através de quatro critérios para classificar a sua importância: extrema importância biológica; muito alta importância biológica; alta importância biológica; insuficientemente conhecidas, mas de provável interesse biológico. TABELA 2 – GRAU DE IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSI- DADE BRASILEIRA POR BIOMA Grau de importância Amazônia Caatinga Cerrado Pantanal M. Atlântica C. Sulinos Z. Costeira e Marinha Total Extrema importância biológica 247 64% 27 33% 47 54% 99 55% 90 55% 510 57% Muito alta importância biológica 107 28% 12 15% 16 18% 35 19% 44 27% 214 24% Alta importância biológica 8 2% 18 22% 12 14% 26 14% 13 8% 77 8% Insuficientemente conhecidas, mas de provável alta importância biológica 23 6% 25 30% 12 14% 22 12% 17 10% 99 11% TOTAL 385 82 87 182 164 900 FONTE: Garay; Becker (2006, p. 178) 10 Com relação às principais características geográficas, climáticas e, principalmente, etnobotânicas desses sistemas, o bioma Amazôniaocupa cerca de 49% do território brasileiro. A Amazônia possui a maior floresta tropical do mundo, equivalente a 1/3 das reservas de florestas tropicais úmidas, que abrigam a maior quantidade de espécies da flora e da fauna. Contém 20% da disponibilidade mundial de água e grandes reservas minerais (IBGE, 2021). Cerca de 1.200 novas espécies de plantas e vertebrados foram descobertas no bioma Amazônia apenas entre 1999 e 2009. Um relatório para o período 2010-2013 revelou que 441 novas espécies de animais e plantas foram descobertas ao longo desses quatro anos na Amazônia. Recentes estudos sobre a diversidade da região mostraram que, apenas nos anos de 2014 e 2015, 381 novas espécies foram descritas, sendo 216 plantas, 93 peixes, 32 anfíbios, 19 répteis, uma ave e 20 mamíferos (dois fósseis). Não foram contabilizados nesse levantamento os invertebrados. Segundo esses estudos, uma nova espécie foi descrita a cada 1,9 dias (WWF-BRASIL, 2017). Recentemente, Ter Steege et al. (2015) analisaram a diversidade arbórea da Amazônia e encontraram quase 5 mil espécies de árvores e palmeiras, identificadas em 1.200 parcelas de inventário do Amazon Tree Diversity Network. Com base nesse número, os pesquisadores estimaram um total de 16 mil espécies arbóreas. Observaram também que a metade dos indivíduos arbóreos na região compõe-se de apenas 227 espécies, a que chamaram de hiperdominantes (VILELA; CALLEGARO; FERNANDES, 2019). Estudos estruturais e florísticos desenvolvidos na Amazônia têm demonstrado que os ambientes florestais de terra firme apresentam alta diversidade, representada por poucos indivíduos de cada espécie e alta dissimilaridade florística entre parcelas adjacentes (SILVA; MATOS; FERREIRA, 2008). Entretanto, podemos afirmar que existe uma grande quantidade de árvores, arbustos, ervas e cipós que contribuem, em vários aspectos, para o modo de vida das populações. A mesma biodiversidade ameaçada por atividades predatórias constitui um acervo que pode potencializar o desenvolvimento sustentável da região amazônica (ALMEIDA et al., 2013). Na Tabela 3, visualizamos algumas das espécies encontradas na região que são utilizadas pela população local para o consumo na forma de chás, óleos, alcoolatura, ou in natura. TABELA 3 – USO DOS RECURSOS VEGETAIS POR COMUNIDADE DA FLORESTA AMAZÔNICA (SANTO ANTÔNIO, AM) Nome científico Família Nome regional O H PU FU NI CIE Protium sp. Burceraceae breu-branco N árv ex fu 10 1,50 Sclerolobium paraensis Huber Caesalpiniaceae tachi N árv ca ch 10 1,50 Spondias sp. Anacardiaceae taperebá N árv fr; ca in; xa 6 1,50 Costus spicatus (Jacq.) Sw Zingiberaceae cana-mansa E herb fo ch 4 1,50 11 Pogostemon heyneanus Benth. Piperaceae oriza N herb fo ch 3 1,50 Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Compositae macela E arb fo ch 1 1,50 Kalanchoe brasiliensis Camb. Crassulaceae coramina E arb fo ch 2 1,33 Copaifera multijuga Hayne Fabaceae copaíba N árv ex ól 20 1,33 Simarouba amara Aubl. Simaroubaceae marupá N árv ra ch 11 1,17 Trifolium pratense L. Fabaceae trevo-roxo E arb su 3 1,17 Sesamum indicum L. Pedaliaceae gergelim E herb se pa 1 1,17 Hymenaea parviflora Huber Caesalpiniaceae jutaí N árv ca; re xa 13 1,00 Cedrela odorata L. Meliaceae cedro N árv ca ch 6 1,00 Momordica charantia L Cucurbitaceae melão-são- -caetano N arb fo su 3 1,00 Callophyllum brasilensis Cambess Clusiaceae jacareúba N árv ca ch 2 1,00 Malva L. Malvaceae malva E herb fo ch 1 1,00 O – origem (N – nativa; E – exótica); H – Hábito (árv – árvore; cip – cipó; arb – arbusto; pal – palmeira; herb – herbácea; tub – tubérculo); PU – parte da planta utilizada (ca – casca; fo – folha; fr – fruto; ra – raiz; ex – exu- dato; se – semente; ou – ouriço; ba – batata); FU – forma de utilização (ch – chá; ág – imersão em água; in – infusão; xa – xarope; em – emplasto; su – sumo; ma – maceração; al – alcoolatura; in – in natura; ól – óleo); NI – número de informantes que citaram a espécie na amostra; CIE – Coeficiente de Importância da Espécie. FONTE: Almeida et al. (2013, p. 442) Alcoolatura: são preparações líquidas, obtidas a partir da planta fresca ou seca em contato com uma solução de água e álcool em diferentes concentrações, à temperatura ambiente. É utilizada ao se dissolver gotas da alcoolatura para ingestão em água e externamente em compressas e fricções. NOTA Várias plantas amazônicas foram domesticadas nesses últimos três séculos, destacando-se cacaueiro (1746), cinchona (1859), seringueira (1876) e jambu, guaranazeiro, castanheira-do-pará, cupuaçuzeiro – Theobroma grandiflorum (S.) –, pupunheira, açaizeiro, jaborandi, pimenta longa, sobretudo a partir da década de 1970 (HOMMA, 2012). Outras plantas que passam por um processo de domesticação são mogno, paricá (Schizolobium amazonicum), bacurizeiro, andirobeira, uxizeiro, pau-rosa, entre os principais. Outras plantas com potencial de crescimento do mercado são copaibeira 12 (Copaifera langsdorffii), tucumanzeiro (Astrocaryum aculeatum), fruta muito apreciada em Manaus (Astrocaryum vulgare), ainda com potencial para biodiesel, piquiá (Caryocar villosum), cumaruzeiro (Coumarouna odorata) e puxuri (Licaria puchury). Podemos citar ainda algumas plantas em relação às quais se verifica um conflito entre a oferta extrativa e a demanda desses produtos: cacau, açaí, bacuri, castanha-do-pará, seringueira, cupuaçu, jaborandi, andiroba, copaíba e guaraná (HOMMA, 2012). O bioma Mata Atlântica ocupa aproximadamente 13% do território brasileiro (IBGE, 2021). É possível notar, então, que, devido aos diferentes ecossistemas que compõem a Mata Atlântica, o bioma é extremamente heterogêneo. Sua fisionomia perpassa pelas restingas e manguezais, ambos com pouquíssimas espécies, altamente adaptadas às condições extremas de salinidade e instabilidade do solo e vitais para a vida costeira e marinha; por campos de altitude, típicos de ambientes montano e alto- montano, contando principalmente com gramíneas e vegetação arbustiva; até florestas pluviais, com elevado grau de riqueza e endemismo de espécies, com árvores que podem chegar a 40 metros de altura (VELOSO; RANGEL FILHO; LIMA, 1991; IBGE, 2012). Por se localizar na região litorânea, ocupada por mais de 50% da população brasileira, é o bioma mais ameaçado do Brasil. Originalmente, cobria cerca de 1.345.300 km² em três países (Argentina, Brasil e Paraguai), chegando a cobrir quase 10% de todo o território do continente sul-americano (WWF-BRASIL, 2017). Apenas 27% de sua cobertura florestal original ainda está preservada (IBGE, 2021), mas, ainda assim, a Mata Atlântica tem a segunda maior biodiversidade das Américas, inferior apenas à da Amazônia. A Mata Atlântica é morada para cerca de mais de 2 mil espécies de vertebrados, sendo 298 espécies de mamíferos, 1.023 espécies de pássaros, 306 de répteis, 475 de anfíbios, com 30% de endemismo, o que representa 5% de todas as espécies de vertebrados existentes na terra (WWF-BRASIL, 2017). Contando apenas árvores e arbustos, o bioma abriga mais de 20 mil espécies, 8 mil delas endêmicas à região. Além disso, há 68 espécies de palmeiras e 925 de bromélias na região, com endemismo de 64% e 70%, respectivamente (IBGE, 2021). Existem comunidades humanas que, até algumas décadas atrás, tinham como base de sua sobrevivência os recursos naturais provenientes da Mata Atlântica, além da prática da agricultura em pequena escala. Considerando que as espécies alimentícias e cultivadas são utilizadas para o próprio sustento das comunidades e para a economia local, as espécies medicinais geralmente fazem parte dos poucos recursos terapêuticos disponíveis para o tratamento de doenças mais frequentes (PILLA; AMOROZO, 2009). Diversas pesquisas etnobotânicas realizadas em áreas de Mata Atlântica abordam conhecimentos sobre espécies medicinais e alimentícias. Liporacci (2014) observou que uma mesma espécie pode ser utilizada para mais de umafinalidade. A Figura 2 apresenta alguns exemplos. 13 FIGURA 2 – ESPÉCIES BOTÂNICAS COM FINALIDADES MEDICINAIS, ALIMENTÍCIAS E RITUALÍSTICAS EN- CONTRADAS NA MATA ATLÂNTICA Abelmoschus esculentus (L.) (quiabeiro) Allium sativum (L.) (alho-comum) Anacardium occidentale (L.) (cajueiro) Araucaria angustifolia (Bertol.) (araucária) Aloysia gratissima (V.) (alfazema-do-brasil) B. dracunculifolia (DC.) (alecrim-do-campo) Calendula officinalis (L.) (margarida) Ocimum basilicum (L.) (manjericão) Bixa orellana (L.) (urucum) FONTE: <https://bit.ly/3J6Nf0n>; <https://glo.bo/3slcju9>; <https://bit.ly/3J68ob0>; <https://bit.ly/3rqpq- dY>; <https://bit.ly/3opNsnE>; <https://bit.ly/3rq3pvS>; <https://bit.ly/3AWuquf>; <https://bit.ly/3HIKAtT>; <https://bit.ly/3gpS20F>. Acesso em: 15 ago. 2020. Alguns frutos nativos também são considerados como importantes fontes secundárias de alimentação, como os das plantas da família Arecaceae: a brejaúva - Astrocaryum aculeatissimum (B.), o indaiá - Attalea dubia (B.), e o palmito - Euterpe edulis (M.); da família Fabaceae: o ingá-feijão - Inga fagifolia (G.), o ingá-mirim - Inga marginata (W.); da familia Myrtaceae: o araçá Psidium cattleyanum (S.); e da família Rosaceae: a amorinha - Rubus rosifolius (S.) (PILLA; AMOROZZO, 2009). O bioma cerrado ocorre principalmente no Planalto Central Brasileiro e ocupa cerca 24% do território brasileiro, estendendo-se por grande parte da região Centro- Oeste, Nordeste e Sudeste do país (IBGE, 2021). É um bioma característico do clima tropical continental, que, em razão da ocorrência de duas estações bem definidas – uma úmida (verão) e outra seca (inverno) –, possui uma vegetação com árvores e arbustos 14 de pequeno porte, troncos retorcidos, casca grossa e, geralmente, caducifólia (as folhas caem no outono) (IBGE, 2021). A fauna da região é bastante rica, constituída por capivaras, lobos-guarás, tamanduás, antas, seriemas etc. As formações florestais, onde predominam espécies arbóreas (mata ciliar e mata de galeria), plantas com características de caducifólia (mata seca) e também uma formação arbórea, com árvores bem copadas, dão um aspecto fechado (cerradão). Nas formações savânicas, encontramos árvores baixas, tortuosas, com ramificações irregulares, que evidenciam queimadas (cerrado sentido restrito); árvores agrupadas em pequenas elevações do terreno (o parque de cerrado); espécies iguais de palmeira (palmeiral); em terrenos úmidos, com a presença de palmeira buriti (vereda). Nas formações campestres, primeiramente, temos a vegetação herbáceo- arbustivo, arbustos e subarbustos espaçados (campo sujo), predomínio de gramíneas e ervas rasteiras, formando uma cobertura verde contínua (campo limpo) e também a presença de árvores pequenas (até 2 m de altura), em afloramentos rochosos (campo rupestre), como pode ser observado na Figura 3. 15 FI GU RA 3 – FI TO FI SI O N O M IA S D O B IO M A C ER RA D O FO N TE : < ht tp s: //w w w .e m br ap a. br /c er ra do s/ co le ca o- en to m ol og ic a/ bi om a- ce rra do >. A ce ss o em : 2 1 ag o. 2 02 1. 16 O cerrado é um bioma com características próprias e grande diversidade vegetal. A região é muito rica em espécies frutíferas nativas e oferece grande quantidade de frutos comestíveis para o consumo in natura ou a produção de doces, geleias, sucos e licores de excelente qualidade, cujo aproveitamento por populações humanas dá-se desde os primórdios da ocupação (GONÇALVES; DUARTE; FILHO, 2015). Junqueira et al. (2012) afirmam que, entre as frutíferas do cerrado, as espécies mais procuradas atualmente, em ordem de importância, são pequi (Caryocar spp.), man- gaba (Hancornia spp.), araticum (Annona crassiflora), caju do cerrado (Anacardium spp.), maracujás nativos, baru (Dipteryx alata) e cagaita (Eugenia dysenterica). Mais recente- mente, a macaúba voltou a ser procurada para extração de óleos e fabricação de sorvetes. Entretanto, apenas o abacaxi, o maracujá-azedo (Passiflora edulis Sims “flavicarpa”) e o maracujá-doce (Passiflora alata Curtis) são atualmente cultivados em grande escala. Muitas espécies do cerrado são potencialmente comestíveis, medicinais, orna- mentais, fornecedoras de madeira e outras matérias-primas para a indústria. As famílias mais representativas são: Fabaceae (com oito espécies); Rubiaceae (com cinco espécies); Solanaceae (com quatro espécies); Anacardiaceae, Erythroxylaceae, Euphorbiaceae e Myr- taceae (com três espécies cada); Annonaceae, Apocynaceae, Asteraceae, Bignoniaceae e Primulaceae (com duas espécies cada). Cerca de 27 famílias apresentaram uma espécie medicinal cada. As famílias Fabaceae e Asteraceae estão entre as mais representativas na maioria dos levantamentos sobre plantas medicinais (SILVA; RABELO; ENOQUE, 2015). O bioma caatinga ocupa uma área aproximada de 10% do território nacional brasileiro. Embora esteja localizado em área de clima semiárido, apresenta grande variedade de paisagens, relativa riqueza biológica e espécies que só ocorrem nesse bioma. Os tipos de vegetação desse bioma foram bastante alterados, com a substituição de espécies vegetais nativas por pastagens e agricultura (IBGE, 2021). A vegetação da caatinga, mesmo durante a estiagem, quando está quase completamente sem folhas e com o crescimento interrompido, ainda desempenha a importante função de proteger o solo contra agentes erosivos (VILELA; CALLEGARO; FERNANDES, 2019). O desmatamento e as queimadas são práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária. Da área original ocupada por esse bioma, aproximadamente 36% já foi alterada (IBGE, 2021). Essa prática, além de destruir a cobertura vegetal, também prejudica a manutenção de animais silvestres, a qualidade da água e o equilíbrio do clima e do solo. Como resultado, a degradação ambiental causada pelo desmatamento culmina no fenômeno da desertificação, ou seja, a perda da capacidade produtiva da área, tanto do ponto de vista ecológico como do econômico (SÁ, 2013). Em contrapartida, a fruticultura irrigada é uma prática na região responsável por grande desenvolvimento local, devido ao volume e à alta qualidade das frutas, que abastecem tanto a demanda doméstica quanto a internacional. Hoje, essa atividade é possível graças a investimentos em infraestrutura hídrica, que possibilitaram o bombeamento a partir do rio São Francisco. 17 Diversas pesquisas etnobotânicas realizadas em áreas de caatinga abordam conhecimentos sobre espécies medicinais e alimentícias. Em sua revisão, Liporacci (2014) observou que uma mesma espécie pode ser utilizada para mais de uma finalidade, sendo algumas dessas espécies mostradas na Figura 4. FIGURA 4 – ESPÉCIES BOTÂNICAS COM FINALIDADES MEDICINAIS, ALIMENTÍCIAS E RITUALÍSTICAS EN- CONTRADAS NA CAATINGA FONTE: <https://bit.ly/35PoIPk>; <https://bit.ly/3JkqSFd>; <https://bit.ly/3orIsyK>; <https://bit.ly/3G- mh2AJ>; <https://bit.ly/34C3IL2>; <https://bit.ly/3uv9h99>. Acesso em: 15 ago. 2020. Ruta graveolens (L.) (arruda) Bromelia laciniosa (B.) (mocambira) Mentha piperita (L.) (hortelã-pimenta) Cereus jamacaru (C.) (mandacaru) Hymenaea courbaril (L.) (jatobá) Ricinus communis (L.) (mamona) Entre as espécies da caatinga que apresentam potencial medicinal e cosmético, amplamente utilizadas pela população, podemos destacar: • a umburana-de-cheiro – Amburana cearensis (L.); • o angico – Anadenanthera colubrina (L.); • o pereiro – Aspidosperma pyrifolium (A.); • o pau-branco – Auxemma oncocalyx (L.); • o mororó – Bauhinia cheilantha (L.); • o mandacaru – Cereus jamacaru (C.); • o marmeleiro-preto – Croton sonderianus (E.); • o mulungu – Erythrina velutina (L.); • o alecrim-da-chapada – Lippia microphylla (V.); • o alecrim-pimenta – Lippia sidoides (V.); • o umbu – Spondias tuberosa (A.); entre outras (SOUZA, 2013). 18 O bioma Pampa ocupa aproximadamente 2% do território brasileiro. É carac- terizado por clima chuvoso, sem período seco,mas com temperaturas negativas no inverno, que in fluenciam a vegetação (IBGE, 2021). Em toda a área de abrangência desse bioma, a atividade humana propiciou uma uniformização da cobertura vegetal, que, de modo geral, é usada como pastagem natu- ral ou ocupada com atividades agrícolas, principalmente o cultivo do arroz (IBGE, 2021). Sua vegetação florestal ocorre ao longo da drenagem e também nas encostas voltadas para o quadrante sul, que recebem menor radiação durante o ano e, conse- quentemente, são mais úmidas, favorecendo o estabelecimento de vegetação arbórea (CARLUCCI et al., 2015). A riqueza de plantas campestres do bioma Pampa é notável, com cerca de 2.150 espécies (BOLDRINI; OVERBECK; TREVISAN, 2015), sendo boa parte pertencente às famílias das gramíneas (Poaceae) e das compostas (Asteraceae). Há também uma elevada riqueza de cactáceas (Cactaceae), com 44 espécies (CARNEIRO et al., 2016), conferindo importância global a esse bioma (CARNEIRO et al., 2016; GO- ETTSCH et al., 2015). A maior parte da flora do Pampa tem origem na província fitoge- ográfica do Chaco, mas elementos da flora amazônica e andino-patagônica também estão presentes (VILELA; CALLEGARO; FERNANDES, 2019). As famílias botânicas com maior representatividade foram Asteraceae (21%) e Lamiaceae (16%), seguidas de Myrtaceae (7%) e Apiaceae (6%). Embora ainda sejam escassos os estudos com as plantas medicinais no bioma Pampa, alguns relatos demonstram espécies exploradas para uso medicinal nas práticas de cuidado em saúde em comunidades, podendo ser destacadas: • a macela – Achyrocline satureioides; • a bananinha-do-mato – Bromelia antiacantha; • a carqueja – Baccharis trimera; • a espinheira-santa – Maytenus ilicifolia; • a erva-de-bugre – Casearia sylvestris; • a coronilha – Scutia buxifolia; • a insulina-do-mato – Sphagneticola trilobata (CEOLIN et al., 2011). O bioma Pantanal é o mais preservado e ocupa aproximadamente 2% do território nacional brasileiro. Entretanto, é reconhecido como a maior planície de inundação contínua do mundo, o que constitui o principal fator para a sua formação e diferenciação em relação aos demais biomas, reunindo representantes de quase toda a fauna brasileira (IBGE, 2021). Com relação à constituição vegetal, a paisagem na planície pantaneira é bas- tante diversificada e composta por um mosaico de formas de vegetação, corixos e va- zantes, com cursos d’água permanentes e/ou temporários, brejos, lagoas permanentes, pequenos lagos temporários (baías), formados por corpos d’água ricos em vegetação aquática e salinas (com água salobra). A duração e o nível da inundação são determi- 19 nantes nessas paisagens. Há desde formações florestais (matas e cerradão) e savânicas (cerrado típico) nas áreas de cordilheiras (pequenas elevações ou cordões arenosos for- mados por paleodiques aluviais não sujeitos à inundação) até amplas áreas de campo cerrado, campos limpos e campos inundáveis (ricos em gramíneas), incluindo comuni- dades aquáticas (VILELA; CALLEGARO; FERNANDES, 2019). A flora do Pantanal é composta por aproximadamente 2 mil espécies, provenientes das províncias biogeográficas circundantes, como o cerrado, a floresta amazônica, a floresta Atlântica, o Chaco e a floresta Chiquitana, da Bolívia, que formam diferentes e características paisagens na planície (POTT et al., 2011). Em parceria com outras instituições, a Embrapa Pantanal caracterizou e mapeou a vegetação de todo o Pantanal. Nesse levantamento, foram catalogadas 1.863 espécies de plantas fanerógamas, 1 mil espécies de plantas campestres, 142 aquáticas e em torno de 550 lenhosas. Nesse contexto, a flora do Pantanal se desponta pelo imenso potencial de recursos naturais presentes (MARTINS, 2014). Considerando diferentes áreas dos pantanais de Cáceres, Poconé, Barão de Melgaço e Santo Antônio de Leverger, observamos a presença de vegetações regionais, quase homogêneas, caracterizadas pela presença maciça de uma única espécie, como: • o cambarazal – Vochysia divergens (P.); • o carvoeiral – Callisthene fasciculata (S.); • os pequenos paratudais – Tabebuia spp.; • o acurizal – Attalea phalerata (M.). Sobre a vegetação aquática, encontramos Eichhornia azurea (S.), E. crassipes (M.), Echinodorus macrophyllus (K.), intercaladas por pequenas e delicadas plantas aquáticas Salvinia auriculata Aubl., Lemna spp., Ricciocarpus natans (L.), Azolla sp., que, junto às outras, desempenham seu papel ecológico nessas áreas. Encontramos centenas de espécies alimentícias nativas que são aproveitadas pela fauna silvestre e pelos animais domésticos. Alguns frutos são importantes para o consumo das populações humanas locais, como a bocaiuva e o jatobá, mas outros, com grande potencial como fonte de vitaminas, fibras e nutrientes calórico-proteicos, permanecem fora da lista de espécies comestíveis nutricionalmente recomendadas, sendo muitos deles fortemente ameaçados de desaparecimento. A riqueza em frutos nativos do Pantanal e do cerrado se destaca pelo elevado valor nutricional (minerais, vitaminas, proteínas e fibras), além de atrativos sensoriais peculiares e intensos, em geral, consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes, geleias e doces, além da elaboração de farinhas. 20 Sobre as espécies nativas do Pantanal para uso medicinal ou com potencial farmacológico, é possível encontrarmos 270 espécies medicinais. No entanto, existem, no cerrado mato-grossense, 509 espécies utilizadas na medicina popular, sendo que muitas delas também têm ocorrência em áreas pantaneiras. Esses produtos fornecem compostos bioativos com ação antioxidante, protegendo o organismo humano do estresse oxidativo celular e prevenindo diversas doenças, como câncer do sistema digestivo, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (FARIAS et al., 2014). 4 PRODUTOS NATURAIS COMO MATÉRIAS-PRIMAS Como sabemos, são inúmeras as aplicações das espécies vegetais para o homem, afinal, a importância da flora está no fornecimento de oxigênio e alimento, no uso para a construção de moradias, móveis e ferramentas, no artesanato, no uso têxtil, medicinal e em ornamentos, na cosmética, na fabricação do papel e de artigos de limpeza, na produção de perfumes e inseticidas, entre outros (ZANIRATO, 2010). Para entender melhor como podemos utilizar os produtos naturais como matéria-prima, analisaremos determinadas características desses produtos: tipo de produto, espécie, parte utilizada, quais são as substâncias que lhes conferem tais qualidades, entre outras informações. 4.1 CORANTES E TINTURAS Um bom exemplo que podemos citar, referente ao uso de produtos naturais, remete a manifestações culturais dos primórdios da civilização: os atos de pintar o corpo e tingir o cabelo. Nas sociedades indígenas, até hoje, a pintura corporal tem grande importância (Figura 5), com significado muito amplo, desde a simples expressão de beleza e erotismo até a indicação de preparação para a guerra ou, até mesmo, como uma forma de aplacar a ira dos demônios. Além de protegerem o corpo dos raios solares e das picadas de insetos, a ornamentação corporal é como uma segunda pele do indivíduo: a social em substituição à biológica (ALMEIDA; MARTINEZ; PINTO, 2017). FIGURA 5 – PINTURA CORPORAL INDÍGENA E FRUTO COM AS SEMENTES DE URUCUM FONTE: <https://bit.ly/3gozkqn>; <https://bit.ly/3LiKaLU>. Acesso em: 19 ago. 2021. 21 Para tingir a pele, os povos indígenas brasileiros utilizavam os frutos da bixácea (Bixa orellana), conhecida como urucum (Figura 5B), palavra de origem tupi que signi- fica vermelho. A tintura era feita com as sementes do fruto dessa planta, cujo principal corante é o norcarotenoide bixina (Figura 6). Para o seu preparo, as sementes são rala- das, passadas por peneiras finas e fervidas em água para formar uma pasta. Com essa pasta, são feitas bolas que são envolvidas em folhas e guardadas durante todo o ano para as cerimônias de tatuagem. A tinta extraída do urucum também é usada paratingir os cabelos e na confecção de máscaras faciais (ALMEIDA; MARTINEZ; PINTO, 2017). FIGURA 6 – FÓRMULA ESTRUTURAL DA BIXINA FONTE: O autor Outro insumo natural utilizado pelos povos indígenas é obtido a partir da Genipa americana L., pertence à família Rubiaceae, uma planta originária da Amazônia, ampla- mente distribuída em todas as áreas tropicais e subtropicais da América Latina, presen- te em todos os Estados brasileiros e conhecida popularmente como jenipapo. A expo- sição da polpa do seu fruto verde a torna gradativamente escura, produzindo uma cor azul intensa e, portanto, utilizada por índios na pintura do corpo e de cerâmicas. Esse pigmento azul é formado a partir da reação entre genipina, um iridoide incolor, e fontes de aminas primárias, especificamente aminoácidos e proteínas (SOUZA et al., 2019). Com relação à categoria dos produtos corantes, podemos citar ainda uma substância usada desde o Egito antigo, extraída de Lawsonia inermis L., uma planta da família Lythraceae, a hena, que é o corante natural mais usado na cosmética. A substância responsável pelo tom avermelhado dos cabelos é a lausona – 2-hidroxi-1,4- naftoquinona –, que reage com a queratina (OLIVEIRA et al., 2014). Ainda sobre corantes, vários produtos naturais foram utilizados ao longo dos séculos para tinturaria e tecelagem, até o descobrimento da síntese da malveína, pelo químico britânico William Henry Perkin (1838-1907). Sua descoberta desbancou o índigo, uma tintura vermelha que os índios usavam para tingimento de fibras do algodão, extraída de uma árvore chamada Caesalpinia echinata, espécie em extinção, conhecida como pau-brasil (ALMEIDA; MARTINEZ; PINTO, 2017). 22 4.2 ALGAS MARINHAS As algas marinhas são organismos utilizados como matéria-prima de produtos como medicamentos, combustíveis e cosméticos, assim como alimento animal e hu- mano. São empregadas para branquear papel, na composição do envoltório de cápsulas de medicamentos, na fabricação de tintas e de cosméticos e como aditivos na indústria alimentícia, usadas em formato de sushis, substâncias espessantes e estabilizantes em sorvetes, doces, derivados de carnes, peixes e leite (como goma ágar-ágar e carrage- nanas, produzidos a partir das algas vermelhas) (TEIXEIRA, 2013). Goma ágar: a goma ágar-ágar é um hidrocoloide (da família das gomas e pectinas), utilizado como agente gelificante devido seu alto poder de gelificação e elevada força de gel à baixa concentração. É um produto natural rico em iodo, sais minerais e fósforo, tendo alto poder digestivo e nutritivo quando ingerido com frequência. Possui um sabor neutro, alta transparência, podendo ser adicionado com facilidade a corantes, aromas, sucos ou frutas desidratadas. É utilizada em produtos light, devido à ausência de calorias, podendo-se substituir o açúcar por adoçantes e diminuir ainda mais o seu valor calórico. NOTA Diversos estudos já mostraram o potencial osteogênico dos polissacarídeos sulfatados (PSs) extraídos de macroalgas marinhas. Entre eles, o fucoidan, isolado da alga marrom Fucus vesiculosus, é o mais estudado, já sendo comercializado por algumas empresas. As algas verdes também são fonte de PSs, embora sejam ainda pouco exploradas para aplicações na regeneração óssea. Em geral, as aplicações clínicas dos PSs extraídos de algas ainda são limitadas, devido à escassez de estudos sobre os seus efeitos (SOUZA et al., 2017). FIGURA 7 – ALGAS COMESTÍVEIS USADAS NA CULINÁRIA ORIENTAL FONTE: <https://bit.ly/34imOX0>; <https://bit.ly/3LaTwtV>. Acesso em: 20 ago. 2021. 23 Dos micro-organismos às algas e aos animais, quase a totalidade dos filos encontra- se nos oceanos. Esses seres vivos guardam substâncias desconhecidas, que atuam na comunicação entre espécimes, na defesa contra herbívoros e predadores, entre espécies competidoras, na reprodução ou simplesmente como produtos de reserva ou sobras de seu metabolismo. Uma substância que atue como mediador químico para um organismo pode ser também a esperança para o tratamento ou a cura de doenças (BRASIL, 2010b). 4.3 USO TRADICIONAL DE PRODUTOS VEGETAIS O uso das plantas nativas das Américas, quer como alimento ou remédio, é muito antigo. Registros arqueológicos demonstram que os ameríndios já usavam algumas espé- cies há mais de dez mil anos. Exemplos dessas plantas são o abacate (Persea americana Mill.), a batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.), o mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.), o cacau (Theobroma cacao L.) e o milho (Zea mays L.). Os espanhóis e os portugueses começaram a introduzir as plantas americanas na Europa logo no início da colonização do continente, tendo grandes quantidades sido transportadas para lá. As raízes da salsapar- rilha (Smilax spp.) e do guáiaco (Guaiacum officinale L.), nativas do Caribe, são exemplos, pois ganharam grande reputação na época para o tratamento da sífilis. A canela foi uma das especiarias mais valiosas do mundo, sendo as espécies ve- getais mais antigas conhecidas pela humanidade. Na Idade Média, seu valor chegou a ser 15 vezes maior que o do ouro. Precisamos ressaltar que a espécie mais conhecida de canela é a Cinnamomum zeylanicum, nativa do Ceilão, atual Sri Lanka. Entretanto, outras, como a Cassia (Cinnamomum cassia), também chamada de falsa canela e conhecida como canela da China, têm importância econômica. Essa espécie é uma laurácea arbórea muito cultivada nas províncias do sudoeste da China (ALMEIDA; MARTINEZ; PINTO, 2017). As partes mais úteis das canelas são o córtex dessecado e o óleo, pois, a partir delas, obtemos os principais compostos presentes nessa planta. Sobre a composição fitoquímica da canela, podemos citar o nitrofeniletano, principal responsável pelo aroma de canela, encontra- do nas cascas de Aniba canelilla. Além do nitrofeniletano, pesquisadores identificaram também os fitocompostos eugenol e metileugenol no mesmo óleo. Por ser o componente majoritário, o nitrofeniletano cristaliza no óleo, o qual é obtido através da metodologia de arraste a vapor das cascas da árvore. O óleo é extraído das cascas por destilação por arraste com vapor e seu valor comercial depende da espécie utilizada (ALMEIDA; MARTINEZ; PINTO, 2017). Entenderemos mais sobre as metodologias de extração na Unidade 2. ESTUDOS FUTUROS 24 O cultivo do café foi responsável pelo sexto ciclo econômico, sendo que as pri- meiras plantações tiveram início logo após a independência do Brasil de Portugal, em 1822. Por fim, no final do século XIX, a produção da borracha emergiu na Amazônia, dando origem ao sétimo ciclo econômico. Após esse ciclo, a economia do país passou ser muito diversificada, devido à industrialização, e não há mais como definir ciclos específicos. Pode-se dizer que a humanidade tem uma dívida com os povos ameríndios pelo uso do seu conhecimento etnobotânico, já que as principais fontes de alimentação no mundo hoje são espécies domesticadas a partir da sua cultura (STEHMANN; SOBRAL, 2017). A história do Brasil e da humanidade, em geral, está diretamente ligada ao uso de plantas na medicina popular e ao comércio de produtos naturais, como as especiarias e os corantes vegetais. Entre os elementos que constituem essa biodiversidade, estão as plantas medicinais utilizadas em comunidades tradicionais como remédios caseiros, sendo consideradas matérias-primas para fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos (FIRMO et al. 2012). Os jesuítas comercializaram, em escala mundial, os medicamentos derivados da flora brasileira, que passaram à condição de fármacos mais empregados em todo o império português. Entre as espécies vegetais que entraram em sua formulação estavam a Abuta rufescens Aubl., Aristolochia sp., Pothomorphe peftara Miq., Solanum paniculatum L., Senna occidentalis (L.) Link, Cephaelis ipecacuanha (Brot.) Tussac, Angelica archangelica L., Bixa orellana L. e Euphorbia hirta L. (ROCHA et al., 2015). As propriedades do ópio (Papaver somniferum) como sedativo e calmante, do óleo de rícino(Ricinus communis), da alcaravia (Carum carvi) e da hortelã-pimenta (Mentha piperita) como digestivo e da cila (Drimia urticaria) como estimulante cardíaco já eram conhecidas no Egito há mais de 4 mil anos. Os egípcios sabiam como preparar diuréticos, vermífugos, purgantes e antissépticos de origem natural. A Índia também teve um importante papel na descrição de plantas medicinais, principalmente devido à medicina Ayurvédica (ayur = vida; veda = conhecimento), baseada nos Vedas, o livro sagrado Hindu. No século I a. C., os indianos produziram um tratado médico intitulado Caraka, com mais de 500 plantas (ALVES, 2013). A utilização de plantas medicinais como estratégia terapêutica é prática comum há muitos anos, segundo Souza et al. (2017), que observaram que a realidade atual não diverge do panorama do século passado; estima-se que aproximadamente 30% dos medicamentos utilizados nos dias de hoje sejam derivados de produtos naturais. Desse modo, a seguir, no Tópico 2, discutiremos o uso medicinal de espécies vegetais. 25 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A abrangência da disciplina e a importância da disciplina na rotina do profissional de saúde. • Os termos e as definições descritos em compêndios oficiais e na legislação para entendimento da disciplina. • A variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo os ecos- sistemas terrestres, marinhos, aquáticos e ecológicos que compõe a biodiversidade. • A composição dos biomas brasileiros, no que se refere a diferentes espécimes. • O histórico do uso de materiais naturais como matérias-primas. RESUMO DO TÓPICO 1 26 1 No Brasil, podemos encontrar seis tipos de biomas: Amazônia, Mata Atlântica, cerrado, caatinga, Pampa e Pantanal. Sobre as espécies frutíferas e medicinais mais predominantes nesses sistemas, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Amazônia. II- Caatinga. III- Mata Atlântica. IV- Cerrado. ( ) Pequi, mangaba, araticum, caju, maracujás nativos, baru, cagaita. ( ) Brejaúva, indaiá, palmito, ingá-feijão, ingá-mirim, araçá, amorinha. ( ) Cacau, açaí, bacuri, castanha-do-pará, seringueira, cupuaçu, jaborandi, andiroba, copaíba e guaraná. ( ) Mororó, mandacaru, marmeleiro-preto, o mulungu, alecrim-da-chapada, alecrim- pimenta. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – II – IV – III. b) ( ) IV – III – I – II. c) ( ) I – III – II – IV. d) ( ) IV – II – III – I. 2 As algas marinhas são organismos utilizados como matéria-prima de produtos como medicamentos, combustíveis e cosméticos, além de serem alimento para animais e humanos. Entre os compostos produzidos pelo metabolismo desses organismos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Polissacarídeos sulfatados. b) ( ) Glicosídeos. c) ( ) Aminoglicosídeos. d) ( ) Pectina. 3 O uso das plantas nativas das Américas, quer como alimento ou remédio, é muito antigo. Registros arqueológicos demonstram que os ameríndios já usavam algumas espécies há mais de dez mil anos. Sobre os exemplos dessas plantas, assinale a alternativa INCORRETA: AUTOATIVIDADE 27 a) ( ) Abacate (Persea americana Mill.). b) ( ) Batata-doce (Zea mays L.). c) ( ) Mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.). d) ( ) Cacau (Theobroma cacao L.). 4 A canela foi uma das especiarias mais valiosas do mundo, sendo as espécies vegetais mais antigas conhecidas pela humanidade. Quais são as partes da planta utilizadas para a extração dos compostos responsáveis por suas propriedades? 5 Os compostos isolados podem ser utilizados como marcadores para garantir a qualidade ou identificar uma espécie vegetal. Diversas legislações brasileiras trazem definições acerca do tema. Explique qual a diferença entre um composto fitoquímico e um marcador fitoquímico. 28 29 ETNOFARMACOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Após conhecer um pouco mais sobre a amplitude da biodiversidade do planeta, dos ecossistemas brasileiros e, também, o contexto social, econômico e regional do uso sustentável de produtos naturais como alimentos e insumos, estudaremos as suas propriedades terapêuticas. Consideramos extremamente importante o uso das plantas na medicina através dos séculos, por promover alívio e cura para diversas doenças. Ao estudarmos a história da so- ciedade, encontramos diversos registros relacionados ao uso de produtos naturais, e esse conhecimento é passado de geração para geração até os dias de hoje. Como sabemos, as plantas possuem centenas de moléculas em sua composição, produzidas pelo seu próprio metabolismo, para que possam se desenvolver e sobreviver, mesmo em condições climáticas extremas, sendo muitas dessas moléculas biologicamente ativas para outros organismos. A ciência responsável por esse estudo é a Etnofarmacologia, definida como “a exploração científica multidisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem” (ELISABETSKY; SOUZA, 2017, p. 108). Ela envolve, em suas diversas etapas, diferentes áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Botânica e a Farmacologia. Nesse sentido, neste tópico, entenderemos mais sobre o uso dessas plantas, os riscos de interações com alimentos e medicamentos, além de das principais legislações que regulamentam a produção de medicamentos produzidos a partir da matéria-prima vegetal. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 O USO TRADICIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS Desde épocas remotas, as sociedades humanas acumulam informações e experi- ências sobre o ambiente que as cerca, para interagirem e proverem suas necessidades de sobrevivência. Entre tantas práticas difundidas pela cultura popular, as plantas sempre ti- veram fundamental importância, por inúmeras razões, sendo salientadas as suas potencia- lidades terapêuticas aplicadas ao longo das gerações (ALMEIDA; MARTINEZ; PINTO, 2017). O modelo de saúde hegemônico, vigente na sociedade ocidental contemporânea, está centrado no cuidado focado na doença, na especialidade de partes do corpo humano e no tratamento alopático. Cientificamente legitimado, esse modelo ignora outras dimensões de saber em que o cuidado segue a lógica da saúde, não se restringindo ao corpo humano, mas à família e à natureza, concretizada pela terra, pelo trabalho, pela seleção e pela produ- ção de plantas que possuem significado para aquele contexto cultural (CEOLLIN et al., 2011). 30 O registro do conhecimento da população sobre o uso tradicional é indispensável, uma vez que informações sobre o uso empírico das plantas encontram-se sob ameaça de desaparecimento, além do risco de extinção de espécies utilizadas nas práticas de cura. Portanto, esses conhecimentos precisam ser resgatados, valorizados e preservados (FREITAS et al., 2017). Nos últimos anos, tem ocorrido crescente interesse pelo conhecimento, pela utilização e pela comercialização de plantas medicinais no Brasil e em todo o mundo, o que tem proporcionado uma grande expansão desse mercado (FREITAS et al., 2017). Essas plantas são repositórios de insumos químicos para a indústria, como alternativas farmacoterapêuticas para o tratamento de diversas enfermidades, uma vez que as plantas são praticamente ubíquas em localidades onde a vida humana é possível. Dessa forma, as plantas utilizadas medicinalmente representam um recurso mais acessível em relação aos medicamentos alopáticos (SOUZA et al., 2017). Acredita-se que o cuidado por meio das plantas medicinais seja favorável à saúde humana, desde que o usuário tenha conhecimento prévio de sua finalidade, seus riscos e seus benefícios (BADKE et al., 2011). O tratamento convencional de inúmeras patologias, através da alopatia, pode levar ao surgimento de uma série de efeitos adversos. Diante disso, surge o advento da pesquisa para descoberta de novos medicamentos derivados de produtos naturais, sendo esse tratamento realizado a partir de preparos com planta in natura ou com o isolamento de seus metabólitos secundários – como veremos na Unidade 2 –, capazes
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