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Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Avelar Cesar Revisão Textual: Prof. Ms. João Paulo Magalhaes Sociologia do Trabalho Para iniciar a unidade, acesse o item Material Didático. Em primeiro lugar, você, acessará o conteúdo com o Material Teórico da unidade. Lerá o texto que apresenta a “Sociologia do Trabalho”. Em seguida, teste seus conhecimentos, respondendo as perguntas das Atividades de Sistematização acerca do assunto abordado. Você encontrará também dicas de Materiais Complementares, que enriquecerão ainda mais seu estudo sobre o tema. Por fim, realize a Atividade de Aprofundamento da unidade. Ela o levará a refletir acerca da teoria estudada, a partir da produção de um texto sobre um vídeo. Então, bom estudo e lembre-se em caso de dúvidas, estarei em contato com você através do ambiente virtual. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Fonte: filme Tempos Modernos de Charles Chaplin Este início de século propõe novos desafios a todos os estudantes, cidadãos e profissionais para entenderem as mudanças no processo e na organização do trabalho no mundo capitalista atual. Os processos recentes de reestruturação produtiva, neoliberalismo e acumulação flexível passam a ditar uma nova morfologia do trabalho que se traduz por uma maior precarização do trabalho e isto afeta a todos os que vivem do trabalho. Vamos iniciar esse estudo introdutório à sociologia do trabalho, buscando a compreender as principais transformações no mundo do trabalho na época atual. Contextualização Introdução O trabalho já foi considerado, a muito tempo atrás, como um castigo divino ou como um símbolo da dignidade humana, mas para a sociologia ele é estudado como um fenômeno social (CASTRO, 2009). Passagens da Bíblia Sagrada mostram a condenação de Adão a tirar o seu sustento através do trabalho: “maldita é a terra por sua causa: em fadiga obterás dela o sustento durante os dias de tua vida” (Gên. 3.17) e “no suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra” (Gên. 3.19). Xenofonte (430-354 a. C.) considerava o trabalho como a moeda de dor com que o homem compra os bens dos deuses. Para John Locke (1632-1704), o trabalho é a ação do homem sobre a natureza para criar riquezas. Jean-Jacques Rousseau (1713-778) dizia que comer sem trabalhar é roubo. Segundo Henri Bergson (1859-1941), trabalhar é criar utilidade (CASTRO, 2009). Podemos ver o quanto a abordagem sobre o trabalho é diversificado dependendo de cada pensador. O conceito de trabalho e o trabalho em si sofreram grandes modificações com o desenvolvimento da sociedade capitalista. A existência de uma sociedade do trabalho, como a nossa, é consequência da revolução industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII (CASTRO, 2009). Abordagens Sociológicas Clássicas do Trabalho CONCEITO DE TRABALHO Marx Trabalho é a fonte do valor dos produtos. Weber Trabalho é dever e vocação. Durkheim Trabalho é parte da divisão do trabalho social. Material Teórico Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920) e Émile Durkheim (1859-1917), os fundadores da sociologia moderna, desenvolveram análises do trabalho consideradas clássicas dentro da sociologia. Para Marx, o trabalho é considerado a fonte do valor, a origem da riqueza social. Esse conceito de valor-trabalho ele busca nos economistas ingleses Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1722-1823). Marx considera que o valor de um produto final (mercadoria) é determinado pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário para produzi- lo desde o início do processo (CASTRO, 2009). O preço é a forma monetária do valor. A partir desse conceito de valor-trabalho Marx vai desenvolver a teoria da exploração econômica do trabalhador dentro do capitalismo e a teoria da luta de classes no capitalismo. Para Weber, o conceito de trabalho dentro do capitalismo moderno não poderia ser separado do desenvolvimento de uma ética positiva do trabalho trazido pelo protestantismo. Em sociedades escravistas não há uma ética positiva do trabalho na medida em que trabalho é coisa de escravos. No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo ele estabelece o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber parte de dados estatísticos que lhe mostraram o destaque de protestantes entre os grandes homens de negócios, empresários bem-sucedidos e mão-de-obra qualificada. A partir daí, procurou estabelecer ligações entre a doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista (COSTA, 1998). Para ele, a relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios institucionais, mas por intermédio de valores interiorizados nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. A motivação do protestante é o trabalho enquanto dever e vocação, como um fim em si mesmo, e não para o ganho material obtido através dele. O ócio e a falta de vontade de trabalhar eram considerados um sintoma da ausência do estado de graça cristão. Já para Durkheim, o trabalho na sociedade capitalista faz parte da divisão do trabalho social (especialização), que é o elemento que garante a união social em sociedades diferenciadas como a capitalista. Ele chama de solidariedade o elemento que mantêm a união social e a divide em dois tipos: 1) solidariedade mecânica que predomina em sociedades pré-capitalistas onde os indivíduos se identificam por meio da família, da religião, da tradição e dos costumes, permanecendo em geral indiferentes em relação à divisão do trabalho social; 2) solidariedade orgânica é aquela típica das sociedades capitalistas onde os indivíduos se tornam interdependentes em função da acelerada divisão do trabalho social. Essa interdependência garante a união social em lugar dos costumes, da religião e da tradição. Ao mesmo tempo em que os indivíduos são dependentes uns dos outros, cada qual se especializa numa atividade e tende a desenvolver maior autonomia pessoal, tornando-se de fato um indivíduo (COSTA, 1998). Tendências recentes do capitalismo TENDÊNCIAS RECENTES DO CAPITALISMO Acumulação flexível Neoliberalismo Reestruturação produtiva - Mudança da rigidez do modelo fordista; - Flexibilidade do trabalho e mercado de trabalho; - Flexibilidade dos produtos; - Flexibilidade dos padrões de consumo. - Ataque ao Welfare State (Estado do bem-estar social); - Privatização de empresas estatais; - Políticas fiscais e monetárias para controle da inflação; - Desregulamentação dos mercados. - Intensificação da mudança tecnológica; - Passagem do fordismo para o toyotismo; - Difusão do novo padrão de organização da produção e da gestão. A sociedade capitalista contemporânea, particularmente nas últimas décadas, sofreu grandes transformações. O neoliberalismo e a reestruturação produtiva da era da acumulação flexível têm acarretado uma alta taxa de desemprego, a precarização do trabalho e uma degradação crescente da natureza que destrói o meio ambiente em escala globalizada (ANTUNES, 2001). A acumulação flexível dos anos 1970 émarcada por um confronto direto com a rigidez do sistema fordista. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, aceleração da inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego do chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então pouco desenvolvidas, por exemplo, os vários vales do silício (HARVEY, 2000). O mercado de trabalho passou por uma radical reestruturação. Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição e do estreitamento das margens de lucro, as empresas tiraram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) para impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis (terceirização, banco de horas, trabalho em tempo parcial, temporário, estagiários, etc.). O que sempre implica em alta rotatividade de mão-de-obra (HARVEY, 2000). Nos anos 1970, toma forma, nos países desenvolvidos, um processo amplo e variado de mudanças no padrão convencional da produção, caracterizada até então pela fabricação em massa de bens e serviços, típico do fordismo (GOMES, E. R.; SCANDELARI, L.; KOVALESKI, J. L., 2005). Essa reestruturação produtiva, enquanto conjunto de transformações técnico-científico, econômicas e sociais influencia e é influenciada pelo processo de globalização, enquanto conjunto de mecanismos de generalização do padrão dominante de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. A globalização pode ser entendida como um estágio mais avançado do processo histórico de internacionalização do capital, caracterizado pela: a) intensificação da mudança tecnológica; b) rápida difusão do novo padrão de organização da produção e da gestão; c) emergência mundial de um número significativo de setores oligopolizados; d) intensificação dos investimentos diretos no exterior pelos bancos e empresas transnacionais dos países desenvolvidos (GOMES, E. R.; SCANDELARI, L.; KOVALESKI, J. L., 2005). A nova forma de produção está ainda em desenvolvimento, fruto de uma competição acirrada pelos mercados cada vez mais segmentados, fazendo com que as empresas tenham que tornar mais eficiente sua capacidade de produzir e, ao mesmo tempo, maximizar sua capacidade de inovar, intensificando, em ritmo e volume, a criação de produtos e serviços. Isto as impele a adotar novos métodos de produção e novas formas de organização de trabalho (GOMES, E. R.; SCANDELARI, L.; KOVALESKI, J. L., 2005). Houve também uma enorme expansão de políticas neoliberais a partir da década de 1970. O neoliberalismo passou a ditar o programa a ser implementado pelos países capitalistas, inicialmente nos países centrais e logo depois nos países subordinados, contemplando reestruturação produtiva, privatização acelerada, enxugamento do estado, políticas fiscais e monetárias, sintonizadas com os organismos mundiais como o Fundo Monetário Internacional (ANTUNES, 2001). Comecemos com as origens do que se pode definir por neoliberalismo. O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na Europa e nos EUA. Foi uma reação teórica e política contra o Welfare State (Estado do bem estar social) e o Estado intervencionista. Seu texto de origem é O caminho da servidão, de Friedrich Hayek, escrito em 1944. Trata-se de um ataque contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política (ANDERSON, 1996). As características principais da política neoliberal são: a) Manter um Estado forte com capacidade de romper o poder dos sindicatos, mas com poucos gastos sociais e com poucas intervenções na economia. b) A estabilidade monetária (acabar com a inflação) deveria ser a objetivo supremo de qualquer governo. c) Privatizar todas as atividades estatais que o mercado pudesse suprir. d) Restaurar a taxa “natural” de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para diminuir os custos da força de trabalho. e) Reformas fiscais para incentivar os agentes econômicos, ou seja, reduzir impostos sobre os rendimentos mais altos (ANDERSON, 1996). Começou-se a desmontagem dos direitos sociais dos trabalhadores, o combate ao sindicalismo mais radical, a propagação de um subjetivismo e de um individualismo exacerbados (ANTUNES, 2001). Esses são traços marcantes deste período recente. Precarização do trabalho Podemos dizer que o mundo do trabalho vem sofrendo profundas mutações na atualidade. Sabemos que quase um terço da força humana disponível para o trabalho, em escala global, ou se encontra exercendo trabalhos parciais, precários, temporários, ou estão desempregados (ANTUNES, 2007). São bem mais de um bilhão de homens e mulheres que vivem no regime de trabalho precarizado, instável, temporário, terceirizado, quase virtual, etc. A precarização do trabalho pode ser entendido como um processo onde os novos postos de trabalho que estão surgindo já não oferecem aos seus ocupantes as garantias e compensações usuais que as leis e contratos coletivos vinham garantindo (SINGER, 2000). Há um movimento pendular que caracteriza a classe trabalhadora na atualidade: por um lado, cada vez menos homens e mulheres trabalham muito, em ritmo e intensidade Precarização do trabalho Processo onde os novos postos de trabalho não oferecem as garantias e remunerações que as leis trabalhistas e contratos coletivos vinham garantindo. que lembram muito o início da Revolução Industrial na Inglaterra. De outro lado, cada vez mais homens e mulheres trabalhadores encontram menos emprego, migrando pelo mundo em busca de qualquer trabalho, configurando uma crescente tendência de precarização do trabalho em escala global. Nessa nova morfologia do trabalho podemos presenciar a ampliação dos trabalhadores de telemarketing e call center, dos motoboys, dos digitalizadores que trabalham nos bancos, dos assalariados do fast food, dos trabalhadores dos hipermercados, etc. (ANTUNES, 2007). Dentro deste contexto, podemos constatar a ampliação de modalidades de trabalho mais desregulamentadas, distantes da legislação trabalhista, gerando uma massa de trabalhadores que passam da condição de assalariados com carteira de trabalho registrada para os sem carteira assinada. Se nos anos 1970 era relativamente pequeno o número de empresas de terceirização de força de trabalho, nas décadas seguintes esse número aumentou significativamente para atender à grande demanda por trabalhadores temporários, sem vínculo empregatício, sem registro formalizado. Ou seja, em plena era da informatização do trabalho, do mundo digital, estamos conhecendo a época do trabalho informal, dos terceirizados, precarizados, subcontratados, flexibilizados, trabalhadores em tempo parcial e do cyber-trabalhador. O resultado é que onde havia uma empresa concentrada pode-se substituí-la por várias pequenas unidades interligadas pela rede, com número muito mais reduzido de trabalhadores e produzindo cada vez mais (ANTUNES, 2007). O perfil desse novo trabalhador deve ser mais “polivalente”, “multifuncional”, diverso do trabalhador que se desenvolveu na empresa fordista. O trabalhoque cada vez mais as empresas buscam não é mais aquele fundamentado na especialização, mas o que se criou na fase do “trabalho multifuncional”, que em verdade expressa a enorme intensificação dos ritmos, tempos e processos de trabalho (ANTUNES, 2007). E isso ocorre tanto no mundo industrial quanto no de serviços. O trabalho estável torna-se, então, (quase) virtual. Estamos vivenciando, portanto, a erosão do trabalho contratado e regulamentado, dominante no século XX, e vendo sua substituição pelas diversas formas de “empreendedorismo”, “cooperativismo”, “trabalho voluntário”, “trabalho atípico” (ANTUNES, 2007). O exemplo das cooperativas talvez seja mais expressivo, uma vez que, em sua origem, elas nasceram como instrumentos de luta dos trabalhadores contra o desemprego e a exploração do trabalho. Hoje, contrariamente, as empresas vêm criando falsas cooperativas, Precarização do trabalho Cooperativas de trabalho Trabalho temporário como forma de precarizar ainda mais os direitos do trabalho. Essas “cooperativas patronais” têm sentido contrário à ideia original das cooperativas de trabalhadores, uma vez que elas são verdadeiros empreendimentos para burlar direitos trabalhistas e aumentar ainda mais as condições de precarização da classe trabalhadora. Similar é o caso do empreendedorismo, que cada vez mais se configura como forma oculta de trabalho assalariado e que permite proliferar as distintas formas de flexibilização salarial, de horário e funcional (ANTUNES, 2007). É neste quadro que as empresas globais estão exigindo também o desmonte da legislação social protetora do trabalho. E flexibilizar a legislação do trabalho significa aumentar ainda mais os níveis de lucratividade das empresas, ampliar as formas de precarização e destruição dos direitos sociais que foram duramente conquistados pelos trabalhadores desde o início da Revolução Industrial na Inglaterra (ANTUNES, 2007). O trabalho no Brasil Somente após 1930, o Brasil começa a integrar tanto as atividades econômicas como o mercado de trabalho. A crise de 1929, ao prejudicar o comércio internacional, induziu o desenvolvimento do mercado interno brasileiro que procurou substituir os produtos importados. O início da integração nacional propiciou a quebra da situação de isolamento dos mercados regionais, permitindo o início da migração dos trabalhadores nordestinos para a industrialização concentrada na Região Sudeste, em especial no estado de São Paulo (DEDECCA, 2005). Somente na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) iniciou o reconhecimento de uma organização sindical tutelada. Também, naquela década foram reconhecidos alguns direitos sociais do trabalho, bem como ganharam impulso os sistemas previdenciários por categorias de trabalhadores (DEDECCA, 2005). Entre 1930 e 1945, a política trabalhista de Vargas teve dois objetivos: a) Reprimir as iniciativas de organização dos trabalhadores urbanos fora do controle do Estado. b) Atrair os trabalhadores para apoiarem ao governo. Em novembro de 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Seguiram-se leis de proteção ao trabalhador, de enquadramento dos sindicatos pelo Estado e criavam-se órgãos para arbitrar conflitos entre patrões e operários (Juntas de Conciliação e Julgamento). Entre as leis de proteção ao trabalhador estavam as que regularam o trabalho das mulheres e dos menores, a concessão de férias, o limite de oito horas da jornada normal de trabalho (FAUSTO, 1998). Em julho de 1940, foi criado o imposto sindical – instrumento básico de financiamento do sindicato e de sua subordinação ao Estado. O imposto consiste em uma contribuição anual obrigatória, correspondente a um dia de trabalho, paga por todo empregado, sindicalizado ou não. Com o imposto sindical surgiu a figura do “pelego”. Pelego passou a ser o dirigente sindical que atuava mais no interesse próprio do que no interesse dos trabalhadores. Sua existência foi facilitada na medida em que não precisava atrair ao sindicato uma grande massa de trabalhadores. O imposto garantia a sobrevivência do sindicato (FAUSTO, 1998). Para decidir as questões trabalhistas, o governo organizou, em maio de 1939, a Justiça do Trabalho. A sistematização e a ampliação da legislação trabalhista se deu com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em junho de 1943 (FAUSTO, 1998). No campo da política salarial, o Estado Novo (1937-1945) de Vargas introduziu a lei do salário mínimo, capaz de satisfazer às necessidades do trabalhador conforme cada região, em maio de 1940. O país foi dividido em várias regiões. Com o correr dos anos o valor do salário mínimo deteriorou-se, até converter-se em uma importância irrisória (FAUSTO, 1998). Ao tutelar os sindicatos, o governo de Vargas transformou a negociação coletiva em um instrumento burocrático, reconhecendo o direito privado das empresas na gestão cotidiana das relações de trabalho. Ao mesmo tempo em que articulou toda uma extensa regulação do mercado e das relações de trabalho, Vargas atuou no sentido de impedir os mecanismos que pudessem transformá-la em realidade para os trabalhadores brasileiros (DEDECCA, 2005). Ao final do longo período de industrialização 1930-80, aproximadamente metade da população ocupada não tinha acesso ao sistema de proteção social constituído na década de 1940 (DEDECCA, 2005). O Brasil foi o último país da América Latina a implantar uma política neoliberal. Tal fato se deveu, de um lado, à dificuldade de conciliar interesses empresariais divergentes e, de outro, à intensa atividade política desenvolvida pelas classes trabalhadoras na década de 1980 – que se expressou na constituição do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT) e na realização de cinco greves gerais entre 1983 e 1989 (FILGUEIRAS, s/d). Com o fracasso do Plano Cruzado (1986/87) – bem como dos demais planos que se seguiram na segunda metade da década de 1980 – e das discussões travados na Assembleia Constituinte (1986-1988), a política neoliberal foi se desenhando e se fortalecendo, passando do campo teórico para se constituir em um programa de governo (FILGUEIRAS, s/d). Desse modo, nos anos 1990, o neoliberalismo implanta-se no Brasil, com toda força, a partir do Governo Collor (1990-92). O discurso liberal radical, combinado com a abertura da economia e o processo de privatizações inaugura a era liberal no Brasil (FILGUEIRAS, s/d). O projeto neoliberal foi implantado no Brasil em três fases: a) A primeira, entre 1990 e 1993, foi marcada pela ruptura com o “modelo de substituição de importações”, que caracterizava a industrialização brasileira; b) A segunda, de 1994 a 1998, dada pela ampliação e consolidação da ordem neoliberal no 1o governo Fernando Henrique Cardoso; c) Por fim, de 1999 até nossos dias, a fase de aperfeiçoamento do modelo, consolidando a hegemonia do capital financeiro no controle político-econômico do 2o governo FHC e no de Lula (SABADINI, s/d). As características gerais do projeto neoliberal já são bem conhecidas: abertura comercial e financeira, privatizações, flexibilização dos direitos trabalhistas, repressão e desarticulação dos movimentos social e sindical, política monetária e fiscal contracionistas, política social focalizada e, acima de tudo, a retirada do Estado da economia. A precarização do trabalho no Brasil Durante a década de 1980, impulsionado pelos movimentos sociais e sindicais que ganharam força pelo processo de redemocratização do Brasil, houve na verdadeum processo de ampliação da regulamentação sobre o mercado de trabalho, principalmente em torno da adoção de novos direitos sociais e trabalhistas, cuja concretização se daria com a promulgação de uma nova Constituição Federal em 1988 (CARDOSO JR., 2001). Já nos anos 1990, com a adoção das políticas neoliberais no Brasil tem início uma estratégia de desregulamentação do mercado de trabalho brasileiro, que se caracteriza por uma alteração gradual de itens importantes da legislação trabalhista consagrada na CLT e na Constituição de 1988 (CARDOSO JR., 2001). A forma pela qual vem sendo conduzida a desregulamentação do mercado de trabalho no país (por meio de medidas provisórias, emendas constitucionais, portarias e decretos), constitui uma estratégia deliberada do governo federal em aliança com poderosos grupos sociais de grandes empresários e parte do sindicalismo de resultados. Este amplo processo de desregulamentação do mercado de trabalho brasileiro pode ser constatado por um conjunto de medidas legais que promovem importantes mudanças na organização do trabalho do país (CARDOSO JR., 2001). No que diz respeito às condições de contratação e demissão da força de trabalho, bem como às condições que regulam a jornada oficial de trabalho no país, as primeiras iniciativas de desregulamentação ocorreram já em 1994, no governo Itamar Franco (1992-94). Em dezembro de 1994, foi editada a Lei nº 8.949, conhecida como lei das cooperativas. Ela declara a inexistência de vínculo empregatício entre as cooperativas e seus associados, de forma que os trabalhadores assim organizados não são empregados da cooperativa e não têm, portanto, registro em carteira, direitos trabalhistas como férias, 13º salário, previdência social ou descanso semanal remunerado (CARDOSO JR., 2001). Abriu-se assim a possibilidade da criação de cooperativas de mão de obra. Ainda em 1994 foi editada a MP nº 794, que garantiu aos trabalhadores a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) da empresa, participação esta desvinculada da remuneração contratual. Além de a PLR precisar ser objeto de negociação coletiva entre os empregados e a empresa, não pode ter periodicidade inferior a 6 meses, de forma a não substituir a remuneração contratual mensal. Com a regulamentação desta MP, o governo desonerou a transferência de recursos das empresas para os empregados a um custo mais baixo, pois o valor acertado na PLR não entra no cálculo das contribuições e direitos trabalhistas (CARDOSO JR., 2001). Já no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), na mesma linha da flexibilização das condições de uso da força de trabalho vieram a Lei nº 9.601 (jan./1998) e a MP (Medida Provisória) nº 1.709 (ago./1998). A Lei 9.601 trouxe novidades no que diz respeito à contratação de empregados e à jornada de trabalho. Por um lado, ela abriu a possibilidade de contratação de trabalhadores por tempo determinado, desde que em acréscimo aos postos de trabalho já existentes, por um período de até 24 meses. Por outro lado, a lei veio flexibilizar a jornada de trabalho com a criação do banco de horas, por meio de uma alteração do artigo nº 59 da CLT. O banco de horas permite que não haja pagamento adicional de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas trabalhadas em um dia for compensado pela diminuição em outro dia (CARDOSO JR., 2001). A MP nº 1.709, por sua vez regulamentou o trabalho por tempo parcial, permitindo, assim, uma jornada de até 25 horas semanais. Esse regime de trabalho vale tanto para novas contratações, como para os atuais empregados, desde que eles optem por este novo regime. Neste caso, o salário, assim como os demais direitos trabalhistas, será pago conforme a jornada de trabalho semanal. Se a pessoa trabalhar 25 horas por semana, seu salário será 60% do salário integral e suas férias podem ser reduzidas a 8 dias por ano (CARDOSO JR., 2001). Em junho de 1995 foi editada a MP nº 1.053 que suprimiu os mecanismos automáticos de reajuste salarial. Os salários e as demais condições de trabalho continuam a ser acordadas através da negociação coletiva, mas fica proibida a fixação de qualquer tipo de cláusula de reajuste ou correção salarial automática. Além da desindexação salarial, essa MP tornou possível, ainda, a adoção imediata do efeito suspensivo dos acordos, o que permite a uma das partes recorrer da decisão de um tribunal de instância inferior (CARDOSO JR., 2001). A desindexação salarial promovida pela MP nº 1.053 foi reforçada em 1997 com a MP nº 1.906, que não permite a correção automática por qualquer índice de reposição da inflação, assim como estipulou uma tabela de reajustes para os benefícios previdenciários que utilizava uma referência sem qualquer relação com a reposição salarial ou do custo de vida. Assim, a partir da MP nº 1.906, o reajuste do salário mínimo passou a ser definido no mês de maio de cada ano pelo Poder Executivo. Já em 2000, por meio do projeto de Lei Complementar nº 113, a União delegou aos estados a responsabilidade pela fixação do piso salarial, que não poderá ser inferior ao salário mínimo nacional do ano em questão (CARDOSO JR., 2001). Podemos assim ver que as tendências do capitalismo internacional se propagam também no Brasil revelando que o processo atual de globalização afeta a organização do trabalho e o mercado de trabalho indistintamente em todos os países com maior ou menor grau. Assista aos vídeos dos links abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=46JP22cwyJk&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=REbT7fv-4Ww http://www.youtube.com/watch?v=jkAY_yC0PEc&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=4YyQoTBYYcM&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=PZaoTcs8B30 Você também encontra muito material teórico no site do Google acadêmico http://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR Material Complementar ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Org.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático, 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. ANTUNES, Ricardo. Dimensões da precarização estrutural do trabalho, 2007. Disponível em: http://www.itcp.usp.br/drupal/files/itcp.usp.br/ANTUNES%20LIVRO%20GRA%C3%87A%202 007.pdf. Acesso em: 30/04/11. ANTUNES, Ricardo. Trabalho e precarização numa ordem neoliberal. In: GENTILI, P.; FRIGOTTO, G. (Org.). A cidadania negada, 5.ed. São Paulo: Cortez, 2001. 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