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Profa.Ivete Pieruccini 2013 Fundamentos em Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas e biblioteconomia: o nascimento de uma área PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Aula 3 - Roteiro Bibliotecas na Antiguidade Bibliotecas na Idade Média Princípios norteadores: sínteses PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Texto MARTINS, Wilson. As bibliotecas na Antiguidade e na Idade Média. In: _______. A palavra escrita: história do livro, da imprensa e da biblioteca. 2.ed. São Paulo : Ática, 1996. p.71-92 Vídeo: A biblioteca de Alexandria parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=z9qUrL3q8bg Filme O nome da Rosa (discussão) PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Etimologia: Biblioteconomia do Grego: Biblíon = livro + Théke = depósito + Nómos= lei, regra Conjunto de técnicas de organização e de gestão de livros/coleções, ou “a arte” das bibliotecas. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com As coleções Em paralelo à capacidade de produzir registros (de ações, do pensamento), o homem desenvolveu meios de organizar tais documentos, de modo a que os registros foram, gradativamente, constituindo a memória cultural, determinante, por sua vez, ao próprio pensamento. “Produzidas em uma ordem específica (...) as obras escapam e ganham densidade, peregrinando, às vezes na mais longa jornada, através do mundo social. Decifradas a partir dos esquemas mentais e afetivos que constituem a cultura (...) tais obras se tornam um recurso precioso para pensar o essencial: a construção de um vínculo social, a subjetividade individual, a relação com o sagrado” (CHARTIER, 1999, p.9) PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com A organização das coleções Não se sabe exatamente quando surgiu a capacidade de ordenar tábuas de argila, papiros ou pergaminhos. Provavelmente, quando os que dominavam a escrita perceberam/souberam da necessidade de ordená-los. O homem registra para reter, e o registrado não encontrável é igual ao inexistente... PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Organização das coleções Ordenação de tabuinhas de argila ou cobertas de cera: ideia mais primitiva da biblioteca →resultado do desejo e da necessidade quase instintiva de poder usar várias vezes uma informação, potencialmente significativa A biblioteca mais importante (que foi exumada) é a de Assurbanipal, no palácio de Nínive, do sec. VII AC: 20 000 tabletes ou fragmentos, descobertos por arqueólogo inglês, estão conservadas no British Museum. Ao lado de um grande número de títulos de propriedade, documentos oficiais e textos religiosos, encontraram-se textos científicos, matemáticos, de astronomia e medicina. Muitas tabuinhas pertencem a séries e trazem selos/etiquetas de localização. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Novas técnicas, novas coleções Os Egípcios ao substituírem as tabuinhas de argila –pesadas, desconfortáveis ao transporte, pelo papiro, fizeram enormes progressos, que beneficiaram os gregos e romanos. Pequenas bibliotecas foram instaladas nas escolas, palácios e templos. Uma das mais importantes: Ramsés II (1200 AC), com 20 000 rolos (volumen) Biblioteca de Efou, mais bem conservada, com um catálogo de livros sagrados Biblioteca de Tebas: inscrição no pórtico “Medicina da Alma”: Grécia e Roma dariam a esta epígrafe a plenitude de seu sentido. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas da Grécia Só se fizeram conhecidas por meio de textos. Autores da antiguidade datam do século VI AC a criação das primeiras bibliotecas públicas, atribuindo-as aos tiranos das cidades gregas (Policrato de Samos e Psístrato de Atenas). No século II AC, Eumenio abriu uma biblioteca pública em Pérgamo, no templo de Minerva (o projeto foi publicado por Bohn, em 1885). Em Alexandria o conceito de biblioteca tomou outras dimensões, com a constituição, pelo Egito grego, de uma “biblioteca nacional”, por principio dedicada a reunir e valorizar os tesouros de uma cultura. A Biblioteca de Alexandria, por várias vezes destruída, é atribuída a Ptolomeu , sob a influência de seu conselheiro Demétrios de Phalès, vindo de Atenas. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Biblioteca de Alexandria Acervo: cópia de cada uma das obras gregas, tradução de obras estrangeiras significativas, “roubo de originais dos navios mercantes”. Sabe-se que esta biblioteca fez de Alexandria a capital do saber, até os primeiros séculos da era cristã. Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=fVqz-IRck1I PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com A biblioteca de Alexandria e a biblioteconomia Na Biblioteca de Alexandria, segundo Pallier, “se originaram a biblioteconomia, a catalografia/catalogação e a crítica de textos” (2010, p. 7, c1961) O mais conhecido dos bibliotecários – Calímaco- (sec III AC), foi autor de um catálogo sistemático da literatura grega em 120 volumes. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com A expansão das bibliotecas A expansão da Grécia, no domínio das bibliotecas, se exerce sobretudo em Roma, por meio das sucessivas apropriações de acervos, como espólio de batalhas. Também por imitação aos governantes helênicos, os governantes romanos adotaram a prática de construir novas bibliotecas: o imperador Augusto criou a biblioteca Otaviana e a biblioteca do Palatino. Seguindo o exemplo, Tibério, Calígula, Trajano fundaram também bibliotecas públicas e tantas outras. Bibliotecas públicas foram estabelecidas de modo geral na Itália, nas províncias e colônias romanas. Além de espaços/salas específicos para leitura, os rolos de papiro eram dispostos em nichos com prateleiras ou em armários móveis. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com As novas tecnologias da escrita Antes do fim da Antiguidade, o papiro passou a ter a concorrência de uma matéria- prima nova: o pergaminho, que deu seu nome à cidade de Pérgamo, um antigo centro de fabricação. A substituição do rolo (volumen) pelo caderno (codex) teve sua origem pela imitação do díptico grego, formado por duas tabuinhas de madeira, recoberta de cera. Seu emprego foi um avanço importante, porque é mais econômico, simples e fácil folhear um livro que desenrolar um volumen e escrever sobre as duas faces da mesma folha. O codex liberou a mão para escrita, simultaneamente à leitura PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Transições Durante o século III o uso do codex (livro de pergaminho costurado) se generaliza. O fim do volumen, em torno dos séculos IV e V, coincide com o desaparecimento das grandes bibliotecas antigas, vítimas das guerras e do fanatismo. Mas desde o século III começam a prosperar as bibliotecas cristãs. No século IV, a maior parte das catedrais têm bibliotecas. Nessas bibliotecas, ligadas à vida da comunidade, os livros de liturgia e de exegese (interpretação profunda de um texto bíblico, jurídico ou literário) têm prioridade. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas da Idade Média Maiores bibliotecas: mundo muçulmano, em Bagdá, Córdoba, Cairo. No século VI o Império romano do Oriente e Império Romano do Ocidente evoluem de modo diferente: o império Bizantino, de língua grega e de religião ortodoxa, mantém tradições de centralização e da cultura clássica. O imperador e patriarcade Constantinopla mantém bibliotecas. Os monastérios de Constantinopla formam ateliês de copistas e centros de cultura que mais tarde vão expandir-se para o mundo russo, por meio dos conventos de Kiev e de Novgorod. Em 1204, o saque de Constantinopla pelos latinos desencadeará uma vasta transferência de manuscritos gregos para a Itália, acelerada até à conquista da cidade pelos turcos, em 1453. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas da Idade Média No Ocidente, o período que se estende do fim do século VI ao XV se divide em 2 partes distintas: VI e VII: desaparecem as bibliotecas pagãs públicas e privadas, os monastérios e catedrais tornam-se refúgio da cultura letrada. Após às invasões dos séculos IX e X, que destruíram inúmeros monastérios na Europa, as bibliotecas medievais retomaram seu crescimento. O nascimento das universidades, a extensão do meio letrado no século XIII e a transformação da produção do livro levaram a uma profunda mudança na organização das bibliotecas. A cultura clássica, cujos vestígios foram salvos pelas bibliotecas monásticas, e os novos saberes em língua vernácula equiparam-se aos bens da cultura religiosa. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com O nome da rosa Discussão do filme, tendo como foco a ordem da biblioteca Entende-se por ordem o conjunto de elementos que, articulados, definem as relações com o conhecimento (PIERUCCINI, 2004) Reconstruindo a narrativa do filme PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas eclesiásticas: funcionamento Coleções utilitárias, formadas visando às cerimônias litúrgicas que organizam os monges e clérigos, tendo em vista o programa de ensino das escolas monásticas e episcopais. Estas escolas obedecem a regras de leitura: leitura de livros sagrados, razão que faz multiplicar as bibliotecas nos monastérios e os ateliês de copistas (scriptorium) A cristianização da Inglaterra e da Germânia (Alemanha) é acompanhada de conventos do mesmo modelo. Santo Agostinho e seus sucessores levam manuscritos de Roma para Canterbury. A Irlanda também é um celeiro do catolicismo. No convento de Bobbio (norte da Itália), um artigo determina que o bibliotecário terá tanto a guarda dos livros como a chefia dos escribas. Estes importantes personagens nas crescentes instalações de bibliotecas na Europa, são responsáveis por fazerem chegar à posteridade os originais de obras seculares únicas. Há, por outros lado, exemplos de vandalismo:os palimpsestos, documentos raspados por economia, para neles serem transcritos novos textos. Assim, dentre outros, Plauto e Eneida, da biblioteca Ambrosiana, foram apagados para aí ser transcrito o livro dos Reis e textos árabes. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas eclesiásticas: funcionamento Nos séculos X e XII, as instituições monásticas se reerguem das invasões normandas, sarracenas ou bárbaras, e conhecem seu apogeu. Novas ordens são fundadas e se espalham por toda a Europa. O livro acompanha o monge em sua atividade: ofício, meditação, leituras na clausura, no capítulo ou no refeitório. Num mesmo convento, os livros são partilhados em diferentes armários: cofres, nichos ou reservas, onde os livros são organizados na horizontal. Muitos bispos criaram escolas e bibliotecas. Na França, as mais célebres são as do arcebispo de Reims (805-822), de Chartres, Beauvais e Rouen. Nos séculos XI e XII, as escolas das catedrais de desenvolvem em detrimento das dos monastérios e suas bibliotecas ganham muitas doações, tal como a Catedral de Notre-Dame de Paris. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com O bibliotecário medieval A biblioteca monástica era, em geral, essencialmente local de depósito/estocagem: o livro acompanha o leitor. O bibliotecário tornou-se, durante todo o período medieval, o responsável pela ortodoxia e a integridade material das coleções, ainda limitadas, porque o manuscrito era raro e difícil de fabricar. O trabalho do bibliotecário é executar inventários da coleção e registrar os empréstimos. Às vezes, aplicava-se a regra (Benoit) que mandava distribuir, no início da Quaresma, um livro a cada monge, que deveria lê-lo do começo ao fim e devolvê-lo no final do ano. Às vezes o monge pegava o livro diretamente do armário. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com O surgimento das universidades A partir do século XIII nascem as grandes universidades (monastérios e catedrais deixam de ser os únicos centros da vida cultural). Em consequência: maior desenvolvimento das bibliotecas e de laboratórios laicos de copistas. As ordens Franciscana, Dominicana e do Carmo (voto de pobreza), devotadas ao estudo, constituem ricas bibliotecas. A instrução espalha-se entre os laicos. O ensino repousa sobre a leitura comentada de algumas obras e da disputa (leitura e questionamento), torna o livro necessário aos estudantes, cada vez mais numerosos. Se não mais tão raro, o manuscrito ainda é muito caro/custoso, donde a criação de bibliotecas comunitárias. Elas se formam nos colégios, primeira estágio das universidades. A criação de bibliotecas da universidade é atestada a partir do sec XV (Orleans, Caen,Avignon), e no final desse século são as mais ricas. Em Oxford, o colégio de Merton dispõe de 1 200 manuscritos; em Praga, o colégio da nação Bohème possui 1 500. Em 1338, o colégio da Sorbonne tem 1720 manuscritos. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas universitárias medievais: funcionamento Nas universidades, aparece um outro tipo de biblioteca: a biblioteca de referência, magna libraria ou libraria communis, sala silenciosa e clara. No final do século XIII, na biblioteca da Sorbonne, 300 itens são acorrentados a 28 carteiras inclinadas. Esta solução, atestada desde 1289, permite o livre acesso sem riscos. Juntamente, mantém-se a parva libraria, cofres e armários onde se encontram mais de 1000 volumes, as cópias, as obras raramente consultadas e os manuscritos destinados ao empréstimo. Na Inglaterra, o exemplo mais antigo da “biblioteca acorrentada” data de 1320, em Oxford. Essa mutação atingiu rapidamente o Ocidente (Itália, Holanda...) Na França (Cluny), há manuscritos que foram conservados com fragmentos de correntes, bem como carteiras. Nos séculos XIV e XV, essas carteiras acorrentadas condicionam o plano e as disposições das bibliotecas, impondo uma nova arquitetura que contemplasse a acomodação e a funcionalidade dos usos dos livros e mobiliários. Dentre esses, enquanto os livros estavam sobre as carteiras no centro do ambiente, os muros das bibliotecas medievais eram disponíveis para receber decoração. Ficaram poucos exemplos disso. Um deles, foi o da biblioteca do capítulo de Puy, onde estão representadas as Artes Liberais: gramática, dialética, retórica, música. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas: um novo enfoque As bibliotecas traduzem a diversificação dos centros de interesse dos últimos anos da Idade Média: textos de teólogos parisienses, legistas italianos, romances e poesias em língua vernácula, mas também textos antigos, traduções de obras científicas de origem árabe ou grega. As coleções medievais respondiam sobretudo às exigências precisas de uma instituição ou de alguém em particular. As bibliotecas do Renascimento (período posterior) afirmam um novo modelo, o da biblioteca universal, base das pesquisas eruditas, propostas desde o século XIV na Itália. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Bibliotecas: início da reestruturação Bibliotecas abertas a um públicocada vez mais diverso e cobrindo outras disciplinas (não mais acervos litúrgicos e ascéticos) necessitavam de outras ferramentas de trabalho: catálogos acessíveis aos usuários, desenvolvimento de codificação, classificação sistemática, catálogos coletivos. Na nova ordem informacional pós-imprensa (século XV), para “para pôr ordem no domínio dos livros, seriam necessários (...não somente) filósofos-bibliotecários ou bibliotecários-filósofos, combinando os talentos de John Dewey (o filósofo pragmático), com os de Melvil Dewey, criador do famoso sistema decimal de classificação” (BURKE, 2003, p. 98) Com a organização das universidades e da multiplicação dos livros (“há tantos livros que nem tempo de ler seus títulos, Doni”), que se seguiu à invenção da imprensa, as bibliotecas devem ser reclassificadas, em razão de que mais do que uma ordem dos livros, percebia-se era a “desordem dos livros”. PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com Próxima aula: A era moderna: marcos iniciais da Biblioteconomia PDF created with pdfFactory Pro trial version www.pdffactory.com
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