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Plano Real
Contexto Histórico
O Plano Real entrou para a história do país para acabar com a inflação e iniciar um novo ciclo de desenvolvimento econômico. No entanto, até que o real fosse implantado, ocorreram diversas tentativas para conter o avanço dos preços. Todas elas tiveram resultados positivos nos primeiros meses de vigência, mas nenhuma foi bem-sucedida no longo prazo. 
Após a morte de Tancredo Neves, José Sarney lançou em 1986 o Plano Cruzado, que visava desinchar a inflação. O Cruzado (Cz$) substituiu o então Cruzeiro (Cr$), “cortando” três zeros da antiga moeda (um cruzado equivalia a mil cruzeiros).
O Governo Sarney adotou também a prática de congelar os salários (denominado gatilho salarial) até que a inflação atingisse 20%. Outra medida foi o congelamento dos preços por um ano. Os produtos tinham um preço fixo para os consumidores, porém a inflação continuou avançando, pois os setores produtivos foram perdendo seus lucros (já que não podiam aumentar os preços à medida que os gastos para a produção subiam). 
Para não perder dinheiro, as empresas começaram a produzir menos e, consequentemente, a circulação dos produtos foi diminuindo, entrando em escassez. O Governo precisou descongelar os preços, ocasionando, em seguida, o fim do Plano Cruzado. 
No primeiro semestre de 1987, o Ministro da Fazenda Luis Carlos Bresser Pereira lançou o Plano Bresser. O objetivo também era conter a inflação. A forma encontrada foi continuar congelando os preços, só que estes seriam corrigidos a cada 90 dias e acompanhados de reduções salariais.
	Em 1989, ainda durante o Governo Sarney, substituindo Bresser como Ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega lançou o Plano Verão. Nóbrega continuou congelando os preços e colocou mais uma moeda em circulação, o Cruzado Novo. 
	O Cruzado Novo substituiu o Cruzado, numa tentativa, também fracassada, de conter a inflação. Um Cruzado Novo correspondia a mil Cruzados, ou seja, houve novamente um corte de três zeros.
Já em 1990, Fernando Henrique Collor de Mello colocou em prática o Plano Collor, que foi marcado pelo confisco de depósitos bancários e da poupança de milhares de brasileiros e também a demissão voluntária de funcionários públicos. O objetivo também era de estabilizar a inflação e conter os gastos governamentais. Para isso, o Governo resolveu enxugar a liquidez e retirou todo o dinheiro de circulação. Valores acima de cinquenta mil Cruzados Novos depositados em poupança foram bloqueados e as pessoas ficaram impossibilitadas de movimentar seu dinheiro.
	Mesmo com essas medidas duras, a inflação já batia 82% ao mês naquele período. Como consequência, houve também aumento de tributos, fins de subsídios e cortes no setor público. Além disso, a hiperinflação desvalorizava diariamente o valor real da moeda brasileira, afetando a maior parte da população, no qual perdia seu poder aquisitivo.
Em 1990 ocorreu uma queda de 4,3% no PIB e a inflação era superior a 1.600% em 12 meses. Em 1993, logo após o Impeachment de Collor, o índice hiperinflacionário já era de mais de 2.400% no acumulado de um ano. 
Itamar Franco assumiu a Presidência da República interinamente no dia 29 de Dezembro de 1993, logo após a saída de Collor. Três trocas de Ministros da Fazenda se sucederam até a chegada de Fernando Henrique Cardoso. 
O que foi o Plano Real
O Plano Real foi um plano econômico brasileiro, desenvolvido em 30 de Junho de 1994. Este plano de estabilização econômica foi coordenado pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso durante o governo de Itamar Franco. A idealização do projeto e a execução das reformas econômicas e monetárias contaram com uma equipe econômica composta por Edmar Bacha, Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco e Pedro Malan. 
 O objetivo do plano foi reduzir e controlar o avanço da inflação elevada no país, o que já durava, aproximadamente, 30 anos. Só em 1993, a hiperinflação acumulada foi superior a 2.000%. Foram utilizados diversos instrumentos econômicos e políticos para a redução da inflação. Desde então, atualmente, ela gira em torno de uma média de 3% ao ano. 
Como o Plano Real entrou em vigor 
O Plano Real foi implementado em três etapas: o Programa de Ação Imediata (PAI), a criação da URV (Unidade Real de Valor) e, por fim, a implementação da nova moeda, o Real.
Programa de Ação Imediata (PAI): Período de equilíbrio das contas públicas, através de um arrocho orçamentário (tentativa de gastar menos e recolher mais através de impostos) com redução de despesas e aumento de receitas. O PAI foi uma série de medidas econômicas, elaboradas em julho de 1993, que preparou o Brasil para o lançamento do Plano Real. O programa apontou as seguintes necessidades: corte de gastos públicos de aproximadamente seis bilhões de dólares no orçamento de 1993; recuperação da Receita, através do combate à evasão fiscal; corte de repasses inconstitucionais, forçando Estados e Municípios a equilibrarem seus gastos por meio de cortes; ajustes nos Bancos Estaduais, buscando cortes de gastos e punindo irregularidades; e, por fim, a redefinição das funções dos Bancos Federais, buscando o enxugamento de sua estrutura.
Criação da URV (Unidade Real de Valor) para preservar o poder de compra da massa salarial: etapa que visou implementar uma unidade monetária que desindexasse a economia. Tratava-se de uma moeda atrelada à cotação do dólar comercial do dia anterior. Na prática, todos os preços cobrados na economia seriam marcados com o valor de URV, no entanto, no momento de realizar o pagamento, esses seriam convertidos em moeda circulante, no caso o Cruzeiro Real. A adoção dessa medida foi importante para estabilizar os preços sem congelá-los e sem haver confiscos de poupança (medidas essas que mostraram ser ineficientes).
Lançamento do Padrão Monetário de nome Real: a terceira e ultima fase foi o lançamento oficial do real, em 1° de julho de 1994. Na época, todos deveriam converter os seus Cruzeiros Reais (CR$) para o Real. A conversão era de R$ 1,00 para cada CR$ 2.750,00. O programa teve como base políticas cambiais (que regulou as relações comerciais do Brasil com outros países) e monetárias (utilizada como instrumento de controle dos meios de pagamento como o saldo da balança comercial, de capital e de serviços).
Principais medidas do Plano Real
Desindexação da economia: o Plano previa a eliminação da correção monetária automática de preços. O ajuste e reajuste de preços e valores passaram a ser anualizados e obedeceriam as planilhas de custos de produção. O motivo desta medida era a necessidade de se interromper o ciclo vicioso de corrigir valores futuros pela inflação passada, em curtos períodos de tempo.
Equilíbrio fiscal: outra medida foi o corte de despesas e aumento de cinco pontos percentuais em todos os impostos federais. Esta medida foi necessária, pois a máquina administrativa brasileira era extremamente grande e consumia muito dinheiro. O gasto excessivo por parte do governo foi um dos motivos da hiperinflação. Os planos de desindexação da economia que precederam o Plano Real (Cruzado, Bresser, Verão, Collor) fracassaram, pois se baseavam na premissa de que a inflação brasileira era puramente inercial. No entanto, o que se mostrou foi que a inflação era também muito influenciada pela demanda, especialmente impulsionada pela expansão monetária e pelo gasto público.
Abertura econômica: redução gradual de tarifas de importação e facilitação da prestação de serviços internacionais foi outra medida. O motivo pela abertura econômica é que havia temor que o excesso de demanda por produtos e serviços pressionasse a inflação, fenômeno ocorrido em 1986, durante o Plano Cruzado. Outro propósito da abertura econômica era forçar um maior desenvolvimento da indústria nacional, expondo-a a concorrência. Isto resultaria no aumento de produção a longo prazo e a maior oferta de produtos limitaria pressões inflacionárias.Contingenciamento cambial, com a manutenção do câmbio e controle do Banco Central: o câmbio foi mantido artificialmente valorizado. Esperava-se que isto causasse um aumento das importações e, consequentemente, o aperfeiçoamento da indústria nacional devido à concorrência com produtos importados.
Privatizações de setores siderúrgicos, petroquímico, de fertilizantes e de comunicações: eliminou-se a obrigação pública de financiar investimentos (o que causava inflação quando era feita pelo governo através da emissão de moeda sem lastro). Esta medida possibilitou a modernização das empresas que foram privatizadas.  A iniciativa privada financia os investimentos das empresas. Isto resulta não em inflação, mas em desenvolvimento, pois não envolve o orçamento do governo.
Políticas monetárias restritivas: O Banco Central, através do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) adotou uma estratégia de elevação gradual da taxa básica de juros. Também foi aumentada a taxa de depósito compulsório dos bancos. O aumento da taxa de juros tinha o propósito de financiar os gastos públicos excedentes até que se atingisse o equilíbrio fiscal e redução da pressão por financiamentos, que eram considerados agentes inflacionários. O compulsório dos bancos tinha o propósito de reduzir a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos e financiamento dos bancos. Isto também servia como uma medida para conter a inflação.
Os efeitos e as consequências do Plano Real
O Plano Real apresentou resultados econômicos tão significativos que Fernando Henrique Cardoso (que coordenou o Plano) conseguiu se eleger presidente da República nas eleições de 1994.
Os reflexos desse plano econômico repercutiram de forma benéfica para a econômica brasileira como um todo. Como a hiperinflação limitava e prejudicava o poder de compra da população (impedindo que as pessoas permanecessem com dinheiro por mais tempo), com a estabilização da moeda, permitiu-se que o consumo voltasse a crescer em níveis normais. 
No entanto, alguns anos depois de seu lançamento (e após algumas crises internacionais), algumas políticas econômicas foram revisadas e modificadas. Uma dessas mudanças foi o estabelecimento de metas de inflação por parte do Banco Central (ocorridas em 1999), no qual visava que a inflação não devesse ultrapassar um teto pré-estabelecido. Mesmo assim, a estabilidade da moeda permaneceu comparada com as décadas em que a hiperinflação prevalecia.
O efeito regulador do Plano Real foi imediato e positivo em seu propósito quase que instantaneamente. A inflação caiu de 46,60% em junho de 1994 para 3,34% em agosto do mesmo ano. Além disso, o país passou por uma fase de rápido crescimento do consumo e produção de emprego.
Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre 1993 e 1995 ocorreu uma redução de 18,47% da população miserável do país graças ao sucesso do Plano Real. 
Por fim, os efeitos em longo prazo ocorridos após o lançamento do plano foram: manutenção de baixas taxas inflacionárias e referências reais de valores; aumento do poder aquisitivo das famílias brasileiras; modernização do parque industrial brasileiro e crescimento econômico com geração de emprego.