Buscar

4 SUJEITOS DO DIP ESTADOS PARTE 1

Prévia do material em texto

SUJEITOS DE DIP
Existem várias opiniões sobre os sujeitos que integram a Sociedade Internacional. A doutrina já restringiu a participação a apenas Estados, mas as concepções mais modernas incluem pessoas jurídicas, como as Organizações Internacionais, e as mais contemporâneas, a pessoa humana.
O Direito Internacional, como é sabido, é a disciplina jurídica da sociedade internacional. Essa sociedade é formada por sujeitos (ou pessoas) a quem são atribuídos certos deveres e vantagens, consideradas as circunstâncias particulares de cada um. A qualificação jurídica de um ente como sujeito de DIP guarda, assim, duas conotações:
Uma passiva - a quem tal Direito é destinado direta e imediatamente, sem necessidade de intermediação (Ex: empresa, município, necessitam da representatividade do Estado).
e outra ativa - que se traduz na capacidade de atuação no plano internacional, sendo essa última compreendida como a noção de personalidade. Ou seja, é possível ser sujeito de DIP sem, necessariamente, ter personalidade para participar do processo de formação das normas jurídicas internacionais (capacidade plena). 
Atribuir personalidade jurídica é conferir um status de titular de direitos e obrigações. Cada sistema jurídico interno tem seu próprio conjunto de critérios para reconhecer essa personalidade bem como os limites de sua extensão. Essas noções nem sempre são coincidentes no plano internacional. 
A atribuição de personalidade internacional não é um estudo pacífico na doutrina. A princípio, a concepção clássica do Direito Internacional (Sec. XVII a XIX) manteve os sujeitos no âmbito interestatal, ou seja, apenas os Estados poderiam ser sujeitos de Direito Internacional, com capacidade de elaborar as normas internacionais além de serem seus destinatários imediatos. Depois do século XX, foram reconhecidos diversos outros atores internacionais, cuja atuação se destaca nas relações internacionais, como as organizações internacionais.
Correntes mais modernas, percebendo a evolução das relações internacionais, abrangem até outros entes igualmente ativos na sociedade internacional e que também assumem direitos e obrigações diretamente pelas normas internacionais. Outros sujeitos como o indivíduo, as empresas e as organizações não-governamentais (ONGs) podem invocar normas internacionais e até recorrer a certos foros internacionais.
Ainda assim, nenhuma das novas pessoas internacionais detém todas as prerrogativas dos Estados e organismos internacionais, como a capacidade de celebrar tratados, contando, dessa forma, com possibilidades muito restritas de recorrer a mecanismos internacionais de solução de controvérsias.
Por conta dessas limitações, parte da doutrina classifica os indivíduos, empresas, e ONGs como "sujeitos fragmentários" do Direito Internacional e, pelos mesmos motivos, há quem não reconheça sua personalidade internacional.
Ser destinatário das normas internacionais também não atribui a condição de sujeito de Direito Internacional. Dá-se quando uma norma internacional faz menção a pessoas específicas, como explica Guido Soares, a quem nos ordenamentos internos dos Estados se canalizam os direitos e deveres; a exemplo, o explorador de uma central nuclear, o proprietário do navio, os responsáveis por um estabelecimento comercial ou de pesquisa (em questões de responsabilidade civil, respectivamente, por danos nucleares, por poluição marinha por óleo e por lançamento ao meio ambiente de produtos a este danosos). Mesmo entendimento quando a norma se refere à natureza ou patrimônio cultural. Não há de se pensar que esses entes possuem personalidade internacional. Para atribuir personalidade jurídica o DIP utiliza-se de critérios próprios, que irão determinar quem são esses entes e qual a extensão de seus direitos e deveres. 
Classificação dos Sujeitos
Com base nos critérios mais aceitos entre a doutrina internacional, os sujeitos de DIP podem ser classificados em:
Estados
Coletividades Interestatais: as organizações internacionais em geral
Coletividades não estatais: entidades beligerantes e insurgentes, movimentos de libertação nacional e a Soberana Ordem Militar de Malta, Santa Sé e Cruz Vermelha
Indivíduos
ESTADOS SOBERANOS
O Estado surge como forma de organização social entre os séculos XV e XVI, com a finalidade de organizar as diversas atividades humanas dentro de um dado território, centralizando nas mãos do governante o poder jurisdicional sobre todos que ali estiverem, sejam nacionais ou não. 
A Convenção p de Montevidéu de 1933 sobre Direitos e Deveres dos Estados assim o define: 
O Estado, como pessoa de Direito Internacional, deve reunir os seguintes requisitos: a) população permanente; b) território determinado; c) Governo; e d) a capacidade de entrar em relações com os demais Estados
População permanente – A doutrina prefere utilizar-se do termo povo, representando este o conjunto de nacionais (natos e naturalizados) de um Estado, o que inclui aqueles que se estabeleceram permanentemente, com ânimo definitivo, independentemente da eventual união por laços comuns - como tradições, costumes, hábitos, língua, religião, origem etc. Adota-se a concepção político-jurídica, e não a sociológica, sendo esta mais ligada à idéia de nação (ou seja, uma comunidade moldada por uma origem, uma cultura, uma história e uma ideologia comuns, e que era constituída de pessoas com a mesma ascendência, ainda não integradas na forma política de um Estado) muitas vezes utilizada erroneamente para servir a regimes totalitaristas e eugênicos. O termo população faz menção ao conjunto de habitantes que estão em determinado território, mesmo estrangeiros, que serve para fins demográficos ou estatísticos. 
Território – pode ser entendido sob dois enfoques: político ou jurídico
Politicamente, representa a área geográfica contida dentro das fronteiras de um Estado, independente de seu tamanho.
Juridicamente, pode ser entendido, em regra, como toda área na qual o Estado exerça sua soberania. Pode incluir: o solo ocupado, subsolo, rios, lagos, mar territorial, espaço aéreo, etc. Nessas áreas o Estado detém jurisdição geral e exclusiva. 
É o elemento que garante existência física ao Estado.
Princípio da Continuidade – alterações políticas que o Estado venha a sofrer não alteram sua existência. Ele continua soberano sobre o seu território.
Governo – A independência de um Estado, sua soberania, é indicada pelo seu poder de autocomando, capacidade de eleger a forma de governo que pretende adotar, sem a ingerência ou a intromissão de terceiros. Também diz respeito à sua liberdade de condução política, interna e internacional, sem nenhum tipo de subordinação. È indiferente a forma de governo adotada, desde que esteja regularmente constituída e legitimamente reconhecida. A soberania abrange dois aspectos: interno e internacional. No âmbito interno, refere-se a um poder que tem supremacia sobre pessoas, bens e relações jurídicas dentro de um determinado território. No campo internacional, alude à igualdade entre os poderes dos Estados e à independência do ente estatal em relação a outros Estados, tendo como corolários princípios como o da igualdade jurídica entre os entes estatais soberanos e a não-intervenção nos assuntos internos de outros Estados.
Capacidade de relacionar-se com outros Estados - Alguns doutrinadores entendem que esse último mais uma consequência da personalidade do que propriamente um elemento constitutivo da mesma. 
Mazzuoli acrescenta, ainda, a finalidade como elemento social do Estado. Segundo ele, o Estado tem um papel no desenvolvimento de sua própria história e da humanidade, como um meio para que os indivíduos alcancem seus objetivos. Ou seja, todo Estado deve buscar o desenvolvimento da personalidade dos integrantes do seu povo, através de todos os meios necessários, e não meramente extrair o máximo de benefício para si mesmo. 
Parte da doutrina (teoria constitutiva) também menciona o reconhecimento internacional, visto queapós ser reconhecido como Estado soberano é que este poderá agir perante a comunidade internacional. O reconhecimento constitui a constatação formal- que normalmente se faz por melo de atos diplomáticos - de que novo ente soberano internacional passou a ter existência, de forma concreta e independente, e já está apto para manter relações com os demais componentes da sociedade internacional.
Obs: reconhecimento de Estado é diferente de reconhecimento de Governo. O governo pode ser considerado ilegítimo, no caso de um golpe por exemplo, e ter sua participação restringida na sociedade internacional, mas o Estado não deixa de existir.
Características do reconhecimento: 
Ato individual ou coletivo (um Estado ou em Assembleia de uma OI)
Unilateral (não depende de aceitação)
Político e discricionário (conveniência e oportunidade
Incondicional e irrevogável (como regra, mas cabe, por exemplo, exigência de respeito aos direitos humanos)
Retroativo (para a teoria declaratória apenas, pois compreende que o ato reconhece, não “cria” a personalidade do Estado, conforme estabelece a teoria constitutiva)
Entende-se modernamente que o reconhecimento é um direito do Estado e um dever da sociedade internacional. Em apenas um caso, modernamente raro de ocorrer, uma exceção poderia ser admitida em relação à regra acima colocada, no sentido de impedir que os Estados reconheçam a personalidade jurídica do novo Estado: quando este Estado tenha nascido por meio de flagrante violação das normas do direito convencional vigente (ou seja, em decorrência da prática de um ato ilícito).
Um Estado pode surgir de várias formas, antes de ser reconhecido. A maioria deles é fruto de conflitos armados e processos de unificação nacional. O princípio da autodeterminação dos povos foi um grande motivador dos processos de descolonização ocorridos no século XIX. Outras causas como emancipação (como no caso das Américas), desmembramento (ex: URSS) ou incorporação entre Estados (Ex: A Alemanha Ocidental pela Oriental), também podem servir de exemplo. 
Pierre-Marie Dupuys, internacionalista francês, descreve os direitos e deveres dos Estados (decorrentes de sua personalidade no DIP) em cinco categorias: 
Capacidade de produzir atos jurídicos internacionais – Como atributo de sua soberania, vem o direito de acordar obrigações através de tratados ou convenções internacionais. 
Capacidade de verem-se imputados fatos ilícitos internacionais – ou seja, poderão ver-se obrigados a reparar danos cometidos (sejam por ação ou omissão) em virtude de violação de obrigação internacional que tenha causado dano a outro Estado. 
Capacidade de acesso aos procedimentos contenciosos internacionais – podem ser diplomáticos ou jurisdicionais (arbitragem e tribunais internacionais)
Capacidade de tornarem-se membros e de participar plenamente da vida das organizações internacionais intergovernamentais – além de participar da criação da organização também poderá contribuir para a formação da vontade da OI, por meio de seu direito a voz e veto. , Mas esses direitos podem estar condicionados pelas normas dos tratados fundação das organizações intergovernamentais.
Capacidade de estabelecer relações diplomáticas e consulares com outros Estados - O também chamado direito de legação, que permite enviar representantes próprios junto a outros Estados ou organizações (legação ativa). Também gera o dever de receber e acreditar representantes de outros estados em seu território (legação passiva). É regulada por duas Convenções multilaterais: de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 e de Viena sobre Relações Consulares de 1963, além do costume internacional e de um tratamento generalizado nas legislações internas dos Estados.

Continue navegando

Outros materiais