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1 Projeto de Elementos de Máquinas Prof. Nassar 4. Molas Mecânicas: As molas mecânicas são os elementos flexíveis utilizados na construção das máquinas. A finalidade da mola é receber a energia das forças atuantes nas máquinas e transforma-la em deformação, podendo devolver ou absorver parte desta energia quando volta a sua forma original. As molas exercem função fundamental no comportamento estático e dinâmico do funcionamento das estruturas dos equipamentos mecânicos. Uma das aplicações mais conhecidas das molas é na construção da suspensão dos veículos de transporte. Neste caso podemos observar alguns aspectos muito importantes da aplicação destes elementos: - Deformação durante a aplicação da carga estática; - Reposição do conjunto à sua posição original durante a passagem por ondulações; - Comportamento de funcionamento em paralelo entre todas as rodas; - Influência na freqüência natural do conjunto; - Trabalho conjunto com o amortecedor. 4.1. Tipos de Molas: De acordo com a forma e estrutura construtiva, as molas podem ser divididas nos seguintes tipos principais: espirais cilíndricas ou cônicas, disco, planas, barra de torção, etc. Esta construção pode ser classificada segundo o tipo de carga atuante nas molas, conforme descrito abaixo: Espirais Tração Cilíndrica de secção redonda Compressão Cilíndrica de secção redonda Cilíndrica de secção retangular Cônica de secção redonda Cônica de secção retangular Torção Cilíndrica de secção redonda Outras Compressão Disco Anéis Maciças Torção Barra de torção Maciças Helicoidal Flexão Planas Feixe 2 As figuras a seguir apresentam alguns exemplos de molas mencionadas no quadro acima. A diversidade de aplicação das molas é muito grande, e da mesma forma a construção pode ter inúmeras variações. Apesar das diferentes formas construtivas as molas mais comuns apresentam a construção em forma helicoidal. Molas planas são comuns em veículos de carga, principalmente na forma de feixe de molas, em caminhões e camionetes. As molas prato (cônicas ou de Belleville) podem ser usadas para diferentes relações de força e deformação. Neste capítulo serão estudadas como exemplo para o dimensionamento as molas do tipo helicoidal que representam as aplicações mais comuns das molas. Uma característica importante que deve ser avaliada na utilização das molas são as diferentes formas de combinações através da associação das molas em série ou paralelo. a) Molas Helicoidais a Tração b) Mola Plana a Flexão c) Molas Helicoidais a Torção d) Barra de Torção Figura 4.1: Formas Construtivas de Molas 3 K1 K2 m K1 m K2 Figura 4.2: Associação das Molas 4.2. Dimensionamento das Molas: A seguir serão apresentados os principais requisitos para o dimensionamento das molas helicoidais, sendo apresentados alguns conceitos para o dimensionamento de molas submetidas à torção e molas planas. 4.2.1. Tensões nas Molas Helicoidais: A figura 4.3.a representa uma mola helicoidal de compressão construída com fio redondo carregada pela força axial F. O diâmetro médio da mola será designado por D e o diâmetro do arame representado por d. Considerando a figura 4.3.b, onde a mola aparece cortada, suponhamos que a parte removida seja substituída por uma reação interna na extremidade do arame. Neste caso podemos concluir que na condição de equilíbrio a reação será correspondente a força de cisalhamento F e a torção T = FD/2. Figura 4.3: a) Mola helicoidal carregada longitudinalmente; b) Diagrama de Corpo Livre 4 A tensão máxima atuante na fibra interna do fio será obtida na expressão: A F J rT max Substituindo os valores na equação, conforme os dados a seguir temos: max ; 2DFT ; 2dr ; 324dJ ; 42dA 23 48 d F d DF Definindo o valor de C pelo “índice de mola” que corresponde a uma medida da curvatura da mola temos: d D C A equação da tensão no arame pode ser simplificada da seguinte forma: 3 8 d DF K s O valor de Ks é definido como fator de correção de tensão de cisalhamento, sendo: C C Ks 2 12 O valor de C normalmente encontra-se entre 6 a 12, sendo que as equações definidas aplicam-se para situações estáticas e dinâmicas. A utilização de fios quadrados ou retangulares é bastante limitada na maioria das utilizações de molas helicoidais, normalmente são aplicados em locais onde exista limitação de espaço. A equação para o cálculo da tensão considera uma distribuição uniforme, válida para um fio reto. Porém, a curvatura provoca um aumento da tensão na parte interna da mola em relação à externa. Os fatores que definem esta condição são definidos nas expressões: 5 CC C KW 615,0 44 14 34 24 C C KB O valor KW é denominado “fator de Wall” e KB é denominado “fator de Bergstrasser”. Considerando que a diferença entre eles é de menos de 1% neste curso será adotada a segunda equação, por maior simplicidade. O fator de correção de curvatura é definido pela relação: )12)(34( )24(2 CC CC K K K S B c Para os cálculos da máxima tensão atuante no arame da mola usaremos a seguinte equação: 3 8 d DF KB 4.2.2. Deflexão das Molas Helicoidais: Para a determinação da relação entre a força e deflexão das molas helicoidais (k = F/y) utilizaremos o teorema de Castigliano. A energia total de deformação das molas helicoidais é composta pelo efeito da torção e do cisalhamento, conforme equação da tensão definida no item anterior temos para a relação de energia a seguinte expressão: GA lF JG lT U 22 22 Substituindo os valores de T, J, A definidos anteriormente e l = πDN: Gd DNF Gd NDF U 2 2 4 32 24 Nesta equação N = Na = número de espiras ativas. Aplicando o teorema de Castigliano para calcular a deflexão total temos: 6 Gd FDN Gd NFD F U y 24 3 48 Sendo C=D/d, simplificando a equação acima temos: Gd NFD CGd NFD y 4 3 24 3 8 2 1 1 8 A razão de mola, também conhecida como constante de mola k = F/y, será: ND Gd k 3 4 8 4.2.3. Molas de Compressão: A figura 4.4 apresenta os quatro tipos de extremidades para as molas de compressão. Figura 4.4: a) extremidades em pontas; b) extremidades esmerilhadas; c) extremidades em esquadro; d) extremidades em esquadro e esmerilhadas. O número total de espiras das molas, definido por Nt, é obtido pela simples contagem do número de espiras existentes. Considerando que as espiras em contato não contribuem para a deformação total da mola, o número de espiras ativas N é definida na equação: Nt = N + 2. O cálculo do comprimento sólido da mola LS é definido nas expressões apresentadas na figura 4.4. Para situações que necessitam precisão esta fórmula deve ser usada com cuidado e caso necessário a mola deve ser medida para obter o comprimento sólido. Os principais materiais utilizados na fabricação de molas são apresentadosnas tabelas a seguir: 7 Tabela 4.1: Aços de Molas de Liga e Alto Carbono Tabela 4.2: Coeficientes para Estimativa da Resistência à Tração dos Fios de Molas 8 Tabela 4.3: Propriedades Mecânicas de Alguns Fios de Molas Tabela 4.4: Tensões Máximas Admissíveis de Torção para Molas de Compressão – Cargas Estáticas O processo de fabricação das molas pode variar em função das características dimensionais. Na maioria das vezes são exigidos fabricação a quente e tratamento térmico dos arames. Algumas relações geométricas típicas são: D/d > 4 e d > 6 mm. As características dos materiais são apresentadas nas tabelas 4.1 a 4.4. A estimativa da resistência mínima a tração das molas pode ser obtida na expressão, com base nos valores de A e m definidos na tabela 6.2. mut d A S 9 Embora a resistência ao escoamento de torção seja necessária para projetar a mola e analisar o desempenho, os materiais das molas costumam ser ensaiados somente para resistência à tração. Uma estimativa bem grosseira da resistência ao escoamento de torção pode ser obtida assumindo que a resistência ao escoamento à tração seja entre 60 e 90% da resistência à tração. Neste caso, aplicando a teoria da energia de distorção podemos obter Sxy = 0,577Sut. A partir desta definição podemos definir o seguinte intervalo para a tensão de escoamento devido ao cisalhamento por torção: utsy 0,52S S 35,0 utS Exemplo: Uma mola helicoidal de compressão é feita de fio musical nº 16. O diâmetro externo da mola é de 7/16 in. As extremidades são esquadradas e existe um total de 12,5 voltas. a) Estime a resistência ao escoamento de torção do fio. b) Estime a carga estática correspondente às resistência ao escoamento. c) Estime a constante da mola. d) Estime a deflexão que seria causada pela carga em (b). e) Estime o comprimento sólido da mola. f) Que comprimento a mola deve ter para assegurar que, quando estiver comprimida sólida e então solta, não haverá mudança permanente no comprimento livre? yLL s 0 g) Dado o comprimento encontrado em (f), flambagem é uma possibilidade? D L 63,2 0 h) Qual é o passo da espira do corpo da mola? 4.3. Projeto das Molas de Compressão Helicoidais para Serviço Estático: Exemplo: Projete uma mola de compressão para carga estática para um intervalo de compressão conhecido. A mola deve fornecer uma força mínima de 50 kgf e força máxima de 75 kgf sobre um intervalo de ajustagem de 15 mm. Considerando a utilização para carga estática utilizar o material de baixo custo ASTM A227, não jateado e repuxado a frio. As extremidades devem ser em esquadro e esmerilhadas. Solução: A seguir é apresentada a seqüência típica para o dimensionamento e projeto da mola. 1. Escolha do diâmetro do arame: este valor deve ser adotado e caso necessário o diâmetro deverá adequado de acordo com os valores de tensões obtidos durante o cálculo. O 10 diâmetro deve ser de acordo com a disponibilidade de mercado. Neste caso será adotado d = 4 mm. 2. Considerando o valor do índice de mola no valor médio, temos: C = 8. Neste caso o diâmetro da mola D = 8d = 32 mm. 3. O valor de Ks é definido como fator de correção de tensão de cisalhamento definido na equação abaixo: C C Ks 2 12 Substituindo o valor de C obtemos Ks = 1,0625. O valor da tensão é obtido na expressão: 3 8 d DF K s Substituindo valores temos: 34 32758 0625,1 )(kgf/mm 45,101 2 4. O valor do limite de resistência à tração do material é definido na expressão: mut d A S Os valores conforme tabela são: A = 1783 Mpa.mmm e m = 0,190, portanto Sut será: 190,04 1783 utS )(1370 MpaSut A tensão de resistência ao escoamento sob torção é obtida na equação, conforme coeficiente definido na tabela 4.4, ou seja, 0,45 Sut: 11 )(kgf/mm 62S (MPa) 5,6161370.45,0 2xy syS 5. A relação entre a tensão máxima e a tensão limite de escoamento é definida por: utsy SS 61,0 45,101 62 sn O fator de segurança deve ser maior do que 1. 6. Neste caso devemos revisar o diâmetro selecionado para o arame, podendo criar uma tabela até obter este resultado desejado. d D τ Sut Ssy ns 5 40 65 131 59 0,91 6 48 45 127 57 1,27 Portando o diâmetro de 6 mm atende às especificações. 7. A constante de mola é definida pela relação entre a variação de força e deflexão desejada: )(kgf/mm 1,67k 667,1 15 5075 2 y F k 8. O valor do número de espiras e da constante de mola devem ser ajustadas na equação (G = 79,3 Gpa = 7,93.10³ kgf/mm²): ND Gd k 3 4 8 79,6 67,1488 1093,76 3 34 N Neste caso o valor do número de espiras ativas deve ser 7. O valor da constante de mola deve ser ajustado para o valor do arredondamento (k = 1,66 kgf/mm²). 12 9. Considerando as extremidades em esquadro e esmerilhada, temos: 9N 272 t NNt 10. A altura fechada da mola ou comprimento sólido é definido na expressão: mm 5469 sL 11. A deflexão devido a força inicial deve ser: mm 30 66,1 50 k F y inicialinicial 12. Considerando uma tolerância de contato correspondente a 15% da deflexão de trabalho, temos: mm 2,25 1515,0 tolerênciay 13. Comprimento livre da mola: trabalhoinicialtolerânciasf yyyLL 153025,254 fL mm 25,101fL 14. A deflexão para o fechamento da mola será: mm 25,47y 5425,101 fechada sffechada LLy 15. Os novos parâmetros corrigidos para esta condição são apresentados na tabela abaixo: Força para fechamento da mola τfechada ns F = 78,435 kgf 47,2 kg/mm² 1,2 16. Verificação da flambagem. O gráfico a seguir apresenta as condições para verificação da estabilidade da mola com relação à flambagem. 13 Calculando as relações conforme eixos das coordenadas acima temos: 44,0 25,101 1530 e 2,11 48 25,101 max f f L y D L Observamos no gráfico que a mola encontra-se na região de estabilidade. 17. As principais especificações da mola podem ser resumidas no quadro abaixo: Diâmetro do Arame d 6 mm Diâmetro da Mola D 48 mm Diâmetro Interno Dint 42 mm Diâmetro Externo Dext 54 mm Número de Espiras Nt 9 Comprimento Livre Lf 101,25 Constante de Mola k 1,66 kgf/mm 14 4.4. Projeto das Molas de Compressão Helicoidais para Cargas Cíclicas - Fadiga: O projeto de molas submetidas às cargas cíclicas segue os mesmos conceitos de dimensionamento utilizados para os demais elementos de máquinas. Neste caso os efeitos dinâmicos devem ser considerados em aspectos para a determinação da carga máxima, carga alternada, material e até mesmo da freqüência natural da mola. Um exemplo típico de aplicação de molas é no comando de válvulas de um motor de combustão. Neste caso a mola deve suportar milhões de ciclos de trabalho com relação à fadiga, sendo portanto dimensionada para uma vida infinita. Para melhorar as condições de resistência quanto à fadiga, durante o processo de fabricação as molas devem receber um jateamento por esferas que melhora as condições superficiais do material. Este tratamento aumenta resistência à fadiga devido a torção em valoressuperiores a 20%. São utilizadas esferas com diâmetro de 1/64 in, garantindo que toda a superfície dos arames seja atingida. Exercício Proposto Projetar uma mola de compressão helicoidal para carregamento dinâmico para um determinado intervalo de deflexão. A mola deve produzir uma força mínima de 30 kgf e uma força máxima de 75 kgf em um intervalo de deflexão dinâmica de 25 mm. A freqüência de excitação é de 1000 rpm. O equipamento deve ser dimensionado para uma vida de 10 anos em um único turno de trabalho de 8 horas por dia. Utilizar o fio musical ASTM A228 com jateamento. As fontes de consulta para este projeto são: 1. Shigley, Joseph E. – Projeto de Engenharia Mecânica. 2. Norton, Robert L. – Projeto de Máquinas: Uma abordagem Integrada. Observação: Este exercício será considerado como 20% do valor da segunda prova para os alunos que entregarem.
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