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Artigo Kant CORREÇÃO

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KANT - A METAFÍSICA DOS COSTUMES
Hiperativos Categórico e Hipotético e a Dualidade entre Mundo Sensível e Mundo Inteligível
KANT - THE METAPHYSICS OF CUSTOMS
Categorical and Hypothetical hyperactives and the Duality between the Sensitive World and the Intelligent World
CARVALHO, Thalison Matheus Maia 1
FELIX, Eduardo Marinho Kossoski 2
RESUMO
Este documento tem por objetivo realizar uma análise crítica aprofundada do livro “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” do autor Immanuel Kant publicado no ano de 1797. Objetivou-se em um primeiro momento evidenciar de maneira didática os conceitos de hiperativo categórico e hipotético, “Mundo Sensível”, o qual está diretamente ligado as inclinações da vontade humana e “Mundo Inteligível” que trata do ser racional relacionado ao princípio da autonomia da vontade pura. Diante disso, correlaciona-se os conceitos apresentados a uma concepção que direciona o ser humano principiologicamente a boa fé objetiva e subjetiva e sua dinâmica aplicada ao ordenamento jurídico brasileiro. 
 
Palavras-chave: Hiperativo Categórico; Hiperativo Hipotético; Mundo Sensível; Mundo Inteligível; Boa-fé; Ordenamento Jurídico Brasileiro.
ABSTRACT
The purpose of this document is to carry out an in-depth critical analysis of Immanuel Kant's book "Fundamentation of the Metaphysics of Customs", published in the year 1797. It was initially intended to demonstrate in a didactic way the concepts of categorical and hypothetical hyperactive, "World Sensitive, "which is directly linked to the inclinations of human will and" Intelligent World "which deals with the rational being related to the principle of the autonomy of the pure will. Thus, the concepts presented to a conception that directs the human being principiologically to objective and subjective good faith and its dynamics applied to the Brazilian legal order are correlated.
Keywords: Hyperactive Categorical; Hyperactive Hypothetical; Sensitive World; Intelligible World; Good faith; Brazilian Legal Order.
_____________
1Graduando do Curso de DIREITO da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, thalison.carvalho@aluno.ufop.edu.br; Ouro Preto – MG, dezembro de 2018.
2 Graduando do Curso de DIREITO da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, eduardo.felix@aluno.ufop.edu.br; Ouro Preto – MG, dezembro de 2018.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é uma análise crítica que, baseado no livro “Kant - A Metafísica dos Costumes”, evidencia a correlação dos hiperativos categóricos e hipotéticos entre as concepções de “Mundo Sensível” e “Mundo Inteligível” trazidas pelo autor na obra de maneira dinâmica. Após essa explicitação, busca-se relacionar o princípio da autonomia da vontade pura e o pensamento que norteia o ser humano em sua comportamento, baseando-se no princípio da boa fé objetiva e subjetiva, voltado ao ordenamento jurídico brasileiro. 
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste documento adotou-se a análise crítica do livro “Kant - A Metafísica dos Costumes” promovida em debates e seminários ao decorrer da disciplina “Direito e Cultura” ministrada pela Ilustre Professora Lorena Martoni Professora Substituta do Departamento de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto – DEDIR, Mestra e doutorando em “Direito e Justiça” pela Universidade Federal de Minas Gerais. Além disso, foi realizado a leitura de textos correlatos, como Kant & o Direito, de Ricardo R. Terra e A Teoria Moral de Kant, de Elliott Sober.
DESENVOLVIMENTO
	Immanuel Kant [1724–1804] realizou seus estudos a partir da investigação de como se dá o conhecimento, como o homem chega até a razão e o seu papel. O autor refuta a idéia de que o papel da razão é puramente instrumental, a concepção de que a racionalidade é somente instrumento norteador da ação e que em ultima instância seria movida pelo desejo e pelas crenças, a partir dessa concepção, percebe-se que para Immanuel Kant a razão embora em certa medida possa ser entendida como um caminho para que o ser alcance seus objetivos, não se restringe somente a isso. Kant acredita que embora tal afirmação seja verossímil em certa medida, esta estaria correta quando o ser deixa seu comportamento ser ditado pela inclinação. Entretanto, o autor ressalva que ao entrar em cena a figura moralidade os comportamentos são conduzidos pela razão.
Kant em sua análise afirma que a lei moral e a lei científica apresentam semelhanças, enquanto as leis Moraes ditam comportamentos, as leis científicas dizem o que são. Corrobora com esse pensamento Elliott Sober quando afirma: “As leis morais dizem como as pessoas devem comportar-se, não dizem o que as pessoas de facto farão. As leis morais são normativas, enquanto as leis científicas são descritivas.”. Entretanto, ressalva o autor que as leis científicas são universais e tem aplicabilidade em todo lugar e a todo tempo e em da mesma forma se assemelham as leis morais, pois, devem ser universais e não se aplicam a sujeito específico.
	
	O autor em sua obra busca distinguir e apresentar dentre outros pontos os conceitos de Imperatitivo Categórico e Imperativo Hipotético. De maneira sucinta pode-se afirmar que para o autor o Imperativo Categórico trata-se de uma obrigação para o sejeito moral concebida por Kant em sua obra “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” como dever, as ações do ser racional deveriam ser adotadas considerando sua importância por si própria, o ideal de qual atitude é a correta para ser adotada naquela situação considerando o que é moralmente aceito “O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (KANT, 1785, p.59). Em contraposição, o autor discorre a respeito do chamado imperativo hipotético que pode ser compreendido como base na racionalidade, as decisões tomadas pelo ser racional, neste caso, são baseadas em interesses específicos e determinadas de acordo com o que seja mais proveitoso para o ser, nas palavras do próprio filósofo: “a ideia da vontade de todo ser racional como uma vontade legisladora universal”. Neste caso, observa-se que o autor destaca a supremacia da vontade do ser seria a causa de suas ações. 
“Todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma ação possível como meio de alcançar qualquer coisa que se quer ou que é possível que se queira. O imperativo categórico é aquele que nos representa uma ação como ojetivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade. No caso da ação ser apenas boa como meio para qualquer outra coisa, o imperativo que ordena é hipotético; se a ação é boa em si, então o imperativo é categórico” (KANT, 1785)
	As compreenções de mundo inteligível e sensível estão diretamente relacionadas com o imperativo categórico. Para melhor compreender tais relações se faz necessário primeiramente realizar a diferenciação entre os conceitos de“Mundo Sensível” e de “Mundo Inteligível”, de acordo com o posto pelo filósofo grego Platão, “Mundo Sensível” é o mundo material, físico, no qual vivemos, onde temos contato com as sensações e somos influenciados por elas. Através dessas sensações, considerando esta vertente, afirma-se que por meio das experiencias do mundo sensível é que o ser racional conhece o mundo em que vive e se limita a este conhecimento. Já o “Mundo Inteligível”, desse modo, pode ser compreendido como sendo o mundo das idéias, do pensamento, no qual, o ser racional não estaria dominado pelas sensações e restrito a experiências sensíveis, neste caso, o ser racional consegue pensar abstratamente a coisa, de maneira que as coisas são definidas pelo pensamento.
Logo, a partir da compreensão dos conceitos de mundo inteligível e mundo sensível é possível de maneira mais clara relaciona-lo ao imperativo categórico e melhor compreender essa relação. Em um primeiromomento, deve-se analisar a dualidade entre os conceitos dos mundos inteligível e sensível. Conhecimento inteligível nada mais é que a capacidade que o sujeito tem de representar as coisas conceitualmente, isto é, representar os dados que não podem ser captados pelos sentidos. Dessa forma, o mundo inteligível deve ser entendido como uma hipótese em que a razão é enxergada sem influência dos fenômenos da causalidade para se pensar a si mesma como prática. O ser racional transpoem-se mundo por ser dotado de liberdade e reconhece a autonomia da vontade junto com a consequência da moralidade. Por outro lado, o conhecimento sensível é adquirido pela experiência, pelos sentidos, portanto é influenciado pelas inclinações e vícios da eventualidade. Devido à isso, as vontades do ser racional que se encontra como membro do mundo sensível são influenciadas por desejos e paixões que acabam por afastar a razão de suas condutas. 
Para melhor compreender tais relações se faz necessário primeiramente realizar a diferenciação entre os conceitos de“Mundo Sensível” e de “Mundo Inteligível”, de acordo com o posto pelo filósofo grego Platão, “Mundo Sensível” é o mundo material, físico, no qual vivemos, onde temos contato com as sensações e somos influenciados por elas. Através dessas sensações, considerando esta vertente, afirma-se que por meio das experiencias do mundo sensível é que o ser racional conhece o mundo em que vive e se limita a este conhecimento. Já o “Mundo Inteligível”, desse modo, pode ser compreendido como sendo o mundo das idéias, do pensamento, no qual, o ser racional não estaria dominado pelas sensações e restrito a experiências sensíveis, neste caso, o ser racional consegue pensar abstratamente a coisa, de maneira que as coisas são definidas pelo pensamento.
É necessário, pois, a relação desses hiperativos e dualidade de mundo inteligível e sensível com o intstiuto da boa-fé, o qual foi amplamente adotado pelo Direito Civil, principalmente após 2016, ano em que entrou em vigor o novo Código de Processo Civil, trazendo diversos dispositivos que se contemplam a boa-fé em seu texto. Isso se deve pelo fato da existência de um novo paradigma de Estado que tem como um dos seus principais valores a tutela da pessoa humana. O princípio da boa-fé está ligado a conduta humana, a qual deve ser livre de vícios que possam corromper uma relação jurídica, estando dividida entre boa-fé subjetiva e objetiva.
	A boa-fé subjetiva está ligada à convicções internas, estado psicológico e interioridade no agir dos indivíduos. Essa subjetividade reflete nas ações adotadas por qualquer ser dotado de razão, pois é o que determina se a ação está perfeitamente conforme o princípio da autonomia da vontade pura. Isso quer dizer que essas ações são determinadas pela razão, obedecendo um dever moral que estará presente em toda externização do estado pscicológico humano. O ser racional, como inteligência e pertencente do mundo inteligível, em tese, tem suas ações livre de qualquer tipo de heteronomia, ou seja, influência de algo externo que prpvoca a criação de leis nos indivíduos. Ao mesmo tempo em que é membro do mundo inteligível, o ser dotado de razão é também pertencente ao mundo sensível, visto que suas ações são fenômenos da causalidade. Isso quer dizer que nossas ações, ao serem influenciadas por desejos e inclinações, nos torna parte do mundo sensível. 
	Por outro lado, a boa-fé objetiva diz respeito a fatos sólidos de conduta que devem estar de acordo com a lealdade, honestidade e confiança depositada em uma relação jurídica. É, portanto, ligado à um dever moral de agir voltado a razão, buscando um fim em si mesmo para que determinada ação esteja livre de inclinações que a torne viciosa. Sendo uma conduta que segue determinado dever moral, estaria relacionada com o mundo inteligível. Mas a boa-fé objetiva, por se tratar do agir em determinada relação concreta, está sujeita a ser influenciado por fatores externos, tornando essa relação parte do mundo sensível. É necessário, desse modo, estabelecer a coexistência da dualidade de mundos inteligível e sensível por meio da possibilidade de um imperativo categórico nas ações que devem estar de acordo com o instituto da boa-fé.
	Para que seja possível um imperativo categórico, o mundo inteligível deve ser entendido como uma hipótese em que a razão é enxergada sem influência dos fenômenos da causalidade para se pensar a si mesma como prática. Isso quer dizer que deve-se considerar as leis do mundo inteligível como imperativos para agir conforme o dever moral e adaptá-los a realidade. Essa realidade é sujeita a inclinações e desejos que corrompem a autonomia da vontade pura. Ao corromper essa autonomia, trata-se então de um ação do mundo sensível. Desta forma, as ações enxergadas como fenômenos da causalidade devem buscar fundamento no mundo inteligível para que sejam um dever moral possível que assuma uma conduta sólida em determinada relação jurídica. O princípio da boa-fé, posto isso, deve ser aplicado às relações jurídicas com a consciência de que contém, concomitantemente, elementos tanto do mundo inteligível quanto do sensível, sendo o primeiro fonte onde deve buscar a fundadamentação do dever moral para obter êxito nas relações em que se espera um agir de acordo com pretextos de confiança. A boa-fé subjetiva estando ligada a vontade e, portanto, ao mundo inteligível, contém o fundamento no mundo sensível. Deve-se considerar as leis do mundo inteligível como imperativos para agir conforme os deveres da moral.
	Pelo fato do ser racional possuir liberadade para desenvolver suas vontades, ele se torna membro do mundo inteligível. Devido à isso, suas ações, em tese, são livres de vícios e inclinações e ligadas ao princípio da autonomia da vontade pura. Essa autonomia só é possível quando o agir do ser racional está ligado a razão pura, fazendo com que as condutas que são desenvolvidaas com base nesse princípio estão de acordo com o entendimento do conceito de dever moral.
“O dever moral é, pois, um próprio querer necessário seu como membro de um mundo inteligível, e só é pensado por ele como dever na medida em que ele se considera ao mesmo tempo como membro do mundo” (KANT,Immanuel.Fundamentação da Metafísica dos Costumes,1785, p. 103)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
	Kant, em sua Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), visa analisar o conceito de moralidade e principalmente identificar o princípio supremo da moralidade. Para tanto, parte do conhecimento de senso comum da moralidade, elucidando em nossos juízos cotidianos sobre o valor moral das ações o princípio subjacente a estes juízos. A questão de fundo é saber o que faz uma ação ser moralmente correta. Para Kant, a ação moralmente correta é a que não apenas está de acordo com a lei moral, mas que é praticada por causa da lei moral. E a lei moral nos é ditada pela razão pura. Por isso, ao agirmos moralmente afirmamos nossa liberdade, nossa autonomia, ao impingirmos a nós mesmos a lei moral. 
	Kant estabelece que é a lei moral que especifica os princípios que se aplicam a todos os seres racionais. Entretanto, como somos seres finitos e com necessidades, experimentamos a lei moral como restrição, pois ela independe de nossos desejos e aspirações ditados pela necessidade natural. Por este motivo a lei moral nos é apresentada como um imperativo, pois determina nossa vontade como um mandamento em um caminho particular. E tal imperativo é categórico, pois determina nossa vontade de maneira incondicional, independentemente dos fins que porventura tenhamos adotado previamente. Assim, a lei moral se apresenta a nós como um dever. 
	Kant então analisa o modo que o dever se aplica a nós enquanto seres finitos e com necessidades, mas ao mesmo tempo seres razoavéis e racionais. Através dessa análise Kant chega à formulação do procedimento do imperativo categórico. É o procedimento do imperativo categórico que articula a lei moral às nossas circunstâncias da ordem da natureza. Tal procedimentoespecifica o modo que a lei moral se aplica a nós, identificando a máxima envolvida na ação e a submetendo ao seu crivo. 
CONCLUSÃO
A lei moral, segundo Kant, vale incondicionalmente, ainda que precisemos sacrificar nossos desejos mais caros, nossa própria felicidade para agirmos por causa da lei moral, e sermos assim plenamente autônomos, livres. Se trata então não de simplesmente alcançarmos a felicidade, mas de sermos dignos dela. Esse agir pelo qual somos dignos da felicidade, é o agir moral, o qual se deve pelo fato da possibilidade de um imperativo categórico que permite que as condutas tenham um fim em si mesma e sejam morais por si só. Dessa forma, assim como o imperativo categórico é possível diante da coexistência dos mundos inteligível e sensível, é possível que o princípio da boa-fé incida perante as condutas dos sujeitos de direitos gerando uma coexistência entre o dever moral e observância das normas existentes no ordenamento jurídico brasileiro. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAGIOS. Magnus. O Imperativo Categórico Kantiano e a Dignidade da Pessoa Humana. Revista Opinião filosófica, Posto Alegre, V. 08, N° 1., 2017.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: Edições 70 Ltda., 1997.
OLIVEIRA, N. M.; ESPINDOLA, C. R. Trabalhos acadêmicos: recomendações práticas. São Paulo: CEETPS, 2003.
DOS SANTOS, Júlio César Guzzi. Uma reflexão filosófica sobre a boa-fé, autonomia da vontade e os limites morais nos contratos de prestação de serviços celebrados com instituições financeiras - 2016 – Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=20303&revista_caderno=15 – Acesso em 02/12/2018.
SOUZA, Rodrigo , Kant e a Crítica da Razão – 2010 – Disponível em: http://professorrodrigosouza.blogspot.com/2010/08/kant-e-critica-da-razao.html - Acesso em 03/12/2018. 
JORNAL DE FILOSOFIA; Imperativo categórico e imperativo hipotético, - 2013 –Disponivel em: http://jornaldefilosofia-diriodeaula.blogspot.com/2013/03/imperativo-categorico-e-imperativo.html Acesso em 03/12/2018.
SOBER, Elliott, A teoria moral de Kant, - 2006 – Disponível em: https://criticanarede.com/eti_kant.html. Acesso em 01/12/2018.

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