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Aula 10 : As tentativas de estabilização econômica (1985-1994): dos Planos heterodoxos ao Real Lavínia Barros de Castro in Giambiagi (2005) “Esperança, Frustação e Aprendizado: a História da Nova República, 1985-1989”. Período da Nova República (1985-1989) = conjunto de experiências malsucedidas de estabilização da inflação. No governo José Sarney foram lançados 3 Planos de estabilização: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987) e Plano Verão (1989). Apesar do fracasso no combate à inflação, no período, houve rápido crescimento econômico = 25% de expansão acumulada do produto entre 1985-1989. Período serviu de aprendizado para experiências e teorias de combate à inflação. Debate sobre as causas da inflação no Brasil Período de 1981-1983: recessão, com ajuste externo e interno. Período a partir de 1984: relativo crescimento do PIB (5,4% em 1984 e 7,8% em 1985), com melhora contas externas e redução do desequilíbrio das contas públicas. Principal problema: inflação, que não cedia, mesmo nos períodos de recessão. Inflação passa do patamar de 100% ao ano entre 1980-1982, para 200% ao ano a partir de 1983, com a maxidesvalorização cambial. Fortalecimento da tese de que a correção monetária (implantada pelo PAEG, nos anos 1960) era um elemento que dificultava o combate à inflação. Necessidade de desindexar a economia brasileira. Mas não havia consenso em como fazê-lo. Quatro propostas de desindexação em 1984: 1) “Pacto Social”: elaborada pelos economistas do PMDB e Unicamp; A proposta dizia que a inflação no Brasil resultava de uma disputa entre os setores da sociedade por uma maior participação na renda, ou seja, “o conflito distributivo”. Cada grupo buscava uma parcela da renda maior para si. Assim, a cada momento, uma parcela da população conseguia aumentar sua participação na renda real através de reivindicação de aumento nos rendimentos. No momento seguinte, outro grupo reivindicava o aumento, corroendo o ganho real do primeiro grupo. Esse processo realimentava a inflação. No longo prazo a distribuição da renda era a mesma, mas com aumento da inflação. O fim do “conflito distributivo” seria possível apenas em uma democracia. Fim da inflação seria possível com o convencimento dos trabalhadores e empresários de que a estabilização era um bem maior. Fim da inflação com o fim do aumento de preços por parte de todos. 2) “Choque Ortodoxo”: defendido por economistas da FGV. Contraposição aos defensores do “Pacto Social”. A inflação no Brasil, como no resto do mundo, era causada pela excessiva expansão monetária para financiar o governo que tinha um gasto maior do que a arrecadação. Causa da inflação = gasto público em uma economia em que o Estado era muito grande. Era preciso promover o “Choque Ortodoxo”: severos cortes de gastos, aumento da arrecadação e diminuição da emissão de moeda e títulos da dívida. Também era preciso desindexar a economia (todos os mecanismos de correção deveriam ser extintos), com liberalização total de preços. 3) “Choque Heterodoxo” de Francisco Lopes, da PUC-Rio e; 4) “Reforma Monetária” de André Lara Resende e Pérsio Arida, ambos da PUC-Rio. Principal causa da inflação no Brasil, do ponto de vista estatístico: componente de realimentação da inflação passada (componente inercial). Questionamento da relevância do déficit público como causa da inflação. A inflação brasileira não era resultado do aumento da demanda em relação à estrutura da oferta = comprovado pela ineficácia dos programas (contracionista) do FMI para estabilizar a inflação no início dos anos 1980. Causas da inflação = indexação que perpetuava ao longo do tempo. Não acreditavam no “Pacto Social” como solução da estabilização. O fim da inflação seria pela desindexação, mas não pelo acordo voluntário (Pacto Social). Proposta atrativa do ponto de vista político: a) promover a estabilização de preços sem políticas restritivas de demanda. O fim da inflação traria um natural processo de remonetização da economia nos meses iniciais. b) caráter neutro do ponto de vista distributivo. A desindexação colocaria salários e rendimentos em seus valores médios de equilíbrio. Melhoraria a situação distributiva da população que não tinha acesso a ativos indexados. Diferenças entre propostas de Francisco Lopes e Lara Resende & Pérsio Arida. Francisco Lopes: problema solucionado com um pacto de adesão compulsório (congelamento de preços). Lara Resende & Pérsio Arida: congelamento “engessava” a economia, causando distorções alocativas. Proposta “Larida”: desindexar a economia via moeda indexada que circularia junto com a moeda oficial. Planos Cruzado, Bresser e Verão seguiram a proposta do congelamento. Plano Real seguiu a proposta “Larida”, com modificações. Inflação Inercial Inércia inflacionária é resultado de contratos com cláusulas de indexação, segundo Francisco Lopes. Numa economia indexada, a tendência inflacionária torna-se a própria inflação do período anterior e pode agravar-se com um choque de oferta (quebra safras agrícolas, choque petróleo) ou choque de demanda (descontrole fiscal). Ponto fundamental: as fontes de flutuação (passageiras) são incorporadas à tendência inflacionária (tornam-se permanentes). Plano Cruzado: Em 1985 o país apresentava melhora nas contas externas e nas reservas internacionais, além disso, tinha-se um cenário econômico favorável. Contudo, medidas gradualistas para controle da inflação não surtem efeito e alta dos preços chegou a 235% neste ano; Neste ano o Ministro Dílson Funaro (que se identificava com o diagnóstico inercialista) substituiu Francisco Dornelles. Diante da incapacidade de se conter a escalada dos preços e do fracasso das medidas ortodoxas anteriores, adotou-se o Plano Cruzado em 28/02/1986 = o primeiro de uma série de planos de estabilização que a economia iria ver nos próximos anos. Grupos de medidas: reforma monetária e congelamento; desindexação da economia; índice de preços e caderneta de poupança; política salarial. Reforma Monetária e congelamento: Substituição do cruzeiro pelo cruzado como nova moeda do sistema monetário brasileiro, 1 cruzado equivalendo a 1.000 cruzeiros; Objetivos da reforma monetária: a) criar a imagem de uma nova e forte moeda; b) permitir uma nova intervenção dos contratos = nova unidade monetária Preços de bens ficavam congelados a partir de 28/02/1986 e a taxa de câmbio vigente no dia anterior ao Plano câmbio ficou fixa. Congelamento de preços e câmbio. Controle de preços: Tabela da Superintendência Nacional de Abastecimento de Preços (Sunab) – lista de preços de bens a ser respeitada = “fiscais do presidente”. Desrespeito = crime contra a economia popular. Desindexação da Economia: ORTN’s (criadas em 1964, no PAEG) foram extintas e substituídas pelas Obrigações do Tesouro Nacional (OTN’s), com valores congelados por um ano e os contratos não poderiam ser reajustados em período menor. Obrigações denominadas em moeda velha e reajustadas conforme Tablita de conversão de cruzeiros para cruzados a taxa de 0,45% ao dia, para apurar inflação ente dez/1985 e fev/1986 = acabar com expectativa de inflação embutidas nas obrigações e que eram transferidas entre os agentes. Índice de Preços e Caderneta de Poupança: deslocamento do período de apuração do IPCA, que passou a ser denominado pelo IPC, novo índice para eliminar inflação de fev/1986. Poupanças teriam rendimentos trimestrais e não mais mensais. Objetivo era suprimir fenômeno de ilusão monetária (queda do rendimento nominal e despoupança). Política Salarial: Salários em cruzados seriam calculados pela média dos últimos 6 meses em valores correntes e um acréscimo de 8% para os saláriosem geral e de 16% para o mínimo. Introdução da escala móvel de salários (gatilho): reajuste salarial automático a cada vez que o aumento acumulado no nível de preços ao consumidor atingisse 20% = proteger salários reais médios de inflação acima do nível que aciona o gatilho. Salários ficariam congelados e renegociações poderiam ser feitas caso a caso. Os dissídios passam a ser anuais. Sucesso rápido do Plano para contenção da inflação e queda do desemprego. Porém: Aceleração do consumo sobre uma demanda já aquecida. Havia também inflação de demanda no processo, e não apenas inflação inercial. Queda das receitas do governo (fim do imposto inflacionário) e congelamento de tarifas públicas. Política monetária acomodatícia: expansão do crédito e concessão de abonos salariais. Percepção de que o congelamento seria passageiro. Percepção de expansão de oferta da moeda e valorização de ativos financeiros = Bolsas de Valores, ativos reais e ágio no mercado paralelo de dólar (apostas contra o Cruzado). Sinais de desabastecimento na economia, filas e ágio. Divergência na equipe do plano = Lançamento do Cruzadinho (23/07/1986), um pacote fiscal para desaquecer economia (investimentos em infra e social) com expurgo do índice de inflação e evitar o gatilho = descontentamento da população. O governo resistia às pressões pela desvalorização do Cruzado e pelo fim do congelamento de preços e salários (eleições de novembro). Temia-se que realinhamentos dos preços ocasionassem uma retomada inflacionária e a ativação do mecanismo de gatilho salarial. Após as eleições estaduais, foi decretada outra reforma econômica: o Cruzado II. Cruzado II: novo pacote fiscal com objetivo de aumentar a arrecadação em 4% do PIB. O governo efetuou um reajuste de preços de 5 bens de consumo básicos e de impostos (energia, correios, telefones, táxis, leites e remédios) = volta da inflação. A elevação dos preços levou ao disparo do gatilho salarial que realimentava a inflação, pressionava as taxas de juros e piorava as contas externas = fim do Plano em fev/1987 e descongelamento dos preços. Fev/1987: Moratória sobre o pagamento dos juros da dívida externa e queda da entrada de recursos externos. Abr/1987: Dílson Funaro deixou o Ministério da Fazenda dando lugar para Luiz Carlos Bresser Pereira em 12/06/1987 Erros do Plano Cruzado: Diagnóstico da inflação puramente inercial estava equivocado. Abonos salariais contribuíram para explosão do consumo. Condução das políticas monetária e fiscal foi frouxa. Duração longa do congelamento: 11 meses (previstos 3 meses). Diferentemente dos salários, os preços foram congelados em seus níveis correntes e não médios = distorções de preços relativos. Gatilho salarial agravou a questão da indexação. A “economia informal” ficou fora do congelamento. O câmbio fixo (de fevereiro a novembro), com crescimento da demanda = deterioração contas externas. Defasagem preços públicos no congelamento = piora situação fiscal do governo. Plano Bresser (12/06/1987) Objetivo: promover choque deflacionário na economia para conter a inflação e evitar uma hiperinflação. Plano híbrido: diagnóstico da inflação: inercial e de demanda. Lado ortodoxo: políticas fiscal e monetária rígidas. Lado heterodoxo: congelamento de preços e salários em 3 fases: congelamento total por 3 meses, flexibilização do congelamento e descongelamento. Política cambial: desvalorizações diárias para evitar desequilíbrios externos. Plano atingiu alguns objetivos: baixou inflação e o déficit público e expandiu os saldos comerciais = fim da moratória da dívida externa. Problemas vindouros: perda de credibilidade, os desequilíbrios dos preços relativos e superávits comerciais causaram pressões inflacionárias, os juros altos inibiram o investimento e a reforma tributária que fazia parte do plano foi barrada por restrições de ordem política. Demissão de Bresser Pereira em dez/1987 (inflação mensal de 14,14%) é substituído por Maílson da Nóbrega em jan/1988. “Política do Feijão com Arroz”: Objetivos: cortar o déficit operacional de 8% para 4% e levar inflação para 15% ao mês. Suspensão temporária dos reajustes do funcionalismo público e o adiantamento dos aumentos de preços administrados. Choque agrícola desfavorável. Tal política foi malsucedida e, em julho de 1988, a inflação já ultrapassava 24% ao mês e os preços públicos foram reajustados. O fracasso dessa nova tentativa levou o governo a decretar um novo plano econômico: o Plano Verão. Plano Verão (15/01/89): plano de caráter misto Nova moeda (Cruzado Novo): correspondia a mil cruzados e paridade de 1:1 com o dólar. Preços congelados por tempo indeterminado e os salários foram convertidos pelo poder de compra médio dos 12 meses anteriores, reajustados em 26,1% (extinção do indexador dos salários). Transferência de rendas entre credores e devedores, ao não instaurar regras para a conversão das dívidas pós-fixadas (extinção da ORTN e OTN-fiscal). Logo, alguns aumentos foram autorizados, o Cruzado Novo foi desvalorizado e o congelamento começou a ser desfeito. A indexação voltou a ser praticada com a criação do Bônus do Tesouro Nacional (BTN). Incapacidade de conter consumo antes do fim do congelamento e trabalhadores reivindicavam aumentos salariais. Inflação: limiar da hiperinflação, chegando a uma taxa anual de 1764,86% em 1989. Fim do governo Sarney: verdadeiro caos político e econômico. Não havia credibilidade e sustentação política ao governo após tantos planos fracassados. Conclusões: Planos econômicos, 1985-1989: Avanço da teoria da inflação inercial, porém, sua ocorrência não foi única, ou seja, a demanda agregada também estava aquecida em 1985/86. A cada plano de estabilização a inflação caía menos e voltava a se acelerar de forma mais intensa. A cada período de estabilização se seguem movimentos naturais de expansão da demanda = necessidade de contê-los com políticas mais rígidas. Gatilho: acelerador da inflação Congelamentos: alteração significativa dos preços relativos e descongelamentos difíceis de serem administrados = temor de novos congelamentos. Congelamentos não foram boas saídas para a desindexação da economia e solução da inflação, sendo apenas solucionada após a implantação do Plano Real em meados da década de 1990. Sucessão de erros de concepção e condução de política econômica fizeram fracassar os planos de estabilização do período. Lavínia Barros de Castro in Giambiagi (2005) “Privatização, Abertura e Desindexação: A Primeira Metade dos anos 1990” Anos 1990 = primeiro presidente (Fernando Collor de Mello) eleito pelo voto direto desde 1960. Inflação = mais de 80% ao mês, com economia estagnada. Proposta do governo Collor = ruptura do modelo de desenvolvimento econômico brasileiro com elevada participação do Estado e proteção tarifária. Início da abertura comercial e financeira, com pouca atenção para a política industrial. Questão prioritária = combate a inflação. A mudança de modelo de desenvolvimento econômico Crescimento economia brasileira entre 1950-1980 = 7,4% ao ano = política de substituição de importações, mas também de alguma promoção de exportações (como no “milagre”). Características do Modelo de industrialização brasileira do pós-guerra: a) participação do Estado para oferta de infraestrutura (energia e transportes), b) proteção à indústria nacional (tarifas e barreiras não tarifárias), c) crédito com condições favorecidas para novos projetos. Papéis do Estado no PSI: a) indutor da industrialização via crédito, câmbio, tarifas, b) empreendedor, para eliminar os pontos de estrangulamento da economia, c) gerenciador recursos cambiais. Sequelas do modelo de industrialização: a) estruturade incentivos distorcidas em certos setores (alguns segmentos de bens de capital, não atingiu escala e não houve transferência de tecnologia), b) certo viés antiexportador (exportava em setores que tinham incentivos), c) endividamento do Estado (II PND). Apesar disso, há certo consenso de que a estrutura industrial estava completa e integrada no início dos anos 1980. Entretanto, enquanto o país combatia a inflação nos anos 1980, a indústria deixava de acompanhar os avanços tecnológicos e organizacionais dos países desenvolvidos. Ano de 1989 foi realizado um encontro do Instituto Internacional de Economia onde John Williamson indicou reformas que os países em desenvolvimento deveriam adotar para ter o crescimento autossustentado = “Consenso de Washington”: disciplina fiscal, liberalização comercial e financeira e forte redução do papel do Estado na economia. Privatização e Abertura Ano de 1990, no Governo Collor = Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE): promover competição e competitividade na indústria nacional que produzia “carroças”. Ênfase da PICE = privatizações (internas) e reforma tarifária e de comércio exterior (externa). Plano Nacional de Desestatização (PND) foi prioritário para redesenho do parque industrial, reduzir dívida pública. Na prática não foram concretizadas todas as privatizações previstas entre 1990-94 (Collor e Itamar Franco). Principais setores = siderurgia, petroquímica e fertilizante. Mudanças de Política de Comércio Exterior = câmbio livre incentivou livre importação, com extinção de regimes especiais de importação. Reforma tarifária com reduções graduais ao longo de 4 anos. Plano Collor I, 15/03/1990 Reintrodução do cruzeiro como padrão monetário e novo congelamento de preços de bens e serviços. Aumento da arrecadação via criação de novos tributos, aumento do IPI, IOF e redução de prazos de recolhimento, redução do número de Ministérios (23 para 12) = demissão de funcionários. Implementação do regime de câmbio flutuante. Maior mudança na área financeira = sequestro da liquidez (todas as aplicações financeiras acima do limite de cerca de US$ 1200 foram bloqueados por 18 meses, com devolução em 12 x iguais a partir de 1991). Desindexação parcial da economia = eliminação da moeda indexada (depósitos bancários ou contas remuneradas com contrapartida títulos públicos e privados de overnight) que seria de reserva de valor e unidade de conta. Resultado prático do Plano Collor I: redução da inflação de 80% ao mês para 10% nos meses seguintes, mas com forte retração econômica. Mas a inflação voltou a acelerar ao longo do ano. Substituição de Zélia Cardoso de Mello por Marcílio Marques Moreira e lançamento do Plano Collor II em fev/1991. Objetivos do Collor II: racionalização dos gastos públicos e aceleração do processo de modernização da indústria. Fim de indexação, com o fim da BTN que servia de base para a indexação dos impostos e fundos de investimento de curto prazo. No lugar foi criado o Fundo de Aplicações Financeiras, tendo a TR como rendimento, baseada na inflação futura e não passada. Crise política com o impeachment de Collor tornou o plano insustentável. Plano Real Em 1993, o ministro da Economia do governo Itamar Franco, FHC, implementou um plano de estabilização conhecido como Plano Real, apoiado por uma equipe de economistas (maioria da PUC-RJ), dentre os quais se incluem Gustavo Franco, Winston Fritsch, Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida. Originalmente em 3 fases: a) ajuste fiscal (equilíbrio contas do governo para eliminar a principal causa da inflação), b) criação de um padrão estável de valor (URV), c) nova moeda. Ao contrário dos planos anteriores, o Real não incluiu congelamento de preços. Fase 1: Ajuste Fiscal (PAI e FSE) A primeira etapa do Real foi implantada com o Programa de Ação Imediata (PAI) em 06/1993; e Fundo Social de Emergência (FSE) em 02/1994 . A necessidade de equilibrar as contas públicas implicava efetuar uma ampla reorganização do setor público e de suas relações com a economia privada. Para tanto, o governo diagnosticava as seguintes necessidades: a) redução dos gastos da União; b) equacionamento das dívidas de estados e municípios com a União; c) controle mais rígido dos bancos estaduais; d) saneamento dos bancos federais; e) aperfeiçoamento do programa de privatização, ou seja, redução da participação do governo na economia por meio da privatização das estatais. Necessidade de promover saneamento dos bancos públicos e privados = dificuldades com o fim da inflação. Medidas do PAI: a) corte orçamentário de US$ 6 bilhões em 1993; b) proposta de orçamento de 1994 deveria ser baseada em estimativa realista de receita, em vez de nortear-se pelas pretensões de gastos do governo; c) encaminhamento de projeto de lei que limitasse as despesas com os servidores civis em 60% da receita corrente da União, assim como dos estados e municípios, o que permitiria exercer maior controle sobre gastos com funcionalismo; d) elaboração de projeto de lei que definisse claramente as normas de cooperação da União com estados e municípios. Essa lei também estabeleceria a obrigatoriedade dos estados e municípios de se manterem em dia em seus débitos com a União para receber verbas federais. Essa rigidez legal foi imposta por ser um elemento essencial para outras etapas do Plano Real. O aprofundamento do ajuste foi viabilizado a partir da criação do Fundo Social de Emergência, cujo objetivo era equilibrar o orçamento com o financiamento dos programas sociais brasileiros e atenuar a excessiva rigidez dos gastos da União determinada pela Constituição de 1988. Aprovado o Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF). Combate à sonegação (aumento fiscalização grandes empresas, proibição de empresas com dívidas fiscais de participarem de licitações). Ajuste fiscal seria condição básica para a reforma tributária. Bancos estaduais: a) o BC deveria exercer um controle mais rígido sobre os bancos estaduais, com severo cumprimento das normas relativas ao montante mínimo de capital dessas instituições, bem como limitação na concessão de empréstimos para entidades do setor público; b) promoção da reestruturação dos bancos estaduais e federais, para racionalizar suas estruturas, tornando-os mais competitivos. O Banco do Brasil teria sua vocação agrícola incentivada. Privatizações: a) o equilíbrio fiscal demandava o fim das transferências para empresas estatais deficitárias; b) transferência para o setor privado dos custos necessários a modernização da infraestrutura. Fase 2: a URV A URV foi implementada em 05/1994 e serviu como transição para a introdução de uma nova moeda. Seu objetivo era proporcionar aos agentes econômicos uma fase de transição para a estabilidade de preços. O cruzeiro real, introduzido em 1993, estava se desvalorizando a taxas crescentes, o que alimentava aumentos constantes de preços e salários. A URV foi utilizada para restaurar a função de unidade de conta da moeda, que havia sido destruída pela inflação, bem como para referenciar preços e salários. O BC emitia, diariamente, relatórios sobre a desvalorização do cruzeiro real e a cotação da URV. Em pouco tempo provocou-se uma indexação generalizada da economia. Empresários e empregados utilizavam a URV para determinar preços e salários. Por motivos jurídicos e sociais, os salários e os benefícios previdenciários foram os primeiros valores a serem convertidos para URV, seguidos pelos contratos e preços num processo que se desenvolveu durante três meses. O pressuposto básico do Plano Real foi o da neutralidade distributiva. Salários foram convertidos pela média de quatro meses. Ao transformar negócios prefixados em pós-fixados, o novo padrão monetário levou osagentes a analisar de maneira criteriosa seus custos e iniciou um processo de eliminação da memória inflacionária facilitado pela ampla disseminação da URV. Fase 3: a nova moeda Grande parte dos valores havia sido convertida para a URV, a nova moeda – o real – foi introduzida sem que houvesse um consenso de que a transição já estava completa. Em 07/1994, o governo decretou a MP do Plano Real, acusado de render-se a objetivos eleitorais. O governo alterou radicalmente a política monetária, tornando-a mais rígida. Estabeleceu-se um teto máximo na taxa de câmbio, um real equivalia a um dólar; O BC detinha US$ 40 bilhões em reservas, porém a taxa de câmbio não era fixa, mas o BC e o CMN tinham instruções bem rígidas com relação à necessidade de manutenção do teto máximo. A valorização ocorrida em sua fase inicial foi muito criticada. Produção, Renda e Emprego em 1994 O PIB cresceu 5,6% em 1994 e o setor industrial apresentou expansão de 7%. Embora muitos que acreditassem que o programa seria recessivo, a economia manteve-se em expansão nos primeiros três meses de 1995. Ao adotar, no final de 1995, medidas de aumentos dos empréstimos compulsórios, restrições de crédito e juros elevados, o governo claramente optou por sacrificar o crescimento a fim de evitar um déficit muito alto no balanço comercial e de reforçar a prevenção contra uma eventual inflação de demanda. A brusca queda da inflação teve efeitos significativos sobre o poder de compra da população. Ganho adicional de renda. Maior facilidade que os assalariados passaram a ter no acesso ao crédito ao consumidor. Entre junho e dezembro de 1994 os empréstimos do sistema financeiro às pessoas físicas aumentaram em 150%. Conclusões sobre o Plano Real O Plano Real é apontado como a melhor experiência de estabilização da economia brasileira. Porém, a sua sustentabilidade e a retomada do crescimento econômico dependem de reformas mais profundas, envolvendo as áreas fiscal-tributária, patrimonial, financeira e administrativa. Como a capacidade instalada não cresceu o suficiente, qualquer movimento de crescimento de consumo foi abortado por medidas de restrição ao crédito e elevação dos juros de forma que o crescimento tornou-se um subproduto, não o objetivo principal da política econômica. A carência de poupança interna é um dos principais fatores de restrição da expansão dos investimentos. A redução das alíquotas de importação com a valorização do real provou substituição de produção local por importações, mesmo em setores competitivos. Ano % Cresc. PIB 1990 -4,4 1991 1,0 1992 -0,5 1993 4,9 1994 5,9 1995 4,2 1996 2,2 1997 3,4 1998 0,0 1999 0,3 1990-1994 1,4 1995-1999 2,0 1990-1999 1,7
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