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Trabalho de Metodologia - Rousseau

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FACULDADE DE SÃO PAULO
ROUSSEAU, ARAUTO DA LIBERDADE E O SONHO DA IGUALDADE
CARLOS EDUARDO DE SANTANA
RA Nº 0050064903
SILVANA ALVES DA COSTA TOMAZI
RA Nº 0050064970
SÃO PAULO
2013
ROUSSEAU, ARAUTO DA LIBERDADE E O SONHO DA IGUALDADE
Os filósofos gregos preocuparam-se com a sua polis. Os romanos, com o império. Os da Idade Média, com o reino de Deus. Os do Renascimento, com a República. Hobbes, com a monarquia. Locke, com a burguesia. Montesquieu, com a aristocracia. Rousseau com a democracia.
Assim, caminhou a política. Assim se desenvolveu a filosofia política. O mérito de Jean-Jacques Rousseau não foi só o de defender a liberdade como valor supremo e inalienável da vida humana, nem de afirmar que a liberdade não prescinde da igualdade. Pela primeira vez, o homem, na sociedade e a democracia aparecem juntos como o principal objeto da filosofia política. Como filósofo, ele revolucionou a concepção da política. Como escritor, inspirou a mais radical das transformações, a Revolução Francesa, marco histórico que pôs fim a era do absolutismo e encerrou a chamada Idade Moderna, para dar início à denominada “Idade Contemporânea”, ainda hoje à espera do fim, para que passemos a viver outra etapa da civilização.
ÓRFÃO, POBRE E ENJEITADO
Jean-Jacques Rousseau nasceu em 28 de junho de 1712, em Genebra, Suíça, sendo o segundo filho do relojoeiro Isaac Rousseau e de sua mulher , Suzanne Bernard, falecida aos quarentas anos, em consequência do parto, dois dias depois de ter dado a luz. Em outubro de 1722, em virtude de uma briga, e sob ameaça de ser preso, o pai de Jean-Jacques fugiu da cidade e foi residir em Nyon, onde se casou, quatro anos depois. Juntamente com o primo Abraham, cuja família tinha boa situação financeira, Rousseau, então com dez anos de idade, foi enviado para morar na casa do pastor calvinista, em cuja fé fora batizado, J.J. Lembercier e de sua irmã Gabrielle, para prosseguir nos estudos. Em face de sua situação de quase pobreza, Jean-Jacques foi colocado como aprendiz na oficina do gravador Abel Ducommun, um artesão com cujo temperamento e rigor jovem logo entrou em conflito, embora lá permanecesse por insuportáveis três anos. Ao contrário do que já tinha acontecido duas antes, quando dormiu fora do muro que protegia a cidade, resolveu deixa-la. Depois de perambular por um ou dois dias, buscou abrigo na casa de um sacerdote católico que lhe recomendou, com uma carta de apresentação, procurar Françoise-Louise de la Tour, Baronesa de Warens, na cidade de Annecy, onde se encarregava de recrutar seguidores para a fé católica.
Após a morte da Condessa, em dezembro de 1728, deu-se o episódio do furto de uma fita de adorno, em que Rousseau acusou falsamente a camareira Marion de tê-lo presenteado. O fato o perturbou tão profundamente que chegou a ponto de registrá-lo duas vezes. A primeira, no Livro II de suas Confissões, relativo aos anos de 1728 a 1731, em que assume o furto desse objeto de pequeno valor, e a segunda em Os devaneios de um caminhante solitário. O delito não impediu de conseguir novo emprego, como secretário do abade Gouvon, do qual foi demitido em 1729, por não mostrar empenho nas novas funções. Para furtar-se a esse destino, conseguiu de sua protetora ser enviado a uma escola de cantores, onde aprendeu os rudimentos da música. Durante dezoito meses, Rousseau conseguiu algum dinheiro, dando aulas de música e copiando partituras, o que lhe permitiu fazer a primeira e fugaz viagem a Paris, provavelmente no ano de 1731, já quase nesse mesmo ano voltou ao lar da Baronesa de Warens, que agora residia em Chambéry, onde Jean-Jacques permaneceu nos dez anos seguintes.
Ao completar 21 anos, em 1733, além de hóspede, tornou-se, por iniciativa da Srª de Warens, também sua amante. A decisão parece tê-lo perturbado mais do que alegrado, sobretudo pela presença de Claudete 
Anet que também acumulava a função de mordomo e amante da baronesa, que não parecia incomodar-se com a presença simultânea de ambos, com os quais partilhava o leito. Os dois anos seguintes parecem ter sido de completa felicidade para o jovem Jean-Jacques que em 1737 logrou suas primeiras produções intelectuais, publicando no jornal Mercure de France a canção Un papillon badin (Uma borboleta brincalhona) e no ano seguinte, um longo poema com o título Le verger de Madame la Baronne de Warens (O pomar de Madame Baronesa de Warens). 
Ainda que durante alguns meses os três tivessem continuado a viver juntos, a intimidade de Rousseau com sua protetora tornou-se cada vez mais distante. Em 1740, finalmente, aproveitou uma oferta para ser o preceptor dos dois filhos de um rico aristocrata e chefe de polícia de Lyon, Jean Bonnot de Mably, para mudar-se para a cidade, onde passou a residir. Mudou-se então para Paris, em busca de celebridade e fortuna.
Em junho de 1742, aos trintas anos, partiu levando consigo um projeto para uma nova notação musical e uma peça de teatro, Narcisse (Narciso). No dia 14 de agosto, com cartas de apresentação da família Mably, conseguiu ser recebido na Academia de Ciências, mas seu Projeto, embora objeto de atenção, não foi considerado com mérito suficiente para ser acolhido. Em junho desse mesmo ano, aceitou o cargo de secretário do novo embaixador francês em Veneza e lá permaneceu até agosto de 1774 quando, em desavença com o novo chefe, demitiu-se e regressou a Paris. Entregou-se novamente ao trabalho musical, concluindo a ópera-balé Les muses galantes (As musas galantes) que tinha iniciado antes de partir para Veneza. Talvez com ciúmes do que considerava uma incursão em sua seara, o músico sugeriu que as únicas partes decentes da obra eram plágios. Apesar da acusação, Rousseau aceitou fazer uma adaptação da ópera Les fêtes de Ramire (As festas de Ramiro) com folheto de Voltaire e música de Rameau, apresentada em Versailhes em dezembro de 1745. Como ainda não tinha conseguido nenhuma ocupação permanente, aceitou, em meados de 1746, o posto de secretário da família Dupin. Escreveu, para a apresentação no castelo de Chenonceux, residência de verão dos Dupin, a peça teatral L’engagement téméraire (O compromisso temerário), além dos poemas e canções. Começou então a cooperar com Diderot, engajado na tarefa de elaboração da Encyclopédie, escrevendo vários artigos sobre música e mais um extenso verbete com o título de Discours sur l’economie politique (Discurso sobre a economia política), que foi publicada no volume V da Enciclopédia. 
INSPIRAÇÃO E SUCESSO
No caminho para Vincennes, a fim de distrair-se na longa jornada que, por economia, fazia a pé, abriu o Mercure de France que levava e leu o anúncio em que a Academia de Dijon anunciava o concurso, aberto a quem dispusesse a responder à seguinte pergunta: "Se o progresso das ciências e das artes contribuiu para corromper ou aprimorar os costumes”. É ele mesmo quem relata, em suas Confissões (Livro VIII, referente ao ano de 1749): “No momento desta leitura, entrevi um novo universo e me tornei outro homem”. Como rememora em uma das quatro cartas escritas mais tarde a Malesherbes, entrou numa espécie de transe. Atirou-se ao chão e ali permaneceu por meia hora banhado em lágrimas. “O que me recordo bem claramente nessa ocasião é que, chegando a Vincennes, encontrava-me em tal estado de agitação que delirava. Aceitando o conselho do amigo, lançou-se ao desafio e escreveu um pequeno ensaio, com título de Discours sur les et les arts (Discurso sobre as ciências e as artes). Enviou o texto a Dijn e, em 9 de julho do ano seguinte, a Academia concedeu-lhe o prêmio, materializado, em 28 do mesmo mês, com a entrega de uma medalha de ouro e trezentas libras em dinheiro. Em novembro, Diderot publicou o texto e, em janeiro de 1751, o Mercure de France lhe dedicou um estudo. Todos supunham que, vivendo na idade da razão, a resposta que os concorrentes dariam à pergunta da Academia seria positiva, pois seria impensável supor que o progresso da ciência e das artes pudesse corromperos costumes. Ele encarou a pergunta sob outro ângulo. Não afirmou progresso tinha trazido prejuízos morais para a sociedade. E o progresso era o resultado dos avanços da ciência e das artes. A obra provocou muita contestação e Rousseau teve o cuidado de responder à maioria delas, granjeando, que por fim, aquilo a que tanto tinha aspirado em sua vida: notoriedade, fama e reputação.
Ele não as desfrutou, como seria de supor, insistindo no caminho que tinha escolhido. Por escrúpulos, ou em virtude da doença urinária que já o acometia e o acompanhou até a morte, regressou a Paris sem comparecer perante o rei e sua corte. Na esteira do sucesso, a Ópera parisiense incluiu a comédia no seu repertório, enquanto o teatro da Comédie Française encenou sua peça Narciso. Seu interesse pela música continuou e, no verão de 1753, estabeleceu-se um agitado debate sobre os méritos das músicas francesa e italiana, provocado pela presença de uma companhia itinerante da Itália, denominada “Les Bouffons”. Rousseau se envolveu na polêmica escrevendo uma Carta sobre a música francesa, a favor dos italianos, tendo por objetivo criticar o músico Rameau que anos antes desqualificara seu trabalho e que por isso nunca mais o perdoou, recriminando-o quando a atenção de Jean-Jacques já se voltara para seus interesses.
AVENTURAS E INFORTÚNIOS
Rousseau parecia disposto a pôr em prática seus antigos projetos. Aceitou o oferecimento, feito pela Srª d’Épinay, cujos salões frequentava , de ceder-lhe para seu uso a casa de campo que mandara construir em Montmonrecy, para onde se retirou, em companhia de Therèse e da mãe dela. Continuou trabalhando no projeto “Instituições politicas”, que concebera em Veneza, mas terminou por abandoná-lo, à exceção do seu mais famoso fragmento mais tarde publicado com o titulo de Contrato Social. Começou, num de seus devaneios, a redação do romance Júlia, ou A Nova Heloisa, cartas de dois amantes que viveriam ao pé dos Alpes. A encarnação de sua Júlia se materializou na pessoa da cunhada da Srª d’Épinay, Sophie Doudetot, residente nas vizinhanças, por quem Rousseau se apaixonou e cujos sentimentos e conflitos terminaram se expressando no romance, até seu rompimento no fim de 1757.
Ao longo dos quarenta anos seguintes, teve cerca de setenta edições em francês e nada menos de outras dez publicadas em inglês, antes de 1800. Três anos antes, porém, Rousseau tinha começado a trabalhar em outra de suas mais conhecidas obras, o Emílio, ou Educação, concluída justamente no ano em que A Nova Heloisa foi lançada, ao mesmo tempo de O Contrato Social. Finalmente, em meados de 1762 vieram à luz as duas obras por que tanto ansiara, o Emílio, publicado com o auxílio da Srª Luxemburgo, e o Contrato Social. Ambas iriam aumentar sua fama, mas, ao mesmo tempo, provocar-lhe novos infortúnios. O texto “A profissão de fé do vigário Saboiano” e do Emílio foram considerados ofensivos à ortodoxia religiosa e, no dia 7 de junho, os livros foram condenados pela congregação da faculdade de Teologia da Sorbonne e muitos de seus exemplares queimados. Avisado de sua iminente prisão, Rousseau refugiou-se em Yverdon, na Suíça, onde teve conhecimento que o mesmo ocorrera em Genebra, não só com Emílio, mas também com O Contrato Social. Fugiu novamente, indo encontrar abrigo em Môtiers, no principado de Neuchâtel, nessa época súdito de Frederico II, da Prússia.
Nesse mesmo ano em 1764, a pedido dos revolucionários corsos, que tentavam emancipar-se do domínio de Gênova, redigiu o Projeto de Constituição para a Córsega que não chegou a concluir. No fim do ano, Voltaire publicou, anonimamente, O sentimento dos cidadãos, um panfleto que, entre outras revelações, denunciava o fato de Rousseau ter abandonado e nunca reconhecido os filhos que teve com Thérèse Lavasseur. Sua casa em Môtiers foi apedrejada, o que o levou a refugiar-se por algum tempo na ilha de Saint Pierre, no lago de Bienne. Voltou então a Paris, de onde seguiu para a Inglaterra, a convite de David Hume, com quem se desentendeu, voltando à França um ano depois.
UM LUGAR NA HISTÓRIA
Em março de 1770, Rousseau anunciou que voltaria pela última vez a Paris. Passou por Lyon, onde foi homenageado com a apresentação de sua peça O adivinho da aldeia. Em junho chegou a Paris, onde organizou leituras de parte das Confissões, logo proibidas por pressão da Srª d’Épinay, que temia não ter sido tratada favoravelmente. Entre 1771 e 1776, concluiu o livro Rousseau, juiz de Jean-Jacques: Diálogos e iniciou Os devaneios de um caminhante solitário, que a morte em 1778 o impediu de concluir. Elaborou ainda as Cartas elementares sobre botânica e Considerações sobre o governo da Polônia, a pedido do enviado desse país à França, o Conde Wierlhorski, só publicada postumamente. Seu estado de angústia era tal que redigiu um panfleto – A todos os franceses que ainda amam a justiça e a verdade – e, desesperado, tentou distribuí-lo de mão em mão aos transeuntes nas ruas de Paris. No final do ano, ao voltar de um dos passeios mais tranquilos passeios, foi atacado por um cão que o feriu com alguma gravidade. O acidente, porém, em vez de agravar seu estado mental, parece tê-lo acalmado, já que em seguida pôs-se a escrever Os devaneios de um caminhante solitário, em que conta esse episódio. Em maio de 1778, mudou-se com Thérèse para a localidade de Ermonville, nos arredores de Paris. Dois meses depois, quando tinha acabado de completar 66 anos, faleceu em 2 de julho. Foi sepultado na Île des Peuplieurs, na mesma localidade que foi sua ultima residência e sua sepultura logo se tornou local de peregrinação para os parisienses. Thérèse, a mulher que foi sua companheira durante 33 anos, sobreviveu ainda por mais 22 anos. Encerravam-se a sina e a saga de um dos maiores pensadores políticos de todos os tempos. Começava a sua trajetória na historia.
AS OBRAS IMORTAIS
Os discurso sobre a ciência e as artes, com o qual Rousseau iniciou sua militância de pensador político, é um pequeno e surpreendente texto. Ao instituir o concurso por ele vencido, a intenção dos dirigentes da Academia de Dijon era o de exaltar os benefícios do renascimento para a civilização da Europa. Como requisito de sua conservação: como ousar censurar as ciências perante uma das mais companhias da Europa, louvar a ignorância numa academia celebre e conciliar o desprezo pelo estudo, com o respeito pelos verdadeiros sábios reconhece estes obstáculos e eles de modo algum me defendo perante homens virtuosos. É mais cara a probidade às pessoas de bem do que a erudição aos doutos. Que temer, pois? Depois de elogiar as virtudes do renascimento 	que tirou a Europa da barbárie, que é como então se definia a idade média antecipa uma figura de retorica que usará mais tarde em O contrato social. Essa seria a atônica de seu inconformismo com o mundo injusto em que viveu. Como Hobbes e Lucke, também Rousseau aceitava o estado da natureza que antecedeu a civilização. Mas, ao contrario deles, não via no homem desse estagio pré-civilizatório o egoísmo que o levava a assumir para sobreviver como o “bom selvagem” um ser capaz de viver sem conflitos, pois a natureza era capaz de satisfazer as primitivas necessidades de todos, com abundância, sem risco de devastação esta foi a tese fundamental, a que desenvolveu ao longo de toda a sua obra. O homem nasce bom mas a civilização degrada e corrompe. Quando se compara o homem idílico por ele imaginado, vivendo livre no estado da natureza, em confronto com as diferenças, desigualdades e discrepâncias que a sociedade exibe em todos os momentos da historia, é possível compreender como governos e leis, cultura e ciência foram capazes de se combinar para reduzir o homem civilizado á condição de conformada subalternidade a que a sociedade reduziu os excluídos.
O homem civilizado tinha-se conformado: antes que a arte polisse nossas maneiras e ensinasse nossas paixões a falarem a linguagem apurada, nossos costumes eram rústicos, mas naturaise a diferença dos procedimentos denunciava a primeira vista a diferença dos caracteres no fundo, a natureza humana não era melhor, mas o homem encontrava sua segurança na facilidade para se penetrarem reciprocamente, e essa vantagem, de cujo valor não temos mais noção, poupava-lhes muitos vícios. Se o prólogo desse primeiro “discurso” lhe valeu o prêmio e a notoriedade que mudaram o curso de sua vida, o epílogo é, além de revelador e contundente, irônico e corrosivo, como seguramente ele pretendia que fosse. Desdenhado da filosofia a última lição parece ser de todas a mais pratica: quanto nós, homens vulgares, a quem o povo mesmo que temporariamente, se não só viu a vitória definitiva de suas aspirações, em pouco tempo esmagadas pelo cesarismo de Napoleão, conseguiu, pelo menos, por abaixo o velho e carcomido difícil que durante séculos, abrigou e acolheu os privilégios de reis, nobres e aristocratas. Com eles ruiu a velha ordem constituída em favor das minorias e em detrimento das maiorias na defesa de sua tese em prol do bom sauvage (bom selvagem) contraria a de Hobbes que vê no estado da natureza a luta de um contra todos e por consequência de todos, pela natural ambição humana, Jeans-Jacques aproveita para deixar claro seu desacordo com as conclusões do filosofo inglês. Não iremos, sobretudo, concluir com Hobbes que, por não ter uma ideia da bondade, seja o homem naturalmente mau; quer seja corrupto porque não conhece a virtude, que nem sempre recusa a seus semelhantes serviços que não crer dever-lhes que nem, devido ao direito que se atribui com razão, relativamente as coisas que necessita, loucamente imagine ser o proprietário do universo inteiro.
É na segunda parte do texto, porém, que ele desenvolve, com mais desenvoltura e com mais acuidade, os fundamentos de sua critica á organização da sociedade de seu tempo. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acredita-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, miséria e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!” nos argumentos seguintes, Rousseau se transforma de revolucionário em carbonário, traçando um quadro cruel, porém verdadeiro, da sociedade civilizada de suas formas de organização. Assim os mais poderosos ou mais miseráveis fazendo de suas formas ou de suas necessidades uma espécie de direito ao bem alheio, equivalente segundo eles ao de propriedade, seguiu-se á rompida igualdade a pior desordem; assim as usurpações do ricos, as extorsões dos pobres, as paixões desenfreadas de todos, abafando a piedade natural a voz ainda fraca da justiça, tornaram os homens avaros, ambiciosos e maus. Ergueu-se entre o direito do mais forte e o do ocupante um conflito perpetuo que terminava em combates e assassinatos. Nos parágrafos a seguir ele explica como os possuidores de bens e propriedades logo entenderam e preservaram os seus bens e eles usam o seguinte argumento, unamo-nos para defender os fracos da opressão, conter os ambiciosos e assegurar a cada um a posse daquilo que lhes pertence, instituamos regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos sejam obrigados a conformar-se que não abram exceções para ninguém e que submetendo igualmente e deveres mútuos aos poderosos e fracos.
ROUSSEAU E A “ORDEM CONSTITUÍDA”
Defender como fizera Rousseau que as ciências e as artes restauradas pelo Renascimento, contribuíram para degradar e não para aprimorar os costumes, significava, no mínimo, confrontar as crenças e ideias de seu tempo. Afinal eram nelas que acreditavam os aristocratas de Dijon e os membros de sua academia que deram a Rousseau o premio por seu primeiro discurso. Galardoar um texto filosófico mesmo contendo uma interpretação que violava os cânones da ordem vigente, não chegava a constituir nenhum risco para o regime.
Estávamos ainda a uma distancia de 36 anos da grande Revolução de 1789. Premiar um dissidente no campo das ideias eram, em ultima analise, um sinal da firmeza dos alicerces da sociedade, as ideias do vencedor do premio podiam ser ortodoxas mas certamente não implicavam nenhum risco de subversão.
O texto do segundo discurso, porem, ultrapassava seguramente, a todos os limites de tolerância aceitáveis pela aristocracia e os sábios da academia ele não só atacava, mas procurava destruir os fundamentos nos quais estavam assentados os pilares da ordem constituída, privilégios para os nobres e garantias para os aristocratas e subsídios para o clero, incentivos e prêmios para os artistas, impunidade para os poderosos e inviolabilidade do direito de propriedade para todos, inclusive para a burguesia emergente cujo poder não se assentava nos privilégios de sangue, origem ou condição social, mas em sua crescente prosperidade econômica.
O CAMINHO DA REVOLUÇÃO
Em seguida a introdução se inicia com declaração da fidelidade do livro: quero indagar se pode existir, na ordem civil, alguma regra de administração mais legitima e segura, tomando os homens como são e as leis como podem ser, esforçar-me-ei sempre, nessa procura, para unir o que o direito permite ao que o interesse prescrever, a fim de que não fiquem separadas a justiça e a utilidade. Entro na matéria sem demonstrar a importância de meu assunto perguntar-me-ão se sou príncipe ou legislador, para escrever sobre politica. Respondo que não, e que por isso escrevo sobre politica.
Se fosse príncipe ou legislador, não perderia meu tempo, dizendo o que deve ser feito: haveria de fazê-lo ou calar-me.
No capitulo 2, o autor trata das sociedades primitivas e, no seguinte, do Direito do mais forte, que sempre foi um desafio caro a filosofia politica. Aos versar sobre o tema, Rousseau define, de forma clara e objetiva, o principio da legitimidade do poder: o mais forte nunca é suficientemente forte para ser o senhor, senão transformando sua força em direito e a obediência em dever.
Nos três capítulos seguintes, Rousseau aborda as convenções que antecedem o pacto social, o que ele entende por esse pacto á luz do direito vigente e soberano, para no oitavo cuidar do estado civil para justificar o pacto social que trata sua obra: o que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo quanto aventura e pode alcançar o que com ele ganha á liberdade civil e a propriedade de tudo quanto possui.
Sua legitimidade em geral são necessárias as seguintes condições para autorizar o direito do primeiro ocupante de qualquer pedaço de chão, primeiro que esse terreno.

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