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1 FÁBRICA GLOBAL E A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO: OS REFLEXOS DAS NOVAS FORMAS DE SE PRODUZIR AS SOCIEDADES ATUAIS GLOBAL FACTORY AND NEW DIVISION INTERNATIONAL OF WORK: THE CONSEQUENCES OF NEW FORMS OF PRODUCE UP FOR CURRENT SOCIETIES Michell Salomão Marioto Resende1 RESUMO O presente estudo tem por objetivo trazer alguns parâmetros, para a análise dos reflexos que as novas formas de produção, baseadas na nova divisão internacional do trabalho geram ao mundo. Através de uma análise qualitativa, pretende-se, a partir deste, propor uma discussão reflexiva a respeito das consequências socioeconômicas globais recorrentes do eixo central do estudo, para que a partir de todo esse desdobramento as questões geradas por esta temática possam ser compreendidas com maior clareza. Palavras-chave: Fábrica global; Nova DIT; Formas de produção. ABSTRACT This study aims to bring some parameters for analyzing reflections that new forms of production, based on the new international division of labor generate the world. Through a qualitative analysis, it is intended, from this, propose a reflective discussion of the applicants global socio-economic consequences of the central axis of the study, so that from all this development issues generated by this issue can be understood with clarity. Keywords: Global factory; New TID; Production methods. 1 Discente de Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ 2 1. INTRODUÇÃO Pode-se dizer inicialmente que o processo de divisão internacional do trabalho (DIT) é uma consequência da solidificação do processo de globalização. Para que que se entenda o estágio atual da DIT, torna-se necessário que se entenda antes todo o processo histórico que a envolve. A origem da DIT está compreendida ao tardar do século XV, onde as colônias, ao redor do mundo, passaram a se especializar no fornecimento de determinado tipo de matéria-prima enquanto as metrópoles se especializavam na exportação dos produtos manufaturados. Desta forma o globo encontrava-se, já naquela época, dividido entre os países que forneciam matéria prima e os países que faziam uso dessa matéria prima para a produção dos produtos manufaturados. Em meio a Revolução Industrial, no século XVIII, se tem o que pode ser chamado de Primeira Divisão Internacional do Trabalho. Com a consolidação do capitalismo, como sistema econômico global, foi gerada uma intensa modificação nos sistemas de produção da época, onde as máquinas iam, gradativamente, tomando o lugar da produção artesanal. Em meados do século XX, em meio ao que ficou conhecido como capitalismo financeiro, alguns países subdesenvolvidos, com certo potencial econômico, tiveram seus processos de industrialização financiado pelos países detentores do capital, esse processo fez com que estes países se tornassem, também, exportadores de produtos industrializados. Este processo, trouxe como consequência, a Segunda Divisão Internacional do Trabalho. Atualmente vivemos em meio ao que pode ser considerada a Nova Divisão Internacional do Trabalho, baseada na economia informacional, onde as empresas concentram filiais em todo o mundo, de acordo com os benefícios que cada um tem a oferecer, principalmente no que diz respeito a mão-de-obra de baixo custo e benefícios ficais. A economia informacional se desenvolve no âmbito planetário. Porém, este desenvolvimento é desigual, originando uma nova divisão internacional do trabalho entre países e áreas econômicas, cuja dinâmica determinará a evolução da economia mundial na próxima década. Convém notar que a análise da nova divisão internacional do trabalho tem sido frequentemente realizada em termos simplificadores, que têm levado a graves erros na formulação de políticas econômicas nacionais e internacionais. (ROSENBERG, L. 1986) Pode-se considerar, portanto, que as indústrias atualmente pouco se importam com as consequências sociais de suas ações nos países em que encontram-se instaladas, estão preocupadas somente em satisfazer seus interesses. Fato este que pode ser exemplificado pelo 3 fato de que vários países nos dias de hoje, que antes eram meros produtores de produtos primários, são exportadores de produtos industrializados, principalmente graças a matéria prima e mão de obra de baixo custo aliado a benefícios fiscais oferecidos por estes países. 2. AS CONSEQUENCIAS DA NOVA DIT Castells2 defini quatro fatores como os responsáveis para o bom desenvolvimento ou fracasso dos países em meio a nova ordem que é estabelecida pela atual DIT. São eles: - A capacidade tecnológica da estrutura produtiva em função da economia informacional; - A capacidade de acesso a um grande mercado integrado, como o norte americano, o japonês, ou a comunidade europeia; - O diferencial nos custos de produção nos países onde a indústria está instalada e os preços no mercado de destino; - A boa capacidade dos poderes públicos em gerirem a estratégias de crescimento nos países que possuem controle. Em meio a análise de todos os fatores elencados acima, Castells define ser possível estabelecer parâmetros para que se verifique o desempenho econômico de cada país, globalmente. É possível notar que “no centro da economia mundial, os Estados Unidos, o Japão e a Comunidade Europeia, cada vez mais articulados, se constituem nas três áreas fundamentais da economia mundial” (Ohmae, 1985), a ponto de que se perceba uma dependência dos outros países à tecnologia, o capital e os mercados deste grupo dominante. Para compreender melhor toda essa estruturação e divisão da produção, faremos uma análise forma de produção adotada pela montadora de aviões Boeing, como exemplo. O processo que envolve a produção de uma aeronave do porte das que são produzidas pela referida empresa, demandam tecnologia de ponta no processo produtivo, além de mão de obra altamente qualificada em todas as etapas da produção, consequentemente nota-se a distribuição global da produção da companhia essencialmente concentrada em países desenvolvidos como o próprio Estados Unidos (sede da empresa), além de Japão, Itália, Reino Unido, Canadá, França, Austrália , entre outros, como pode-se notar na figura 1. 2 Castells, M. A Economia Informacional, a nova Divisão Internacional do Trabalho e o Projeto Socialista. Madrid, 1991. 4 Em outra análise, para entender melhor a distribuição da produção e tecnologia aplicada a ela de forma distinta ao redor do mundo, serão analisados os métodos de produção adotados pela estadunidense fabricante de roupas, calcados e artigos esportivos Nike. A Nike nos dias de hoje vem concentrando sua produção, essencialmente, em países subdesenvolvidos, este fator se deve principalmente ao fato de que a mão de obra não necessite ser altamente qualificada, o que consequentemente gera benefícios ao sistema produtivo da empresa, visto que os investimentos nesses países proporcionam lucros extremamente elevados pela ausência ou pela ineficácia das leis trabalhistas destes. Harvey exemplifica o referido assunto com o caso específico da Indonésia, que segundo ele, [...] em nome do sistema de mercado livre, promove as violações mais flagrantes dos direitos humanos e mina o direito à subsistência de quem a vantagem competitiva do país depende. Muitas multinacionais estão subcontratando aqui: Levi Strauss, Nike, Reebok. Muitas subcontratadoras pertencem a coreanos. Todas tendem a exercer uma administração brutale pagar salários baixos. Nike e Levi estipulam um código de conduta como critério de investimento, mas, na realidade, sempre procuram obter o menor custo de produção. (HARVEY, D. s/d) Ficou evidente, a partir das análises aqui apresentadas, que existe atualmente, uma dicotomia em meio as formas de produção que são adotadas pelos diferentes tipos de empresas ao redor do mundo. O que é notório nos dias atuais, como consequência do sistema econômico vigente, são empresas cada vez mais preocupadas em gerar números, desconsiderando Figura 1: Distribuição global da produção da empresa Boeing. Fonte: Revista Veja, 18 de julho de 2007 (adapt.) 5 brutalmente vários fatores de ordem social, como por exemplo o bem estar do trabalhador ou até mesmo a manutenção da estabilidade econômica em seus países de origem. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se constatar, através do presente estudo, como se dá a distribuição da produção pelo mundo, considerando a nova DIT como eixo central da análise. Fica evidente a partir deste que as empresas nos dias atuais preocupam-se apenas com a geração de lucro, desconsiderando fatores como o bem-estar social dos povos de sua nação-sede ou dos locais onde é concentrada sua produção. Ficou evidente também a forma com que a tecnologia aplicada à produção de determinado produto ou à parte dele implica nos locais onde as industrias destes são instaladas. Quanto menos qualificação profissional é necessária para a produção de determinado artigo, mais explorado é o trabalhador, pois existe uma tendência de que as produções concentrem-se nos países que simplesmente desconsideram os direitos desta classe. Pode-se concluir, portanto, através das abordagens apresentadas no presente estudo que mesmo industrializados, os países subdesenvolvidos são totalmente dependentes das tecnologias e do capital oriundos dos países desenvolvidos e que além disso o processo de industrialização presente nestes pouco contribui para o bem estar social dos cidadãos que nestes residem. 6 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTELLS, Manuel. A Economia Informacional, a nova Divisão Internacional do Trabalho e o Projeto Socialista. Madrid, 1991. HARVEY, David. A geografia do Manifesto. In: Dossiê – 150 anos do Manifesto Comunista. São Paulo: Alfa-Ômega, s/d. p 65 – 73. LANDAU, Ralph, ROSENBERG, Nathan (eds). The positive sum strategy: harnessing technology for economic growth. Washington: National Academy Press. 1986. OHMAE, Kenichi. Triade power, the coming shape of global competition. New York Free Pre. 1985 TAPSCOTT, Don; WILLIAMS, Anthony D. O Local de Trabalho. In: Wikinomics: Como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. p 261-289.
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