Prévia do material em texto
História da Biologia: marcos de sua constituição. Luzia Marta Bellini Escher Fonte: http://falaut.wordpress.com/category/ciencia/page/2/ Introdução Quando falamos de história da biologia podemos tratá-la de, pelo menos, dois modos. Um que traz alguns marcos históricos de sua constituição, outro que apresenta a sua sociogênese e a sua psicogênese, ou seja, a história de seus conceitos do ponto de vista histórico e epistemológico. Para este livro, que deve subsidiar a disciplina História da biologia no Curso Educação à Distância, optamos por uma história da biologia que apresente alguns marcos históricos da construção do conhecimento científico biológico. Não será possível tratar de todas as contribuições dos pensadores desse campo de conhecimento; todavia apresentaremos aquilo que consideramos ser necessário á formação básica do estudante de Ciências Biológicas. E para que essa formação seja mais profunda procuramos realizar essa tarefa de modo a demarcar a Teoria da Evolução como norteadora dos conhecimentos no campo de Biologia. 1 – Aristóteles, a classificação, a teoria da geração espontânea e a da respiração animais Aristóteles Fonte: http://www.integradonanet.com/historia-de-aristoteles.html Aristóteles (384- 322 a.C.) foi discípulo de Platão e dele se diferenciou por estabelecer uma teoria do conhecimento que não separa o grau primeiro de pensamento – a sensação – do conhecimento intelectual. Enquanto Platão "inclinou-se preferencialmente por fazer desenhos de construções sociais imaginárias, utópicas, por projeções sobre qual o melhor futuro da humanidade" (CASTRO, 2004), Aristóteles estudou política, ética, linguagem e retórica, física, biologia fundamentando-se em uma minuciosa observação da organização das cidades, da sociedade, dos ho mens, sua linguagem, da natureza, classificando as coisas do mundo de acordo com suas semelhanças e diferenças, formando conjuntos de acordo com perguntas bem simples: "Como é esta coisa? (o gênero). O que é que a difere de outras que lhe são semelhantes? (a diferença). Com esse método ―construiu uma hierarquia das coisas, de uma forma tão ordenada que até então nunca ninguém conseguira fazer" (FONTES, 2004). Escreveu Chauí (1999, p.113): a distinção dos campos de conhecimento verdadeiro, sistematizados por Aristóteles em três ramos: teorético (referente aos seres que apenas podemos contemplar ou observar, sem agir sobre eles ou neles interferir), prático (referente às ações humanas: ética, política e economia) e técnico (referente à fabricação e ao trabalho humano, que pode interferir no curso da Natureza, criar instrumentos ou artefatos: medicina, artesanato, arquitetura, poesia, retórica etc). Aristóteles elaborou o primeiro sistema lógico que permitiu estabelecer um conjunto de princípios e regras formais para diferenciar argumentos corretos dos falsos. Escreveu a Política que apresenta uma instigante discussão "sobre os diferentes modelos políticos que existiam no seu tempo. Enumerou um total de 158 constituições de cidades ou países diferentes. Partindo da sua diversidade procurou depois as suas semelhanças e diferenças, pondo em evidência o que constituía a natureza de cada regime. Evitou o quanto pode mostrar as suas preferências por um ou outro regime político" (FONTES, 2004). Na física, não a ciência física como a concebemos hoje, buscava "a chave da natureza das coisas, não apenas da forma como se comportavam no presente, mas também no que potencialmente viriam a transformar-se" (PIAGET; GARCIA, 1987). Podemos falar em doutrina aristotélica do movimento. No caso da física de Aristóteles ela se reduz a um determinado número de observações sobre o movimento das coisas do mundo. Há os movimentos naturais e os forçados ou violentos. Os movimentos forçados são os contrários à sua natureza porque são gerados, por exemplo, quando atiramos uma pedra. Uma segunda característica da teoria do movimento diz respeito à natureza dos corpos materiais. No mundo sublunar havia os quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Neste mundo "cada corpo ocupa o seu lugar; quando este corpo fica fora do lugar que lhe pertence, um movimento natural lhe incita a voltar ao seu próprio lugar. Esse movimento é o retilíneo e sua direção vai do centro para baixo" (PIAGET; GARCIA, 1987). Exemplificamos: a terra e água para baixo e o ar e o fogo para cima. É por isso que a água e a terra são "pesadas" e o ar e o fogo "leves". A Terra não apresenta nenhum papel nesse movimento. Para classificar os movimentos sua teoria necessita da idéia de motor. O movimento natural apresenta uma causa intrínseca, o motor interno, já os movimentos violentos necessitam de uma causa externa, motor externo, ou seja, a força. Já os movimentos naturais dividem-se em retilíneos e circulares; o circular é perfeito e a reta como não tem limite nem fim, não pode ser perfeita. "Os corpos celestes, com exceção da terra, eram constituídos por um quinto elemento puro e incorruptível. O universo é concebido de forma hierarquizada, tendo no centro a terra, girando à sua volta todos os corpos celestes" (FONTES, 2004). Sua metodologia reduziu-se a poucas observações e suas posições epistêmicas – dada a ausência experimental – ficaram asseguradas em um sistema dedutivo que Piaget e Garcia (1987) designaram de pseudonecessidades. Em outras palavras, por falta de experimentação, embora os conceitos estejam organizados em uma lógica impecável, Aristóteles descreveu situações que não passa m da observação geral para uma premissa igualmente geral. Esta posição de pensamento de Aristóteles está presente nas hipóteses das crianças pequenas quando dizem que as águas dos rios descem para o lago ou quando afirmam que a lua não ilumina o dia porque não é ela quem manda; ou ainda quando elas afirmam que jogando uma pedra em um buraco feito no meio da Terra ela cai do outro lado, mas não cai se jogarmos em outro sentido (leste/oeste). Isso significa que a criança não consegue imaginar outros possíveis para além daquele observável. Aristóteles era um empirista, não podemos criticá-lo por não ter observado a natureza (PIAGET; GARCIA, 1987), os seus erros como físico "estavam ligados aos pressupostos epistemológicos introduzidos nas suas leituras de sua experiência e, por conseqüência, ao uso que ele faz da observação". Nos últimos 12 anos de sua vida, Aristóteles tomou como tarefa a classificação das formas do mundo material e, com isso, para a observação sistemática dos seres vivos. Estudou a forma e o comportamento de cerca de 500 classes diferentes de animais, dissecando aproximadamente 50 tipos diferentes. Foi o primeiro que dividiu o mundo animal entre vertebrados e invertebrados; sabia que a baleia não era um peixe e que o morcego não era um pássaro, mas que ambos eram mamíferos (FONTES, 2004). As clássicas definições que ainda vemos em livros didáticos são provenientes de Aristóteles como, por exemplo, a divisão da colméia em abelhas rainhas, escravas e os zangões. Como os gregos eram hábeis apicultores, Aristóteles teve como fonte de suas observações as abelhas. Habilmente dissecou abelhas descobrindo que as "abelhas escravas" tinham apenas os ovários vestigiais. Estudou os caracóis, descrevendo, inclusive, a rádula (rastelo), minúscula parte do aparelho bucal do caracol de jardim, cuja função é de a capturar alimentos. Aristóteles produziu vasta obra. Chegaram até os dias de hoje, dez livros considerados autênticos conhecidos por Historia animalum demonstrando o grande esforço em classificar, em descreveras características como estrutura e fisiologia, em descrever hábitos de procriação e mesmo processos embriológicos de muitos animais. Segundo Martins (1990) é impossível que estas obras tenham sido escritas por uma única pessoa, acredita-se que Aristóteles fez este trabalho em conjunto com mais discípulos, supervisionando e orientando outros estudiosos. Nesse trabalho Aristóteles aplicou o mesmo método da sua Física. Por meio de observações Aristóteles dividiu os animais em os de sangue quente e frio. Os de sangue quente seriam os mais perfeitos, dado que apresentavam mais calor. Na escala de perfeição dos animais estava a hierarquia baseada nos modos de reprodução: os mais perfeitos são os vivíparos (filhotes nascem iguais aos pais), depois temos os ovovivíparos e os ovíparos. Estes últimos são distinguidos em dois: os ovos perfeitos e os imperfeitos (que são os que apresentam lagartas em uma fase da vida e precisam passar por metamorfose). Os animais mais inferiores são os que se assemelham a plantas (MARTINS, 1990). Apoiado nessa classificação, ele faz outras diferenciações entre os animais, incríveis para uma época sem recursos instrumentais: - Preocupou - se em descrever a anatomia de um animal, mas também compreender a função das partes desses corpos. Apresentou estudos de mamíferos, peixes, insetos muito minuciosos. Foi capaz de descrever pequenos detalhes dos corpos de grilos, borboletas e abelhas entre outros pequenos animais. Estudou o comportamento de uma enguia que se reproduzia na água salgada e vivia em água doce. Como não a via no período de sua reprodução na água dos rios, indagou-se sobre a reprodução da espécie, sugerindo que esta poderia nascer por geração espontânea. Somente no inicio do século XX, descobriu-se que esta enguia migra para a água salgada para a maturação de suas gônadas e reprodução e depois os filhotes retornam aos rios de água doce (ver MARTINS, 1990). Como não podia ver o processo de reprodução nas enguias, chamou esse tipo de reprodução animal de geração espontânea ou abiogênese, no grego a -bio- genesis , "origem não biológica do animal. A mesma concepção aplicou às abelhas. Como não conseguiu observar a cópula de abelhas, julgou que estes animais reproduziam por geração espontânea. Essa ideia não foi original de Aristóteles, Muitos gregos também acreditavam nessa teoria para explicar como algumas espécies (e não todas) se reproduziam. Os primeiros defensores da ideia de abiogênese foram Anaximandro (610 – 547 a. C. ), seu discípulo Anaxímenes (588 – 524 a. C.) e outros como Parmenides (530 – 460 a, C.), Demócrito (460 – 370 a. C.) e Anaxagoras (500 – 428 a. C.). - Preocupou-se estudar como os corpos mantêm o equilíbrio do calor orgânico, pois como exímio observador ele conhece que as variações de temperatura eram indicações de problemas. Com esta noção de equilíbrio Aristóteles identificou a respiração animal como um processo de refrigeração dos animais sanguíneos terrestres (ver MARTINS, 1990). - Identificou os pulmões como os órgãos de refrigeração dos animais terrestres e no peixe, as guelras como os órgãos de respiração e refrigeração (ver MARTINS, 1990). - O calor interno foi tomado por Aristóteles como um dado empírico que fornece a vida; sem o calor temos a morte. Todos os animais têm calor. A fonte natural de calor é sempre matéria fluida e sólida (MARTINS, 1990, p. 171). O calor vem do sol para as plantas terem seus frutos maduros e o calor do fogo torna a alimentação adequada para os animais (ver MARTINS, 1990). - O calor está no coração nos animais sanguíneos. A alma (causa imaterial ou formal) está aí alocada. O sangue é o nutriente e o coração é a alma nutritiva e sensitiva(ver MARTINS, 1990). . - Há necessidade de controlar o calor interno, daí o mecanismo de respiração ou de refrigeração. O cérebro possui também papel refrigerador, pois é frio e comanda os pulmões e as guelras. Como os pulmões são esponjosos e cheios de tubos eles têm resfriamento rápido, assim o ar "facilmente os preenche". No caso do peixe o processo de respiração é feito por meio da água (ver MARTINS, 1990). - Animais sem sangue – insetos e moluscos – são os mais frios, na escala da perfeição. Eles não precisam de órgãos internos, bastam os externos (ver MARTINS, 1990). - Quanto aos insetos como não possuem pulmões nem um órgão correspondente a aeração é produzida pelo pneuma. Pneuma, para Aristóteles, significa ar, respiração, vento. Mas, para ele também significa aquilo que é inato, espécie de substância quente que sai do coração e é levado pelo sangue a outros órgãos, ligando a sensação à cinética do corpo (SPECULUM, 2011). Produziria vários fenômenos vitais, inclusive a refrigeração. O pneuma produziria também as vibrações das membranas existentes em insetos o que leva ao som dos cantos nos insetos (ver MARTINS, 1990). . Empirismo e explicação teórica Nesse caminho, Aristóteles construiu uma classe de objetos que são, sob o ponto de vista lógico (MARTINS, 1990, p.197) uma generalização das observações singulares que, como afirmaram Piaget e Garcia (1987), foram muito rigorosas, porém incorretas dado aos seus pressupostos teóricos. Ou seja, à riqueza de suas observações, Aristóteles fundiu sua teoria sobre as formas, a hierarquia dessas formas, sua teoria de calor vital e de pneuma (ver MARTINS, 1990). Isso não significa dizer que Aristóteles fugiu aos problemas observados. Ele procurou pela observação e pela experiência conhecer os processos de vida dos animais: função, estrutura, comportamento, respiração; essa busca foi exemplar e ele só poderia fazê- la por meio de que chamamos de postulados empiristas, isto é, da observação e experimentação. Todavia, a maioria de suas generalizações constou-se falsa, ainda que algumas tenham sido corretas como o estudo das formas de abelhas e sua organização, a classificação de animais etc (ver MARTINS, 1990). Referências CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1999. FONTES, Carlos. http://afilosofia.no.sapo.pt/Aristoteles.htm. Disponível em: 30/6/04. http://www.infohouse.com.br/usuarios/zhilton/Aristoteles.html. Acesso em: 30/6/04. CASTRO, Roberto. As causas da primeira existência. Jornal da USP. Disponível em: http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2002/jusp603/pag1011.htm. Acesso em 30/6/04. SPECULUM. Dicionário de Filosofia. Disponível em: http://www.filoinfo.bem- vindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=256. Acesso em: 21 de abril de 2011. MARTINS, Roberto de Andrade. A teoria aristotélica da respiração. Cadernos de História e Filosofia da Ciência. Campinas, série 2, 2(2), p. 165-212, JUL-DEZ., 1990. PIAGET, Jean; GARCIA, Rolando. Psicogênese e História das Ciências. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987. 2 - Os conhecimentos entre a metade do XV ao século XVIII O período do século XV ao século XVIII, pode-se dizer é o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. Para os historiadores modernidade é o período que surgiu após o Renascimento; desse modo, Filosofia Moderna e Ciências modernas, no sentido histórico, diz respeito ao período da história ocidental que se iniciou a partir do século XVII e vai até início do século XIX, quando podemos falar em ciências contemporâneas. Moderno vem do latim Modernus, e significa atual, agora. É um adjetivo introduzido pelo latim pós-clássico, empregado pela Escolástica a partir do século XIII, para definir a nova lógica terminística diante da antiga lógica aristotélica. A origem do conceito moderna mostra, na história dopensamento ocidental, uma divisão que foi estabelecida pelos pensadores hoje chamados de modernos. Francis Bacon (1561-1626), por exemplo, dizia que a ―Antiguidade foi antiga e maior em relação a nós, mas em relação ao mundo, nova e menor‖. O debate sobre a superioridade dos modernos ou dos antigos surgiu na Itália em 1620, com Alessandro Tassoni e está ligado à noção de história como progresso, sobretudo na França e Inglaterra. Presente em Giordano Bruno (1548- 1600), em Bacon e outros pensadores que viveram entre 1500 e 1600, o conceito de moderno ficou mais preciso na obra de Fontenelle, de 1683, Diálogo dos Mortos constituído, também, como idéia de progresso. Para Bacon moderna era a época em que o conhecimento era ajudado e enriquecido pelas infinitas observações e experimentos (ABBAGNANO, 1982, p. 58/ p. 649-650). Os pensadores modernos, para nós hoje, são os filósofos que estabeleceram as bases da ciência moderna e do método científico. Que bases são essas? São aquelas que apresentam resultados científicos sobre os fenômenos da natureza. Esses resultados devem ser produzidos pela observação ou da experimentação cuidadosa, rígida e repetida para que garantir a verdade científica. Para compreender um fenômeno da natureza como o comportamento dos metais diante da temperatura, era necessário observar diferentes metais, submetê-los a procedimentos repetidos, para não sermos enganados por nossos sentidos. Não bastava mais classificar os elementos da natureza ou os seus fenômenos pelos sentidos, ou especular sobre a natureza deles; aos pensadores modernos a verdade sobre o mundo natural só era possível pela busca de padrões da natureza por meio da experimentação e observação guiada por normas e orientações novas. Na obra Novum Organum de Francis Bacon, estão indicados os passos metodológicos para a que o homem ultrapasse seus sentidos: a definição do objeto, sua qualificação (tipo, comportamento etc.), os métodos de descoberta dos comportamentos do objeto (aplicação de procedimentos como dividir o objeto, submetê-lo a várias formas de experimentação etc.) e, principalmente, efetuar a repetição do experimento para conseguir o maior número de dados. Essa proposição de Bacon contrapunha-se às dos filósofos antigos; agora conhecimentos verdadeiros são os saberes nascidos de evidências obtidas dos experimentos. Com Bacon temos a criação do que chamamos de método indutivo, isto é, método de elaborar evidências científicas, os dados, no caso, pela produção do maior número possível de experimentação. O conhecimento científico é conhecimento comprovado e as teorias científicas são produtos da rigorosa obtenção de dados da experiência adquiridos pela observação e experimento (CHALMERS, 1993, 23). De Bacon para cá, este método passou por mudanças, é radicalmente distante das ciências físicas atuais e é, em parte, utilizado pelas ciências biológicas. Dos modernos nasceram as concepções científicas que permaneceram até o século XX. Entre o empirista Bacon que via o método como meio de classificação e ordenação da realidade natural e Galileu que via a natureza como um livro escrito com caracteres matemáticos, mas também uma natureza ordenada, a ciência moderna nasceu por ―caminhos tortuosos e difíceis, de múltiplas e discordantes tradições‖ (ROSSI, 1992) com muitas conversas, cartas e escritos exuberantes de filósofos do porte de John Loke, Kepler, Descartes. O nascimento da anatomia e da fisiologia nos séculos XV e XVIII: do resgate da tradição de Hipocrátes, Galeno e Avicena à anatomia comparada Quadro do século Galeno, Avicena e Hipócrates. Fonte: http://nanamada.blogspot.com/2007/10/claudius- galenus.html É importante delimitar o período da metade do século XV ao século XVIII para ilustrar os séculos que antecederam a ciência moderna e contemporânea em termos de conhecimento científico, seus laboratórios, revistas científicas especializadas e crescentes aplicações das descobertas em todos os terrenos, como lembra René Taton (1960). Um dos legados medievais que chegou ao Renascimento foi o programa de Alberto Magno (1193 ou 1206 – 1280 d.C.). Estudou Aristóteles e tinha interesse em muitos campos como a lógica, metafísica, botânica, zoologia, psicologia. Entre seus principais escritos científicos, estão: ―Sobre os Vegetais e as Plantas‖, ―Sobre os Minerais‖ e ―Sobre os Animais‖. Para Alberto Magno a ciência teórica subdividia-se em metafísica, matemática (incluindo a astrologia) e física ou filosofia natural. A filosofia natural compreendia os estudos do Cosmo, meteoros, compostos minerais, plantas, animais e homens, que eram regidos pelas almas vegetativa, sensitiva ou racional (TATON, 1960). Esse programa manteve outros estudos significativos para os séculos XV e XVIII, período em que muitos clássicos são redescobertos. A laicização dos conhecimentos antigos teve a ver com estudiosos eruditos, com as tipografias, mais bibliotecas, conhecimento de mais línguas. Também os viajantes naturalistas que exploraram a bacia mediterrânea e o Oriente Próximo contribuíram para ampliar os conhecimentos científicos. A Itália mantinha numerosos jardins botânicos, para estudos de aclimatação e exportação de matéria prima. Não podemos esquecer que em 1492, Cristovão Colombo veio á América. Tínhamos, então, um novo mundo geográfico e o mundo das Índias Orientais e Ocidentais que mostram uma fauna e flora muito diferente. A física e a matemática demonstraram um grande avanço. Na Química podemos falar dos estudos com minerais, metais, corantes de vegetais, animais. E na Biologia tivemos o nascimento das áreas de anatomia e fisiologia, derivadas dos estudos de biologia humana, semiologia e nosologia (parte da ciência médica que estuda as doenças em geral e classificadas do ponto de vista de sua etiopatogenia). Nascem também os campos de zoologia e botânica que, no final do século XVIII, comporão o que Lamarck cunhou de Biologia (ver TATON, 1960). A anatomia e a fisiologia surgiram como áreas da chamada Biologia Humana com os estudos do corpo humano, suas doenças e a terapêutica. A religião cristã impôs o respeito ao cadáver. O corpo humano era estudado apenas do ponto de vista da prática do embalsamento ou de investigações médico-legais. A bula de 1299, de Bonifácio VIII proibia a descarnação de cadáveres e restringia os estudos com o corpo humano. A dissecção dos cadáveres humanos era feita na Bolonha desde 1315, ―porém, a primeira menção a seu respeito foi encontrada em 1417, em Paris‖ (TATON, 1960, p. 154). Na Itália as pesquisas anatômicas foram maiores do que em qualquer outro país. Os estudiosos de Galeno (médico turco de 129 – 201 d. C.), Avicena (Uzebkistão, 908 – 1037 d. C.) e Hipocrátes (Grécia, 460? – 377? a. C.) foram Falópio, Cesalpino, Aldrovandi, os franceses Gonthier d´Andernach (1487 – 1574), J. Dubois ou Sylvius (que empregava injeções intravasculares para demonstrar a emaranhada rede artério- venosas), Rondelet (1507 - 1566). Particular destaque deve ser dado a Vesálio (1514 – 1564) e sua obra De humani corporis fabrica libris septem (Basiléia, 1543) na qual afirmou que Galeno enganara-se em suas dissecações (TATON, 1960). Outro destaque pode ser dado ao naturalista francês Pierre Belon de Le Mans (1517 – 1564), por suas investigações com a anatomia do corpo humano e anatomia comparada. É o início dos estudos acerca da organização dos seres vivos. Pierre Belon escreveu 7 volumes da História natural dos pássaros e é considerado o precursor da anatomia comparada. A figura a seguir mostra a ilustração de Belon de 1555.Fonte: http://saber.sapo.ao/wiki/Imagem:BelonBirdSkel.jpg Na tradição dos estudos de anatomia comparada temos o alemão Volcher Coiter (1534- 1576?) que estudou na Itália e França e foi aluno de Aldrovandi (1522 – 1605), Fallopio, que descreveu as trompas de Falópio , Rondelet (1507 – 1566), escreveu a obra História Natural dos Peixes, , Eustachio (1520 – 1574), anatomista que apontou erros de Vesálio; estudou o coração e o ouvido. Seguindo a tradição na investigação de embriologia, Coiter refez as observações de Aristóteles, com embriões de galinha em 1564. Continuando as investigações em anatomia comparada destacou-se o francês Georges Cuvier (1769-1832). Fez estudos importantes de anatomia entre forma e função, forma e fisiologia. Descreveu-os em 9 volumes nas obras Lições de anatomia comparada. Quatro volumes tratam de esqueletos fósseis de animais quadrúpedes; 4 volumes são intitulados O reino animal distribuído após sua organização para servir de base à anatomia comparada. Seu estudo principal é a História natural dos peixes com 22 volumes. Referências ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. CAPONI, Gustavo. Georges Cuvier: um fisiologo de museo.Limusa. [S.l.: s.n.], 2008. TATON, René. História Geral das Ciências. A Ciência Moderna. O renascimento. São Paulo: Difel, 1960, vol. II. ATIVIDADE COMPLEMENTAR 1 – Leitura e elaboração de resumo sobre o texto abaixo Leia e elabora uma resenha do texto de Nascimento Júnior, conforme referência abaixo: NASCIMENTO JÚNIOR, A.F. Fragmentos Da História Das Concepções De Mundo Na Construção Das Ciências Da Natureza: Das Certezas Medievais Às Dúvidas Pré-Modernas. Ciência & Educação, v. 9, n. 2, p. 277-299, 2003. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v9n2/09.pdf acesso em 12 fev. de 2019. Conforme consta acima o referfido texto está disponível no site http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v9n2/09.pdf Após elaboração do texto o mesmo deve ser postado no ambiente de aprendizagem do aluno, conforme cronograma. 1 - Um pouco da biologia moderna Lamarck e os dois postulados da transformação nas gerações animais Quanto às ciências biológicas, o século XVIII representou uma mudança para a constituição da biologia a começar pelo aparecimento do termo biologia. Foi Lamarck que cunhou o termo Biologia para designar a ciência que estudava a organização dos seres vivos em 1809. O século XVIII apresenta-nos muitas questões: a discussão sobre o fixismo, o transformismo, a geração dos seres vivos. É importante ressaltar que essa discussão já era familiar ao século XVIII, uma vez que na antiguidade a ideia de que havia continuidade do mundo vivo e de que deste surgiam as outras espécies por filiação era corrente (TATON, 1960). Junto aos debates mais sobre a transformação das espécies (o termo espécie surge aí), novos métodos para a classificação das plantas e animais foram formulados por Lineu (1707-1778). Este e Buffon (1707-1788), dois grandes naturalistas do século XVIII, destacaram-se pelo debate em torno do fixismo e da evolução das espécies. Lineu defendia que as espécies animais e vegetais eram fixas, Buffon apontava para a mudança dos seres vivos, preconizando um quadro evolutivo. Desse debate, Lamarck tirou proveito uma vez que foi discípulo de Buffon (TATON, 1960). Lamarck estudou medicina e história natural. Foi discípulo de Bernard de Jussie e em 1778 publicou a obra Flora francesa. Reconhecido por Buffon, este o empregou em um modesto emprego no Jardim Real, em Paris e encarregou-o de algumas missões fora da França. Em 1793, foi trabalhar no Museu de História Natural para reclassificar as coleções de animais inferiores. Encontrou dificuldades na classificação e, possivelmente, nesse museu, passou a pensar num quadro evolutivo para explicar as mudanças de animais e plantas (TATON, 1960). Lamarck (1744- 1818) escreveu o clássico livro Filosofia Zoológica publicado em 1809. Nessa obra afirmava que a biologia era uma ciência de ―causas próximas‖ que atuam no e sobre o organismo individual, como disse Caponi (2006). Isto significa que Lamarck estava interessado em estudar as relações do funcionamento dos organismos com a construção das formas, da fisiologia com a morfologia. Lamarck. Fonte: Portal do Professor. http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/ 582/imagens/lamarck.jpg&imgrefurl A hipótese central de Lamarck era a de que o ambiente exercia pressões sobre os seres vivos. Os seres vivos davam respostas a essas pressões, mas isso não levou Lamarck a afirmar que os organismos se adaptam às essas pressões. Para Lamarck, segundo Caponi (2006), todas as variações que os organismos produzem são úteis. Essas modificações eram marcas ou deformações produzidas pelas condições em que se desenvolviam as diferentes formas de vida. Lamarck não pensou darviniamente, não buscou uma utilidade no desenvolvimento de formas; estas formas não foram constituídas como estratégias de sobrevivência. A Lamarck importava estudar as mudanças fisiológicas para explicar as morfológicas (ver CAPONI, 2006). Taton (1960, p. 62) apresenta um excerto de Lamarck: Não foram – escreveu ele – os órgãos de um animal que deram lugar a seus hábitos e a suas faculdades, mas ao contrário foram seus hábitos, sua maneira de viver e as circunstâncias em que se encontraram os indivíduos de que provém que, com o tempo, constituíram a forma de seu corpo, o número e o estado de seus órgãos, enfim, as faculdades de que goza. O lamarckismo comportava, então, dois postulados: - a necessidade cria o órgão necessário; o uso fortifica-o e aumenta-o; a falta determina a atrofia e o desaparecimento do órgão inútil; - o caráter adquirido sob a ação do meio é transmitido de geração a geração; o caráter adquirido é pois, hereditário (TATON, 1960, p. 62). Ao lado dessas regras é preciso dizer que Lamarck também trazia a teoria da geração espontânea para interpretar alguns fenômenos da natureza. Para ele, a geração espontânea era um fenômeno que ocorria permanentemente na natureza. A partir de cada broto de vida que surgia na natureza, o poder da vida punha em ação a ―marcha da natureza‖. Não é incorreto, de acordo com Caponi (2006), mesmo que ele aceite a teoria da geração espontânea pela interpretação da marcha da vida, chamar Lamarck de evolucionista; errado é tratá-lo como um adaptacionista. Há mais uma dimensão a pensar aqui: Lamarck não chegou a sustentar a teoria da filiação comum: justamente pelo fato de que, permanentemente, a natureza está recomeçando a marcha da natureza. Lamarck acreditava, por exemplo, que todo mamífero tinha um ancestral réptil (porque necessariamente a vida tem que produzir o réptil antes do mamífero); mas ele não tinha porque pensar que todos os mamíferos provinham de um mesmo mamífero ancestral ou de um mesmo réptil. Se a marcha da natureza recomeça sempre, a passagem do réptil ao mamífero, ou do peixe ao réptil, pode ter acontecido muitas vezes (ver CAPONI, 2006; CAPONI, 2011). Essa marcha da natureza provoca nas espécies animais e nas plantas uma transformação de seus órgãos. Daí o nome transformismo para a teoria de Lamarck. Lamarck estudou botânica e zoologia e, com isso, reelaborou a lógica da repartição dos seres vivos. Escreveu, então, um projeto de trabalho em duas frentes científicas: uma para tratar da história da natureza e outra para constituir a Biologia como campo científico independente das outras áreas.Para essa tarefa buscou um método. Em seus trabalhos de taxonomia, esforçou-se para encontrar metodologias adequadas que descrevessem o conhecimento sobre o mundo natural. Criou modelos e analogias para ir além do método de classificação da época que se detinha na descrição das partes de uma planta ou animal, propondo o uso da dedução. Queria ampliar o campo de atividade científica e construir um modelo de processo natural (JORDANOVA, 1990). Estudou as plantas, animais, fósseis, a relação mente-corpo, o papel do comportamento dos animais nas mudanças e adaptação ao meio ambiente; e criou uma linguagem para expressar os pontos de vista científicos. Trabalhou no Museu Nacional de História Natural de Paris atendendo e dando aulas a jovens sobre história da natureza e taxonomia. Para este trabalho recebeu o apoio de Buffon (JORDANOVA, 1990). Jordanova (1990) diz que Lamarck foi o primeiro naturalista que ofereceu um panorama sistemático do desenvolvimento histórico da natureza. Essas são as verdadeiras características do trabalho de Lamarck. Propagar a ideia de que na teoria de Lamarck era central a herança dos caracteres adquiridos, é incorreto. Como afirmou Gould ( 1989, p.65): A hereditariedade dos caracteres adquiridos é geralmente designada pelo nome mais curto, embora historicamente incorreto, de lamarckismo. Jean Baptiste Lamarck (1744-1829), grande biólogo francês e evolucionista antecipado, acreditava na hereditariedade dos caracteres adquiridos, mas esta não era certamente a peça central da sua teoria evolucionista, nem sequer uma ideia original sua. (...) Lamarck argumentou que a vida é gerada contínua e espontaneamente numa forma muito simples, para subir então uma escada de complexidade motivada por uma força que tende incessantemente a complicar a organização. Esta força opera através da resposta criativa dos organismos a necessidades sentidas. Mas a vida não pode ser organizada como uma escada porque o caminho para cima muitas vezes diverge por requisitos de ambientes locais: assim, as girafas adquiriram pescoços longos e as aves pernaltas pés de palmípede, enquanto as toupeiras e os peixes abissais perderam os olhos. O postulado acerca da hereditariedade dos caracteres adquiridos foi parte importante da teoria de Lamarck, mas não teve papel central. É o mecanismo para assegurar que a prole se beneficie dos esforços de seus pais, mas não impulsiona a evolução escada acima. Nos finais do século XIX, muitos evolucionistas divisaram uma alternativa à teoria da seleção natural de Darwin. Releram Lamarck, deixaram de lado o âmago da sua teoria (geração contínua e forças complexas) e levaram um aspecto da sua mecânica - a hereditariedade dos caracteres adquiridos - até um foco central, posição que ela nunca tivera, nem para o próprio Lamarck. Além disso, muitos desses autodenominados neolamarckistas abandonaram a sua ideia fulcral, de que a evolução é uma resposta ativa e criativa dos organismos às necessidades sentidas. Na verdade, preservaram a hereditariedade dos caracteres adquiridos, mas conceberam as aquisições como imposições diretas dos ambientes aos organismos passivos (GOULD, 1989, p.66). No século XVIII não tínhamos, ainda um sistema de classificação satisfatório para tratar da organização dos seres vivos. Havia sistemas de classificação dos animais e vegetais que levavam em conta quase todas as propriedades de um ser vivo, eram chamados sistemas naturais. Para a classificação do ponto de vista metodológico, havia um conceito geral que orientava as classificações específicas. Exemplificando: havia no século XVIII, a noção de série, um sistema maior, que abarcaria outros sistemas, os grupos. Série geral significava um quadro de distribuição cronológica e, também, lógica para pensar a organização dos animais e plantas. No final do século XIX e no século XX o neolamarckismo surgiu principalmente na França com Le Dantec, A. Giard, G. Bonnier, Costantin, F. Houssay, E. Perrier. Para esses naturalistas o meio era o agente central da transformação dos seres vivos. Tratava- se de uma concepção radicalmente empirista sobre a mudança dos seres. Ou seja, os animais e plantas apenas recebiam os agentes externos para compor sua mudança. Lineu (1707 – 1778) Lineu Fonte: http://dererummundi.blogspot.com/2007/12/inaugurao-de-exposio-sobre-lineu.html É considerado o fundador da taxonomia moderna. Mudou a lógica do sistema de organização e de classificação das plantas. Além disso, pelo gosto de realizar inventários das plantas, fez várias viagens pelo Velho e Novo Mundo e pôde, assim, conhecer a biodiversidade dos dois mundos. De acordo com Amaral (2007, p.1) o legado científico de Lineu ―influenciou várias gerações de cientistas, mesmo aqueles que se opuseram às concepções filosóficas e teológicas sobre as quais assenta a sua obra. Filho de um pastor luterano, Lineu considerava-se enviado de Deus para desvendar o segredo da Natureza‖. Sua obra Systema Naturae, de 1735, fez com que o mundo conhecesse 7000 plantas e 4000 animais. ―O impacto do seu sistema de classificação na cultura do seu tempo foi incalculável e influenciou um considerável número de discípulos, atingindo não só cientistas como também figuras de Estado e do clero, bem como jardineiros, pintores ou escritores‖ (AMARAL, 2007, p1). Lineu também se reportou à utilidade prática do conhecimento das plantas e animais. Propôs à seu país, a Suécia, uma estratégia econômica de política de ―substituição de importações utilizando suportes científicos e tecnológicos até então desconhecidos, designadamente os processos de adaptação e aclimatação botânicas‖ (AMARAL, 2007, p. 1). Dessa forma, conseguiu financiamento para suas expedições fora e dentro de seu país. Teve acesso a coleções de espécies de várias partes do mundo, inclusive do Brasil (AMARAL, 2007). Neste contexto, elaborou um método para classificar, tomando a tradição de dois naturalistas que estudaram as plantas, J.P. de Tournefort (1656-1708) e John Ray (1686- 1704), criadores do conceito de espécie. O modelo pensado por Lineu para a classificação das plantas baseou-se em uma única propriedade ou característica da planta: sua flor e desta, seus estames. Daí o nome de sistema sexual de classificação. Foi chamado de sistema artificial de classificação, pois da planta, focava sua análise em uma característica, ao contrário do sistema natural de classificação que levava em conta todas as características de um ser vivo. Lineu elaborou também o que chamamos de classificação binária. O que é isso? Nomeamos um hominídeo de, por exemplo, de Homo sapiens; Homo designa gênero, (um grupo), sapiens, a espécie (subgrupo do grupo Homo). Pois é, leitor (a), essa classificação é de Lineu. Elaborou-a designando uma espécie por um duplo termo: um substantivo para gênero e um adjetivo para a espécie. Assim o gênero Felis comporta as espécies: Felis domesticus (gato doméstico), Felis catus (gato selvagem), Felis leo (leão), Felis pardus (pantera), Felis tigris (tigre) (TATON, 1962). Podemos visualizar esta classificação ou organização dos seres vivos pensando em agrupamentos. Dentro de um grupo maior, há grupos menores que se ligam pelas qualidades que caracterizam o gênero e se distinguem (em subgrupos) por características diferentes. O método é: reúne-se por semelhanças, separa-se pelas diferenças das características. É um método de classificação de alto valor prático; é um trabalho de arranjos lógicos hierárquicos. Apesar de Lineu ter uma posição fixista diante do debate sobre origem das espécies, seusistema de classificação foi muito usado, inclusive por Lamarck e Buffon. Lineu viveu uma era de consolidação do Iluminismo, ou seja, a segunda metade do século XVIII. Precisou, então, afirmar sua carreira. Talvez, isso explique suas inúmeras publicações entre 1735 e 1738 que se tornaram a unidade basilar das ciências naturais até o darwinismo (AMARAL, 2007). Entre os amigos e protetores teve, na França Antoine Laurent de Jussieu (1748—1836), o naturalista francês, muito influente em sua época. Jussie indicou-o à Academia de Ciências de França no qual foi aceito (AMARAL, 2007). Amaral (2007, p. 1) descreve que em 1741, Lineu ocupou a cátedra de Medicina Prática na Universidade de Uppsala. Dessa cátedra passou à de Botânica e se tornou ―responsável pelo ensino da Botânica, da Metalurgia e, ainda, pela supervisão do jardim botânico‖. Restaurou o jardim botânico (organizando as plantas de acordo com o seu sistema de classificação). Lineu era um professor muito popular e a história natural apaixonava facilmente qualquer aluno. Estudantes de todas as faculdades vinham assistir às suas aulas, correspondiam-se com ele. Os reis da Suécia concederam-lhe o título nobre em 1757, passando a usar o nome de Carl von Linné. Publicou várias obras sobre as expedições que realizou e tinha contato com naturalistas do mundo inteiro. Enviava, também, seus discípulos a diferentes viagens científicas. Carl Peter Thunberg, Daniel Solander, Peter Kalm, Anders Sparrman viajaram para a China, Japão, Nova Zelândia, América do Norte e do Sul, Médio Oriente e África. Orientou 180 dissertações e 23 dos seus alunos tornaram-se professores. Lineu publicou mais de uma centena de obras. Nesta época, a sistemática e a taxonomia foram os vectores determinantes da apropriação e explicação do mundo biológico que no século seguinte conduziriam à emergência da Biologia como disciplina autônoma (AMARAL, 2007, p1). Teve grande aceitação entre os ingleses e os iluministas franceses mesmo de Buffon que foi seu adversário intelectual (AMARAL, 2007). Buffon (1707-1788) Buffon Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm17/curiosidpi.htm Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon, foi um homem corajoso e inquieto. Tornou-se naturalista e matemático após estudar Direito e Medicina. No século XVIII em que as religiões explicavam os fenômenos da natureza, e o Criacionismo afirmava a existência do homem, Buffon, 100 anos antes de Darwin, questionou a veracidade da criação do homem por um Deus demonstrando que havia muitas semelhanças entre os primatas e os homens. Com sarcasmo mostrava que os 6000 anos para o Homem aparecer na Terra não eram suficientes para datar o planeta; era necessário um período de 78.000 para a formação do sistema solar e aparecimento dos hominídeos. Silver (2003) afirma que em vez dos sete dias do Genese, Buffon propos sete longas époches. Tanto que sua primeira publicação foi o livro Épocas da natureza no qual descrevia sua visão de como formou- se o planeta e os seres vivos. Em 1739, os 32 anos, depois ficar cerca de 4 anos fora da França (porque envolvera-se em um duelo), Buffon voltou e foi nomeado diretor do Jardim Real. Investigou, aí, plantas, animais além de mineralogia e química. Casou-se em 1752 com Marie Françoise de Saint-Belin Malain em 1752. Tiveram um filho que foi aluno de Lamarck e que, em 1794, foi executado pela Revolução Francesa. Estudava filosofia da biologia. Foi amigo de Voltaire e dos Iluministas. Aceito na Academia Real de Ciências assumiu, em todas suas pesquisas, idéias e métodos opostos ao de Lineu. Sua posição era a mesma de Lamarck, sendo, inclusive, seu protetor. Buffon procurava entre os animais de diferentes gêneros alguma familiaridade que pudesse indicar os mesmos antepassados. Perguntava-se, estudando os animais de diferentes continentes se eles não teriam algo em comum. Macaco e homem não teriam parentesco? O asno e o cavalo? Os pássaros e os répteis? (TATON, 1960). Buffon descrevia um quadro da Terra em que a natureza era um continuum, tinha um passado e um futuro com novas espécies. Todavia, por vezes, era impossível perceber diferenças entre as formas novas. O resultado de suas investigações, melhor dizer de sua vida inteira, foi a obra História Natural. Foram 44 volumes divididos em Quadrúpedes nos anos de 1749 a1767), com o apoio de Luís Daubenton que forneceu os detalhes anatômicos; Pássaros, (1770-1783), com o apoio da Bexon Abbé e G. de Montbeillard; Volumes suplementares de 1778; Minerais, de 1783 a 1788; e 8 volumes sobre répteis de 1788 a 1789 e, ainda sobre cetáceos (1804) preparada por um colaborador seu (DICIONÁRIO OXFORD DE CIENTISTAS, 2011). Para Buffon a natureza como um continuum não poderia ser classificada ou dividida em gêneros, classes e ordens. O que existiam eram indivíduos na natureza. Mais tarde, ele mudou de opinião e admitiu que dois animais podem pertencer à mesma espécie desde que eles possam se perpetuar. Isso ocorreu porque Buffon estava impressionado com a individualidade e diversidade dos animais para aceitar que essas pudessem ser classificadas em unidades básicas rígidas. Pensava a classificação em termos mais gerais: répteis, aves e mamíferos, mas para ele foi um padrão apenas convencional (DICIONÁRIO OXFORD DE CIENTISTAS, 2011). Buffon tinha uma visão da natureza em movimento contínuo e em transformação; os planetas, inclusive a Terra, teriam surgido de massas quentes do cosmo que, dispersas no espaço, ficaram congeladas e orbitaram em torno do sol. Isto foi descrito na obra Épocas da natureza, em 1779 (DICIONÁRIO OXFORD DE CIENTISTAS, 2011). A vida, na hipótese de Buffon, surgiu de moléculas orgânicas atraídas entre si e pelo calor. Essas moléculas se ―empacotariam‖ graças à tração recíproca e ao molde, ou moule interieure. Para a formação dos indivíduos ou das espécies foi necessário um determinado número de moldes. Junto com as duas definições que explicitavam sua teoria acerca do aparecimento da vida no planeta Terra, moléculas orgânicas e molde interior, Buffon cunhou mais uma, a ideia de degeneração (DICIONÁRIO OXFORD DE CIENTISTAS, 2011). Os indivíduos ou as espécies podiam se degenerar dependendo das condições climáticas, de cultivo e de domesticação. Para tratar disso espelhou-se nos animais do Velho Mundo e analisou os animais do Novo Mundo. Para ele os tamanduás e tatus no Brasil, os marsupiais na Austrália eram exemplos de animais degenerados. Os primeiros porque não tinham dentes (na verdade, os tatus só não têm os dentes da frente; têm de 7 a 25 pequenos dentes de cada lado da boca) e os marsupiais porque nasciam precocemente (com cerca de 5 cm) (ver GERBI, 1996). Embora a ideia de Buffon quanto aos animais degenerados do Novo Mundo fosse limitada, suas discussões propiciaram o interesse no papel da distribuição geográfica dos animais e plantas. É considerado precursor de Darwin. Buffon, segundo Darwin, foi um dos primeiros a estudar cientificamente a origem das espécies. Buffon também é conhecido por propor o método estatístico, chamado Método Monte Carlo para o cálculo do π. Quanto ao papel da evolução dos seres humanos, Buffon mantinha-se tímido. Para ele, os humanos tinham alma. Essa maneira de conceber a evolução punha em debate, na Europa dos brancos, como seriam os homens do Novo Mundo? Morel (1999) no artigo Animais, Monstros e disformidades: a ―zoologia política‖ no processo de construção do Império no Brasil comenta as metáforas zoológicas utilizadas por europeus brancos e dentre estes, Voltaire, Molliére,A selvageria era um antônimo para o bom comportamento dos brasileiuros diante das forças políticas. Ser a favor da República significava ser selvagem, grotesco porque os atos dos opositores eram ferozes para a política do Império; ―eram víboras contra a pátria‖ (MOREL, 1999, p. 253). A crença preformista após a teoria de surgimento da vida de Buffon Após Buffon muitas questões vieram à tona. Uma delas, a de que o embrião estava pré- formado no sêmen humano ou animal, sofreu abalo. Estamos falando da teoria que se opôs a essa elaborada por Maupertois. Este naturalista, geômetra e filósofo, tomou o postulado transformista e, em 1754, defendeu em seu Ensaio sobre a formação dos corpos que as crianças são geradas da união de ―moléculas seminais‖ de ambos os pais. Além disso, tratou da possibilidade de ocorrer, nessa união, uma combinação irregular das moléculas seminais que levaria ao nascimento de seres anormais. Maupertois dedicou-se a análise de variação nos seres estudando, como verdadeiro geneticista, problemas de variações no número de dedos e outras características animais (TATON, 1960). Encontramos, também, no século XVIII, filósofos, sobretudo, franceses, que analisaram o debate sobre a origem das espécies do ponto de vista das evidências fósseis. São chamados de precursores do transformismo especulativo, porque teceram notáveis considerações teóricas sobre as transformações das espécies animais. São os filósofos Benoist de Maillet (1659-1738), e J. B. Ch. Robinet (1735-1820). Maillet partia da crença no dilúvio, mas depois sua análise apresentava uma concepção transformista: as espécies vivas vinham das espécies originais que, por transformações súbitas, foram engendradas em outras, inclusive o homem (TATON, 1960). Para Robinet, todas as espécies surgiram de um único reino, de um protótipo, que em uma cadeia contínua originou os mais variados aspectos dos seres. O homem, escreveu Robinet, surgiu do esforço da natureza (TATON, 1960). Neste percurso das idéias evolucionistas temos o avô de Darwin, Erasmus Darwin (1731-1802). Sua obra mais importante é a Zoonomia que apresenta a teoria de formação gradual e aperfeiçoamento das espécies (TATON, 1960). Erasmus Darwin Fonte: http://kelleyswain.wordpress.com/2010/03/16/erasmus-darwin-house/ Para Erasmus Darwin, toda a vida natural procedia de um único filamento orgânico primordial que de, geração a geração, se aperfeiçoava e transmitia tais aperfeiçoamentos às gerações posteriores. Analisou as transformações pesquisando as causas externas como clima, doenças, hibridação, domesticação, ascendência, desejos, esforços etc. Em suas observações sobre o comportamento dos animais indica que os órgãos dos animais têm relação com suas habilidades e necessidades para comer, beber água, por exemplo. Assim o elefante utilizava sua tromba para puxar as folhas das árvores e beber água sem flexionar os joelhos. Havia, em sua análise, a ideia lamarckiana das necessidades criadoras e também a visão de noções que seu neto aprimorou na Origem das Espécies em 1859. Aparece em sua teoria a noção de seleção sexual e de adaptação. Erasmus Darwin apontava no Zoonomia o papel da coloração dos animais para proteção, o papel dos esporões do galo para a briga por fêmeas etc (TATON, 1960). Junto ao debate sobre fixismo e transformismo, outros naturalistas trabalhavam para estabelecer como se formam os embriões e como se desenvolvem. Duas correntes postularam ideias opostas e até as explicações de Mendel essas posições permaneceram na história da biologia. Uma formulação era a dos preformistas; afirmavam que no óvulo humano (ou no espermatozóide) havia algo pré-formado se ―evolvia‖ (evoluía, desenvolvia) em um ser humano (TATON, 1960). As correntes preformistas e epigenistas: Bonnet, Spallanzani, Von Haller, Buffon, Needham A corrente preformista teve como representantes o naturalista e filósofo suíço Charles Bonnet (1720-1793), Caspar F. Wolff (1733-1794), Spallanzani (1729-1799) entre outros (TATON, 1960). Representação do preformismo Fonte: http://obelogue.blogspot.com/2009_10_01_archive.html Entre os epigenesistas estavam Albert Von Haller, Maupertois, Buffon (que contou com a ajuda de Needham (1713-1781), para examinar esperma e materiais de glândulas sexuais no microscópio para buscar as moléculas orgânicas). Para estes havia no interior do óvulo e do espermatozóide moléculas orgânicas que se uniam para formar o ser humano (TATON, 1960). Nos livros didáticos, que como diz Gould (1987), adoram uma boa fofoca, os preformistas aparecem como os tolos da ciência. Todavia,os dois grupos apresentavam para o debate argumentos muito cuidadosos de suas hipóteses. Os dois grupos estudaram o desenvolvimento embriológico da galinha, todos sabiam que o embrião do pintinho se parece com um tubo no início do desenvolvimento e depois os órgãos se diferenciam em complexidade e tamanho. O problema estava na discussão da organização do que existia no interior do óvulo ou espermatozóide. Os preformistas, de certa forma, estavam certos, diz Gould (1987), pois era preciso que existisse uma organização no interior da célula para que fossem gerados seres tão perfeitos. ―Se o óvulo fosse desorganizado, composto e matéria homogênea sem partes pré-formadas, como poderia dar origem à complexidade tão maravilhosa, exceto como produto de forças relativas tão misteriosas?‖ (GOULD, 1987, p. 203) Então, os preformistas não estavam tão errados como divulgam os manuais didáticos de ciências. Se entendermos que as instruções codificadas do DNA são preformadas, não estava tão incorreta a insistência dos preformistas. Os epigenesistas triunfaram porque estavam certos que o desenvolvimento embriológico era seqüencial a partir dos rudimentos mais simples durante o desenvolvimento embriológico e não de partes preformadas. Mas, estamos falando de um debate em um século que não tinha os estudos sobre o DNA. 2 - O Século XIX Charles Robert Darwin Fonte: http://edtech2.boisestate.edu/searsc/573/darwin.html O século XIX para as ciências representou um período de mui ta fecundidade. Do ponto de vista político foi um século de mudanças sociais e econômicas na Europa com o fortalecimento do capitalismo ao mesmo tempo em que a lutas operárias entravam em ascensão. Foi, politicamente um século de muitas mudanças sociais, culturais e políticas. Em termos científicos, o século XIX foi um século em que as teorias sobre a origem dos seres vivos e do homem tomaram outro rumo na história das ciências. A explicação para o surgimento das espécies e do homem é reorientada pela ideia da evolução, tarefa que Lamarck, Buffon e outros haviam iniciado no século anterior. Mas, é importante entender que, embora a obra de Darwin tenha tido grande repercussão na Europa e fora dela, sua obra foi resultado de quase duas décadas de análise e de debate em torno do criacionismo e transformismo sempre dialogando com seus amigos. Foi o caso de do botânico Joseph Hooker, o zoólogo Thomas Huxley, o geólogo Charles Lyel, do geólogo e zoólogo Richard Owen, do ornitólogo John Gould entre outros (TATON, 1960; GOULD, 1990). Com esse trabalho Darwin (1809- 1882) realizou, no século XIX, o trabalho dos transformistas do século XVIII. Nascido em 12 de fevereiro de 1809, no mesmo dia em que nasceu Abraham Lincoln, ambos parecem ter duas dimensões semelhantes nas suas biografias, diz Gould (1990, p. 323): o papel de homem e de lenda. Lincoln aparece na história dos EUA como o ―honesto Abe, que libertou os escravossozinho, apenas por uma questão de justiça...‖. ―Darwin aparece como o homem que se fez evolucionista em sua viagem de cinco anos sozinho em alto mar‖ (GOULD, 1990, p. 323). Na verdade, Darwin só se tornou um naturalista evolucionista, após sua viagem entre 1831 a 1836 no navio Beagle. Para Gould (1990) talvez isso somente tenha ocorrido em 1837 quando iniciou a análise de sua coleta com a ajuda de outros estudiosos como John Gould (ornitólogo), Richard Owen, geólogo e zoólogo, e a vida científica ativa de Cambridge e Londres. Mapa da Viagem de Darwin entre 1831 a 1835, Beagle. Darwin passou pela Bahia, Niterói no Rio de Janeiro em 1831. Fonte: http://edtech2.boisestate.edu/searsc/573/darwin.html Para Gould (1990, p. 330), Darwin chegou e saiu de Galápagos ―na condição de um criacionista que nutria dúvidas nascentes‖. Ele não percebeu, por exemplo, o significado evolutivo na Ilha de Galápagos. Sua compreensão dos tentilhões foi errada. Os tentilhões dessas ilhas eram os tordos-dos- remédios! Pergunta Gould (1990, p. 326): O que, então, Darwin realmente viu nas Galápagos, e o que lhe passou despercebido? Três grupos de animais atravessaram a história como os mais famosos laboratórios evolutivos das Galápagos: os tordos-dos- remédios, as tartarugas e os tentilhões. Foi apenas no caso dos tordos que Darwin fez a observação-chave subjacente à história evolutiva contada depois (embora, como vimos Darwin tenha rejeitado explicitamente e leitura evolutiva em favor de uma interpretação diferente). Em resumo, ele percebeu que formas variantes (mais tarde reconhecidas como espécies verdadeiras, embora Darwin tenha catalogado como variedades) habitavam as diferentes ilhas que visitou. Ele desembarcou, primeiro na Ilha Chatham, depois na Ilha Charles, e então percebeu que podia distinguir o tordo da ilha Charles da forma que coletara antes na Ilha Chatham. Assim, ele passou a coletar mais tordos onde quer que desembarcasse e teve o cuidado de manter as coleções de cada ilha diferente bem catalogadas e distintas. Ele não conseguiu distinguir o tordo de Albermale, na terceira ilha que visitou, da forma da ilha de Chatham, mas o pássaro da ilha James representava uma terceira variedade distinta (de acordo com a sua interpretação). Gould (1990) quer chamar a nossa atenção para o mito do cientista que trabalhou e fez a teoria revolucionária sozinho. As observações de Darwin em alguns casos foram precárias, de acordo com Gould (1990) porque este ainda era um criacionista. Porém, de volta à Inglaterra e com a colaboração de outros naturalistas ele conseguiu romper padrões mais antigos de pensamento e vislumbrar novos modos de explicação. [...] Darwin trabalhou com a sua cultura e os seus colegas. A Ciência é um esforço coletivo; mas alguns indivíduos operam com uma visão ampliada – e gostaríamos de saber como e por quê (GOULD, 1990, p. 334). Charles Darwin publicou A origem das espécies em 1859, após mais de 15 anos de análise, duvidas e mudanças em sua própria concepção. Quinze anos foram necessários para compreender as evidências empíricas de toda sorte, insetos, pássaros etc., que coletara na Viagem do Beagle. O núcleo de sua teoria evolutiva é o mecanismo de seleção natural, mas este conceito tem sido mal interpretado até hoje. Como diz Gould (1987) a ―base da seleção natural é a expressão da simplicidade‖: 1) Os organismos variam, e essas variações são herdadas (pelo menos em parte) por seus descendentes. 2) Os organismos produzem mais descendentes do que aqueles que podem sobreviver. 3) Na média, a descendência que varia com mais intensidade em direções favorecidas pelo meio ambiente sobreviverá e se propagará. Variações favoráveis, portanto, crescerão na população através da seleção natural. (GOULD, 1987, p. 1). A seleção natural é a força criativa da evolução e não apenas o verdugo dos animais não aptos. É um mecanismo que permite às espécies a variação como a sua adaptação. Como adaptação a evolução atua com a necessidade do trabalho de seleção natural, como variação (não é preferencialmente adaptação) há o acaso. Para Darwin o processo evolutivo não tem uma finalidade definida. Não é propósito da evolução melhorar nada, nem ninguém. Os organismos ficam mais adaptados e isso é tudo, escreveu Gould (1987). Em Darwin podemos ver que, desde cedo, pensou a descendência por modificação (mais tarde evolução) e a descreveu em um diagrama em formas de árvore. Diagrama da árvore evolucionária nos manuscritos de 1837. Fonte: http://www.d.umn.edu/cla/faculty/troufs/anth1602/pcheader_R1.html Nos livros didáticos de ciências e biologia, que, repetimos com Gould (1987), adoram uma boa piada, a evolução humana é representada pela metáfora escada que sustenta a idéia de evolução linear, na qual de um ancestral pré-humano surge, um a um, humanóides mais aprimorados. Todavia, a metáfora escada tira da evolução apresentada por Darwin, no século XIX, seus argumentos centrais. Vejamos: 1) não há uma seqüência evolutiva para a descrição das espécies vivas como mostram os manuais didáticos Há seqüências evolutivas elaboradas a partir dos fósseis e do tempo geológico, ou como diz Gould (1987), de trilhas labirínticas, construídas ramo a ramo de uma árvore cuja linhagem sobrevivente está no topo. Vejamos duas imagens; ambas cumprem função cognitiva, uma de livro didático, figura 1, outra aceita como a mais verossímil entre os paleontólogos, figura 2. Figura 1: Fonte: http://pt.dreamstime.com/foto-de-stock-evolu-ccedil-atildeo-humana-image9342070 Figura 2. Fonte: www.laser.com.br/usuarios/svasques/evolution.jpg 2) Provavelmente ocorreu especiação nestes ramos, ou seja, muitas espécies novas apareceram de ramos que ficaram isoladas geograficamente. Como se dá a especiação? Isso é um eterno pomo de discórdia, mas a maioria dos biólogos endossaria a ―teoria alopátrica‖ (o debate centra-se na admissibilidade de outros meios; quase todos concordam que a especiação alopátrica é a mais comum). Alopátrica significa ―em outro lugar‖. Na teoria alopátrica, popularizada por Ernest Mayr, as novas espécies surgem em populações muito pequenas, que ficam isoladas do grupo que lhes deu origem, na periferia da esfera ancestral. A especiação nessas ilhas isoladas é muito rápida, em termos de padrões evolutivos – centenas de milhares de anos (um microssegundo geológico). Nessas pequenas e isoladas populações podem ocorrer importantes mudanças evolucionistas. A variação genética favorável pode espalhar-se entre eles. Além do mais, a seleção natural tende a ser intensa em áreas geograficamente marginais, onde espécies mal se consolidam. Em grandes populações centrais, por outro lado, as variações favoráveis espalham-se muito devagar, e grande parte das mudanças sofre resistência por parte da população bem adaptada. Ocorrem, claro, pequenas mudanças para fazer face às exigências da vagarosa alteração do clima, mas as grandes reorganizações genéticas quase sempre ocorrem em pequenas populações perifericamente isoladas, que foram, então, novas espécies (GOULD, 1987, p.54). 3) O Homo sapiens não é o produto de uma escada que desde o início até os dias atuais sobrevive em direção ao degrau maior. ―Constituímos tão somente a ramificação sobrevivente de um arbusto outrora exuberante‖ (GOULD, 1987, p. 55). Outras questões são, também, importantes para compreendermos Darwin: Darwin em toda sua obranão usou o termo evolução porque esse termo, no século XIX, implicava uma aproximação com o preformismo. Usou descendência por modificação analisando sua coleta segundo a distribuição geográfica. As modificações correspondem à adaptação dos órgãos ao modo de vida particular de cada espécie. 1) A seleção natural é o mecanismo do processo de adaptação do organismo ao ambiente. As três espécies de tentilhões que Darwin observou em Galápagos caracterizavam-se por bicos grandes que funcionam como quebra nozes. A três espécies viviam no solo; a Geospiza fuliginosa, que apresentava o menor bico das três, alimentava-se de grãos pequenos, a Geospiza fortis, com bico maior que a G. fuliginosa, alimentava-se de grãos maiores e a Geospiza magnirostris, com bico maior alimentava-se de grãos muito grandes. Como Lamarck observou a relação entre o órgão e o modo de vida, mas procurou ver a gradação entre as espécies, isto é, diferença individual, variedade, subespécie e voltou-se para outro mecanismo além da hereditariedade dos caracteres adquiridos; trouxe à tona o conceito de seleção natural (BLANC, 1994). 2) As provas da evolução são: a) as provas fósseis, a distribuição biogeográfica das espécies no planeta. Para elaborar esta prova Darwin analisou a distribuição das espécies em diferentes continentes; certas áreas geográficas caracterizam-se por faunas particulares. A Austrália apresenta uma fauna especial de mamíferos, os marsupiais, canguru, nos quais o desenvolvimento embrionário se dá no exterior do corpo materno; na América do Sul são encontrados tatus, tamanduás, lhamas, animais que não aparecem em outra região do mundo. Mesmo os macacos como o mico que tem cauda preênsil é diferente dos macacos da África. Aos olhos de Darwin estes três continentes estão na mesma zona intertropical; apresentam climas comparáveis e tem faunas diferentes. Assim, para ele, a descendência com modificação é a solução desse enigma. Ancestrais dos marsupiais entraram por acaso na Austrália há muito tempo atrás e as espécies atuais, são seus descendentes extremamente modificados (71 gêneros). Da mesma forma na América do Sul. Os tatus, as preguiças e os tamanduás descendem de formas ancestrais cujos fósseis eram encontrados neste mesmo continente (Darwin encontrou um fóssil de tatu gigante de dois metros de altura na Argentina). Outro aspecto importante são as espécies de animais colonizados por uma migração em um determinado local. Em geral os animais colonizados apresentam formas muito semelhantes às que ocupam as regiões de onde saíram os colonos. c) Outra prova é da sistemática, da hierarquia das espécies classificação das espécies em vasto sistema de gêneros em famílias, ordens e classes que Lineu já havia feito. Para Darwin isto comprovava a descendência com modificação das espécies. d) as provas da comparação da morfologia dos animais (homologias na organização anatômica), e) as provas embriológicas. Alfred Russell Wallace (1823-1913) Alfred Russell Wallace em 1900 Fonte: http://www.libraries.uc.edu/libraries/arb/exhibits/darwin/wallace_visit.html Em 1858, um naturalista inglês, Alfred Russell Wallace enviou a Darwin seus primeiros manuscritos para uma primeira exposição de suas descobertas e teoria. Seus escritos apresentavam o resultado de suas viagens pela Malásia; escrevera o manuscrito entre 1842 a 1844. Wallace que também passara pelo Brasil em 1848. De 1850 a 1852 ficou na Amazônia na região do Rio Negro e Rio Uaupés. Deste trabalho elaborou uma coleção de 212 ilustrações sobre os peixes destes rios. Essas ilustrações e as suas anotações sobre os peixes constituem, hoje, o livro Peixes do Rio Negro, o pouco que sobrou do incêndio que destruiu o navio que Wallace estava quando voltava para a Inglaterra. Há uma edição brasileira deste livro de 2002, edição da Universidade de São Paulo. A família de Wallace enfrentou dificuldades finaceiras que o impediram de estudar regularmente. Morou em Londres e trabalhou com seu irmão mais velho, John, como ajudante de construtor. Mais tarde trabalhou com seu irmão em agrimensura. Nesse período assistiu aulas no Instituto de Mecânica em Londres e estudou mecânica. Aí entrou em contato com as ideias socialistas de Robert Owen e Thomas Paine. Além de trabalhar como agrimensor, foi professor em uma escola de ensino médio em Leicester para ensinar desenho, cartografia e agrimensura. Na biblioteca dessa escola leu o livro de Malthus, Um ensaio sobre o princípio de população e tornou-se amigo do entomologista Henry Walter Bates. Com Bates familiarizou-se com o estudo de insetos. Mesmo voltando a trabalhar com agrimensura, Wallace continuou a estudar insetos. Escrevia a Bates para discutir o livro de Robert Chambers, Vestígios da História Natural da Criação e a Viagem do beagle de Darwin w a obra de Lyel, Principios de Geologia. Quando Wallace entrou em contato com Darwin, pedia-lhe que transmitisse a Lyel sua comunicação Tendência de as variedades de se separarem indefinidamente de seu tipo original (essa comunicação foi publicada na Revista da Sociedade Lineana de Londres em 1858, páginas 53 a 62 (TATON, 1960). Nesse texto apresentava o princípio da seleção como base da diversificação das espécies. Lyell, o botânico Joseph Hooker, o zoólogo Thomas Huxley aconselharam Darwin a apresentar os dois trabalhos juntos na Sociedade Lineana de Londres. Isso foi feito em 1º de julho de 1858. Ao que tudo indica, Wallace aceitou o acordo de publicarem juntos seus textos. Um destaque precisa ser dado ao Diário de Wallace, publicado em 1869 como The malay Archipelago. Trata-se das observações feitas entre 1854 a 1862, quando Wallace esteve na Malásia e Indonésia. Aí coletou insetos para vender e estudar. Conseguiu cerca de 125000 espécies sendo 80000 de besouros e mais de mil espécies nunca vistas antes em nenhuma coleção da Europa. Esse Diário é considerado um dos mais populares do Século XIX até o XX. Dedicou-o a Darwin e segundo o romancista Joseph Conrad, o Diário de Wallace era seu livro de cabeceira influenciando seu romance Lord Jim. Wallace foi o primeiro a propor uma geografia das espécies animais e é, por isso, considerado o precursor da ecologia ou biogeografia. Gregor Mendel Gregor Mendel Fonte: http://www.wired.com/thisdayintech/2010/02/0208gregor-mendel-reads-paper/ O reconhecimento da biologia com estatuto de ciência ocorreu na passagem do século XIX ao XX com a elucidação dos debates do século XVIII, com a teoria da evolução de Darwin e com Mendel (1822-1884) que trouxe à área os primeiros conhecimentos sobre o que chamaríamos mais tarde de genética. Antes de Mendel os primeiros trabalhos que podemos situar na origem da genética são os de A. Quetelet (1796-1874). Quetelet fazia estudos estatísticos de das variações em grupos de indivíduos, ou populações. Ele estudava, especificamente, as variações de tamanho em um grupo de pessoas e encontrou alguns padrões de tamanho em populações homogêneas. Entre trabalhos similares, há os do botânico dinamarquês W. Johannsen, sobre variações de peso em populações de feijão de uma mesma semente inicial, estudada em gerações provindas de autofecundação (linguagem pura). Também Fr. Galton e K. Pearson, ingleses, fizeram trabalhos de biometria em populações humanas com famílias no curso de gerações sucessivas (TATON, 1962). Charles Naudin (1815-1889), na França, trabalhando com plantas fez ―hibridações interespecificas em muitas espécies e esboçou os primeiros temas do mendelismo: uniformidade dos híbridos de primeira geração (F1), identidadedos cruzamentos recíprocos (qualquer que seja o sexo do genitor), retorno aos tipos parentais (fato que ele demonstra nas primaveras de jardim no ano de 1856), heterogeneidade das gerações F2 (quando F1 são férteis e autofecundadas)‖ (TATON, 1962, p. 69) Mendel, morando em um mosteiro e filho de agricultores, não lhe faltou paciência na observação de detalhes das plantas e conhecimento de muitas delas. Meticulosos e paciente, Mendel, do ponto de vista metodológico, concentrou suas observações em um número muito pequeno de características de uma única planta. Começou com plantas que tinham hastes longas, cruzou-as entre si pelo menos duas gerações, até que toda a descendência tivesse hastes longas. Fez o mesmo com as plantas de hastes curtas. Somente após esses dois experimentos, ele cruzou as plantas de hastes longas e curtas, tomando o pólen de uma levando-a a outra. Verificou que todas as hastes nasciam longas. Cruzou, em seguida, as de hastes longas da primeira geração entre si e documentou o comprimento da primeira geração entre sua progênie. Como resultado obteve, na segunda geração, plantas de hastes curtas como de hastes longas. A partir daí, conduziu experimentos similares para observar outras características das plantas: cor das flores, posição das flores. Chegou a 28.000 resultados desse cruzamento (CLIVER, 2003, p. 393) Do seu mais conhecido experimento com a espécie Pisum sativum, a ervilha comestível, Mendel primeiro recolheu metodicamente grãos fornecidos por cada planta. Depois cruzou as linhagens duas a duas, efetuando a polinização artificial. Combinou duas a duas diversas variedades que apresentavam diferenças precisas: grãos lisos x grãos rugosos; albume amarelo x albume verde; flores brancas x flores coloridas; vagens retilíneas x vagens monoliformes, flores áxeis x flores terminais; hastes longas x hastes curtas. Em cada um destes cruzamentos obteve como Naudin uma primeira geração F1 uniforme, reproduzindo uma das duas formas parentes. Para as gerações seguintes, F2, F3, F4 efetuou autofecundação natural. Com isso, em F2, obteve ¾ das plantas que apresentam um dos tipos iniciais e ¼ de plantas do outro tipo, que reaparece. Deste modo, o tipo manifestado em F1 é chamado de dominante e o que reapareceu em F2 foi chamado de recessivo. Mediante esses experimentos Mendel formalizou as bases de sua teoria: F1 eram dominantes (D), F2, recessivas. As combinações DD ou rr foram chamadas homozigotos e Dr, heterozigotos. Mendel ficou esquecido por algumas décadas. No entanto, com o início do século XX, os experimentos de Mendel foram redescobertos por muitos outros botânicos como Aléxis Gordon (1814-1897), pelo zoólogo alemão W. Bateson em 1894, pelo botânico russo S. Korschinski (1860-1900), pelo botânico holandês Hugo de Vries (1848-1935), pelo austríaco Eric Von Tschermack e pelo alemão Carl Correns. Todos esses estudiosos formularam também as variações bruscas das espécies que nomearam de mutação (TATON, 1969). 3 – A passagem do século XIX ao XX Thomas Hunt Morgan: a teoria cromossômica Thomas Hunt Morgan Fonte: http://nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1933/morgan-article.html Morgan (1866 – 1945), zoólogo e geneticista estadunidense, é considerado um dos precursores da genética moderna. Pensador ligado à teoria da Evolução de Darwin opunha-se ao preformismo. Epigenesista que não aceitava a ideia de que há unidades hereditárias determinísticas da hereditariedade, e então, mesmo a teoria de Mendel foi posta em questão porque para Morgan era uma teoria preformista. Martins (1998) mostra que a teoria de Mendel ia à busca de princípios que regiam a formação dos híbridos; afirmava a existência de fatores nos gametas que se separariam de acordo com alguns princípios. Já a teoria cromossômica foi resultado de estudos em citologia feitos desde 1850. Morgan fazia as seguintes objeções à teoria de Mendel: a) tinha poucas evidências experimentais; b) preconizava a ―pureza‖ dos gametas e que em resultados de 1907 de Bateson, a geração F1 apresentava variabilidade. Para Morgan as unidades básicas da hereditariedade não poderiam ser rígidas e imutáveis (MARTINS, 1998). Martins (1998, p. 100) até 1910, Morgan era opositor da Teoria Cromossômica e também da Teoria de Mendel. Porém, ele mudou de posição em relação a Mendel e passou a estudar os mecanismos de transmissão hereditária fundamentado na teoria mendeliana. Embora historiadores da ciência não tenham suficientes dados de como ocorreu sua ―conversão‖, Martins (1998) demonstra que ele mudou sua posição científica devido a uma estratégia profissional. Que estratégia era essa? Para Martins (1998) tratava-se de realizar experimentações sobre a transmissão da hereditariedade, entendendo que para suas pesquisas necessitavam de financiamento além de pensar no papel destacado que essa área começava a obter no país. Ficou conhecido pelo trabalho com Drosophila melanogaster que resultou na teoria cromossômica da hereditariedade e, após muita pesquisa e debate, aderiu às idéias de Gregor Mendel. De 1903 a 1910, Morgan efetuou vários estudos acerca da evolução de animais tentando compreender a relação entre sexo e hereditariedade. Tendo como colaboradores seus alunos Alfred H. Sturtevant (1891-1970), Calvin B. Bridges (1889-1938) e Herman J. Muller (1890-1967), publicaram o livro Mecanismos da hereditariedade mendeliana, em 1915; descreveram nessa obra o sistema dos genes (termo criado pelo botânico dinamarquês Wilhelm Ludvig Johannsen, 1857-1927, em 1909) e a teoria cromossômica da herança dando início ao campo da Genética. Morgan dirigiu o Laboratório de Biologia da Instituto de Tecnologia da Califórnia entre 1928 a 1945. Ganhou o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1933 é considerado o fundador da teoria cromossômica. Para Morgan os cromossomos não eram estruturas permanentes. Em 1909, ele adotou a palavra ―gene‖ para referir-se a um dos ―fatores hereditários‖ de Mendel. Com seus colaboradores, Morgan afirmou que cada cromossomo portava uma coleção de genes ―enfileirados como contas em um cordão, e que a posição de cada uma dessas contas podia ser ―mapeada‖ e identificada nos cromossomos. Mais importante foi o fato de Morgan e seu grupo terem sido os primeiros a provar que durante o estágio em que os cromossomos emparelham-se e se contraem eles podem trocar material genético entre cromossomos de origem materna e paterna, como observado no estágio da prófase na meiose. Esse processo chama-se cruzamento. O material genético recombinado é transmitido às gerações subseqüentes. Morgan e seus colegas provaram que o processo da variação, que explica circunstancialmente a evolução, não se deve a mutações significativas ocorridas em cada nova geração, mas à recombinação das ―contas em um cordão‖ - os genes. Estabeleceu, assim, uma relação entre Darwin e Mendel, e descobriu que os fatores de Mendel têm uma base física na estrutura cromossômica. Para finalizar e apontar as ciências no século XXI fica a pergunta: ―como os genomas evoluem?‖. Apesar de inusitada essa pergunta deve orientar nossas questões da biologia atual. Evelyn Fox Keller, em seu livro O século do Gene, traz respostas a essa pergunta. Estamos no século em que as premissas da teoria da evolução estão em sintonia com a biologia molecular. O projeto Genoma e as novas técnicas de seqüenciamento genômico possibilitaram ver uma relação entre a vida evolutiva e os estudos dos genes, ou dos mecanismos evolutivos do genoma. Genética Moderna: metáforas e linguagem