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AS BULAS E TRATADOS DOS SÉCULOS XV, XVI

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7
AS BULAS E TRATADOS DOS SÉCULOS XV, XVI 
E XVIII NA HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO: 
SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA1
RAFAEL DE ALMEIDA LEME PONTIN2
“[...] o Brasil ainda não havia nascido e já tinha fronteiras 
[...].”
(ARANHA, 1939 apud CHAVES, 1943, p. 26).
Sumário: 1. Introdução. 2. As Bulas e o Tratado de Tordesilhas sob o con-
texto dos séculos XV e XVI. 2.1. Bulas. 2.2. Tratado de Tordesilhas. 3. Fun-
damentos jurídicos da posse pelos portugueses do território brasileiro. 4. 
Considerações Finais. 5. Referências Bibliográficas.
Resumo: Compreender os primeiros fundamentos da formação dos 
limites territoriais do Brasil, dentro do contexto dos séculos XV 
e XVI, sob o ponto de vista histórico-jurídico, é em síntese o 
objetivo do artigo. Através de documentação relativa ao tema, 
analisa o papel dos Papas na expedição das bulas nos desco-
brimentos e sua relação com Portugal e Espanha, os quais pelo 
Tratado de Tordesilhas estabeleceram os limites de suas con-
quistas, marcando o início de um longo processo, no qual se 
consolidou os atuais limites territoriais brasileiros.
Palavras-chave: História do Direito, Bulas, Tratados de Limites, Di-
reito Internacional Público.
Abstract: To understand the first principles of the formation of boun-
daries in Brazil, within the context of the XV and XVI centuries, 
from the historical point of view and legal, is in summary the 
purpose of the article. Through documentation on the subject, 
1 Artigo produzido a partir da Monografia de Conclusão de Curso de Direito, 
apresentada à Universidade Metodista de Piracicaba, campus Taquaral, sob a 
orientação do Prof. Dr. Jorge Luís Mialhe.
2 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Metodista de 
Piracicaba (UNIMEP). E-mail: rafael86555@hotmail.com
CadernoUnisal4.indb 175 16/5/2012 17:42:40
CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
PONTIN
176
examines the role of the Popes in the expedition of discovery 
of the bulls and their relationship with Portugal and Spain, the 
Tordesilhas Treaty which established the limits of their achie-
vements, marking the beginning of a long process, in which 
consolidated the current brazilian territorial limits.
Keywords: History of Law, Bulls, Treaties of Limits, International 
Public Law.
1. INTRODUÇÃO
Os séculos XV e XVI foram certamente marcados pela con-
quista e exploração de antigas e novas rotas marítimo-comer-
ciais por países Europeus, as quais implicaram em profundas 
transformações econômicas.
Essa expansão marítima e consequente exploração econô-
mica de antigos e novos mercados no Oriente e Ocidente, pro-
vocaram a expedição de bulas pelos Papas e a celebração de 
tratados entre Portugal e Espanha, com a finalidade de regular 
esse novo cenário intra e extraeuropeu.
Iniciada pelos portugueses em seus feitos no norte da Áfri-
ca e ampliada pelos espanhóis com a descoberta da América, 
representaram uma nova etapa do processo civilizatório, de-
nominada de revolução mercantilista.
Esses fatos geraram inúmeras consequências, no que uma 
em especial chama a atenção: a aquisição do território brasilei-
ro por Portugal.
Território que não viria a pertencer aos portugueses sem 
que houvesse tensões com a Espanha, provocando quase uma 
guerra entre as nações ibéricas, já que em disputa estava o 
direito de propriedade e exploração econômica das terras ul-
tramarinas.
A solução para a superação dessas disputas se deu com 
a celebração do Tratado de Tordesilhas, o qual representou o 
primeiro documento e fundamento que reconhecia a posse de 
parte do atual território brasileiro aos portugueses.
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7 – AS BULAS E TRATADOS DOS SÉCULOS XV, XVI E XVIII NA HISTÓRIA DO DIREITO 
BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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Por outro lado, tem-se que “os conflitos europeus tiveram 
grandes implicações para a história colonial já no século XVI, 
porque normalmente se refletiram na ocupação territorial e 
na delimitação de fronteiras.” (WEHLING; WEHLING, 1994, p. 57, 
negritos nossos).
Dentro dessa perspectiva, busca o presente artigo anali-
sar as bulas e tratados, ou seja, os primeiros fundamentos da 
primeira fase histórica da formação dos limites territoriais bra-
sileiros, compreendida pelos séculos XV-XVIII3, no qual Portu-
gal durante esse período dirimia as questões de limites com a 
França, e principalmente Espanha.
Importante compreendê-la, pois influenciou a segunda 
fase histórica, mais recente, abrangida pelos séculos XIX e XX, 
iniciada pela independência do Brasil e da necessidade de se 
estabelecer juridicamente os limites da soberania adquirida, 
no qual para tanto, se recorreu em regra, ao princípio do uti 
possidetis.
2. AS BULAS E O TRATADO DE TORDESILHAS SOB O CONTEXTO DOS 
SÉCULOS XV E XVI
Longe ainda estava o “Direito Internacional” do final do 
século XV e início do XVI do que viria a ser contemporanea-
mente, porém, assistiu nesse período algumas transformações 
que dariam as bases para o surgimento do direito internacio-
nal moderno.
Transformações essas que se iniciaram com a revolução 
tecnológica marítima.
Tal foi a Revolução Mercantil, fundada numa nova tecnologia 
da navegação oceânica, baseada no aperfeiçoamento dos ins-
3 Durante esses séculos, Portugal celebrou os seguintes tratados de limites ou 
relativos a limites: Tratado de Alcáçovas, de 4 de setembro de 1479; Tratado de 
Tordesilhas, de 7 de junho de 1494; Tratado de Lisboa, de 7 de maio de 1681; 
Tratado de Utrecht, de 11 de abril de 1713; Tratado de Utrecht, de 6 de fevereiro 
de 1715; Tratado de Madri, 13 de janeiro de 1750; Tratado de El Pardo, de 12 de 
fevereiro de 1761; Tratado de Santo Ildefonso, de 1 de outubro de 1777.
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CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
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trumentos de orientação (bússola magnética montada em ba-
lancins, o quadrante, a balestilha, o astrolábio, cartas celestes 
e portolanos, cronômetros e outros) e de navegação (as naus 
e caravelas, a vela latina, o leme fixo, as carretilhas e os barcos 
de guerra. (RIBEIRO, 1998, p. 165).
Proporcionou ela a exploração de antigos mercados no 
Oriente e novos mercados com o descobrimento da América, 
no Ocidente, que fez com que se modificasse significativamen-
te o cenário econômico Europeu e junto dele, trouxe em seu 
bojo, consequências no âmbito científico, político e religioso, 
como a Reforma Protestante, por exemplo.
Esses fatos foram “mudando substancialmente as condi-
ções de criação e circulação da riqueza, os modelos de ordena-
ção política e as regras de convivência entre as diferentes uni-
dades soberanas, com o surgimento dos estados modernos.” 
(CASELLA; SILVA; ACCIOLY, 2011, p. 69).
A autoridade do Papa começava a se enfraquecer diante 
da autoridade dos reis ou príncipes, que aos poucos iam se 
fortalecendo.
Aliás, assistia a fase em comento, a concepção de um “di-
reito internacional, como forma de reger a convivência entre 
as unidades políticas, não mais havendo [...] o reconhecimen-
to da primazia de figura papal, que pudesse atuar como ‘árbi-
tro’ supremo nas controvérsias entre os soberanos.” (CASELLA; 
SILVA; ACCIOLY, 2011, p. 70-71).
2.1 Bulas
Durante os séculos XV e XVI, o poder não se restringia aos 
reis, figurando como sujeito no âmbito internacional, o Papa.
Época em que o Sumo Pontífice exercia através do seu po-
der temporal e espiritual significativa influência e interferência 
nos conflitos ocorridos entre os Estados, quadro que começa-
ria a ser modificado somente no século XVII, pelo Tratado de 
Paz de Westfália (1648), em que os “Estados nacionais, ainda 
em formação, começavam a sentir-se emancipados, tanto da 
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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tutela eclesiástica católica, quanto do Sacro Império Romano-
-Germânico.” (AGUADO, 2008, p. 319).
Não caberia aqui uma discussão sobre as teses desse po-
der e nem sua extensão, certo é que esse se fazia presente nas 
relações entre os reinos da Europa, porém, de maneira muito 
mais intensa da que se tem atualmente.
Através de bulas, os Papas impulsionavam a expansão das 
conquistas portuguesas na África desde seu início. Nesse sen-
tido, logo que os portugueses conquistaram Ceuta em 1415, o 
Papa Martín V expediu a bula Rex regum de 4 de abril de 1418, 
entre outras que se seguiram. (CASTAÑEDA DELGADO, 1968, p. 285).
Sob o estímulo de interesses econômicos e religiosos, ali-
ás, muito mais econômicos do que religiosos, concretizava-se 
a expansão marítima de portugueses e espanhóis pelos mares 
da África, Ásia e América.
Interesses não só divididos entre os países ibéricos católi-
cos, como compartilhado com a Santa Sé, que ao mesmo tem-
po em que Portugal e Espanha avançavam em suas conquistas, 
expandia junto dela sua jurisdição fora da Europa, com a con-
versão dos povos não cristãos através de sua aculturação.
Desta forma, representou à intervenção papal a primeira 
base ou fundamento da exploração, ocupação e colonização 
de terras ultramarinas por países da Europa, de maneira a legi-
timá-la sob o ponto de vista religioso.
Reforça esse entendimento RIBEIRO (1992, p. 17), o qual 
para ele as bulas representaram o “fundamento primeiro, de 
todos os direitos de propriedade e de todo o processo de avas-
salamento das massas trabalhadoras” da América.
Ademais, “nos últimos séculos da Idade Média e até o 
fim do século XV, as aquisições de novos territórios, mercê da 
preponderância exercida no mundo pelo Papado, dependiam 
quase exclusivamente de bulas pontifícias [...].” (CASELLA; SILVA; 
ACCIOLY, 2011, p. 563).
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CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
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Portanto, ainda nesse período é marcante a influência do 
Papa como autoridade eclesiástica, usando de seu poder, que 
se manifestava ou se exteriorizava, através dessas bulas que 
fazia expedir.
Bula, palavra cujo conceito se faz necessário elucidar.
A palavra bula significa, etimologicamente, medalha ou selo. 
Como, porém, desde a antiguidade, fora empregada para 
designar o selo de chumbo ou de ouro, que normalmente 
pendia das escrituras solenes imperiais ou pontificiais, o seu 
âmbito de significado passou a compreender também os pró-
prios documentos selados.
Por volta dos fins da Idade Média, as chancelarias imperiais 
cessaram de servir-se das bulas, que, contudo, permaneceram 
em largo uso na cúria pontifícia, inclusive até nossos dias, 
principalmente para dar forma às lege pontificiae e a outros 
atos administrativos com valor de constitutiones. (FRANÇA, 
1977, p. 267-268).
Logo, bula é o documento expedido pelo Sumo Pontífice, 
representante máximo da Igreja Católica, por meio do qual 
se manifesta sobre assuntos de Justiça ou de Graça, como por 
exemplo, a concessão de perdão ou privilégio a determinada(s) 
pessoa(s), ou até a imposição de punição de excomunhão. (SIL-
VA, D., 2009, p. 231).
No que tange ao aspecto formal, as bulas possuem as se-
guintes características, elencadas no trabalho de DIEGO FERNÁN-
DEZ (1990, p. 91-95):
1) Cabeçalho: contendo o nome do Papa outorgante e do(s) 
destinatário(s);
2) Exposição de motivos: breve histórico, apontando os fatos 
que levaram a expedição da bula;
3) Motu proprio: não se manifestava mendiante provocação da 
parte interessada, mas tão somente o Papa agia por sua ini-
ciativa própria;
4) Validação de traslados: validade do documento pontifício em 
outros lugares em que for apresentado;
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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5) Cláusula penal: sanção papal contra aqueles que forem con-
tra ao exposto no documento pontifício ou que intentarem 
contra o conteúdo dele;
6) Data: dia, mês e ano em que foi escrita e também o ano de 
pontificado do Papa que a expedia.
No que diz respeito às bulas expedidas pelo Papa Alexan-
dre VI durante o ano de 1493, estas já foram objeto de inúme-
ros estudos e interpretações, aqui, porém, caberá apenas um 
breve relato dentro da perspectiva em análise.
O estudo das bulas alexandrinas envolve, na maioria dos 
autores consultados (GIMENEZ FERNANDEZ, 1944; CASTAÑEDA DELGA-
DO, 1968; DIEGO FERNÁNDEZ, 1990; SILVA, DINAIR, 2000), cinco docu-
mentos: Inter coetera, datada e expedida em 3 de maio; Piis 
fidelium, datada e expedida em 25 de junho; Inter coetera, 
datada de 4 de maio e expedida em 28 de junho; Eximiae de-
votionis, datada de 3 de maio e expedida em 2 de julho; Du-
dum siquidem, datada e expedida em 25 de setembro; todas 
de 1493.
Para melhor compreensão, veja-se o quadro abaixo:
Quadro 1 – Bulas alexandrinas de 1493
Bula Datação Expedição Características Destinatário(s)
Inter coetera 3 de maio 3 de maio Doação Fernando e Isabel
 !!"#$%&'!() 25 de junho 25 de 
junho
Espiritual Bernardo Boil
Inter coetera 4 de maio 28 de 
junho
Doação e Partição Fernando e Isabel
*+!)!,&#%&-./!.0!" 3 de maio 2 de julho Concessão de 
Privilégios
Fernando e Isabel
1(%()#"!2(!%&) 25 de 
setembro
25 de 
setembro
Ampliação de Domínio Fernando e Isabel
 !"#$%&'()*+,+-'.+/,0,1+-2'34552'607809+10'1+:(01;2'34<=>
Sob o aspecto de conteúdo, segundo CASTAÑEDA DELGADO 
(1968, p. 322):
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CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
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Inter coetera de 3 de maio, “que hace donación a los 
Reyes Católicos de las islas y tierras descubiertas y que se des-
cubrieran, navegando hacia occidente ‘hacia las Indias’, con 
tal de que no pertenecieran a otros príncipes cristianos, con 
los derechos y privilegios concedidos ya a los portugueses.”
Piis fidelium, “otorga a fray Bernardo Boyl, y a los otros 
religiosos que pasaron entonces al Nuevo Mundo, facultades 
espirituales de carácter extraordinario.”
Inter coetera de 4 de maio, “que reproduce a la letra, con 
leves variantes, la primera parte de la Inter Cetera primera, y 
establece una línea de demarcación a cien leguas, dirección 
norte-sur, al oeste de las Azores y Cabo Verde.”
Eximiae devotionis, “en la que extracta la primera par-
te de la anterior, y reproduce, casi literalmente, la segunda 
parte de la misma, con los mismos derechos y privilegios que 
tenían los reyes de Portugal.”
Dudum siquidem, “concede a los reyes de Castilla (pues 
la segunda Inter Cetera dejaba imprecisa la demarcación en 
las partes de la India) las tierras que se descubrieran al este, 
al sur, y al oeste de la India, con tal de que no estuviesen ocu-
padas de hecho por otro príncipe cristiano.”
Citadas bulas, independentemente das divergências exis-
tentes acerca de suas expedições e finalidades, possuíam o ca-
ráter de doação das terras descobertas, presente em todas elas. 
(SILVA, DINAIR, 2000, p. 6-11).
Os reis Fernando e Isabel são citados em todas as bulas, 
o que indica serem os principais destinatários e beneficiários 
do Papa Alexandre VI, que através dessas, concedia ou doava 
além de terras, os mares, estabelecendo também limites a essa, 
a qual era sempre gravada com ônus de evangelização e propa-
gação da fé católica.
Não obstante, o poder do Papa se restringia à doação, sen-
do que não era possuidor do que doava, mas outorgava a um 
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA183
soberano cristão a posse, de forma a reconhecer um direito, 
do que criar um que já existia por natureza.
A concessão ou doação, com ônus de evangelizar, portan-
to, não cria e não extingue direito, mas tão somente o reco-
nhece, de cunho meramente declaratório.
Nesse sentido, o rei da França, Francisco I, descontente 
com as concessões pontifícias, afirmou “desconhecer a cláusu-
la do testamento de Adão que reservava o mundo unicamente 
a portugueses e espanhóis.” (PRADO JÚNIOR, 1956, p. 26).
Fato inegável é que a posse de Portugal e Espanha de ter-
ritórios se efetivava quando exerciam efetivamente esse direi-
to, explorando, ocupando e por fim colonizando, ao mesmo 
tempo em que excluíam, não só outros países da Europa, mas 
principalmente os gentios da posse natural que exerciam so-
bre as terras que ocupavam.
Portanto, não bastava por si só o título, a bula, que confe-
ria um privilégio ou direito sobre a coisa.
Outro ponto relevante, é que o Papa Alexandre VI “na bula 
‘Inter Coetera’, faz doações não apenas de terras, mas também 
dos mares. Balboa tomou posse do Oceano Pacífico para o rei 
de Espanha.” (MELLO, 2004, p. 1245).
Trata-se do “princípio jurídico do mare clausum, pelo 
qual a prioridade da descoberta dos mares determinava sua 
posse, com a exclusão das demais nações cristãs”, ou seja, o 
mar era restrito à navegação de portugueses e espanhóis, con-
forme estabelecido na bula Inter coetera de 4 de maio de 1493 
e no Tratado de Tordesilhas de 7 de junho de 1494, provocan-
do ataques de ingleses, holandeses e franceses, que ao contrá-
rio, defendiam o princípio do mare liberum. (WEHLING; WEHLING, 
1994, p. 39).
A Santa Sé é claro, não deixou por isso de expedir suas bu-
las, porém, cumpre ressaltar que essas concessões ou doações 
representaram um instrumento hábil a reconhecer direitos, 
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CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
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184
mas que foi perdendo importância conforme o fortalecimento 
dos príncipes ou reis e perda significativa do poder do Papa. 
Portanto, fora desse período ou contexto, perde-se o seu sen-
tido, só o havendo para aquele momento histórico específico.
Ainda, no início do século XVIII, antes mesmo das bulas 
alexandrinas serem declaradas nulas e de nenhum efeito pelo 
Tratado de Madri, duas bulas chamam a atenção.
Em 1720 a bulla copiosus in misericordia creava o bispado 
do Pará — subordinado ao patriarchado lisbonense — sendo 
a respectiva direcção conferida a D. Frei Bartholomeu do Pilar, 
e vinte e poucos annos depois eram fundadas ao sul do Brazil 
pela bulla candor lucis eternae mais quatro dioceses: os bis-
pados de São Paulo e de Minas e as prelasias de Goyaz e do 
Cuyabá. (MARTINS JUNIOR, 1941, p. 198).
Note que a criação dessas prelazias de Goiás e Cuiabá, 
subordinadas administrativamente a Portugal, a Santa Sé esta-
ria reconhecendo indiretamente neste ato, ao criá-las, como 
sendo parte das possessões portuguesas, regiões que pelo Tra-
tado de Tordesilhas pertenciam de direito à Espanha.
Assim, através dessas bulas, pode-se chegar a duas conclu-
sões: 1º) reconhecia o Papa regiões – as prelazias de Goiás e 
Cuiabá – que extrapolavam os limites de Portugal na América, 
denotando aí em pleno século XVIII sua influência indireta 
sobre as questões de limites entre Portugal e Espanha; 2º) a 
impossibilidade de se manter como base desses limites o que 
foi acordado em Tordesilhas (1494), até podendo ser utilizado 
como fundamento contra a tese que a defendeu.
Por final, as concessões feitas pelo Papa Alexandre VI, atra-
vés de suas bulas, como citado há pouco, foram declaradas 
pelo Tratado de Madri, assinado entre Portugal e Espanha, em 
13 de janeiro de 1750, nulas. É o que prevê o seu artigo I: “fica-
rá abolido qualquer direito e ação que possam alegar as duas 
Coroas, com base na bula do Papa Alexandre VI.” (SEITENFUS, 
2009, p. 1377).
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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Resta, portanto, nulo o que foi concedido em favor de 
Fernando e Isabel de Espanha pelas bulas alexandrinas, em 
especial a bula Inter coetera datada de 4 de maio de 1493 e 
expedida em 28 de junho de 1493, conhecida como bula da 
partição, por ter estabelecido uma linha de cem léguas, divi-
dindo o que era espanhol e português no Novo Mundo.
2.2 Tratado de Tordesilhas
D. João II, Rei de Portugal, não muito contente com as 
concessões obtidas por D. Fernando e D. Isabel, alcunhados 
de “reis católicos”, junto ao papado, não tardou em procurar 
uma via que amenizasse o cenário desfavorável.
E a saída não foi morosa, rapidamente iniciou negocia-
ções diplomáticas com a Espanha, as quais culminaram com 
a elaboração do Tratado de Tordesilhas, denominado também 
de “Capitulação da Partição do Mar Oceano”, concluído em 7 
de junho de 1494, na vila de Tordesilhas, Espanha.
Segundo RIBEIRO (1992, p. 69), “o Tratado de Tordesilhas 
representava uma inovação na relação entre as nações cristãs, 
introduzia novos critérios de autoridade e arbítrio para a con-
quista e posse de territórios coloniais.”
Resultado das tensões entre Portugal e Espanha, por inter-
médio desse tratado internacional, significou o “ato inaugural 
da diplomacia moderna, pois foi o primeiro acordo entre Esta-
dos sem a interferência papal.” (WEHLING; WEHLING, 1994, p. 39).
É notável que as partes em vez de procurarem por meio 
da guerra ou outra saída mais agressiva e mais gravosa, resol-
veram a contenda através de um tratado, utilizando da diplo-
macia, evitando maiores consequências políticas.
Assim, pelo “Tratado de Tordesillas, por el cual, de común 
acuerdo, se recorria la linea imaginaria a 370 leguas al Occi-
dente de las islas de Cabo Verde, quedando así el actual ter-
ritorio de Brasil bajo jurisdicción lusitana.” (DIEGO FERNÁNDEZ, 
1990, p. 88).
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Expressamente o tratado prevê a limitação das 370 léguas:
E logo os ditos procuradores dos ditos senhores Rei e Rainha 
de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada, etc., e 
do dito Senhor Rei de Portugal e dos Algarves, etc., disseram: 
que visto como entre os ditos senhores seus constituintes há 
certa divergência sobre o que a cada uma das ditas partes per-
tence do que até hoje, dia da conclusão deste tratado está por 
descobrir no mar Oceano; que eles portanto para o bem da 
paz e da concórdia e pela conservação da afinidade e amor 
que o dito senhor Rei de Portugal tem pelos ditos senhores 
Rei e Rainha de Castela, de Aragão, etc., praz as Suas Altezas, e 
os seus ditos procuradores em seu nome, e em virtude dos di-
tos seus poderes, outorgaram e consentiram que se trace e as-
sinale pelo dito mar Oceano uma raia ou linha direita de polo 
a polo; convém a saber, do polo ártico ao polo antártico, que 
é de norte a sul, a qual raia ou linha e sinal se tenha de dar e 
dê direita, como dito é, a trezentas e setenta léguas das ilhas 
de Cabo Verde em direção à parte do poente, por graus ou 
por outra maneira, que melhor e mais rapidamente se possa 
efetuar contanto que não seja dado mais. E que tudo o que até 
aqui tenha achado e descoberto, e daqui em diante se achar e 
descobrir pelo dito senhor Rei de Portugal e por seus navios, 
tanto ilhas como terra firme desde a dita raia e linha dada na 
forma supracitada indo pela dita parte do levante dentro da 
dita raia para a parte do levante ou do norte ou do sul dele, 
contanto que não seja atravessando a dita raia, que tudo seja, 
e fique e pertença ao dito senhor Rei de Portugal e aos seus 
sucessores, para sempre. E que todo o mais, assim ilhas como 
terra firme, conhecidas e por conhecer,descobertas e por des-
cobrir, que estão ou forem encontrados pelos ditos senhores 
Rei e Rainha de Castela, de Aragão, etc., e por seus navios, 
desde a dita raia dada na forma supraindicada indo pela dita 
parte de poente, depois de passada a dita raia em direção ao 
poente ou ao Norte Sul dela, que tudo seja e fique, e pertença 
aos ditos senhores Rei e Rainha de Castela, de Leão, etc., e aos 
seus sucessores para sempre. (RIBEIRO; MOREIRA NETO, 1992, p. 
71, negrito nosso).
Porém, não foi demarcada, mesmo contendo no tratado a 
previsão de como procederia. É de se notar, que:
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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As capitanias hereditárias, lembra Clóvis Beviláqua, dividiram 
o Brasil atendendo à raia de Tordesilhas; mas deixaram inde-
terminados os limites do norte e do oeste, em parte, porque 
o país não estava suficientemente explorado para o levanta-
mento da linha geodésica norte-sul, e em parte porque essa 
indeterminação convinha à política dos povos interessados. 
(beviláqua, 1915, p. 26 apud soares, 1939, p. 101).
O preâmbulo do Tratado de Madri faz implicitamente 
menção à linha de Tordesilhas e os motivos de não mais servir 
de fundamento ao que é de direito de Portugal e Espanha.
Os Sereníssimos Reis de Portugal, e Espanha, desejando efi-
cazmente consolidar e estreitar a sincera e cordial amizade, 
que entre si professam, consideraram, que o meio mais con-
ducente para conseguir tão saudável intento, é tirar todos os 
pretextos, e alhanar os embaraços, que possam ao diante alte-
rá-la, e particularmente os que se podem oferecer com o mo-
tivo dos Limites das duas Coroas na América, cujas Conquistas 
se tem adiantado com incerteza e dúvida, por se não haverem 
averiguado até agora os verdadeiros Limites daqueles Domí-
nios, ou a paragem donde se há de imaginar a Linha divisó-
ria, que havia de ser o princípio inalterável da demarcação de 
cada Coroa. E considerando as dificuldades invencíveis, que 
se ofereceriam se houvesse de assinalar-se esta Linha com o 
conhecimento prático, que se requer [...]. (FERREIRA, 1956, p. 
413-414).
Indefinição, indeterminado, talvez este seja o ponto chave 
para o entendimento do Tratado de Tordesilhas, pois abrange 
um tempo em que as certezas eram bem menores, dentro dos 
limites da tecnologia da época.
Assim, as linhas limítrofes estipuladas nada mais eram que 
ficções jurídicas, mas que cumpriam o papel de, querendo ou 
não, delimitar imprecisamente os limites das descobertas, de 
um lado as de Portugal e do outro da Espanha.
E é nessa imprecisão que se fundamentaram as bases, no 
qual se apoiaram, por mais de dois séculos os limites territo-
riais brasileiros pertencentes a Portugal na América.
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CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
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188
Contudo, não bastava ser assinado, era necessário que o 
tratado fosse validado por ambas as partes e pelo Papa.
Sob o aspecto da validade jurídica, ao celebrarem o trata-
do, Portugal e Espanha, se obrigaram a cumpri-lo, eis que livre 
e conscientemente definiram os direitos a que cada um caberia 
pelos territórios descobertos.
Tanto é que foi ratificado pela Espanha em Arévalo em 
2 de agosto e por Portugal em Setúbal em 5 de setembro de 
1494. (VIANNA, 1958, p. 19).
Mas, não somente isso bastava para que produzisse natu-
ralmente sua validade, eis que era necessário, em complemen-
to, “conforme as regras do direito internacional entre os rei-
nos cristãos, nessa época, [...] a confirmação da Santa Sé, para 
que o Tratado tivesse plena validade entre as demais nações da 
Europa.” (CORTESÃO, 1990, p. 559).
Essa confirmação, sanção ou ratificação no caso se mani-
festava através da expedição de uma bula, no qual o Papa reco-
nhecia, confirmando e aprovando, o que fora convencionado 
entre os reis cristãos.
No caso do Tratado de Tordesilhas, esta se deu com a ex-
pedição da bula Ea quae pelo Papa Júlio II em 1506, em que 
confirmava e aprovava a capitulação firmada entre Portugal e 
Espanha no ano de 1494.
No que tange a vigência, o Tratado de Tordesilhas celebra-
do em 7 de junho de 1494 durou até 13 de janeiro de 1750, 
quando foi expressamente revogado pelo Tratado de Madri 
que naquela data era assinado entre Portugal e Espanha, e pos-
teriormente pelo Tratado de Santo Ildefonso assinado em 1 de 
outubro de 1777.
Assinado entre o Rei de Portugal, Dom João V e o Rei da 
Espanha, Dom Fernando VI, no dia 13 de janeiro de 1750, e 
ratificado em Lisboa por Dom João V em 26 de janeiro de 1750 
e em Madri por Dom Fernando VI em 8 de fevereiro de 1750 
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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(FERREIRA, 1956, p. 413), o Tratado de Madri revogou o Tratado 
de Tordesilhas em seu artigo I, que possui a seguinte redação:
Art. I. O presente tratado será o único fundamento e regra que doravante 
será seguido para divisão e estabelecimento dos limites dos domínios 
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direito e ação que possam alegar as duas Coroas, com base na bula 
do Papa Alexandre VI, de feliz memória, e dos tratados de Tord-
esilhas, de Lisboa e Utrecht, da escritura de venda outorgada em 
Saragoça, e de outros quaisquer tratados, convenções e promessas; 
que tudo aquilo, que tratar da linha de demarcação, será de nenhum 
valor e efeito, como se não houvesse sido determinado em todo o de-
mais em sua força e vigor. E no futuro, não se tratará mais da citada 
linha, nem se poderá usar desse meio para a decisão de qualquer 
discussão que ocorrer sobre os limites, senão unicamente da fronteira 
que se prescreve nos presentes artigos, como regra invariável e não 
sujeita a controvérsias. (SEITENFUS, 2009, p. 1377, negrito nosso).
Porém, o Tratado de Madri foi revogado pelo artigo I do 
Tratado de El Pardo de 12 de fevereiro de 1761, mas mesmo 
anulado não retroagiu ao estipulado em Tordesilhas, é o que 
se infere do transcrito abaixo:
Art. I. O sobredito Tratado de Limites da Ásia e da América celebrado em 
Madri a treze de Janeiro de mil setecentos e cinquenta, com todos os 
outros Tratados ou Convenções, que em consequência dele se foram 
celebrando depois para regular as Instruções dos respectivos Comis-
sários, que até agora se empregaram nas demarcações dos referidos 
limites, e tudo o que em virtude delas foi autuado, se estipula agora 
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dos, cassados e anulados, como se nunca houvessem existido, nem 
houvessem sido executados; de sorte que todas as coisas perten-
centes aos limites da América e Ásia se restituem aos termos dos 
Tratados, Pactos e Convenções que haviam sido celebrados entre as 
duas Coroas Contratantes, antes do referido ano de mil setecentos 
e cinquenta; em forma que só estes Tratados, Pactos e Convenções 
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em diante sem sua força e vigor. (SOARES, 1939, p. 159-160).
O citado Tratado de El Pardo, junto com o Tratado de Lis-
boa e Utrecht, cujo conteúdo em parte se refere aos limites ter-
ritoriais de Portugal e Espanha na América, foram pelo Tratado 
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CADERNOS JURÍDICOS RAFAEL DE ALMEIDA LEME 
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de Paz assinado entre Portugal, França, Grã-Bretanha e Espa-
nha em 10 de fevereiro de 1763, em seu artigo II, renovados.
Já o Tratado de Santo Ildefonso, assinado pela Rainha de 
Portugal, D. Maria I e pelo Rei da Espanha, D. Carlos III, em 
1 de outubro de 1777, e ratificado por parte de Portugal em 
Lisboa em 10 de outubro de 1777e por parte da Espanha em 
San Lorenzo El Real em 11 de outubro de 1777 (FERREIRA, 1956, 
p. 431), teve por escopo resolver o conflito que existia entre as 
possessões portuguesas e castelhanas na América Meridional.
O mesmo tratado previa a elaboração de um Tratado defi-
nitivo de limites, já que o próprio Tratado de Santo Ildefonso 
era um Tratado Preliminar de Limites, que, aliás, nunca che-
gou a ser elaborado.
Os tratados anteriormente firmados restaram anulados, 
o mesmo se diga do de Tordesilhas, no qual não podia mais 
servir de fundamento a posse de terras ultramarinas, nem de 
Espanha, nem de Portugal, assim o fez no artigo respectivo 
infracitado:
Art. XXI. Com o fim de consolidar a dita união, paz e amizade, 
e de extinguir todo o motivo de discórdia, ainda pelo que 
respeita aos domínios da Ásia, Sua Majestade Fidelíssima, em 
seu nome e no de seus herdeiros e sucessores, cede a favor 
de Sua Majestade Católica, seus herdeiros e sucessores, todo 
o direito que possa ter ou alegar ao domínio das ilhas Filipi-
nas, Marianas e o mais que possui naquelas partes a Coroa de 
Espanha; renunciando a de Portugal qualquer ação ou direito, 
que possa ter ou promover pelo Tratado de Tordesilhas de 7 
de junho de 1494, e pelas condições da escritura celebrada 
em Saragoça a 22 de abril de 1529, sem que possa repetir coi-
sa alguma do preço, que pagou pela venda capitulada na dita 
escritura, nem valer-se de outro qualquer motivo ou funda-
mento contra a cessão convinda neste artigo. (FERREIRA, 1956, 
p. 443).
Assim, tanto o Tratado de Madri, como o de Santo Ildefon-
so revogam o Tratado de Tordesilhas, dado suas incertezas e 
indefinições, acima já citadas, não podendo mais ser utilizado 
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como fundamento hábil a reconhecer o que era de Espanha 
ou de Portugal.
Contudo, vale lembrar que os fundamentos jurídicos uti-
lizados na elaboração e previstos em Tordesilhas, foram defen-
didos no século XVIII.
O ministro de Estado espanhol em sua primeira memória 
de negociação, que antecedeu ao Tratado de Madri, propu-
nha “declarar por meio de convênio ou conforme o processo 
adotado no Tratado de Tordesilhas, os termos a quo da linha 
divisória.” (FERREIRA, 1956, p. 372).
Graças a Alexandre de Gusmão, tal pretensão não logrou 
êxito, sendo que além de prescindir da linha divisória de Tor-
desilhas, propôs para pôr termo ao conflito que as partes se 
socorressem do princípio do uti possidetis. (FERREIRA, 1956, p. 
372-373).
3. FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA POSSE PELOS PORTUGUESES DO 
TERRITÓRIO BRASILEIRO
Passados pouco mais de cinco anos da assinatura do Trata-
do de Tordesilhas, em 22 de abril de 1500 a frota liderada por 
Pedro Álvares Cabral desembarcava em terras brasileiras.
Depara-se, diante do que até agora se expôs, onde situar 
o “descobrimento” do Brasil na História do Direito Brasileiro? 
Mais do que isso, qual a importância de se saber quem e quan-
do se descobriu o Brasil?
E não é de se assustar se isso for um evento de pouca 
importância, pois primeiro não leva a uma resposta exata e 
segundo a dimensão do evento não comporta a relevância que 
se tem dado.
O contexto em que o território brasileiro veio a se tornar 
conhecido é o da expansão marítima europeia do século XV, 
em que portugueses e espanhóis desempenharam papéis fun-
damentais em tais feitos.
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Portugal, nesse século, somava inúmeras viagens de ma-
peamento de rotas comerciais e seus portos atraíam merca-
dores e negociantes de toda a Europa, sendo um dos lugares 
mais intensos de circulação humana.
SERGE GRUZINSKI (1999, p. 51) descreve o centro das trans-
formações da época, o porto de Lisboa.
É um porto muito ativo frequentado pelos comerciantes fla-
mengos e italianos, e também aonde vão parar marinheiros 
vindos de todos os mares europeus e onde trabalham milha-
res de escravos africanos. A expansão da indústria naval não 
deixa de impressionar os visitantes estrangeiros. Fundições e 
fornos de Lisboa fabricam as âncoras, os canhões e todas as 
peças indispensáveis aos grandes navios que zarpam para a 
África.
A velocidade em que chegavam novas informações e ra-
pidamente eram assimiladas se assemelha à globalização dos 
dias atuais.
Tamanha rapidez está atrelada ao número dos empreen-
dimentos marítimos, que simultaneamente eram tão diversos 
quanto o número de embarcações envolvidas e os destinos 
auferidos.
Não obstante, não há uma data específica para apontar 
quando se tomou conhecimento do Brasil e quem o teve, mas 
pode-se afirmar que por volta do ano de 1493 certamente os 
portugueses já tinham conhecimento geográfico do Brasil.
HOLANDA (2008, p. 47) afirma que “ao tempo do Infante D. 
Henrique, as velas lusitanas tinham levado a mais descobri-
mentos do que os mencionados nas crônicas.” Continua: “E é 
bem provável que, mais tarde, sobretudo nos anos imediatos 
ao da façanha de Colombo, se empenhasse a Coroa de Portu-
gal em mandar expedições exploradoras às partes do Poente.”
Pelas bulas do Papa Alexandre VI e pelo Tratado de Tor-
desilhas, como já visto acima, previa a demarcação dos limites 
das descobertas, assim não se poderia num tratado estipular 
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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direitos e obrigações entre as partes sem que existisse um ob-
jeto.
O objeto no caso eram os limites das conquistas ou desco-
bertas de Portugal e Espanha, daí pode-se afirmar que entre os 
anos de 1493 e 1494 – da expedição das bulas e da assinatura 
do tratado em Tordesilhas –, já se tinha o conhecimento do 
território brasileiro, muito antes da viagem de Pedro Álvares 
Cabral em 1500.
De fato, “o estudo histórico do direito brasileiro envolve 
em suas raízes dois atos de Direito Internacional Público, de 
datas pouco anteriores a 1500.” (NASCIMENTO, 2007, p. 200).
Esses atos são as bulas alexandrinas, em especial a bula 
Inter coetera de 4 de maio de 1494 e o Tratado de Tordesilhas, 
os quais concorreram para a configuração territorial do Brasil 
em suas feições atuais, tendo como fato gerador a expansão 
marítima portuguesa e espanhola do século XV.
Nesse contexto, o “descobrimento” do Brasil se insere 
como um dos fundamentos jurídicos da posse pelos portugue-
ses do território brasileiro, eis que Portugal marca sua presen-
ça na América e do que é seu de direito, como ficou acordado 
em Tordesilhas.
Cumpre registrar ainda, que o “descobrimento” se deu 
por um conhecimento já dominado pelos portugueses que 
sabiam como bem navegar. A viagem de Cabral foi planejada 
com antecedência e a passagem pelo território brasileiro não 
passava de mero entreposto ao caminho das Índias. (CORTESÃO, 
1990, p. 728).
Assim, fica consignado e mais do que patenteado que tudo 
foi obra humana e pensada, e que o território brasileiro já era 
conhecido por Portugal, só não dera ainda sinais de ocupação.
Ocupação, modus adquirendi de territórios ao Estado, 
que ao lado das bulas pontifícias expedidas pelo papado em 
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meados do século XVI, cumpriram papel importante, eis que 
também fundamentaram a posse pelos portugueses do Brasil.
Pelo Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Es-
panha em 7 de junho de 1494, ambas as partes já clamavam 
pela manifestação papal sobre o que fora contratado.
Antes por esta presente capitulação suplicam no dito nome ao 
nosso muito Santo Padre, que à suasantidade praza confirmar 
e aprovar esta dita capitulação segundo em ela se contém, e 
mandando expedir sobre ela suas bulas às partes ou a qual-
quer delas que lhas pedir, e mandando incorporar em elas o 
teor desta capitulação pondo suas censuras aos que contra ela 
forem ou passarem em qualquer tempo que seja ou ser possa. 
(SEITENFUS, 2009, p. 1372, negrito nosso).
Não tardou a bula a ser requisitada pelas partes, já no iní-
cio do século XVI, com essa finalidade Dom Manuel I enviou 
uma delegação ao Vaticano por volta de 1505. Em resposta, 
o Papa Júlio II expediu em 24 de janeiro de 1506, a bula Ea 
quae, “onde se ordenava aos Bispos de Braga e Vizeu que exa-
minassem o tratado entre D. João II e Fernando de Castela e 
Leão sobre a repartição dos descobrimentos.” (CHAVES, 1943, p. 
26).
Pelo que, nos foi humildemente suplicado por parte do dito 
Rei Manuel, que em razão da benignidade Apostólica, nos dig-
nássemos acrescentar a força da confirmação Apostólica à dita 
concordata, convenção e harmonização em prol da sua garan-
tia, e providenciar oportunamente outras coisas nas premissas 
declaradas. (SOARES, 1939, p. 89).
Cumpre ressaltar, que essa bula teve papel análogo ao da 
bula Aeterni Regis, que foi expedida pelo Papa Xisto IV, em 21 
de junho de 1481, em decorrência do Tratado de Alcáçovas, 
assinado entre Portugal e Espanha em 4 de setembro de 1479, 
no qual confirmava as concessões dos Papas antecessores e o 
dito tratado.
Neste sentido, confirma CORTESÃO (1990, p. 559) que:
[...] pela bula Aeterni Regis Clementia, de 21 de Junho de 
1481, o Papa Xisto IV confirmava as duas bulas anteriores de 
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BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
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Nicolau V, Romanus Pontifex, de 8 de Janeiro de 1454, e a 
de Calisto III, Inter Coetera, de 13 de Março de 1456, e os 
capítulos do Tratado das Alcáçovas, referentes à soberania de 
Portugal sobre as terras descobertas e a descobrir para o Sul 
contra a Guiné.
E no contido na própria bula Aeterni Regis:
Por tanto nós a quem do Céo he commetida a universal cura 
das ovelhas do Senhor, que segundo somos obrigados deseja-
mos aver e para sempre durar os Principes e povos Christãos 
a suavidade e folgança de paz, desejando que de Nicoláo e 
de Calixto, nossos predecesores especialmente assi o dito in-
serto Capitulo, e hem assi todas e cada huma das cousas nas 
ditas Bullas e Capitulo contheudas, sejão pera sempre firmes 
e enteiras a louvor do nome divino, e perpetua paz dos ditos 
Principes e de seus povos, de nosso moto proprio, nom á ins-
tancia d’alguma pessoa que nollo pedisse, mas de nossa mera 
liberalidade e providencias, e de certa sciencia e de poderio 
da Sé Apostólica, havemos por ratas e gratas as ditas Bullas de 
Nicoláo e de Calisto nossos antecessores e o dito Capitulo. 
(SOARES, 1939, p. 55).
Em comentário ao Tratado de Tordesilhas, CALVO (1862, p. 
16, grifo nosso) refere-se à bula Ea quae (1506), da seguinte 
maneira: “Este tratado tomó un carácter mas invioable aún 
por la sancion del papa Julio II, cuya bula, de 24 de enero de 
1506, fué comunicada por el arzobispo de Braga y el obispo 
de Viseo, á sus respectivos soberanos.”
Assim sendo, a bula Ea quae mandou observar, confirmar 
e aprovar, validando juridicamente o Tratado de Tordesilhas.
Entretanto, como antes se diz, se suceder dar-se a dita con-
firmação e aprovação Apostólica por vosso meio no vigor das 
presentes, façais observar inviolavelmente a referida concor-
data, e que os mesmos Reis se contentem pacificamente com a 
concordata e as ditas confirmação e aprovação da mesma, não 
permitindo que eles entre si ou por quaisquer outros sejam 
indevidamente molestados sobre isso, reprimindo, sem ape-
lação, com a autoridade Apostólica aos contraditores. (SOARES, 
1939, p. 89-90).
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Destarte, o Papa Júlio II através dessa bula “confirmou a 
d. Manuel, na qualidade de grão-mestre da Ordem de Cristo e 
rei de Portugal, os direitos sobre as terras do Brasil.” (TRÍPOLI, 
1936, p. 79).
Posteriormente, com a finalidade de confirmar a referida 
bula pontifícia, em 7 de junho de 1514 o Papa Leão X expediu 
a bula Precelsae devotionis e em 30 de dezembro de 1551, 
com a mesma intenção, o Papa Júlio III a bula Praeclara cha-
rissimi, na qual o “Brasil ficou perpetuamente unido à coroa e 
domínio dos reis de Portugal ‘como grão-mestres e perpétuos 
administradores’ da Ordem de Cristo.” (TRÍPOLI, 1936, p. 79-
80).
Além das citadas bulas pontifícias, que de fato contribuí-
ram para que se fixasse o território brasileiro como parte das 
possessões de Portugal, cumpre por último entender o funda-
mento jurídico dessa aquisição por meio do instituto posses-
sório da ocupação.
Esse modo de aquisição da propriedade surgiu no Direito 
Romano, no qual “consiste na tomada de posse de uma coi-
sa in commercio, que não está sob domínio de ninguém (res 
nullius), e gera o direito de propriedade dela. É bastante que 
se estabeleça o poder de fato com a intenção de ter a coisa 
como própria: a posse com animus domini.” (MARKY, 1995, p. 
79).
Sob a ótica do Direito Internacional Público, “a ocupação, 
modo de aquisição de território, é a tomada de posse por um 
Estado de um território que não pertença a outro Estado.” 
(MELLO, 2004, p. 1133).
A primeira fase histórica desse instituto jurídico se fun-
damentou em um título, as bulas pontifícias. (MELLO, 2004, p. 
1153). É por meio desse título jurídico que se confirmou e 
aprovou o Tratado de Tordesilhas, o qual declara ser a posse 
do território brasileiro como parte dos domínios portugueses 
do ultramar.
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Posteriormente, após uma perda significativa do poder do 
Papa, frente à Reforma Protestante do século XVI, passou a se 
fundamentar no descobrimento o direito as terras descober-
tas, com a expressão de um marco representativo da ocupa-
ção, ocorrido no caso de Portugal em 1500. (MELLO, 2004, p. 
1153).
Diferentemente da concepção contemporânea, a ocupa-
ção se constituiu no res nullius, que “nos séculos XVI e XVII 
é ‘nullius’ o que não pertence a um soberano cristão” (MELLO, 
2004, p. 1158 apud BEDJAOUE, M.), ou seja, as terras, cujo “as 
quais não hajam estado sob o atual domínio temporal de Prín-
cipe cristão algum.” (SOARES, 1939, p. 30).
Colabora com esse posicionamento DINAIR SILVA (2000, p. 
9), afirmando que “de acordo com o Direito Internacional da 
época, o descobrimento de terras não pertencentes a prínci-
pes cristãos constituía título suficiente para a apropriação.”
Também se apoiou no animus domini, ocorrida com o 
início da colonização do Brasil por volta da segunda metade 
do século XVI pelos portugueses, que efetivamente ocuparam 
o território, com vistas a explorá-lo economicamente, para tan-
to, fazendo instalar-se o sistema de capitanias hereditárias e 
depois um corpo administrativo centralizado e ordenado.
Portanto, a posse do território brasileiro por Portugal se 
fundamenta ou se justifica: a) na celebração do Tratado de Tor-
desilhas (1494); b) nas bulas pontifícias (bula Ea quae); c) no 
“descobrimento”, viagem de Cabral houve a fixação de marcos 
externos que simbolizavam que as terras brasileiras eram de 
domínio de Portugal; d) na ocupação: res nullius (o territó-
rio brasileiro não era ocupado por Príncipe cristão) e animus 
domini (com o início da colonização do território brasileiro 
pelos portugueses).
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4. CONCLUSÃO
As bulas alexandrinas e o Tratado de Tordesilhas fazem 
parte do início da História do Direito Brasileiro e da formação 
dos limites territoriais nacionais, o qual o último reservava a 
Portugal a posse de parte do território brasileiro.
Aquisição fundamentada juridicamente pelo Tratado de 
Tordesilhas, pelo qual foi dirimido o conflito em torno das 
terras descobertas, sem, contudo, pacificar os interesses de es-
panhóis e portugueses. Nota-se também que o mesmo tratado 
reforçou o poder dos reis ou príncipes, prescindindo da inter-
venção pontifícia na solução dessa controvérsia.
O Papa que, aliás, desempenhou papel importante nesse 
período, interferindo nos descobrimentos ao expedir suas bu-
las, documento pontifício que reconhecia aos reinos cristãos, 
a posse e o direito de exploração das terras descobertas, sendo 
que as gravava com o ônus da propagação da fé católica.
No tocante ao “descobrimento” do Brasil, representou o 
evento somente um dos fundamentos da posse pelos portu-
gueses do território brasileiro, ao lado do Tratado de Tordesi-
lhas, das bulas confirmatórias e da ocupação.
Em contrapartida, outros países da Europa, não só ques-
tionaram as doações papais, o princípio do mare clausum e 
o Tratado de Tordesilhas, como os desrespeitaram. Exemplo 
marcante na história colonial brasileira, foram as invasões e 
ocupação do território por franceses e holandeses durante os 
séculos XVI e XVII.
As negociações e celebrações de tratados por parte de Por-
tugal com França e Espanha durante o período colonial, o qual 
teve início nas bulas e tratados analisados, contribuíram para 
que se consolidasse a posse de território na América pelos por-
tugueses, parte considerável do que o Brasil passou a possuir 
em virtude de sua independência e da que lhe pertence atual-
mente.
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7 – AS BULAS E TRATADOS DOS SÉCULOS XV, XVI E XVIII NA HISTÓRIA DO DIREITO 
BRASILEIRO: SEUS REFLEXOS NA AMÉRICA PORTUGUESA
199
Longe de pacificar os interesses de Portugal e Espanha, 
como de outros países da Europa em torno das possessões do 
ultramar, as bulas pontifícias e o Tratado de Tordesilhas fize-
ram parte do início do processo de formação dos limites terri-
toriais brasileiros, que se estendeu até o século XX, ao qual se 
seguiram, com a finalidade de dirimi-la e defini-la, tratados e 
convenções, celebrados com os países limítrofes.
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