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Por isso, também diremos: todas as frases do livro da vida começam e terminam, terminam e começam, de modo circular, em uma interrogação. A frase da vida não vai de um início que passou, que não é mais, até um fim que seria exaurimento. Ela se desdobra da arkhé (a origem que continua sendo) a um télos (a plenificação da origem). É isso o que nos destina a sermos sempre essa mesma interrogação se pronunciando, de distintas maneiras, em cada diferente existência humana. Esse “mesmo” são as questões, que constituem a identidade de todas as diferenças, a fonte sempre a jorrar, da qual todas as existências promanam. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Tradução de Idalina Azevedo e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010. __________________. Ensaios e conferências. Tradução Emmanuel Carneiro Leão et alii. Petrópolis: Vozes, 2006. PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1995. Revista Litteris - Ciências Humanas - Filosofia Novembro de 2010 Número 6 ________________. Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. RICHARD, PALMER. Hermenêutica. Tradução de Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1997. 1 SANTO AGOSTINHO. Confissões. Livro XI, 14,17. 2 Dirá Ricardo Reis: “O tempo passa, / Não nos diz nada. / Envelhecemos. Saibamos, quase / Maliciosos, / Sentir-nos ir. / Não vale a pena / Fazer um gesto. / Não se resiste / Ao deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre” (PESSOA, 1995: 253). 3 Por que dizemos que o tempo é “desvelado”? Por que o termo “des-velar”? Ora, queremos apontar para o fato de que o tempo se manifesta (se “des-vela”) em distintas temporalidades, mas, por mais que se manifeste, jamais cessa de se velar. O núcleo da palavra “des-velar” é o “velar”, não o “des-”. Ou seja: o tempo se doa em distintas construções temporais, a partir de seu velamento, retração ou silêncio. Por isso não podemos defini-lo. É o seu velamento, entretanto, que permite a construção de diferentes temporalidades. Uma observação a mais: aqui, como em outras palavras do texto, por vezes separaremos seus elementos de composição, colocando-os entre aspas, para evocar sua etimologia. E isto não por preciosismo filológico. Uma vez que as palavras não são meros rótulos das coisas, e, sim, o espaço em que se manifesta seu sentido, trata-se de suscitar a memória do significado originário da construção do real que a palavra abriga. Significado que se perde quando a palavra é utilizada como mero instrumento de comunicação. A linguagem só é instrumento de comunicação por derivação: na origem, ela é sempre iluminação poética do sentido do real, desvelado por diferentes línguas, de maneira própria. 4 A língua grega guarda claramente a noção de que não é o homem quem tem a Vida, mas a Vida quem o tem enquanto nele vige. Por isso, ela distingue Zoé (a Vida Incessante, que não cessa de nascer e perecer) de bíos (a vida de cada ente, ligada temporariamente à Zoé). 5 Páthos, freqüentemente traduzido por sofrimento, quer dizer, de modo mais amplo, tudo aquilo que se experimenta e agita a alma, tanto sentimentos como paixão, prazer e amor, quanto mágoa, tristeza, cólera. 6 Este raciocínio dedutivo pretende apresentar-nos uma verdade, a de que A é igual a C. Entretanto, o pensamento lógico jamais pode pretender esgotar a verdade. Nesta sentença, por exemplo, que é correta do ponto de vista da lógica, surgem outras questões que não se esgotam, e que precisariam ser percorridas para que se considerasse a sentença correta: o que é a igualdade? O que é a verdade? Qual a identidade e qual a diferença de A, B e C? O que é a identidade? O que é a diferença? Mesmo a lógica está sempre envolvida pelas questões, por isso não pode se pretender detentora da verdade, senão dentro de seu próprio âmbito. 7 Valemo-nos de um neologismo, “experenciar”, ao invés de “experimentar”, para evocar o movimento para fora (ex-) dos limites (péras), próprio ao questionamento. É importante chamar a atenção para o fato de que quem questiona não se confina ao “vivenciar”, no sentido de uma vida que confirma suas pressuposições e vivências pessoais, tampouco pode estancar em metodologias prévias na determinação do que são as coisas. “Experenciar” é franquear, no vigor do apelo das questões, os limites do que já somos e sabemos das coisas e de nós próprios para o que ainda não somos e não sabemos. 8 Note-se que atribuímos a matriz dessa tradição não a Platão, mas ao platonismo, ou seja: a redução de um pensar radical em escolas por ação epígonos. As respostas que Platão deu à questão do que é o real não a esgotam, até mesmo porque sua obra, fundada no diálogo, vige em uma das experienciações mais radicais de multifacetação de que o pensamento humano tem notícia. Platão não sabia o que era o real, tanto é assim que estava a se questionar. Entretanto, quando a resposta que deu à questão foi assimilada e passou a ser repetida, tomada como paradigma, a tradição metafísica veio se consolidando. É um erro, no entanto, repetir o que um pensador disse. O maior legado de todo pensador não é o que ele pensou, mas o não pensado de tudo o que pensou. 9 Em inglês no original: all sentences in the book of life, if read till the finish, will be found to end in a query.