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Redação 
 da palavra ao texto
Lisandre Bason
UMA PEQUENA MENSAGEM ANTES DE 
 COMEÇAR...
 Este e-book nasceu de um desejo e de uma
necessidade. O desejo é meu: desejo de ajudar
milhares de adolescentes a escrever corretamente uma
redação . A necessidade é dos jovens estudantes que
todo ano prestam a prova do Enem e Vestibulares e
não conseguem pontuação suficiente para dizer: “Fui
bem sucedido!” ou “Fiz uma excelente redação!” Minha
experiência como professora e corretora de redações
em Vestibulares (Vunesp, Unicamp) e Enem, por vários
anos de minha vida profissional, me impelem a
transmitir o meu conhecimento e a minha mensagem,
que é a seguinte: VOCÊ PODE, VOCÊ É CAPAZ DE
ESCREVER UM BOM TEXTO, desde que ponha em
prática (e muita prática!) todo o conteúdo, todas as
dicas e informações que coletei na minha vivência,
ensinando redação.. Faça bom proveito de tudo que
estou lhe oferecendo e brilhe no próximo Enem e nos
próximos Vestibulares. Um grande abraço,
 Profa. Lisandre.
1a. AULA : BRINCANDO COM AS PALAVRAS E
DESINIBINDO O ATO DE ESCREVER
Há muitas pessoas que pensam haver uma receita ou
uma fórmula para escrever bem. Não, não há. Para se
escrever de modo interessante e correto é preciso
muito esforço, muito trabalho, muito exercício. Há
também alguns caminhos que facilitam o ato de
escrever. São pré-requisitos indispensáveis para quem
está se iniciando nesse trabalho.
 Vamos examiná-los um a um:
 LEITURA - ela é fundamental para a ampliação de
vocabulário, aquisição e assimilação de estruturas
frásicas e de conteúdos. Como diz Lygia Fagundes
Telles, autora de "Antes do Baile Verde", um dos mais
importantes livros da Literatura Brasileira: "O único
caminho é ler, ler e ler. Ler os clássicos, perceber por
que Machado de Assis é vivo até hoje. Esta é a única
salvação para a formação de um jovem. Sabendo
interpretar o que lê, o estudante saberá organizar suas
ideias e produzir um bom texto."
OBSERVAÇÃO DA REALIDADE -
 quem se dispõe ou tem necessidade de escrever deve
estar atento a tudo o que acontece ao seu redor. Deve
também exercitar um pensamento analítico e crítico
diante dos fatos, sendo assim capaz de manifestar
conclusões e opiniões próprias sobre eles.
 DIÁLOGO – o diálogo e o debate são muito
importantes também, pois eles propiciam o surgimento
de novas ideias sobre o tema em questão. Conversar
com amigos, familiares, colegas e professores sobre os
assuntos da atualidade é uma atitude inteligente e
enriquecedora. CONHECIMENTO GRAMATICAL -
quem se propõe a escrever deve ter um certo
conhecimento gramatical. Deve grafar corretamente as
palavras, pontuar adequadamente, observar a
concordância nominal e principalmente a concordância
verbal, além da regência.
 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO - antes de começar a
escrever, é recomendável fazer um projeto de texto.
Tudo que é bem planejado tem maiores chances de
sucesso. Assim também é com o texto. É importante
organizar as ideias, esquematizá-las em ordem de
importância ou relevância. Isso dará mais segurança a
quem escreve, no momento de desenvolver um tema.
EXERCÍCIOS PARA DESINIBIR A ESCRITA
Para afastar o medo do famoso "deu branco" na hora
de escrever, propomos agora uma sequência de
exercícios importantes para fazer fluir naturalmente
palavras e pensamentos. Esses exercícios, que têm um
caráter lúdico, devem ser feitos constantemente até
que não sejam mais necessários.
 ESCRITA AUTOMÁTICA - escreva tudo aquilo que
vier à cabeça, sem preocupação com pontuação, sem
bloqueios, sem censura. Deixe fluir o pensamento e as
palavras no papel. Não pare para pensar.
ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS -
 tome uma palavra e, a partir dela, vá associando
outras. Escreva naturalmente, deixando que uma
palavra puxe pela outra.
ASSOCIAÇÃO DE FRASES -
 - dê continuidade às frases abaixo. Neste exercício, há
total liberdade para continuar escrevendo de forma
poética ou não.
 1 - Eram oito horas da noite: horário de verão. O sol se
punha no mar e eu...
2 - Algum tempo hesitei se devia abrir esta carta. Ela...
3- Estou começando a me sentir vazia, oca,... 
4 - Eu não devia te dizer, mas essa lua, esse
conhaque...
 5 - Ontem acordei e pensei em você, meu velho pai...
 6 - Antes de votarmos pela pena de morte é preciso...
7 - Todos nos beneficiamos das conquistas modernas,
porém... 
8 - Eu consigo ler em seus olhos tanta coisa...
9 - Não esperava que isso fosse acontecer tão cedo...
10 - Essa paisagem me faz voltar ao passado quando...
 EXERCÍCIOS PARA TRABALHAR COM A
SENSIBILIDADE 
Escreva palavras que, para você , têm alguma relação
com estas:
 • Político Trabalho Pátria
 • Amor Mar Asfalto 
• Viagem Sofrimento Ternura
 • Música Progresso Intenção 
• Fuga Protesto Lamento 
• Dor Confusão Sujeira
Escreva palavras que lhe transmitam sensação de:
 • Frio Nojo Atrito
 • Limpeza Liberdade Cansaço
 Que sensações lhe transmite cada uma destas
palavras?
 • Gilete Álcool Nuvem
 • Fogo Gato Gelo 
• Dor Ódio Música 
• Onda Vento Estrondo
 Que palavras você utilizaria para completar as
comparações a seguir?
 a) Tão sossegado quanto... 
b) Tão triste quanto...
c) Tão deslumbrado quanto...
 d) Tão desagradável quanto...
 e) Tão indispensável quanto...
 f) Tão saboroso quanto...
 g) Tão leve quanto...
h) Tão ardente quanto...
 i) Feliz como...
 j) Sagaz como...
 PARÁFRASE
A paráfrase é um texto que reproduz as mesmas ideias
e informações de um outro texto. Não há nela opinião
ou ideia nova do autor. Há apenas um ”outro jeito de
dizer as mesmas coisas”. É um ótimo exercício, pois
além da prática da escrita, ele amplia o repertório de
informações de quem escreve. Selecione artigos curtos
de jornais e revistas e pratique a paráfrase. Você vai
perceber como seus textos fluirão com mais facilidade.
 EXEMPLO DE PARÁFRASE
 SONETO 
 (Raimundo Correa) 
 Se a cólera que espuma, a dor que mora
 N'alma e destroi cada ilusão que nasce;
 Tudo o que punge, tudo o que devora
 O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora
 Ver através da máscara da face, 
 Quanta gente, talvez, que inveja agora
 Nos causa, então, piedade nos causasse.
 Quanta gente que ri talvez consigo
 Guarda um atroz, recôndito inimigo,
 Como invisível chaga cancerosa!
 Quanta gente que ri talvez existe,
 Cuja ventura única consiste
 em parecer aos outros venturosa.
 Paráfrase
Se tudo quanto nos faz sofrer intimamente se refletisse
na expressão do rosto, se se traduzisse em gestos ou
atitudes, veríamos que muitas pessoas que hoje nos
causam inveja nos despertariam compaixão, tanto é
certo que, para elas, a única felicidade consiste em
parecerem felizes.
Um pouquinho mais de treino... Olhe bem para essa
imagem. O que ela provoca em você? Indignação?
Tristeza? Escreva sobre esses sentimentos. Não se
preocupe com a forma do texto, somente escreva...
frases soltas...pensamentos vagos...solte-se...sem
censura... 
  
2a. AULA: PROJETO DE TEXTO
"Escrever pressupõe uma série de operações
anteriores, entre as quais está o planejamento" (Agnelo
de Carvalho Pacheco - A Dissertação: teoria e prática)
 O projeto de texto é o primeiro passo na construção de
uma redação, seja ela uma descrição, narração ou
dissertação. O texto, assim como tudo na vida, deve
ser planejado.
 Vamos trabalhar aqui mais o texto dissertativo, por ser
ele o mais comum em nossos vestibulares.
 Primeiro passo: levantamento de ideias
Dado um tema, muitas ideias surgirão em nossa
cabeça. Temos um verdadeiro arquivo de informações,
coletadas em nosso dia-a-dia, por meio de leituras,
conversas, notícias em rádio, televisão, internet, enfim,
estamos cercados por material muito rico e útil para a
composição de nossos textos.
 No primeiro momento, após o conhecimento do tema
em que vamostrabalhar, devemos fazer uma
tempestade mental (brainstorm) e anotar tudo o que
tudo o que vem à nossa cabeça e que pode ser útil
para nosso texto.: um fato, uma opinião, uma frase, um
pensamento, um verso, um acontecimento, uma
lembrança, um filme ou um livro que nos marcou.
 As provas de vestibulares, na parte referente à
redação, trazem a coletânea de textos, que deve ser
lida com atenção, pois é um elemento importantíssimo
a ser considerado na construção do texto.
 Muitos alunos já tiveram sua redação anulada por não
considerarem a coletânea e seus elementos ou por
fazerem meras paráfrases dos textos ali oferecidos.
 É preciso integrar a coletânea ao seu texto, sem copiá-
la.
 Segundo passo: seleção e organização das ideias
Nesta fase, devemos selecionar as ideias mais
importantes e organizá-las, tendo em vista alguns
critérios, como :
 1- Qual ideia é a mais importante?
 Ela serve para a introdução do texto?
? Ela vai provocar outras ideias?
 2- Que ideias esclarecem a introdução? Quais ideias
contêm um argumento válido? Quais ideias são mais
importantes na argumentação?
 3- Quais ideias servem para concluir o texto
coerentemente com as ideias da introdução?
 Essa esquematização dará mais segurança a quem vai
escrever, pois seu texto mostrará um desenvolvimento
lógico, coerente, claro e objetivo.
 EXEMPLO DE UM PROJETO DE TEXTO: ( Agnelo de
Carvalho Pacheco - A Dissertação: teoria e prática)
 Supondo que o tema da dissertação seja "Poluição dos
rios", um possível levantamento de ideias seria o
seguinte:
 - morte de vários peixes; -desequilíbrio na fauna e
flora aquática; - indústrias despejam poluentes nas
águas; - nenhum controle por parte das autoridades
responsáveis;
- com o aumento da poluição, o que será de nosso
futuro? - poluição da água que nós bebemos;
 - na Inglaterra recuperaram um rio que era totalmente
poluído: o Tâmisa;
 -o rio Tietê, em São Paulo é totalmente poluído; é só
passar nas suas margens que a gente sente o cheiro; -
contaminação dos peixes que nós comemos; -
destruição dos rios=destruição do planeta= destruição
da nossa casa=destruição de nós mesmos; -
detergentes biodegradáveis; - despejo de esgoto nos
rios;
 - a água dos rios poluídos é utilizada na irrigação e
pode contaminar plantações; - poderiam desenvolver
projetos para reaproveitar o lixo que é lançado nos
esgotos; - pode provocar inundações.
 Dentre todas essas ideias, vamos agora selecionar e
organizar aquelas que comporão nosso texto. Uma
divisão possível e interessante para a redação seria em
causas, consequências e soluções.
CAUSAS - indústrias despejam poluentes nas águas; -
não há controle por parte das autoridades
responsáveis; - despejo de esgotos nos rios; - uso de
detergentes não biodegradáveis; - falta de
conscientização da população.
 CONSEQUÊNCIAS - morte dos peixes; - contaminação
de plantações irrigadas por águas poluídas; - poluição
da água que nós bebemos; - contaminação dos peixes
que nós comemos; - transmissão de infecções aos
homens; -desequilíbrio ecológico; - acúmulo de detritos
no leito dos rios e consequentes inundações. 
SOLUÇÕES - seguir o exemplo da Inglaterra, onde
recuperaram o rio Tâmisa; - desenvolvimento de
projetos para o reaproveitamento de esgotos; -
campanhas educativas para a população; - maior
fiscalização por parte das autoridades responsáveis.
Agora que você já tem o Projeto desse texto, procure
desenvolvê-lo, como exercício.
EXERCÍCIOS
1 - Procure fazer um levantamento de ideias para os
seguintes temas:
 * A Tecnologia como fator de felicidade
 * Problemas Urbanos e suas soluções
 * Investir em armas ou em educação? 
 * A internet: prós e contras 
 * Corrupção Generalizada: consequências para o país
 * Responsabilidade, um valor esquecido?
 2 - Selecione e ordene suas ideias, escolhendo aquelas
que servirão de introdução, desenvolvimento e
conclusão. 
 3 - Elabore seu texto, seguindo o projeto que você
traçou. Leia, releia para alguém ouvir, ouça críticas,
refaça o que for necessário. Procure sempre a clareza e
objetividade.
. Escreva com simplicidade, corte o que não for
essencial.
 4 – Por fim, verifique com cuidado a acentuação,
ortografia, regência, pontuação, concordância verbal e
nominal. Passe a limpo seu texto, cuidando também do
aspecto estético: escreva com letra legível, sem
borrões, sem rasuras.
 Não se esqueça do título, que deve ser interessante e
criativo. Concluída a redação, busque no seu texto,
para título, uma palavra ou expressão que sintetize o
conteúdo e que provoque no leitor o desejo de ler e
conhecer sua opinião.
Bom Trabalho!
3a. AULA: DESCRIÇÃO
Descrever é pintar por meio de palavras um objeto,
pessoa ou cenário. Assim como na pintura, a descrição
pressupõe um ponto de vista, ou seja, o objeto da
descrição deve ser observado a partir de uma posição
física. O ponto de vista é fundamental para a
organização do texto descritivo, já que as partes do
objeto descrito devem ser expostas e relacionadas a
fim de formar um conjunto que o leitor seja capaz de
entender. O estado de espírito do autor da descrição
faz parte de seu ponto de vista. Descrever é um
processo do qual tomam parte os nossos sentidos:
visão, tato, olfato, paladar e audição, para captar a
realidade e traduzi-la num texto, que tem como
objetivos: informar o leitor (descrição técnica e
objetiva), convencê-lo (descrição publicitária),
transmitir-lhe impressões ou emoções (descrição
literária).
 O texto descritivo normalmente aparece
complementando uma narração, reproduzindo seus
personagens e o cenário onde eles transitam.
. A descrição pode aparecer também em textos
dissertativos-expositivos, fornecendo dados para a
argumentação.
 Vamos analisar um texto descritivo de cenário de
Cecília Meireles: 
 Se eu fosse pintor... 
 Se eu fosse pintor começaria a delinear este primeiro
plano de trepadeiras entrelaçadas, com pequenos
jasmins e grandes campânulas roxas, por onde flutua
uma borboleta cor de marfim, com um pouco de ouro
nas pontas das asas.
 Mas logo depois, entre o primeiro plano e a casa
fechada, há pombos de cintilante alvura, e pássaros
azuis tão rápidos e certeiros que seria impossível
deixar de fixá-los, para dar alegria aos olhos dos que
jamais os viram ou verão. Mas o quintal da casa
abandonada ostenta uma delicada mangueira, ainda
com moles folhas cor de bronze sobre a cerrada fronde
sombria, uma delicada mangueira repleta de pequenos
frutos, de um verde tenro, que se destacam
do verde-escuro como se estivessem ali apenas para
tornar a árvore um ornamento vivo, entre os muros
brancos , os pisos vermelhos, o jogo das escadas e dos
telhados em redor.
 E que faria eu, pintor, dos inúmeros pardais que
pousam nesses muros e nesses telhados, e aí
conversam, namoram-se, amam-se, e dizem adeus,
cada um com seu destino, entre a floresta e os jardins,
o vento e a névoa?
 Mas por detrás estão as velhas casas, pequenas e
tortas, pintadas de cores vivas, como desenhos
infantis, com seus varais carregados de toalhas de
mesa, saias floridas, panos vermelhos e amarelos,
combinados harmoniosamente pela lavadeira que ali os
colocou.
 Se eu fosse pintor, como poderia perder esse arranjo,
tão simples e natural, e ao mesmo tempo de tão
admirável efeito?
Mas, depois disso, aparecem várias fachadas, que se
vão sobrepondo umas às outras, dispostas entre
palmeiras e arbustos vários, pela encosta do morro. 
. Aparecem mesmo dois ou três castelos , azuis e
brancos, e um deles tem até, na ponta da torre, um
galo de metal verde. Eu, pintor, como deixaria de
pintar tão graciosos motivos? Sinto, porém, que tudo
isso por onde vão meus olhos, ao subirem do vale à
montanha, possui uma riqueza invisível, que a
distância abafa e defaz: por detrás dessas paredes,
desses muros, dentro dessas casas pobres e desses
castelinhos de brinquedo, há criaturasque falam,
discutem, entendem-se e não se entendem, amam,
odeiam, desejam, acordam todos os dias com mil
perguntas e não sei se chegam à noite com alguma
resposta.
 Se eu fosse pintor, gostaria de pintar esse último
plano, esse último recesso da paisagem. Mas houve
jamais algum pintor que pudesse fixar esse móvel
oceano, inquieto, incerto, constantemente variável que
é o pensamento humano? MEIRELES, Cecília. Ilusões do
mundo. Rio de Janeiro, Nova Aguilar,1976. p. 17-8.
O texto é puramente descritivo. Nele predominam
elementos descritivos, há uma abundância de adjetivos
e locuções adjetivas; os verbos são estáticos.
 A autora expõe a sua "pintura em palavras" em planos
diferentes, começando pelo mais próximo e avançando
por vários outros até chegar ao "último plano", "esse
último recesso da paisagem" onde se encontram os
seres humanos e seus pensamentos, que ela
reconhece ser impossível pintar
. A autora privilegia o sentido da visão, já que é esse o
sentido essencial para um pintor.
 No segundo texto, veremos a descrição de uma
personagem.
 Prima Julieta 
 Prima Julieta, jovem viúva, aparecia de vez em quando
na casa de meus pais ou na de minhas tias. O marido,
que lhe deixara uma fortuna substancial, pertencia ao
ramo rico da família Monteiro de Barros. Nós éramos do
ramo pobre. Prima Julieta possuía uma casa no Rio e
outra em Juiz de Fora. Morava 
em companhia de uma filha adotiva. E já fora três
vezes à Europa. Prima Julieta irradiava um fascínio
singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a
conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao
charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois
anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que
era uma deusa, diz Virgílio de outra mulher. Prima
Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça
para trás, remando os belos braços brancos. A
cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas
poderosas. Os olhos de um verde azulado
borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos;
voz de pessoa da alta sociedade. Uma vez descobri
admirado sua nuca, que naquele tempo chamavam de
cangote, nome expressivo: pressupõe jugo e domínio.
No caso somos nós, homens, a sofrer a canga. Descobri
por intuição a beleza do cangote e do pescoço
feminino, não querendo com isso dizer que
subestimava as outras regiões do universo. MENDES,
Murilo. A idade do serrote. Rio de Janeiro. Sabiá.
1968.p.88-9
O autor descreve a prima Julieta usando grande
número de adjetivos, mostrando as principais
características da personagem. É interessante notar
que essas características implicam movimento:" seu
andar, caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça
para trás, remando os belos braços brancos, os olhos
borboleteavam..." A descrição da Prima Julieta é feita
tanto no plano objetivo como no subjetivo ou
psicológico.
 Exercícios
1- Faça a descrição objetiva e subjetiva de seu quarto.
Descreva-o por diferentes canais sensoriais (visão,
audição, tato, olfato, paladar).
 2- Leia o texto abaixo e faça o se propõe:
 Conto em letras garrafais
Todos os dias esvaziava uma garrafa,
 colocava dentro sua mensagem,
e a entregava ao mar.
 Nunca recebeu resposta. mas tornou-se alcoólatra.
COLASSANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de
Janeiro. Rocco, 1986. p. 95. Baseado nesse conto
sintético, crie um texto narrativo e descritivo.
Caracterize o personagem, descrevendo seus traços
físicos e psicológicos. Crie também o cenário em que a
ação se desenrola. (textos adaptados do livro Do texto
ao texto de Ulisses Infante)
Baseado nesse conto sintético, crie um texto narrativo
e descritivo. Caracterize o personagem, descrevendo
seus traços físicos e psicológicos. Crie também o
cenário em que a ação se desenrola. (textos adaptados
do livro Do texto ao texto de Ulisses Infante)
Descreva esse cenário. O que ele lhe transmite?
Treine sua sensibilidade.
4a. AULA: NARRAÇÃO
"A narrativa está presente em todos os tempos, em
todos os lugares, em todas as sociedades" (Roland
Barthes)
 Narrar é contar histórias, que podem ser reais ou
imaginárias. Numa narrativa você trabalha com vários
elementos que exigem cuidado e atenção:
personagens, tempo, espaço, narrador, discurso
narrativo, enredo ou trama, estrutura narrativa e ação.
Vejamos cada um desses elementos, cuidadosamente:
 Personagens: As personagens são de suma
importância, pois elas é que conduzirão os fatos que
irão compor o enredo. Entre as personagens, temos o
protagonista (personagem principal), o antagonista
(personagem que se opõe ao 
protagonista impedindo-o de realizar seuspropósitos).
 Além deles há os adjuvantes ou coadjuvantes,
personagens secundários.
 As personagens podem se classificar em planas ou
lineares, quando não têm muita profundidade ou
complexidade. Sua personalidade é fraca e seu
comportamento é previsível.
 Podem ainda ser redondas ou complexas; são bem
acabadas interiormente e são imprevisíveis. São
dinâmicas e evoluem na narrativa.
 Tempo: Nas narrativas pode-se trabalhar com dois
tipos de tempo: o histórico ou cronológico, que é o
tempo linear, que segue o ritmo do relógio ou do
calendário e o tempo psicológico, que é interior, não
é mensurável. O modo de medi-lo é relacionando-o
com a duração dos sentimentos.
Espaço: O espaço é o ambiente onde se instalam as
personagens, onde eles transitam, no desenvolvimento
do enredo. O espaço pode ser aberto (o campo, uma
praça) ou fechado (uma sala, um cômodo); pode ser
ainda real (físico) ou 
 psicológico, quando existe no interior da
personagem, refletindo estados psicológicos.
 
Narrador: Há dois tipos de narrador:
 Narrador em 1a. pessoa- sendo ele uma das
personagens da história, vai tomando conhecimento
dos fatos à medida que eles se desenrolam. Esse tipo
de narrador aparece com frequência em histórias
policiais. 
Narrador em 3a. pessoa ou narrador onisciente -
é aquele que sabe de todas as ações, pensamentos e
sentimentos das personagens.
 Discurso Narrativo: Discurso Narrativo é o modo
como o narrador introduz a fala das personagens.
Ele pode apresentar três formas:
 1- Discurso Direto: quando se reproduz fielmente a
fala da personagem, como no ex:
 - Eu quero ter um casamento tradicional, papai!
 - Sim, minha filha.
 -Exatamente como você.
A fala da personagem no discurso direto pode misturar-
se ao corpo do texto, indicada por travessão ou
vírgulas. Ex:
 - Não ! - disse Helena - nunca mais venho aqui.
 -Não! Nunca mais volto aqui - disse Helena. 
- Não! disse Helena, nunca mais volto aqui
. - Não! Nunca mais volto aqui, disse Helena.
 2- Discurso Indireto: neste tipo de discurso, o
narrador não reproduz a fala da personagem, mas ele
"fala" indiretamente, fazendo uso das conjunções que
e se
. Ex: A filha virou para o pai e afirmou que queria ter
um casamento tradicional, exatamente igual ao dos
seus pais. Ele, meio surpreso, achou ótimo.
 3- Discurso Indireto Livre: É o resultado da soma
dos dois anteriores. Para que ele ocorra é preciso:
 - que o narrador esteja em terceira pessoa;
 - que o narrador seja onisciente.
Os autores modernos usam muito esse tipo de discurso
em que o pensamento das personagens é captado e
expresso pelo autor em terceira pessoa.
 Veja esse exemplo em "Vidas Secas" de Graciliano
Ramos:
 "Nesse ponto as ideias de Sinhá Vitória seguiram outro
caminho, que pouco depois foi desembocar no
primeiro. Não era que a raposa tinha passado no rabo a
galinha pedrês? Logo a pedrês, a mais gorda. Decidiu
armar um mundéu perto do poleiro. Encolerizou-se. A
raposa pagaria a galinha pedrês. Ladrona! Pouco a
pouco a zanga se transferiu. Os roncos de Fabiano
eram insuportáveis. Não havia homem que roncasse
tanto."
Enredo ou trama: O papel de uma narração não é
apenas informar sobre acontecimentos, mas mostrá-los
de modo a prender nosso interesse e atenção. Não
podemos confundir narrativacom relato. 
. O relato é objetivo, direto, não expressa emoção, é
apenas informativo; ao contrário, a narrativa trabalha
muito com a subjetividade, mostra as emoções das
personagens e até mesmo do autor.
 Veja um exemplo de relato: "Houve um incêndio
numa loja. O fogo consumiu boa parte das instalações
do estabelecimento, pois o incidente começou às 9 da
manhã - com um curto-circuito - e só terminou às 2 da
tarde."
 Veja um exemplo de narrativa: " Houve um incêndio
numa loja e as crianças do bairro ficaram muito tristes.
Era a única loja de brinquedos do bairro. Mesmo sendo
modesta, as crianças que por lá passavam sonhavam
com os vídeogames, com as bonecas, com os jogos que
estavam expostos na vitrina.Mas o fogo transformou
tudo aquilo numa bagunça coberta de pó preto. Parecia
até que as bonecas haviam fugido, desaparecendo
para sempre."
Estrutura narrativa: Normalmente o texto narrativo
segue a seguinte estruturação: 
 Apresentação: é a parte do texto em que são
apresentadas algumas personagens e algumas
circunstâncias da história , como momento e lugar
onde a ação se desenrolará.
 Complicação: é a parte do texto em que se inicia a
ação. O estado inicial de equilíbrio é quebrado, com um
ato ou um fato que vai desencadear outros atos ou
fatos, levando a história a um clímax.
 Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge
seu momento crítico, tornando inevitável o desfecho.
 Desfecho ou Desenlace: é a solução do conflito
criado pelas personagens, quando se restabelece o
equilíbrio. Normalmente, a sequência dos fatos numa
narrativa é cronológica. No entanto, se você quiser
apresentar o desfecho antes da complicação e do
clímax, como se vê em muitos filmes de suspense,
deve ficar atento ao uso dos tempos verbais. O uso
correto dos tempos verbais, dos advérbios e 
conjunções indicativas de tempo são importantes para
manter a coesão do texto.
 Ação: Narrar uma história não é reproduzir uma
sequência de ações de modo exaustivo. Todas as ações
devem ter um significado importante para a história.
Todos os acontecimentos devem ser selecionados de
modo a formar uma unidade. Nenhuma ação deve ser
supérflua, todos os fatos devem contribuir para o
sentido do texto.
 Bem, agora que você sabe como se estrutura uma
narrativa e quais seus pontos importantes, comece a
ler textos narrativos com atenção a esses aspectos.
Depois crie uma história, construa seus personagens e
cenário (aí você usará elementos descritivos), observe
como você introduzirá a fala das personagens e
escolha o tipo de narrador que vai assumir (em 1ª. ou
3ª. pessoa). Pense num enredo interessante e mãos à
obra! Solte a sua imaginação e criatividade!
Eu lhe dou as personagens e você cria o enredo... 
5a. AULA: - PALAVRA-CHAVE E PARÁGRAFO
Antes de escrever, todos nós aprendemos a ler. Leitura
e escrita se complementam. Para escrever bem é
preciso ler bem. Uma leitura bem feita é aquela capaz
de retirar de um texto ou livro a informação essencial.
Uma boa conduta para isso é reconhecer as palavras-
chave do texto, ou seja, as palavras em torno das quais
as outras se organizam e criam um intercâmbio de
significações para produzirem sentidos.
 As palavras-chave formam um centro de expansão que
constitui o alicerce do texto. O leitor deve reconhecê-
las, a fim de conseguir depreender a totalidade do
texto. Cada parágrafo tem uma palavra-chave, que
normalmente aparecerá na ideia principal e que será
retomada por sinônimos, por pronomes, por outros
recursos da coesão, assunto de uma próxima aula.
Vejamos o 1o. parágrafo de uma redação de
candidato, no vestibular da Unicamp , em 2002 e
como ele o construiu:
 "O trabalho apresenta um caráter vital: através dele se
produzem os gêneros alimentícios, as construções, os
utensílios e grande parte das relações sociais. Assim, a
forma como ele se estrutura reflete a evolução e a
organização de cada época e localidade. Ao longo do
tempo, os inúmeros pensadores, ensaístas e
personalidades observaram-no e formularam diferentes
concepções do trabalho, sob enquadramentos distintos.
Algumas dessas visões consideravam-no como fator de
promoção , enquanto outras, como uma atividade
degradante. A razão dessa discrepância é o fato de
que, historicamente, as relações trabalhistas sempre
foram necessárias à humanidade como um todo, mas
acabaram por privilegiar certos grupos."
A palavra-chave desse parágrafo inicial é trabalho.
Partindo dela, o candidato expande o texto,
desenvolvendo outras ideias. O texto se inicia com uma
afirmação:
 • "O trabalho apresenta um caráter vital:"
 Na sequência, temos a explicação sobre essa
afirmação: 
• "através dele se produzem os gêneros alimentícios, •
(através dele se produzem ) as construções,
 • (através dele se produzem) os utensílios,
 • (através dele se produz) grande parte das relações
sociais."
 • "Assim, a forma como ele se estrutura reflete a
evolução e a organização de cada época ou
localidade."
 Nesse segundo período, o autor se refere à
estruturação do trabalho. A palavra trabalho é
retomada pelo pronome ele.
 • "Ao longo do tempo, os inúmeros pensadores,
ensaístas e personalidades observaram-no e
formularam diferentes concepções do trabalho, sob
enquadramentos distintos. Algumas dessas visões
consideraram-no como fator de promoção, enquanto
outras, como uma atividade degradante." Nesse
terceiro período o autor faz referência às diferentes
maneiras como o trabalho foi avaliado, nas diferentes
épocas. A palavra-chave trabalho foi retomada duas
vezes com o pronome oblíquo no, em observaram-no e
consideraram-no.
enquadramentos distintos. Algumas dessas visões
consideraram-no como fator de promoção, enquanto
outras, como uma atividade degradante."
 Nesse terceiro período o autor faz referência às
diferentes maneiras como o trabalho foi avaliado, nas
diferentes épocas. A palavra-chave trabalho foi
retomada duas vezes com o pronome oblíquo no, em
observaram-no e consideraram-no.
 • A razão dessa discrepância é o fato de que,
historicamente, as relações trabalhistas sempre foram
necessárias à humanidade como um todo, mas
acabaram por privilegiar certos grupos."
 Nesse quarto período que compõe o parágrafo o autor
faz referência às relações trabalhistas. A palavra-chave
trabalho aparece no parágrafo inteiro, retomada por
repetição ou pelo uso de pronomes: ele, dele, no.
 É importante ter sempre em vista a palavra-chave na
elaboração de um parágrafo. Só assim mantemos a
unidade, a coesão e a coerência do texto.
O PARÁGRAFO 
Há muitas maneiras de se construir um parágrafo; o
que importa é que você observe os seguintes pontos: 1
- O parágrafo é formado por um conjunto de
enunciados que deverão convergir para a produção de
um sentido.
 2 –A primeira frase de cada parágrafo, que se
denomina tópico frasal, é sempre muito importante.
Ela deve ter uma palavra de peso que possa ser
explorada.
 3 – Fica difícil desenvolver bem um parágrafo se o
tópico frasal for muito vago. Evite abstrações.
 4 – Todo parágrafo deve ter sempre uma palavra que o
norteie.
 5 – Cada parágrafo deve explorar uma só ideia.
 Explorar várias ideias ao mesmo tempo torna o texto
confuso e isso prejudica a coerência.
 Agora você sabe a importância da palavra-chave na
construção do parágrafo. Poderá então escrever textos
com unidade e coerência.
EXERCÍCIOS:
 (lembre-se do tópico frasal)
 a) Escreva um parágrafo inicial usando as seguintes
palavras-chave: favela/cidade
 b) Escreva um parágrafo inicial com as seguintes
palavras-chave: progresso/corrupção
 c) Escreva um parágrafo inicial com as seguintes
palavras: drogas/repressão
6ª. AULA: A DISSERTAÇÃO 
 A dissertação é um tipo de texto em que o autor se
posiciona diante de uma temática, defendendo seu
posicionamento por meio de argumentos. O ato de
argumentar constitui o ato linguístico fundamental,
pois é através deleque o homem consegue transmitir
suas ideias e fazer com que outros as entendam e as
aceitem, ou não. Em nosso dia a dia, sem nos darmos
conta disso, fazemos o exercício de argumentação
muito intensamente. Argumentamos com os pais,
tentando fazê-los entender que meia noite é muito
cedo para voltarmos para casa; argumentamos com o
professor a respeito da nota que recebemos e com a
qual não concordamos; argumentamos com o gerente
do nosso banco sobre a necessidade de se baixarem os
juros, e assim, em todas as situações corriqueiras,
estamos avaliando, julgando, criticando, ou seja,
formando juízos de valor.
A dissertação é o tipo textual mais comum nos
vestibulares, porque através dele, a instituição de
ensino poderá selecionar com eficiência os alunos mais
bem informados, mais capazes, não só no uso da
linguagem, mas na organização do pensamento lógico,
da argumentação relevante e da análise crítica.
Portanto, para discorrer sobre um tema são
necessárias condições prévias, como: muita leitura,
debates com colegas ou professores, pesquisas sobre
opiniões diversas a respeito do assunto em questão e
muita reflexão, para se chegar a um posicionamento
seguro, claro e coerente que surgirá na elaboração de
uma dissertação.
 Lembramos aqui que é interessante rever o assunto da
2a. aula desse nosso curso: o projeto de texto.
A estrutura clássica da dissertação se organiza em 3
partes:
 1) introdução, que apresenta a ideia central a ser
discutida. É o momento em que o autor pode se
posicionar a favor ou contra o assunto. 
2) desenvolvimento, que apresenta os argumentos
usados pelo autor no seu posicionamento diante do
tema. Normalmente, o desenvolvimento se apresenta
em 1 ou 2 parágrafos.
 3) conclusão, que pode confirmar a tese inicial, agora
fundamentada nas ideias da 2a. parte (argumentação).
Geralmente, a conclusão é apresentada em um
parágrafo.
 Exemplo de dissertação :
 Os microcomputadores: uma ameaça?
A expansão tecnológica prossegue acelerada nestes
últimos anos, modificando dia a dia a feição e os
hábitos de nossa sociedade.
 Talvez a maior novidade, que começa a preocupar os
observadores, seja a "revolução informática" e suas
conquistas mais recentes: videogames, videocassetes
e, principalmente, os microcomputadores, que
começam a fazer parte do nosso cotidiano e cuja
manipulação já é acessível não só aos adultos leigos,
mas até às crianças. Isso indica que já entramos na era
do computador ; e que 
uma revolução da mente acompanhará a revolução
informática.
Essa "revolução" iminente vem alertando os
responsáveis pela Educação das crianças e jovens para
a ameaça de robotização que o uso regular dos
computadores, introduzidos nas escolas e fora delas,
poderá provocar nas mentes em formação.
 Para neutralizar tal ameaça, faz-se urgente a
descoberta (ou a adoção) de métodos ativos que
estimulem a energia criativa dos novos. E
principalmente se faz urgente que as novas gerações
descubram a leitura estimuladora ou criadora e através
dela alcancem a formação humanística (Literatura,
História, Filosofia, Ciências Humanas e Artes em geral)
que lhes dará a base cultural indispensável para serem
no futuro os criadores de programas que a nova era vai
exigir. E não os programadores obsessivos em que
forçosamente se transformarão em pouco tempo,
"robotizados" pela automação exigida para uso dos
computadores.
 Em lugar de lutarmos contra esse novo instrumento da
civilização e do progresso, urge que nos 
preparemos para dominá-lo.
(Nelly Novaes Coelho, Panorama histórico da literatura
infantil/juvenil)
 Vamos analisar o texto, tentando recuperar o Projeto
de Texto elaborado pela autora:
 - a revolução da mente, consequência da "revolução
informática".
 • A ideia central é a expansão tecnológica e seus
reflexos sobre a sociedade. As palavras-chave desse
parágrafo inicial são expansão tecnológica. Aqui
está o Tópico Frasal.
 • A ideia central se expande no 2o. parágrafo em duas
ideias:
 - a revolução informática com suas novidades;
 A palavra-chave desse 2o. parágrafo é revolução
informática.
• No 3o. parágrafo a autora mostra que a revolução
informática pode ser causadora de um processo de
robotização dos jovens.
As palavras-chave aqui são revolução e robotização.
• No 4o. parágrafo, a autora apresenta medidas que
"salvem" esses jovens da robotização e ainda reverte
essa situação maléfica (robotização) para uma situação
favorável (desenvolvimento da criatividade).
 • No 5o. parágrafo, ou seja, na conclusão, a autora,
propõe resumidamente, uma proposta de ação que
responde à questão colocada no título
. As palavras-chave nesse parágrafo
são novo instrumento . Note-se que a autora não
perdeu de vista, em nenhum momento, as palavras-
chave que pavimentam o texto, cuidando assim, da
coesão e da coerência, "amarrando" uma ideia à outra
até o final. Por isso, o texto flui naturalmente, com
clareza e concisão. Não sobram palavras, não sobram
ideias.
Delimitação do Tema - Muitas vezes, a banca que
elabora o tema da redação, já o delimita, ou seja, já
deixa claro para o candidato, que aspectos deverão ser
abordados. Outras vezes, cabe ao aluno delimitar o
tema, visto que na proposta ele aparece de forma
muito ampla.
Se o tema for, por exemplo, o Preconceito, e não
estiver delimitado,o candidato deverá fazê-lo,
escrevendo sobre Preconceito contra negros, idosos ou
homossexuais.
7a. AULA: O PARÁGRAFO INICIAL
O parágrafo inicial é de grande importância no texto
dissertativo. É ele que vai despertar a atenção e o
interesse do leitor e vai instigá-lo para realizar a leitura
do texto integral.
 Vamos apresentar nesta aula algumas maneiras
interessantes de introduzir um tema para que você
possa treiná-las em seus próprios textos. Seja criativo,
abandone fórmulas feitas, chavões e lugares comuns.
 A declaração é a forma mais comum, e deve ser
elaborada com o objetivo de surpreender o leitor.
Exemplo: " Na última década as mortes por armas de
fogo registradas no Brasil superaram o número de
vítimas de 23 conflitos armados no mundo, perdendo
apenas para as guerras civis de Angola e da
Guatemala. Nesse período morreram no Brasil 325.551
pessoas, em média 32.555 mortes por ano." (estudo
feito pela UNESCO)
 O 2o. exemplo nos mostra uma introdução feita num
esquema de divisão:
 "Temos ainda no Brasil dois grandes problemas a
serem resolvidos, para que efetivamente se consolide o
desenvolvimento que tanto esperamos: a Saúde e a
Educação." (redação de aluno)
 "A moral ocorre em dois planos: o normativo e o
factual. De um lado, nela encontramos normas e
princípios que tendem a regulamentar a conduta dos
homens e, de outro lado, um conjunto de atos humanos
regulamentados por eles, cumprindo assim sua
exigência de realização." (Adolfo Sánches Vásquez,
Ética)
 Podemos ainda iniciar o texto por uma pergunta
reflexiva, que poderá ou não, ser respondida no
desenvolvimento ou na conclusão. Veja exemplos: "Até
quando o povo brasileiro ficará impassível diante de
tanta corrupção?"
 "A partir de quando deixamos de acreditar no
progresso como homens do século xix?" (Jacques
Juillard)
Uma definição sobre o tema da redação também pode
iniciar o texto.
 Ex: "Eutanásia vem do grego Eu (bom, boa) +
thanatos (morte) e consiste em abreviar o sofrimento
de alguém, acelerando ou facilitando o processo de
morte." (redação de aluno)
 "A amizade , de fato, nada mais é do que um perfeito
acordo entre as coisas divinas e humanas, associado a
um sentimento de benevolência e afeto." (Cícero, O
nascimento da amizade e seus limites)
 Alusão Histórica é também uma forma interessante
de se iniciar um texto. 
Ex: "Após a queda do Muro de Berlim, acabaram-se os
antagonismos leste-oeste e o mundo parece ter aberto
de vez as portas para a globalização. As fronteiras
foram derrubadas e a economia entrou em rota
acelerada de competição."
 Definição+ oposição de ideias. Veja o exemplo: "A
palavra progresso no dicionário possui a seguinte
definição: movimento ou marcha para a frente,
evolução, adiantamento em sentido favorável. 
para toda a humanidade." (redação de aluno)
 Ilustração: o texto se inicia com uma pequena
narrativa. "O Jornal do Comércio, de Manaus, publicou
um anúncio em que uma jovem de dezoito anos, já
mãe de duas filhas, dizia estar grávida, mas não queria
a criança. Ela a entregaria a quem se dispusesse a
pagar sua ligação de trompas. Preferia dar o filho a ter
que fazer um aborto. O tema é tabu no Brasil." (Antonio
Carlos Viana, O Quê)
 Apresentamos aqui 7 formas de redigir o parágrafo
inicial. Há inúmeras outras. Observe em suas leituras,
como o autor inicia seu texto. E você, crie a sua
maneira, crie o seu próprio estilo, não se esquecendo
da coesão e da coerência .
Veja como Jorge Amado inicia seu romance "A
descoberta da América pelos turcos": "Ao acreditar-se
nos historiadores ibéricos, sejam espanhois sejam
portugueses, a descoberta da América pelos turcos ,
turcos coisíssima nenhuma, são árabes de boa cepa,
deu-se com grande atraso, em época relativamente
recente, no século passado, não antes."
Veja como Ken Follet, autor dos livros “Pilares da
Terra” (tomo I e II) inicia a sua narrativa, que retrata a
época medieval na Inglaterra:
 “Os garotos chegaram cedo para o enforcamento.
Ainda estava escuro, quando os primeiros três ou
quatro esgueiraram-se para fora do galpão, silenciosos
como gatos, com suas botas de feltro.”
 E aí, quem consegue parar de ler?...
 EXERCÍCIOS: 1- Faça um parágrafo inicial sob a forma
de definição, dos seguintes temas: 
a) Por uma Globalização mais humana
 b) Sustentabilidade 
c) Ecologia
d) Sociedade e Ética
 2- Inicie um texto, fazendo uma ilustração sobre os
temas : 
a) Ser cidadão 
b) Preconceito Racial
c) País sem educação, país à deriva 
d) Um sinal fechado, uma esmola, uma criança
explorada
 3- Faça um parágrafo inicial sob a forma de pergunta,
dos seguintes temas:
 a) A repressão aos tóxicos
 b) Energia nuclear no Brasil
 c) Corrupção e seus reflexos na sociedade
 d) Combate às drogas
8a. AULA: DISSERTAÇÃO - desenvolvimento 
Segundo o Prof. Francisco Platão, um dos autores do
livro "Lições de Texto: leitura e redação", para fazer
uma redação de boa qualidade, o aluno deverá: 1-
apreender a questão, ou seja, compreender o tema que
lhe é proposto;
 2- tomar posição diante da questão: momento em que
se avalia a capacidade de reflexão e de reação do
aluno diante de uma situação nova;
 3 - elaborar uma argumentação sustentável, fazendo
uso de todo o conhecimento adquirido durante seus
anos de estudo, de suas leituras e de suas experiências
de vida; 
4- utilizar linguagem culta.
 Com relação a "apreender a questão", o aluno deve ler
com muito cuidado a proposta e a coletânea que lhe é
oferecida, para não fugir do tema. Deve também estar
atento ao tipo de texto que deve fazer, pois uma
produção equivocada pode anular sua
redação, por melhor que ela seja. Quanto a "tomar
posição diante da questão", o aluno deve deixar claro
para o leitor o seu posicionamento, já no primeiro
parágrafo do texto.
 Com relação a " elaborar uma argumentação
sustentável", o aluno deverá lançar mão de todo seu
conhecimento em história, geografia, ciências,
literatura, enfim, de todas as disciplinas do seu
currículo escolar, mais a sua experiência de vida, para
produzir um bom texto. Assim como o parágrafo inicial
pode ser elaborado de diversas maneiras, o
desenvolvimento também pode seguir diferentes
esquemas, dependendo do tema proposto. Assim,
temos algumas formas de desenvolvimento abaixo
relacionadas:
 1- causa e consequência
 2- comparações por semelhança ou por diferença
(contraste) 
3- fatos históricos 
4- citações literárias
5- argumento de autoridade
5- argumento de autoridade 
6- fatos de conhecimento público
 7- tempo e espaço
 8- enumeração
 9- exemplificação
 Vamos ler e analisar uma redação de aluno
apresentada no vestibular da Unicamp em 2002, sobre
a questão do trabalho:
 Egoísmo Capitalista 
 (Alexandre F. de Oliveira Neto)
 O capitalismo transformou , ao longo dos séculos, o
homem num ser extremamente vil e egoísta. Todas as
atitudes, todas as relações, todos os pensamentos e
até os sentimentos passaram, sob o domínio
capitalista, a obedecer à " ditadura monetária". Em
nome da constituição , ou do aumento de sua riqueza,
o ser humano passou a esquecer o amor recíproco ao
seu semelhante e aderiu piamente ao maquiavélico "os
fins justificam os meios".
Nos primórdios da história não havia para o homem a
ganância pelo acúmulo, por possuir mais do que seu
companheiro, até porque tal acúmulo não significaria
então superioridade.
 A produção era baseada na sobrevivência , e nos
instrumentos para tal. Assemelhávamo-nos a qualquer
animal, e nosso diferencial em relação a estes, o
raciocínio, provocava um avanço tecnológico, não pelo
aumento da produção, mas por sua facilitação.
 No capitalismo, a situação se inverteu. Predomina o
conceito de "posse", da superioridade em função da
riqueza. A ascensão burguesa na idade Média
disseminou o "ter sobre o ser" e estimulou o
individualismo egoísta que faz um idealizar seu sucesso
no fracasso do outro. O que facilitou a tática burguesa
de tomar para si os meios de produção como forma de
controle social, pois só resta à população "a luta bestial
e ferina" em busca da sobrevivência , impedindo-a de
rebelar-se contra essa dominação.
Identifica-se também a dominação ideológica burguesa
no capitalismo industrial. Aproveitando-se do
moralismo religioso decorrente do medievo, a
burguesia utilizou a repressão sexual como forma de
dominar o proletariado. A "demonização" do exercício
da sexualidade (não só do ato sexual) refletia uma
visão negativa também do prazer e do lazer,
endeusando o trabalho como dignificante e salvador.
Essa "lavagem cerebral" mostrou-se propícia aos
interesses burgueses, uma vez que garantia a
manutenção do "status quo" favorável. Um operário
exausto, com jornadas muitas vezes de 16 horas
diárias, ou mais, não teria ânimo para rebelar-se,
organizar greves ou manifestações. O estímulo dessa
mentalidade trabalhista caracterizou o acúmulo de
capitais como o "sentido da vida", e o trabalho
incessante e exaustivo como forma de alcançá-lo. A
serviço dessa imposição, surgiram vários meios, desde
a alienação infantil, com a popularização de fábulas
como "A cigarra e a formiga", até a nazista enganação
do trabalho como forma de libertação.
A consequência disso, vemos em cenas como as da
mineração em Carajás, com milhares de homens
morrendo a cada dia pela esperança da "riqueza
milagrosa". O que reflete a visão do trabalho não bom
por si só; pelo contrário, assim como na escravatura,
algo desprezível é o trabalho braçal e forçado, só
justificável pela esperança do enriquecimento, que
possibilitaria ao oprimido passar a opressor.
 Essa mesma visão percebe-se nos trabalhos
voluntários , atualmente desprezados por não
apresentarem possibilidade concreta de recompensa.
 Por outro lado, com a justificativa religiosa, a adesão
aumenta, não pela solidariedade, mas pela promessa
do Paraíso aos voluntários. Igualmente capitalista. A
situação só se alterará quando o homem se desprovir
de sua ganância egocêntrica e deixar de explorar
miseráveis, como as grandes multinacionais
americanas, em nome do lucro exacerbado. Como
sonhava Marx, só a preocupação social salvará nossa
humanidade.
Análise do texto sob o ponto de vista de
organização das ideias e tipos de argumentos
selecionados pelo autor
 Introdução: 
Na introdução o autor já se posiciona com relação ao
tema proposto, no tópico frasal:
 • o capitalismo tornou o homem vil e egoísta 
• o homem esqueceu o amor ao próximo
 • o homem aderiu completamenteaos "fins justificam
os meios"
 Desenvolvimento - argumentação 
 Argumentos baseados em fatos históricos:
• no segundo parágrafo do texto, onde se inicia a
argumentação temos que, no começo da História, não
havia ganância para o acúmulo;
 • O terceiro parágrafo nos diz que a sobrevivência era
o objetivo do trabalho;
• no quarto parágrafo a ideia é que na Idade Média
disseminou-se o "ter sobre o ser";
• no quinto parágrafo temos que a Burguesia contra o
Proletariado coloca o trabalho como dignificante e
salvador em detrimento do lazer e do prazer sexual;
 • no sexto parágrafo temos que o acúmulo de capitais
é o "sentido da vida" e que o trabalho é o meio de
alcançá-lo.
 Argumentos baseados em exemplificação:
• no sétimo parágrafo temos o exemplo da Mineração
de Carajás;
 • no oitavo parágrafo o autor cita os trabalhos
voluntários incentivados com a justificativa religiosa de
"ganhar o Paraíso" (visão capitalista também). 
Conclusão: O autor conclui, de acordo com Marx, que
só a preocupação social salvará nossa humanidade.
 Recuperamos, nesta análise, o projeto de texto do
autor, seu posicionamento no tópico frasal, os vários
tipos de argumentos (alusão a fatos históricos e 
exemplificação) e a sua conclusão fundamentada em
um pensamento de Marx.
 Notamos que o autor se valeu de seu conhecimento
histórico, de seu conhecimento de mundo, de sua
capacidade de análise e crítica com muita eficiência.
9a. AULA: O DESENVOLVIMENTO DA
DISSERTAÇÃO (2ª. parte)
Vejamos mais três maneiras de desenvolver o texto
argumentativo:
 Argumento de autoridade - esse tipo de argumento
se sustenta pela citação de uma fonte confiável: um
pensador, um especialista no assunto, um líder político
ou religioso, uma autoridade.
 Veja os exemplos: "Uma câmera na mão e uma ideia
na cabeça" -a famosa frase de Gláuber Rocha virou
uma fórmula eficiente para explicar os R$130 milhões
que o cinema brasileiro faturou no ano passado.
(Revista Época - 14/04/2004) 
 "Não há instituição humana que não tenha os seus
perigos. Quanto maior a instituição, maiores as
chances de abusos. A democracia é uma grande
instituição e por isso mesmo está sujeita a ser
consideravelmente abusada. Mas o remédio não é
evitar a democracia e sim reduzir ao mínimo a
possibilidade de abuso." (As palavras de Gandhi, texto
selecionado por Richard Attenbourough)
Argumento de Provas Concretas ou fatos de
conhecimento público
- são argumentos colhidos na realidade, são fatos,
acontecimentos ou dados estatísticos de domínio
público. Esses dados podem aparecer na coletânea de
textos e podem ser usados em sua redação, como
argumentos selecionados por você.
 "Existe uma nova tendência ecológica que está
crescendo nos Estados Unidos: o restauracionismo.
Essa corrente diz que não basta brecar a devastação
da natureza causada pelo ser humano; é preciso
restaurar o que já foi destruído, e aí o homem entra
como um aliado da natureza, e não como seu
adversário 'natural'.
 No mês passado, aconteceu um congresso chamado
Restaurando a Terra, em Berkeley, Califórnia.
Participaram dele 800 cientistas , representantes das
indústrias e do governo, todos devidamente
preocupados com as catástrofes previstas por causa do
desrespeito ao meio ambiente. Nesse congresso foram
analisados projetos como o de restauração da vida
selvagem no
no litoral do Estado de New Jersey. Uma empresa
especializada aterrou pântanos , abriu canais para
rejuvenescer o fluxo das marés, criou colinas artificiais
para que patos selvagens colocassem seus ninhos. Os
resultados já são visíveis - os pássaros estão voltando à
região. O projeto custou até agora 4 milhões de
dólares. Muito dinheiro? É nada. É o preço que se paga
a um astro de cinema americano para realizar um
único filme. É o dinheiro que circula em Brasília em
comissões, presentes e outras formas de corrupção
branda." (Adapt. de Dagomir Marquezi.O Estado de São
Paulo, 16/02/88)
 Contra-argumentação -
De acordo com o dicionário Aulete, contra-argumentar
é apresentar um argumento contrário ao que foi
apresentado anteriormente. Na vida cotidiana fazemos
esse exercício com frequência. A compradora contra-
argumenta com o vendedor que lhe oferece um carro
usado, de boa marca e boa procedência. Ela faz
algumas objeções: o carro é muito velho, o carro está
mal conservado, o carro
 está caro. Ela usou uma série de contra-argumentos
para não comprar o carro.
 Nos textos dissertativos, é comum encontrarmos
argumentos e contra-argumentos. Vejamos um
exemplo:
 "As favelas cresceram a tal ponto que sua voz não
pode mais ser abafada pelas políticas governamentais.
Em pleno século XXI, favelas convivem com prédios e
mansões da elite. A expansão da troca de culturas e o
aumento do poder de compra e da voz política dos
moradores da favela demonstram que o espaço urbano
quebrou barreiras , não só físicas, mas também sociais.
Contudo, é utopia acreditar que a segregação social
desapareceu. O apartheid das cidades ainda persiste,
seja no descaso das políticas públicas, ou na crença
forte da inferioridade da cultura da favela. Uma análise
profunda revela que os valores da elite estão
permeados de preconceitos deterministas que
apontam os 'moradores do morro' como responsáveis
pela violência, pela poluição urbana e pelos maus
costumes."
O segundo parágrafo se inicia com a conjunção
adversativa contudo, o que mostra que o autor
conhece bem os recursos coesivos. Sua intenção era
contrapor ideias do parágrafo anterior, construindo
assim a contra-argumentação.
 O parágrafo de conclusão
O parágrafo de conclusão deve conter, de forma
sintetizada, o objetivo proposto na introdução (sua
opinião a respeito do tema), acrescido da
argumentação básica empregada no desenvolvimento.
A conclusão pode tomar a forma de:
 1- conclusão- resumo 
 2- conclusão-proposta (é o tipo de conclusão pedida
no Enem)
 3- conclusão-surpresa
Veja dois exemplos de conclusão-resumo extraídos de
uma coletânea de um vestibular da Unicamp/SP. Os
parágrafos de conclusão estão sublinhados.
"Uma das angústias do vestibular está em que ele
exige, da parte do estudante , quando ele tem 18 ou 19
anos , uma definição clara do que ele vai ser o resto da
vida. Ajudaria muito se tal definição não fosse exigida:
se o ingresso na Universidade fosse a ocasião para o
aluno tomar contato com as várias possibilidades. É
irracional pedir que alguém tenha ideias claras e
decisões tomadas sobre algo que nunca
experimentou." (fragmento da seção "Ideias soltas",
jornal Sabor/Saber, publicado pela Assessoria Especial
para Assuntos de Ensino da Unicamp. Ano 2. n.4, p.17)
 "O adolescente manifesta, entre outras características,
uma grande insegurança, fruto da imaturidade, que se
reflete muitas vezes em contradições sucessivas em
diversas manifestações de conduta, condição pouco
desejável para quem necessita escolher e abraçar uma
carreira profissional. É importante notarmos que as
decisões mais importantes da vida: escolha
profissional, ideologia política, religião, parceiros
afetivo-sexuais etc, tenham que ser tomadas numa
época tão conturbada." (Trecho do artigo Universitário,
um adolescente?, do psiquiatra T. D. de Andrade,
publicado em Sabor/Saber. Ano 1, n.2, p.16)
Veja exemplo de conclusão-proposta.
Este tipo de conclusão é exigido na prova de redação
do Enem, merecendo pontuação própria. Tema: “O
indivíduo frente à ética nacional” (Enem 2009)
 Lágrimas de crocodilo
"O Brasil tem enfrentado, com frequência, problemas
sérios e até constrangedores, como os elevados índices
de violência, pobreza e corrupção – três mazelas
fundamentais que servem para ilustrar uma lista bem
mais longa.
 Porém, mesmo diante dessa triste realidade, boa parte
dos brasileiros parece não se constranger – e, talvez,
nem se incomodar –, preferindo fingir que nada está
ocorrendo. Em um cenário marcado pela passividade, épreciso que a sociedade se posicione frente à ética
nacional, de forma a honrar seus direitos e valores
humanos e, assim, evitar o pior.
 Na época da ditadura militar, grande parte da
população vivia inconformada com a atuação de um
governo opressor, afinal, com as restrições à liberdade
de expressão, não era possível emitir opiniões sem
medir os riscos de violentas repressões. Apesar de uma
conjuntura tão desfavorável para manifestações,
muitos foram os movimentos populares em busca de
mudanças, mesmo com as limitações na atuação da
mídia. Talvez a sensação de um Brasil melhor hoje
ajude a explicar a inércia da sociedade diante da atual
crise de valores na política e em todas as camadas da
população. Muitos não percebem, mas esse panorama
cria um paradoxo perverso: depois de tanto sangue
derramado pelo direto de expressar opiniões e
participar das decisões políticas, o indivíduo se cala
diante da crise moral contemporânea. Nesse contexto,
protestos se transformam em lamúrias, lamentações
em voz baixa, que ninguém ouve – e talvez nem queira
ouvir. Ou então em piadas, “ótimo” recurso cultural
para sorrir e se alienar frente à falta de uma postura
virtuosa. Assim, apesar de viver em um país
democrático, o brasileiro guarda seus direitos –
e os dos outros – no bolso da calça, pelo menos quando
tem uma para vestir. Para que o indivíduo não se dispa
de sua cidadania, é preciso honrar o sistema
democrático do país.
 Nesse contexto, o povo deve ir às ruas, de modo
pacífico, para exigir uma mudança de postura do poder
público. Além disso, a mobilização deve agir na direção
de quem mais necessita, ajudando, educando e
oferecendo oportunidades para excluídos, que vivem à
margem da vida social, abaixo da linha da
humanidade.
 Para tudo isso, entretanto, é preciso uma mudança
prévia de mentalidade, uma retomada de valores
humanos esquecidos, que só será possível com a ajuda
da família, das escolas e até mesmo da mídia. Por tudo
isso, fica claro que o brasileiro deve parar de negar e
de rir do evidente problema ético que enfrenta. Trata-
se de questões sérias, cujas soluções são difíceis e
demoradas, mas não impossíveis. Se a sociedade não
se mobilizar imediatamente, chegará o dia em que as
piadas alienadas e alienantes resultarão, para a
maioria, em risadas de hiena.
E, para a minoria privilegiada, imune – ou beneficiada?
– à crise ética, restarão apenas olhos marejados."
 Veja agora exemplos de conclusão-surpresa: Para uma
dissertação cujo tema tenha sido a poluição nos rios:
 "O grande físico inglês Isaac Newton disse: 'A natureza
não faz nada em vão.' E assim, os rios vão reagindo à
ação destruidora dos homens." "Talvez possamos no
futuro sentar à beira de um rio, beber da sua água
cristalina, banhar-nos nas suas águas puras. Então
descobriremos que o homem primitivo não era tão
primitivo assim!"
10a. AULA: Carta Argumentativa 
Já vimos o que é argumentar e que tipos de
argumentos podemos usar num texto dissertativo.
Tanto a dissertação como a carta argumentativa são
textos argumentativos, em que você deverá expor sua
opinião sobre determinado tema e defendê-la correta e
coerentemente. Há, porém, entre essas duas
modalidades, algumas diferenças que veremos a
seguir: 
 1) A dissertação é endereçada a um auditório
universal, ou seja, não há um leitor específico. A carta
argumentativa é dirigida a um auditório particular,
isto é, a um interlocutor definido.
 2) Tanto na dissertação como na carta o autor deve
tentar provocar a "adesão dos espíritos", mas cada
uma leva em conta , basicamente, tipos distintos de
argumentos, já que se dirigem a tipos específicos de
interlocutores. 
 3) É de suma importância que o autor da carta leve
em conta a figura do seu interlocutor. É preciso que
fique bem clara, no texto, a imagem que o autor tem 
 
tem de seu destinatário. Isso já não ocorre na
dissertação, por razões óbvias.
 4) O autor da carta argumentativa deverá também, ter
o cuidado de observar as marcas de interlocução em
seu texto, o que caracteriza o “diálogo” entre autor e
leitor.
 5) A dissertação é impessoal; a carta é pessoal.
 Veja o que diz o Vestibular Unicamp - Redação (Editora
Globo - pág. 46) a respeito:
 "O que diferencia a proposta da carta argumentativa
da proposta de dissertação é o tipo de argumentação
que caracteriza cada um desses tipos de texto.(...)o
texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico,
universal.
 Por outro lado, a proposta de carta argumentativa
pressupõe um interlocutor específico para quem a
argumentação deverá estar orientada. Essa diferença
de interlocutores deve necessariamente levar a uma
organização argumentativa diferente, nos dois casos.
Até porque, na carta argumentativa, a intenção é
frequentemente a de persuadir um 
um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de
vista de quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto
de vista por ele defendido e que o autor da carta
considera equivocado). Você não concorda conosco?
Não fica mais fácil decidir que argumentos utilizar
conhecendo o interlocutor? É por isso que é tão
importante que você, durante a elaboração do seu
projeto de texto, procure representar da melhor
maneira possível o seu interlocutor , uma vez
conhecido. (...) se é definido previamente quem é seu
interlocutor sobre um determinado assunto, você tem
melhores condições de fundamentar sua
argumentação. (...) é necessário estabelecer e manter
a interlocução, usar uma linguagem compatível com o
interlocutor."
Estrutura da Carta
Formalmente a carta difere da dissertação, mas com
relação ao conteúdo, ela tem a mesma estrutura, ou
seja:
 a) introdução - momento em que você abordará o
problema e deixará clara a sua posição.
b) desenvolvimento - momento em que você
apresentará os seus argumentos, claros e objetivos , na
defesa de sua opinião.
 c) conclusão - retomando a posição inicial,
sintetizando seus argumentos, você fará o
encerramento do texto.
 Observações importantes: 1 - Não se esqueça de
iniciar com local e data, como em qualquer carta.
 2 - Abra o texto com a invocação ou chamamento :
Exmo. Sr. Deputado, Prezado Sr., Caro Sr.
 3 - Use linguagem formal, visto que seu interlocutor
não é pessoa de sua intimidade. Não use
coloquialismos. Jamais use gírias. É permitida pouca
oralidade.
 4 - No final, use somente as iniciais do seu nome.
Vejamos um texto do vestibular Unicamp, de 2002:
 a proposta era de que o candidato escrevesse uma
carta a um interlocutor de sua escolha ( por ex. um
sindicalista, um político ou um empresário) sugerindo
que ele se empenhasse na aprovação de um projeto de
lei para acabar com as horas extras.
 São Paulo, 25 de novembro de 2001.
 Prezado Senador Eduardo Suplicy,
 É de conhecimento, desde a época de sua campanha
para o Senado, a minha incansável luta por uma causa
a qual considero substancial para a redução do
desemprego em nosso país: o fim da prática de hora
extra. Como presidente de movimento sindical,
considero inaceitável empregados dobrarem seus
salários, enquanto outros cidadãos, desempregados,
poderiam substituir as horas extras daqueles que
prolongam seu turno de trabalho. Por ter visto no
senhor o único político engajado na luta por soluções
para essa situação, que os sindicatos, tanto os do
partido do qual participo como vários outros,
resolveram apoiar sua candidatura, há alguns anos,
para senador. Por isso, prezado senhor, passado algum
tempo após sua eleição lhe escrevo no intuito de
cobrar um empenho maior de sua parte na
apresentação do projeto de lei que o senhor prometeu
fazer ao Senado, tratando da redução das horas extras,
projeto que trará inegáveis benefícios para a classe
desempregada.
sua candidatura, há alguns anos, para senador. Por
isso, prezado senhor, passado algum tempo após sua
eleição lhe escrevo no intuitode cobrar um empenho
maior de sua parte na apresentação do projeto de lei
que o senhor prometeu fazer ao Senado, tratando da
redução das horas extras, projeto que trará inegáveis
benefícios para a classe desempregada.
 Ao contrário do que argumentam os empresários, o
fim das horas extras não traria prejuízos à produção.
Ocorreria exatamente o oposto, pois com o
estabelecimento fixo de um horário de trabalho de
quarenta horas semanais que propõe o projeto, os
empregados cumpririam seu turno normal e não se
sobrecarregariam, o que permitiria uma maior
concentração no trabalho, diminuindo os riscos de
acidentes e garantindo assim a produção.
 Pesquisas feitas comprovam que a imensa maioria de
acidentes de trabalho nas indústrias ocorre com
empregados em hora extra. Esses acidentes causam
prejuízos às empresas que devem dispor de recursos
para indenizações e processos judiciais, 
, além de deixar uma imagem negativa dessas
empresas, devido às possíveis repercussões na mídia.
Portanto, o que gera altos custos às empresas é
exatamente permitir que empregados esgotados
estejam à frente da produção. Além de tudo, os
empregos que seriam gerados com a aprovação do
projeto seriam suficientes para absorver uma parcela
considerável de desempregados, principalmente os das
grandes cidades. Por isso, caro Senador, o ideal seria
que o projeto estabelecesse o fim das horas extras
primeiramente no comércio, setor campeão desta
prática de trabalho, e exigisse que, ao invés de permitir
que um funcionário dobrasse seu turno, fosse
contratado em seu lugar um outro empregado. Caso a
lei não fosse cumprida, seria o caso de aplicar uma
multa à empresa no valor de quatro vezes o salário do
empregado em hora extra. Estaríamos,
indubitavelmente, caminhando para o fim das
desigualdades sociais, pois uma vez aprovado, o
projeto permitiria a criação de quatro milhões de
empregos imediatos, aproximadamente. E existe
melhor medida estrutural para resolver problemas
sociais do que garantir emprego às 
 pessoas que não têm acesso a ele? Finalmente,
prezado senador, gostaria que esse projeto fosse sua
prioridade absoluta, assim como havia prometido em
campanha. Gostaria que mostrasse a seus colegas
senadores a importância que teria para o país a criação
de tantos empregos com o fim das horas extras, e o
melhor de tudo, imediatos. Como conheço sua
trajetória política há muito tempo, sei de sua luta para
a busca de soluções coerentes para o fim do
desemprego, ou a redução significativa dele. A solução
está possivelmente em suas mãos. Basta refletir
melhor a respeito.
 Atenciosamente,
 M.J.F.C
. Comentários: O autor da carta escreve a um
interlocutor definido: o Senador Eduardo Suplicy,
deixando clara no texto a imagem que ele tem do
interlocutor: um político "engajado na luta por soluções
para essa situação"; "sei de sua luta para a busca de
soluções coerentes para o fim do desemprego."
É interessante notar que o candidato (Matheus João
Froio Cabral) usou de um artifício para dar mais
credibilidade ao seu texto, ou seja, ele incorporou o
personagem de um sindicalista. Esse é um recurso
válido na elaboração de carta argumentativa, desde
que haja coerência entre tema e personagem criado. O
texto apresenta em vários momentos, marcas de
interlocução: "Por ter visto no senhor..."; "Por isso,
prezado senador..."; "Por isso, caro senador..."; "Como
conheço sua trajetória política...".
 A argumentação está perfeitamente adequada ao
destinatário, político engajado na luta pelos direitos do
trabalhador. A linguagem é correta, obedece ao padrão
formal; o texto flui perfeitamente.
11ª. Aula Os 7 Cs da Redação 
Há 7 pontos importantes a serem lembrados no
momento de elaborar um texto. São eles: 
 1- Conteúdo
 2- Coerência 
3- Coesão
 4- Concisão
 5- Correção Gramatical 
6- Clareza 
7- Competência Linguística
 Vejamos cada um desses tópicos separadamente: 
1 -CONTEÚDO – você deverá mostrar um bom
Conteúdo e isso você conseguirá de várias formas:
LEITURA - questão fundamental para quem pretende
escrever com eficiência. Se você não tem o hábito da
leitura, procure criá-lo, pois sem ele você não chega ao
seu objetivo. Comece lendo textos leves, como
crônicas. Nós temos excelentes cronistas, como Rubem
Braga, Martha Medeiros, Fernando Sabino, entre tantos
outros. Depois você lerá livros mais densos e
aprofundados. Leia tudo, desde quadrinhos, revistas,
jornais, panfletos, até bulas de remédios valem.
 Fernando Sabino, entre tantos outros. Depois você lerá
livros mais densos e aprofundados. Leia tudo, desde
quadrinhos, revistas, jornais, panfletos, até bulas de
remédios valem.
 FILMES E DOCUMENTÁRIOS – veja bons filmes e
documentários que incitem à reflexão e ao debate e
escreva suas impressões sobre eles, sem se preocupar
muito com a estrutura do texto. PALESTRAS EM
VÍDEOS – assista a palestras no YouTube. Ali você
encontra palestras sobre todo e qualquer assunto. Faça
anotações.
 OBSERVE A REALIDADE à sua volta . Desenvolva um
pensamento crítico e analítico sobre os fatos para que,
na hora da redação, você saiba expor sua opinião e os
argumentos que a sustentarão de forma convincente.
Pergunte sempre “Por quê?” diante de uma situação e
procure respostas. Analise. Pense. Reflita. Tire
conclusões bem fundamentadas. DIALOGUE com seus
pais, amigos, professores, colegas de classe, namorado
(a), sobre os assuntos da atualidade. Uma boa
conversa com pessoas do seu meio pode trazer luz
para a reflexão e levantar 
novas ideias sobre os assuntos, ideias sobre as quais
você não tinha pensado.
 FREQUENTE MUSEUS E EVENTOS CULTURAIS –
visite museus e participe de eventos culturais. Invista
em cultura, o retorno desse investimento é
maravilhoso. Quando viajar, faça um diário, assim,
você treinará a escrita e fará um arquivo sobre tudo o
que viu e sentiu.
 BANCO DE IDEIAS E DADOS – tenha sempre à mão
uma caderneta onde registrará ideias, sensações,
frases interessantes, fatos curiosos, enfim, tudo aquilo
que pode servir de matéria-prima para seus textos.
 NOTICIÁRIOS NA TELEVISÃO – Dê preferência aos
noticiários em que as notícias são comentadas por
autoridades nos temas. Recomendo o Jornal da Cultura,
todo dia, às 21h.
 INTERDISCIPLINARIDADE – Não encare a redação
como uma matéria isolada, pelo contrário, aplique o
conhecimento adquirido em sua vida escolar. Integre
conteúdos das diversas disciplinas aos seus textos,
quando estiver construindo sua argumentação. Senso
Comum – fuja do senso comum. Se você colocou em
prática todos os itens anteriores, será capaz de abordar
qualquer tema de modo interessante e original, fugindo
assim do senso comum, ou seja, do pensamento
uniforme e padrão da maioria das pessoas. Você deve
surpreender seu corretor, isso certamente elevará sua
nota. Vimos aqui tudo o que se refere a CONTEÚDO.
Veremos os outros tópicos nos próximos artigos.
 argumentação.
 Senso Comum – fuja do senso comum. Se você
colocou em prática todos os itens anteriores, será
capaz de abordar qualquer tema de modo interessante
e original, fugindo assim do senso comum, ou seja, do
pensamento uniforme e padrão da maioria das
pessoas. Você deve surpreender seu corretor, isso
certamente elevará sua nota.
2 -COERÊNCIA- a Coerência é a harmonia que deve
haver entre as ideias expostas no texto. No caso da
dissertação, deve-se redobrar os cuidados com a
coerência, sob pena de se criar argumentos
contraditórios que irão invalidar a tese apresentada no
início do texto. A coerência trata da relação entre as
diversas partes do texto, criando uma unidade de
sentido. Ela se liga ao entendimento, à interpretação
do que se escreve. Para que o texto tenha coerência é
preciso que os argumentos obedeçam a uma linha
lógica de raciocínio.
 EXERCÍCIOS: 1. O texto a seguir, da seção "Saúde" do
Suplemento de março/2000, do "Caderno Regional
Folha Verde", da Folha de S.Paulo, faz partede uma
série de recomendações para relaxamento dos olhos.
 • "Lubrificantes oculares gelados também são muito
eficientes, mas só quando prescritos por um
oftalmologista.
 • Importante: não jogue água boricada dentro dos
olhos, pois isto causa irritação. Ela deve ser usada
apenas para limpeza externa ou como compressa 
gelada.
 a) Localize, no texto, o trecho em que há um problema
de coerência. 
b) Rescreva o trecho de modo a torná-lo coerente.
 2. Reconheça as incoerências dos textos abaixo: 
1) Havia um menino muito magro que vendia
amendoins numa esquina de uma das avenidas de São
Paulo. Ele era tão fraquinho, que mal podia 
que mal podia carregar a cesta em que estavam os
pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que
ficava, um motorista, que vinha em alta velocidade,
perdeu a direção. O carro capotou e ficou de rodas
para o ar. O menino não pensou duas vezes. Correu
para o carro e tirou de lá o motorista, que era um
homem corpulento. Carregou-o até a calçada, parou
um carro e levou o homem para o hospital. Assim
salvou-lhe a vida.
 2) No cinema, no teatro, não converse. Não mexa
demais a cabeça, não fique aos beijos. Cuidado com o
barulho do papel de bala, do saco de pipocas. Não os
jogue no chão, quando acabar. Se o seu vizinho estiver
fazendo tudo isso e incomodando, seja discreto. Peça
que interrompam a sessão e acendam as luzes a fim de
inibir o transgressor.
 Veja agora uma redação incoerente sobre o tema de
cotas nas universidades:
"O vestibular é muito polêmico, e agora o governo
resolveu fazer cotas para negros e prá quem veio de
escola pública. No caso dos negros, é injusto, já que
50% dos negros nascem pretos, e a metade não. Mas
isso ficaria indeciso, pois existem pessoas como o
Maicon Jecksson que násceram pretas e não brancas,
então pode- se alegar que um loiro têm descendência
afro-africana, bem como os orientais. Logo, podemos
dar cotas aos alcólatras, pois estes seguem o exemplo
do Presidente. Mas para evitar a complicação do
vestibular o ideal seria o sorteio de vagas, assim só os
sortudos conseguiriam entrar na faculdade, ou seja,
além de um profissional competente, o cara iria ser um
profissional de sorte. É uma pouca vergonha o sistema
de cotas, porque os homossexuais seriam
desfavorecidos perante ao curso superior, novamente
mais um motivo para o Presidente ser bêbado. E não
são todas as pessoas que tem oportunidade de estudar
em uma boa escola como o COLÉGIO DOM BOSCO.
Todavia, a metodologia do vestibular é totalmente
ineficiente efálico, pois se descobrirem vida em outros
planetas o conceitos dos concursos ' Miss Universo'
teriam de ser repensados. Desejo a todos uma boa
viagem." Este texto foi copiado do blogspot
bibliamigos2010.blogspot.com.br.
 O texto apresenta inúmeras falhas , mas o que “grita”
é a sua incoerência em vários trechos. Os argumentos
que o candidato selecionou (metade dos pretos são
brancos, o presidente é um alcólatra, homossexuais
desfavorecidos, vagas deveriam ser sorteadas, vida em
outros planetas faria mudar o vestibular...) mostram a
sua imaturidade, falta de conhecimento de mundo,
além da falta de conhecimento da própria linguagem.
. 12ª AULA: Os 7 Cs da Redação (2ª. Parte)
3 - COESÃO 
 A coesão é um dos aspectos mais importantes do
texto, como a coerência. Enquanto esta se preocupa
com a harmonia das ideias, dos pensamentos, aquela
se preocupa com a construção , com a linguagem que
expressará os pensamentos. Coesão e coerência estão
muito ligadas. A coesão mal feita pode gerar
incoerência no texto.
 Veja: Este ano a chuva não foi abundante, logo as
colheitas foram boas.
 Percebe a incoerência? A escolha equivocada da
conjunção “logo” tornou a ideia incoerente. O correto
seria : Este ano a chuva não foi abundante, mas
(poderia ser porém, contudo, todavia) as colheitas
foram boas. “Mas” é o conector adequado a esse
período porque contrapõe elementos com orientação
argumentativa contrária. Para que a colheita seja boa,
é preciso que a chuva seja abundante. Ora, como a
chuva foi escassa, esperava-se uma colheita ruim. O
fato de a colheita ter sido boa está em oposição às
condições climáticas. Seria descabido
 trocar o mas por portanto ou porque, que indicam
respectivamente conclusão ou causa e não
adversidade. O trabalho de escrever pode ser
comparado ao trabalho de tecer. Veja que interessante:
a palavra latina tessitum deu origem a duas palavras
em português: texto e tecido. O que é o texto? É um
tecer com palavras.
 Para “tecer” bem um texto é preciso conhecer as
conjunções e as locuções conjuntivas (conectores), pois
elas é que criarão as ideias de alternância, adição,
explicação, conclusão , oposição, concessão, causa,
consequência, temporalidade, finalidade, comparação,
conformidade ou condição.
 A coesão deve existir entre as palavras, entre as
frases e entre os parágrafos. Vejamos como é feita a
coesão em dois parágrafos do texto
 Brasil: discriminação social ou racial?
Na mesma semana em que morreu Ayrton Senna,
morreu atropelada no Rio, mais precisamente na
Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, uma
empregada doméstica chamada Rosilene. Durante uma
hora os carros passaram por cima de seu corpo,
 a ponto de só ser reconhecido através das impressões
digitais que restaram. O Brasil inteiro chorou a morte
de Senna, mas poucos souberam do fim trágico de
Rosilene. Este é bem o retrato do país que habitamos.
Somos cada dia mais dois Brasis. Um, dos ricos e
famosos, que faz uma nação inteira chorar ou pelo
menos se interessar pelo caso. Outro, o dos miseráveis,
cujas vidas não interessam a ninguém." 
 Vejamos primeiro a coesão entre palavras ou
segmentos dentro da frase:
1ª.linha: em que recupera na mesma semana;
 2a. e 3ª.linhas: uma empregada doméstica liga-se
em Rosilene; seu corpo recupera Rosilene; 4ª.linha:
que (restaram) recupera impressões digitais;
 5ª. linha : Senna recupera Ayrton Senna;
6ª. Linha: Rosilene recupera Rosilene.
7ª. Linha: que (habitamos) recupera país;
8ª.linha: um recupera dois Brasis;
 9ª. Linha: pelo caso recupera a morte de Senna;
 Outro recupera dois Brasis;
 Cujas recupera vidas dos miseráveis.
 O início do segundo parágrafo :
 Este é bem o retrato do país... O pronome
demonstrativo Este recupera todo o primeiro parágrafo
porque faz menção aos dois fatos trágicos e a maneira
oposta de comportamento do povo brasileiro diante
deles.
 O autor, Antonio Carlos Viana, “amarrou” bem todas
as ideias do texto com coesão, coerência, concisão e
clareza, além da correção gramatical.
 Veremos mais adiante , numa aula específica, os
recursos coesivos.
13ª. AULA: Os 7 Cs da Redação
4 - CONCISÃO:
 Concisão é a economia de palavras. Ser conciso ao
escrever significa usar as palavras com critério:
escolher aquelas que expressam com exatidão o
pensamento do autor.
 A concisão é uma qualidade que se espera encontrar
num bom texto. Seu contrário é a prolixidade, um
defeito do texto. Veja exemplos de prolixidade, ou seja,
do que se deve evitar ao escrever:
 "A infância, ou melhor, as crianças abandonadas nas
ruas revoltam qualquer pessoa que as vê andando na
cidade." (trecho de redação)
 Veja agora o texto reescrito com concisão: "Qualquer
pessoa se revolta, quando vê crianças abandonadas
pelas ruas."
 Leia o seguinte trecho retirado do livro Criatividade
redação de Rubens Marchioni, p. 114-116. É
engraçado, interessante e pitoresco. Veja: "Preocupado
em contribuir para o aprimoramento de 
redatores, o jornal fez uma pesquisa para investigar o
estilo comum de linguagem escrita usada nos Boletins
de Ocorrência. O resultado foi impressionante. Palavras
que o próprio dicionário já esqueceu e construções
rebuscadas se juntavam para construir frases que
chegam a provocar o riso. O objetivo provável do
'redator' era mostrar um elevado grau de cultura. Uma
pena. Ele teria obtido maior êxito

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