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Redação da palavra ao texto Lisandre Bason UMA PEQUENA MENSAGEM ANTES DE COMEÇAR... Este e-book nasceu de um desejo e de uma necessidade. O desejo é meu: desejo de ajudar milhares de adolescentes a escrever corretamente uma redação . A necessidade é dos jovens estudantes que todo ano prestam a prova do Enem e Vestibulares e não conseguem pontuação suficiente para dizer: “Fui bem sucedido!” ou “Fiz uma excelente redação!” Minha experiência como professora e corretora de redações em Vestibulares (Vunesp, Unicamp) e Enem, por vários anos de minha vida profissional, me impelem a transmitir o meu conhecimento e a minha mensagem, que é a seguinte: VOCÊ PODE, VOCÊ É CAPAZ DE ESCREVER UM BOM TEXTO, desde que ponha em prática (e muita prática!) todo o conteúdo, todas as dicas e informações que coletei na minha vivência, ensinando redação.. Faça bom proveito de tudo que estou lhe oferecendo e brilhe no próximo Enem e nos próximos Vestibulares. Um grande abraço, Profa. Lisandre. 1a. AULA : BRINCANDO COM AS PALAVRAS E DESINIBINDO O ATO DE ESCREVER Há muitas pessoas que pensam haver uma receita ou uma fórmula para escrever bem. Não, não há. Para se escrever de modo interessante e correto é preciso muito esforço, muito trabalho, muito exercício. Há também alguns caminhos que facilitam o ato de escrever. São pré-requisitos indispensáveis para quem está se iniciando nesse trabalho. Vamos examiná-los um a um: LEITURA - ela é fundamental para a ampliação de vocabulário, aquisição e assimilação de estruturas frásicas e de conteúdos. Como diz Lygia Fagundes Telles, autora de "Antes do Baile Verde", um dos mais importantes livros da Literatura Brasileira: "O único caminho é ler, ler e ler. Ler os clássicos, perceber por que Machado de Assis é vivo até hoje. Esta é a única salvação para a formação de um jovem. Sabendo interpretar o que lê, o estudante saberá organizar suas ideias e produzir um bom texto." OBSERVAÇÃO DA REALIDADE - quem se dispõe ou tem necessidade de escrever deve estar atento a tudo o que acontece ao seu redor. Deve também exercitar um pensamento analítico e crítico diante dos fatos, sendo assim capaz de manifestar conclusões e opiniões próprias sobre eles. DIÁLOGO – o diálogo e o debate são muito importantes também, pois eles propiciam o surgimento de novas ideias sobre o tema em questão. Conversar com amigos, familiares, colegas e professores sobre os assuntos da atualidade é uma atitude inteligente e enriquecedora. CONHECIMENTO GRAMATICAL - quem se propõe a escrever deve ter um certo conhecimento gramatical. Deve grafar corretamente as palavras, pontuar adequadamente, observar a concordância nominal e principalmente a concordância verbal, além da regência. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO - antes de começar a escrever, é recomendável fazer um projeto de texto. Tudo que é bem planejado tem maiores chances de sucesso. Assim também é com o texto. É importante organizar as ideias, esquematizá-las em ordem de importância ou relevância. Isso dará mais segurança a quem escreve, no momento de desenvolver um tema. EXERCÍCIOS PARA DESINIBIR A ESCRITA Para afastar o medo do famoso "deu branco" na hora de escrever, propomos agora uma sequência de exercícios importantes para fazer fluir naturalmente palavras e pensamentos. Esses exercícios, que têm um caráter lúdico, devem ser feitos constantemente até que não sejam mais necessários. ESCRITA AUTOMÁTICA - escreva tudo aquilo que vier à cabeça, sem preocupação com pontuação, sem bloqueios, sem censura. Deixe fluir o pensamento e as palavras no papel. Não pare para pensar. ASSOCIAÇÃO DE PALAVRAS - tome uma palavra e, a partir dela, vá associando outras. Escreva naturalmente, deixando que uma palavra puxe pela outra. ASSOCIAÇÃO DE FRASES - - dê continuidade às frases abaixo. Neste exercício, há total liberdade para continuar escrevendo de forma poética ou não. 1 - Eram oito horas da noite: horário de verão. O sol se punha no mar e eu... 2 - Algum tempo hesitei se devia abrir esta carta. Ela... 3- Estou começando a me sentir vazia, oca,... 4 - Eu não devia te dizer, mas essa lua, esse conhaque... 5 - Ontem acordei e pensei em você, meu velho pai... 6 - Antes de votarmos pela pena de morte é preciso... 7 - Todos nos beneficiamos das conquistas modernas, porém... 8 - Eu consigo ler em seus olhos tanta coisa... 9 - Não esperava que isso fosse acontecer tão cedo... 10 - Essa paisagem me faz voltar ao passado quando... EXERCÍCIOS PARA TRABALHAR COM A SENSIBILIDADE Escreva palavras que, para você , têm alguma relação com estas: • Político Trabalho Pátria • Amor Mar Asfalto • Viagem Sofrimento Ternura • Música Progresso Intenção • Fuga Protesto Lamento • Dor Confusão Sujeira Escreva palavras que lhe transmitam sensação de: • Frio Nojo Atrito • Limpeza Liberdade Cansaço Que sensações lhe transmite cada uma destas palavras? • Gilete Álcool Nuvem • Fogo Gato Gelo • Dor Ódio Música • Onda Vento Estrondo Que palavras você utilizaria para completar as comparações a seguir? a) Tão sossegado quanto... b) Tão triste quanto... c) Tão deslumbrado quanto... d) Tão desagradável quanto... e) Tão indispensável quanto... f) Tão saboroso quanto... g) Tão leve quanto... h) Tão ardente quanto... i) Feliz como... j) Sagaz como... PARÁFRASE A paráfrase é um texto que reproduz as mesmas ideias e informações de um outro texto. Não há nela opinião ou ideia nova do autor. Há apenas um ”outro jeito de dizer as mesmas coisas”. É um ótimo exercício, pois além da prática da escrita, ele amplia o repertório de informações de quem escreve. Selecione artigos curtos de jornais e revistas e pratique a paráfrase. Você vai perceber como seus textos fluirão com mais facilidade. EXEMPLO DE PARÁFRASE SONETO (Raimundo Correa) Se a cólera que espuma, a dor que mora N'alma e destroi cada ilusão que nasce; Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então, piedade nos causasse. Quanta gente que ri talvez consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri talvez existe, Cuja ventura única consiste em parecer aos outros venturosa. Paráfrase Se tudo quanto nos faz sofrer intimamente se refletisse na expressão do rosto, se se traduzisse em gestos ou atitudes, veríamos que muitas pessoas que hoje nos causam inveja nos despertariam compaixão, tanto é certo que, para elas, a única felicidade consiste em parecerem felizes. Um pouquinho mais de treino... Olhe bem para essa imagem. O que ela provoca em você? Indignação? Tristeza? Escreva sobre esses sentimentos. Não se preocupe com a forma do texto, somente escreva... frases soltas...pensamentos vagos...solte-se...sem censura... 2a. AULA: PROJETO DE TEXTO "Escrever pressupõe uma série de operações anteriores, entre as quais está o planejamento" (Agnelo de Carvalho Pacheco - A Dissertação: teoria e prática) O projeto de texto é o primeiro passo na construção de uma redação, seja ela uma descrição, narração ou dissertação. O texto, assim como tudo na vida, deve ser planejado. Vamos trabalhar aqui mais o texto dissertativo, por ser ele o mais comum em nossos vestibulares. Primeiro passo: levantamento de ideias Dado um tema, muitas ideias surgirão em nossa cabeça. Temos um verdadeiro arquivo de informações, coletadas em nosso dia-a-dia, por meio de leituras, conversas, notícias em rádio, televisão, internet, enfim, estamos cercados por material muito rico e útil para a composição de nossos textos. No primeiro momento, após o conhecimento do tema em que vamostrabalhar, devemos fazer uma tempestade mental (brainstorm) e anotar tudo o que tudo o que vem à nossa cabeça e que pode ser útil para nosso texto.: um fato, uma opinião, uma frase, um pensamento, um verso, um acontecimento, uma lembrança, um filme ou um livro que nos marcou. As provas de vestibulares, na parte referente à redação, trazem a coletânea de textos, que deve ser lida com atenção, pois é um elemento importantíssimo a ser considerado na construção do texto. Muitos alunos já tiveram sua redação anulada por não considerarem a coletânea e seus elementos ou por fazerem meras paráfrases dos textos ali oferecidos. É preciso integrar a coletânea ao seu texto, sem copiá- la. Segundo passo: seleção e organização das ideias Nesta fase, devemos selecionar as ideias mais importantes e organizá-las, tendo em vista alguns critérios, como : 1- Qual ideia é a mais importante? Ela serve para a introdução do texto? ? Ela vai provocar outras ideias? 2- Que ideias esclarecem a introdução? Quais ideias contêm um argumento válido? Quais ideias são mais importantes na argumentação? 3- Quais ideias servem para concluir o texto coerentemente com as ideias da introdução? Essa esquematização dará mais segurança a quem vai escrever, pois seu texto mostrará um desenvolvimento lógico, coerente, claro e objetivo. EXEMPLO DE UM PROJETO DE TEXTO: ( Agnelo de Carvalho Pacheco - A Dissertação: teoria e prática) Supondo que o tema da dissertação seja "Poluição dos rios", um possível levantamento de ideias seria o seguinte: - morte de vários peixes; -desequilíbrio na fauna e flora aquática; - indústrias despejam poluentes nas águas; - nenhum controle por parte das autoridades responsáveis; - com o aumento da poluição, o que será de nosso futuro? - poluição da água que nós bebemos; - na Inglaterra recuperaram um rio que era totalmente poluído: o Tâmisa; -o rio Tietê, em São Paulo é totalmente poluído; é só passar nas suas margens que a gente sente o cheiro; - contaminação dos peixes que nós comemos; - destruição dos rios=destruição do planeta= destruição da nossa casa=destruição de nós mesmos; - detergentes biodegradáveis; - despejo de esgoto nos rios; - a água dos rios poluídos é utilizada na irrigação e pode contaminar plantações; - poderiam desenvolver projetos para reaproveitar o lixo que é lançado nos esgotos; - pode provocar inundações. Dentre todas essas ideias, vamos agora selecionar e organizar aquelas que comporão nosso texto. Uma divisão possível e interessante para a redação seria em causas, consequências e soluções. CAUSAS - indústrias despejam poluentes nas águas; - não há controle por parte das autoridades responsáveis; - despejo de esgotos nos rios; - uso de detergentes não biodegradáveis; - falta de conscientização da população. CONSEQUÊNCIAS - morte dos peixes; - contaminação de plantações irrigadas por águas poluídas; - poluição da água que nós bebemos; - contaminação dos peixes que nós comemos; - transmissão de infecções aos homens; -desequilíbrio ecológico; - acúmulo de detritos no leito dos rios e consequentes inundações. SOLUÇÕES - seguir o exemplo da Inglaterra, onde recuperaram o rio Tâmisa; - desenvolvimento de projetos para o reaproveitamento de esgotos; - campanhas educativas para a população; - maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis. Agora que você já tem o Projeto desse texto, procure desenvolvê-lo, como exercício. EXERCÍCIOS 1 - Procure fazer um levantamento de ideias para os seguintes temas: * A Tecnologia como fator de felicidade * Problemas Urbanos e suas soluções * Investir em armas ou em educação? * A internet: prós e contras * Corrupção Generalizada: consequências para o país * Responsabilidade, um valor esquecido? 2 - Selecione e ordene suas ideias, escolhendo aquelas que servirão de introdução, desenvolvimento e conclusão. 3 - Elabore seu texto, seguindo o projeto que você traçou. Leia, releia para alguém ouvir, ouça críticas, refaça o que for necessário. Procure sempre a clareza e objetividade. . Escreva com simplicidade, corte o que não for essencial. 4 – Por fim, verifique com cuidado a acentuação, ortografia, regência, pontuação, concordância verbal e nominal. Passe a limpo seu texto, cuidando também do aspecto estético: escreva com letra legível, sem borrões, sem rasuras. Não se esqueça do título, que deve ser interessante e criativo. Concluída a redação, busque no seu texto, para título, uma palavra ou expressão que sintetize o conteúdo e que provoque no leitor o desejo de ler e conhecer sua opinião. Bom Trabalho! 3a. AULA: DESCRIÇÃO Descrever é pintar por meio de palavras um objeto, pessoa ou cenário. Assim como na pintura, a descrição pressupõe um ponto de vista, ou seja, o objeto da descrição deve ser observado a partir de uma posição física. O ponto de vista é fundamental para a organização do texto descritivo, já que as partes do objeto descrito devem ser expostas e relacionadas a fim de formar um conjunto que o leitor seja capaz de entender. O estado de espírito do autor da descrição faz parte de seu ponto de vista. Descrever é um processo do qual tomam parte os nossos sentidos: visão, tato, olfato, paladar e audição, para captar a realidade e traduzi-la num texto, que tem como objetivos: informar o leitor (descrição técnica e objetiva), convencê-lo (descrição publicitária), transmitir-lhe impressões ou emoções (descrição literária). O texto descritivo normalmente aparece complementando uma narração, reproduzindo seus personagens e o cenário onde eles transitam. . A descrição pode aparecer também em textos dissertativos-expositivos, fornecendo dados para a argumentação. Vamos analisar um texto descritivo de cenário de Cecília Meireles: Se eu fosse pintor... Se eu fosse pintor começaria a delinear este primeiro plano de trepadeiras entrelaçadas, com pequenos jasmins e grandes campânulas roxas, por onde flutua uma borboleta cor de marfim, com um pouco de ouro nas pontas das asas. Mas logo depois, entre o primeiro plano e a casa fechada, há pombos de cintilante alvura, e pássaros azuis tão rápidos e certeiros que seria impossível deixar de fixá-los, para dar alegria aos olhos dos que jamais os viram ou verão. Mas o quintal da casa abandonada ostenta uma delicada mangueira, ainda com moles folhas cor de bronze sobre a cerrada fronde sombria, uma delicada mangueira repleta de pequenos frutos, de um verde tenro, que se destacam do verde-escuro como se estivessem ali apenas para tornar a árvore um ornamento vivo, entre os muros brancos , os pisos vermelhos, o jogo das escadas e dos telhados em redor. E que faria eu, pintor, dos inúmeros pardais que pousam nesses muros e nesses telhados, e aí conversam, namoram-se, amam-se, e dizem adeus, cada um com seu destino, entre a floresta e os jardins, o vento e a névoa? Mas por detrás estão as velhas casas, pequenas e tortas, pintadas de cores vivas, como desenhos infantis, com seus varais carregados de toalhas de mesa, saias floridas, panos vermelhos e amarelos, combinados harmoniosamente pela lavadeira que ali os colocou. Se eu fosse pintor, como poderia perder esse arranjo, tão simples e natural, e ao mesmo tempo de tão admirável efeito? Mas, depois disso, aparecem várias fachadas, que se vão sobrepondo umas às outras, dispostas entre palmeiras e arbustos vários, pela encosta do morro. . Aparecem mesmo dois ou três castelos , azuis e brancos, e um deles tem até, na ponta da torre, um galo de metal verde. Eu, pintor, como deixaria de pintar tão graciosos motivos? Sinto, porém, que tudo isso por onde vão meus olhos, ao subirem do vale à montanha, possui uma riqueza invisível, que a distância abafa e defaz: por detrás dessas paredes, desses muros, dentro dessas casas pobres e desses castelinhos de brinquedo, há criaturasque falam, discutem, entendem-se e não se entendem, amam, odeiam, desejam, acordam todos os dias com mil perguntas e não sei se chegam à noite com alguma resposta. Se eu fosse pintor, gostaria de pintar esse último plano, esse último recesso da paisagem. Mas houve jamais algum pintor que pudesse fixar esse móvel oceano, inquieto, incerto, constantemente variável que é o pensamento humano? MEIRELES, Cecília. Ilusões do mundo. Rio de Janeiro, Nova Aguilar,1976. p. 17-8. O texto é puramente descritivo. Nele predominam elementos descritivos, há uma abundância de adjetivos e locuções adjetivas; os verbos são estáticos. A autora expõe a sua "pintura em palavras" em planos diferentes, começando pelo mais próximo e avançando por vários outros até chegar ao "último plano", "esse último recesso da paisagem" onde se encontram os seres humanos e seus pensamentos, que ela reconhece ser impossível pintar . A autora privilegia o sentido da visão, já que é esse o sentido essencial para um pintor. No segundo texto, veremos a descrição de uma personagem. Prima Julieta Prima Julieta, jovem viúva, aparecia de vez em quando na casa de meus pais ou na de minhas tias. O marido, que lhe deixara uma fortuna substancial, pertencia ao ramo rico da família Monteiro de Barros. Nós éramos do ramo pobre. Prima Julieta possuía uma casa no Rio e outra em Juiz de Fora. Morava em companhia de uma filha adotiva. E já fora três vezes à Europa. Prima Julieta irradiava um fascínio singular. Era a feminilidade em pessoa. Quando a conheci, sendo ainda garoto e já sensibilíssimo ao charme feminino, teria ela uns trinta ou trinta e dois anos de idade. Apenas pelo seu andar percebia-se que era uma deusa, diz Virgílio de outra mulher. Prima Julieta caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos. A cabeleira loura incluía reflexos metálicos. Ancas poderosas. Os olhos de um verde azulado borboleteavam. A voz rouca e ácida, em dois planos; voz de pessoa da alta sociedade. Uma vez descobri admirado sua nuca, que naquele tempo chamavam de cangote, nome expressivo: pressupõe jugo e domínio. No caso somos nós, homens, a sofrer a canga. Descobri por intuição a beleza do cangote e do pescoço feminino, não querendo com isso dizer que subestimava as outras regiões do universo. MENDES, Murilo. A idade do serrote. Rio de Janeiro. Sabiá. 1968.p.88-9 O autor descreve a prima Julieta usando grande número de adjetivos, mostrando as principais características da personagem. É interessante notar que essas características implicam movimento:" seu andar, caminhava em ritmo lento, agitando a cabeça para trás, remando os belos braços brancos, os olhos borboleteavam..." A descrição da Prima Julieta é feita tanto no plano objetivo como no subjetivo ou psicológico. Exercícios 1- Faça a descrição objetiva e subjetiva de seu quarto. Descreva-o por diferentes canais sensoriais (visão, audição, tato, olfato, paladar). 2- Leia o texto abaixo e faça o se propõe: Conto em letras garrafais Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem, e a entregava ao mar. Nunca recebeu resposta. mas tornou-se alcoólatra. COLASSANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro. Rocco, 1986. p. 95. Baseado nesse conto sintético, crie um texto narrativo e descritivo. Caracterize o personagem, descrevendo seus traços físicos e psicológicos. Crie também o cenário em que a ação se desenrola. (textos adaptados do livro Do texto ao texto de Ulisses Infante) Baseado nesse conto sintético, crie um texto narrativo e descritivo. Caracterize o personagem, descrevendo seus traços físicos e psicológicos. Crie também o cenário em que a ação se desenrola. (textos adaptados do livro Do texto ao texto de Ulisses Infante) Descreva esse cenário. O que ele lhe transmite? Treine sua sensibilidade. 4a. AULA: NARRAÇÃO "A narrativa está presente em todos os tempos, em todos os lugares, em todas as sociedades" (Roland Barthes) Narrar é contar histórias, que podem ser reais ou imaginárias. Numa narrativa você trabalha com vários elementos que exigem cuidado e atenção: personagens, tempo, espaço, narrador, discurso narrativo, enredo ou trama, estrutura narrativa e ação. Vejamos cada um desses elementos, cuidadosamente: Personagens: As personagens são de suma importância, pois elas é que conduzirão os fatos que irão compor o enredo. Entre as personagens, temos o protagonista (personagem principal), o antagonista (personagem que se opõe ao protagonista impedindo-o de realizar seuspropósitos). Além deles há os adjuvantes ou coadjuvantes, personagens secundários. As personagens podem se classificar em planas ou lineares, quando não têm muita profundidade ou complexidade. Sua personalidade é fraca e seu comportamento é previsível. Podem ainda ser redondas ou complexas; são bem acabadas interiormente e são imprevisíveis. São dinâmicas e evoluem na narrativa. Tempo: Nas narrativas pode-se trabalhar com dois tipos de tempo: o histórico ou cronológico, que é o tempo linear, que segue o ritmo do relógio ou do calendário e o tempo psicológico, que é interior, não é mensurável. O modo de medi-lo é relacionando-o com a duração dos sentimentos. Espaço: O espaço é o ambiente onde se instalam as personagens, onde eles transitam, no desenvolvimento do enredo. O espaço pode ser aberto (o campo, uma praça) ou fechado (uma sala, um cômodo); pode ser ainda real (físico) ou psicológico, quando existe no interior da personagem, refletindo estados psicológicos. Narrador: Há dois tipos de narrador: Narrador em 1a. pessoa- sendo ele uma das personagens da história, vai tomando conhecimento dos fatos à medida que eles se desenrolam. Esse tipo de narrador aparece com frequência em histórias policiais. Narrador em 3a. pessoa ou narrador onisciente - é aquele que sabe de todas as ações, pensamentos e sentimentos das personagens. Discurso Narrativo: Discurso Narrativo é o modo como o narrador introduz a fala das personagens. Ele pode apresentar três formas: 1- Discurso Direto: quando se reproduz fielmente a fala da personagem, como no ex: - Eu quero ter um casamento tradicional, papai! - Sim, minha filha. -Exatamente como você. A fala da personagem no discurso direto pode misturar- se ao corpo do texto, indicada por travessão ou vírgulas. Ex: - Não ! - disse Helena - nunca mais venho aqui. -Não! Nunca mais volto aqui - disse Helena. - Não! disse Helena, nunca mais volto aqui . - Não! Nunca mais volto aqui, disse Helena. 2- Discurso Indireto: neste tipo de discurso, o narrador não reproduz a fala da personagem, mas ele "fala" indiretamente, fazendo uso das conjunções que e se . Ex: A filha virou para o pai e afirmou que queria ter um casamento tradicional, exatamente igual ao dos seus pais. Ele, meio surpreso, achou ótimo. 3- Discurso Indireto Livre: É o resultado da soma dos dois anteriores. Para que ele ocorra é preciso: - que o narrador esteja em terceira pessoa; - que o narrador seja onisciente. Os autores modernos usam muito esse tipo de discurso em que o pensamento das personagens é captado e expresso pelo autor em terceira pessoa. Veja esse exemplo em "Vidas Secas" de Graciliano Ramos: "Nesse ponto as ideias de Sinhá Vitória seguiram outro caminho, que pouco depois foi desembocar no primeiro. Não era que a raposa tinha passado no rabo a galinha pedrês? Logo a pedrês, a mais gorda. Decidiu armar um mundéu perto do poleiro. Encolerizou-se. A raposa pagaria a galinha pedrês. Ladrona! Pouco a pouco a zanga se transferiu. Os roncos de Fabiano eram insuportáveis. Não havia homem que roncasse tanto." Enredo ou trama: O papel de uma narração não é apenas informar sobre acontecimentos, mas mostrá-los de modo a prender nosso interesse e atenção. Não podemos confundir narrativacom relato. . O relato é objetivo, direto, não expressa emoção, é apenas informativo; ao contrário, a narrativa trabalha muito com a subjetividade, mostra as emoções das personagens e até mesmo do autor. Veja um exemplo de relato: "Houve um incêndio numa loja. O fogo consumiu boa parte das instalações do estabelecimento, pois o incidente começou às 9 da manhã - com um curto-circuito - e só terminou às 2 da tarde." Veja um exemplo de narrativa: " Houve um incêndio numa loja e as crianças do bairro ficaram muito tristes. Era a única loja de brinquedos do bairro. Mesmo sendo modesta, as crianças que por lá passavam sonhavam com os vídeogames, com as bonecas, com os jogos que estavam expostos na vitrina.Mas o fogo transformou tudo aquilo numa bagunça coberta de pó preto. Parecia até que as bonecas haviam fugido, desaparecendo para sempre." Estrutura narrativa: Normalmente o texto narrativo segue a seguinte estruturação: Apresentação: é a parte do texto em que são apresentadas algumas personagens e algumas circunstâncias da história , como momento e lugar onde a ação se desenrolará. Complicação: é a parte do texto em que se inicia a ação. O estado inicial de equilíbrio é quebrado, com um ato ou um fato que vai desencadear outros atos ou fatos, levando a história a um clímax. Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, tornando inevitável o desfecho. Desfecho ou Desenlace: é a solução do conflito criado pelas personagens, quando se restabelece o equilíbrio. Normalmente, a sequência dos fatos numa narrativa é cronológica. No entanto, se você quiser apresentar o desfecho antes da complicação e do clímax, como se vê em muitos filmes de suspense, deve ficar atento ao uso dos tempos verbais. O uso correto dos tempos verbais, dos advérbios e conjunções indicativas de tempo são importantes para manter a coesão do texto. Ação: Narrar uma história não é reproduzir uma sequência de ações de modo exaustivo. Todas as ações devem ter um significado importante para a história. Todos os acontecimentos devem ser selecionados de modo a formar uma unidade. Nenhuma ação deve ser supérflua, todos os fatos devem contribuir para o sentido do texto. Bem, agora que você sabe como se estrutura uma narrativa e quais seus pontos importantes, comece a ler textos narrativos com atenção a esses aspectos. Depois crie uma história, construa seus personagens e cenário (aí você usará elementos descritivos), observe como você introduzirá a fala das personagens e escolha o tipo de narrador que vai assumir (em 1ª. ou 3ª. pessoa). Pense num enredo interessante e mãos à obra! Solte a sua imaginação e criatividade! Eu lhe dou as personagens e você cria o enredo... 5a. AULA: - PALAVRA-CHAVE E PARÁGRAFO Antes de escrever, todos nós aprendemos a ler. Leitura e escrita se complementam. Para escrever bem é preciso ler bem. Uma leitura bem feita é aquela capaz de retirar de um texto ou livro a informação essencial. Uma boa conduta para isso é reconhecer as palavras- chave do texto, ou seja, as palavras em torno das quais as outras se organizam e criam um intercâmbio de significações para produzirem sentidos. As palavras-chave formam um centro de expansão que constitui o alicerce do texto. O leitor deve reconhecê- las, a fim de conseguir depreender a totalidade do texto. Cada parágrafo tem uma palavra-chave, que normalmente aparecerá na ideia principal e que será retomada por sinônimos, por pronomes, por outros recursos da coesão, assunto de uma próxima aula. Vejamos o 1o. parágrafo de uma redação de candidato, no vestibular da Unicamp , em 2002 e como ele o construiu: "O trabalho apresenta um caráter vital: através dele se produzem os gêneros alimentícios, as construções, os utensílios e grande parte das relações sociais. Assim, a forma como ele se estrutura reflete a evolução e a organização de cada época e localidade. Ao longo do tempo, os inúmeros pensadores, ensaístas e personalidades observaram-no e formularam diferentes concepções do trabalho, sob enquadramentos distintos. Algumas dessas visões consideravam-no como fator de promoção , enquanto outras, como uma atividade degradante. A razão dessa discrepância é o fato de que, historicamente, as relações trabalhistas sempre foram necessárias à humanidade como um todo, mas acabaram por privilegiar certos grupos." A palavra-chave desse parágrafo inicial é trabalho. Partindo dela, o candidato expande o texto, desenvolvendo outras ideias. O texto se inicia com uma afirmação: • "O trabalho apresenta um caráter vital:" Na sequência, temos a explicação sobre essa afirmação: • "através dele se produzem os gêneros alimentícios, • (através dele se produzem ) as construções, • (através dele se produzem) os utensílios, • (através dele se produz) grande parte das relações sociais." • "Assim, a forma como ele se estrutura reflete a evolução e a organização de cada época ou localidade." Nesse segundo período, o autor se refere à estruturação do trabalho. A palavra trabalho é retomada pelo pronome ele. • "Ao longo do tempo, os inúmeros pensadores, ensaístas e personalidades observaram-no e formularam diferentes concepções do trabalho, sob enquadramentos distintos. Algumas dessas visões consideraram-no como fator de promoção, enquanto outras, como uma atividade degradante." Nesse terceiro período o autor faz referência às diferentes maneiras como o trabalho foi avaliado, nas diferentes épocas. A palavra-chave trabalho foi retomada duas vezes com o pronome oblíquo no, em observaram-no e consideraram-no. enquadramentos distintos. Algumas dessas visões consideraram-no como fator de promoção, enquanto outras, como uma atividade degradante." Nesse terceiro período o autor faz referência às diferentes maneiras como o trabalho foi avaliado, nas diferentes épocas. A palavra-chave trabalho foi retomada duas vezes com o pronome oblíquo no, em observaram-no e consideraram-no. • A razão dessa discrepância é o fato de que, historicamente, as relações trabalhistas sempre foram necessárias à humanidade como um todo, mas acabaram por privilegiar certos grupos." Nesse quarto período que compõe o parágrafo o autor faz referência às relações trabalhistas. A palavra-chave trabalho aparece no parágrafo inteiro, retomada por repetição ou pelo uso de pronomes: ele, dele, no. É importante ter sempre em vista a palavra-chave na elaboração de um parágrafo. Só assim mantemos a unidade, a coesão e a coerência do texto. O PARÁGRAFO Há muitas maneiras de se construir um parágrafo; o que importa é que você observe os seguintes pontos: 1 - O parágrafo é formado por um conjunto de enunciados que deverão convergir para a produção de um sentido. 2 –A primeira frase de cada parágrafo, que se denomina tópico frasal, é sempre muito importante. Ela deve ter uma palavra de peso que possa ser explorada. 3 – Fica difícil desenvolver bem um parágrafo se o tópico frasal for muito vago. Evite abstrações. 4 – Todo parágrafo deve ter sempre uma palavra que o norteie. 5 – Cada parágrafo deve explorar uma só ideia. Explorar várias ideias ao mesmo tempo torna o texto confuso e isso prejudica a coerência. Agora você sabe a importância da palavra-chave na construção do parágrafo. Poderá então escrever textos com unidade e coerência. EXERCÍCIOS: (lembre-se do tópico frasal) a) Escreva um parágrafo inicial usando as seguintes palavras-chave: favela/cidade b) Escreva um parágrafo inicial com as seguintes palavras-chave: progresso/corrupção c) Escreva um parágrafo inicial com as seguintes palavras: drogas/repressão 6ª. AULA: A DISSERTAÇÃO A dissertação é um tipo de texto em que o autor se posiciona diante de uma temática, defendendo seu posicionamento por meio de argumentos. O ato de argumentar constitui o ato linguístico fundamental, pois é através deleque o homem consegue transmitir suas ideias e fazer com que outros as entendam e as aceitem, ou não. Em nosso dia a dia, sem nos darmos conta disso, fazemos o exercício de argumentação muito intensamente. Argumentamos com os pais, tentando fazê-los entender que meia noite é muito cedo para voltarmos para casa; argumentamos com o professor a respeito da nota que recebemos e com a qual não concordamos; argumentamos com o gerente do nosso banco sobre a necessidade de se baixarem os juros, e assim, em todas as situações corriqueiras, estamos avaliando, julgando, criticando, ou seja, formando juízos de valor. A dissertação é o tipo textual mais comum nos vestibulares, porque através dele, a instituição de ensino poderá selecionar com eficiência os alunos mais bem informados, mais capazes, não só no uso da linguagem, mas na organização do pensamento lógico, da argumentação relevante e da análise crítica. Portanto, para discorrer sobre um tema são necessárias condições prévias, como: muita leitura, debates com colegas ou professores, pesquisas sobre opiniões diversas a respeito do assunto em questão e muita reflexão, para se chegar a um posicionamento seguro, claro e coerente que surgirá na elaboração de uma dissertação. Lembramos aqui que é interessante rever o assunto da 2a. aula desse nosso curso: o projeto de texto. A estrutura clássica da dissertação se organiza em 3 partes: 1) introdução, que apresenta a ideia central a ser discutida. É o momento em que o autor pode se posicionar a favor ou contra o assunto. 2) desenvolvimento, que apresenta os argumentos usados pelo autor no seu posicionamento diante do tema. Normalmente, o desenvolvimento se apresenta em 1 ou 2 parágrafos. 3) conclusão, que pode confirmar a tese inicial, agora fundamentada nas ideias da 2a. parte (argumentação). Geralmente, a conclusão é apresentada em um parágrafo. Exemplo de dissertação : Os microcomputadores: uma ameaça? A expansão tecnológica prossegue acelerada nestes últimos anos, modificando dia a dia a feição e os hábitos de nossa sociedade. Talvez a maior novidade, que começa a preocupar os observadores, seja a "revolução informática" e suas conquistas mais recentes: videogames, videocassetes e, principalmente, os microcomputadores, que começam a fazer parte do nosso cotidiano e cuja manipulação já é acessível não só aos adultos leigos, mas até às crianças. Isso indica que já entramos na era do computador ; e que uma revolução da mente acompanhará a revolução informática. Essa "revolução" iminente vem alertando os responsáveis pela Educação das crianças e jovens para a ameaça de robotização que o uso regular dos computadores, introduzidos nas escolas e fora delas, poderá provocar nas mentes em formação. Para neutralizar tal ameaça, faz-se urgente a descoberta (ou a adoção) de métodos ativos que estimulem a energia criativa dos novos. E principalmente se faz urgente que as novas gerações descubram a leitura estimuladora ou criadora e através dela alcancem a formação humanística (Literatura, História, Filosofia, Ciências Humanas e Artes em geral) que lhes dará a base cultural indispensável para serem no futuro os criadores de programas que a nova era vai exigir. E não os programadores obsessivos em que forçosamente se transformarão em pouco tempo, "robotizados" pela automação exigida para uso dos computadores. Em lugar de lutarmos contra esse novo instrumento da civilização e do progresso, urge que nos preparemos para dominá-lo. (Nelly Novaes Coelho, Panorama histórico da literatura infantil/juvenil) Vamos analisar o texto, tentando recuperar o Projeto de Texto elaborado pela autora: - a revolução da mente, consequência da "revolução informática". • A ideia central é a expansão tecnológica e seus reflexos sobre a sociedade. As palavras-chave desse parágrafo inicial são expansão tecnológica. Aqui está o Tópico Frasal. • A ideia central se expande no 2o. parágrafo em duas ideias: - a revolução informática com suas novidades; A palavra-chave desse 2o. parágrafo é revolução informática. • No 3o. parágrafo a autora mostra que a revolução informática pode ser causadora de um processo de robotização dos jovens. As palavras-chave aqui são revolução e robotização. • No 4o. parágrafo, a autora apresenta medidas que "salvem" esses jovens da robotização e ainda reverte essa situação maléfica (robotização) para uma situação favorável (desenvolvimento da criatividade). • No 5o. parágrafo, ou seja, na conclusão, a autora, propõe resumidamente, uma proposta de ação que responde à questão colocada no título . As palavras-chave nesse parágrafo são novo instrumento . Note-se que a autora não perdeu de vista, em nenhum momento, as palavras- chave que pavimentam o texto, cuidando assim, da coesão e da coerência, "amarrando" uma ideia à outra até o final. Por isso, o texto flui naturalmente, com clareza e concisão. Não sobram palavras, não sobram ideias. Delimitação do Tema - Muitas vezes, a banca que elabora o tema da redação, já o delimita, ou seja, já deixa claro para o candidato, que aspectos deverão ser abordados. Outras vezes, cabe ao aluno delimitar o tema, visto que na proposta ele aparece de forma muito ampla. Se o tema for, por exemplo, o Preconceito, e não estiver delimitado,o candidato deverá fazê-lo, escrevendo sobre Preconceito contra negros, idosos ou homossexuais. 7a. AULA: O PARÁGRAFO INICIAL O parágrafo inicial é de grande importância no texto dissertativo. É ele que vai despertar a atenção e o interesse do leitor e vai instigá-lo para realizar a leitura do texto integral. Vamos apresentar nesta aula algumas maneiras interessantes de introduzir um tema para que você possa treiná-las em seus próprios textos. Seja criativo, abandone fórmulas feitas, chavões e lugares comuns. A declaração é a forma mais comum, e deve ser elaborada com o objetivo de surpreender o leitor. Exemplo: " Na última década as mortes por armas de fogo registradas no Brasil superaram o número de vítimas de 23 conflitos armados no mundo, perdendo apenas para as guerras civis de Angola e da Guatemala. Nesse período morreram no Brasil 325.551 pessoas, em média 32.555 mortes por ano." (estudo feito pela UNESCO) O 2o. exemplo nos mostra uma introdução feita num esquema de divisão: "Temos ainda no Brasil dois grandes problemas a serem resolvidos, para que efetivamente se consolide o desenvolvimento que tanto esperamos: a Saúde e a Educação." (redação de aluno) "A moral ocorre em dois planos: o normativo e o factual. De um lado, nela encontramos normas e princípios que tendem a regulamentar a conduta dos homens e, de outro lado, um conjunto de atos humanos regulamentados por eles, cumprindo assim sua exigência de realização." (Adolfo Sánches Vásquez, Ética) Podemos ainda iniciar o texto por uma pergunta reflexiva, que poderá ou não, ser respondida no desenvolvimento ou na conclusão. Veja exemplos: "Até quando o povo brasileiro ficará impassível diante de tanta corrupção?" "A partir de quando deixamos de acreditar no progresso como homens do século xix?" (Jacques Juillard) Uma definição sobre o tema da redação também pode iniciar o texto. Ex: "Eutanásia vem do grego Eu (bom, boa) + thanatos (morte) e consiste em abreviar o sofrimento de alguém, acelerando ou facilitando o processo de morte." (redação de aluno) "A amizade , de fato, nada mais é do que um perfeito acordo entre as coisas divinas e humanas, associado a um sentimento de benevolência e afeto." (Cícero, O nascimento da amizade e seus limites) Alusão Histórica é também uma forma interessante de se iniciar um texto. Ex: "Após a queda do Muro de Berlim, acabaram-se os antagonismos leste-oeste e o mundo parece ter aberto de vez as portas para a globalização. As fronteiras foram derrubadas e a economia entrou em rota acelerada de competição." Definição+ oposição de ideias. Veja o exemplo: "A palavra progresso no dicionário possui a seguinte definição: movimento ou marcha para a frente, evolução, adiantamento em sentido favorável. para toda a humanidade." (redação de aluno) Ilustração: o texto se inicia com uma pequena narrativa. "O Jornal do Comércio, de Manaus, publicou um anúncio em que uma jovem de dezoito anos, já mãe de duas filhas, dizia estar grávida, mas não queria a criança. Ela a entregaria a quem se dispusesse a pagar sua ligação de trompas. Preferia dar o filho a ter que fazer um aborto. O tema é tabu no Brasil." (Antonio Carlos Viana, O Quê) Apresentamos aqui 7 formas de redigir o parágrafo inicial. Há inúmeras outras. Observe em suas leituras, como o autor inicia seu texto. E você, crie a sua maneira, crie o seu próprio estilo, não se esquecendo da coesão e da coerência . Veja como Jorge Amado inicia seu romance "A descoberta da América pelos turcos": "Ao acreditar-se nos historiadores ibéricos, sejam espanhois sejam portugueses, a descoberta da América pelos turcos , turcos coisíssima nenhuma, são árabes de boa cepa, deu-se com grande atraso, em época relativamente recente, no século passado, não antes." Veja como Ken Follet, autor dos livros “Pilares da Terra” (tomo I e II) inicia a sua narrativa, que retrata a época medieval na Inglaterra: “Os garotos chegaram cedo para o enforcamento. Ainda estava escuro, quando os primeiros três ou quatro esgueiraram-se para fora do galpão, silenciosos como gatos, com suas botas de feltro.” E aí, quem consegue parar de ler?... EXERCÍCIOS: 1- Faça um parágrafo inicial sob a forma de definição, dos seguintes temas: a) Por uma Globalização mais humana b) Sustentabilidade c) Ecologia d) Sociedade e Ética 2- Inicie um texto, fazendo uma ilustração sobre os temas : a) Ser cidadão b) Preconceito Racial c) País sem educação, país à deriva d) Um sinal fechado, uma esmola, uma criança explorada 3- Faça um parágrafo inicial sob a forma de pergunta, dos seguintes temas: a) A repressão aos tóxicos b) Energia nuclear no Brasil c) Corrupção e seus reflexos na sociedade d) Combate às drogas 8a. AULA: DISSERTAÇÃO - desenvolvimento Segundo o Prof. Francisco Platão, um dos autores do livro "Lições de Texto: leitura e redação", para fazer uma redação de boa qualidade, o aluno deverá: 1- apreender a questão, ou seja, compreender o tema que lhe é proposto; 2- tomar posição diante da questão: momento em que se avalia a capacidade de reflexão e de reação do aluno diante de uma situação nova; 3 - elaborar uma argumentação sustentável, fazendo uso de todo o conhecimento adquirido durante seus anos de estudo, de suas leituras e de suas experiências de vida; 4- utilizar linguagem culta. Com relação a "apreender a questão", o aluno deve ler com muito cuidado a proposta e a coletânea que lhe é oferecida, para não fugir do tema. Deve também estar atento ao tipo de texto que deve fazer, pois uma produção equivocada pode anular sua redação, por melhor que ela seja. Quanto a "tomar posição diante da questão", o aluno deve deixar claro para o leitor o seu posicionamento, já no primeiro parágrafo do texto. Com relação a " elaborar uma argumentação sustentável", o aluno deverá lançar mão de todo seu conhecimento em história, geografia, ciências, literatura, enfim, de todas as disciplinas do seu currículo escolar, mais a sua experiência de vida, para produzir um bom texto. Assim como o parágrafo inicial pode ser elaborado de diversas maneiras, o desenvolvimento também pode seguir diferentes esquemas, dependendo do tema proposto. Assim, temos algumas formas de desenvolvimento abaixo relacionadas: 1- causa e consequência 2- comparações por semelhança ou por diferença (contraste) 3- fatos históricos 4- citações literárias 5- argumento de autoridade 5- argumento de autoridade 6- fatos de conhecimento público 7- tempo e espaço 8- enumeração 9- exemplificação Vamos ler e analisar uma redação de aluno apresentada no vestibular da Unicamp em 2002, sobre a questão do trabalho: Egoísmo Capitalista (Alexandre F. de Oliveira Neto) O capitalismo transformou , ao longo dos séculos, o homem num ser extremamente vil e egoísta. Todas as atitudes, todas as relações, todos os pensamentos e até os sentimentos passaram, sob o domínio capitalista, a obedecer à " ditadura monetária". Em nome da constituição , ou do aumento de sua riqueza, o ser humano passou a esquecer o amor recíproco ao seu semelhante e aderiu piamente ao maquiavélico "os fins justificam os meios". Nos primórdios da história não havia para o homem a ganância pelo acúmulo, por possuir mais do que seu companheiro, até porque tal acúmulo não significaria então superioridade. A produção era baseada na sobrevivência , e nos instrumentos para tal. Assemelhávamo-nos a qualquer animal, e nosso diferencial em relação a estes, o raciocínio, provocava um avanço tecnológico, não pelo aumento da produção, mas por sua facilitação. No capitalismo, a situação se inverteu. Predomina o conceito de "posse", da superioridade em função da riqueza. A ascensão burguesa na idade Média disseminou o "ter sobre o ser" e estimulou o individualismo egoísta que faz um idealizar seu sucesso no fracasso do outro. O que facilitou a tática burguesa de tomar para si os meios de produção como forma de controle social, pois só resta à população "a luta bestial e ferina" em busca da sobrevivência , impedindo-a de rebelar-se contra essa dominação. Identifica-se também a dominação ideológica burguesa no capitalismo industrial. Aproveitando-se do moralismo religioso decorrente do medievo, a burguesia utilizou a repressão sexual como forma de dominar o proletariado. A "demonização" do exercício da sexualidade (não só do ato sexual) refletia uma visão negativa também do prazer e do lazer, endeusando o trabalho como dignificante e salvador. Essa "lavagem cerebral" mostrou-se propícia aos interesses burgueses, uma vez que garantia a manutenção do "status quo" favorável. Um operário exausto, com jornadas muitas vezes de 16 horas diárias, ou mais, não teria ânimo para rebelar-se, organizar greves ou manifestações. O estímulo dessa mentalidade trabalhista caracterizou o acúmulo de capitais como o "sentido da vida", e o trabalho incessante e exaustivo como forma de alcançá-lo. A serviço dessa imposição, surgiram vários meios, desde a alienação infantil, com a popularização de fábulas como "A cigarra e a formiga", até a nazista enganação do trabalho como forma de libertação. A consequência disso, vemos em cenas como as da mineração em Carajás, com milhares de homens morrendo a cada dia pela esperança da "riqueza milagrosa". O que reflete a visão do trabalho não bom por si só; pelo contrário, assim como na escravatura, algo desprezível é o trabalho braçal e forçado, só justificável pela esperança do enriquecimento, que possibilitaria ao oprimido passar a opressor. Essa mesma visão percebe-se nos trabalhos voluntários , atualmente desprezados por não apresentarem possibilidade concreta de recompensa. Por outro lado, com a justificativa religiosa, a adesão aumenta, não pela solidariedade, mas pela promessa do Paraíso aos voluntários. Igualmente capitalista. A situação só se alterará quando o homem se desprovir de sua ganância egocêntrica e deixar de explorar miseráveis, como as grandes multinacionais americanas, em nome do lucro exacerbado. Como sonhava Marx, só a preocupação social salvará nossa humanidade. Análise do texto sob o ponto de vista de organização das ideias e tipos de argumentos selecionados pelo autor Introdução: Na introdução o autor já se posiciona com relação ao tema proposto, no tópico frasal: • o capitalismo tornou o homem vil e egoísta • o homem esqueceu o amor ao próximo • o homem aderiu completamenteaos "fins justificam os meios" Desenvolvimento - argumentação Argumentos baseados em fatos históricos: • no segundo parágrafo do texto, onde se inicia a argumentação temos que, no começo da História, não havia ganância para o acúmulo; • O terceiro parágrafo nos diz que a sobrevivência era o objetivo do trabalho; • no quarto parágrafo a ideia é que na Idade Média disseminou-se o "ter sobre o ser"; • no quinto parágrafo temos que a Burguesia contra o Proletariado coloca o trabalho como dignificante e salvador em detrimento do lazer e do prazer sexual; • no sexto parágrafo temos que o acúmulo de capitais é o "sentido da vida" e que o trabalho é o meio de alcançá-lo. Argumentos baseados em exemplificação: • no sétimo parágrafo temos o exemplo da Mineração de Carajás; • no oitavo parágrafo o autor cita os trabalhos voluntários incentivados com a justificativa religiosa de "ganhar o Paraíso" (visão capitalista também). Conclusão: O autor conclui, de acordo com Marx, que só a preocupação social salvará nossa humanidade. Recuperamos, nesta análise, o projeto de texto do autor, seu posicionamento no tópico frasal, os vários tipos de argumentos (alusão a fatos históricos e exemplificação) e a sua conclusão fundamentada em um pensamento de Marx. Notamos que o autor se valeu de seu conhecimento histórico, de seu conhecimento de mundo, de sua capacidade de análise e crítica com muita eficiência. 9a. AULA: O DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAÇÃO (2ª. parte) Vejamos mais três maneiras de desenvolver o texto argumentativo: Argumento de autoridade - esse tipo de argumento se sustenta pela citação de uma fonte confiável: um pensador, um especialista no assunto, um líder político ou religioso, uma autoridade. Veja os exemplos: "Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça" -a famosa frase de Gláuber Rocha virou uma fórmula eficiente para explicar os R$130 milhões que o cinema brasileiro faturou no ano passado. (Revista Época - 14/04/2004) "Não há instituição humana que não tenha os seus perigos. Quanto maior a instituição, maiores as chances de abusos. A democracia é uma grande instituição e por isso mesmo está sujeita a ser consideravelmente abusada. Mas o remédio não é evitar a democracia e sim reduzir ao mínimo a possibilidade de abuso." (As palavras de Gandhi, texto selecionado por Richard Attenbourough) Argumento de Provas Concretas ou fatos de conhecimento público - são argumentos colhidos na realidade, são fatos, acontecimentos ou dados estatísticos de domínio público. Esses dados podem aparecer na coletânea de textos e podem ser usados em sua redação, como argumentos selecionados por você. "Existe uma nova tendência ecológica que está crescendo nos Estados Unidos: o restauracionismo. Essa corrente diz que não basta brecar a devastação da natureza causada pelo ser humano; é preciso restaurar o que já foi destruído, e aí o homem entra como um aliado da natureza, e não como seu adversário 'natural'. No mês passado, aconteceu um congresso chamado Restaurando a Terra, em Berkeley, Califórnia. Participaram dele 800 cientistas , representantes das indústrias e do governo, todos devidamente preocupados com as catástrofes previstas por causa do desrespeito ao meio ambiente. Nesse congresso foram analisados projetos como o de restauração da vida selvagem no no litoral do Estado de New Jersey. Uma empresa especializada aterrou pântanos , abriu canais para rejuvenescer o fluxo das marés, criou colinas artificiais para que patos selvagens colocassem seus ninhos. Os resultados já são visíveis - os pássaros estão voltando à região. O projeto custou até agora 4 milhões de dólares. Muito dinheiro? É nada. É o preço que se paga a um astro de cinema americano para realizar um único filme. É o dinheiro que circula em Brasília em comissões, presentes e outras formas de corrupção branda." (Adapt. de Dagomir Marquezi.O Estado de São Paulo, 16/02/88) Contra-argumentação - De acordo com o dicionário Aulete, contra-argumentar é apresentar um argumento contrário ao que foi apresentado anteriormente. Na vida cotidiana fazemos esse exercício com frequência. A compradora contra- argumenta com o vendedor que lhe oferece um carro usado, de boa marca e boa procedência. Ela faz algumas objeções: o carro é muito velho, o carro está mal conservado, o carro está caro. Ela usou uma série de contra-argumentos para não comprar o carro. Nos textos dissertativos, é comum encontrarmos argumentos e contra-argumentos. Vejamos um exemplo: "As favelas cresceram a tal ponto que sua voz não pode mais ser abafada pelas políticas governamentais. Em pleno século XXI, favelas convivem com prédios e mansões da elite. A expansão da troca de culturas e o aumento do poder de compra e da voz política dos moradores da favela demonstram que o espaço urbano quebrou barreiras , não só físicas, mas também sociais. Contudo, é utopia acreditar que a segregação social desapareceu. O apartheid das cidades ainda persiste, seja no descaso das políticas públicas, ou na crença forte da inferioridade da cultura da favela. Uma análise profunda revela que os valores da elite estão permeados de preconceitos deterministas que apontam os 'moradores do morro' como responsáveis pela violência, pela poluição urbana e pelos maus costumes." O segundo parágrafo se inicia com a conjunção adversativa contudo, o que mostra que o autor conhece bem os recursos coesivos. Sua intenção era contrapor ideias do parágrafo anterior, construindo assim a contra-argumentação. O parágrafo de conclusão O parágrafo de conclusão deve conter, de forma sintetizada, o objetivo proposto na introdução (sua opinião a respeito do tema), acrescido da argumentação básica empregada no desenvolvimento. A conclusão pode tomar a forma de: 1- conclusão- resumo 2- conclusão-proposta (é o tipo de conclusão pedida no Enem) 3- conclusão-surpresa Veja dois exemplos de conclusão-resumo extraídos de uma coletânea de um vestibular da Unicamp/SP. Os parágrafos de conclusão estão sublinhados. "Uma das angústias do vestibular está em que ele exige, da parte do estudante , quando ele tem 18 ou 19 anos , uma definição clara do que ele vai ser o resto da vida. Ajudaria muito se tal definição não fosse exigida: se o ingresso na Universidade fosse a ocasião para o aluno tomar contato com as várias possibilidades. É irracional pedir que alguém tenha ideias claras e decisões tomadas sobre algo que nunca experimentou." (fragmento da seção "Ideias soltas", jornal Sabor/Saber, publicado pela Assessoria Especial para Assuntos de Ensino da Unicamp. Ano 2. n.4, p.17) "O adolescente manifesta, entre outras características, uma grande insegurança, fruto da imaturidade, que se reflete muitas vezes em contradições sucessivas em diversas manifestações de conduta, condição pouco desejável para quem necessita escolher e abraçar uma carreira profissional. É importante notarmos que as decisões mais importantes da vida: escolha profissional, ideologia política, religião, parceiros afetivo-sexuais etc, tenham que ser tomadas numa época tão conturbada." (Trecho do artigo Universitário, um adolescente?, do psiquiatra T. D. de Andrade, publicado em Sabor/Saber. Ano 1, n.2, p.16) Veja exemplo de conclusão-proposta. Este tipo de conclusão é exigido na prova de redação do Enem, merecendo pontuação própria. Tema: “O indivíduo frente à ética nacional” (Enem 2009) Lágrimas de crocodilo "O Brasil tem enfrentado, com frequência, problemas sérios e até constrangedores, como os elevados índices de violência, pobreza e corrupção – três mazelas fundamentais que servem para ilustrar uma lista bem mais longa. Porém, mesmo diante dessa triste realidade, boa parte dos brasileiros parece não se constranger – e, talvez, nem se incomodar –, preferindo fingir que nada está ocorrendo. Em um cenário marcado pela passividade, épreciso que a sociedade se posicione frente à ética nacional, de forma a honrar seus direitos e valores humanos e, assim, evitar o pior. Na época da ditadura militar, grande parte da população vivia inconformada com a atuação de um governo opressor, afinal, com as restrições à liberdade de expressão, não era possível emitir opiniões sem medir os riscos de violentas repressões. Apesar de uma conjuntura tão desfavorável para manifestações, muitos foram os movimentos populares em busca de mudanças, mesmo com as limitações na atuação da mídia. Talvez a sensação de um Brasil melhor hoje ajude a explicar a inércia da sociedade diante da atual crise de valores na política e em todas as camadas da população. Muitos não percebem, mas esse panorama cria um paradoxo perverso: depois de tanto sangue derramado pelo direto de expressar opiniões e participar das decisões políticas, o indivíduo se cala diante da crise moral contemporânea. Nesse contexto, protestos se transformam em lamúrias, lamentações em voz baixa, que ninguém ouve – e talvez nem queira ouvir. Ou então em piadas, “ótimo” recurso cultural para sorrir e se alienar frente à falta de uma postura virtuosa. Assim, apesar de viver em um país democrático, o brasileiro guarda seus direitos – e os dos outros – no bolso da calça, pelo menos quando tem uma para vestir. Para que o indivíduo não se dispa de sua cidadania, é preciso honrar o sistema democrático do país. Nesse contexto, o povo deve ir às ruas, de modo pacífico, para exigir uma mudança de postura do poder público. Além disso, a mobilização deve agir na direção de quem mais necessita, ajudando, educando e oferecendo oportunidades para excluídos, que vivem à margem da vida social, abaixo da linha da humanidade. Para tudo isso, entretanto, é preciso uma mudança prévia de mentalidade, uma retomada de valores humanos esquecidos, que só será possível com a ajuda da família, das escolas e até mesmo da mídia. Por tudo isso, fica claro que o brasileiro deve parar de negar e de rir do evidente problema ético que enfrenta. Trata- se de questões sérias, cujas soluções são difíceis e demoradas, mas não impossíveis. Se a sociedade não se mobilizar imediatamente, chegará o dia em que as piadas alienadas e alienantes resultarão, para a maioria, em risadas de hiena. E, para a minoria privilegiada, imune – ou beneficiada? – à crise ética, restarão apenas olhos marejados." Veja agora exemplos de conclusão-surpresa: Para uma dissertação cujo tema tenha sido a poluição nos rios: "O grande físico inglês Isaac Newton disse: 'A natureza não faz nada em vão.' E assim, os rios vão reagindo à ação destruidora dos homens." "Talvez possamos no futuro sentar à beira de um rio, beber da sua água cristalina, banhar-nos nas suas águas puras. Então descobriremos que o homem primitivo não era tão primitivo assim!" 10a. AULA: Carta Argumentativa Já vimos o que é argumentar e que tipos de argumentos podemos usar num texto dissertativo. Tanto a dissertação como a carta argumentativa são textos argumentativos, em que você deverá expor sua opinião sobre determinado tema e defendê-la correta e coerentemente. Há, porém, entre essas duas modalidades, algumas diferenças que veremos a seguir: 1) A dissertação é endereçada a um auditório universal, ou seja, não há um leitor específico. A carta argumentativa é dirigida a um auditório particular, isto é, a um interlocutor definido. 2) Tanto na dissertação como na carta o autor deve tentar provocar a "adesão dos espíritos", mas cada uma leva em conta , basicamente, tipos distintos de argumentos, já que se dirigem a tipos específicos de interlocutores. 3) É de suma importância que o autor da carta leve em conta a figura do seu interlocutor. É preciso que fique bem clara, no texto, a imagem que o autor tem tem de seu destinatário. Isso já não ocorre na dissertação, por razões óbvias. 4) O autor da carta argumentativa deverá também, ter o cuidado de observar as marcas de interlocução em seu texto, o que caracteriza o “diálogo” entre autor e leitor. 5) A dissertação é impessoal; a carta é pessoal. Veja o que diz o Vestibular Unicamp - Redação (Editora Globo - pág. 46) a respeito: "O que diferencia a proposta da carta argumentativa da proposta de dissertação é o tipo de argumentação que caracteriza cada um desses tipos de texto.(...)o texto dissertativo é dirigido a um interlocutor genérico, universal. Por outro lado, a proposta de carta argumentativa pressupõe um interlocutor específico para quem a argumentação deverá estar orientada. Essa diferença de interlocutores deve necessariamente levar a uma organização argumentativa diferente, nos dois casos. Até porque, na carta argumentativa, a intenção é frequentemente a de persuadir um um interlocutor específico (convencê-lo do ponto de vista de quem escreve a carta ou demovê-lo do ponto de vista por ele defendido e que o autor da carta considera equivocado). Você não concorda conosco? Não fica mais fácil decidir que argumentos utilizar conhecendo o interlocutor? É por isso que é tão importante que você, durante a elaboração do seu projeto de texto, procure representar da melhor maneira possível o seu interlocutor , uma vez conhecido. (...) se é definido previamente quem é seu interlocutor sobre um determinado assunto, você tem melhores condições de fundamentar sua argumentação. (...) é necessário estabelecer e manter a interlocução, usar uma linguagem compatível com o interlocutor." Estrutura da Carta Formalmente a carta difere da dissertação, mas com relação ao conteúdo, ela tem a mesma estrutura, ou seja: a) introdução - momento em que você abordará o problema e deixará clara a sua posição. b) desenvolvimento - momento em que você apresentará os seus argumentos, claros e objetivos , na defesa de sua opinião. c) conclusão - retomando a posição inicial, sintetizando seus argumentos, você fará o encerramento do texto. Observações importantes: 1 - Não se esqueça de iniciar com local e data, como em qualquer carta. 2 - Abra o texto com a invocação ou chamamento : Exmo. Sr. Deputado, Prezado Sr., Caro Sr. 3 - Use linguagem formal, visto que seu interlocutor não é pessoa de sua intimidade. Não use coloquialismos. Jamais use gírias. É permitida pouca oralidade. 4 - No final, use somente as iniciais do seu nome. Vejamos um texto do vestibular Unicamp, de 2002: a proposta era de que o candidato escrevesse uma carta a um interlocutor de sua escolha ( por ex. um sindicalista, um político ou um empresário) sugerindo que ele se empenhasse na aprovação de um projeto de lei para acabar com as horas extras. São Paulo, 25 de novembro de 2001. Prezado Senador Eduardo Suplicy, É de conhecimento, desde a época de sua campanha para o Senado, a minha incansável luta por uma causa a qual considero substancial para a redução do desemprego em nosso país: o fim da prática de hora extra. Como presidente de movimento sindical, considero inaceitável empregados dobrarem seus salários, enquanto outros cidadãos, desempregados, poderiam substituir as horas extras daqueles que prolongam seu turno de trabalho. Por ter visto no senhor o único político engajado na luta por soluções para essa situação, que os sindicatos, tanto os do partido do qual participo como vários outros, resolveram apoiar sua candidatura, há alguns anos, para senador. Por isso, prezado senhor, passado algum tempo após sua eleição lhe escrevo no intuito de cobrar um empenho maior de sua parte na apresentação do projeto de lei que o senhor prometeu fazer ao Senado, tratando da redução das horas extras, projeto que trará inegáveis benefícios para a classe desempregada. sua candidatura, há alguns anos, para senador. Por isso, prezado senhor, passado algum tempo após sua eleição lhe escrevo no intuitode cobrar um empenho maior de sua parte na apresentação do projeto de lei que o senhor prometeu fazer ao Senado, tratando da redução das horas extras, projeto que trará inegáveis benefícios para a classe desempregada. Ao contrário do que argumentam os empresários, o fim das horas extras não traria prejuízos à produção. Ocorreria exatamente o oposto, pois com o estabelecimento fixo de um horário de trabalho de quarenta horas semanais que propõe o projeto, os empregados cumpririam seu turno normal e não se sobrecarregariam, o que permitiria uma maior concentração no trabalho, diminuindo os riscos de acidentes e garantindo assim a produção. Pesquisas feitas comprovam que a imensa maioria de acidentes de trabalho nas indústrias ocorre com empregados em hora extra. Esses acidentes causam prejuízos às empresas que devem dispor de recursos para indenizações e processos judiciais, , além de deixar uma imagem negativa dessas empresas, devido às possíveis repercussões na mídia. Portanto, o que gera altos custos às empresas é exatamente permitir que empregados esgotados estejam à frente da produção. Além de tudo, os empregos que seriam gerados com a aprovação do projeto seriam suficientes para absorver uma parcela considerável de desempregados, principalmente os das grandes cidades. Por isso, caro Senador, o ideal seria que o projeto estabelecesse o fim das horas extras primeiramente no comércio, setor campeão desta prática de trabalho, e exigisse que, ao invés de permitir que um funcionário dobrasse seu turno, fosse contratado em seu lugar um outro empregado. Caso a lei não fosse cumprida, seria o caso de aplicar uma multa à empresa no valor de quatro vezes o salário do empregado em hora extra. Estaríamos, indubitavelmente, caminhando para o fim das desigualdades sociais, pois uma vez aprovado, o projeto permitiria a criação de quatro milhões de empregos imediatos, aproximadamente. E existe melhor medida estrutural para resolver problemas sociais do que garantir emprego às pessoas que não têm acesso a ele? Finalmente, prezado senador, gostaria que esse projeto fosse sua prioridade absoluta, assim como havia prometido em campanha. Gostaria que mostrasse a seus colegas senadores a importância que teria para o país a criação de tantos empregos com o fim das horas extras, e o melhor de tudo, imediatos. Como conheço sua trajetória política há muito tempo, sei de sua luta para a busca de soluções coerentes para o fim do desemprego, ou a redução significativa dele. A solução está possivelmente em suas mãos. Basta refletir melhor a respeito. Atenciosamente, M.J.F.C . Comentários: O autor da carta escreve a um interlocutor definido: o Senador Eduardo Suplicy, deixando clara no texto a imagem que ele tem do interlocutor: um político "engajado na luta por soluções para essa situação"; "sei de sua luta para a busca de soluções coerentes para o fim do desemprego." É interessante notar que o candidato (Matheus João Froio Cabral) usou de um artifício para dar mais credibilidade ao seu texto, ou seja, ele incorporou o personagem de um sindicalista. Esse é um recurso válido na elaboração de carta argumentativa, desde que haja coerência entre tema e personagem criado. O texto apresenta em vários momentos, marcas de interlocução: "Por ter visto no senhor..."; "Por isso, prezado senador..."; "Por isso, caro senador..."; "Como conheço sua trajetória política...". A argumentação está perfeitamente adequada ao destinatário, político engajado na luta pelos direitos do trabalhador. A linguagem é correta, obedece ao padrão formal; o texto flui perfeitamente. 11ª. Aula Os 7 Cs da Redação Há 7 pontos importantes a serem lembrados no momento de elaborar um texto. São eles: 1- Conteúdo 2- Coerência 3- Coesão 4- Concisão 5- Correção Gramatical 6- Clareza 7- Competência Linguística Vejamos cada um desses tópicos separadamente: 1 -CONTEÚDO – você deverá mostrar um bom Conteúdo e isso você conseguirá de várias formas: LEITURA - questão fundamental para quem pretende escrever com eficiência. Se você não tem o hábito da leitura, procure criá-lo, pois sem ele você não chega ao seu objetivo. Comece lendo textos leves, como crônicas. Nós temos excelentes cronistas, como Rubem Braga, Martha Medeiros, Fernando Sabino, entre tantos outros. Depois você lerá livros mais densos e aprofundados. Leia tudo, desde quadrinhos, revistas, jornais, panfletos, até bulas de remédios valem. Fernando Sabino, entre tantos outros. Depois você lerá livros mais densos e aprofundados. Leia tudo, desde quadrinhos, revistas, jornais, panfletos, até bulas de remédios valem. FILMES E DOCUMENTÁRIOS – veja bons filmes e documentários que incitem à reflexão e ao debate e escreva suas impressões sobre eles, sem se preocupar muito com a estrutura do texto. PALESTRAS EM VÍDEOS – assista a palestras no YouTube. Ali você encontra palestras sobre todo e qualquer assunto. Faça anotações. OBSERVE A REALIDADE à sua volta . Desenvolva um pensamento crítico e analítico sobre os fatos para que, na hora da redação, você saiba expor sua opinião e os argumentos que a sustentarão de forma convincente. Pergunte sempre “Por quê?” diante de uma situação e procure respostas. Analise. Pense. Reflita. Tire conclusões bem fundamentadas. DIALOGUE com seus pais, amigos, professores, colegas de classe, namorado (a), sobre os assuntos da atualidade. Uma boa conversa com pessoas do seu meio pode trazer luz para a reflexão e levantar novas ideias sobre os assuntos, ideias sobre as quais você não tinha pensado. FREQUENTE MUSEUS E EVENTOS CULTURAIS – visite museus e participe de eventos culturais. Invista em cultura, o retorno desse investimento é maravilhoso. Quando viajar, faça um diário, assim, você treinará a escrita e fará um arquivo sobre tudo o que viu e sentiu. BANCO DE IDEIAS E DADOS – tenha sempre à mão uma caderneta onde registrará ideias, sensações, frases interessantes, fatos curiosos, enfim, tudo aquilo que pode servir de matéria-prima para seus textos. NOTICIÁRIOS NA TELEVISÃO – Dê preferência aos noticiários em que as notícias são comentadas por autoridades nos temas. Recomendo o Jornal da Cultura, todo dia, às 21h. INTERDISCIPLINARIDADE – Não encare a redação como uma matéria isolada, pelo contrário, aplique o conhecimento adquirido em sua vida escolar. Integre conteúdos das diversas disciplinas aos seus textos, quando estiver construindo sua argumentação. Senso Comum – fuja do senso comum. Se você colocou em prática todos os itens anteriores, será capaz de abordar qualquer tema de modo interessante e original, fugindo assim do senso comum, ou seja, do pensamento uniforme e padrão da maioria das pessoas. Você deve surpreender seu corretor, isso certamente elevará sua nota. Vimos aqui tudo o que se refere a CONTEÚDO. Veremos os outros tópicos nos próximos artigos. argumentação. Senso Comum – fuja do senso comum. Se você colocou em prática todos os itens anteriores, será capaz de abordar qualquer tema de modo interessante e original, fugindo assim do senso comum, ou seja, do pensamento uniforme e padrão da maioria das pessoas. Você deve surpreender seu corretor, isso certamente elevará sua nota. 2 -COERÊNCIA- a Coerência é a harmonia que deve haver entre as ideias expostas no texto. No caso da dissertação, deve-se redobrar os cuidados com a coerência, sob pena de se criar argumentos contraditórios que irão invalidar a tese apresentada no início do texto. A coerência trata da relação entre as diversas partes do texto, criando uma unidade de sentido. Ela se liga ao entendimento, à interpretação do que se escreve. Para que o texto tenha coerência é preciso que os argumentos obedeçam a uma linha lógica de raciocínio. EXERCÍCIOS: 1. O texto a seguir, da seção "Saúde" do Suplemento de março/2000, do "Caderno Regional Folha Verde", da Folha de S.Paulo, faz partede uma série de recomendações para relaxamento dos olhos. • "Lubrificantes oculares gelados também são muito eficientes, mas só quando prescritos por um oftalmologista. • Importante: não jogue água boricada dentro dos olhos, pois isto causa irritação. Ela deve ser usada apenas para limpeza externa ou como compressa gelada. a) Localize, no texto, o trecho em que há um problema de coerência. b) Rescreva o trecho de modo a torná-lo coerente. 2. Reconheça as incoerências dos textos abaixo: 1) Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de São Paulo. Ele era tão fraquinho, que mal podia que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que ficava, um motorista, que vinha em alta velocidade, perdeu a direção. O carro capotou e ficou de rodas para o ar. O menino não pensou duas vezes. Correu para o carro e tirou de lá o motorista, que era um homem corpulento. Carregou-o até a calçada, parou um carro e levou o homem para o hospital. Assim salvou-lhe a vida. 2) No cinema, no teatro, não converse. Não mexa demais a cabeça, não fique aos beijos. Cuidado com o barulho do papel de bala, do saco de pipocas. Não os jogue no chão, quando acabar. Se o seu vizinho estiver fazendo tudo isso e incomodando, seja discreto. Peça que interrompam a sessão e acendam as luzes a fim de inibir o transgressor. Veja agora uma redação incoerente sobre o tema de cotas nas universidades: "O vestibular é muito polêmico, e agora o governo resolveu fazer cotas para negros e prá quem veio de escola pública. No caso dos negros, é injusto, já que 50% dos negros nascem pretos, e a metade não. Mas isso ficaria indeciso, pois existem pessoas como o Maicon Jecksson que násceram pretas e não brancas, então pode- se alegar que um loiro têm descendência afro-africana, bem como os orientais. Logo, podemos dar cotas aos alcólatras, pois estes seguem o exemplo do Presidente. Mas para evitar a complicação do vestibular o ideal seria o sorteio de vagas, assim só os sortudos conseguiriam entrar na faculdade, ou seja, além de um profissional competente, o cara iria ser um profissional de sorte. É uma pouca vergonha o sistema de cotas, porque os homossexuais seriam desfavorecidos perante ao curso superior, novamente mais um motivo para o Presidente ser bêbado. E não são todas as pessoas que tem oportunidade de estudar em uma boa escola como o COLÉGIO DOM BOSCO. Todavia, a metodologia do vestibular é totalmente ineficiente efálico, pois se descobrirem vida em outros planetas o conceitos dos concursos ' Miss Universo' teriam de ser repensados. Desejo a todos uma boa viagem." Este texto foi copiado do blogspot bibliamigos2010.blogspot.com.br. O texto apresenta inúmeras falhas , mas o que “grita” é a sua incoerência em vários trechos. Os argumentos que o candidato selecionou (metade dos pretos são brancos, o presidente é um alcólatra, homossexuais desfavorecidos, vagas deveriam ser sorteadas, vida em outros planetas faria mudar o vestibular...) mostram a sua imaturidade, falta de conhecimento de mundo, além da falta de conhecimento da própria linguagem. . 12ª AULA: Os 7 Cs da Redação (2ª. Parte) 3 - COESÃO A coesão é um dos aspectos mais importantes do texto, como a coerência. Enquanto esta se preocupa com a harmonia das ideias, dos pensamentos, aquela se preocupa com a construção , com a linguagem que expressará os pensamentos. Coesão e coerência estão muito ligadas. A coesão mal feita pode gerar incoerência no texto. Veja: Este ano a chuva não foi abundante, logo as colheitas foram boas. Percebe a incoerência? A escolha equivocada da conjunção “logo” tornou a ideia incoerente. O correto seria : Este ano a chuva não foi abundante, mas (poderia ser porém, contudo, todavia) as colheitas foram boas. “Mas” é o conector adequado a esse período porque contrapõe elementos com orientação argumentativa contrária. Para que a colheita seja boa, é preciso que a chuva seja abundante. Ora, como a chuva foi escassa, esperava-se uma colheita ruim. O fato de a colheita ter sido boa está em oposição às condições climáticas. Seria descabido trocar o mas por portanto ou porque, que indicam respectivamente conclusão ou causa e não adversidade. O trabalho de escrever pode ser comparado ao trabalho de tecer. Veja que interessante: a palavra latina tessitum deu origem a duas palavras em português: texto e tecido. O que é o texto? É um tecer com palavras. Para “tecer” bem um texto é preciso conhecer as conjunções e as locuções conjuntivas (conectores), pois elas é que criarão as ideias de alternância, adição, explicação, conclusão , oposição, concessão, causa, consequência, temporalidade, finalidade, comparação, conformidade ou condição. A coesão deve existir entre as palavras, entre as frases e entre os parágrafos. Vejamos como é feita a coesão em dois parágrafos do texto Brasil: discriminação social ou racial? Na mesma semana em que morreu Ayrton Senna, morreu atropelada no Rio, mais precisamente na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, uma empregada doméstica chamada Rosilene. Durante uma hora os carros passaram por cima de seu corpo, a ponto de só ser reconhecido através das impressões digitais que restaram. O Brasil inteiro chorou a morte de Senna, mas poucos souberam do fim trágico de Rosilene. Este é bem o retrato do país que habitamos. Somos cada dia mais dois Brasis. Um, dos ricos e famosos, que faz uma nação inteira chorar ou pelo menos se interessar pelo caso. Outro, o dos miseráveis, cujas vidas não interessam a ninguém." Vejamos primeiro a coesão entre palavras ou segmentos dentro da frase: 1ª.linha: em que recupera na mesma semana; 2a. e 3ª.linhas: uma empregada doméstica liga-se em Rosilene; seu corpo recupera Rosilene; 4ª.linha: que (restaram) recupera impressões digitais; 5ª. linha : Senna recupera Ayrton Senna; 6ª. Linha: Rosilene recupera Rosilene. 7ª. Linha: que (habitamos) recupera país; 8ª.linha: um recupera dois Brasis; 9ª. Linha: pelo caso recupera a morte de Senna; Outro recupera dois Brasis; Cujas recupera vidas dos miseráveis. O início do segundo parágrafo : Este é bem o retrato do país... O pronome demonstrativo Este recupera todo o primeiro parágrafo porque faz menção aos dois fatos trágicos e a maneira oposta de comportamento do povo brasileiro diante deles. O autor, Antonio Carlos Viana, “amarrou” bem todas as ideias do texto com coesão, coerência, concisão e clareza, além da correção gramatical. Veremos mais adiante , numa aula específica, os recursos coesivos. 13ª. AULA: Os 7 Cs da Redação 4 - CONCISÃO: Concisão é a economia de palavras. Ser conciso ao escrever significa usar as palavras com critério: escolher aquelas que expressam com exatidão o pensamento do autor. A concisão é uma qualidade que se espera encontrar num bom texto. Seu contrário é a prolixidade, um defeito do texto. Veja exemplos de prolixidade, ou seja, do que se deve evitar ao escrever: "A infância, ou melhor, as crianças abandonadas nas ruas revoltam qualquer pessoa que as vê andando na cidade." (trecho de redação) Veja agora o texto reescrito com concisão: "Qualquer pessoa se revolta, quando vê crianças abandonadas pelas ruas." Leia o seguinte trecho retirado do livro Criatividade redação de Rubens Marchioni, p. 114-116. É engraçado, interessante e pitoresco. Veja: "Preocupado em contribuir para o aprimoramento de redatores, o jornal fez uma pesquisa para investigar o estilo comum de linguagem escrita usada nos Boletins de Ocorrência. O resultado foi impressionante. Palavras que o próprio dicionário já esqueceu e construções rebuscadas se juntavam para construir frases que chegam a provocar o riso. O objetivo provável do 'redator' era mostrar um elevado grau de cultura. Uma pena. Ele teria obtido maior êxito
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