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Aula 4 - O Povo

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O Povo
Noções de população:
- Conceito: População é um conceito puramente demográfico e estatístico. Entende-se por população o conjunto de pessoas presentes no território do Estado, num determinado momento, inclusive estrangeiros e apátridas. É um dado essencialmente quantitativo, que independe de qualquer laço jurídico de sujeição ao poder estatal. 
Não se confunde com a noção de povo, pois, para que seja considerado povo, faz-se necessário o vínculo entre indivíduo e Estado através da nacionalidade ou cidadania. 
Entre os pensadores políticos da Grécia, houve quem pretendesse determinar o quantum mínimo populacional para a existência de um Estado, (vinte, trinta ou quarenta mil habitantes). Mas a fixação do mínimo populacional para o reconhecimento da ordem estatal é hoje na Ciência Política inteiramente destituído de importância. 
A noção de população é importante para que tenhamos conhecimento da importância política e econômica que assume.
- A teoria malthusiana e o Estado Moderno: para Malthus (fins do século XVIII para o começo do século XIX), a medida em que a população crescia em proporção geométrica, os gêneros alimentícios aumentavam segundo regra aritmética. 
Assim, na linha do tempo a tendência permanente vinha a ser a de alargar a brecha entre a capacidade de manter as populações e a taxa de crescimento dessas mesmas populações, o que ocasionaria as guerras, as revoluções, as epidemias, as fomes devastadoras, fazendo-se necessário a utilização da violência do sacrifício imposto, para restaurar o equilíbrio rompido.
- Crítica antimalthusiana: pautando-se em um otimismo acerca das possibilidades da técnica e da ciência, no seu desenvolvimento, no seu contínuo progresso, os críticos da teoria malthusiana creem na capacidade de criarem para o homem as mais ricas e promissoras perspectivas de libertação econômica, pois a ciência, por meio da técnica adiantada e racional, técnica altamente aprimorada, pode produzir, com capacidade ilimitada, quase infinita, os bens necessários à existência humana. 
- Problemática: A ciência nos dá condições de vencer a fome, de tornar verdadeiramente ridículo e destituído de toda a base científica o sombrio prognóstico malthusiano. Mas não basta haver ciência desenvolvida ou técnica de produção excepcionalmente avançada. O problema malthusiano reaparecerá, pois não cabe apenas à ciência dispor de recursos e meios potenciais com que debelar ou obviar venha a consumar-se através dos tempos a profecia malthusiana. O grande enigma consiste em criar na sociedade as formas políticas e sociais de aplicação da ciência e da técnica.
- A explosão demográfica e o futuro da humanidade: a preocupação central dos cientistas sociais de nossa época é imensamente mais ampla: não se trata unicamente de saber se haverá gêneros bastantes para alimentar a humanidade, mas de conhecer ou prever a natureza ou média do padrão de vida que aguardará a sociedade humana, mormente os povos subdesenvolvidos, em face da explosão populacional na idade da industrialização.
Quatro fases da crise demográfica: 
1ª. As taxas de natalidade e mortalidade se equiparam, a saber, nascem e morrem em média 35 ou 40 pessoas por 1.000 habitantes anualmente.
2ª. A taxa de nascimento permanece alta e uma vez rompido o equilíbrio anterior verifica-se em consequência rápido incremento populacional: ocorre quando se dá a queda da taxa de mortalidade, em virtude dos progressos espetaculares da medicina, mediante o emprego de antibióticos, vacinas, sulfanilamidas, a adoção generalizada de regras elementares de higiene preventiva, uso de inseticidas em larga escala com saneamento completo de áreas dantes sujeitas a grandes moléstias endêmicas e outras medidas gerais de saúde pública que praticamente eliminaram o perigo das epidemias devastadoras (Ásia, África e América Latina). 
3ª. A taxa de nascimento entra em declínio, em decorrência de uma limitação racional do número de filhos no casamento, em decorrência de uma política da “paternidade responsável” ou consciente, de acordo com os recursos de que dispõem os pais para a subsistência da família, sem quebra do respectivo padrão de vida, que a família numerosa acarretaria. Como a taxa de mortalidade continua todavia a diminuir, permanece ainda alto o excedente de natalidade posto que já se esteja de volta ao equilíbrio (Japão/países europeus).
4ª. Reaproximação das duas taxas: a da natalidade se situa um pouco acima da de mortalidade e a tendência de crescimento se manifesta ligeiramente atenuada, a baixo nível, restaurando-se uma situação que se assemelha à da primeira fase e que significará a travessia vitoriosa da crise. (países desenvolvidos).
- O drama dos países subdesenvolvidos: o aumento da produção econômica não acompanha o aumento muito mais veloz da população, produzindo assim um abismo onde se despenham todas as esperanças de uma partida efetiva para o desenvolvimento. A taxa de incremento demográfico absorve toda a taxa de acréscimo da produtividade.
Noções políticas, jurídicas e sociológicas de povo:
O conceito de povo pode ser estabelecido do ponto de vista político, jurídico e sociológico.
- Conceito político de povo: estabelecido desde a antiguidade, como bem salienta a obra de Cícero definindo como povo “a reunião da multidão associada pelo consenso do direito e pela comunhão da utilidade” e não simplesmente todo conjunto de homens congregados de qualquer maneira.
Note-se que, no absolutismo o povo fora objeto, com a democracia ele se transforma em sujeito.
A história que vai do sufrágio restrito ao sufrágio universal é a própria história da implantação do princípio democrático e da formação política do conceito de povo. 
Povo é então o quadro humano sufragante, que se politizou (quer dizer, que assumiu capacidade decisória), ou seja, o corpo eleitoral. 
- Conceito jurídico de povo: só o direito pode explicar plenamente o conceito de povo, afinal, seu traço mais marcante é o jurídico e onde ele estiver presente, as objeções não prevalecerão. Povo é o conjunto de pessoas vinculadas de forma institucional e estável a um determinado ordenamento jurídico, ou ainda o conjunto de indivíduos que pertencem ao Estado, isto é, o conjunto de cidadãos.
Fazem parte do povo tanto os que se acham no território como fora deste, desde que presos a um determinado sistema de poder ou ordenamento normativo, pelo vínculo de cidadania.
Cidadania é a prova de identidade que mostra a relação ou vínculo do indivíduo com o Estado, e que implica numa situação jurídica subjetiva, consistente num complexo de direitos e deveres de caráter público. 
O status civitatis ou estado de cidadania define basicamente a capacidade pública do indivíduo, a soma dos direitos políticos e deveres que ele tem perante o Estado, da qual derivam direitos, quais o direito de votar e ser votado (status activae civitatis) ou deveres, como os de fidelidade à Pátria, prestação de serviço militar e observância das leis do Estado.
Cabe ao Estado traçar-lhe limites. Três sistemas determinam a cidadania: 
a. jus sanguinis (determinação da cidadania pelo vínculo pessoal);
b. jus soli (a cidadania se determina pelo vínculo territorial);
c. sistema misto (admite ambos os vínculos);
Na terminologia do direito constitucional brasileiro ao invés da palavra cidadania, que tem uma acepção mais restrita, emprega-se com o mesmo sentido o vocábulo nacionalidade. A matéria se acha regulada no artigo 12 da Constituição Federal, que define quem é brasileiro e por conseguinte, em face das nossas leis, quem constitui o nosso povo.
Obs: 
Art. 12. São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de paibrasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; 
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. 
- Conceito sociológico de povo: conceito naturalista ou étnico, decorre de dados culturais, que uma consideração unilateralmente jurídica não poderia exprimir. Do ponto de vista sociológico há equivalência do conceito de povo com o de nação. 
O povo é compreendido como toda a continuidade do elemento humano, projetado historicamente no decurso de várias gerações e dotado de valores e aspirações comuns. Compreende vivos e mortos, as gerações presentes e as gerações passadas, os que vivem e os que hão de viver. 
O povo nesse sentido é a nação, e ainda debaixo desse aspecto pode tomar uma acepção tão lata que para sobreviver basta conservar acesa a chama da consciência nacional. Os judeus sem território e sem Estado próprio, disseminados no corpo político de sociedades que ora os acolhiam, ora os expeliam, nem por isso deixaram nunca de ser povo e nação, tendo as duas expressões aqui igual significado.
Conceito de nação:
- Conceito: “um grupo humano no qual os indivíduos se sentem mutuamente unidos, por laços tanto materiais como espirituais, bem como conscientes daquilo que os distingue dos indivíduos componentes de outros grupos nacionais” (André Hauriou)
“[...] uma sociedade natural de homens, com unidade de território, costumes e língua, estruturados numa comunhão de vida e consciência social,” (Paolo Mancini) 
Mancini ainda proclama que os fatores naturais (território, raça e língua), históricos (tradição, costumes, leis e religião) e psicológico (consciência nacional) servem de fundamento à nação.
- Que é uma Nação? Será porventura a raça? a religião? o idioma? 
A Nação exprime um conceito sobretudo de ordem moral, cultural e psicológica, em que se somam aqueles fatores antecedentemente enunciados, podendo cada um deles entrar ou deixar de entrar em seu teor constitutivo. A nação existirá sempre que tivermos síntese espiritual ou psicológica, concentrando os sobreditos fatores, ainda que falte um ou outro dentre os mesmos.
- Conceito naturalístico de nação:
Diretamente influenciado pelas concepções racistas, formou-se na Alemanha o conceito naturalístico de raça, que culminou no nacional-socialismo alemão. Essa teoria era baseada em teorias defendidas por Lapouge, Gobineau e Houston Stewart.
Esse conceito defende uma suposta hierarquia das raças humanas, em cuja extremidade mais alta colocaram os povos germânicos, portadores de traços étnicos privilegiados em pureza de sangue e superioridade biológica, que lhes assegurava a supremacia na classificação das raças.
A politização da teoria racista em bases ideológicas, servindo de esteio de toda uma concepção de vida e núcleo de um novo conceito de nação, resultou fácil ao nacional-socialismo, que provocou a Segunda Grande Guerra Mundial.
Elementos característicos da nação;
- Tradição histórica
- Cultura
- Idioma 
- Religião
Princípio da nacionalidade.
- Princípio da autodeterminação: organização sob a forma de ordenamento estatal. E o Estado se converte assim na “organização jurídica da nação” ou em sua “personificação jurídica”. 
Do ponto de vista da doutrina que se formou na Itália durante o século passado, a nação é o valor maior, e o Estado — forma puramente política — só se justifica quando representa o termo político e lógico do desdobramento nacional, o ponto de chegada necessário de toda nação que completa sua evolução ao organizar-se como Estado.
A nação não somente pode subsistir fora de todo reconhecimento jurídico, senão também em contraste com a vontade dos Estados. Exemplo: nação judaica (depois que Tito destruiu Jerusalém ao ano 70 da era cristã, os judeus sobreviveram como nação, apesar de politicamente destruídos como Estado e sobreviveram também contra a vontade dos Estados que os perseguiam. 
- Princípio da soberania: Ao lado da repercussão externa do princípio nacional, é de assinalar o aspecto político interno da mesma tese que fez da nação o primeiro valor moral da sociedade politicamente organizada. O valor da nação na ordem interna antecedeu a proclamação de sua importância no domínio internacional. Serviu aliás de base doutrinária a todo o constitucionalismo liberal desde a Revolução Francesa. Constituiu-se de maneira revolucionária durante aquela época, ficando consubstanciado na doutrina da soberania nacional, que postulava a origem de todo o poder em a nação, única fonte capaz de legitimar o exercício da autoridade política.

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