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Direito Constitucional II Paulo Máximo AULA 8 Unidade 1 Intervenção Introdução : Conceito: Segundo Alexandre de Moraes a intervenção consiste em medida excepcional de supressão temporária da autonomia de determinado ente federativo, fundada em hipóteses taxativamente prevista no texto constitucional, e que visa à unidade e preservação da soberania do Estado Federal e das autonomias de seus entes (União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios). Introdução : Regra: a União somente poderá intervir nos Estados-membros e no Distrito Federal, enquanto os Estados somente poderão intervir nos Municípios integrantes de seu território. Exceção: a União não poderá intervir diretamente nos municípios, salvo se existente dentro do Território Federal. Introdução : Regra Geral Exceção Natureza jurídica da intervenção: José Afonso da Silva explica que a intervenção é ato político que consiste na incursão da entidade interventora nos negócios da entidade que a suporta. Constitui o punctum dolens (ponto de aflição) do Estado Federal, onde se entrecruzam as tendências unitárias e as tendências desagregantes. Requisitos: Pressupostos de fundo: uma das hipóteses descritas na Constituição; Pressuposto subjetivo: de regra cabe ente político de nível imediatamente mais amplo intervir no de grau inferior; Pressuposto formal: Um ato político do chefe do Poder Executivo. Pressupostos de fundo: Para José Afonso da Silva são as situações críticas que põem em risco a segurança do Estado, o equilíbrio federativo, as finanças estaduais e a estabilidade da ordem constitucional. O autor a reúne os pressupostos de fundo conforme sua natureza: defesa do Estado: previstas no art. 34, I e II; defesa do princípio federativo: hipóteses previstas no art. 34, II, III e IV; defesa das finanças estaduais: tratada no art. 34, V; defesa da ordem constitucional: dispostas no art. 34, VI e VII. Pressupostos formais: Constituem pressupostos formais da intervenção: modo de sua efetivação; limites; e requisitos. Pressupostos formais: A intervenção federal efetiva-se por decreto do Presidente da República. O ato especificará a sua amplitude, prazo e condições de execução e, se couber nomeará o interventor. Logo conclui-se que é possível a intervenção sem interventor. Ato de intervenção: O ato de intervenção nos Estados-membros somente poderá ser consubstanciado por Decreto do Presidente da República. No caso de intervenção municipal, pelos Governadores. Portanto, trata-se de um ato exclusivo do Chefe do Poder Executivo. Hipóteses: Cabe à União exercer a competência de preservar a integralidade política, jurídica e física da federação, sendo-lhe atribuída a competência para realizar a intervenção federal de forma taxativa no art. 34 da Constituição. Hipóteses: Art. 34. I: A primeira hipótese prevista tem por fim conferir eficácia à proclamação constante do art. 1º da Constituição de que a união dos Estados é indissolúvel. Portanto, resguarda o princípio da indissolvibilidade da federação ou princípio da vedação de secessão. Art. 34. II: Para repelir a invasão estrangeira a intervenção não fica condicionada a que tenha havido a conivência do Estado-membro, já que a medida não tem, nesse caso, propósito de sanção, mas de reconstrução da integridade nacional. Já a segunda hipótese do dispositivo tem por fim impedir que alguma unidade da Federação obtenha ganhos territoriais em detrimento de outra, ou imponha a sua vontade. Art. 34. III: Para Gilmar Mendes não há necessidade de chegar-se ao quadro de guerra civil para que ocorra intervenção. Basta um quadro de transtorno da vida social, violento e de proporção dilatadas, se instale duradouramente, e que o Estado-membro não queira ou não consiga enfrentá-lo de forma eficaz. É irrelevante que a causa da grave perturbação da ordem; basta a sua realidade. Art. 34. IV: Supõe-se a existência de uma coação imprópria sobre algum dos poderes locais, impedindo-o de funcionar ou dificultando seu funcionamento. Ex.: no caso dos integrantes de um dos poderes serem impedidos de se reunir para a tomada das deliberações. Art. 34, V: cuida da intervenção federal por desorganização administrativa, que leva o Estado ou Distrito Federal, sem motivo de força maior, a não pagar a sua dívida fundada por mais de dois anos consecutivos. O inciso também cuida de hipótese de não-entrega oportuna das receitas tributárias dos Municípios. Dívida Fundada é, nos termos da Lei nº 4.320/64, definida nos seguintes termos: Art. 98. A divida fundada compreende os compromissos de exigibilidade superior a doze meses, contraídos para atender a desequilíbrio orçamentário ou a financeiro de obras e serviços públicos. Art. 34, VI. Para Gilmar Mendes não é qualquer desrespeito pelo Estado que enseja a intervenção. Confirmado o comportamento impróprio do Estado pela magistratura, e mantida a situação de desrespeito ao comando da lei concretizado na sentença é possível a intervenção. Nessa hipótese, ela terá outro fundamento, que não o desrespeito à lei (caberá eventualmente pela não-execução de decisão judicial). Por isso a doutrina preconiza que a intervenção para a execução de lei federal se refere à recusa a aplicação da lei que gera prejuízo generalizado e em que não cabe solução judiciária para o problema. O autor destaca ainda que o trânsito em julgado da decisão judiciária não é pressuposto para a intervenção. IMPORTANTE: Gilmar Mendes aponta que o não-pagamento de precatório, quando os recursos do Estado são limitados, não configura situação de intervenção federal. Isso porque há outras obrigações a serem cumpridas pelo Estado de mesma hierarquia, como a continuidade na prestação de serviços básicos. Art. 34. VII. Trata-se da salvaguarda dos chamados princípios constitucionais sensíveis. Entes passíveis de intervenção federal: A intervenção federal somente poderá recair sobre Estado-membro, Distrito Federal ou Municípios integrantes de território federal. Não cabe a intervenção federal em Municípios integrantes de Estado-membro, mesmo que a medida seja pedida por desrespeito, por parte do Município, de decisões de tribunais federais. Espécies de intervenção: Pedro Lenza classifica as espécies contidas no art. 34 da Constituição nas seguintes espécies: espontânea: nesse caso o Presidente da República age de ofício. Art. 34, I, II, III e V; provocada por solicitação: hipótese do art. 34, IV, c/c art. 36, I, primeira parte. Quando coação ou impedimento recaírem sobre o Poder Legislativo ou o Poder Executivo, impedindo seu o livre exercício, a decretação da intervenção federal, pelo Presidente da República, dependerá de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido; provocada por requisição: hipótese do art. 34, IV, c/c art. 36, I, segunda parte: se a coação for exercida contra o Poder Judiciário, a decretação da intervenção federal dependerá de requisição do Supremo Tribunal Federal; hipótese do art. 34, VI, segunda parte, c/c art. 36, II no caso de desobediência a ordem ou decisão judicial, a decretação dependerá de requisição do STF, STJ ou do TSE, de acordo com a matéria; provocada por representação: em que é necessária a representação do Procurador- Geral da República art. 34, VII, c/c art. 36, III, primeira parte: no caso de ofensa aos princípios constitucionais sensíveis (trata-se da chamada ADI interventiva); art. 34, VI, primeira parte, c/c art. 36, III, segunda parte: para promover a execução de lei federal (pressupondo ter havido recusa à execução de lei federal). Procedimento: Iniciativa: Dependendo da hipótese prevista para a intervenção federal, indica quem poderá deflagrar o procedimento interventivo: Presidente da República: nas hipóteses previstas nos incisos I, II, III, V do art. 34, ex ofício poderá tomar a iniciativa de decretar a intervenção federal; Solicitação dos Poderes locais (CF, art. 34, IV): no caso deestarem sofrendo coação no exercício de suas funções Poderes Legislativo (Assembléia Legislativa ou câmara Legislativa); e Poder Executivo (Governador do Estado ou do Distrito Federal) O Poder Judiciário local solicitará ao STF que, se entender o caso, requisitará a intervenção ao Presidente da República; Solicitação dos Poderes locais: Requisição do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral, na hipótese prevista no art. 34, VI (desobediência a ordem ou decisão judiciária): O STJ e o TSE poderão requisitar diretamente o Presidente da República, a decretação da intervenção, quando sua ordem ou decisão judiciária for descumprida. Ao STF, além da hipótese de descumprimento de suas próprias decisões ou ordens judiciais, cabe-lhe, exclusivamente, a requisição de intervenção para assegurar a execução de decisões da Justiça Federal, Estadual, do Trabalho ou da Justiça Militar, ainda quando fundadas em direito infraconstitucional. IMPORTANTE: somente o Tribunal de Justiça local tem legitimidade para encaminhar ao STF o pedido de intervenção baseado em descumprimento de suas próprias decisões. A parte interessada somente pode se dirigir ao Supremo, com o pedido de intervenção federal, para prover a execução de decisão da Corte Maior. A parte pode pedir que o Presidente do TJ local encaminhe ao STF eventual pedido de intervenção federal. A decisão de não encaminhar o pedido ao STF não tem caráter jurisdicional. Logo, de sua negativa não cabe recurso ao STF. O STF não pode, ex officio, encaminhar pedido de intervenção ao Presidente da República. Ações propostas pelo Procurador-Geral da República: sempre endereçadas ao STF: art. 34, VI, primeira parte: ação de executoriedade de lei federal; e art. 34, VII: ação direta de inconstitucionalidade interventiva. Quando o Tribunal de Justiça do Estado for o responsável pelo descumprimento de uma decisão do STF não há intervenção federal, em função do caráter nacional do Poder Judiciário. Caberá, portanto, o instrumento processual adequado para sustar a interferência indevida. 1. Dado o caráter nacional de que se reveste, em nosso regime político, o Poder Judiciário, não se dá por meio de intervenção federal, tal como prevista no art. 34 da Constituição, a interferência do Supremo Tribunal, para restabelecer a ordem em Tribunal de Justiça estadual, como, no caso, pretendem os requerentes. (Rcl 496 AgR, Relator(a): Min. OCTAVIO GALLOTTI, Tribunal Pleno, julgado em 23/06/1994, DJ 24-08-2001 PP-00047 EMENT VOL-02040-01 PP-00139) Fase judicial: Essa fase apresenta-se somente nos dois casos previstos de iniciativa do Procurador-Geral da República (art. 34, VI “execução de lei federal”, e VII “ação direta de inconstitucionalidade interventiva”), uma vez que se trata de ações endereçadas ao Supremo Tribunal federal. O Procurador-Geral da República nada mais é que parte a legitima para propositura de Ação de executoriedade de lei federal e Ação de Inconstitucionalidade interventiva. Nos dois casos o STF, para o prosseguimento da medida de exceção, deverá julgar procedentes as ações propostas, encaminhando-se ao Presidente da República, para os fins de decreto interventivo. A decisão de procedência do pedido é vinculante. O Presidente apenas formalizará uma decisão tomada por órgão judiciário. Decreto Interventivo: A intervenção será formalizada através de decreto presidencial, nos termos do art. 84, X, da Constituição que, uma vez publicado, tornar-se-á imediatamente eficaz, legitimando a prática dos demais atos consequentes à intervenção. Nas hipóteses de intervenções espontâneas (CF, art. 34, II,II, III, V) o Presidente ouvirá os Conselhos da República (CF, art. 90, I) e o de Defesa Nacional (CF, art. 91, § 1º, II), que opinarão a respeito. O parecer não é vinculante. O eventual interventor nomeado pelo Presidente da República será considerado para todos os efeitos como servidor público federal, e a amplitude e executoriedade de usas funções dependerá dos limites estabelecidos no decreto interventivo. Na qualidade de interventor, o servidor executa atos e profere decisões que prejudiquem a terceiros, a responsabilidade civil pelos danos causado será objetiva, nos termos do art. 37, § 6º, e é da União. Não há na Constituição normas referentes ao teor das medidas a serem adotadas durante a intervenção. Controle político: A Constituição prevê a existência de um controle político sobre o ato interventivo, que deve ser realizado pelos representantes do Povo (Câmara dos Deputados) e dos próprios Estados-membros (Senado Federal), a fim de garantir a excepcionalidade da medida. O decreto presidencial deve ser levado à apreciação do Congresso Nacional no prazo de 24 horas, que deverá rejeitá-la ou, através de decreto legislativo, aprovar a intervenção federal, nos termos do art. 49, IV, da CF. Caso o Congresso Nacional não aprove a decretação da intervenção, o Presidente deverá cessá-la imediatamente, sob pena de crime de responsabilidade, nos termos do art. 85, II, da Constituição. Nas hipóteses do art. 34, VI (ação de execução de lei federal), e VII (ADI interventiva), o controle político será dispensado, conforme expressa previsão constitucional (CF, art. 36, § 3º), e o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. Para Alexandre de Moraes em se tratando de requisição judicial, não pode o Legislativo obstá-la, sob pena de vulnerar o princípio da separação dos poderes. Contudo, existindo qualquer vício formal ou eventual desvio de finalidade na decretação da intervenção, o Congresso Nacional poderá suspendê-la, a qualquer tempo, com fundamento no art. 49, IV da Constituição. Intervenção estadual nos Municípios: De regra, apenas os Estados-membros poderão intervir nos municípios. Exceção: Município pertencente a um território federal. Por também se tratar de medida excepcional, as hipóteses de intervenção estão previstas, taxativamente, no art. 35 da CF. Somente o Governador do Estado poderá decretá-la, dependendo, na hipótese do art. 35, IV, de ação julgada procedente pelo Tribunal de Justiça. Alexandre de Moraes destaca ainda que para fins de decretação de intervenção do Estado-membro no Município é irrelevante o fato de já ter sido declarada a intervenção desse mesmo Município em outro processo, por diverso motivo. A decisão tomada pelo Tribunal de Justiça nos caso de intervenção tem natureza político-administrativa, não podendo ser objeto de recurso extraordinário. Súmula 637/ STF: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de intervenção estadual em Município. Espécies: Espontânea: pelo Governador ex officio nos casos do art. 35, I a III da CF; Por requisição: CF, art. 35, IV. Mediante manifestação da parte Por proposta pelo Procurador Geral: ADI interventiva estadual Ação de executoriedade de lei estadual. Iniciativa: TJ: de ofício, após pedido da parte ou do PGE. IMPORTANTE: A Constituição não prevê possibilidade de solicitação do Poder Legislativo Municipal. O STF entende que o rol de legitimados é taxativo, mas entende possível que o Poder Legislativo faça representação para a intervenção em caso de não prestação de contas. Jurisprudência: É inconstitucional a atribuição conferida, pela Constituição do Pará, art. 85, I, ao Tribunal de Contas dos Municípios, para requerer ao Governador do Estado a intervenção em Município. (CF, art. 31, § 2º). [ADI 2.631, rel. min. Carlos Velloso, j. 29-8-2002, P, DJ de 8-8-2003.] Jurisprudência: As disposições do artigo 35 da CB/88 também consubstanciam preceitos de observância compulsória por parte dos Estados-membros, sendo inconstitucionais quaisquer ampliações ou restrições às hipóteses de intervenção. [ADI 336, voto do rel. min. Eros Grau, j. 10-2-2010, P, DJE de 17-9-2010.] Controle político: Será feito pela Assembléia Legislativa, excetono caso do art. 35, IV da CF. Deverá seguir o modelo federal. REFERÊNCIAS: LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 20 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo, 2016. MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO. Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 24 ed. São Paulo: Atlas, 2009. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 33ª Ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2010.
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