LAVAGEM DE DINHEIRO GLOBALIZAÇÃO E OS REFLEXOS CAUSADOS EM ÂMBITO NACIONAL

1 LAVAGEM DE DINHE IRO: G LOBALI ZAÇ ÃO E OS RE FLEXOS CAUSADOS E M ÂMBITO N ACION AL MONEY L AUNDERING: GLOBALIZATION AND T HE REF LECTIONS CAUSED AT NA T IONAL LEVEL Daniel Teoc hi Pós -gradu ando no curso de Direi to Pena l e Proces so Pena l da rede de ens ino LFG/Anh angu era. Conta to: danielteoch i@hotmai l.co m RESUM O Apesar do crime de lavagem d e capitas estar p resente desde os primórdios, a p ositivaç ão d e uma legislaç ão es pecí f ica d eu -se t ardiamente, tornando dificultoso o comba te a esse d elito , ocasionado a globalização em níveis mundiais . Contud o, com a intern acionalização d e tratados foi possível criar normas em âmbito naci onal com o in tuit o de coibir tal prática . Diante disso, foi u tilizada a sí ntese metod ológica qualit ativa para c ompreen der a globalização, b em como conhecer a no rm a n acional ati nente ao tema e por f im, compreender que a globalizaç ão perpetuou-se e m virtude da tardia a plicabilida de da legislação e da ine f iciência dos métod os penais atuais. Palavras-chave : lavagem de capitais, glob alização, legislação p átria. A BSTR A CT Despite the crime of mon ey lauderi ng has b een present since e arly d ays , the implementatio n of specific legislation ocurr ed late, making it difficu lt to co mbat this crim e, causing glo balization at w orld lev els. H owever, wi th the in ternationliz ation of tr eati es, it wa s p ossible to cr eate legislation at the national level with an i ntended to restr ain such practice. In view of this, the qualitative methodologic al synthesis was used to unde rst and globalizati on, a s well as to know th e national legislation related to the subject and f inally, underst and that globaliz ation has ocurred baca use of the late adoption of legislation and the inefficie ncy o f curr ent crimi nal methods . Keyw ords : money lauderin g, globa liza tion, nation al leg islation. INTRODUÇ ÃO O prese nte trabalho científ ico terá por fina lida de compreender a globa l ização dos cr i m es re lacionados à lava gem d e cap i tais , tem a esse tão e m voga e que assola a ho dierna sociedade brasileira, haj a vi sta seu crescim ento ex ponenc ial ao pa ssar dos anos. Para com preen der os m oti vos que potenc ializaram a glob alização d esses cri m e s, fa z-se necessário, prim ei ram ente, id enti ficar os aspectos hi stór icos , além d os 2 aspectos modernos que en sej ar am a propo situra da vigente legi slação que trata sobre o tem a, l ei 9.613/1998, po ster ior m e nte alter ada pela l ei 1 2.683/2012, para to rnar m a is efi ciente a persecuç ão penal . Brasil, grandioso país, e ao m es mo te m po tão falho, é um paraíso fiscal, inclusive está entre os pa íses m ais co rruptos do mund o, a lei que deveria ser aplicada a todos que i ncorrem nesses cr imes, p or vezes, deixa de ser aplicada, po r motivos obscuros. Ent retan to, renova -se, d e cert a forma, a esperança frente aos a tuais j ul gam entos de crimes re lacion ados à lavag em de capi tal onde perpetradores, de fato são punido s, dent re eles, muitos oriundos da classe po líti ca bras ilei ra. Esses m oti vos elen cados culminaram a escol ha do tem a , poi s nesse sentido, percebe-se a necessidade de um a análise detalhada d a l egislação relacionada à lava gem de capi tais, bem co m o sua i deal a plicação. Assim, o presente art i go será dividido em três seções . Sendo que a primeira seção o bservará os aspectos históricos que prom o veram o combate ao cri m e de lava gem de capi tais. Já, a segunda s eção, destacará a gl obal i zação do cri me de lava ge m de ca pi tai s e por fi m, a tercei ra seção destacará a legislação pátria e o com b ate ao cr i m e d e l avagem de ca pi tais no Brasil. Para alcançar o des id erato c ientífico proposto, utilizou-se bibliografia de diversos doutrinadores, a lé m d e arti gos e sites que tratam sobre o tem a . Nesse d iapasão, a síntese metodológi ca baseou -se em pesqui sa qualitativa, poi s para o a l can ce do objetivo f o ram utilizadas diferentes técnicas interpretativas para descreve r e com p reende r o prob l em a proposto, sendo o m étodo adotado o dedutivo. Por fi m, o ob jeto deste tra balho cien tífi co ob j eti vará a compreensão d o s m oti vos determinantes q ue e nsejam a globaliza ção dos crim es de la vagem de capi tais. 3 1 A SPECT OS HISTÓRICOS QUE P ROM OVERAM O COMB ATE AO CRIME DE LAVAGEM DE C APITAIS Apesar dos cr i m e s de l avag em de capita i s estarem em voga n os d ia s atu ais, tendo u m a preponderante exposição a níve l nacional, quer em noticiários, jornais e principalm ente em processos oriundos do sistem a j udi ciári o brasileiro , tal p rática teve sua aurora estabe l ecida em t e m p os re motos. Sendo assim , p ara a m el hor compreensão do tema ora di sciplinado, faz -se imprescindível conhecer os aspectos h i stór icos que ensejaram a necessidad e de coibir a prática da lavagem de cap itais em apreço. Diz- se que um dos primeiros factoi des históricos que fe z r eferência a o crime deli m i tado apresenta- se em um a passag em bíblica, espec i ficamente de Anani as e sua espo sa Safi ra , c o nfor me cita do em sua obr a, An sel mo a fi r ma q ue \u201c Na épo ca, a vida entr e os crist ãos se d ava em c o mun hão e o s v al or es eram e ntr eg ues aos apóst ol os, que provi den c i ava m a sua uti l i zação e m co mum\u201d . 1 Não o bsta nte ao e sti lo de vida e m comu nhão e e ivad o s de valo re s carac ter í stico s a é poca , Ansel mo cita que \u201c Anani a s e sua es pos a ve nd era m u ma propr ied ade e o cu lta ra m u ma part e , d ando a pena s u ma par ce la aos apó sto lo s \u201d. 2 Des sa fo r ma, te m- se q ue o c r i me de la vage m de capi tai s já es teve pr e sent e desde um dos p ri meiros li vros e scri to s da hu mani dade . Adiant e , pre c ei tua m \u201c qu e e xiste m evi dên ci as q ue o s pi rat as n a i da de média já bus cava m desvi ncu la r os recurs os p rove ni ente s do cri me da s ati vid ad es cri minos a s que os g er ara m\u201d . 3 Por con seg ui nte, ai nd a no que ta n ge ao s pr i mór di os des sa práti ca d eli tu o sa , te m-se qu e a e xp res são lava g e m d e di nhei r o ou mon ey l aud eri ng, objet o pri n ci pal do estudo, surgiu a pa rti r de d e ter mina d o fato histór i co , co nfor me Con ser in o e xplica : A ori ge m da expres sã o [ ...] é proveniente do l endário Al Capon e, qu e com o dinheiro au f e ri do com o contraba ndo de bebidas e ciga rros , adquiriu no fi na l da dé cada de 1920, na cidade amer icana de C hicago, uma rede de lavande rias para lhe p er mitir a rea lização de d e pós i tos bancários de pequ enos v alores monetár i os compatíveis co m a vend a na s l avander ias, no 1 ANSELM O, 201 3, p. 35. 2 ANSELM O, 201 3, p. 35. 3 CALLEGARI e W EBER, 201 7, p. 25. 4 entan to, tais depós i tos resultav a m de s uas ativi dades ilícitas do com ércio de bebida s, exploração do jogo e pros t ituição. 4 Na mesma é po ca, ta mbé m n os Est ado s Unid os, outro cri m i no so fi co u conhe ci do p el a p rá ti ca d os cr i mes em est ud o , tr a ta va -se de Meye r Lan s ky, descr ito por Barro s da seg ui nte fo r ma: [...] f igura c entral para o e stud o da l av agem de din heiro, v i sto q ue, send o integra nte d e or gani zaçã o cri m inosa, atuav a nos E stado s da Loui siana e Flóri da, bem co m o e m Las V ega s, nas áreas de j ogos, tráf ico d e entor pece ntes, c orr upção de f uncion ário s públic o s etc, o qu al pa ssou a ocult ar os luc ros il íci to s em banc o suíço, a partir d e 193 2. 5 Ap ó s tai s fa to s i mpul si onad or es , a l a vage m de di nh ei ro to mou a i nda maior e s propor ç ões , quan do os Es tado s Uni do s da Am é r ica , em mead os d a década d e seten ta , co me çou a in vesti ga r o trá fico d e d r ogas e co mo tai s cri m i no sos , lav ava m o din hei ro p rovi do da a ti vi dade espe cífic a . T e ndo o tr áfi co d e d ro ga s e m seu cerne a trans cend ê nci a de fron tei ra s, os narc otr afi c antes vira m- se o bri gados a u ti li zar u m organi zad o sis te ma par a dar a p arên ci a de li ci tude a ganho s o ri un dos do cri me. 6 Nes se mes mo momen to his tóri co, pre ci sa mente na d éca da de seten ta , alg uns paíse s co meçar a m a c on sid erar a po s si bi l i dade de a d equa çõe s pe nai s, haja vista os i nú mero s malefí ci os perpe tra do s pelos cri m i no so s q u e in ci di a m na lava ge m de capitai s . E ntret a nto , so mente du ran te a s egund a me tad e do s écu lo p a ssa do que o cri me de fa to, des pe rto u a a ten ção do s g o v ernos a o re d or do mun do. 7 A co mprov açã o des se d esper tar , foi veri fi ca do jun to a Con ven ção de Vi ena , de 19 de dez e mbro de 1 988, cont end o a par ti ci paçã o de mais de ce m repre se ntan tes p or paí s. Sendo co mpro va do duran te a C o nferê n cia das Nações Unid as, o a ma dure ci m e nto, be m co mo o conse nso de q ue a cri minal i zaç ão da lava ge m d e capi tai s de ve ri a cons tar n os or d ena ment os jurídi co s i nter nos do s p aís e s presen te s naqu ele at o. 8 4 CONSER INO (201 1, p. 02 ). 5 BARROS (2013, p. 33). 6 CALEGARI e W EBER (20 17). 7 BARROS (2013). 8 BARROS, 2013 . 5 Nes se di apa são , Barr os ainda con clu i que \u201c Essa foi à rea ção el ei ta para s e enfren ta r a cri m in ali dad e viol enta e a lta mente lucr ati va, co mo o tr á fi co de d rog as e cri m e o rga ni zado, q ue se uti l i zava do si s te m a fi nanc ei ro i ntern aci on al \u201d . 9 A p arti r d e en tão , p as sou -s e a atri bui r pol ítica s pe nai s co m o i ntu ito d e co mbater a l avage m de capi tai s aos arr e dore s do mundo , a ssi m afi r ma Tavo ra: Div ers os d ocume ntos n ormativ os de abra ngênci a tran snaci onal f oram editad os, o bjetiv ando o que se conv enciono u cham ar de \u201ccom bate à lav agem de din heir o\u201d . A r elaç ão desse delit o é próx i m a com outros t rat ado s sobre t em as rel acio nad os, a exempl o do s que cuidam d e probl ema s d e tráf ico d e dro gas e de cri m inali dade org aniza da. 10 Após a edi çã o de sse s doc u mento s cu ja abrangê ncia po ssui u cará te r transn a ci onal , pô de - se fi n al mente di zer qu e se i ni ci ava o co mb ate à la vag e m de capi tai s, i n cl usi ve n o Brasi l , q ue t a mbém pas sou a co mbater es se s del i tos . 2 A G LO B AL IZ AÇ ÃO DO CR IME DE L AV AG EM DE C AP I TAIS Por possuir caráter transnacional e afetar grande parte dos cantos do m u ndo, o cri m e de l avagem de capi tais possu i com o al iada a g lo balização que fac ilita a perpetração do crim e. Nesse ínterim , Al meida e Bijus expli cam q ue \u201cO crime de \u201clavagem\u201d de din he i r o é um deli to que, praticamente, afeta todas as na ções [...] tendo co m o prin - cipal m oti vo fac ilita dor de suas práticas o fenô m e no da g lob alização financeira\u201d , 11 afetando inclusive a sociedade brasileira, onde o delito ocorre dem asi ada m e nte. Sobre o mesm o te ma , Call egari também afi rma que a globalização: Des em penho u i m por tante papel na trans na sciona li zaç ão do delito de lavage m . Hoje, os criminos o s bus cam regiões m ais impro v á v e i s para realizar a l avage m , onde o contro le é escass o, e, m ais que iss o, onde possa m fi rmar novas alianças ilega is, faci litando o de lit o. 12 Em razão d e a glob alização desem penhar im p ortante fator na transnacionalização do c r ime de la vagem de capi ta is, fo i necessária a criação d e 9 BARROS, 20 13, p. 35 . 10 ALENC AR, ARAÚ JO e TAVORA, 20 16, p. 739. 11 ALME IDA e BIJUS , 2015, p . 89. 12 CALLEGAR I e W EBER , 2017, p. 31 . 6 m ed id as que reprim i ssem o cometi m en to do delito, conform e explanam Al meida e Bijos: Um mal que aflige, ho je, de m odo global, todos os Estados , o que levou a comun idade internac i onal a criar organis m os e medi das de pre v enção e repress ão a e sse delito, no se ntido de num esforço conjunto restringir a sua prática, ass i m co m o, min imizar seu s ef e it os e, p rincipal m ente , conter o cres cimento de outros delitos que, v i s iv elmente , s ão f i nanc i ados c om os recurs o s adv indos do di nhe i ro s uj o que se trans f ormo u em dinheiro lim po e legal. 13 Havendo a g lob alização co rroborado com a prática do d elito, o cr i m e de lava gem de cap itais é visto pelos potenc i ais agentes com o u m ne gócio rentável, que possui com o ob j eto ang ari ar l ucros. Sendo que tal prática é definida como o pr ocesso que legitim a o cap ital espúrio a ser util i zado de forma l ícita . 14 Assim, o g rande objeto da práti ca, conform e descr eve De Car li \u201cé a m od ifi caçã o da s itu ação do dinhe ir o ou dos v al ore s cri m ino sam e nte obtido s \u201d. 15 Se não bastasse a prejudicialidade q ue por si só causa, esse delito, por ter com o resul tado atividades cr i minosas acaba p or finan ciar outras ações delitu osas que com p ro m ete m a estabilidade i nterna dos países, caus a ndo vastos pre j uízos à dem ocraci a, econom i a e as li berdades individuais, sem fala r no estím ul o a corrupção no sei o da socieda de em to dos os níveis. V ez qu e, o d inheiro fác il, tu do compra, de form a di reta , as pessoas cor ruptíveis, e, de form a i ndireta , os inocentes útei s. 16 Dessa form a, l evando e m consi der aç ão a globalização, o crime de l avagem de capi tais cresce cada vez m ai s, inclusive, delito s que, visivelmente, são financiados com o s recur sos ad vindos do dinheiro suj o, to rna-se ind i spensáve l um a legislaç ão condi zente e ef i caz para se com bater esse mal . 3 LEGISL AÇÃO P ÁTRIA E O COM B ATE AO CRIME DE L AVAGE M DE CAPITAIS NO BR AS IL No Brasil , a e xpressã o utili zada para definir o delito em estudo é la vagem de din he i r o, sendo q ue a pala vra \u201clavar\u201d origina -se do latim , e si gn ifica e xpurg ar. Partindo 13 ALME IDA e BIJ OS, 2015 , p. 89. 14 DE CARLI , 2008. 15 DE CARLI , 2008, p. 80. 16 ALMEID A e BIJ OS, 2015. 7 desse pressuposto, su rge a ideia de tornar l ícito o dinheiro oriundo d e at i vidades ileg ais, e ao f inal, r einser i -lo no m ercado co mo se líc i to fosse. 17 De acord o com o analisado n a seção anterior, pode -se verificar que convençõe s e l eis i nternacionais foram pre cursora s do p rim eir o diploma l egal sobre lava gem de ca pi tais no Brasil. Sendo p ro m ul ga da em 1998 a lei 9.613 , fruto do resultado legislativo decorrente de com pro m i ssos assu m i dos p elo Brasil a níve l internacional, poste riorm e nte al terada pela lei 9.683/2012, sendo que a i deia que perm ei a seu te xto é a de co operação jurídica entre países. 18 Nesse m es mo senti do, Gonça l ves e Junior afir m a m que \u201c A in crim ina ção da lava gem de d inh eiro, veiculada pela Lei n. 9.613/98, é r esultado d e com promisso assum ido pe lo Brasil n o plano inte rnac io nal, a o f i rmar a Convenção de V i ena, a Convenção de Palerm o e a Co nvenção de Mérida\u201d . 19 Ainda, no contexto das m edi das d e combate ao crim e de l avagem de dinh eiro, com o é cha m ad o no B rasil, a Lei 9.613, de 3 de m ar ço de 1998 foi al terada pel a L ei 12.683, de 9 de julho de 2012, a qual int ro duzi u i m p ortante s inova ções, confor m e cita m Al m ei da e Bi jos: Dentre tais i no vações, podem s er citadas alguma s m uito im por tantes n a repress ão do de li to e m ques tão. Uma de las é a que i ncorre na m esma pen a aplicada ao que prat ica o cri m e de \u201cla vagem\u201d de d i nheiro, que m , para ocu lt ar ou diss im ular a util ização de bens , direitos ou v alores pro v enientes de infração pena l [...], as sim co m o ta m bém que m utiliza, na atividade econô mica ou financeira , bens , di re itos ou v alores pro v eniente s de i n fração pen al . 20 Além d essa invocação l egislativa , a lei n. 9.613/1998 , i mplem e ntou um órgão com o for m a de co m bate ao crime, conform e c ita m o s m es mo autores: O Brasil, por i nter m éd i o da Le i n . 9 .613, de 3 de março de 199 8, criou a sua UIF, deno m i nada \u201cCons elho de Controle de Ati vi dade s Fi nancei ras (COA F)\u201d e, em seu art. 14, estab eleceu que tal órgão tem por fi na li dade dis ci pli nar, ap licar penas administrat iv as, receber, e x a minar e identificar as ocorrências suspe it as. de ativ idad es ilícitas pre v i stas ness a Le i, s em pre juízo da co m petênc i a de outros órgãos e entidade s. 21 17 CAL LEGARI e W EBER , 2017 , p. 26. 18 ALENC AR, ARAÚ JO e TAV O RA , 2016, p. 73 9. 19 GONÇ ALVES e JUNIOR, 2016 , p. 1065. 20 ALMEIDA e BI JUS , 2015, p . 94. 21 ALME IDA e BIJUS , 2015 , p. 94. 8 Ainda, outra figura de com bate ao cr ime é a figura da extraterritorialidade tipifica da na l ei, o nde mesm o que a infr ação p enal antecedente tenha sido p raticada no e xterior, como no caso do i ngresso nã o decl arado de valores q ue h aviam sido objeto de evasão de divisas no país de origem , não se impede a aplicação da l ei penal brasileira. 22 No que tange aos cri m e s ante cedentes, recorrentes nos cri m es de lavag e m de dinheiro, Go nçalves e Junior explicam : Na atual redaçã o da lei brasi leira, não há rol de crimes anteceden tes, pois bens , direitos ou valores pro v en i entes de qua l quer infração penal pod erão s er objeto de lavage m de dinheiro, de modo a abran ger até mes m o as contra v enções penais, no m eadamente o j ogo do b i cho e o jogo de azar. 23 Nesse m es m o senti do , tendo como base o advento da l ei 12.683, Machado sedi m e nta que : Com o adv ento d a Lei n. 1 2.68 3, n ão há mai s r estriç ão qu anto a o rol (ante s taxativ o) de cri m es prec edent es e nec essári o s à di scu ssão sob re a l av age m de c apit al. Em v erdade, n ão há sequer rol de crim es antece dent es ( ag ora) . A n ov a legi slação sobre o tema al argou por compl eto o âm bito d e reconhe cim ento (o u e sfera de ti pif i cação) da lav agem , que poderá ocorr er (em t ese) diant e de q ual quer \u201ci nf ração penal \u201d. Val e lem brar, ne ste parti cula r , que \u201cinf ra ção p enal\u201d é gênero d o q ual sã o e s péci es o cri m e e a contrav enção pe nal. 24 Des sa for ma , a l ava ge m de c api tai s é u m \u201c cr i m e r e metido\u201d, já qu e sua e xistên ci a de pend e e feti va mente de fat o cri minos o ante cesso r ou ante cede nt e Assi m , é ir refu táve l , qu e o cri me em ques tã o po ssui natur eza ac ess ór ia , medi ante rel ação de cone xão in str u men tal e típic a c o m il íci to pe nal anter i or men te co metido (do q ua l d e corre u a ob tenç ão de van tage m fi nancei ra, e m se nti do a mpl o, ou se ja, de for ma i le gal ). 25 Admite-se, ainda, que a própria l avagem de dinheiro seja considerada o crime antecedente, na cha m ad a lavagem de lavagem ou lavage m e m cadei a, desde que com p rovado o cri m e anteced ente. Adem a is, co m o for ma de a m pl i ar a repreensão e 22 GONÇ ALVES e JUNIOR, 2016, p. 106 7. 23 GONÇ ALVES e JUNIOR, 2016 , p. 1069. 24 MACHAD O, 2012 . 25 MACHAD O, 2012 . 9 consequen tem ente tor nar mais rígi do o com bate, torn a-se irrelevante, para que oco rra a configuração do crime de l avagem d e di nheiro, que a infração pena l antecedent e tenha s ido apenas tenta da. 26 Não obstante, ape sar de existir vár i os m e cani sm o s d e p revenção ao cri m e , é costum ei ro verificar a i ncidência d a l a vagem de dinheiro e m q ue o agen te relacion ado é um pol ítico, m ui tas vezes ut iliza ndo- se d o artifício \u201ctrusts\u201d, e xplanado por Sales com o : Instru m entos legais que permitem pessoas trans f erir a propriedad e de ben s para um administrad or \u2013 em contas na Suíça. De acordo com a ONG Trans parência Internac ional, os trus ts geralmente são uti lizados pa r a es conder ben s, pois raramente sab emos quem são s e us be nefi ciár ios. 27 Algo tão em voga em nosso coti di ano , fr ente aos inúm eros casos apresent ados nos m ei os de comunicação. Essa oper ação é ex e mpli ficada pelo m es mo auto r da se guinte form a: Mas como o dinhe i ro chegou ness a s contas? Imagine, agora, que v ocê é um político corrupto. Recebe u R$ 10 mil hões de u ma e m preiteira a t ítulo de propina, para direc i onar uma l icitação. Obvia m ente, você não v ai poder declarar à Rece i ta que recebe u ess e dinheiro, pois não teria como just ificar um au mento tão gra nde em seu patrimônio. Da mes m a forma, v ocê ta mpouco pode rá depositar o d i nheiro na su a conta. Prime iro, porque v a lores desse porte são ras t reados pelo Banco Central. Segundo , porqu e no f inal do ano ess e depós ito s eria i nformado pelo se u banco à Receita e no vamente não ha v eria como explicar a sua orige m. Co m o guardar R$ 10 mil hões e m baixo do colchão é a lgo fora de cogi tação, o que res ta ao corrupto? 28 Co m o exemplo prático, pôde-se veri ficar r ecentem en te, a uti li zação dos \u201c trusts\u201d pel o ex -deputado federal, Eduardo Cun ha para se defender da a cusação de esconder din he i r o em contas na Suíça. Segundo as acusações , o experi ente ex - deputado utilizou i nstrumentos legais que pe rm ite m pesso as transferi r a propriedade de bens para um admini strador, conform e exem pl i ficado acim a . 29 Dian te d esses fatos, é possível ver ificar q ue a l egislação por s i só n ão é realm ente efi caz ao combate da l a vagem de di nheiro , eis q ue apesar de prever p enas consi deráveis aos agentes e positivar diversas condutas que caracterizam o cri me de 26 GONÇ ALVES e JUNIOR, 2016 , p. 1069. 27 SALES , 2017. 28 SALES , 2017. 29 SALES , 2017. 10 lava gem de dinheiro, os agentes sempre en contram u m m e io de burlar o si stem a pa ra auferir lucros d e forma ilícita. Dian te dessa problem áti ca , faz-se necessária utilização de politica tecn ológica efetiva vo lta da a prevenção e principalm e nte a r epreensão, dentro das norm as vige ntes aos que insiste m e m cometer esses crim es que assola m a soci edade. CONCLUS ÃO Em razão dos sérios riscos que a prát i ca do de lito de l avage m de dinheiro pode acarretar à econom i a de um determinado país. Faz -se im prescindível, a utiliza ção de todo o aparato possível para coibir e principalmente, neutrali zar q uem incide nessa p rática. Eis que, diretam ente, a lém do agente auferir lucro ilícito, indiretamente, atua como i nim igo da sociedade à m ed id a q ue sua ação aca ba influ enc i and o na econom i a de u m p ovo e na sociedade com o um todo . Os estudos realizados, demostraram que além da globalização v i rtuosa da l avagem de din heiro, outro fa tor pre ponderante foi a t ardi a utilização de m eca ni smos que desencoraj asse m os agentes a praticar tais delitos. Veja -se, conforme de m onstrado , há a incidência d este ti po de delito há m ui to tem po atr ás, contudo, a nível m undi al, a leg i slação com eçou a to rnar - se e fetiva tardiam ente, ocasi onando um apri moram ento p or parte dos perpetrado res. Portanto, foi possível c onstatar que a globalização foi e aind a é de term i nante para a i ncidên cia na lavagem de di nheiro, poi s cada vez mais os agentes buscam desenfreadamente a uferir l ucros e en contram nesse segm ento a op ortunidade ide al para atingir seu propósito. Dian te de to do o exposto, percebeu-se a i m po rtânci a da positivação da vige nte legislação (Lei 9.613/1998) como m e d id a de com bate aos cri mes de l avage m de d in heiro, h aja vi sta os enormes estr agos que a sua incid ência ca usa ao povo brasileiro. Bem co m o foi p ossíve l com p reender à relevância do tem a e scol hido frente aos atuais a contec imentos.

LAVAGEM DE DINHEIRO GLOBALIZAÇÃO E OS REFLEXOS CAUSADOS EM ÂMBITO NACIONAL

Direito Penal I

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