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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UNIDADE DE VOLTA REDONDA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – ICHS PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – PNAP/UAB BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Nome da Disciplina: Direito Administrativo Polo: Volta Redonda – RJ Nome da Atividade: Atividade Avaliativa AD2 Matricula: 16113110128 Nome do Aluno: Urania dos Santos Oliveira Coordenador da Disciplina: Prof. Marcus Wagner Avaliação à Distância AD2 - Período – 2018.2 Disciplina: Direito Administrativo TERCEIRIZAÇÃO DE ATIVIDADES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. TERCEIRIZAÇÃO A terceirização é um instituto oriundo da Ciência da Administração que visa à redução de custos, bem como a especialização das atividades empresariais, na medida em que permite a maior concentração da empresa em sua atividade-fim, para o qual foi estabelecida, trespassando a outras empresas normalmente as atividades-meio, que não constituem o foco principal de sua existência. É certo que pode haver trespasse também de algumas atividades-fim. Assim, com relação às atividades terceirizadas, a jurisprudência e a doutrina costumam diferenciá-las em atividades-meio e atividades-fim. Costuma-se entender por atividades- fim aquelas relacionadas com objetivo final da empresa e atividades-meio aqueles referentes ao suporte ou apoio necessário para o processo produtivo. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, “terceirização é a contratação de serviços por meio de empresa, intermediária entre o tomador de serviços e a mão de obra”. 2 O Projeto de Lei, em linhas gerais, busca estender a possibilidade de terceirização de atividades – hoje permitida somente em relação às funções de suporte, nos termos da Súmula nº 331, do Tribunal Superior do Trabalho (TST) – também às atividades-fim da empresa tomadora dos serviços. A grande problemática existente atinge nível constitucional, uma vez que, o concurso público é exigido em todas as fundações e empresas ligadas ao governo, de acordo com o art. 37, da Constituição Federal, de 1988. 1.1. TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL As empresas privadas, no Brasil, utilizam em larga escala a terceirização, tendo em vista a redução de custos ou a transformação de custos fixos em custos variáveis, bem como a denominada focalização (concentração das atividades da empresa em sua atividade principal, sem dispersão e com maior qualidade).Com efeito, o fenômeno da terceirização, como dito, tem dois escopos específicos: a redução do custo da mão de obra e a especialização das empresas em atividades que lhes são próprias. 2. SURGIMENTO DA TERCEIRIZAÇÃO NA ADMINITRAÇÃO PÚBLICA Que as empresas privadas visem à redução de custos, isto é plenamente compreensível, pois que, com isto, seu lucro poderá ser maior e este é justamente o objetivo do empresário em um sistema capitalista de produção. Nada há de errado nisso. A questão que se coloca é saber qual a razão de a Administração Pública utilizar-se deste instituto. Prosseguindo com a ideia de descentralização das atividades da alçada da Administração, em 1970 foi editada a Lei 5.645, que fixou diretrizes para a classificação de cargos do Serviço Civil da União e das autarquias federais, e, em seu art. 3º, parágrafo único,3 estabeleceu que “as atividades relacionadas com transporte, conservação, custódia, operação de elevadores, limpeza e outras assemelhadas serão, de preferência, objeto de execução indireta, mediante contrato, de acôrdo com o artigo 10, § 7º, do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967”. Assim, embora houvesse previsão para o trespasse de atividades administrativas para os particulares, este movimento não era expressivo. Somente anos depois é que as privatizações efetivamente iniciaram. Dos primeiros ensaios privatizantes apareceram no governo do General João Figueiredo (1981 – 1984) com a edição do Decreto 86.215, de 15.07.81, que privatizou vinte empresas que estavam sob o controle da União (entre elas Riocel, América Fabril, Companhia Química Recôncavo). No governo do Presidente José Sarney (1985 - 1989) as privatizações recaíram sobre cerca de 18 empresas (entre elas a Companhia Brasileira de Cobre, a Caraíba Metais, a Aracruz e a Celulose Bahia). Nesse mesmo período foi editado o Decreto nº 95.886, de 29.03.88, que dispunha sobre o programa federal de desestatização. 3 Foi, entretanto, com o advento do governo Collor que as privatizações ganharam notável impulso. Assim, foi criado o Programa Nacional de Desestatização, por meio da Medida Provisória 155/1990, convertida na Lei 8.031/1990, várias vezes modificada, até ser revogada e substituída pela Lei 9.491/1997, alterada pelas Leis 9.700/1998, 11.483/2007 e pela Medida Provisória 2.161-35, de 2001, e regulamentada pelo Decreto 2.594/1998, alterado pelo Decreto 7.380/2010, tendo como uma de suas metas reordenar a posição estratégica do Estado na economia, transferindo à iniciativa privada todas as atividades que por ela possam ser bem executadas. De qualquer forma, o alto da privatização deu-se nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, que introduziu reformas para “desafogar” o Estado de atividades que, supostamente, poderiam ser realizadas de modo mais eficiente por particulares, adotando, desta forma, uma ideologia neoliberal. Com efeito, a ideia de enxugamento do Estado foi defendida com grande entusiasmo, devendo o Estado estar restrito a atividades mínimas, o que fez com que a terceirização ganhasse força e fosse utilizada em larga escala pela Administração Pública. Ademais, esta filosofia abriu as portas do País para que o capital privado internacional participasse dos processos de privatizações das empresas estatais. A título de exemplo tem-se o Sistema Telebrás, que teve suas operadoras vendidas para empresas espanholas, portuguesas e italianas. Assim, o grande marco da terceirização no Brasil, no que tange à Administração Pública, é o Plano de Reforma do Aparelho Estatal, que de forma desmedida passou a retirar da alçada da Administração setores de suma importância para a cidadania e segurança do país. A proposição adotada foi no sentido de que “menos é mais”, ou seja, quanto menor for o Estado, mais eficiente e melhor ele será. Entretanto, vê-se que a tentativa de enxugamento estatal a qualquer custo esbarra na necessidade de implementação das atividades administrativas e dos serviços públicos previstos na Constituição de 1988. De toda a sorte, a terceirização foi utilizada em larga escala. Dados do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão indicam a redução do quadro de servidores públicos civis da União. Com efeito, em 1991, os servidores civis ativos da União somavam 661.996, ao passo que até o mês de outubro de 2012 constam 586.887. 2.1. DA TERCEIRIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Como não há um conceito legal de terceirização, uma vez que este é oriundo da ciência da administração, cada doutrinador apresenta uma definição diferente para este fenômeno. 4 Aliás, terceirização é um neologismo, proveniente da palavra “terceiro”, entendido como intermediário, interveniente. Não se refere, pois, ao sentido jurídico de “terceiro”, ou seja, aquele que é estranho a uma relação jurídica. Ao contrário, aqui o “terceiro” é parte na relação jurídica obrigacional instaurada, na medida em que ele será o prestador do serviço, sendo remunerado pelo tomador do serviço, pela atividade realizada. A terceirização é a contratação, por uma dada empresade serviços de terceiros para a execução de atividades-meio da empresa tomadora. Este fenômeno pode dar-se nas empresas privadas e na Administração Pública. Logo, estar-se-ia diante de uma relação trilateral, composta pelo trabalhador, o intermediador de mão-de-obra e o tomador de serviços: o trabalhador presta serviços que serão aproveitados pelo tomador, mas quem lhe dirige e assalaria é o intermediador de mão de obra, com o qual contrata e recebe a remuneração do tomador. Deveras, não há negar que a terceirização traz consequências socialmente nefastas, como a precarização das relações de trabalho, redução do valor gasto no pagamento de salário, fragmentação das relações trabalhistas e utilização abusiva, pois, não raro, o emprego deste expediente se dá com o único propósito de reduzir o custo da mão-de-obra. Terceirização significa, passar para particulares tarefas que vinham sendo desempenhadas pelo Estado. Daí, que este rótulo abriga os mais distintos instrumentos jurídicos, já que se pode repassar a particulares atividades públicas por meio de concessão, permissão, delegação, contrato administrativo de obras, de prestação de serviços etc. Com isto, é bem de ver, falar em terceirização não transmite ao interlocutor a mínima ideia sobre aquilo que está de direito a ocorrer. Isto é, não se lhe faculta noção alguma sobre a única coisa que interessa a quem trata com o Direito: a identificação de um regime jurídico incidente sobre a espécie cogitada. 2.2. DA TERCEIRIZAÇÃO VERSUS CONCURSOS PÚBLICOS O acesso a cargos, empregos e funções públicas deve ser precedido de concurso público de provas ou de provas e títulos. É preciso, contudo, traçar algumas notas sobre o alcance dessa norma, a fim de verificar em que medida a terceirização pode ser considerada como um desrespeito a esse princípio de estatura constitucional do concurso público (CF, art. 37, II) atua como forte limitação ao uso da terceirização no âmbito da Administração Pública. Inicialmente, registre-se que a obrigação de realizar concurso abrange tanto órgãos e entidades da administração direta, autárquica e fundacional, como também empresas públicas e sociedades de economia mista (mesmo que exploradoras de atividade econômica). Isso porque o texto normativo se refere a cargos, empregos e funções – logo, aplica-se não apenas aos casos de recrutamento de servidores (em sentido estrito), mas também de empregados (celetistas). 5 Em suma: a obrigação de realizar contratação de agentes mediante o instrumento do concurso público é aplicável, em qualquer nível federativo: a) administração direta; b) autarquias; c) fundações públicas de direito público; d) fundações públicas de direito privado;e) empresas públicas (exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de serviço público); e f) sociedades de economia mista (exploradoras de atividade econômica ou prestadoras de serviço público). Dessa forma, o inciso II do art. 37 do texto constitucional atua como limite expresso à regra do inciso II do § 1º do art. 173, que estabelece ser aplicável às estatais exploradoras de atividade econômica o mesmo regime das empresas privadas, em relação às obrigações trabalhistas. O regime dr empresas sendo privado, sofre mitigações de regras do Direito Público – entre elas, justamente a obrigação de recrutar mediante concurso. Para o exercício das funções temporárias, em caso de excepcional interesse público (função a ser ocupada por agentes temporários, chamados por parte da doutrina de servidores temporários), a própria CF exclui a obrigatoriedade de concurso público11 Outro caso – questionável, diga-se de passagem – em que se excepcionou o princípio do concurso relaciona-se à seleção de trabalhadores pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Assim, o concurso público é imperativo constitucional para que a Administração Pública não apenas ofereça igual oportunidade aos particulares, cumprindo, desta forma, o princípio da isonomia, mas também para que seja “obtido” aquele que melhor satisfaz o interesse público, dentro do universo de interessados. Sabe-se que a situação atual é a de que os concursos públicos se voltaram basicamente para cargos ou empregos que exigem nível médio ou superior, não subsistindo mais concursos públicos para nível de ensino fundamental, pois estes são preenchidos por terceirizados. Deve-se esclarecer que o disposto no inciso XXI do art. 37 não pode contrariar a regra fixada nos incisos I e II do mesmo artigo. Com efeito, se um ente público pudesse contratar qualquer trabalhador para lhe prestar serviços através de uma empresa interposta, a consequência disto seria a ineficácia plena dos incisos I e II, pois restaria à conveniência do administrador a escolha entre realizar o concurso público ou contratar uma empresa para tanto, a qual se incumbiria de eleger, livremente, conforme ditames de Direito Privado, as pessoas que executariam tais serviços. Para isto torna-se indispensável o processo de licitação: “Inicialmente, para a escolha da empresa e obtenção de menor custo, abre-se licitação a fim de estudar detalhadamente cada possibilidade. Nesta etapa, verifica-se se os funcionários que irão exercer os ofícios delimitados têm todos os direitos trabalhistas respeitados. Desse modo, caminha-se para o fechamento de contrato segundo a concessão, permissão ou autorização. 6 2.3.DO DISCRÍMEN COSNTITUCIONALMENTE ASSEGURADO Existe um fator de discrímen claramente inserido na Constituição de 1988 e este não consiste na relação entre atividade-fim e atividade-meio. Assim, há um fator constitucional que aparta as atividades administrativas, a saber, existem atividades permanentes e atividades temporárias.O art. 37, IX da Constituição admite a existência de contratação temporária, o que demonstra que as atividades administrativas podem ser realizadas em caráter permanente ou em temporário, eventual, episódico. Desta forma, há um critério discriminador constitucional, qual seja, atividades permanentes e atividades temporárias.Ou seja, a própria Constituição definiu um norte (inicial) para a distinção entre atividades terceirizáveis e atividades não-terceirizáveis. Repise-se que, em momento algum, a Constituição de 1988 estabelece, ainda que indiretamente, a distinção entre atividade-fim e atividade-meio, mas, claramente, reconhece a diferença entre atividade temporária e atividade permanente. Este critério que diferencia as atividades permanentes das atividades temporárias, entretanto, isoladamente considerado, é insuficiente para apartarmos as atividades terceirizáveis das não terceirizáveis. Isto é, não se pode afirmar que todas as atividades permanentes administrativas não sejam terceirizáveis, embora se possa afirmar que todas as atividades temporárias o são. Para que haja um vetor seguro na distinção entre atividades terceirizáveis e atividades não-terceirizáveis, é necessário, ainda, se conjugar outro critério, também constitucionalmente assegurado, a saber, o critério de a atividade ser interna ou ser uma atividade externa. De fato, todos sabem que existem atividades prestadas de forma intestina (para si próprio) e existem atividades desempenhadas de modo exterior (para fora). Assim, temos quatro combinações possíveis de atividades administrativas “recrutadoras” de pessoal, de acordo com os critérios constitucionais acima expostos. São elas: (a) atividade interna e permanente; (b) atividade externa e permanente; (c)atividade interna e temporária; e(d) atividade externa e temporária. Os critérios acima descendem diretamente da Constituição e, a nosso ver, são os únicos que podem, validamente, apartar o que é terceirizáveldo que não é terceirizável.No que vibra ao aparato humano a Constituição estabeleceu os regimes para que possa haver recrutamento de pessoal. 7 A Constituição não instituiu os regimes estatutário, celetista e especial para que estes possam ser livremente substituídos pela terceirização por meio de uma empresa privada. Discricionariedade alguma pode ser tão ampla a ponto de aniquilar o mandamento constitucional. 2. DAS ATIVIDADES (NÃO) TERCEIRIZÁVEIS Nossa proposição para apartar as atividades terceirizáveis das não-terceirizáveis parte das quatro possibilidades estabelecidas pela Constituição de 1988, no que tange às atividades administrativas que envolvam recursos humanos, quais sejam:(a)atividade interna e permanente; (b) atividade externa e permanente; (c) atividade interna e temporária; e (d) atividade externa e temporária. Esclareça-se que estamos a tratar das atividades administrativas que diretamente envolvam recursos humanos (instrumentalização da Administração através de recursos humanos), pois, quanto às demais atividades administrativas (poder de polícia, serviços públicos, fomento e atividade notarial e registral), seu regime é diverso e não cabe ser tratado neste verbete. O art. 37, XXI, da Constituição da República estabelece expressamente a possibilidade de se contratar obras, serviços, compras e alienações mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes. A Administração Pública, para sua adequada sobrevivência e correta observância do interesse público, necessita de pessoal permanente para o melhor desenvolvimento de suas atividades. O princípio do concurso público não visa a atender interesse secundário da Administração Pública, mas o próprio interesse público primário, sendo a sociedade a grande beneficiária da melhor contratação por parte da Administração. De fato, os trabalhadores terceirizados possuem relação de dependência com a empresa contratada pela Administração (e não com a Administração). Desta forma, dentro da estrutura hierárquica da Administração Pública, os terceirizados são completos alienígenas, já que se submetem aos comandos da empresa privada empregadora e não à autoridade dos agentes públicos. Ademais, a terceirização de serviços implica a possibilidade de se “trocar” o prestador de serviços todos os dias, ao longo de todo o contrato. Assim, é possível que a cada dia da semana um trabalhador diferente ingresse na repartição pública para o exercício de alguma atividade. Dentro do aparato administrativo, a hierarquia, como princípio estrutural, deve ser mantida em todas as hipóteses. Logo, admitir a terceirização para atividades permanentes e internas é acolher uma subversão ao princípio hierárquico. 8 E se não faz parte do aparato administrativo, não pode existir servidor ou empregado público destacado para o exercício de um serviço episódico, fora de suas atribuições legais. Esse tipo de serviço (interno e temporário) não exige um posto de trabalho residente, pois se a Administração necessitar de um técnico residente para a realização destes serviços, a Constituição obriga-a à realização de concurso público, já que estar-se- ia diante de uma atividade permanente, regular e interna da Administração. No que tange às atividades externas e permanentes, estas, igualmente, são caracterizadas como serviços, já que alheias à esfera da vida cotidiana da Administração Pública. Os serviços externos e permanentes são aqueles voltados para a sociedade em geral. Não estamos aqui a tratar dos serviços públicos em sentido estrito, pois estes, como averbamos anteriormente, têm regime próprio, sendo assegurada sua terceirização nos moldes garantidos pela Constituição de 1988. Os serviços externos e permanentes são os necessários para a manutenção das vias públicas, dos parques, das praças, das praias, da localidade em que se vive. São, em verdade, serviços públicos uti universi. Assim, são exemplos de serviços externos: a limpeza pública, a manutenção de semáforos, a limpeza das bocas de lobo, o cultivo da jardinagem das praças, a inserção de radares para fiscalização da velocidade etc. 3. A QUESTÃO ESPECÍFICA DA TERCEIRIZAÇÃO NAS ATIVIDADES MEIO À luz da legislação atual, é ilícita a terceirização, quando haja, nos quadros de pessoal do órgão ou entidade, cargo ou emprego que possa desempenhar a atribuição objeto da contratação. Isso se dá não apenas com base na legislação infraconstitucional, mas por conta da incidência de princípios constitucionais. Isto é: a lógica desse entendimento não é, nem pode ser alterada por mera modificação em nível infraconstitucional. Não se pode, em suma, ler o inciso II do art. 37 da CF à luz da Lei; deve-se, ao revés, analisar a Lei (resultante da possível aprovação do PL) à luz do princípio do concurso público. Assim, não basta que a atividade objeto de terceirização corresponda a uma atividade-meio; é preciso que, além disso, também não haja previsão de função equivalente no plano de cargos, empregos e funções do órgão ou entidade. A vedação à terceirização, quando exista subordinação, pessoalidade ou habitualidade da prestação dos serviços é justificada por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, para quem essa referência “é importante para distinguir a terceirização lícita (sob a forma de prestação de serviço) da ilícita (sob a forma de fornecimento de mão de obra)”. Acrescenta a autora, inclusive, que “[s]e estiverem presentes esses requisitos, surge o vínculo de emprego, por estar caracterizada a contratação de trabalhador por interposta pessoa em resumo, portanto, a terceirização só é admitida na Administração Pública, sem violar o núcleo essencial do princípio do concurso público, quando cumpridas cumulativamente as seguintes condições: a) tratar-se de atividade-meio; b) não constante do quadro de cargos, 9 empregos e funções do órgão ou entidade; e c) inexistentes a pessoalidade, a habitualidade e a subordinação direta. 1.1 O CASO ESPECÍFICO DAS EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA Em relação às empresas públicas e sociedades de economia mista, o substitutivo aprovado pela Câmara dos Deputados ao PL nº 4.330, de 2004 (numerado como PL nº 4.330-A, de 2004), estabelece-se um tratamento distinto, de acordo com a entidade administrativa tomadora dos serviços terceirizados. Em relação aos órgãos da administração direta, às autarquias e fundações públicas, a terceirização aplica-se “no que couber” (o que quer que isso signifique). Já em relação às empresas públicas e sociedades de economia mista, a Lei teria aplicação integral (art. 1º, § 2º, I e II, do PL nº 4.330-A, de 2004). Quanto às últimas, aliás, sequer se distingue entre as estatais prestadoras de serviço público e as exploradoras de atividades econômicas. Essa previsão só se mostra compatível com a Constituição caso seja lida no seguinte sentido: a Lei não se aplica à administração direta, autárquica e fundacional apenas excepcionalmente (ou, na versão do primeiro substitutivo, aplica-se “no que couber”); e às estatais aplica-se nas regras de procedimento e garantias (“integralmente”) – mas apenas em relação às atividades-meio não previstas no quadro. de pessoal da entidade e que não pressuponham a habitualidade, pessoalidade ou subordinação hierárquica do prestador do serviço. Seria possível tentar ampliar a terceirização nas estatais exploradoras de atividade econômica, com fundamento no inciso II do § 1º do art. 173 da CF, segundo o qual a tais empresas se aplica “a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistase tributários”. Porém, o STF possui pacífica jurisprudência no sentido de que essa previsão deve ser mitigada pelo inciso II do art. 37, que exige o concurso público mesmo para o provimento de empregos públicos. À luz dessas observações, é possível sustentar que às estatais exploradoras de atividades econômicas aplica-se um regime jurídico trabalhista de pessoal, mas mitigado por algumas regras de Direito Público (entre elas, justamente, o concurso público) Não se pode negar, entretanto, que a natureza empresarial dessas entidades e o objeto social de exploração de atividade econômica (em competição com agentes privados) dá suporte à defesa de que a aplicação da terceirização seja, aqui, mais justificada que na administração direta. É preciso, em outras palavras, compatibilizar o princípio do concurso com a livre iniciativa que é parcialmente aplicável a essas empresas. Consideramos, assim, que a terceirização deva ser considerada absolutamente excepcional, no âmbito da administração direta, autárquica e fundacional, abrangendo apenas os serviços comuns. Mas, em relação às estatais exploradoras de atividade econômica, pode-se sustentar – sempre numa leitura constitucional do tema – a– a admissão da terceirização de atividades-meio. E, ainda assim, desde que não haja subordinação hierárquica, habitualidade ou pessoalidade na prestação do serviço terceirizado. É preciso, assim, utilizar a técnica hermenêutica da interpretação conforme a Constituição Isso, claro, só é possível se se considerar viável a leitura que aqui propomos. Com efeito, 10 a técnica da interpretação conforme só é possível quando a norma for polissêmica (isto é, possuir mais de um significado possível) e pelo menos uma dessas para sustentar que as disposições do PL nº 4.330, de 2004 (e, mais ainda, as do substitutivo PL nº 4.330-A, de 2004) sejam lidas à luz da CF. Só assim, cremos, será possível evitar a declaração de inconstitucionalidade pura e simples da norma gerada com a possível aprovação da proposta. Não obstante, embora a terceirização não possa vir a ferir preceitos da Declaração Universal dos Direitos dos Homens nem Constituição, constata-se nesse universo práticas contrárias, que tratam o terceirizado como ser “anormal”, portanto, tendo direitos ou tratamentos não normais, por exemplo, da remuneração diferenciada, na maioria das vezes menor, daqueles que fazem parte do quadro da entidade. Para tanto, não podemos deixar de salientar a avaliação da necessidade de terceirização, já que ainda este envolve recursos públicos capitado pelas premissas de tributação, a terceirização está longe de atingir somente aqueles envolvidos diretamente. CONCLUSÃO Conclui-se que o PL nº 4.330, de 2004, deve ser lido à luz da Constituição, para se afastar qualquer interpretação que permita a terceirização de atividades-fim, ou de funções constantes de quadro de pessoal dos órgãos e entidades administrativas, ou, ainda, que importem relação de pessoalidade, habitualidade ou subordinação hierárquica. Defendemos, assim, a interpretação do texto do PL à luz da Constituição, para se compatibilizar as instalações legais com o princípio do concurso público (CF, art. 37, II). Porém, como a interpretação conforme a Constituição pode ser controversa – por ser possível defender a inconstitucionalidade pura e simples da atual. FONTES DE CONSULTA Disponível em: < https://www.sollicita.com.br/Noticia/?p_idNoticia=10853&n=a-lei- 13.429/17-e-aterceiriza%C3%A7%C3%A3o-na-administra%C3%A7%C3%A3o- p%C3%BAblica> Acesso em 6 out. de 2018 Disponível em: < https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/5/edicao-1/terceirizacao- na-administracao-publica> Acesso em 6 out. de 2018 Disponível em: < http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2054228.PDF>. Acesso em 6 out. de 2018 Disponível em: < https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos- de-estudos/textos-para-discussao/td173>. Acesso em 6 out. de 2018
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