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Ponto 6 - Civil

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Ponto 6 - Civil
Negócios Jurídicos. Conceito. Elementos de Existência. Pressupostos de Validade. Representação. Condição. Termo. Encargo. Defeitos. Invalidade.
NEGÓCIOS JURÍDICOS
(cf., principalmente: COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 36-66)
Fatos jurídicos (amplo): são os acontecimentos, naturais ou não, geradores de repercussões no mundo do direito.
	Dividem-se em:
Fato jurídico strictu sensu: acontecimento involuntário, independente de ATO humano, decorrente da natureza, que produz efeitos jurídicos. O ato humano é desnecessário, ainda que, eventualmente, esteja presente. Ex.: morte, raio.
		( dispensa ATO HUMANO
Ato-fato jurídico: o ato humano é essencial para a sua existência, mas cuja produção de efeitos independe da VONTADE. A vontade inexiste, ou, se existe, é desnecessário (Ex: pesca).	
		( ATO HUMANO, e dispensa VONTADE
Ato jurídico (em sentido amplo): é o ato humano lícito que cria, modifica, conserva ou extingue direitos, decorrente da vontade do homem. Teoria dualista (sistema alemão)
		( VONTADE
Ato jurídico em sentido estrito: gera as consequências previstas em lei, sem qualquer regulamentação da autonomia privada. (efeitos jurídicos pré-fixados). Diz Couto: “O ato jurídico em sentido estrito é o ato humano lícito, que produz efeitos jurídicos, mas efeitos determinados pela norma legal, não escolhidos pelo manifestante ou manifestantes” (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 37)
Ex. domicílio, reconhecimento de filhos. 
		( EFEITOS PRE-FIXADOS
Negócio Jurídico: é ato de autonomia privada, onde o particular pode escolher os efeitos jurídicos do ato. Ex. contrato. 
					( LIBERDADE DE ESCOLHA DE EFEITOS 
	
CONCEITO DE NEGÓCIO JURÍDICO
	- “É o ato livre e lícito da vontade humana, criando, modificando, conservando ou extinguindo direitos. Neles existe campo para atuação da autonomia da vontade; a parte ou as partes terão possibilidade de escolher, no todo ou em aspectos relevantes, efeitos jurídicos que serão produzidos pelo negócio”. (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 37)
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
	I – Unilaterais, bilaterais e plurilaterais;
	II – Inter vivos ou mortis causa;
	III – Gratuitos ou onerosos;
	IV – Informais ou formais.
	Sobre os negócios jurídicos, Guilherme Couto fala em:
	I - elementos essenciais: essenciais à existência ou à validade;
	II - elementos naturais: são decorrência do próprio negócio jurídico e das regras legais que o cercam. Ex: garantia contra os riscos da evicção, nos contratos onerosos;
	III – elementos acidentais: cláusulas apostas no negócio, modificando seus aspectos não essenciais. São fruto da pura autonomia da vontade, e alteram aspectos naturais da manifestação de vontade.
	Os atos jurídicos não comportam elementos acidentais, exatamente por que não permitem espaço para a escolha de efeitos jurídicos pelo interessado ou interessados. Só os negócios jurídicos podem recebê-los.
INTERPRETAÇÃO	
	Ato jurídico em sentido estrito: manifestação de vontade não pede interpretação. Não é necessário e não há espaço para interpretar a vontade; o relevante é aferir se a vontade foi validamente exarada. 
	Negócio jurídico: a interpretação é própria deste instituto. Nesse sentido, há o art. 112:
	“Art. 112 Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas constantes do que ao sentido literal da linguagem utilizada”.
	Negócios jurídicos benéficos e a renúncia: devem ser interpretados estritamente.
	Boa-fé: interpretação conforme a boa-fé e os usos locais.
	Reserva mental: é a objeção mantida por alguém em relação à sua própria manifestação de vontade. É também conhecida como reticência. Neste caso, mantém-se a manifestação de vontade externada. Exceção: se o destinatário tiver conhecimento da reserva legal, esta prevalecerá sobre o que se manifestou (art. 110).
	Situação: seguradora exige que só pagará ao beneficiário se ele declarar a quitação. Após exteriorizar a objeção, o segurado assina a quitação, mas mais tarde consegue obter a diferença em juízo, pois a reserva era conhecida do destinatário.
	Relação da reserva e semelhança com a simulação: empregada pede declaração de emprego. Trabalhou 7 meses, mas precisa que se declare 1 ano. A patroa manifesta reticência, mas faz a declaração. É claro, entretanto, que se a ex-empregada usar o documento em ação trabalhista contra a ex-patroa, esta pode mostrar que o trabalho efetivo foi de sete meses.
ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
	- Todo e qualquer fato jurídico passa por diferentes planos, que são autônomos e distintos. 
	a) existência
	b) validade
	c) eficácia
	
	Essa classificação foi desenvolvida por HANS KELSEN, e trazida para o Brasil por PONTES DE MIRANDAS. 
	O PLANO DE EXISTÊNCIA é o plano do ser (ontológico). 
	A inexistência diz respeito à falta de elementos fundamentais, por isso o inexistente é o não-ato. O negócio jurídico inexistente é o que não possui os elementos fáticos que a sua natureza supõe e exige como condição existencial.
	Embora o CC não mencione expressamente o plano de existência, é aceito pela doutrina. 
	Não existindo juridicamente, o negócio sequer precisará ser destituído judicialmente, porque a inexistência é o “não ser”. 
	São quatro os elementos de existência: 
	I - manifestação da vontade consciente
	II - agente
	III - objeto
	IV - forma
( a vontade não exteriorizada nenhum efeito poderá produzir no plano concreto. 
PRESSUPOSTOS DE VALIDADE
	Segundo o art. 104 do CC, a validade do negócio jurídico requer:
	
	I – Agente capaz;
	II – Objeto lícito e possível;
	III – Forma prescrita ou não defesa em lei.
	Incapacidade: sabe-se que é nulo o ato praticado pelo absolutamente incapaz e anuláveis os atos praticados, sem a assistência de quem de direito, pelos relativamente incapazes.
	“Art. 105 do CC – a incapacidade relativa de umas das partes não pode ser invocada pela outra em proveito próprio, salvo se for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum”. (A incapacidade absoluta gera nulidade, declarável ex officio).
	Crítica de Guilherme Couto: mesmo em caso de absoluta incapacidade seria possível pensar na solução determinada pelo art. 105 do CC. Ex: X, interditado por sentença como absolutamente incapaz, contrata posteriormente um seguro contra roubo de sua bicicleta, sem estar representado por curadora. Ocorrendo o roubo, a seguradora – que antes nunca apurara a incapacidade – nega-se a cumprir o contrato, alegando-o nulo, embora o interdito tenha pago pontualmente o prêmio do seguro. Será razoável que o juiz pronuncie nulo, de ofício, o contrato, acatando a perspectiva da seguradora, que apenas quer devolver a prestação? Para G. Couto, parece evidente que não – o sistema de incapacidade objetiva a tutela do protegido, e não pode ser utilizado para agredir os direitos de quem é o beneficiário da norma. (Está em: COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 40)
	Forma: não há, em regra, qualquer forma determinada, salvo previsão legal. Podem também as partes estipularem a necessidade de forma (art. 109).
	Há duas situações para a forma:
situação em que a lei a exige como requisito de validade do ato (forma ad solemnitatem). Ex: contrato de fiança – forma escrita (solene) é obrigatória.
situação em que a lei exige apenas a prova do negócio, se necessária (forma ad probationem). Ex: contrato de depósito – deve ser provado por escrito, mas o contrato verbal é válido.
	Conforme MARCOS BERNARDES DE MELLO o rol é impreciso e insuficiente, pois há outros requisitos de validade além dos previstos no art. 104, como os previstos no art. 166.
	A classificação mais coerente seria: (i) manifestação de vontade livre e de boa-fé: (ii) agente emissor da vontade capaz e legitimado para o negócio: (iii) objeto lícito, possível e determinado: (iv) forma adequada (livre ou legalmente prevista).
	Os elementos de validade qualificam ou adjetivamos elementos de existência.
Manifestação de vontade livre e de boa-fé: os vícios do negócio jurídico atacam a liberdade de manifestação da vontade ou boa-fé. São eles: erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo.
	Dois princípios devem estar conjugados na manifestação de vontade: o princípio da autonomia privada (ligada à liberdade negocial) e o princípio da boa-fé (que limita a autonomia de vontade. Ex. dolo, ato praticado em aproveitamento da inexperiência - lesão -, ou do desespero da outra - estado de perigo -).
	A boa-fé veio positivada no art. 422 do CC e é um estado ético, ao contrário da boa-fé subjetiva (estado psicológico, como por exemplo os artigos sobre a posse de boa-fé, vícios ocultos etc).
Agente emissor capaz e legitimado para o negócio: desde que plenamente capaz, a pessoa física ou jurídica (mediante o registro dos atos constitutivos) poderá praticar atos e celebrar negócios em geral. A pessoa natural, se lhe faltar plena capacidade (arts. 3° e 4o), poderá ser assistida ou representada.
	Entretanto, não basta a capacidade do agente, é preciso ainda que ele não esteja circunstancialmente impedido de celebrar o negócio, não obstante goze de plena capacidade. Deverá, ter, também, legitimidade. Esse conceito foi desenvolvido pelos processualistas e espraiou efeitos para o direito civil. 
	CAIO MÁRIO DA SILVA a designa como impedimento. Como hipóteses de ausência de legitimidade, pode-se citar: o tutor, plenamente capaz, que não pode, mesmo em hasta pública, adquirir bens do tutelado; dois irmãos, maiores e capazes, não podem se casar; o excluído da sucessão por indignidade, mesmo sendo capaz, não pode herdar da pessoa em relação à qual é considerado indigno, etc.
	A consequência da violação é a invalidade do negócio realizado (ex. arts. 1647, 1648 e 1649 do CC).
Objeto lícito, possível e determinado ou determinável: há sinonímia entre licitude e possibilidade jurídica do objeto, de acordo com PABLO STOLZE GAGLIANO e RODOLFO PAMPLONA FILHO.
	Assim, um contrato que tenha por locação um imóvel para exploração de atividade sexual é nulo por ilicitude do objeto. Na verdade, a causa do contrato (chamada de motivo comum para ambas as partes) é que o torna nulo (art. 166, CC).
	O objeto deve ser, ainda, fisicamente possível. Apenas a impossibilidade absoluta é que invalida o negócio.
	A determinabilidade do objeto significa que o mesmo deve conter elementos mínimos que permitam identifica-lo. Objeto determinável é aquele que não precisa ser especificado, como a qualidade do café vendido (se do tipo A ou B), mas apenas o seu gênero (café) e a quantidade (em sacas).
Forma adequada (livre ou legalmente prevista. "não defesa em lei" = "não proibida pela lei"): o direito civil consagrou o princípio da liberdade das formas (art. 107). Assim, os negócios podem ser celebrados de acordo com a conveniência da forma preferida pelas partes. Os negócios formais ou solenes não são a regra em nosso direito.
	É importante observar que a forma (elemento de existência do negócio) não se confunde com a adequabilidade da forma (elemento de validade). Violado um determinado tipo de forma que a lei impõe, a conseqüência será a invalidade do negócio.
	O negócio é solene (ad solemnitatem) quando a lei impõe determinado revestimento para o ato, traduzindo-se numa forma especial ou em uma indispensável solenidade (requisito de validade), como o testamento (negócio jurídico unilateral), que a lei impõe formas específicas (pública, cerrada ou particular) e os contratos translatícios de propriedade (art. 108 CC).
	FLÁVIO TARTUCE diferencia solenidade de formalidade. A solenidade ocorre quando a lei impõe a necessidade de ato público para o ato (escritura pública). A formalidade exige qualquer forma apontada pela lei, como a forma escrita. A forma seria gênero e a solenidade espécie.
	A forma é ad probationem quando apesar da forma não preponderar sobre o fundo, deverá ser observada para efeito de prova do negócio jurídico, como a prova escrita quando o valor do contrato exceder o décuplo do salário mínimo (art. 401 CPC e art. 227 CC). As partes dão ao negócio uma forma mais solene do que a exigida pela lei com o intuito de melhor prova do ato.
	A violação à forma acarreta a nulidade absoluta do negócio, salvo quando a lei impuser uma sanção menos onerosa, como diz CUSTÓDIO DA PIEDADE UBALDINO MIRANDA.
	
		PLANO DA EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
	São elementos particulares dos negócios jurídicos, apostos pelas partes e que dependem de um fator externo que desencadeia ou retira a eficácia do negócio.
		ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
CONDIÇÃO 
	“É a cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e incerto”. (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 42)
	Ex.: recebimento de certo valor pelo atleta se o time for campeão; cláusula do contrato de locação – que admite que o locatário possa sair do imóvel antes de findo o prazo e sem pagar multa se, por força do emprego, tiver de mudar de cidade.
	Apenas é correto falar em condição quando a subordinação do negócio, ou parte dele, a evento futuro e incerto decorre da vontade humana. 
	Assim, no contrato de seguro, a cobertura prevista para ressarcir evento futuro e incerto, se ocorrer não é uma condição – não se tem elemento acidental, mas a própria caracterização do seguro, de tal modo que a disciplina do assunto é a específica.
	Cláusula penal: pode ser encarada como uma condição especializada, assim como cláusulas de resgate, de garantia, cláusulas compromissórias.
	Os negócios jurídicos admitem as mais variadas condições, ao passo que não ocorre o mesmo com os atos jurídicos em sentido estrito. Não é cabível, pois, a adoção sob condição, o casamento condicional etc.
	CLASSIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES
	
	I - CONDIÇÕES POSSÍVEIS OU IMPOSSÍVEIS
	A possibilidade da condição pode ser analisada tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista jurídico. Por exemplo, a condição fisicamente impossível tem como exemplo “dar um salto e tocar a lua com a mão”.
	Quanto à condição juridicamente impossível, o NCC restringiu a definição anteriormente feita pelo CC16. Este tratava a condição juridicamente impossível de forma ampla, abarcando as condições ilícitas. Hoje, isso não mais prevalece, pois houve uma diferenciação entre ambas.
	A condição juridicamente impossível não é a ilegal, ilícita, mas aquela que carece de um requisito no caso concreto. Ex: adoção de pessoa cuja diferença para o adotante é menor que 16 anos. A condição, em si, não é ilegal, não é ilícita, mas encontra um obstáculo legal.
	II - CONDIÇÕES ILÍCITAS
	As condições ilícitas são aquelas que contrariam a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: estabelece-se a condição “se você matar alguém” para que o negócio tenha efeitos.
	Quando se trata de condições ilícitas, pode-se englobar também aquelas condições que são tidas pelo código como proibidas. São as condições perplexas, incompreensíveis ou puramente potestativas.
	
	As condições perplexas são aquelas que, quando concretizadas, fazem o negócio jurídico perder a sua essência, privando-o de efeitos, ou seja, são contraditórias com a natureza do negócio. Ex.: vendo o imóvel se você não morar lá.
	As condições incompreensíveis são aquelas ininteligíveis.
	Por fim, são também ilícitas as condições puramente potestativas, ou seja, aquelas que sujeitam os efeitos do negócio jurídico ao arbítrio exclusivo de uma das partes.
	Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico (PERPLEXAS), ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (PURAMENTE POTESTATIVAS).
	
	III - CONDIÇÕES CASUAIS, POTESTATIVAS E MISTAS
	As condições casuais referem-se a um evento da natureza.
	As condições potestativas caracterizam-se pela subordinação da eficácia do negócio jurídico à vontadede uma só das partes. Podem ser puramente potestativas ou meramente potestativas.
	
	Condições puramente potestativas (ilícitas): caracterizam-se por mero capricho (“se eu quiser”), dependem do arbítrio exclusivo de uma das partes. Desequilibram o negócio jurídico, por isso são nulas. 
	Exemplos de condições puramente potestativas (nulas):
	i – cláusula de contrato de concessão de crédito que autoriza, “se o mutuário não adimplir”, empresa do grupo da credora a emitir título representativo da dívida, com todos os acréscimos, apto a ser protestado e executado (Súmula 60 do STJ);
	ii – cláusula de contrato de compra e venda de imóvel, celebrado durante a construção, prevendo que, se o incorporador, até um ou dois anos após pronto o prédio, não vender todas as unidades, fica exonerado de pagar a cota condominial relativamente aos imóveis ainda não alienados;
	iii – em acordo de separação, no qual os pais doam imóvel aos filhos, a cláusula assinalando que a doação poderia ser desfeita a qualquer tempo, pela vontade única dos doadores.
	Condições meramente potestativas (lícitas): aqui há a dependência de um elemento externo para a manifestação de vontade da parte. Em outras palavras, a eficácia do ato está subordinada à vontade de uma das partes, mas não à vontade arbitrária, e sim à vontade que depende de circunstâncias objetivas e razoáveis, que não submetam uma parte ao arbítrio de outra e não provoquem o desequilíbrio negocial. Ex.: renovação da locação de ponto comercial - “se o inquilino quiser”. A renovação depende da vontade da parte e também da análise do movimento de clientes naquele ponto.
	As condições mistas dependem da vontade de uma das partes e também da vontade de um terceiro. Estas são permitidas. Ex: Só lhe vendo X se você fizer sociedade com Y.
	IV - SUSPENSIVAS OU RESOLUTIVAS
	A condição suspensiva subordina o início da eficácia do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Ex.: alugo-lhe apartamento se o Palmeiras for campeão. Ou seja, enquanto não houver terminado o campeonato e verificado se o Palmeiras foi campeão, a eficácia do ato está suspensa. 
	A resolutiva subordina a persistência do negócio jurídico a um evento futuro e incerto. Ex.: a venda se resolverá se gear na semana que vem. O ato produz efeitos desde logo.
	Na condição suspensiva, há apenas expectativa de direito. A outra parte tem direito a medidas protetivas, mas não existe direito adquirido ainda. Já na condição resolutiva, há direitos adquiridos, os quais se perdem com o evento.
	CONDIÇÃO SUSPENSIVA – EXPECTATIVA DE DIREITO
	CONDIÇÃO RESOLUTIVA – DIREITO ADQUIRIDO, O QUAL SE PERDE COM O EVENTO
	CONSEQÜÊNCIAS DA CONDIÇÃO (122-24)
	São condições que invalidam o negócio jurídico:
	I – Condições física ou juridicamente impossíveis, desde que sejam suspensivas
	Já que essas condições não vão gerar efeito algum, considera-se completamente inválido o negócio jurídico desde o começo.
	II – Condições ilícitas (ilegais, perplexas, incompreensíveis, puramente potestativas), não importando se são suspensivas ou resolutivas
	Por outro lado, são condições consideradas não escritas, não invalidando o negócio jurídico:
	I – Condições impossíveis, quando resolutivas;
	Nessa situação, o negócio jurídico gera efeito desde o começo. A condição, por ser impossível, é afastada. Se fosse ilicitude, o negócio seria desde logo nulo (pois a condição ilícita implica nulidade desde o início, seja resolutiva ou suspensiva).
	II – Condição de NÃO FAZER COISA IMPOSSÍVEL (quando suspensiva)
	Fazer coisa impossível é um nada jurídico. Logo, a condição é afastada, apenas se resolutiva. Se for suspensiva, o negócio segue, porque o “fazer coisa impossível nunca ocorrerá”. 
	Mas “não fazer coisa impossível” nunca ocorrerá, então não acontece nada.
	Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível (suspensivas).
	
	Nesses casos, deve-se observar se o contrato continuará produzindo efeitos. Se isso for possível, o negócio não será invalidado.
TERMO
	É também um elemento de subordinação dos efeitos do negócio jurídico, mas a um evento futuro e CERTO. “Termo, no âmbito dos negócios jurídicos, é o dia de início ou do final da sua eficácia” (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 45).
	O termo será termo desde que se refira a evento que, de antemão, já se saiba que vai ocorrer. Ex: morte, data.
	Isso tem uma importância nas obrigações, pois, por exemplo, se o termo é previamente datado, a mora se opera automaticamente. Nos outros casos, deve haver notificação.
	O termo pode ser inicial (“a quo”) ou final (“ad quem”). Têm correlação, respectivamente, com a condição suspensiva (a produção do efeito está ligada à observância do evento futuro e certo) e com a condição resolutiva (deixará de produzir efeitos com a ocorrência do evento).
	
	A diferença do termo inicial para a condição suspensiva é que naquele já há direito adquirido, pois o evento é certo.
	Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
	PRAZO
	A partir do art. 132, o NCC prevê regras de prazo. Prazo é o período de tempo entre os termos. Meado é a metade, mas se for em mês é o dia 15. Prazo em hora se conta em minutos. Prazo em mês e ano conta no mesmo dia do mês ou ano. Ex: prazo de 90 dias é diferente do prazo de 3 meses.
	Quando se diz que o termo é elemento acidental (não essencial) do negócio jurídico, isso não significa que o negócio jurídico não tem começo nem fim.
	Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
	§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
	§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
	§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.
	§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.
	
	Prazos nos contratos: se presumem em proveito do devedor. 
ENCARGO
	“É um dever jurídico, atribuído pelo autor de uma liberalidade ao seu beneficiário, que a ela fica vinculado. Nas palavras de Orlando Gomes, “ é o ônus aposto a uma liberalidade”, pois apenas é possível falar-se em encargo quando exista uma liberalidade; o dever contraposto a prestações onerosas, existente, por exemplo, em contrato de locação ou empreitada, evidentemente não é encargo” (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 46).
	Pode existir em qualquer liberalidade, embora seja mais frequente na doação ou no testamento.
	ENCARGO – CONTRAPARTIDA A UMA LIBERALIDADE
	O autor da liberalidade impõe uma prestação a cumprir (dar, fazer ou não fazer). Essa prestação é uma contrapartida. A liberalidade produz seus regulares efeitos, e, depois, vai ser verificado o cumprimento da prestação. Ex.: doação de terreno. A pessoa deverá construir ali um clube.
	
	A outra parte não é obrigada a aceitar a doação com encargo. No entanto, se aceitar, o encargo será uma obrigação. Como toda obrigação, caso a descumpra, será possível exigir seu cumprimento.
	
	A novidade está no artigo 553, parágrafo único: se o encargo tiver interesse social, na falta do doador (morte), o MP poderá exigir seu cumprimento coativo. SE O DOADOR HOUVER MORRIDO.
	O descumprimento do encargo pode levar também ao desfazimento da liberalidade. É a chamada REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO. Cumpre-se aqui o mesmo papel da condição resolutiva (555).
	No entanto, a revogação da doação gera efeito ex nunc, enquanto a condição resolutiva gera efeito ex tunc.
REPRESENTAÇÃO
	É o instituto jurídico por força do qual alguém fala em nome de outrem. Há regras gerais na parte geral, mas há também regras especiais na parte especial. Ex.: representação legal está na parte do Direito de Família; e a representação convencionalestá na parte de Contratos (mandato).
	O NCC partiu da premissa de que a representação convencional estivesse presente essencialmente no contrato de mandato. Tanto é verdade que se parte do pressuposto que dizem que o instrumento do mandato é a procuração. Mas isso não deve ser encarado como tecnicamente correto. A procuração é o instrumento da representação, a qual pode estar fora do contrato de mandato.
	- Contrato consigo mesmo: pacto no qual alguém faz ajuste como representante do outro contratante e ainda aparece no outro polo, já aí em seu próprio nome. 
	- em tese é anulável o contrato, salvo se o permitir a lei ou o representado. 
	Elementos essenciais da representação:
	A – Outorga do poder de representar: negócio jurídico abstrato sem qualquer dependência quanto ao negócio jurídico subjacente.
	A outorga do poder de representar é negócio unilateral, receptivo e abstrato.
	Representação legal – o poder de representar não se origina da manifestação de vontade do representado, porque esta está ausente, e sim do preceito legal.
	Formas de outorga da procuração: princípio da autonomia x princípio da simetria das formas.
	Brasil: princípio da autonomia; porém de forma mitigada, em razão do art. 657: “A outorga do mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado (...)”.
	B – Contemplatio dominii: consiste no atuar perante outrem como representante do outorgante do poder representativo, o dominus negotii.
	C – A vontade de contratar: a vontade manifestada é a do representante. Encontra-se balizada pela vontade do representado.
	REPRESENTAÇÃO X CONTRATO DE MANDATO
	
	REPRESENTAÇÃO
	MANDATO
	- negócio jurídico unilateral;
	- é contrato (bilateral);
	- origem: lei ou autonomia da vontade;
	Origem: vontade das partes;
	Elementos: 
i – poder de representar;
ii – contemplatio dominii;
iii – vontade de contratar
	Há mandato sem representação. Ex: mandato em causa própria – a outorga dos poderes tem por escopo a consecução e execução de negócio jurídico celebrado entre representante e representado no interesse do representante.
	A outorga do poder tem como conteúdo os poderes que irão embasar e delimitar a atividade do representante.
	Tem como objeto uma prestação: obrigação de fazer, de dar coisa certa ou incerta etc.
	A primeira regra fundamental (116) é que o representante deve agir nos limites dos poderes que lhe foram conferidos, ou seja, ele só obriga o representado se agir nos limites dos poderes que possui. Esta é a ideia trazida pela TEORIA DOS ATOS ULTRA VIRES. O representado não se obriga por atuação do representante além dos poderes conferidos por meio da lei ou de convenção.
	Por essa razão, quem negocia com representante deve exigir prova da representação, de forma a constatar se o representante está agindo nos limites dos poderes que lhe foram conferidos. Se a representação for legal, deve comprovar, por exemplo, que é, de fato, pai, mãe (certidão de nascimento), tutor. Já na representação convencional, a prova da representação se faz pela procuração.
	
	Caso não se exija a prova da representação ao representante, a outra parte não poderá alegar boa-fé. Ao mesmo tempo, é dever do representante apresentar a prova da representação (118).
	Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.
	Há uma única exceção quanto à atuação nos limites dos poderes conferidos: é o caso da REPRESENTAÇÃO APARENTE. Nela, o representante “parece que é, mas não o é”. Ou seja, é um representante putativo. Para que ela ocorra, é necessário que, além de o suposto representante aparentar ter essa condição, o suposto representado deva ter contribuído, por sua conduta, para forjar essa situação de aparência. Ex.: aluno pede carta de referência ao professor. Dá-lhe um papel em branco, o qual é prontamente assinado por aquele. Após, o aluno usa aquele papel em branco para fazer uma procuração, instrumento da representação, e praticar atos em nome do professor. Com efeito, ele não é representante. Todavia, ele aparenta sê-lo, pois houve contribuição do professor para forjar a situação de aparência, ainda que involuntária e negligentemente. Nessa situação, a atuação do representante aparente vincula sim o representado.
	CONFLITO DE INTERESSES
	O artigo 119 trata de situação diferente: representante age nos limites dos poderes que lhe foram outorgados, mas pratica negócio jurídico que não interessa ao representado. Neste caso, há vínculo sim, porém, há conflito de interesses. Assim, o negócio será válido, mas caberá indenização (perdas e danos) ao representado. O negócio só será anulável se o conflito de interesses era (ou devesse ser) de conhecimento da outra parte. O prazo para pleitear-se a anulação será de 180 dias.
DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
“Os defeitos são anomalias na formação do negócio, que maculam e afetam sua validade”. (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 48)
	Existem os VÍCIOS DE CONSENTIMENTO – ou vícios de vontade - os quais dizem respeito à limpidez da manifestação. A vontade deve ser exarada de maneira retilínea; quando viciada por atos comprometedores de sua veracidade, o ato será anulável.
	Há também os VÍCIOS SOCIAIS, os quais não estão na declaração de vontade, e sim nos efeitos jurídicos que o sujeito quer alcançar – relaciona-se com terceiros. São vícios sociais a simulação e a fraude contra credores.
	A simulação é o único defeito que gera nulidade. Os demais, incluindo a fraude contra credores, acarretam anulabilidade.
	ERRO OU IGNORÂNCIA 
“É a manifestação de vontade com falsa percepção da realidade quanto a aspecto essencial do negócio”. (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 48)
	O erro é um vício do consentimento. O sujeito mentaliza uma vontade, mas declara uma vontade que não declararia ou não declararia daquela maneira, porque percebe mal os fatos.
	O erro é a falsa percepção da realidade, não provocada por outrem (caso do dolo). 
	Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
	
	O erro deve ser:
	I - essencial (ou substancial):
	
	II – efetivo: é aquele que pode causar prejuízo. Deve ser demonstrada a potencialidade lesiva do erro.
	III – desculpável, escusável;
	IV – conhecido da outra pessoa (o erro deve ser daqueles que a outra pessoa, que suportará os efeitos da anulação, tenha tido condições de perceber).
	
	Erro escusável: No CC de 16, era requisito expresso. NO CC/02, a lei foi omissa. MOREIRA ALVES e GUILHERME COUTO entendem que foi mantido esse requisito. Contra: Enunciado n. 12 do CJF: “Art. 138: na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”. 
	Erro essencial é aquele que se opõe ao acidental, ou seja, diz respeito a elemento relevante do negócio jurídico (interessa à natureza, ao tipo do negócio. Ex: quero vender, mas, por erro, declaro a vontade de doar). Além disso, ele trata do objeto principal do negócio jurídico e das qualidades do objeto ou da pessoa (ex.: colar de ouro que percebo que é de bijuteria).
	Em todas essas hipóteses, o erro incide sobre algo relevante no negócio jurídico. Mas essa diferenciação nem sempre é fácil de fazer. Ex: comprar carro modelo 2007, mas fabricado em 2006. Como regra, será um erro acidental. Mas no caso concreto pode ser essencial (IPVA mais barato, por exemplo, pode me fazer querer comprar o ano 2006, modelo 2007).
	O erro de direito também pode ser visto como erro essencial.
	Art. 139. O erro é substancial quando:
	I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidadesa ele essenciais;
	II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
	III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
	
	Importante: O erro deve ser perceptível, ou seja, o erro deve poder ser percebido por qualquer pessoa normal. Deve-se demonstrar que o declaratário (aquele que recebe a declaração de vontade) poderia ter percebido o erro. É o requisito da COGNICIBILIDADE.
	ERRO DE DIREITO (FOI PERGUNTADO NO ÚLTIMO CONCURSO)
	Nunca foi uma causa de invalidação do negócio jurídico. Antes se dizia que ninguém poderia alegar desconhecimento da lei. Ocorre que o princípio da obrigatoriedade das leis é uma presunção relativa.
	O erro de direito corresponde à situação em que o sujeito declara uma vontade com mau conhecimento do direito, mas de boa-fé. Desde que não tenha por finalidade fraudar norma imperativa, o erro de direito pode ser considerado essencial.
	
Exemplo do COUTO: “o sujeito compra um terreno para construir, e tal motivo é expresso como a razão determinante ou única do negócio. Descobre-se, depois, algo que era ignorado pelo próprio vendedor: a área vendida era proibida à edificação. Em tal exemplo, que parte do pressuposto de situação escusável, os requisitos para a anulação estão presentes” (COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 49).
FALSO MOTIVO
	Motivo é a razão determinante da declaração de vontade. Às vezes o fato concreto (razão) que levou à externação de vontade é falso (não ocorreu). 
	Em regra, o motivo é irrelevante para o Direito enquanto permanece íntimo (esfera subjetiva interna do indivíduo). Exemplo: pessoa vai à praia. Afoga-se no mar. Acorda e vê pessoa do lado que crê que o tenha salvo. Em razão disso, doa-lhe um imóvel. Posteriormente, descobre que não foi salvo. Haverá um FALSO MOTIVO. Nessa situação, conforme prevê o artigo 140, só poderá ser anulada a doação se o motivo da doação (salvamento) tiver sido externado na DECLARAÇÃO DE VONTADE (doação) como determinante para aquilo.
	
	Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
DOLO 
	É um vício do consentimento porque quem declara a vontade é induzido ao erro. A diferença com relação ao erro é que neste o declarante erra sozinho, e no dolo ele erra por indução de outrem.
	
	O erro é a falsa representação não provocada. Se alguém induz outra pessoa à erronia, existe o dolo.
	Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
	Para que o dolo invalide o negócio jurídico, deve haver o preenchimento de certos requisitos:
	
	A – O dolo deve ser principal
	Dolo principal opõe-se ao acidental. O dolo (principal) deve ser a causa determinante para a prática do negócio jurídico. No dolo acidental, o negócio teria sido realizado do mesmo jeito.
	Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
	B- O dolo deve valer-se de artifícios graves que se voltem a finalidade indevida
	A finalidade indevida é o chamado dolus malus, o qual se contrapõe ao dolus bonus.
	
	O dolus bonus é a exaltação exagerada da coisa. Ocorre que muitas relações negociais são desequilibradas. Nas relações de consumo, por exemplo, o dolus bonus poderia converter-se em dolus malus: para alguns autores, há sempre dolus malus nas relações de consumo; para outros, haveria um espaço limitado de dolus bonus nessas relações. Guilherme Couto: apenas os elogios subjetivos e genéricos podem caracterizar o dolo bom. Ex: corretor diz que o bairro é fantástico.
	
	A utilização de qualquer artifício para finalidade que não seja indevida não invalida o negócio jurídico. Ex: engano a minha avó na farmácia dizendo que vamos comprar um elixir da vida, o qual, na verdade, é um remédio.
	DOLO POSITIVO E DOLO NEGATIVO
	Dolo positivo é o comissivo (agente faz algo para prejudicar a vítima). Negativo é o omissivo (agente se abstém para prejudicar a vítima).
	DOLO POSITIVO – COMISSIVO
	DOLO NEGATIVO – OMISSIVO (silêncio)
	DOLO DE TERCEIRO 
	O dolo é sempre de terceiro. Mas o dolo de terceiro significa especificamente que uma pessoa é induzida por um terceiro a praticar negócio jurídico com outrem.
	A regra é a de que a pessoa que foi induzida não pode invalidar o negócio, a não ser que a outra pessoa (negociante) soubesse ou devesse saber do dolo. Se ela não sabia, cabe apenas indenização.
	É necessário prejuízo para anular o negócio jurídico por dolo? 
	Não. O dolo principal pode invalidar o negócio independentemente do prejuízo do sujeito enganado. Ou seja, o sujeito induzido em erro manifesta sua vontade por conta do dolo. Em razão desse vício, pode invocar esse dolo para anular o negócio, mesmo não tendo suportado prejuízo econômico. Assim, verifica-se que o legislador não admite a má-fé e pune os atos ilícitos, mesmo não havendo prejuízo. A dispensa do prejuízo é um desdobramento dos princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva. O sujeito que utiliza tal expediente para realizar negócios não é ético, não tem um comportamento adequado e, por isso, é punido com a anulação do negócio, independentemente de prejuízo.
	O dolo acidental, por sua vez, apenas obriga o sujeito a reparar as perdas e danos. No dolo acidental, a existência de prejuízo é fundamental, tendo em vista a prevenção de satisfação das perdas e danos
	Qual é a diferença entre o erro e a omissão dolosa?
	No erro, o destinatário da declaração poderia perceber o erro do declarante, mas, como não agiu com a devida diligência, acaba não o percebendo. O erro do declarante é espontâneo. Não foi provocado comissiva ou omissivamente pelo declaratário ou por terceiro. No dolo negativo, o destinatário percebe o erro ou o equívoco da pessoa em relação às circunstâncias de fato e, ao invés de alertá-la, se mantém em silêncio. Esse silêncio passa à categoria de causa, torna-se a causa determinante da exteriorização da vontade. No dolo omissivo, o declaratário poderia perceber o erro, o percebe efetivamente mas se aproveita desse erro, ficando em silêncio com a intenção de obter alguma vantagem. Por isso, a expressão ‘silêncio intencional’.
	Dolo bilateral ou recíproco: O art. 150 afirma que ‘se ambas as partes procederam com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio ou reclamar indenização’. Havendo dolo recíproco não se anula o negócio, em razão do princípio de que ninguém pode aproveitar-se de sua própria torpeza. Haveria uma torpeza bilateral. Os dolos se compensam (um dolo neutraliza o outro) e o negócio é mantido.
	E se o dolo de um contratante for principal e o do outro for acidental?
	Predomina o entendimento, de acordo com DANIEL CARNACCHIONI, de que é possível mesmo assim a compensação, pois não se pode medir a maior ou menor deslealdade na atuação de ambos.
COAÇÃO 
	A coação é o constrangimento ameaçador, que conduz à emissão forçada da vontade, em razão de efetivo temor à ocorrência de mal injusto e grave. Na coação, o sujeito declara uma vontade que não queria declarar, por conta da violência sofrida.
	Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
	Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
		Essa violência pode ser física (vis absoluta) ou moral (vis compulsiva). O NCC trata, quanto à invalidação do negócio jurídico, da violência moral (vis compulsiva), aquela na qual existe espaço para caracterizar a manifestação. A violência física estaria no campo da inexistência do negócio jurídico.
	COAÇÃO FÍSICA – INEXISTÊNCIACOAÇÃO MORAL - ANULABILIDADE
	Importante: para Guilherme Couto e CAIO MÁRIO, colocar o revólver na cabeça e mandar praticar determinado ato caracteriza a coação física – logo, o ato é inexistente (é diferente do Direito Penal). Cf.: COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 51)
	O negócio praticado sob coação (violência moral) é anulável sob as seguintes condições:
	A – A ameaça deve ser a causa determinante da prática do ato;
	B – A ameaça deve ser grave. 
	Deve causar temor na vítima. Nesse sentido, o juiz deve considerar as circunstâncias subjetivas (quem ameaça e quem é ameaçado) e objetivas do caso (durante o dia ou à noite, por exemplo) - 152.
	O juiz deve considerar ainda se há um simples temor reverencial. Temor reverencial é um sentimento que há, a rigor, nas relações hierárquicas (emprego, militar, família). Isso não invalida o ato, desde que seja simples. Se houver algo além do simples temor reverencial, o ato pode ser invalidado. Ex: O pai que é coronel da cidade diz: “Ou você avaliza essa promissória ou vou interná-la num convento”.
	C – O mal que se visa causar deve ser, além de causa determinante, injusto
	Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito. Mas há casos de abuso: “ou você assina esse papel ou entro com ação penal de adultério (quando ainda era crime)”. Não será ameaça de exercício normal, será um exercício abusivo.
	D – Deve haver a provocação de um mal atual ou iminente.
	E – A ameaça deve ser dirigida contra a própria pessoa que vai declarar a vontade, contra bens ou pessoa da família. De acordo com as circunstâncias, pode-se considerar a ameaça de pessoa íntima (151, parágrafo único).
	COAÇÃO DE TERCEIRO 
	Só invalida o negócio se a outra parte sabia ou devia saber da coação. A outra parte responde solidariamente.
	Se a parte não souber, há apenas perdas e danos, subsistindo o negócio.	
LESÃO 
	Lesão (CC/02): Ocorre a lesão quando alguém, sob a premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga à prestação (não necessariamente de trato sucessivo) manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. (Cf.: COUTO, Direito Civil, 5.ed, p. 52)
	COUTO aponta dois requisitos:
Objetivo: prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta;
Subjetivo: inexperiência ou premente necessidade do contratante lesado. 	
A necessidade não precisa ser econômica, como adverte HUMBERTO THEODORO JR. Até uma pessoa abastada pode ser vítima da lesão.
	CARLOS ALBERTO BITTAR classifica as espécies de lesão:
Lesão enorme: decorrente do Direito Romano, a partir de um critério tarifado (ex. proporção metade ao valor do preço)
Lesão usuária (real): contemplada na Lei de Economia Popular, de natureza subjetiva, exigindo o dolo de aproveitamento do autor da lesão.
Lesão especial: CC//02: caráter objetivo e subjetivo, mas não é tarifada e não se exige dolo de aproveitamento, gerando anulabilidade. 
Lesão consumerista: prevista no CDC, de caráter objetivo, dispensando perquirir a intenção (subjetivo), gerando nulidade. 
	A lesão é um fenômeno de desequilíbrio excessivo de uma relação jurídica. Fosse viável substituir a palavra lesão por outra, o termo seria exploração.
	Há vezes em que a relação nasce razoavelmente equilibrada, mas se desequilibra depois. É o que ocorre na TEORIA DA IMPREVISÃO (veremos em obrigações): onerosidade excessiva.
	Há outras vezes em que ela já nasce desequilibrada. Há lesão: desequilíbrio congênito do negócio jurídico.
	Prestação manifestamente desproporcional é um requisito objetivo. A premente necessidade e a inexperiência são requisitos subjetivos. Ex: minha loja está pegando fogo. Passa um caminhão pipa e compro seu conteúdo por 1 milhão.
	Inexperiência é a falta de traquejo em determinada relação negocial.
	
É necessário o conhecimento (dolo de aproveitamento) do agente?
	Não há necessidade de provar que a parte beneficiada com o negócio teve ânimo de explorar a outra. É dispensável essa demonstração de “dolo de aproveitamento” (Enunciado 150, CJF). 
	Com efeito, o art. 157 não fala em conhecimento da outra parte quanto à necessidade e à inexperiência. Nesse sentido, não seria necessário o conhecimento, como ocorre com o estado de perigo (NELSON NERY, COUTO E CAIO MÁRIO)
	No entanto, há posição que sustenta que isso é uma falha do NCC, pois gera uma contradição interna no sistema, já que não há razão para haver diferença entre o estado de perigo e a lesão neste aspecto. Por essa razão, há autores (Humberto Theodoro e Nelson Rosenvald) que entendem que deve conhecimento na lesão também.
	Consequência da lesão – possibilidade de conservação do negócio
	O negócio é anulável em 4 anos. Contudo, há previsão de revisão do negócio pelo suplemento do preço, evitando a anulação, o que não está previsto para o estado de perigo.
	No caso de lesão a consumidor, o vício seria de ordem pública, gerando cláusula nula. A nulidade deve ser afirmada até de ofício pelo juiz.
	Lesão só para contratos bilaterais comutativos?
	O fato de falar em prestação manifestamente desproporcional leva a entender assim (COUTO). Contudo, há julgados que reconhecem a aplicabilidade da lesão ao empréstimo de dinheiro, que é por excelência unilateral. Segundo G. Couto, o adequado é aplicar, a tais casos, preenchidos os pressupostos, o instituto do estado de perigo, que não exige prestação manifestamente desproporcional ao da prestação oposta.
	
	ESTADO DE PERIGO
	O estado de perigo ocorre quando alguém assume obrigação excessivamente onerosa (requisito objetivo), não tarifada, premido pela necessidade de salvar a si mesmo ou pessoa da família de um grave dano que seja conhecido da outra parte.
	O sujeito é “coagido pelas circunstâncias” e emite vontade abalada por tal realidade.
	Requisitos objetivos: 
existência de manifestação exarada sob pressão de dano
assunção de obrigação excessivamente onerosa.
	Requisitos subjetivos: 
necessidade de salvar pessoa da família ou a si próprio, de grave perigo 
conhecimento da outra parte acerca de tal perigo
	Há um requisito subjetivo no estado de perigo que diz respeito ao lesado: é o perigo. É necessário que a outra parte dele tenha conhecimento. 
	O estado de perigo também lembra a lesão, mas na lesão é requisito objetivo a presença de obrigações manifestamente desproporcionais; no estado de perigo, não se impõe tal requisito. Veja-se: sujeito ameaçado de prisão procura advogado famoso, dos mais caros do país, e assina contrato obrigando-se a desembolsar alta quantia pelos honorários. Não se pode falar em lesão, pois os preços dos serviços são proporcional ao destaque do causídico. 
	Surge a questão como remunerar os serviços prestados. Não se pode admitir que sejam gratuitos, sob pena de enriquecimento ilícito. Portanto, a ideia é reconhecer o débito, mas reduzi-lo a montante de modo a afastar a onerosidade excessiva. O Enunciado 148 do CJF sugeriu a aplicação analógica do art. 157 do CC, em que prevê para o negócio viciado pela lesão, conservá-lo desde que a parte beneficiada ofereça e concorde com revisão com a retirada do excesso. 
	
	O estado de perigo leva à anulação do negócio jurídico. No CDC, pode haver revisão e evitar-se a anulação (princípio da conservação dos negócios jurídicos). Ex: mulher sofre acidente de carro. Vai ao hospital, onde o marido contrata serviços de onerosidade excessiva para que ela seja atendida. Há estado de perigo. Para o NCC, o negócio seria anulável, pois não há revisão. Só vai haver previsão de revisão para a lesão.
	A despeito da omissão do legislador que previu solução exclusiva para a lesão (art. 157, §2º), é dominante o entendimento que a conservação do negócio também se aplica ao estado de perigo. É o ENUNCIADO 148 do CJF: “Ao estado de perigo (art. 156) aplica-se por analogia o disposto no art. 157, §2º”.
	ESTADO DE PERIGO
	LESÃO
	- DEVE SER CONHECIDO DA OUTRA PARTE (DOLO DE APROVEITAMENTO)NÃO PRECISA SER CONHECIDO DA OUTRA PARTE
	OBRIGAÇÃO EXCESSIVAMENTE ONEROSA
	PRESTAÇÃO MANIFESTAMENTE DESPROPORCIONAL
VÍCIOS SOCIAIS
	São defeitos que afetam o negócio jurídico, mas cuja ilegalidade não está na incorreta manifestação de vontade, e sim na afetação prejudicial a direitos de terceiros, não admitida pelo legislador.
	SIMULAÇÃO
A simulação foi tratada de uma maneira bastante rigorosa pelo legislador. É uma causa de nulidade (no CC/16, era anulabilidade). 
	Consiste no vício caracterizado por declaração falsa da vontade, objetivando produzir efeito diverso do que é exteriorizado, em prejuízo de terceiro.
	A simulação é o negócio jurídico “de mentira”. O sujeito declara a vontade que queria declarar, mas para produzir um efeito jurídico diverso do que a lei prevê para aquele negócio.
	Se a finalidade que o efeito jurídico produz constitui burla à lei, há simulação. Ex: quero doar imóvel a minha amante. Doo a um amigo, o qual, por sua vez, doa a ela.
	Outro exemplo: quero prejudicar um credor. Para repassar o bem a outrem, assino uma promissória inexistente, ele me executa e eu perco a ação. Posteriormente a coisa volta pra mim.
	A simulação pode ser absoluta ou relativa.
	Simulação absoluta: ocorre quando, por detrás do ato simulado, nenhum ato existe (encobrindo o nada). O exemplo clássico é o do devedor que – ciente da execução que lhe bate às portas – elabora documento de confissão de dívidas com oferecimento de garantia real a amigo, objetivando assim subtrair seus bens dos efeitos constritivos da execução. Não há dívida com o amigo, não há outro negócio que se busque esconder. De verdadeiro há apenas a intenção de prejudicar os verdadeiros credores.
	
	Outro ex.: para poder despejar o inquilino, simula com um amigo um contrato de compra e venda, que possibilitaria o despejo (G. Couto).
	Simulação relativa: é a que esconde outro ato, real, proibido pela lei. O exemplo tradicional é o do marido que – impossibilitado de efetuar doação à concubina – simula com ela contrato de compra e venda. Note que por detrás deste último contrato há outro ato real e desejado pelas partes, a despeito da vedação legal.
	Mais frequente ainda é a declaração de valor abaixo do realmente acordado (ex: venda de imóvel e ITBI) visando menor recolhimento de imposto aos cofres públicos. Nesta espécie de simulação, a lei ainda dispõe: "subsistirá o que se dissimulou se válido for na substância e na forma" (art. 167).
	Ex: passar a escritura de compra e venda de imóvel “por baixo”. É bom para ambas as partes, pois reduz tributos e gastos com a escritura. Situação: o imóvel é vendido por 100 mil, mas na escritura consta que é 50 mil. Nesse caso, anula-se a simulação, mas prevalece o negócio dissimulado, com acréscimo de mais 50 mil.
	Na simulação relativa existem 2 negócios e não apenas 1 como na simulação absoluta. O falso, que é o negócio simulado (a declaração), e o verdadeiro (o contrato dissimulado).
	COUTO afirma que a distinção é relevante quanto aos efeitos:
simulação absoluta: ato nulo
simulação relativa: subsistirá o que se dissimulou se válido for na substância e na forma
	
	Em outras palavras, em toda simulação deve ser desconsiderada a manifestação falsa (nula): ou o ato será nulo, ou subsistirá o ato que se dissimilou. 
	O negócio simulado será sempre nulo, ao passo que o dissimulado (verdadeiro) será nulo ou válido, conforme esteja formal e materialmente em conformidade com o ordenamento.
	
Aqui, deve-se distinguir a simulação da fraude contra credores. Nesta, ocorre uma declaração de vontade verdadeira, embora com propósito pouco nobre. O negócio é verdadeiro, o negócio simulado é falso. Se a pessoa realmente vende um automóvel para evitar o pagamento a credores, o negócio é em fraude contra terceiros. Se não há venda realmente, mas apenas uma mentira, o negócio é nulo por simulação.
	Simulação inocente: é aquela que não ofende direito de terceiros. A manifestação é externada de modo diverso do verdadeiro, mas sem causar prejuízo a direito alheio. O interessado apenas não quer que o ato apareça na sua feição verdadeira. Ex.: professor resolve doar carro à aluna, mas opta por fingir que houve compra e venda.
	O art. 103, do CC, de 1916 previa que “a simulação não se considerará defeito em qualquer dos casos do artigo antecedente, quando não houver intenção de prejudicar a terceiros ou de violar disposição de lei.”
	Esse dispositivo não é mais reproduzido no CC de 2002. Agora, há dois entendimentos. 
COUTO, CAIO MARIO e SILVIO VENOSA: não haveria nulidade no negócio simulado. 
FRANCISCO AMARAL e HUMBERTO THEODORO JR: a simulação inocente é tão invalidante como a maliciosa, como preveem os Códigos de Quebec, França, Alemanha e Itália. A simulação não gera uma reprovação apenas pelo prejuízo que pode representar. Possui conteúdo suficiente para justificar a sanção de nulidade apenas pela mentira causada. Nesse sentido é o ENUNCIADO 152, DO CJF: “Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante.”
	As partes que simularam em conjunto até podem discutir o ato verdadeiro, uma contra a outra, desde que não alegando a própria torpeza para obter o benefício. Não se repetiu a regra do art. 104 do CC/16. O ato simulado é nulo. 
	ENUNCIADO 294, DO CJF: “Sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das partes contra a outra.”
	Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
	§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
	I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
	II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
	III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
	§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
	
	A simulação não invalida os negócios jurídicos contraídos com terceiros de boa-fé. Ou seja, se um agiota vende o imóvel a terceiro de boa-fé, ele não poderá ser devolvido. Ressalvou-se, portanto, o direito do terceiro de boa-fé.
FRAUDE À LEI 
	A fraude à lei consiste na utilização de expediente malicioso ou enganoso para afastar regra obrigatória da lei, ou fazê-la incidir em hipóteses indevidas.
	É nulo o auto em fraude à lei (art. 166, VI). Trata-se de categoria que não se confunde com a fraude contra credores – esta última é específica ao sistema de proteção ao crédito – nem com a simulação (fraude específica).
	A fraude à lei é categoria residual. Ex.: concessão de abatimento mensal ao condômino que paga a mensalidade no dia correto (bônus da pontualidade) – quem não paga em dia pagará valor, teoricamente o normal, muitíssimo acima de quem paga pontualmente. 
	Outro exemplo: senhor rico e doente (99 anos) casa-se com neta da governanta para que ela receba a pensão previdenciária por morte. Será difícil dizer que o casamento é simulado, e qualquer casamento só é reconhecido nulo através de ação própria. A fraude à lei pode ser pronunciada de ofício (ato nulo), e, no caso, pode ser indeferido o pedido previdenciário, sem a necessidade de afirmar nulo o casamento. 
FRAUDE CONTRA CREDORES 
	É o ato malicioso praticado por devedor insolvente ou reduzido à insolvência – consistente na alienação de bens, ou dispensa do recebimento de crédito ou herança – em prejuízo do credor, que fica desfalcado em sua garantia. 
	A diferença com relação à simulação reside no fato de que a fraude contra credores se refere a um negócio verdadeiro, que envolve a gravação e, geralmente, a alienação. Alguém que é devedor aliena um bem do seu patrimônio a outro (adquirente). Essa alienação traz prejuízo ao credor de quem aliena (alienante), pois gera insuficiência patrimonial do alienante-devedor.
	É ANULÁVEL. Requisitos:
	A – Resultado objetivo:EVENTO DANOSO
	É o chamado eventus damni: insolvência resultante de alienação ou gravação. O patrimônio se torna insuficiente em razão da alienação. Trata-se de requisito obrigatório.
	B – Requisito subjetivo – CONSILIUM FRAUDIS (MÁ-FÉ)
	Deve haver má-fé do adquirente (concilium fraudis), que consiste na situação em que o adquirente sabe ou deve saber que a garantia do credor contra o devedor (alienante) está sendo prejudicada. É dispensável o propósito deliberado de prejudicar credores, bastando o conhecimento do estado de insolvência do devedor e das consequências que resultarão para os credores. 
	( necessidade de provar má-fé do terceiro
ALIENAÇÃO GRATUITA – DESNECESSIDADE DE CONSILIUM FRAUDIS
		Há, porém, uma situação que dispensa esse requisito subjetivo: alienação gratuita. Ela dispensa qualquer cogitação de boa ou má-fé do adquirente, pois o negócio não é oneroso, logo não precisa ser protegido. Anula-se, então, o negócio apenas pelo requisito “A”.
Em caso de alienação gratuita, não há necessidade de demonstração de consilium fraudis.
		HIPÓTESES DE PRESUNÇÃO DE CONSILIUM FRAUDIS (159)
		Há, ainda, 2 situações em que o 2º requisito é presumido, com presunção relativa de má-fé do adquirente:
	I – Insolvência notória
	O adquirente obtém coisa de um alienante com notória situação de dificuldade patrimonial. Ex: adquirir coisa de alguém com 500 protestos. Todos sabem da dificuldade financeira do devedor. Por motivo de diligência óbvia, o adquirente deveria ter percebido aquela situação. 
	Nessa situação, como há presunção, o adquirente é que deve provar que estava de boa-fé.
	II – Insolvência presumida
	Neste caso, não há propriamente atos externos, e sim uma situação ou circunstância de aparência de atos que indicam a insolvência. Ex: “Família vende tudo”. Pessoa começa a vender muitas coisas, e por preço vil.
	Nessas duas hipóteses, o concilium fraudis já é presumido. Ou seja, ele está presente. 
	O concilium fraudis só é, de fato, afastado em caso de alienação gratuita. Nos casos de insolvência notória ou presumida ele estará presente, como presunção.
	CONSILIUM FRAUDIS (COM O ADQUIRENTE) – PODE SER AFASTADO EM CASO DE ALIENAÇÃO GRATUITA OU PRESUMIDO EM CASO DE INSOLVÊNCIA NOTÓRIA OU PERCEPTÍVEL
	Ação cabível: AÇÃO PAULIANA/REVOCATÓRIA (ação anulatória – desconstitutiva), no prazo de 04 anos. Devem ser réus nesta ação todos os que sofrem as consequências do ato anulatório: devedor e adquirente, por meio de litisconsórcio passivo necessário.
	
	Súmula 195, STJ: “em embargos de terceiro, não se anula ato jurídico, por fraude contra credores” 
	Qualquer credor pode propor a ação. O resultado anulatório acarreta apenas a volta do bem ao patrimônio do devedor. Após, será obedecida a ordem normal de credores quanto à satisfação de seus débitos.
	- EFEITOS DA SENTENÇA
Anulabilidade do ato (Nelson Nery, Caio Mário e Silvio Rodrigues) 
	- literalidade da lei
	- anulação do negócio, restituindo as partes ao status quo ante
Ineficácia do ato (COUTO, Dinamarco, Humberto Theodoro, Alexandre Câmara, Nelson Rosenvald)
	- ineficácia do ato em relação credor do alienante, uma vez que não poderá lhe ser objetado, permitindo buscar no patrimônio do terceiro o bem alienado em fraude, de modo a assegurar os seus direitos;
	- se entende anulável, o bem retornaria à situação anterior (patrimônio do devedor), não satisfazendo o credor e permitindo que um eventual credor com privilégio pudesse excutir o referido bem primeiro. 
	FRAUDE CONTRA CREDORES X FRAUDE À EXECUÇÃO
	Diferenças:
	I – A fraude contra credores é instituto do direito privado, que objetiva proteger diretamente o crédito, ao passo que a fraude à execução é instituto processual, de direito público, que objetiva proteger e garantir a efetividade do processo;
	II – A fraude à execução só pode acontecer quando já proposta a ação, seja de conhecimento, seja de execução. Já a fraude contra credores ocorre independentemente de qualquer ação em curso;
	III – Em ambas há o evento danoso, mas na fraude à execução não se exige consilium fraudis;
	IV – O ato em fraude contra credores é anulável, ao passo que o ato em fraude à execução é ineficaz em relação ao processo, e o bem alienado continua sujeito à execução. Ou seja, a anulação do ato em fraude contra credores depende do requerimento do credor (através da ação pauliana); já na fraude à execução a alienação é ignorada processualmente, e o bem alienado continua sujeito à execução, independentemente de requerimento do credor.
		- ALIENTAÇÃO FRAUDULENTA
Fraude contra credores
Fraude à execução
Alienação de bem penhorado
	Fraude contra Credores
	Fraude à Execução
	Alienação de bem penhorado
	Código Civil
	CPC
	CPC
	Interesse particular
	Interesse estatal e particular
	Interesse estatal e particular
	Defeito do negócio jurídico (anulabilidade)
	Ineficácia
	Ineficácia
	Ação Pauliana
	Ofício (incidental)
	Ofício (incidental) 
	Elemento objetivo (dano) e subjetivo (fraude)
	Elemento objetivo (dano)
	Basta a alienação. 
INVALIDADE
	COUTO ensina que afere-se, inicialmente, se estão presentes todos os elementos (pressupostos) de existência do ato. Ultrapassado o exame, verificam-se os requisitos de validade, e finalmente, os fatores de eficácia. 
	A invalidade diz respeito ao plano da validade. 
	Trata-se de gênero que comporta 2 espécies. Há casos considerados mais graves cuja sanção é a nulidade, e há outros menos graves cuja sanção é a anulabilidade. Isso varia de acordo com a opção do legislador.
	O critério para a nulidade são as hipóteses que interessam à sociedade, ao contrário da anulabilidade, a qual, embora possa ter reflexo social, interessa essencialmente às partes envolvidas.
	
	As consequências disso são: 
	A - Se a nulidade é mais grave e tem interesse social, qualquer um pode alegá-la, inclusive o MP. Já na anulabilidade, só algumas pessoas especificadas na lei podem alegá-la.
	B - A nulidade pode ser ainda reconhecida de ofício pelo juiz, o que não ocorre na anulabilidade, a qual exige alegação em ação própria. Ou seja, o juiz reconhece de ofício a nulidade, mesmo que seja processo que trate de outra matéria.
	C – A nulidade não pode ser convalidada nem confirmada. Um negócio nulo só pode ser sanado com a prática de um novo ato. Já o negócio anulável pode ser ratificado. Ex.: assinar escritura de compra e venda com coação. É passível de ratificação, passando o ato a estar completamente sanado desde o começo. Se fosse nulo, além de só um novo ato sanar o defeito, este ato só produziria efeitos a partir daquele momento (ex nunc).
D – COUTO: as hipóteses de anulabilidade estão expressamente previstas em lei, enquanto os casos de nulidade, além das hipóteses expressamente previstas, tem caráter residual (“o ato é nulo quando a lei proibir-lhe a prática, sem cominar sanção”). Assim, se norma proíbe a prática de determinado ato, mas não diz se se trata de nulidade ou anulabilidade, será caso de nulidade. Contudo, se for percebido claramente que a invalidade interessa essencialmente aos envolvidos e que o ato pode ser ratificado e convalido, a sanção incidente será o de anulabilidade.
	E – A nulidade não convalesce nem mesmo pelo decurso do tempo. 
	Houve a positivação da Teoria da Imprescritibilidade da Nulidade. 
	Convalescimento pelo tempo
	O art. 169 diz que "o negócio nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo." 
	O ato anulável estará sujeito, em regra, ao prazo decadencial de 4 anos, conforme previsto pelo art. 178, CC, contado da cessação da coação, ou da realização do negócio jurídico (nos casos de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo e lesão) ou da cessação da incapacidade. Se não houver prazo estipulado, será de 2 anos (art. 179, CC).
	O art. 169 baseia-se no fato de que as pretensões declaratóriassão imprescritíveis, sendo a prescrição um fenômeno das pretensões condenatórias, de acordo com o estudo feito por AGNELO AMORIM FILHO. Por esse raciocínio, um contrato que fosse celebrado hoje poderia ser declarado judicialmente nulo daqui a cinco décadas. 
	Contra esse argumento. CAIO MÁRIO sustenta que não há direitos patrimoniais imprescritíveis e que a declaração de nulidade prescreve em 10 anos.
	A verdade é que se pode diferenciar a pretensão declaratória, da pretensão condenatória, como faz HUMBERTO THEODORO JR, FRANCESCO FERRARA e PABLO STOLZE.
	 A pretensão visando à declaração de nulidade não pode estar sujeita a qualquer prazo. Pense em um casamento celebrado entre pai e filha após o decurso de 10 anos. 
	A pretensão condenatória. por outro lado, em decorrência da prática de ato nulo, como a condenação em perdas e danos ou à devolução dos bens móveis, imóveis ou valores ficaria sujeita aos prazos prescricionais. Assim, não haverá interesse processual em se ajuizar uma ação para a declaração de negócio nulo, quando o objetivo visado for obter efeitos patrimoniais com a declaração de nulidade.
	
	Expressão nulo de pleno direito: usada em algumas leis, mas é mera expressão de ênfase, de reforço para assinalar que o vício é grave. Não existe nulidade de pleno direito, pois as duas formas de invalidade dependem de pronunciamento judicial.
	Sobre a matéria, há duas posições sobre o art. 177, CC. HUMBERTO THEODORO JR. entende que a anulabilidade pode ser alegada não apenas em ação ou reconvencão. mas também por exceção material - dentro da contestação. NELSON NERY JR. e BARBOSA MOREIRA entendem que a expressão "só produz efeito depois de declarada por sentença" faz com que a anulabilidade só possa ser alegada como pedido principal em ação ou reconvenção. 
	Evitar: expressões nulidade absoluta (para nulidade) e nulidade relativa (para anulabilidade). Essa classificação decorre do direito francês, cujo critério era o da legitimidade para impugnar o ato. Foi abandonada pelo CC/16. O CC uso os termos nulidade e anulabilidade. O termo nulidade apenas denota natureza absoluta.
	Ato nulo pode produzir efeitos? Sim. Embora portador de vício de ordem pública, e, em regra, inapto à produção dos efeitos que lhe são normais, ele pode produzir efeitos. Ex: casamento nulo produz efeitos. 
	CASOS DE NULIDADE
	Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
	I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
	II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
	III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
	Em regra, o motivo é irrelevante. Só adquirirá relevância se for comum a ambas as partes. Ex: contrato de compra e venda de cocaína. O objeto é ilícito. Mas no contrato de mútuo de dinheiro para comprar cocaína o objeto é lícito. O que é ilícito é o motivo. Só haverá invalidade se o motivo ilícito for comum a ambas as partes. Ou seja, a pessoa deve saber que emprestou o dinheiro para que a outra comprasse cocaína.
	NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO – QUANDO O MOTIVO DETERMINANTE, COMUM A AMBAS AS PARTES, FOR ILÍCITO. EX: MÚTUO DE DINHEIRO PARA COMPRAR COCAÍNA.
	IV - não revestir a forma prescrita em lei;
	V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
	VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; (fraude à lei – categoria residual)
	Esta é uma hipótese muito próxima à simulação. Pretendeu o Código não excluir nenhuma hipótese que fosse parecida com a simulação, mas que com ela não se confundisse. A norma em tela relaciona-se a um disfarce que, a rigor, não é da essência do negócio jurídico. Ex.: venda de partes ideais de um lote para burlar a lei do parcelamento do solo.
	VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
	
	
	CASOS DE ANULABILIDADE 
	Além dos casos expressamente declarados em lei, são anuláveis os negócios praticados com incapacidade relativa e com vícios resultantes de dolo, erro, coação etc.
	Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
	I - por incapacidade relativa do agente;
	II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
	Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
	Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
	I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
	II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
	III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
	Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
	Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
	NECESSIDADE DE PREJUÍZO PARA A INVALIDAÇÃO 
	Não vigora no direito civil o princípio de que não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans griej), ainda que se trate de anulabilidade. 
	Esse prejuízo seria presumido pelo próprio legislador. Adotou-se o critério do interesse e não o critério do prejuízo. 
	Essa é a posição de CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA, ZENO VELOSO, HUMBERTO THEODORO JR. Contudo, deve-se ter presente que nas hipóteses em que uma parte não sofre qualquer prejuízo, o ajuizamento de uma demanda pode exceder manifestamente o limite imposto pelo seu fim social e econômico (abuso de direito), além de macular a boa-fé de quem realizou o negócio.
	 O STJ em recente acórdão julgou improcedente uma ação de anulação de negócio jurídico de alienação de ascendente à descendente sem o consentimento dos outros descendentes, em virtude da ausência de comprovação de prejuízo, de acordo com o acórdão a seguir transcrito:
DIREITO CIVIL. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO EM AÇÃO ANULATÓRIA DE VENDA REALIZADA POR ASCENDENTE A DESCENDENTE.
Não é possível ao magistrado reconhecer a procedência do pedido no âmbito de ação anulatória da venda de ascendente a descendente com base apenas em presunção de prejuízo decorrente do fato de o autor da ação anulatória ser absolutamente incapaz quando da celebração do negócio por seus pais e irmão. Com efeito, tratando-se de negócio jurídico anulável, para que seja decretada a sua invalidade é imprescindível que se comprove, no caso concreto, a efetiva ocorrência de prejuízo, não se admitindo, na hipótese em tela, que sua existência seja presumida. REsp1.211.531-MS. Rei. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/2/2013.
	EFEITOS DA INVALIDAÇÃO
	COUTO: Nulo ou anulável o negócio, as partes devem voltar ao estado anterior. 
	Art. 182, CC: anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam. Os efeitos são apagados EX TUNC (não é ex nunc para anulável).
	
	Polêmica sobre os efeitos ex tunc para os atos nulos e anuláveis: 
	(a) NELSON NERY CARLOS ROBERTO GONÇALVES, MARIA HELENA DINIZ, CAIO MÁRIO PEREIRA, ARNALDO RIZZARDO e FRANCISCO AMARAL distinguem os efeitos ex tunc do ato nulo, dos efeitos ex nunc do ato anulável; 
	- todos os atos praticados pelo ato anulável, o foram legitimamente, porque o ato anulável estava produzindo efeitos normalmente (art. 177, CC). 	
	(b) COUTO, PONTES DE MIRANDA, HUMBERTO THEODORO JR, GUSTAVO TEPEDINO, NELSON ROSENVALD, ORLANDO GOMES entendem que não há diferença quanto aos efeitos entre os atos nulos e anuláveis.
	O primeiro entendimento ancora-se no art. 177 que prescreve que "a anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença,nem se pronuncia de ofício." 
	Contudo, o art. 177 disse menos do que deveria, já que não só a anulabilidade, mas também a nulidade, dependem de pronunciamento judicial. O art. 177 em nenhum momento toma partido da polêmica em tomo dos efeitos do pronunciamento. A regra que trata dos efeitos é o art. 182, que estabelece os efeitos ex tunc da declaração ou desconstituição dos atos nulos e anuláveis. A distinção entre nulidade e anulabilidade se prende às causas ensejadoras de cada uma das espécies de invalidade, e não propriamente aos seus efeitos ou mesmo ao modo de operar.
	A solução é a mesma do direito alemão (exceto em relações trabalhistas e em matéria societária), do direito francês, do direito italiano e do direito português, que, inclusive tem norma expressa sobre o assunto.
	COUTO afirma que a consideração de que a anulabilidade produz efeitos ex nunc, algumas vezes mencionada, possivelmente pretende dizer que, antes da anulação, o ato anulável continua apto à produção de seus efeitos normais. 
	Proteção do terceiro de boa-fé:
	 O art. 182 abrange duas situações. Caso a invalidade se refira a um negócio envolvendo as partes originárias do negócio, a regra será a restituição ao estado anterior. 
	Todavia, caso exista terceiro de boa-fé em relação aos contraentes do negócio inválido, aplica-se a parte final do dispositivo, resolvendo-se em perdas e danos o litígio. 
	Essa solução acompanha a eticidade desejada por MIGUEL REALE, que se materializou no princípio da boa-fé objetiva e na tutela da confiança nas relações jurídicas. É a posição de NELSON NERY JR, e HUMBERTO THEODORO JR. 
	Em vários outros dispositivos, a boa-fé do terceiro é expressamente protegida pelo CC, como se vê nos arts.167, §2° (terceiro adquirente de boa-fé na simulação), e 879 (alienação de bem recebido a título de pagamento indevido de boa-fé). Assim, preserva-se sempre os interesses de sujeitos de boa-fé.
	Pense no caso de um golpista que aliena um imóvel que não é seu (venda a non domino), cuja posse tem em virtude de uma relação locatícia, fazendo-se passar por dono, através de documento falsificados com perfeição. Há duas vítimas. A primeira é o proprietário do imóvel que viu um estelionatário alienar o que não é seu. A segunda é a do adquirente que acabou comprando o que não era do vendedor.
	Nesta situação, em regra, aplica-se o art. 1.247, parágrafo único, protegendo-se o interesse do proprietário verdadeiro (terceiro de boa-fé), restando à vítima adquirente a solução das perdas e danos. Veja que no caso há duas vítimas. Trata-se de um caso de insegurança jurídica recíproca. O certo é que não há uma solução jurídica pronta e acabada.
	NATUREZA DA SENTENÇA DE NULIDADE E ANULABILIDADE: 
	A sentença é desconstitutiva ou constitutiva negativa em relação ao negócio anulável e declaratória em relação ao negócio nulo, conforme NELSON NERY JR e HUMBERTO THEODORO JR.
	PRINCIPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: 
	É norma que inspira todo o regime da invalidade. O intérprete deve optar, se possível, pela solução que extraia algum efeito de um negócio jurídico inválido. Parte-se da idéia de que o declarante deseja a produção de efeitos e não o contrário.
	O princípio da conservação divide-se em: (i) conversão substancial: (ii) confirmação: (iii) redução.
	A CONVERSÃO SUBSTANCIAL 
	Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
	Consiste na manutenção de um negócio, quando o negócio jurídico nulo contiver seus requisitos e o fim a que visavam as partes permita supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade. Está no art. 170 CC. O exemplo seria uma compra e venda nula por vício de forma (art. 166, IV, c/c art. 108), por ausência de escritura pública. A promessa de compra e venda admite o instrumento particular (art. 1417 CC) que também possibilita o acesso à propriedade. Poderia converter a compra e venda em promessa de compra e venda. Outro exemplo seria a nota promissória nula que pode ser aproveita como confissão de dívida Deve haver uma demanda judicial para a aplicação do preceito.
	Como observa CRISTIANO CHAVES DE FARIAS e NELSON ROSENVALD a conversão pertine aos negócios jurídicos nulos, já que os anuláveis podem ser convalidados pela simples manifestação de vontade das partes interessadas, sendo desnecessária a teoria do aproveitamento.
	O legislador brasileiro seguiu a teoria alemã da transinterpretacão (Umdeuhmg), prevista no § 140, que admitia o aproveitamento do negócio nulo e da lei civil portuguesa.
	É necessária a presença de elemento objetivo, que consiste na possibilidade de aproveitamento, com a manutenção do suporte fático (manutenção dos requisitos mínimos do negócio realizado) já que as partes não realizam novo negócio e de elemento subjetivo, que consiste na intenção das partes em obter a recategorização jurídica do negócio nulo.
	A conversão substancial não se confunde com a conversão formal. Nesta, altera-se apenas a natureza formal do negócio, sem que ocorra uma nova qualificação jurídica. Ex. contrato de locação por escritura pública. Se esta for nula, subsiste a locação por instrumento particular, já que a lei não impõe uma solenidade para este contrato. Aplica-se o art. 183 CC.
	APROVEITAMENTO (Teoria da redução)
	Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial do negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal não implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal. Está previsto no art. 184 CC. Ex. contrato com cláusula ilícita, locação com fiança nula, etc.
	TEORIA DA CONFIRMAÇÃO: 
	O negócio anulado pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. Está previsto nos arts. 172 a 176 CC. Ex. fiança sem a autorização da mulher que posteriormente a dá, conforme art. 1647, III, c/c art. 1649, CC.
A confirmação expressa ou tácita do negócio importa a extinção de todas as ações e exceções de que contra ele dispusesse o devedor.
	Divergência doutrinária sobre o art. 173. Este diz: "o ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo."
	HUMBERTO THEODORO JR e PONTES DE MIRANDA entendem que o ato de confirmação não está sujeito a regra sobre a forma, a que estaria sujeito o ato jurídico ratificado.
	GUSTAVO TEPEDINO sustenta que a forma do negócio só se justifica se o negócio confirmado depender de forma prevista em lei.
	ZENO VELOSO, SILVIO RODRIGUES, ORLANDO GOMES, SERPA LOPS, RENAN LOTUFO, SILVIO VENOSA, PAULO NADER, ARNALDO RIZZARDO, CARLOS ROBERTO GONÇALVES e MARIA HELENA DINIZ advogam a tese de que deve ser observada a forma do ato a ser confirmado.
	INEFICÁCIA
	A ineficácia diz respeito à inaptidão de o negócio jurídico produzir efeitos jurídicos.
	Ex: testamento – é ineficaz antes do falecimento do testador.
	Ineficácia relativa: é modalidade de problema existente quando o ato ou negócio jurídico não pode produzir seus efeitos normais contra uma ou algumas pessoas, embora produza em relação a outras. Ex: contrato de locação por prazo de determinado, do qual consta cláusula de vigência, apenas será eficaz contra o adquirente do imóvel se estiver averbado na matrícula.

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