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Fichamento de Estudo de Caso Ana Carla Leite Disciplina Clinica da Atenção Psicossocial Tutor: Prof. Aline Monteiro Garcia Fortaleza 2019 1) Indicação bibliográfica QUINDERE, Paulo Henrique Dias; JORGE, Maria Salete Bessa; FRANCO, Túlio Batista. Rede de Atenção Psicossocial: qual o lugar da saúde mental?. Physis, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 253-271, mar. 2014. 2) Resumo O artigo inicia abordando a questão das redes de organização dos serviços de saúde. Os autores destacam que, por não haver um mecanismo autossuficiente para a produção do cuidado integral, as redes são essenciais, levando em consideração a complexidade dos problemas de saúde, a interdisciplinaridade e a multiplicidade de seres sociais envolvidos. A descentralização da saúde no Brasil auxiliou nos primeiros movimentos para formação de redes, favorecendo realização de ações locais e em diversos níveis de atenção, através da regionalização e hierarquização. Porém, foram utilizados procedimentos normativos para realização dessas ações, estruturado por um modelo piramidal, o que ocasionou um enrijecimento da atenção em saúde. Devido aos procedimentos burocráticos no processo de referência e contrarreferência, a circulação dos usuários na rede se torna dificultada. O projeto inicial do SUS era que o acesso aos níveis de atenção à saúde fosse feito de forma piramidal, porém, o processo de adoecimento não obedece uma ordem específica, dessa forma, instituiu-se espontaneamente diversas portas de entrada no sistema de saúde, gerando um “modelo circular” relacionado à várias alternativas de entrada e saída, sem uma gradação de níveis. É preciso admitir a existência de um tipo de rede sem modelo, que não possui uma estrutura, pois se constrói em ato, através do trabalho vivo de cada trabalhador e equipe, visando o cuidado em saúde, seja em encaminhamentos, procedimentos, ou projetos terapêuticos que procuram consistência no trabalho multiprofissional. A intensidade e funcionamento das redes podem ser percebidas através da análise da micropolítica do processo de trabalho para o cuidado em saúde. Dessa forma, o trabalho das equipes forma a base do funcionamento das redes. As redes são acionadas pelos trabalhadores através dos projetos terapêuticos, sendo este o disparador da rede. Na sequência os autores tratam acercam da organização dos serviços de saúde mental e apontam os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) como um dos dispositivos substitutivos mais eficientes. Os Caps alteram a lógica da hierarquização e prestam, em uma só unidade, cuidados referentes aos diferentes níveis de atenção. Atuam desde o atendimento especializado aos transtornos e o acompanhamento nas unidades de internação dos hospitais, até o nível de atenção primária, com o apoio matricial às UBS. Assim, os Caps devem manter-se conectados com os demais serviços do sistema de saúde, evitando a fragmentação dos atendimentos. Nesse sentido, o objetivo do artigo foi discutir as interações entre os níveis de complexidade do sistema de saúde na atenção à saúde mental e compreender a conformação da rede de atenção à saúde mental no município de Sobral-CE, através de um estudo qualitativo, realizado através de entrevista semiestruturada e observação sistemática na Rede de Atenção Integral à Saúde Mental, com trabalhadores, usuários e coordenadores dos serviços. Os resultados obtidos mostraram que no município de Sobral existem diversas portas de entrada para os serviços de saúde mental. Cada serviço se adapta para melhor atender as necessidades dos usuários. O matriciamento atua não apenas encaminhando a demanda das USF para o Caps-Geral, como também realiza atividades de educação permanente junto aos profissionais do PSF. Os encaminhamentos não são feitos apenas para organizar o sistema, mas também para promover apoio especializado à atenção primária. Há uma hierarquização no fluxo de organização, onde a demanda parte da atenção primária e chega ao serviço especializado através da referência e contrarreferência. Nos finais de semana, os casos são encaminhados para a Unidade Psiquiátrica do Hospital Geral para serem avaliados pelo clínico do plantão e posteriormente pela avaliação psiquiátrica. É levantada no texto uma discussão acerca da questão dos medicamentos. Em um dos discursos observa-se atenção especial para esse quesito, porém “não tomar a medicação” é visto como “não adesão ao tratamento”, quando na verdade não tomar o medicamento pode ser visto como uma forma que o usuário encontra para evitar alguns efeitos colaterais danosos. Esse fator deve ser observado pela ótica do usuário e o profissional deve negociar o projeto terapêutico e não entender essa “não adesão” como algo totalmente negativo. Porém, observa-se que o serviço do discurso não inclui o usuário nessa negociação. 3) Citações ‘Um primeiro movimento importante para a formação de redes se deu com a descentralização da saúde no Brasil, a qual possibilitou maior aplicabilidade das ações locais, favorecendo o surgimento de experiências exitosas nos vários setores da saúde e nos seus diversos níveis de atenção, mediante processos de regionalização e hierarquização (FERLA; LEAL; PINHEIRO, 2006). No entanto, essas ações foram implementadas por procedimentos normativos, que tentam organizar o fluxo das pessoas via sistema, ocasionando um enrijecimento da atenção à saúde, ao se estruturar com base em um modelo piramidal de assistência (MATTOS, 2007).’ ‘É preciso, portanto, reconhecer a existência de um tipo de rede que se constitui sem modelo, que não parte de uma estrutura, pois se constrói em ato, com base no trabalho vivo de cada trabalhador e equipe, mediante fluxos de conexões entre si, na busca do cuidado em saúde, seja em encaminhamentos realizados, procedimentos partilhados, projetos terapêuticos que procuram consistência no trabalho multiprofissional.’ ‘As redes formadas dentro do sistema de saúde têm expressão no meio social, mediante diversos agenciamentos; elas propiciam o surgimento de novos modos de relação, constroem- se no meio social onde cada sujeito está inserido. Adaptam-se às novas possibilidades de atuação dos sujeitos no campo de produção da vida, produzem múltiplas conexões e fluxos construídos a partir de processos, que interligam os diversos atores, e criam linhas de contatos entre os agentes sociais, que são a fonte de produção da realidade.’ ‘Os Caps subvertem a lógica da hierarquização e se organizam agregando os diferentes níveis de atenção à saúde em uma só unidade. Fazem, pois, surgir importantes questões na própria organização do SUS. Prestam atendimento especializado dos casos de transtornos mentais e são responsáveis pelo acompanhamento dos pacientes nas unidades de internação nos hospitais gerais. Podem atuar em nível de atenção primária, no acompanhamento e apoio matricial de casos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), perpassando, portanto, todos os níveis de complexidade da rede de saúde (ONOCKO-CAMPOS; FURTADO,2006).’ ‘Assim, esta ação matricial em saúde mental na atenção básica propicia a construção de um projeto terapêutico que não se limita às fronteiras de um dado serviço, mas é diluído em variadas instâncias, articulado por uma equipe de referência, e mobiliza diversos atores para lidar com o andamento do caso. Possibilita um cardápio amplo de estratégias que enriquece o projeto terapêutico e viabiliza a articulação de redes de cuidados, através dos profissionais integrantes das equipes de matriciamento.’‘Portanto, os serviços de saúde mental podem explorar recursos comunitários outros que não apenas as ferramentas clínicas dos ambulatórios, sobretudo ao discutir com as equipes de saúde da família estratégias que perpassem os muitos níveis de atenção do sistema de saúde, criando novas linhas de cuidado destinadas a atender à demanda do usuário.’ ‘Assim, a articulação dos serviços de saúde mental em rede horizontalizada propicia uma interlocução mais profunda entre serviços de saúde, ao promover maior capilaridade das ações em saúde mental no território e se articular com outros setores sociais. Desconstrói, pois, a lógica organizacional-burocrática expressa na ideia hierárquica, de referência e contrarreferência, muito presente nas redes de serviços, facultando várias opções de "portas de entrada" e redes singulares construídas pelos próprios trabalhadores.’ 4) Comentários Como vimos, RAPS, é uma rede de saúde mental integrada e articulada nos diferentes pontos de atenção para fins de atender a pessoas com sofrimento mental e /ou consequente do uso de substâncias psicoativas. O CAPS tem o papel de matriciar a Rede de Atenção Psicossocial de modo que ações sejam articuladas com outros serviços de modo a alcançar às necessidades psicossociais dos usuários. Há uma grande mobilidade dos trabalhadores na rede, circulado entre vários e diversos equipamentos de saúde. Isto favorece as conecções e fluxos entre equipes na construção das linhas de cuidado. Ao se tornar como foco a micropolítica do processo de trabalho, na produção do cuidado, percebe - se o convívio de modos mais formais e burocráticos de ação, atividades que se parecem com a ideia de sistema em círculo, e redes construídas em ato, pela força e liberdade do trabalho vivo, buscando cumprir o projeto terapêutico na sua singularidade. 5) Ideação Observa-se após o fim da leitura do artigo em questão que os instrumentos e recursos legais representam avanços, mas não garantem os direitos conquistados, já que, para tal, são necessárias também mudanças culturais, que demandam tempo e investimento em longo prazo, no sentido de criar condições reais para a convivência com a diversidade humana, assim como disponibilização de meios e recursos para a manutenção e a sustentabilidade da própria vida dos usuários diante do contexto atual de extrema competitividade e individualismo característico de nossa sociedade contemporânea. Tais práticas pressupõem, sem dúvida, que cuidar da saúde de alguém é mais do que construir um objeto e intervir sobre ele. É, na verdade, ser capaz de acolher, dialogar, produzir novas subjetividades, exercitar a capacidade crítica, transformar criativamente os modos de ver, sentir e pensar já estabelecidos. O fato de que se existe essas diversas formas de ‘porta de entrada’ para o acesso ao cuidado a saúde mental do usuário, elucida a importância de se ter equipes capacitadas e que o estado também se aproprie de seu papel em proporcionar que essa relação, conecções e fluxos entre equipes na construção das linhas de cuidado, sejam práticas cada vez mais sólidas.
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