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ECONOMIA BRASILEIRA AULA 6 Prof. Roberto Luiz Remonato 2 CONVERSA INICIAL O papel do setor público na economia de um país depende de escolhas políticas. Em uma democracia, idealmente, elas são realizadas com base em anseios sociais. Contudo, para tornar efetivos esses anseios, é preciso que se observe a realidade econômica, avaliando os impactos de determinadas ações nesse ambiente. É necessário, portanto, que haja um diagnóstico, o qual, por sua vez, corresponde a um plano de ação, de modo que são os bons diagnósticos que determinam a abordagem eficiente do Poder Público sobre a economia, uma vez que um mau diagnóstico implica a utilização de profilaxias inadequadas. Portanto, para qualquer um que se preocupe com os rumos da economia, é necessária a compreensão das dinâmicas que afetam a construção desse diagnóstico. Assim, com a preocupação de apresentar a interação entre o setor público e a economia brasileira, a presente aula é dividida em cinco temas. No primeiro, serão apresentados os tipos básicos de Estado conforme o papel dado ao setor público na economia, bem como as razões que motivam seu estabelecimento. O segundo tema analisará a história recente da interação do setor público com a economia brasileira em três momentos. No terceiro tema, serão comentados alguns dos desafios que se apresentam no horizonte dessa relação. O quarto tema tratará da globalização e, por fim, serão vistos no quinto tema o Sistema de Metas para a Inflação (SMI) e o tripé da política econômica brasileira. Após esta aula, o aluno estará capacitado a analisar criticamente as principais visões sobre o papel do setor público na economia, a avaliar o impacto de diferentes diagnósticos na definição desse papel, a explicar as mensurações da participação do setor público na economia, a perceber como essas visões influenciam alguns dos desafios da economia e a entender o SMI e o tripé da política econômica brasileira. TEMA 1 – PARADIGMAS DA FUNÇÃO DO SETOR PÚBLICO Ao longo da história econômica mundial, o setor público já desempenhou os mais diversos papéis no ambiente econômico. Para fins didáticos, podemos dizer que três são os paradigmas do Estado na economia: liberal, social e 3 regulador. Esses tipos não são encontrados de forma pura na realidade, mas servem para delinear as principais características de cada modelo. O Estado liberal corresponde ao modelo que enxerga o mercado como o principal e mais capacitado indutor do desenvolvimento social e econômico. Esse tipo ideal se inspira nas escolhas políticas que partem de um diagnóstico de que o Estado está sujeito a uma série de ineficiências, por isso a melhor escolha possível seria retirá-lo ao máximo do cenário econômico, deixando este último a cargo das forças da oferta e da demanda. Esse tipo de posição parte de uma análise que enxerga diversos méritos na atuação das forças de mercado e diversos deméritos na atuação estatal na economia. Quanto aos méritos da iniciativa privada, podemos destacar a ênfase nos bons resultados advindos da atuação autointeressada dos indivíduos (“mão invisível”) e da divisão do trabalho de Adam Smith, a defesa do livre comércio internacional a partir da teoria das vantagens comparativas feita por David Ricardo, o poder inovador da concorrência descrito por Joseph Schumpeter e a noção de Friedrich Hayek de que são os indivíduos pulverizados que detêm informação em maior quantidade e qualidade e, dessa forma, são os mais capacitados a conduzir os recursos econômicos a seus mais eficientes fins. Pelo lado das falhas do governo, pode ser citado o Crowding Out, que pressupõe que o Estado, ao tentar suprir um mercado visto como incompleto, expulsa desse mercado os poucos agentes privados que realizam essa função, ou mesmo afasta aqueles que teriam potencial para realizá-la. Vale pontuar também a existência de objetivos conflitantes, o problema da agência, que diz respeito à dificuldade de garantir que os representantes atuem no interesse dos representados, e não nos seus próprios interesses, os efeitos imprevisíveis/indesejáveis, que representam o raciocínio de que a limitação do conhecimento permite que as ações do Estado desencadeiem desdobramentos indesejados para a sociedade, a captura regulatória, que consiste na possibilidade de que os agentes designados para a regulação sejam cooptados por outros agentes (políticos ou do mercado), a fim de relaxar a regulação ou aplicá-la seletivamente, visando restringir a competição e o rentismo, que consiste na estruturação artificial de incentivos visando aumentar os ganhos de um determinado grupo sem que haja, para isso, qualquer correspondente econômico de geração de riqueza. 4 Partindo dessas visões, portanto, o diagnóstico verificado pelos defensores do modelo liberal é o de que o Estado deve ter suas funções bastante limitadas. Já o Estado social corresponde ao modelo que enxerga o Estado como o principal e mais capacitado indutor do desenvolvimento social e econômico. Esse tipo ideal se inspira nas escolhas políticas que partem de um diagnóstico de que uma economia de mercado padece de problemas de cooperação e tende naturalmente à desigualdade social. Tais problemas só poderiam ser evitados com uma atuação forte do setor público. Como contraponto ao modelo liberal, esse tipo de Estado parte de uma análise que enxerga diversos méritos na atuação do setor público e diversos deméritos na economia de mercado. Do lado dos méritos do Estado, essa ideia se baseia em diversos conceitos: o capitalismo apresentaria uma tendência inexorável à desigualdade; os países subdesenvolvidos dependeriam de uma atuação estatal que concentrasse e coordenasse esforços, a fim de permitir a competição internacional; e a ideia de que apenas o Estado teria interesse na manutenção de garantias e avanços sociais para a população menos favorecida. No que se refere aos deméritos peculiares à atuação das forças de mercado, a teoria das falhas do mercado ilustra bem alguns argumentos utilizados para a intrusão do Estado no domínio econômico. Segundo essa teoria, as forças de mercado apresentam alguns desequilíbrios: os bens públicos têm problema de divisibilidade; os monopólios naturais requerem uma estrutura cara e complexa; as externalidades positivas e negativas; as falhas de informação; os mercados incompletos. O Estado regulador corresponde a um modelo híbrido entre os Estados liberal e social. Esse paradigma tende a enxergar o mercado como o principal indutor do desenvolvimento econômico, mas exigindo, para o desenvolvimento social, uma atuação reguladora por parte do Estado, que seria uma espécie de supervisor do desenvolvimento. Esse tipo ideal se inspira nas escolhas políticas que partem de um diagnóstico misto, que vê alguns méritos nas forças de mercado e outros na atuação estatal, ao mesmo tempo que reconhece limitações em ambos. 5 TEMA 2 – O SETOR PÚBLICO NA HISTÓRIA DA ECONOMIA BRASILEIRA MODERNA Embora o Brasil tenha experimentado mudanças de dinâmica desde o século XX até os dias atuais, o Estado nunca deixou de ser um protagonista do jogo econômico. Mais do que isso, se observados indicadores relevantes como o percentual da Carga Tributária Bruta (CTB) brasileira – isto é, o total dos impostos arrecadados no país – como percentagem da atividade econômica, representada pelo Produto Interno Bruto (PIB), é possível notar que a evolução histórica dessa correlação é de comportamento crescente. Tal crescimento, em termos gerais e proporcionais, ilustra a famosa formulação do economista alemão Adolph Wagner (1835-1917), conhecida como Lei de Wagner, segundo a qual o crescimento da renda de um país culminaria no aumento dos gastos públicos devido ao aumento da demanda por serviços públicos.A partir da década de 1930, com as intervenções iniciadas pelo primeiro Governo Vargas e a cultura de planejamento estatal da economia trazida pelo Governo Juscelino Kubitschek (JK), o Estado ampliou sua participação na economia, bem como a estrutura da administração pública. Com isso, desenvolveu-se um processo pelo qual a economia brasileira passou de um exportador de produtos primários (sobretudo agrícolas) para um perfil semi- industrializado caracterizado pela centralização político-econômica. Em reação à crise de 1929 e ao repúdio à fragmentação marcada pelo coronelismo, a segunda fase da República, a populista, teve um perfil nacionalista e populista que buscou implementar políticas desenvolvimentistas por meio de uma estrutura governamental centralizadora. Nesse espírito, a administração estatal não só interveio diretamente no domínio econômico, criando empresas estatais para a realização de atividades antes conduzidas pela iniciativa privada, como também erigiu um novo enquadramento regulatório por meio de diversas normas que buscavam tutelar a atividade econômica. O Governo JK fortaleceu a cultura de planejamento estatal da economia. Guiado por uma política nacional-desenvolvimentista, esse governo promoveu diversos investimentos estatais dirigidos à industrialização nacional. Embora tenha colocado em prática um planejamento mais sério, ordenado e eficaz, o 6 financiamento era um ponto frágil de seus programas, uma vez que a insuficiência da poupança interna obrigava vultoso endividamento externo, que, sem capacidade produtiva adequada, levou a uma forte inflação de demanda. A partir do início dos governos militares, a idealização do Programa de Ação Econômica do Governo buscou políticas de combate à inflação associadas a reformas estruturais. No entanto, a visão governamental continuou a focar em um modelo de desenvolvimento baseado no diagnóstico de que a economia, para fugir da armadilha do subdesenvolvimento, necessitaria de um “empurrão”. Esse modelo se baseava no aumento do endividamento público, com vistas a um crescimento econômico futuro que o fosse mitigar. Como isso não ocorreu, a pressão inflacionária culminou em hiperinflação. Assim, depois de uma série de fracassados planos de estabilização, o país foi levado ao caos econômico. Em 1994, como resposta ao cenário de caos econômico gerado pela hiperinflação, o Governo Itamar Franco, capitaneado pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, implementou um novo plano econômico, que se diferenciou dos anteriores por trazer proposições de natureza mais liberal. Auxiliada por um cenário internacional favorável e com base nas reformas estruturais anteriormente elencadas, a economia brasileira experimentou um crescimento considerável na primeira década do século XXI. Durante esse período de relativa bonança, o governo renovou seus diagnósticos de modo a buscar possibilidades de maior desenvolvimento econômico e social, partindo do pressuposto de que era necessário fazer a economia trabalhar diretamente em prol dos fins políticos e sociais vislumbrados pelo governo. Foram elaboradas várias ações que constituíram um modelo peculiar de capitalismo de Estado. Nesse modelo, o governo se utilizaria de três ferramentas: empresas estatais para gerenciar a exploração dos recursos considerados os melhores do Estado e para criar e manter um grande número de postos de trabalho; empresas privadas de determinados setores da economia, financiadas com recursos públicos condicionados a determinadas prestações de interesse político; e fundos soberanos para investir o dinheiro extra de modo a maximizar os lucros do Estado. 7 Em todos os três casos, o Estado usa o mercado para criar riqueza que pode ser dirigida como os responsáveis políticos preferirem. Além disso, em todos os três casos, o motivo principal é político (maximizar o poder do Estado e as possibilidades da sobrevivência da liderança), e não econômico (a maximização do crescimento). Entre as iniciativas conduzidas pelo Estado brasileiro nesse sentido, podemos destacar o grande dispêndio com o funcionalismo público, a tentativa de diminuição dos juros por meio de bancos públicos e a seleção do financiamento subsidiado de grandes empresas visando à formação de “campeões nacionais”. TEMA 3 – DESAFIOS DA ECONOMIA BRASILEIRA Existe um relativo consenso quanto aos principais desafios a serem enfrentados pela economia brasileira. Em especial, alguns problemas parecem particularmente desafiadores: 1. a carência quantitativa e qualitativa de investimentos; 2. a desigualdade econômica; 3. a baixa eficiência nas prestações governamentais; e 4. a inserção do Estado Nacional em meio a um contexto caracterizado pelo processo de globalização. Um setor público que vise ao desenvolvimento do país precisa se preocupar com as garantias que terá de fornecer os investimentos necessários à economia. Se o governo é superavitário, ele pode investir diretamente sem grandes preocupações. Existem outras duas opções: a poupança privada interna e o acesso a recursos externos. Para isso, importa que se construa um ambiente de negócios amigável, o que significa não só uma carga tributária razoável, como também um ambiente regulatório menos oneroso e até mesmo um poder judicial que respeite os contratos. Pelo fato de o Brasil ter hoje como regime político a democracia, o combate à desigualdade passa a ser um dos principais objetivos do governo. Contudo, a grande questão é como fazê-lo. Nesse caso, boas intenções não bastam. Estatizar o petróleo, afirmando que ele é dos brasileiros, não traz qualquer serventia no combate à desigualdade de renda se os brasileiros são obrigados a pagar pela gasolina um preço maior do que se paga no resto do mundo. Programas sociais precisam avaliar não só seu custo-benefício direto, mas também garantir que sua promoção vise tirar as pessoas da condição de necessidade, e não celebrar quando mais pessoas se tornam dependentes. 8 Concursos públicos que exigem períodos intensivos de estudo privilegiam apenas aqueles que têm condições de se dedicar por anos única e exclusivamente a esse esforço. Faculdades públicas podem ajudar a universalizar o acesso ao Ensino Superior, mas precisam ser pensadas considerando-se seus custos em comparação com a manutenção via auxílio das mensalidades de alunos em faculdades particulares. Enfim, o combate às desigualdades sociais por parte do setor público precisa ser feito com planejamento, fazendo-se considerações realistas de causa e efeito. Além disso, o governo deve se preocupar não apenas em ajudar na melhor distribuição das riquezas, mas também em evitar repasses de renda às camadas mais privilegiadas. Outro desafio inerente à atividade governamental é a preocupação em fazer mais com menos. Como a economia ensina, os recursos são escassos, mas as necessidades são infinitas. Logo, a preocupação em ser eficiente é eterna. Paradoxalmente, contudo, o que se vê com frequência é que diversos serviços prestados pelo governo estão entre os mais ineficientes vistos na economia. Não raro, os custos são altos e a qualidade, insatisfatória. Há também a preocupação para que essa prestação de serviço não seja realizada com vistas a interesses políticos. TEMA 4 – ESTADO NACIONAL E GLOBALIZAÇÃO Globalização é um processo que consiste na crescente integração internacional que emerge das trocas de conhecimentos, modos de vida, produtos, procedimentos, além de aspectos tecnológicos e culturais. Envolve dimensões comerciais, produtivas, financeiras e institucionais. Não podemos falar em globalização sem citar os fatores que contribuem para uma integração mundial crescente. Entre os principais fatores concretos que vêm fomentando as diversas formas de trocas entre regiões e países, podemos citar os avançosnas comunicações e nos transportes. O avanço tecnológico das comunicações tem sido a base do processo de globalização, posto que esse processo pressupõe a integração – as diversas regiões do planeta só conseguem trocar informações e conhecimentos, ou realizar negociações com vistas à celebração de acordos, por meio das diversas formas de comunicação. 9 Uma empresa multinacional, por exemplo, necessita de uma forma ágil e confiável de comunicação para que as decisões de produção nas diversas unidades sejam tomadas pela matriz. A partir dos anos 1990, com a disseminação da internet, as comunicações se transformaram significativamente. Informações complexas passaram a ser transmitidas em tempo real, o que viabilizou o avanço da globalização. As trocas físicas entre países, sejam representadas pelo comércio internacional ou pelo intercâmbio de pessoas, são possíveis graças aos diversos meios de transporte. Nos últimos 50 anos, ocorreu um significativo incremento de rotas aéreas e a multiplicação do número de pessoas transportadas entre países. Além disso, avanços no transporte marítimo possibilitaram uma expressiva redução nos custos de transporte de mercadorias. No Brasil, a palavra globalização esteve no centro dos debates a partir do início da década de 1990, sob a influência do liberalismo econômico. Durante o Governo Collor, barreiras tarifárias e não tarifárias foram retiradas, fomentando as importações de bens e equipamentos. Mais tarde, essa iniciativa foi importante até mesmo para os avanços na área de comunicações. Já durante os Governos Fernando Henrique, a conquista da estabilidade econômica permitiu a elevação do investimento estrangeiro direto. Além disso, a entrada de companhias multinacionais viabilizou a chegada de modernas práticas de gestão ao Brasil, as quais trouxeram maior eficiência para a economia brasileira. O processo de globalização deu ênfase à importância das cadeias produtivas globais. As grandes empresas multi e transnacionais adotaram estratégias de sobrevivência em meio ao mercado internacional que incluíram o deslocamento da produção para países de custos mais baixos. As captações de recursos para os investimentos dessas grandes empresas também passaram a ocorrer no mercado internacional, o que estimulou a oferta de crédito para a internacionalização dos grandes grupos por meio da implantação de unidades subsidiárias. Esse processo de internacionalização crescente impacta positivamente o volume de comércio internacional e reduz custos, aumentando a eficiência produtiva. Em outras palavras, o desenvolvimento das cadeias produtivas globais fomenta o comércio internacional, que, por sua vez, estimula o aumento 10 da eficiência produtiva das nações envolvidas nas trocas. Além disso, traz mais concorrência para as empresas nacionais, as quais buscam maior competitividade por meio de maior racionalização dos custos e contínuos incrementos na eficiência produtiva. As Organizações Não Governamentais (Ong), conhecidas também pela denominação de Terceiro Setor, tiveram suas atividades ampliadas em termos de regiões atendidas. A globalização, por meio da facilitação das comunicações e transportes, permitiu que esses organismos realizassem trabalhos e captassem recursos em um maior número de países. Diante do processo de globalização, em termos comerciais e econômicos, as nações têm se posicionado por meio da celebração de acordos regionais de integração, tais como sistemas de preferências aduaneiras, zonas de livre comércio, união aduaneira, Mercosul, união política e monetária. TEMA 5 – SMI E O TRIPÉ DA POLÍTICA ECONÔMICA O SMI baseia-se no compromisso institucional do Banco Central do Brasil (BC) de manter a inflação próxima de determinada meta. Essa relação entre a expectativa e o compromisso é que representa a âncora nominal dos preços – fator que ajuda a manter a elevação do nível geral de preços sob controle. A operacionalização de um sistema de metas depende da observação de cinco elementos: 1. forte compromisso institucional por parte do BCB de que a estabilidade de preços é o principal objetivo da política monetária; 2. publicidade do anúncio das metas para a inflação; 3. explicação de como as diversas variáveis econômicas afetam as decisões da política monetária; 4. transparência referente à estratégia de política monetária por meio da comunicação com o público e com os mercados sobre os planos, os objetivos e as decisões do BCB; e 5. atribuição de responsabilidade ao BCB para que a inflação convirja à meta. Diferentemente de outras âncoras nominais, o SMI tem uma relação especial com as expectativas. Ao institucionalizar o compromisso de manter a elevação do nível geral de preços dentro de um patamar determinado, o SMI atua como guia para a expectativa dos agentes. Outro diferencial do SMI é a transparência, uma vez que, sob sua tutela, as diversas informações são disponibilizadas ao público. 11 O SMI foi adotado no Brasil a partir de junho de 1999. Desde então, as metas inflacionárias têm executado o papel de âncoras nominais dos preços por meio de sua função como guia das expectativas dos agentes. A partir de 1999, instalou-se um tripé da política econômica que, de certa forma, coordena até hoje a economia brasileira: 1. SMI; 2. câmbio flutuante; e 3. superávit primário. Esse tripé econômico foi estabelecido com o intuito de dar maior estabilidade à economia brasileira, ao mesmo tempo em que viabilizaria as condições para o crescimento sustentado do país. Nesse sentido, o SMI funciona como guia para a expectativa dos agentes, mediante a atuação responsável do BC na execução da política monetária. A ideia é que o nível de preços se comporte conforme as metas de variação previamente anunciadas. O câmbio flutuante, por sua vez, garante que o fluxo de entrada e saída de recursos do país varie conforme a dinâmica do mercado. Como resultado, o país não enfrenta problemas no balanço de pagamentos. Por fim, a política do superávit primário garante o pagamento dos juros da dívida pública, o que passa segurança aos investidores, além de evitar que o governo tenha problemas de caixa e conter parcial ou integralmente eventuais necessidades de aumento de tributos. Juntos, o SMI, o câmbio flutuante e a política do superávit primário contribuem para a confiança na economia de um país. Isso foi observado no Brasil de 1999 até 2014, quando as contas públicas se deterioraram e a inflação tomou uma dinâmica que impossibilitou o cumprimento da meta em 2015. NA PRÁTICA O economista Nelson Barbosa Filho (2015), em seu trabalho O desafio macroeconômico de 2015-2018, sugere 12 metas ou “trabalhos fiscais” para superar os problemas atuais do Brasil: 1. Diminuir a perda fiscal com o controle de preços monitorados; 2. Continuar a reduzir a folha de pagamento da União em proporção do PIB; 3. Estabilizar as transferências de renda a indivíduos em proporção do PIB; 4. Ampliar o gasto público real com saúde e educação por habitante; 12 5. Reduzir os demais gastos com custeio em % do PIB; 6. Aumentar o investimento público em desenvolvimento urbano e inclusão digital; 7. Reduzir o custo de carregamento dos créditos da União junto aos bancos públicos; 8. Reduzir custo das dívidas dos estados e municípios; 9. Realizar reforma do Programa de Integração Social (PIS)/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) com neutralidade fiscal; 10. Completar reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sem redução do resultado primário; 11. Estimular o empreendedorismo; 12. Aumentar a transparência fiscal, sobretudo do gasto tributário do governo. Escolha uma dessas metas e faça sua análise da situação atual no país. FINALIZANDO Nesta aula, vimos que a interação dosetor público com a economia é uma relação complexa, sendo que seu sentido e sua intensidade dependem de diagnósticos muito ligados, entre outros fatores, a visões político-ideológicas de mundo. Enquanto, ao longo da história brasileira, diferentes tendências são perceptíveis, nem sempre podemos afirmar que os políticos aprenderam com insucessos do passado. Dessa forma, alguns desafios permanecem presentes no cenário atual, cuja resolução depende de uma observação realista dos limites e capacidades da atuação governamental. 13 REFERÊNCIAS Bibliografia básica BARBOSA FILHO, N. O desafio macroeconômico de 2015-2018. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 403-425, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 31572015000300403&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 26 nov. 2018. REGO, J. M. et al. Economia brasileira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. SILVA, E. Formação Econômica do Brasil. Curitiba: InterSaberes, 2016. Bibliografia complementar CYSNE, R. P. (Org.). Plano real ano a ano. Rio de Janeiro: FGV, 1998. MARIANO, J. Introdução à economia brasileira. São Paulo: Saraiva, 2005. PIRES, M. C. Economia brasileira – da colônia ao governo Lula. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
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