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comentarios a nova lei nova lei do mandado de seguranca

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to"t constante do art. 1° da nova lei do man dado de segurans:a, sem.comenta~ 
. aspectos atinentes as disposis:oes complementares cjos.artigos 4•; 6•, §§1 2 , 5" 
e 6'; 10; e 19. De outra parte, nao se pode einpreender estudo sobre a "legiti-
! 
mas:ao passiva no mand.ado de segurans:a" sem prO mover urn relacionamento 
mfnimo entre as disposis:oes nos artigos 12, §§ 12 e 2'; 22 ; 62 , §§ 3• a 69 ; 99 ; 10, 
§ 12; 11; 13; 14, § 2"; e 19 da Lei n" 12.016/2009 e assim por diante. 
Por isso, mantive a sistematizas:ao da materiel que promovi ao escrever sabre 
o mandado de segurans:a na egide da revogadaLei n" 1.533/51, inclusive apro-
veitando subsfdios doutriniirios basi cos lans:ados a epoca, que, dogmaticos, res-
taram inalterados mesmo ap6s a introduc;:ao do novo regrame.ntO. No entanto, ao 
iniciar cada capftulo/tema, tive o cui dado de tranScrever os artigos pertinentes 
da Lei n" 12.016/2009, tanto para nortear a leitura a ser realizada, quanto para 
garantir inteira fidelidade do conteudo do livre ao seu titulo. 
Enfim, espero, sinceramente, que este estudo sirva para a finalidade em 
funs:ao da qual foi idealizado. Quero, tambem, con tar com a participas:ao do 
lei tor em eventuais futuras-edis:5es, como objetivo de aprofun~ar determina-
dos pontos e corrigir distor90es te6ricas e praticas em que o texto ora Ofere-
cido tenha incorrido. Afinal, trata-se de uma objetiva impressao inicial sobre 
a nova lei do mandado de seguranp, manifestada "nos primeiros raios de urn 
novo amanhecer". 
Seja como for, terei semPre imensa satisfas:ao deter sido urn doS primeiros 
a escrever sobre diploma legislative tao relevante, que norteia o magnifico 
institute do mandado de segurans:a e que, a seguir o destine de seu anteces-
sor, quem sabe vigorara.por outros cinquenta e tantos anos. 
Mauro Luis Rocha Lopes 
mauluis@gmail.com 
SuMAruo 
Capitulo 1 Introdus:ao ...................................................................................... 1 
1.1. Origem Hist6rica ............................................................................................. , ... , ......... 1 
1.2. Conceito. Custas. Valor da Causa .................................................................. ~ ....... .2 
1.3. As:ao. Conceito. dassificas:ao. Enquadramento 
do Mandado de Segurans:a ............................................ , ........................................... 4 
Capitulo 2 Pressupostos Especificos de Cabimento ............................... 7 
2.1. Direito Liquido e Certo ............................................................................................... 7 
2.2. Ato llegal ou Praticado com Abuso de Poder (Ato Coator) ...................... 14 
2.2.1. Mandado de segurans:a preventive ......... : ...... , ................................ 16 
2.2.2. Omissao .................................................................. , ........ : ......... , ................. 18 
2.2.3. Atos de direito publico e de direito privado ................................ 20 
2.2.4. Atos praticados par delega<;ao ......................................................... 21 
2.2.5. Atos praticados par representantes au 
6rgaos de partidos politicos ............................................................... 24 
2.2.6. Ato legislativo ........................................................................................... 26 
2.2.7. Atos sujeitos a habeas corpuse habeas data .............................. 29 
2.2.8. Ato de que caiba recurso administrative com 
efeito suspensive, independentemente de caus:ao .................. 30 
2.2.9. Ato jurisdicional ............................................................ : ......................... 31 
2.2.10. Ato praticado pel a Ministerio Publico ........................................... 37 
2.2.11. Ato disciplinar .......................................................................................... 38 
2.3. Prazo ........................................................................ : ...................................................... 39 
2.3.1. 
2.3.2. 
2.3.3. 
Natureza jurfdica ................................... , ................................................. 40 
Compatibilictade com a Constittii;:ao ........................... ; .................. 41 
Aspectos concretes ................................................................................. 41 
Capitulo 3 Legitimidade (Partes) ............................................................... 47 
3.1. Ativa ............................................................................................................................... 47 
3.1.1. Legitimas:ao extraordiniiria ................................................................ 51 
((((((((((((((((((((((((((((((((((! 
3.1.2. 
3.1.3. 
Litiscons6rcio ativo ....................................... , ............... , ........................ 52 
Assistencia ... : ............................ ~ ............................................... : ................ 53 . 
3.2. Passiva ... : ............................................... : ................................. T .................................... 54 
3.2.1. Litiscons6rcio passivo .............. : ................... /. ...................................... 57 
3.2.2. Autoridade coatora ................................................................................ 59 
3.2.3. Informa~oes ..... , .......... : .............................................................................. 64 
Capitulo 4 Competencia ....... , .. , ...................................................................... 69 
Capitulo 5 Ministerio Publico ...................................................................... 75 
Capitulo 6 Desistencia .................................................................................... 79 
Capitu!o 7 Liminar .......................................................................................... 81 
7.1. Previsao e Requisitos .............................................................................................. 83 
7.2. Garantia .......................................................................................................................... 85 
7.3. Natureza )urfdica ........................................................................................................ 86 
7.4. Natureza do Ato Concess6rio ................................................................................ 87 
75. Concessao de Offcio ................................................................................................. :.88 
7.6. Caducidade da Liminar ............................................................................................ 88 
7.7. Prazo de Validade da Liminar ............................................................................... 90 
7.8. Veda~oes a Concessao de Liminar ...................................................................... 91 
7.9. Recurso e Pedido de Suspensao de Execu9iio da Liminar .................. :;; .. 92 
7.10. Liminar em Materia Tributaria ........................... :: ............................................... 93 
Capitulo 8 Senten~a ........................................................................................ 99 
8.1. Concessao da Seguran~a. Duplo Grau Obrigat6rio. 
Execu~ao Provis6ria .............................................................................................. 100 
8.1.1. Cumprimento da senten~a. San~oes. Desobe.diencia ........... 106 
. 8.2: · Denega~ao da Seguran~a. Ren(lva~ao da Pretensiio ... , .............................11 0 · 
8.3. Coisa )ulgada ................................................................................... : ......................... 112 · 
8.4. Honorarios Advocaticios ...................................................................................... 114 
Capitulo 9 Suspensiio da Execu~ao da Liminar ou 
da Senten~a Concessiva ......................................................... 117 
Capitulo 10 Recursos ...................................................................... , .............. 127. 
10.1. Legitimidade : ... : ............................................ , ..... : ................................................... : ... 128 
10.2. Prazo ....................................................................................... ,. ................................... 130 
10.3. Apela9iio ..................................................................................................................... 130 
10.4. Embargos de Declara9iio ...................................................................................... 131 
10.5. Embargos Infringentes ......................................................................................... 132 
10.6. Agravo ......................................................................................................................... 132 
10.7. Recursos Previstos na Constitui9iio (Especial, Extraordinario 
e Ordinaria) ............................................................................................................... 139 
10.8. Aspectos Atinentes ;10 Processamento nos Tribunais do Mandado de 
Segurans:a e dos !>e'spectivos Recursos ......................................................... 142 
Capitulo 11 Mand"ldo de Seguran~a Coletivo ....... : ................................. 145 
11.1. Definil'iio ..................................................................................................................... 146 
11.2. LegitimidadeAtiva .................................................................................................. 147 
11.2.1. Partidos politicos .............................. , .................................................. 147 
11.2.2. · Organiza96es sindicais ( sindicatos ), entidades de classe 
(OAB e Conselhos) e associas:oes ............ : ..................................... 151 
11.3. Objeto ........................................................................................................................... 154 
11.4. Decisiio ....................................................................................................................... 158 
11.5. Coisa julgada ............................................................................................................. 159 
Capitulo 12 Legisla~ao ................................................................................... 161 
Capitulo 13 Sumulas dos Tribunais Federais Relativas 
a Man dado de Seguran~a .................................. , ................... 173 
Bibliografia Citada e Consultada .................................................................... 185 
indice Remissivo ................ :: ..... , ............................................. ;.-........................... 189. 
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I CAPITULO 1 lNTRODU\=AO 
1.1. ORIGEM HISTO~ICA 
0 Estado e a sintese do~ interesses dos individuos que o com poem. Ap6s o 
rompimento com a Monarquia Absolutista, representada na frase L'etat c'est 
moi (0 Estado sou eu), atribuida ao rei Luis XIV, surge o Estado de Direito, que 
se caracteriza pela submissao a lei por ele proprio editada (Suportas a lei que 
fizestes). 
Atribui-se a origem do Estado de Direito a Magna Carta, imposta no anode 
1215 ao rei joao Sem Terra pelos baroes ingleses, a fim de garantir a proteqao 
de direitos individuais destes- embora sem preocupaqao com os direitos dos 
demais cidadaos -, cuja supressao s6 se daria atraves da Lei da Terra, ou Law 
of the Land, expressao que posteriormente viria a ser substituida por due 
process of law. 
Nos EUA, somente a s• emenda a CF, em 1791, preocupou-se em garantir 
expressamente os direitos individuais dos cidadaos diante do Poder Publico, 
com a cl<iusula due process of law, assim redigida: "nenhuma pessoa sera 
privada da vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo legal". 
Em urn Estado de Direito, em que o exercicio do Poder Publico encontra 
limitas:oes em direitos individuais reconhecidos como tais em normas de 
elevado escaHio hierarquico, oman dado de seguranqa - ou writ dos ingleses-
assume papel de destaque como instrumento de proteqao dos cidadaos. 
No Brasil do Imperio, preponderava o entendimento de que os atos da 
. Administra9ao nao poderiam ser r'evistos pelo Poder judiciario, em nome da 
separaqao de poderes. Com a Lei n• 221, de 1894, atraves da aqao sumaria 
especial, institucionalizou-se o controle dos atos da administraqao publica 
pelo )udiciario. 
A Constituiqao de 1891 previa, em seu art. 72, § 22, a figura do habeas 
corpus, mas nao fazia mens:ao a prisao ou ao constrangimento ffsico, de forma 
que, sendo o caso de liberdades individuais em geral contrapostas ao atuar da 
tvtwRo Luis RocHA LoPES CoMENTAruos A NovA LEI oo 
MAN DADO DE SEGURAN~ 
administras:ao publica, cabia protes:ao atraves do habeas corpus, ate o advento da 
Emenda Constitucional de 1926, que restringiu o aludido remedio a 6rbita penal. 
For obra da Constituis:ao de 1934, o mandado de segurans:a foi incorporado ao 
ordenamento jurfdico brasileiro, para protes:ao de direito certo e incontestavel, 
na forma de seu art. 113, n• 33, regulamentado pela Lei n• 191/36. 
Fruto do autoritarismo do Estado Novo, a Constituis:ao de 1937 extinguiu 
a figura do mandado de seguranp que, com.a promulgas:ao da tonstituis:ao 
de. 1946, voltou a figurar. como garantia constitucional, tendo havido a 
substituis:ao da expressao "d'ireito certo e incontestavel" por "direito liquido e 
certo". A Constitui9ao de 1967 e a Emenda Constitucional n• 01/69 mantiveram 
o mandado de .segurans:a no ordenamento juridico brasileiro, assim como a 
Constituis:ao atual, promulgada em 1988, tendo esta in ova do ao criar a figura 
do mandado de seguran9a coletivo (art. s•, incises LXIX e LXX). 
Na vigencia da Carta Constitucional de 1946, editou-se a Lei n• 1.533/51, 
que regeu o procedimento do mandado de seguranp, ainda que com altera>5es 
decorrentes de leis supervenientes, ate o advento da Lei n• 12.016/2009, 
que, incorporando, alterando e revogando o tratamento normative ate en tao 
dispensado a materia, passou a deJa tratar. 
Inspira-se o mandado de seguran<;a brasileiro no ]uicio de Am para (Mexico) 
e no judicial Review, como os ingleses tratam o meio atraves do qual seus 
trib.unais controlam o exerdcio do poder governamental. 
1.2. CONCEITO. CUSTAS. VALOR DA CAUSA 
Trata-se o mandado de segurans:a de as:ao civil de rito sumario especial que 
se destina a afastar lesao a direito subjetivo individual ou coletivo, por meio 
de ordem corretiva ou preventiva de ilegalidade ou abuso de poder dirigida a 
autoridade publica ou a quem fizer suas vezes ou a.ela for equiparada. 
Garantia constitucional fundamental (art. s•, incises LXIX e LXX), o mandado 
de seguran9a e instrumento perene do Direito brasileiro- clausula petrea ou 
imodificavel-, sen do induvidoso que emenda constitucional tendente a aboli-
Io sequer pod era ser deliberada (CF, art. 60, § 4", inciso IV). 
Sendo a9ao civil de rito especial, o mandado de seguran<;a e regido 
primariamente pela Lei n• 12.016/2009 e, subsidiariamente, pelo C6digo de 
Processo Civil, naquilo em que nao haja confronto com a norma especial ou com 
a essencia jurfdica do i~strumento. 
0 procedimento do writtem porcaracteristica principal a celeridade, objetivo 
que representou o nortedo idealizador da Lei n"12.016/2009, a qual, em seu art. 
20, caput, preceitua que, ressalvado o habeas corpus, os processos de niandado de 
2 
lNTRODU<;fi.,O CAPiTULO 1 
seguran('a e as respectivos recursos teriio prior/dade sabre todos os atos judicia is, 
sendo que o prazo para a conclusao dos autos nao podera superar cinco dias 
(§ 2"). No particular, a citada nova lei do mandado de segurans:a praticamente 
reproduziu as disposis:oes que constavam do art. 17, caput, e paragrafo tinico 
da revogada Lei n• 1.533/51, apenas aumentando o prazo maximo p;;ra a 
conclusao dos autos, de inexequfveis vinte e quatro horas para cinco dias. Dcntre 
• os mand.ados de segurans:a •. terao prioridade dejulgamento aqueles em que a 
!iminar tiver sido deferida(Lei n• 12.016/2009, art. 7•, § 4"). 
Ao contr<irio do que ocorre na propositura de outras a~Oes constitucionais 
como o habeas corpus eo habeas data, em relas:ao as quais o postulante bz jus 
ao beneffcio da imunidade quanto a taxa judiciaria (CF, art. 5", inciso LXXVII), 
a impetras:ao do mandado de segurans:a se sujeita ao referido tribute. 
E verda de que alguns autores entendem que a imunidade alcans:a tambem 
oman dado de segurans:a, por considerarem-no garantia similar aos aludidos 
remedies e a to necessaria ao exercfcio de cidadania ( expressao empregada no 
dispositive constitucional imunizante mencionado ). 
No entanto, a tese e repelida pela jurisprudencia, que autoriza a incidencia de 
custas judiciais- que tern natureza de taxa- nas as:oes de man dado de seguruns:a, 
as quais somente terao sua exigibilidade afastada nos casos de isens:ao (a criteria 
do legisladcir da entidade tributante)ou de miserabilidade do impetrant<', que 
vern a ser outra hip6tese ·de imunidade quanta a taxa judiciaxia, prevista no 
art. 5•, inciso LXXIV, da CF. 
Na justip Federal, o mandado de segurans:a ha de ser enquadrado na 
tabela de custas estabelecida na Lei n• 9.289/96, como uma das Gf:6es civeis 
em gera/ a que se refere a alfnea a, sendo a taxa correlata cobrada na base de 
1 o/o sabre o valor da causa, tendo como limites minima e mciximo as quantias 
equivalentes a dez Ufirs e a 1.800 Ufirs. 
Note-se que a petis:ao inicial do mandado de segurans:a deve, necessa-
riamente, indicar o valor da causa, j<i que se trata de a~ao civil, submetida, no 
particular, ao regramento generico do CPC estabelecido no art. 258 (Art. 258. 
A toda causa ser6. atribufdo urn valor Cfjrto7 ainda que niio tenha conceUdo 
econi)mico imediato ). 
Alem de servir de base para a quantificas:ao da taxa judiciaria, o valor da causa 
tambem sera parametro para 0 calculo do valor da multa prevista no art. 14, 
inciso V e paragrafo linJco, do CPC, por eventual ato atentat6rio ao exercicio da 
jurisdis:ao praticado I]b curso do processo. Daf sua importancia tambem nos 
mandados de segura)is:a. 
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MAN DADO DE SEGURAN<;:A 
1.3. AQAO. CONCEITO. CLASSIFICAQAO. ENQUADRAMENTO 
DO MAN DADO DE .SEGURANQA . 
A~ao e odireito publicosubjetivo a obtens:ao de urn p:;ovimento jurisdicional 
estatal sabre urn conflito de interesses, obviando os reflexos negatives que os 
litigios geram a sociedade. 0 direito de as:ao e garantido pela Constituis:ao 
Federal, quando proclama o livre acesso ao Poder judiciario (art. s•, inciso 
XXXV) e e tam bern autonomo (abstrato}, ou seja, nao esta vinculado ao dire ito 
material que visa proteger, resultando disso que' o titular (autor} da as:ao nao 
nccessariamente saira vitorioso ao final da contenda. 
0 Codigo de Processo Civil brasileiro classificou as as:oes em: a} de 
conhecimento; b} de execu~ao; e, c} cautelares. 
A~:CJES DE CONHECIMENTO (ou de cognis:ao} sao tambem conhecidas como· 
declarat6rias lata sensu. E atraves delas que, diante dos conflitos, o judiciario, a 
luz do direito positivo, afirma qual dos litigantes est<\ com a razao. Dependendo 
da necessidade e da utilidade da decisao judicial para o caso concreto, o: 
jurisdicionado podera perseguir provimento meramente declaratorio, 
constitutivo ou condenat6rio. 
Eo pedido, pois, que delimita a !ide, sobre a qual se desenvolvera a atividade 
jurisdicional. Por isso, a subdivisao das as:oes de conhecimento hade ser feita 
tendo em vista o tipo de provimimto jurisdidonal perseguido pela parte. 
As a~5es declaratorias ( ou meramente declarat6rias} sao aquelas que 
ensejam provimento que se limita a declarar a exist8ncia ou nao de uma 
relas;ao jurfdica ou a autenticidade ou falsidade de urn documento (CPC, art. 4•). 
A atividade jurisdicional ira se limitar a referida declaras:ao, exaurindo-se com 
a mesma, vale dizer, as sentens:as meramente declqrat6rias nao proporCi-onam 
execw;:ao. 0 pronunciamento estatal, nesse caso, nao importarc1 em crias:ao ou 
constituis:ao de situas:ao jurfdica inovadora. 
As:oes constitutivas, por seu turno, sao as que ostentam pretensao de 
constituis:ao (positivas} ou desconstituis:ao (negativas ou desconstitutivas} de 
atos ou situas:Oes juridicas e, assim como as declarat6rias, nao rendem ensejo 
a execus:ao. 
)a atraves das a~iies condenatorias, o autor objetiva provimento que 
condene o reua lima prestas:ao (dar, fazer, nao fazer}. Sao elas as unicas que 
ensejam execus:ao de julgado, caso nao haja cumprimento espontaneo deste 
pelo vencido. 
A<:OES CAUTELARES sao aquelas atraves das quais o requerente tern 
por finalidade garantir a eficacia pratica do provimento jurisdicional a ser 
concedido no processo de conhecimento ou no processo de execus:ao. Por 
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isso, o~tentam carciter provis6rio, acess6rio e instrumental. Todavia, nao se 
. pt'estam a anted par os resultados do processo principal (satisfativas}, papel 
proprio do instituto da antecipas:ao de tutela (CPC, ar~s. 273 e 461}. 
A<:OES DE EXECU<:AO sao propostas com a finalidade de efetivas:ao do 
direito do erector e pressup6em titulo executivo judicial ou extrajudicial. 
Visam a obtens;ao, de forma coercitiva, de resultado pratico equivalente ao 
que o erector disporia como adimplemento espontaneo da obrigas:ao. 
No que diz respeito ao enquadramento do mandado de segurans:a, em bora 
seja indene de duvidas que se trata de as:ao de conhecimento, nao ha uni-
formidade de tratamento doutrinario sobre sua natureza especffica, a se 
considerar as subespecie;; de as:oes cognitivas ( declaratorias, consti~utivas e. 
condenat6rias}. · 
A rigor, hii quem arrole, como Pontes de Miranda, em relas:ao as as:oes de 
conhecimento, outras subcategorias, como as a96es· executivas lata sensu e 
as as;iies mandamentais. Estas (mandamentais} seriam caracterizadas por 
delas emanar ordem judicial que nao necessita de acesso a via executiva para 
ser implementada, por ser possuidora de pronto realizabilidade pnitica (o juiz 
simplesmente determina, por meio de offcio oil mandado, que a autoridade 
coatora cumpra o mandamento contido na parte dispositiva da sentens:a}. 
Entret.into, a maheira·como se efetiva o comando extrafdo da senten9a nao 
justifica a crias;ao de uma especie autonoma de as:ao. Como ensina Alexandre 
Freitas Camara, a melhor doutrina (Chiovenda, Liebman, Frederico Marques, 
Greco Filho} so admite como cientificamente adequada a classificas:ao que 
leva em conta a especie de tutela jurisdicional pleiteada pelo autor. 
Sendo assim, e por nao haver duvida que o mandado de segurans:a 
pode cooter pedido meramente declarat6rio (ex.: declaras:ao do dire ito 
de participar de licitas;ao publica, emanada de mandado de segurans;a 
preventivo }, constitutivo (ex.: cancelamento de multa .de trans ito} ou 
condenat6rio (ex.: obrigas:ao de expedir certidao negativa·de debito ou de 
pagar verbas vencidas entre a impetras:ao e a decisao final}, pode-se concluir, 
com jose Carlos Barbosa Moreira, que o mandado de segurans;a nao constitui 
uma e:sp6Cie aut9nonl3. d-e a~ao,--i~Serind~-se na-_tradicionai -classifiCayao cias 
as:oes de conhecirne!ltO, dependendo do tipo de provimei.tto desejado pelo 
impetrante a sua caracterizas:ao em uma das especies aludidas. Alias, a a>iio 
mandamental a que faz referencia o Estatuto da Crians;a e do Adolescente 
(ECA}, Lei n" 8.069/90, em seu art. 212, § 2", nada mais e do que urn mandado 
de segurans:a, no escolio autorizado de Barbosa Moreira. 
E interessante notar que e tendencia atual do Direito Processual, 
evidenciada com a edis:ao da Lei n• 11.232/2005, a extins:ao do processo 
5 
}·/lAURO Luis RocHA LoPES CoMENTAruos A NovA LEI no 
MANDADO DE SEGURAN(,:A 
aut6nomo de execus;ao, em moldes a que a as;ao condenat6ria se aproxime 
das caracteristicas atribuidas as chamadas as;5es executivas lata sensu ou 
mandamentais. Confira-se a previsao de Humerto Theodora Junior: 
"0 que, no passado, serviu para identificar a as;ao 
condenat6ria - a actio iudicati - simplesmente esta sen do 
abolido e, em breve, nao deixara resquicio algum. A as;ao 
conden:?t9ria, nesse~ mold,es, simplesmente pern1iti_ra _ao __ 
juiz:~. em: s_~guida a sentensa, tamar, pof manda:do, todos 
os atos necessar~os a compelir o obrigado a realizar a 
presta;:ao devida, ou a substitui-lo nessa implementas;ao, 
sem necessidade alguma de ulterior processo aut6nomo 
de execuriio. Em vez de fonte de titulo executivo, a as;ao 
condenat6ria apresentar-se-a como fonte generalizada de 
execus;ao (se necessaria) das presta;:oes acertadas em favor 
da parte credora." 
Portanto, a especificidade, consistente na inexigibilidade de processo 
aut6nomo de execus;ao para se efetivar o comando da senten<;a de procedencia, 
que para alguns era o fundamento do alijamento do mandado de segurans;a 
da tradicional classificas;ao das as;oes de conhecimento, passa tambem a se 
incorporar a sistematica da a~ao condenat6ria com urn. Decorre disso que a 
a_u'toexecutoriedirde e amandaJi?.ent'ali_dade d'as decis()'es irao se tornaf regra, 
"atributos normais, inerentes a todos os provimentos sentenciais de funs;iid 
condenat6ria", na conclusao do mestre citado. As senten~as condenat6rias 
passam a dispor de "efetivas;ao interna", em nome do visado sincretismo 
processual. Mais uma razao para nao se conceber a apia mandamental, como 
figura excepcional distinta das demais as;oes de conhecimento. 
A processualizas;ao do mandado de seguran;:a, isto e, sua caracteriza;:ao 
como as;ao, apresenta, como ponto de preocupas;ao!. a crias;ao de obstaculos 
a livre_utilizas:ao de tal remedio constitucional, decorrentes de exacerbado 
formalismo - puro fetiche pela forma processual, em detrimento do direito 
material em jogo. 
Por isso, e valida a lis;ao de Ney Jose de Freitas, para quem "a solus;ao 
conciliat6ria consiste em tratar o mandado de seguran;:a como a;:ao, mas 
jamais permitir que o formalismo do process a possa impedir que a garantia 
constitucional se efetive no plano da realidade, pais o processo e meio e nao fim, 
devendo ceder passo a tutela de urn direito previsto em texto constitucional". 
6 
CAPITULO 2 
PREssurosTos EsrEcfFicos 
DE· CABIMENTO 
2.1. DIREITO LiOUIDO E CERTO 
DJsposis;iies pertinentes da Lei n" 12.016/2009: 
, ... _,,,-,-,,--- '''"' 
"Art. 111 Conceder-se-a mandado de seguranya para proteger 
direito liquido e certo, nao amparado por habeas corpus ou 
hqbeasdata, sempre que, ilegalmente ou com abuse de poder, 
qu~lquer p_essoa ffsica ou jurfdica.sofrer_ violac;ao ou _houyer 
just_o receio de sofr€-la p~H~ partedE(autoridade,_seja de que 
categoria fore sejam quais forem as func;6es que exerc;a. 
( ... ) 
Art. 4 11 Em caso de urg€mcia, e- permitido, observados os 
requisites legais, impetr"ar mandado de seguranc;a por 
telegrama, radiograma, fax ou outro meio eletr6nico de 
autenticidade comprovada. 
( ... ) 
Art. 6• ( ... ) 
§ V· No caso em que o documento necessano a prova do 
alegado se ache em reparti<;§.o ou estabelecimento pUblico 
au em poder de autoridade' que se recuse a fornece-Io por 
certid3.o ou de terceiro, o juiz ordenara, preliminarmente, 
por oficio, a exibic;3.o desse documento em original ou em 
c6pia aut€ntica e mafcara, para o cumprimento da ordem, 
o prazo1 de 10 (dez) dias. 0 escriv3.o extrairci c6pias do docum~nto para junta-las a segunda via da petis;ao. 
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MANDADO DE SEGURAN<;A 
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"- ·- § 5!! Denega-se o.mandado de seguranc;a nos casas previstos pelo 
art. 267 da Lei n' 5.869, de 11 de janeiro de 197,3 - Codigo de ' 
. ' 
Processd Civil. J 
§ 6° 0 pedido de mandado de seguranc;a podera ser renovado 
dentro do prazo decadenci~l, se a decisao denegat6ria nao lhe 
houver apreciado o m~rito. 
Art. 10. A inicial sera desde logo ind-eferida, par decisao 
motivada, quando nao for .o caso de mcp1dado de seguranc;a ou 
!he faltar algum dos requisites legais ou quando decorrido o 
prazo legal para a impetras:ao. 
( ... ) 
Art. 19. A sentenc;:a ou o ac6rdao que denegar mandado de 
seguranc;a, sem decidir o merito, nao impedira que o requerente~ 
por ac;:ao prOpria, pleiteie os seus direitos e_os respectivos efeitos 
patrimoniais." 
Segundo Hely Lopes Meire!les, direito liquido e certo eo que se apresenta 
"manifesto na sua existencia, delimitado na sua extensao e apto a ser 
exercitado no momenta da sua impe.tra9ao". Noutros termos, passive! de 
protes;ao mediante mandado de segurans;a sera o dire ito escorado em fatos 
evidenciados de plano, mediante prova pre-constituida, uma vez que ,o rito 
especial da Lei n"12.016/2009 nao com porta dilaqao probat6ria. 
"A aqiio de pedir seguran>a tern rito especialissimo, de 
indole documental, exigindo prova pre-constitnida dos 
fatos articulados na pe>a vestibular, niio admitindo a . -
dila,ao probat6ria. A peti>iio inicial ·deve indicar com 
clareza e precisiio o a to da autoridade que macula o dire ito 
do impetrante. 0 mandado de seguran>a e remedium 
juris para prote9iio de direito liquido e certo, resultando, 
porem, de fato comprovado de plano, devendo o pedido 
vir estribado em fatos incontroversos, claros e precisos, 
ja que, no procedimento do mandamus, e inadmjssivel a 
dila9iio probat6ria';CSTJ, ROMS 9623/MS, 1• Turma, ReLMin. 
Dem6crito Reinaldo, D]22/3f99; p. 54). . 
A interpretaqao baseada na evoluqao hist6rica do instituto no Direito 
brasileiro revela que o mandado de seguranqa tera cabimento por mais 
complexa que se revele a discussao juridica travada entre as partes. Nada 
impede que sejam decididas em mandado de .seguranqa quest5es de alta 
indagas;ao, a exemplo da alegaqao de inconstitucionalidade da lei que tenha 
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!'!U~~lJl'V~ IV=> C::>l'tUt!CU:.. Dt LA!$1,\-IENTO LAP!TULO L 
· fun:damentadoa pratica do a to atacado. Com efeito, a expressao dir?ito certo 
e incontestave/, constante da Constituiqao de 1934 e abo !ida pelos posteriores 
ordenamentos~ nao pode servir de parametro para a e:>fegese do requisite ora 
vigente, qual seja, direito /fquido e certo. 
"Se OS fatos estiio comprovados, nao pode 0 juiz deixar 
de examinar a questao de fundo sob a assertiva de 
ser complexa a questao de direito" (STJ, 220174/CE, 1' 
Turma, Rei. Min. Garcia Vieira, Dj 11/10/99, p. 53). 
No mesmo sentido e o enunciado da Sumula n• 625 do STF, de cujo teor 
extrai-se que controversia sabre materia de direito ntio impede con~f!SSCio de 
mandado de seguranra. 
A complexidade dos'fatos, a evidencia, tambem nao exc!ui a utilizaqao 
do mandado de seguranqa, bastando que todos se encontremcomprovados 
de plano (v. STF-RT 594/248). E passive!, por exe{uplo, a pessoa que ve 
negado pelo INSS seu pedido de pensao previdenciaria instituida por 
companheiro(a), a impetra<;iio de man dado de segurans;a visando a concessao 
judicial do beneficia, bastando que instrua a petis;ao inicial do mandamus com 
robustos elementos de convic<;ao (autos de justifica<;ao judicial com termos 
de depoimento de testemunhas, documentos indicando a coabita<;ao e a 
existencia de prole en\ co mum etc.) a dispensar a produqao de outras provas 
' no curso do processo. 
Todavia, os casas para cuja soluqao a pericia judicial seja imprescindivel 
(v.g., pretens5es envolvendo aposentadoria por invalidez ou de auxilio-
doenqa) nao podem ser admitidos em sede mandamental. 
"( ... ) na via processual constitucional do mandado de 
seguran,a, a liquidez e a certeza do dire ito devem vir 
demonstradas initio litis. In casu, niio ha como analisar a 
ilegalidade da referida avalia9iio, de modo a justifkar o 
pedido de sua dispensa. Tal exame deve ser feito atraves 
de pericia. Para tanto, e necessaria dila9iio probat6ria, 
possivel somente na via ordinari<i, a qual ficaressalvada. 
. nesta oportunidade. ·Ausencia de liquidez e certeza a 
amparar a pretensao" (ST), ROMS 14079/RS, 9 Turma, 
Rei. Min. jorge Scartezzini, D] 13/10/03, p. 382). 
No caso concreto, o impetrante busca o reconhecimento 
do dir.eito de renovar a CNH, que !he foi negado pela 
autoridade de transito, com base em exame de aptidiio 
fisica, por ter apresentado problemas oftalmo16gicos. 
Inviavel e a utilizas:ao do mandamus na hip6tese. A 
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MAuRo Luis RocHA LorEs 
CoMENTAruos A NovA LEI oo 
MANDADO DE SEGU.RA.N<;A 
aprecia~i!o do pleito depende de investiga~i!o detida 
acerca da aptidao ffsica do impetrante para ter a CNH 
renovada, ainda mais por se tratar de habilita~i!o para 
a condu~i!o de veiculos pesados ( categoria "C'J, nao se 
podendo prescindir da realiza~ao de prova peri cia! como 
prop6sito de se atestar ou ni!o a capacidade do condutor" 
(STJ, REsp. 714519, 1' Turma, Rel. Min. Francisco Falcao, Dj 
21/11/05, p.l49J. . . . . 
Nao raro, entretanto, a documento.;:ao indispensavel a prova dos fatos alegados 
pelo impetrante encontra-se retida pela Administra<;ao Publica, cujos agentes 
costumam atribuir canina fidelidade a ordens de serviros - ou outras normas 
internas manffestamente ilfcitas - que obstruem o acesso do administrado a 
processes administrativos de seu interesse ou as certid5es correlatas. 
Nesses casos mostra-se invocavel a disposi.;:ao do § 1• do art. 6• da Lei 
n• 12.016/2009. cabendo ao impetrante, em sua pe<;a inicial, requerer ao 
juiz que ordene, preliminarmente, por ojfcio, a exibirfio desse documento em 
original au c6pfa autentica. Somente a requisiyao judicial em exame tera o 
condao de afastar o ilfcito impeditivo criado pela propria Administra<;ao a 
utiliza<;ao de meio eficaz de controle externo de seus atos. 
"Uma vez postulada, pelo autor, de forma expressa, a 
requisi~i!o de documento. essencial a prop9situra da 
a~i!o, nao se ha falar em inepcia da inicial, por ausencia 
da documenta~ao necessaria" (ST), 152925 /SP, 1 a Turma, 
Rel. Min. Garcia Vieira, D] 13/10/98, p. 21. 
A ausencia de documenta<;ao que tenha resultado de recusa da Administra<;ao 
em fornece-la a parte impetrante deve ser assim justlficada ao juiz, logo na pe<;a 
inicfal do mandamus, a fim de que a requisi<;ao aludida seja viabilizada. 
"No mandado de seguran~a. a prov\l'·dos fatos alegados 
deve acompanhar a inicial. Pode, e c~rto, ser o documento 
requisitado pelo juiz, mas isto depende, pelo menos da 
alega~ao do impetrante quanto ao obstaculo colocado 
pela autoridade que o detem; ao fornecimento de 
certidao. Sea inicial, na qual fa to relevante e alegado, vern 
desacompanhada de provas, e nem cogita da requisi~ao 
de docutnentos, e correto o seu indeferimento liminar" 
(TRF da 5• Regiao, MAS 48288 /PE, 1' Turma, Rei. J uiz Hugo de 
Brito Mac!{ado, Dj 25/8/95, p. 54.444). 
A teoria da carga· d{nd_mit.;d -da prova,- oriunda do Direito. argentfno e 
bastante difundida pela dcmtrina moderna brasilelra, em princfpio tambem 
10 
PREssurosTOS EsrECiF!cos DE CABIMENTO CAPITULO L-
tern aplica.;:ao no rito do man dado de seguran<;a, minimizando a exigencia de 
prova pre-constitufda aqui examinada. 
Tal teoria parte da premissa de ~que, sendo o processo dinamico. nao faz 
sentido a. fixa~ao estatica do onus da prova, como se em qualquer caso o 
mesmo estivesse vinculado unicamente a quem a!ega o fa to constitutive do 
direito reclamado no processo. Nao seria justo, por exemplo, a exigencia de 
prova diab6/ica, ou seja, aquela cuja produc;ao se revele inviavel a parte a 
quemaproveitaria, e que e assim chamada porquanto; diante da perversidade 
que denota, sua exigencia so p6deria ser atribuid~ a urn espfrito maligne. 
Disso resulta a ideia de que o juiz ha de exigir a prova da parte que esta 
em melhores condi~6es de produzi-la, ainda que tal elemento seja utilizado 
na forma<;ao de convic.;:ao contra.ria aos seus interesses. Vale, contudo, 
a advertencia de Alexandre Freitas Camara, para o qual s6 se justifica a 
redistribuirii,o do onus da prova quando a parte a quem, a principia, incumbida 
referido onus nfio estci em condiroes, nem sequer suficientes, de produzi-la. 
lsso significa que, se a parte esta em condic;6es de produzir a prova que !he 
interessa, haveni de suportar o respective onus, ainda que tal produ<;ao fosse 
mais facil a parte contn\ria. 
A relevancia da adoc;ao da teo ria da carga dinamica da prova no processo 
do man dado de seguran<;a e intuitiva. Nao se pode exigir da parte impetrante 
prova pre-ccinstitufda, como cond.i<;ao para a utiliza.;:ao do remedio heroico 
estudado, quando inviavel se revele, para ela, sua produ<;ao. E que a au tori dade 
apontada como coatora nao se atribui apenas a facu!dade de juntar, com as 
informa<;6es, as provas que lhe sejam convenientes, mas tambem o dever de 
apresentar aquelas cujo onus de produzir !he seja imputado. 
Imagine-se a hipiitese de urn mandado de seguran<;a impetrado por urn 
servidor publico para impugnar o sofrimento de san~ao disciplinar aplicada 
pela Administra<;ao por suposto ato de quebra de hierarquia, consistente 
no envio de correspondencia apiicrifa aos demais servidores da repartis:ao 
con tendo express6es injuriosa.sdirigidas ao chefe do servi~o. Se o fundamento 
dessa impetra~ao imaginciria consistir na negativa do envio da missiva, res tara 
inviavel se exigir do impetrante a provacde nao ter sido ele o au tor da infra.;ao. 
Trata-se de prova de fa to ri'egativo, e, nesse caso, diab6lica. Tambem nao seria 
admissfvel a rejei.;:ao ini,cial do mandamus, sob o argumento de inexistencia 
de direito liquido e certo, ate porque nem mesmo em um processo de rito 
ordinaria, com amplfl possibilidade de dila<;ao.probatoria, o onus da aludida 
prova poderia ser inli:mtado aopostulante. Caberia a autoridade indicada como · 
coatora, rie:s.se casb·, apres-entar os elementos qu·e 1evaram a Administrac;ao a 
ter o impetrante como o auJ:or do ilfcitofnncional, porquanto a produc;aode tal 
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t MAURO l.UIS KOO!A LOPES "-...UMI:N UUUU::iA l"<UVA l..tl DO 
MANDADO DE SEGURANY\ 
· J prova ser-llle·ia plenamentepossfvel(e ate mesmo exi!lfvel). Nao o fazendo, 
- ~\ -·haverfa de_ se ter como. atitentica ·a alega~ao do servidor Jmpetr~nte. Agora, t: sea prova _eventual mente oferecida pela autor~dade fos7e contestada, ai sim, 
-~ o caso seria de extinyao do process a sem ojulgamento.r do merito, diante da 
~< controvCrsia fatica instaurada (aus€nc.ia dedireito Ifquido e certo). ;'1 
[,i Talvcz urn outro exemplo seja tambem eloquent~. Figure-seurn mandado 
~" de segurant;a irnpetrado contra exig€ncia tributclr_ia relativa ao IR, baseada 
~~ c 111 suposta declarat;3o do prOprio contribuinte de{ acrescirno patrimonial em 
detcrminado perfodo sem o recolhimento da correspondente prestas:ao tributclria. 
k Se o lmpetrante alega na impetrayao que nao ~eciarou .o indigitado ~crescimo 
'; patrimonial, como poderia estar compelido a demonstrar isso em jufzo? Poderia 
.s ele ate apresentar copia de uma suposta declaraqao oferecida ao Fisco e deJa 
- nao constar a aquisiyao de renda mencionada, mas nao haveria certeza quanta 
a autenticidade de tal documento, ja que, hoje em dia, a declaraqao feita pela 
internet enseja tao somente a impressao de urn recibo. E dizer. o contetldo da 
declaraqao apresentada a Receita Federal so pode ser evidenciado, em carater 
eficaz e irrefutavel, pelo proprio Fisco. Negar a utilizaqao do mandamus, em casos 
tais, e impor consequencia nefasta a parte a quem nao poderia ter sido atribuido 
· o onus cta prova, independentemente do tipo de aqao escolhida ou do rito ao qual 
esteja a demanda submetida. E clara, nesse caso, a necessidade de apresenta~ao, 
pela autoridade dita coatora, da copia da declaraqao recebida, de forma a se 
verificar a existencia, ou nao, da confissao quanta ao acrescimo patrimonial. E, 
repise-se, pairando duvidas no conteudo da declaraqao, a demandar a produqao 
de prova no curso do processo, restaria insubsistente, ai sim, o mandado de 
seguranya. 
Em suma, __ se a teo ria dindmica do Onus da prova -i-evela-se, corr1o ressalta 
Alexandre Camara, "perfeitamente adequada as modernas tendencias do Direito 
Processual, estando afinada com o carater instrumental do processo, que hoje 
nao pode mais ser ignorado", nao ha fundamento logico que a afaste do rito do 
mandado de seguranqa. 
0 permissivo do art. 4" da Lei n• 12.016/2009, ou seja; a impetraqao, em 
carate.r·de urgencia, de mandado de seguranya par telegrama, riidiagrama, fax 
ou -o~tro ~eio de_ a~tte"nticid(lde_comprovada, -ciu~-apenas atuaHzou previsao--no 
mesmo sentido contida na revogada Lei n',-1.533/51, e aventado por parte da 
doutrina como exce~ao a exigencia de prova pre-constitufda. Mesmo que assim se 
COllSidere, OS documentos indispensclveis a prova dos fatos afirmados na inicial, 
caso nao estejam em poder da propria Administraqao, deverao ser apresentados 
em jufzo ate o termino do prazo das informaqoes, para que deles tome ciencia a 
autoridade coatora, sob pena de subversao total do rito especial e violaqao do 
12 
t 
PREssurOSTOS EsrECiFicos DE CAB! MENTO CAPfTuto'2 
· principio constitucional da ampla defesa (art. s•, inciso. LV). AI em disso, a Lei 
n• 9.800/99, que permite i!S·partes .a utilizaqao de sistema de transmissao de 
dados para a pratica de atos processuais, exige que, em ,asos tais, os originais 
· sejam entregues em juizo, necessariamente, ate cinco dias da data do termino do 
prazo ou, quando nao haja prazo, da recepqaodo material (art. 2"}. 
Alguns julgados aplicam subsidiariamente a norma do art. 284 do CPC ao 
procedimento do man dado de seguranya, o que permite ao juiz, mesmo atestando 
a insufici&ncia da Prova pre.:.c~nstituida, aceitar que o impetrante apresente 
documentaqao suplementar para evidenciar integralmente os fatos alegados. 
"Passive! ao impetrante, antes de despachada a petiqii(} 
inicial do mandado de seguranqa, requerer a juntada 
de documento. 0 fato, ao contrario do sustentado, nao 
constitui ofensa ao art. 6" da Lei n•1.533/51, pois tern· 
se como aplicavel subsidiariamente o 'art. 284 da lei 
processual civil" (STJ, AGA 64528/MA, S• Turma, Rel. Min. 
Jose de Jesus Filho, DJ 19/6/95, p. 18.735). 
Pensamos, entretanto, ser incabfvel a invocaqao do art. 284 do CPC, diante 
da norma expressa do art. 10, caput, da Lei n•12.016/2009, a determinar que 
a inicial sera desde logo indeferida, por decisiio motivada, quando niio for o 
.caso de mandado de seguranra au /he fa/tar a/gum dos requisitos /ega is ou 
quando decorrido a prazo legal para a impetrariio ( destaque nosso ). Ressalte· 
se que nao se trata de entendimento inedito na jurisprudencia formada a luz 
da revogada Lei n•1.533/51- que, em seu art. 8", continha disposiqao similar. 
"Considerando-se o rito sumarissimo do mandado de 
seguranqa, a exigir prova documental e pre-constituida, 
sob o risco de indeferimento liminar (art. 8• da Lei n• 
1.533/51), inaplicavel a especie o art. 284 do CPC" (STJ, 
REsp. 65486/SP, 2• Turma, Rel. Min. Adhemar Maciel, Dj 
15/9/97, p. 44.336). 
Porque o mandado de segurans:a nao substitui a aqao popular (SUmula 
n• 101 do STF), o direito lfquido e. certo a qu~ se. refere a Constituiqao no 
art. 5•, inciso LXIX, e aquele titularizado diretamerite. pelo impetrante, nao .. 
cabendo a impetraqaocontra atos Jesivos ao patrimonio publico, a moralidade 
administrativa etc., que ferem interesses da coletividade em geral. apenas 
indiretamente afetando a esfera do cidadao impetrante. 
Mencione-se, ainda, entendimento da Excelsa Corte sobre o tema, extrafdo do 
teor de sua Sumula n• 4 7 4, segundo a qual niio ha direito lfquido e certo, amparada 
pelo mandada de seguranra, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anu/adas 
por outra, dec/arada constitucional pel a Supremo Tribunal Federal. 
13 
:'-:.•_:..:RO Lufs RocHA loPES CoMENTARios A NovA LEI no 
MAN DADO DE SEGURAN\=A 
Constatada a inexistencia de direito liquido e certo, condi<;ao especifica e 
constitucional da a<;ao, o caso sera de carencia de a<;ao a ensejar a extin<;iio do 
;-r0cesso sem a aprecia<;ao do merito, na forma do art. 267 do CPC- devendo 
'' ):1lgador denegar a seguran,a, de acordo com a determina<;ao do art. 6", § 5', 
<a Lei n' 12.016/2009 -, o que nao impedira a propositura de a<;ao pelo rita 
r;;Cimlrio ou ate mesmo de novo mandado de seguran<;a, instrufdo com novas 
;.:was, se o prazo de 120 dias (art. 23 da nova lei) ainda estiver em curso. Eo 
que.pr~ceitua a Lei n' 12.016/2009, no art. 6', § 6', ao estabelecer que o pedidp 
<Jq rriandado de seguran,a podera ser renovado deni:ro do prazo decadencia/, sea 
dt:.:cisdo denegat6ria niio !he houverapreciado o mririto. 
;.;iesmo para os autores que nao veem o direito lfquido e certo como condiy:ao 
'";pedfica da a<;ao de mandado de seguran<;a, mas como pressuposto processual 
,,hjetivo (adequa<;ao ao procedimento) - caso de Leonardo Greco-, o efeito de 
~;ua inexist@ncia seria o mesmo: invalidar a busca do direito atraves do writ-
d<;sde que o postulante nao possa apresentar nova prova pre-constitufda ou 
t"nha perdido 0 prazo de 120 dias -, subsistindo 0 direito a jurisdi<;ao sabre 0 
litigio, ainda que par outra via. Daf a o legislador haver explicitado, no art. 19 
d" Lei n' 12.016/2009, que a senten}:a au o ac6rd6o que denegar mandado de 
scr;uran>a, sem decidir o merito, niio impedira que o requerente, par a,aa propria, 
pleiteie as seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais. -11 
2.2. ATO !LEGAL OU PRATICADO COM ABU$0 DE POIJER 
(ATO COATOR) 
<A 
Disposi<;6es pertinentes da Lei n' 12.016/2009: 
"Art. 1!! Coriceder-se-a mandado de segurans:a para proteger dire ito 
Hquido e certo, nao amparado por habeas corpus ou habeas data, 
sempre que, i!egalmente ou com abuso de_.-p'oder, qualquer pessoa 
fisica ou juridica sofrer viola~ao ou houv€r justa receio de sofr€-la 
por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais 
forern as fun<;Oes que exer~a. 
§ lf! Equiparam-se as autoridades, p~ra OS efeitos. desta Lei, OS 
representantes ou 6rg3os de partidos politicos e os administradores 
de entidades aut3.rquicas, bern como os dirigentes de pessoas 
jurfdicas ou as pessoas naturals no exercicio de atribui<;6es do 
poder pUblico, somente no que disser respeito a essas atribuis:Oes. 
§ 22 Nao !!abe mandado de segurans:a contra os atos de gestao 
comercial praticados pelo!i administradores d~ empresaspllblicas, de 
sociedade de economia rnista e de.concessionarfas de $e:rvi<;o pUbJico. 
( ... ) 
PREssvrosros EsrECiFJCOS DE CABl/I.',ENTO -------- _1,:·\l'iTULO 2 
Art. SQ Nao se concedera mandado de segurans:a quando sc tt".~t;Jr: 
I- de at? do qual caiba recurs a adrriinistrativo com efeito suspt'l~:'iYo, 
independentemente de caus:ao; 
II- de decisao judicial da qual caiba recurso com efeito su::>pt·n:-:\Yo; 
Ill - de decisao judicial transitada em julgado. 
Paragrafo uniCO. (veta do]." 
Ato coator, na li<;ao de Maria Sylvia Zanella DiPietro, e expressiio que rcvela ato 
ou omissao de autoridade pUblica- ou seja, urn ato praticado ou omiti<!o 1 )~_)r pessoa 
investida de parcela do Poder Publico - eivado de ilegalidade ou abuso de poder. 
A rigor, ensinam os administrativistas modernos que hcl reduntLincia na 
expressao i/ega/idade au abuso de poder. E que sempre que houwr virio 110 que 
diz respeitO• aos requisitos de validade do ato administrativo (n-llnpet€ncia, 
finalidade, forma, motivo e objeto ), haver§. ilegalidade. Como o <1l111so de poder 
ocorre nos vicios de competencia (excesso de poder) ou de fin<l/id,de (desvio 
de poder ou de finalidade), constitui ele uma das formas de lll<lllilt·sl"(:ao de 
i!egalidade. 
Seabra Fagundes justifica a utiliza~ao da redundante exprcs:-;;\o "11 huso de 
poder na ConstitUi(:aO pelo prop6sito deantes vivificat 0 instituto 'I"" <lCtnha-lo 
tanto rna is quanta 0 period ada sua anterior vigencia pusera a mm.l "" l"sfimavel 
tendencia restritiva da jurisprudencia". 
A doutrina do Direito Adrninistratfvo admite ainda o ataque m;HHbrncntal a 
comportamento de autoridade que venha a se revelar indevido, ;)iiJrb que nao 
traduzido em atos concretes. Ensina Sergio Ferraz que "mesmo :_~ntr:-,; de 0 ato 
administrative cristalizar-se, o simples comportarnento material, qtH: r; an uncia 
ou prenuncia, jcl abre margem a utilizac;ao do_mandado de seguranr;;t. 
Maria Sylvia Zanella DiPietro esclarece: · 
"Na realidade, trata-se dos chamados atos matcrioi:: rJa 
Administrac;ao, qu€ nao se expressam por a to adminl•,tr;J!uo 
propriamente dito, mas ql.}e manifestam uma vrHlLdr: c 
produzem efeitOs juridicos no caso concreto. E q qw: r,r r,; re 
quando a Adrninistrac;ao apreende mercadorias, qo;:;;do 
sinaliza as vias pt'iblicas, quando_ fecha, por meio dt~ c;nt ;izes 
ou faixas, determinadas ruas ou pr.aias, executa umt1 r;bra 
etc. Ain~cl que nao.haja urn ato escrito para ser impugn;;do, 
a simp)~s .execus:ao daqueles atos materiais podl~ cau;::ar 
lesao ou 3.mea.c;a de--lesao .e ·abi-if·-· ensejo. a imp<:lr~Jt;fin--de. 
mandado de seguran\'a." ·· 
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MAN DADO DE SEGURANY\ 
0 man dado de segurans:a pode serrepressivo, nos casas em que o a to co a tor 
. tenha sido efetivatnente praticado pelo Poder Publico ( ou por delegatario de 
funs:ao publica), ou preventive, que se destin a a evitar ;~pratica do anunciado 
ato, revelador de ameas:a a direito. 1 
2.2.1. Mandado de seguranya preventivo 
A impetras;ao preventiva tern fundamento na nyhima constitucional de que 
a lei nao pode excluir da aprecias:ao do judiciar'io /esao ou ameilf:a a direito 
(art. 5", incise XXXV). 0 proprio art. 1" da nova lei do Man dado de Seguranp, 
reproduzindo, nesse ponto, a previsao da revbgada Lei n•1.533/51, esclarece 
ser cabfvel o instrumento para prevenir violac;ao a· direito Hquido e certo, 
quando demonstrado o justa receio de sofre-la. 
Exemplo de ameas:a a direito que justifica o ataque mandamental preventive 
e o do segurado titular de aposentadoria que recebe correspondencia da 
Previdencia chamando-o a se defender em processo que apura existencia de 
fraude na concessao do benefic.io. Anuncia-se, nesse caso, o ato de suspensaq 
do pagamento dos proventos, de forma a autorizar que, atraves de man dado de 
seguranya preventive, o segurado requeira ao juiz que impeya aAdrninistrayao 
Previdenciaria de pratica~lo. 
Da mesina forma decidiu o Superior Tribunal dejustis:a.que: 
"E cabivel o mandado de seguran~a preventive em face 
de resposta desfavoravel a consnlta tributaria diante 
de situas:ao concreta, exsurgindo justa o receio do 
contribuinte de que se efetive a cobran~a do tributo" 
(ST), REsp. 615335/SP, 1• Turma, Rei. Min. Luiz Fux, Dj 
31/5/2004, p. 238). 
E clara que o justo receio a que se referiu o legislador nao deve ser relacionado 
ao mero julgamento subjetivo por parte do interessado na impetras:ao concluindo 
pelo risco de sofrer coas:ao indevida. A ameas:a que autoriza o cabimento do 
mandamuspreventivo ha deser real eobjetiva, traduzida em atos daAdministras:ao 
preparat6rios ou ao menos indicatives da tendencia da autoridade publica a 
praticar o ato (ou a se omitir deliberadamente, quando esteja obrigada a agir). 
Merece destaque, nesse particular, a lis:ao de Sergio Fer.raz: 
16 
"(.:.) 0 mandadode seguranp preventive nao- euma vacina 
processual destinada a afastar os receios das naturezas 
tibias. Seu escopo e a prevens:ao da pratica de ilegalidades 
ou arbitrariedades, quando a ameas:a de sua concretizas:ao 
seja palpavel e proxima no tempo. Dai, a correta rejeis:ao do 
remedio, quando 6 ato ou a omissao -administrativa nao se 
encontre, em si, ao me nos indiciariamente esboyado." 
A jurisprudencia do Superior Tribunal de justis:a e unissona a esse respeito. 
1Kt::>::>U!'U::O IU::> CSI'EC!F!COS DE l..ABIME~'TO CAPiTUlO 2 
"0 mero receio subjetivo nao e suficiente para respaldar 
a impetras;ao de · mandado de. seguran~a. Como o 
mandado de seguran~a nao prescind~ da prova pre-
constituida, na impetra~ao preventiva e indispensavel 
que se ofere~a, com a peti~ao inicial, a prova inequivoca 
da amea~a real, concreta, por parte da autoridade 
impetrada"' (STJ, REsp. 171067 /PE, P Turma, Rei. Min. 
jose Delgado, D} 1/3/99, p. 235). 
"0 mandado de seguran~a preventive exige efetiva amea~a 
decorrente de atos concretes ou preparat6rios por parte 
da autoridade- indigitada coatora, nao bastando o risen 
de lesao a diteito liquido e certo, baseado em conjecturas 
por parte do impetrante, que subjetivamente entende 
encontrar-se na iminencia de sofrer o dano" (STJ, REsp. 
431154/BA,l•Turma, Rei. Min. Luiz Fux,D}28/10/02,p. 246). 
"Nao cabe mandado de seguran~a para impedir que 
desembargador, quando estiver eventualmente no 
exercicio da presidencia, em . eventual processo sob 
patrocinio do impetrante; se abstenha de impedir-lhe 
o acesso a tribuna. 0 mandado de seguran~a preventive 
pressupoe amea~a plausivel e efetiva. Suposta amea~a, 
cuja verifica~iio e condicionada ao adimplemento de 
circunstancias futuras e incertas" (ST), REsp. 448527 /SP, 1 a 
Turma, Rei. Min. Luiz Fux, D} 15/9/03, p. 238). 
Ausente a prova da efetiva ameas:a a dire ito, oman dado de segurans:a esbarrara 
na vedas:ao da impetras:ao contra lei em tese, sumulada pelo STF (Sumula n" 266). 
"0 ordenamento juridico contemporaneo agasalha a 
possibilidade do mandado de seguran~a preveiltivo 
para evitar a~iio fiscal. Ha necessidade, contudo, de o 
contribuinte demonstrar a amea~a da a~ao fiscalizadora 
em razao de situa~oes faticas cohcretizada~; (aquisi10ao 
de hens, contratos firmados, obras executadas etc.) ou a 
serem consolidadas. 0 inandado de seguran~a preventive 
nao deve ser transformado em via processual para se 
discutiraiuterpreta~ao da lei em tese. Empresa que apenas 
afirma, com base em sen estatuto social, ser exploradora 
do ramo de constru~ao civil, nao tern direito liquido e 
certo, em sede de mandado de seguran<;a preventive, de 
se ver afastada da atividade fiscal cobradora de ICMS 
17 
lvtAuRo Luis RocHA LoPES CoMENTAruosANovA LEI oo 
NiANDADO DE 5EGURAN<;A 
sobre materialde constru~iio adquirido em outro Estado. 
Ha necessidade que, no curso do mandado de seguran~a 
preventive,- comprove que adquiriu mercadoria em 
outro Estado, que tal mercadoria sera empregada em 
obra que esta construida e se a referida obra existe, ou 
se tern, para o futuro, contrato de tal especie a cumprir. 
A amea~a exercida pela ativid~de vinculada eimpessoal 
da fiscaliza~~o s6 se caracteriza em face de situa~oes 
concretas" (STJ, REsp. 188308/MG, 1" Turma, Rei. Min. Jose 
Delgado,Dj26/4/99, p. 54). 
A consuma~ao do ato que o mandado de seguranp preventivo tinha par 
objetivo evitar nao enseja o esvanecimento do interesse processual do impetrante, 
sendo aproveitavel 0 mandamus como repressive a partir de entao. 
"A consuma~iio do a to impugnado niio prejudi ca o p edido de 
mandado de seguran~a requerido em carater preventivo. 
Se no curso do processo a amea~a potencial transforma-se 
em fato, mais razao havera para se prosseguir no exame 
da impetra~ao" (STJ, ROMS 10487/MG, 1' Turma, Rei. Min. 
Humberto Gomes de Barros, Dj 21/2/00, p. 90). 
"Deveras, p~la natureza e eminenci;;t do remedio 
constitucional, perpetrada a lesao · que · se pretende 
prevenir com a preven~ao mandamental, impoe-se 
conferir ao writ a caracteristica da fungibilidade para 
torn:Ho "repressivo'; e apto a coibir o abuso perpetrado 
in itinf!re. A finalidade do writ e conjurar a molestia 
consistente no abuso da autoridade que pode ser 
cometido, in itinere, no curso do p~ocessamento da a~iio 
man dam ental" (STJ, REsp. 448527/SP, 1' Turma, Rei. Min. 
Luiz Fux, D} 15/9/03, p. 238). 
2.2.2. Omissao 
A omissao (ato omissivo) da Administra~ao tambem e passive! de ataque na 
impetra~ao, porquanto a Constitui~ao de 1988 nao a afastou da corre~ao via 
mandado de seguranp, ao se referir ao objeto do ultimo no art. 5•, inciso LXIX 
( ... quando o respon~{IVel pel a ilegalidade ou abuso de poder for autoridade ... ). 
Ocorrera omissao i1icita sempre que a Administrayao silenciar ou se mantiver 
inerte, nas hip6teses elll que, por determina~ao legal au constitucional, estiver 
obrigada a se pronunciar au a agir de determinado modo. Casas tipicos de omissao 
~ 
PREssurosros EsrECiHcos DE C.l..B!MENTO CAPiTULO 2 ,.__./ 
que justificam o ataquemandamental sao o silencio prolongado do agente publico 
diante de pedido de certidao ou de interposi~ao de recurso administrative e a 
negativa de implementa~ao de dire ito a que fa~a jus o impetrante. 
"Ha direito Iiquido e certo ao recebimento das 
presta~oes da repara~ao economica mensa! permanente 
e continuada como reco11hecimento daanistia politica 
(Lei n". 10:559/02) por. ato. do lllinistro da Justi~a,. 
· cumpridos os tramites da lei e existentes recursos 
or~amentarios, sendo ilegal a omissao do ministro da 
Defesa em nao efetuar o pagamento" (STJ, MS 9387/DF, 
3• Se~ao, Relator Min. Paulo Medina, Dj 12/4/04, p. 184). 
"A Lei n" 10.559/02 e clara ao determinar a competencia 
do ministro de Estado da Justi~a para decidir sobre 
os requelimentos de anistia, sendo a Comissao de 
Anistia urn 6rgao auxiliar. Nao existe vincula~ao entre o 
entendimento perfilhado por ela e a decisao ministerial. 
Interpreta~ao da Lei n•10.559/02. Ordem parcialmente 
concedida, no sentido de que a autoridade coatora, 
considerando a existencia do parecer da Comissao 
ha mais de urn ano, se manifeste ac.erca do pedido do . · 
impetrante, decidindo como entender de direito" (STJ, 
MS 9192/DF. 3• Se~ao, Rei. Min. Jose Arnalda da Fonseca, Dj 
19/12/2003, p. 317) .. 
"Estando demonstrada a condi~ao de servidores 
publicos estaveis, na conformidade com o disposto no 
art. 19 do ADCT da Constitui~ao Federal e no art. 243 da 
Lei n• 8.112/90, .a omissao da homologa~ao necessaria 
para a inclusao dos servidores no Plano de Classifica,ao 
de Cargos - PCC/ de que trata a Lei n• 5.645/70, viola 
direito Iiquido e certo dos impetrantes" (STJ, MS 8828/ 
DF, 3• Se~ao, Rei. Min. Pa~lo Gallotti, Dj 12/8/03, p. 186). 
A norma do paragrafo unico do art. SQ do projeto da Nova Lei do Manda do de 
Seguran~a enviado a Presidencia da Republica pelo Congresso Nacional, buscando 
deixar expresso o que era considerado implicito no regramento anterior, previu 
expressamente a possibilidade de impetra~ao contra omissoes de autoridade, mas;. 
com exigencia de nptifica~ao previa do agente a praticar o a to almejado. Tambemj. ' 
estabelecia o projeto que o prazo de 120 dias, na especie, haveria de ser contado\ 
da data da notifica~ao. 
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iMAURO LU!S KOCHA LOPES 
MANoADo DE SEGURAN<;:A 
· . A aludida disposis;ao, todavia, acabou vetada pelo. Presidente, sob as 
Jsegt,Iintes razOeS: ; 
"A exigencia de notificas;ao previa ·como ~lmdi10ao para 
a propositura do Mandado de Seguran10~ pode gerar 
questionamentos quanta ao infcio da contagem do prazo 
de 120 dias em vista da ausencia de ,Perfodo razoavel 
para a pratica do ato pela autoridade e, em especial, pela 
possibilidade da autoridade notificada·nao ser competente 
para suprir a omissao." 
Como se ve, o veto a disposil'iio constante do paragrafo unico do art. 5" do 
projeto que redundou na Lei n" 12.016/2009 nao afastou o cabimento do 
mandado de seguran10a contra ato omissivo de autoridade. 0 que se pretendeu 
foi evitar a cria10ao de condil'iio especffica para a impetra10ao - notifica,ao previa 
do agente coator -, diante da problematica que isso traria a defini,ao do termo 
inicial do prazo de cento e vinte dias e tendo em vista a costumeira dificuldade 
em se identificar a autoridade titular de efetiva atribui,ao para praticar o ato. 
2.2.3. Atos de dire.ito publico e de direito privado 
·Quando a Administra,ao pratica atos como Poder Publico, lanpndo 
mao de suas prerrogativas, decorrentes essas do poder de imperio estatal 
(soberania), seus atos sao impugnaveis atraves de mandado de seguran10a 
( exs.: lanpmento de tributo, indeferimento de licens;a etc.). 
Entretanto, quando a Administra,ao pratica atos bilaterais, tfpicos de 
pessoa jurfdica de direito privado, nao teria cabimento, em principia, 0 
man dado de seguran,a. Seria impertinente, pais, a impetra,ao contra cliiusulas 
contidas em contrato administrativo, mesmo fixadas unilateralmente pela 
pessoa jurfdica de direito publico, certo que a manifesta,ao de vontade do 
particular contratante se teria revelado vital para a celebra,ao do neg6cio, 
nao se podendo cogitar do atributo da imperatividade na especie. 
20 
"Correta a senten10a que extinguiu o processo, sem exame 
do lnerito, se a solu,ao da !ide ilnjn'escinde de dilal'iio 
probat6ria e de discussiio de chiusulas contratuaJs, 0 que 
e defeso na via estreita do mandado de seguran,a" (TRF 
da P Regiao, AMS 01000304906/DF, 3• Turma Suplementar, 
Rel. )uiz Convocado Moacir Ferreira Ramos, 27/3/03, p. 226). 
"Versando a questiio sobre vfcios de contrato de direito, 
maritima, cujos resultados se revelaram danosos para o 
Lloyd Brasileiro, nao eo man dado de seguran,a o remedio 
fRESSUPOSTOS tSPECfF!COS DE CABJMENTO 
CAPiTUlO 2 
processual proprio para anular a decisao proferida no 
procedimento administrativo instaurado" (TRF da 2' 
Regiao, AMS 9202153566/R), P Turma, Re. Pes. Fed. Clelio 
Ertha!, D] 21/9/93). 
Ganha for10a no Dire ito brasileiro, todavia, a tese de que mesmo atuando em 
relal'6es privadas, o agente da administra,ao publica age como autoridade, 
cabendo a impetra,ao de man dado de seguran,a contra os seus atos que se 
revelarem ilegais. Esclarece jose da Silva Pacheco que essa distin10ao (atos de 
imperio e atos de gestao), "em bora importante, nao tern o dam de ressuscitar 
a velha teo ria sabre a duplice personalidade do Estado, agindo como _pessoa 
de direito publico (atos de i!nperio, insuscetiveis de reexameou contrcrte), e 
como pessoa de direito priVado (atos de gestao), muito salientada no Direito 
frances". Conclui o ilustre autor que "o Estado, atualmente, atua sempre como 
pessoa juridica de direito publico (art. 18, CF), e seus'atos, todos eles, ( ... ) 
se forem ilegais ou abusivos e ameac;arem ou prejudicarem Direito Iiquido e 
certo, nada impede que contra eles se impetre mandado de seguran,a". 
0 Supremo Tribunal Federal tambem ja esposou tal entendimento, em 
julgado expressivo,: . 
· "Aatividade estatal e sempre publica, aipda que inserida 
em rela,oes de direito privado e sobre elas irradiando 
efeitos; sendo, pois, ato de autoridade, o decreto 
presidencial que dispensa servidor publico, embora 
regido pela Iegisla>iio trabalhista, a sua desconstitui,ao 
pode ser postulada em mandado de seguran>a" (STF, MS 
21109/DF, Pleno, Rei. Min. Sepulveda Pertence, D] 19/2/93, 
p. 2.033). 
2.2.4. Atos praticados por delegac;:ao 
A norma do art. 1•, § 1•, da revogada Lei n•l.533/51, permitia a impetra,ao 
de mandado de seguranl'a contra atos praticados ;pelos agentes publicos por 
delega,ao, no que entendiam tais atos com a funl'iio delegada. Tal disposil'iio 
guardava consonailciacom a.n6rma col\stitucional do art. 5",Jnciso LXIX, que 
faz referencia a impetra,ao em face de ato ou omissao de autoridade publica 
au agente de pessoajurfdica no exercfcio de atribuif;:oes do Poder Publico. Com 
a edi10ao da nova lei, permitiu-se, na mesma linha, o ataque mandamental 
dirigido aos atos praticados por dirigentes de pessoas jurfdicas au as pessoas 
naturais no exercfcio de atribuir;:oes do poder publico, somente no que disser 
respeito a essas atribuir;:oes (art. 1", § 1"). 
21 
MAURO Lurs RocHA LoPES CoMENTARios A NovA LEI oo 
MANoADO oESEGURANc;A 
0 Supremo Tribunal Federal possui jurisprudencia, cristalizada na Sumula 
n" 510, fixando o entendimento de que praticado o ato par autoridade, no 
exercfcio de competencia delegada, contra ela cabe o man dado de seguran.;:a 
au a medida judicial. 
A doutrina sempre emprestou ao termo autoridade publica o conceito 
mais amplo passive! para fins de controle de sua conduta via mandado de 
seguran.;:a, enquadrando como tal qualquer agente que tenha praticado um 
ato-·funcionalm_ente• administrativo. Assim_; nao chega a TePreseritaf .inovp.s::ao 
a previsao da Lei n• 12.016/2009 (art. 1•, § 1"} de ataque mandamental a 
atos praticados par administradores de entidades autarquicas. Tais entidades 
(autarqui~s e fundas:oes publicas} sao, verdadeiramente, pessoas juridicas de 
direito publico, dirigidas, portanto, por autoridades publicas. 
A jurisprudencia dominante admite a impetras:ao contra atos praticados 
por dirigente de pessoa juridica de dire ito privado (como os atribuidos ao 
presidente de empresa publica) tipicos de Estado, a exemplo dos atos de 
Jicita.;:ao, entre outros. 
"A aliena~ao de bens integrantes do patrimonio das 
entidades da administra~ao direta ou indireta esta 
sujeita ao procedimento. da licita~ao publica, hoje 
disciplinada pela Lei n" 8.666, de 1993, sendo o ato 
praticado, nestecampo de dire ito publico, de.autoridade 
e essencialmerite de natureza administrativa, suscetivel, 
portanto, ao ataque pela via do mandado de seguran~a. 
In casu, a "Terracap", na medida em que submeteu 
ao processo licitatorio im6veis integrantes do seu 
patrim6riio, para efeito de selecionar proponentes 
a sua aquisi~iio, praticou atos administrativos que 
nao sao de dire ito privado ou de_ gestao. E esses atos 
administrativos sao atos de autoridade, porquanto 
regidos por normas de direito publico - constitucional 
e administrativo - que disciplinam o procedimento 
licitatorio" (STJ, REsp. 100168/DF, 1' Turma, Rei. Min. 
Dem6crito Reinaldo, RST] 111/44). 
"Trata-se de ato de representante legal da Central 
Eletrica Matogrossense S/ A- Cemat - que, visando a 
compelh; o contribuinte a regulariza~iio de cadastro, 
suspendim (cortando) o fornecimento de energia 
· eletrica de unidade consumidora. A concessiomiria de 
energia: eletrica agiu em cumprimento de determina~iio 
PRESsurosros EsrEciFJcos oE CABIMENTo CAPiTULO 2 
de Iegisla~o especffica do setor de energia eletrica, por 
meio do poder concedente, Departamento Nacional de 
Aguas e Energia Eletrica, o que demonstra que praticou 
o ato impugnado no exercfcio de fun~o delegada pelo 
Poder Publico. E cabfvel o mandado de seguran~a contra 
ato de representante legal de sociedade de economia 
mista ( concessionaria prestadora de fornecimento de 
energia eletrica) que exerce fun~iio delegada pelo Poder 
Publico, quando praticado com abuso de poder e de 
forma ilegal. 'Tem-se, atualmente, procurado emprestar 
ao vocabulo autoridade o conceito mais amplo possfvel 
para justificar a impetra~iio de mandado de seguran~a, 
tendo a lei adicionado-Ihe o expletivo seja de que 
natureza for"' (REsp. n" 84082/RS, Rei. Min. Dem6crito 
Reinaldo) (STJ, REsp. 430783/MT, 1' Turma, Rei. Min. Jose 
Delgado, D] 28/10/02). 
Cabe mandada de seguran9a contra ata praticada em licitar;aa pramovida 
par saciedade de ecanamia mista au empresa publica (STJ, SU.mula n" 333). 
Tambem e reconhecida, v.g., a validade da impetra.;:ao de mandado de 
seguran>a contra atos praticados par dirigentes de. estabelecimentos de 
ensino, quando relacionados como exercicio da atividade a eles delegada. 
"Tratando-se de mandado de seguran~a, a competencia 
e definida, normalmente, em fun~iio da autoridade 
coatora. No presente caso, a autoridade coatora e o 
diretor de institui~ao de ensino privada, que condicionou 
a renova~ao de matrfcula da estudante ao pagamento das 
mensalidades atrasadas relativas ao ano letivo anterior. 
Niio se trata de simples · cobran~a de mensalidades 
atrasadas,. configurando o ato coator, na presente 
,hip6tese, negativa de acesso ao ensino. Cuida-se de 
atua~iio delegada do Poder Publico, a quem compete 
oferecer ensino publico ou autorizar o funcionamento de 
estabelecimentos particulares" (STJ, CC 21663/SP, 2• Ses:ao, 
Rei. Min. Carlos Alberto M. Direito, RST] 143/201}. 
Nao e passive!, todavia, que a impetras:ao se dirija contra mero ata de gestao 
praticado par dirige~te de instituis:ao privada delegataria de funs:ao publica, a 
exemplo da cobran;:a de mensalidades atrasadas ou fixas:ao de calendario do 
ano letivo par parte de dire tor de colegio ou rei tor .de universidade. 
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_,_,-,:Y;!;.':;.~f) Luis RocHA LoPES \....OMEt-o"TARlOS A l"'UYA 1..~1 uv MAN DADO DE SEGURANc;:A 
"Consideram-se. autoridades, para os efeitos · da. Lei. 
·de Manda do· de · Seguran~a, os representantes ou 
administradores das entidades autarqujcas e das pessoas 
nat~trais ou juridicas com . fun~i'ies delegadas do Poder 
Publico, somente no. que entender com essas fun~oes 
(art. 1", § 1•, da Lei n• 1.533/51). Nao se trata de ato de 
autoridade, mas, sim, de ato de gestao, praticado no 
' interesse exclusive da sociedade de economia mista, 
atuando como empregador, em nada se identificando 
com as espedficas fun~oes deleJ;:adas pelo · Poder 
Publico, tal qual resulta da Ietra do art. 21, inciso XII, 
alinea b, da Constitui~ao da Republica, o ato de gerente 
de Departamento de Recursos Humanos de Companhia 
Energetica, em que se faculta a seus empregados que 
recebem beneficio de aposentadoria por tempo de servi~o 
a op~ao pela manuten~ao do vinculo empregaticio, 
mediante a suspensao do pagamento do beneficio junto 
ao INSS, ou, aiuda, a preserva~ao do recebimento do 
beneficio, mediante a eict:in~ao do contrato de trabalho" 
(STJ, REsp. 278052/PR; . 6' Turma, Rei. Min. Hamilton 
Carvalhido, Dj 15/4/0Z, p. 269). 
E·;sc entendimento, que ja vinhasendo adotado sem vacila~6es na 
1' 11 i•;prudi'mcia, acabou positivado na Lei n• 12.016/2009, cujo art. 1", § 2•, 
,_Jln!/~m disposi~ao que afasta o cabimento do mandado de seguran~a contra os 
"'""lie gestiio comercia/ praticados pelos administradores de empresas·publicas, 
111 · s1 ;ciedades de economia mista e de concessionc'iriGs de servi~o ptlblico. 
Excluem-se do ataque mandamental, naturalmente, os atos praticados 
P()r pessoas fisicas ou juridicas de direito privado que nao tenham recebido 
d,·J,.g:~;:ao de funs:ao publica, como os atos praticados pelos usurpadores de 
·11 riltuis;ao publica (crime tipificado no art. 328 do CP), dado que a propria 
AdnJinistra~ao e vitima dos mesmos. 
:!.~~.5. Atos praticados por repre~entantes ou 6rgaos de partidos 
politicos 
Como novidade legislativa, extraida do disposto no art. 1•, § 1•, da Lei 
11 " 12.016/2009, os representantes ou 6rgaos de partidos politicos foram 
1'quiparados a autoridades pliblicas e, com isso, seus atos passam a classe 
d.1qudes que podem ser controlados judicialmente atraves de mandado de 
•;t'~~uran~a. 
'2-l ~ 
l'Re;SU!'OSTOS CSPECIFlCO$ DE LABIMENTO CAPiTULO 2 
E livre a cria;:ao de partido politico (CF, art. 17, caput), pessoa juridica de· 
direito privado destinada a assegurar, em nome da democracia, a autentiddade 
do sistema representative e a defender os direitos funda,mentais (Lei n•9.096j95, 
art. 1"). De uma maneira gera!, em juizo, a responsabilidade por atos de viola~ao 
a direito a!heio cabe ao 6rgao partidario municipal, estadual ou nacional que a 
ela tiver dado causa, ficando exclufda, na forma estabelecida no art. 15-A da Lei 
n' 9.096/95 (inclufdo pela Lei n' 11.694/2008), a solidariedade de outros 6rgaos 
de dire;:ao partidaria. 
Ainda assim, segundo a norma contida no paragrafo unico do art. 11 da Lei 
n' 9,096/95, o delegado credenciado por 6rgao de dire;:ao representa o partido 
politico perante a )usti.;a,Eleitoral, daf porque pode ter seus atos coinbatidos 
atraves de mandado de/seguran~a. )ana Casa Legislativa, o partido politico 
funciona por intermedio de uma bancada- que deve constituir sua lideran;:a, 
na forma do art. 12 da Lei n• 9.096/95- que, assim 'pratica atos passfveis de 
ataque na via do writ.' 
Pode-se imaginar alguns casas de possfveis impetra;:6es de mandados 
de seguran;:a contra atos de representantes ou 6rgaos de partidos politicos. 
Integrante de bancada do partido, que deve subordinar sua ariio parlamentar 
aos princfpios doutrinarios e programaticos e as diretrizes estabelecidas pel as 
6rgiios de direriio partidarios (art. 24 da Lei n• 9.096/95), pode se valer do 
writ para questionar determinada linha de atua;:ao que lhe seja imposta 
pelo partido, sob o exemplificativo fundamento de estar em confronto com 
mandamento constante do estatuto da · entidade. Mesmo a imposi-;:ao de 
quaisquer medidas disciplinares basicas de carater estatutdrio, assim como 
a aplica-;:ao de penalidades exteriorizadas em desligamento temporario da 
bancada, suspensao do direito de voto em reunioes internas ou perda de 
prerrogativas (art. 25 da Lei n• 9.096/95), podem levar o parlamentar a 
bus car, via mandado de seguran~a, o controle judicial correlato, alegando, v.g., 
inobservfmcia do contradit6rio e da ampla defesa, desproporcionalidade da 
san~ao etc. A aplica-;:ao dos recursos oriundos do Fundo Partidario desviada 
da destina-;:ao estabelecida no art. 44 da Lei nf 9.096/95 se afigura, tambem, 
outro exemplo de pratica passive] de impugna;:ao atraves do remedio heroico. 
De se ressaltar· que os a.tos praticados por dirigentes de funda;:oes ou de 
institui-;:oes de direito privado criadas por partidos politicos nao podem ser 
controlados em juizo atraves de mandado de seguran;:a. E que as referidas 
institui<;6es, na forma estabelecida no art. 53 da Lei n• 9.096/95, sao regidas 
pela lei civil, tern personalidade juridica propria e, assim, nao se enquadram 
como "6rgaos de partidos politicos" para os fins da Lei n•12.016/2009. 
25 
MAuRo Luis RocHA LorEs CoMENTARlos A. NovA LEI oo 
M.ANDADO DE SEGURAN<;:A 
Evidentemente, os atos de gestao praticados por dirigentes de partidos 
politicos - demissao de empregados, celebras;ao de contratos, mudans;a de 
enderec;:o etc.-, porque nao dizem respeito diretamente a atividade partidaria 
em si, tambem estao imunes ao controle judicial via mandado de seguranc;:a. 
No particular, aplica-se, por analogia, a vedac;:ao do § 2" do art. 1" da Lei 
n" 12.016/2009. 
2:2.6. Ato legislative 
Muito se discute sabre a validade da impetrac;:ao de mandado de segurans;a 
contra ato legislative, que nao se confunde com ato administrative praticado 
por autoridade fegislativa (como os atos da Mesa da Camara dos Deputados). 0 
Superior Tribunal de justic;:a prestigia, rotineiramente, o entendimento contido 
na Sumula 266 do Supremo Tribunal Federal. a tear da qual niio cabe mandado de 
seguram;a contra lei em tese. 
"Nao cabe mandado de seguranc;:a contra lei em tese 
(Sumula nn 266 do STF). No mandado de seguranc;:a, 
nao se admite dilas;ao probat6ria. Processo extinto sem 
apreciac;:ao do merito" (STJ. MS 6571/DF, 1' Sec;:ao, Rel. Min. 
Garcia Vieira,D]21/8/00, p. 88). - ?' 
De acordo com a orientac;:ao citada, nao se pode pleitear atraves de mandado 
de segurans;a a invalidas;ao da lei, mas sim o desfazimento do ato que, escorado 
nela, tenha violado direito lfquido e certo do impetrante. Nao deve o contribuinte, 
por exemplo, dirigir a impetras;ao diretamente contra a lei instituidora do tribute, 
por considerar a mesma inconstitucional, deduzindo pedido no sentido de sera 
norma nulificada pelo julgador. 0 mandado de seguranp, nesse caso, ha de ter 
por objeto imediato o ato da administrac;:ao que venha a exigir o tribute havido 
por ilfcito, sen do a inconstitucionalidade da lei a caus,a petendi. 
A bern da verdade, a discussao judicial da lei eh:J tese e deferida apenas ao 
Supremo Tribunal Federal, no julgamento das as;oes diretas, exercendo o controle 
concentrado de constitucionalidade das leis e atos normativos. 
Quando se faz referenda a expressao lei em tese, quer-se aludir a lei material, 
ou seja, qualquer instrumento normative que contenha comando de conduta 
generico, dotado de abstrac;:ao e impessoalidade. Por isso, mesmo urn decreta 
n!gulamentar. ato administrative em sua forma, hit de ser considerado lei 
material em sua essen cia, em moldes a afastar sua impugnas;ao direta atraves do 
mandamus. ' 
''Autoridade coatora e aquela que executou ou mandou 
executar o ato concreto causador . da · insatisfac;:ao do 
PREssurosTos EsrECiFJcos DE CAB!MENTO CAPITULO 2 
impetrante, e nao aquela que baixou a norma geral e 
abstrata, na qual esta apoiado o ato tido por coator. A 
simples edic;:ao de norma geral e abstrata nao e capaz <le 
causar prejuizos, pelo que nao pode ser impugnada via 
mandado de seguranc;:a. So a respectiva efetivac;:ao da norn1a 
tern o condiio de prodnzir gravames" (STJ, ROMS 8784/MA, 
2'Turma, Rel. Min. Adhemar Maciel, D] 10/11/97, p. 57.731). 
Hip6tese'excepcionaiconsiste'U3 iinpetrac;:ao de man dado de segur;lll\'il contra 
lei de efeitos concretes, qual seja lei formal, porqtie e·manada do Podcr l.cgislativo 
e submetida a processo legislative, mas nao material, pois sem o can}ter de 
abstrac;:ao e generalidade, atingindo pessoa(s) determinada(s). Contra cia cabe 0 
ataque mandamental por se tratar de lei autoexecut6ria ou selfenforcin.g (ex.: lei 
que defina area como sujeita a restric;:oes para prote~ao do meio ambicnte ). 
"Admite-se mandado de seguranc;:a contra lei de efcilos 
~oncretos, revestida de carater de ato administrativo" 
(STJ, REsp. 343800/MG, 2' Turma, Rel. Min. Paulo Medina, Dj 
31/3/03, p.195). 
"0 ato estatal, consubstanciado na alterac;:ao do valor 
do vencimento de categoria, nao pos~ui conteUdo 
tipicamente· normativo, dotado de ampla generalidade

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