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Resumo de IED CAP 1 Características de IED Apresenta os conceitos jurídicos, do ponto de vista sistêmico da área jurídica do saber. Leva a compreender a linguagem e o método próprios da Ciência Jurídica. Analisa as funções sociais do Direito, sua interpretação e aplicação. Ajuda a compreender o fenômeno jurídico como forma de expressão normativa, social, cultural e histórica da sociedade ocidental. Elenca as principais categorias jurídicas decorrentes das relações jurídicas. Possibilita o estudo das diferentes disciplinas que compõem o Curso de Direito. Sedimenta a construção de uma consciência jurídica e familiariza o estudante com a Ciência do Direito. Ordem Uma "ordem" é um conjunto de normas e regras que possui o tipo de unidade que se entende como um sistema. Direito É uma ordem da conduta humana. É um conjunto de normas e regras que possui o tipo de unidade que se entende como sistema. Moral A moral pode ser conceituada como o conjunto de práticas, costumes e padrões de conduta, formadores da ambiência ética. Heteronomia A heteronomia vem do grego hetero — diversos e nomos — norma. Ela é a característica do Direito que estabelece que este se impõe à vontade do indivíduo — ou seja, a lei é imposta ao indivíduo, e exterior a ele. Já a autonomia vem do grego auto — própria e nomos — norma. A Moral é autônoma, é de foro íntimo, cada um tem seus próprios valores morais e que, não necessariamente, são iguais aos dos demais indivíduos Coercível Capaz de acionar a força organizada do Estado, para garantir o respeito aos seus preceitos. Moral Moral é o conjunto de normas ou regras destinadas a regular as relações dos indivíduos em uma determinada sociedade, em um determinado momento histórico. Direito Natural Considera-se o Direito Natural como direito justo por natureza, que independe da vontade do legislador, sendo derivado da natureza humana (jusnaturalismo) ou dos princípios da razão (jusracionalismo) e sempre presente na consciência dos homens. Noção elementar do direito Compreender o Direito não é questão das mais fáceis e estudá-lo requer a percepção de que o Direito é um fenômeno, antes de tudo, social e de decisão, sem perder sua dimensão histórica, porque se refere ao que deve ser feito por todos em uma determinada sociedade, em um determinado espaço e tempo. SIGNIFICADOS DA PALAVRA DIREITO NORMA Normas elaboradas pela sociedade ou pelo Estado FACULDADE Possibilidade de agir CORRETO Homem direito – moral EXPRESSÃO DO JUSTO Justiça CIÊNCIA Ramo do conhecimento científico FATO SOCIAL O direito é um setor da vida social. OUTRAS POSSIBILIDADES TRIBUTO Direitos alfandegários RETO Geométrico – segmento reto CERTO Cálculo direito OPOSTO A ESQUERDO Lado direito Direito e Moral O Direito, apesar de acolher alguns preceitos morais fundamentais, garantidos com sanções eficazes, aplicáveis por órgãos institucionais, tem campo mais específico que a moral, pois disciplina também matéria técnica e econômica indiferente à moral, muitas vezes com ela incompatíveis. A moral varia no tempo e no espaço. Assim sendo, cada povo possui sua moral, que evolui no curso da história, consagrando novos modos de agir e pensar. O dever moral não é exigível em juízo, reduzindo-se a dever de consciência, enquanto o dever jurídico deve ser observado sob pena de o transgressor sofrer os efeitos da sanção organizada, aplicável pelos órgãos especializados da sociedade. No entanto, nem todas as determinações morais são tuteladas pelo Direito, pois se o fossem, o Direito seria a imposição, pelo poder social, da moral de uma época, civilização ou sociedade. Muitas determinações morais, que não são essenciais à paz, à segurança e ao convívio social, não se encontram no Direito. Distinções entre a Moral e o Direito Várias tentativas teóricas têm sido feitas no sentido de estabelecer critérios formais de distinção entre a Moral e o Direito. As distinções podem ser enfocadas sob dois aspectos: quanto à forma e quanto ao conteúdo do Direito e da Moral. Distinção quanto à forma As normas de Direito são postas pelo legislador, pelos juízes, pelos usos e costumes, sempre por terceiros, podendo os seus mandamentos coincidir ou não com as convicções que temos sobre o assunto. Podemos criticar as leis, das quais dissentimos, mas devemos agir em conformidade com elas, mesmo sem lhes dar adesão de nosso espírito. Isso significa que elas valem objetivamente, independentemente, a despeito da opinião e do querer dos obrigados. Essa validade objetiva está além das pessoas, das normas jurídicas, as quais se põem, por assim dizer, acima das pretensões dos sujeitos de uma relação, superando-as na estrutura de um querer irredutível ao querer dos destinatários, é o que se denomina heteronomia. DETERMINAÇÃO DO DIREITO E A FORMA NÃO CONCRETA DA MORAL DIREITO Manifesta-se mediante um conjunto de normas que definem a dimensão da conduta humana exigida, que especificam a fórmula do agir. MORAL Estabelece uma diretiva mais geral, sem particularizações A BILATERALIDADE DO DIREITO As normas jurídicas possuem uma estrutura imperativo-atributiva, isto é, ao mesmo tempo em que impõem um dever jurídico a alguém, conferem um poder ou direito subjetivo a outro alguém (outrem). Daí se dizer que a cada direito corresponde um dever. A UNILATERALIDADE DA MORAL Já a Moral possui uma estrutura mais simples, pois impõe deveres apenas. Diante dela, ninguém tem o poder de exigir uma conduta de outrem. Fica-se apenas na expectativa de o próximo aderir às normas. Não é correto estabelecer uma “muralha” entre Direito e Moral, pois o Direito não se preocupa só com a exteriorização e a Moral com os aspectos interiores. A Moral também necessita da prática exterior da intenção. O Direito, por sua vez, em determinadas ocasiões, questiona as intenções de quem comete certos crimes, notadamente os dolosos e culposos. De maneira idêntica, pode-se dizer que o Direito Civil não prescinde do elemento intencional. Foi a garantia da liberdade religiosa que levou pela primeira vez a diferenciar-se o Direito da Moral; embora a teoria da exterioridade fosse errônea, teve grande valor histórico. O Direito se caracteriza pela exterioridade, enquanto que a Moral, pela interioridade. Com isto se quer dizer, modernamente, que os dois campos seguem linhas diferentes. Coercibilidade do Direito e incoercibilidade da Moral Uma das notas fundamentais do Direito é a coercibilidade. Entre os processos que regem a conduta social, apenas o Direito é coercível. A via normal de cumprimento da norma jurídica é a voluntariedade do destinatário, a adesão espontânea. Ou seja, o certo é que todos cumpram a lei espontaneamente. Mas, se isso não acontece, a coação se faz necessária, essencial à efetividade da norma. A Moral, por seu lado, não possui este elemento coativo. É incoercível. Nem por isso as normas da Moral social deixam de exercer certa intimidação. Consistindo em uma ordem valiosa para a sociedade, é natural que o descumprimento de seus princípios provoque uma reação por parte dos membros que integram o corpo social. Distinção quanto ao conteúdo De início, percebemos que a matéria do Direito e da Moral é comum a ação humana. Contudo, o assunto foi colocado das mais diversas maneiras pelos juristas através da História. Ao dispor sobre o convívio social, o Direito elege valores de convivência. O seu objetivo limita-se a estabelecer e a garantir um ambiente de ordem, a partir do qual possam atuar as forças sociais. O sistema de legalidade oferece consistência ao edifício social. A realização individual, o progresso científico e tecnológico, o avanço da humanidade passam a depender do trabalho e do discernimento do homem. DIFERENÇA ENTRE MORAL E ÉTICA A Moral visa o aperfeiçoamento do ser humanoe por isso é absorvente, estabelecendo deveres do homem em relação ao próximo, a si mesmo e segundo a Ética. O bem deve ser vivido em todas as direções. Ética é teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano. Ética e Moral em Kant Kant, na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, reconheceu, pela primeira vez em uma ética filosófica, que todo ser racional possui um valor absoluto. Mesmo considerando-o como um ser finito e limitado, Kant ressalvou que o ser humano possui o privilégio de reger-se por leis assumidas livremente por sua própria razão. A isso, Kant denomina racionalidade moral. Estar livre para escolher e agir é o que caracteriza o ser humano, o que o filósofo denomina de autonomia moral. A ação humana, para Kant, não está submetida às leis da natureza, A função primordial do Direito é de caráter estrutural. mas às leis que o próprio ser humano escolhe seguir, por isso, é um ser moral e não simplesmente um ser da natureza. Para Kant, a racionalidade moral é o argumento definitivo para entender o ser humano como absolutamente valioso. Para o autor, somente é moral uma ação que seja praticada em função dela mesma, independente de qualquer outra motivação externa a ela. O imperativo é categórico se a ação determinada por ele possui validade em si mesma, não depende de outro objetivo que seria atingido pela ação. O imperativo categórico é enunciado por Kant com três diferentes fórmulas: IMPERATIVO CATEGÓRICO “Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza.” IMPERATIVO UNIVERSAL "A máxima do meu agir deve ser por mim entendida como uma lei universal, para que todos a sigam.” IMPERATIVO PRÁTICO “Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio.” A moral é histórica e acompanha o devir no mundo da vida, enquanto modo de comportar-se específico do homem em determinada época. Ao longo da história, Direito e Moral se aproximaram e se afastaram conceitualmente, em razão de diferentes correntes de pensamento. É inegável a existência de diversas questões sociais que ao mesmo tempo são jurídicas e de ordem moral, ou o contrário. Assim também, há problemas tão somente jurídicos que não possuem qualquer relevância moral (amorais), como por exemplo, os prazos processuais. Pela força do ordenamento jurídico, para todos os efeitos, considerase justa aquela norma que seja ao mesmo tempo jurídica e moral. A principal diferença entre a Moral e o Direito está objetivamente na sanção (punição). A moral, em razão do fim a que se destina, só permite sanções de foro íntimo (remorso, arrependimento, desgosto íntimo, sentimento de reprovação geral). Mas, sob o aspecto social, essa sanção não é eficaz, porque não se submetem a ela aqueles que não tenham consciência ética. O Direito, ao contrário, tem na sanção um mecanismo eficaz para coagir os indivíduos. Sem esse elemento coercitivo, não existiria segurança nem justiça eficazes para a humanidade. É certo que o campo da Moral, por sua vez, inclui os deveres do indivíduo para com o seu Deus (seja qual for sua crença), para consigo mesmo e para com seus semelhantes, enquanto o Direito é mais limitado, compreendendo apenas os deveres da pessoa para com os semelhantes e a sociedade como um todo (por exemplo, o meio ambiente). A moral dirige-se ao momento interno, psíquico, volitivo, à intenção que determina o ato, ao passo que o direito se dirige ao momento externo, físico, isto é, ao ato exterior. A influência da Moral no Direito Os campos da Moral e do Direito entrelaçam-se e interpenetram-se de diversas maneiras. As normas morais tendem a converter-se em normas jurídicas. Direito e Moral são instrumentos de controle social que pertencem ao campo da ética e que não se excluem. Ao contrário, se completam e se influenciam reciprocamente. O Direito como instrumento de controle social O ser humano é um ser gregário e político, vivendo em grupos, em sociedade. É natural que entre tais grupos surjam conflitos, discórdias e interesses distintos entre si. Mas, outras características do ser humano são sua necessidade de segurança e a busca pela harmonia social. Para que a sociedade sobreviva é necessário que os conflitos sejam resolvidos (compostos) e para tanto, os membros dos grupos sociais dispuseram de vários meios com o objetivo de estabelecer limites às ações humanas e promover o equilíbrio à sociedade. Socialização: Por meio dela o indivíduo aprende os papéis que assumirá na sociedade. Tais papéis implicam no desempenho de várias obrigações que necessitam de um controle social. Controle social: Visa cuidar que não se deixe de cumprir o necessário para a manutenção do equilíbrio da organização social. O Direito é o modo mais formal do controle social A Interação e a Ordem Social Chamaremos de ordenamento social o fenômeno do regramento do convívio entre os homens, em um permanente processo de socialização do ser humano, por meio de métodos e preceitos que vão sendo criados pelo grupo para padronizar a conduta individual, adequando-a ao convívio. A tarefa ou o conjunto de tarefas que o Direito desempenha, ou pode desempenhar na sociedade constitui sua função que inclui promover a ordem, a certeza, a segurança, a paz e a justiça. O Direito aparece, desse modo, ao longo de um processo histórico, dialético e cultural, como uma técnica, um procedimento de solução de conflitos de interesses e, simultaneamente, como um conjunto sistematizado de normas de aplicação mais ou menos contínua aos problemas da vida social, fundamentado e legitimado por determinados valores sociais. O conflito gera litígio e este, por sua vez, quebra o equilíbrio e a paz social. A sociedade não tolera o estado litigioso porque necessita de ordem, tranquilidade, equilíbrio em suas relações. Por isso, tudo faz para evitar e prevenir o conflito, e aí está uma das principais finalidades sociais do Direito – evitar tanto quanto possível à colisão de interesses. O Direito atua para solucionar conflitos de interesses ou restaurar o estado anterior, sendo, então, um instrumento de integração e de equilíbrio, oferecendo ou impondo regras de comportamento para decisão que o caso sugere. O exercício de tal função não levaria, contudo, ao desaparecimento dos conflitos, que são inerentes à sociedade. O Direito também orienta o comportamento social, objetivando evitar conflitos. O caráter persuasivo das normas jurídicas leva-nos a atuar no sentido dos esquemas ou modelos normativos do sistema jurídico. O Direito observado desse modo surge como organizador da vida social e instrumento de prevenção de conflitos. O Direito apresenta ainda, a tarefa de organizar o poder da autoridade que decide os conflitos, legitimando os órgãos e as pessoas com o poder de decisão e estabelecendo normas de competência e de procedimento. FUNÇÃO PREVENTIVA Disciplinamento social, estabelecendo regras de conduta, direitos e deveres. FUNÇÃO DE CONTROLE SOCIAL Socializador em última instância. Só é necessário quando a conduta humana já se apartou da tradição cultural aprendida pela educação, pela moral e religião e alcançou o nível do ilícito, ou do crime. FUNÇÃO COMPOSITIVA O conflito por vezes é inevitável e necessário se faz solucioná-lo. E aí está outra função social do direito: compor conflitos. O Estado e a ordem social O Direito existe, em tese, muito mais para prevenir do que para corrigir, muito mais para evitar que os conflitos ocorram, do que para compô-los. FUNÇÕES E FINALIDADES ESPECÍFICAS QUE COMPETEM AO DIREITO Controle social. Prevenção e composição de conflitos de interesses. Promoção de ordem e segurança.Resolução dos conflitos de interesse. Repressão e penalização dos comportamentos socialmente inadequados. Organização da produção e uma justa distribuição de bens e serviços. Institucionalização dos poderes do Estado e da Administração Pública. Realização da justiça e do respeito aos direitos humanos. A sociedade humana tem uma estrutura natural sem a qual falhariam as tentativas de organizá-la: as instituições. As instituições são vigas estabelecidas pelo costume, pela razão e pelos sentimentos, que alicerçam a sociedade, estruturando-a. A mais antiga das instituições seria a família e a mais relevante de todas seria o Estado. Cumpre ao Estado a tarefa de estabelecer o ordenamento jurídico, que é o conjunto de normas de conduta juridicamente relevantes para o conjunto da sociedade, realizado por meio de procedimentos próprios, no processo legislativo CAP 2 A ideia do Direito natural: o Jusnaturalismo Chama-se jusnaturalismo a corrente de pensamento que reúne todas as ideias que surgiram, no correr da história, em torno do DireitoNatural, sob diferentes orientações. Nele, há a convicção de que, além do Direito escrito, há outra ordem, superior àquela e que é a expressão do Direito justo. O Direito Natural forma um sistema superior de normas, preexistente à normatividade estatal, que apresenta uma leitura moral impositiva a respeito do Direito. A partir do momento em que o legislador se desvincular da ordem natural, estará criando uma ordem jurídica ilegítima. O divórcio entre o Direito Positivo e o Natural gera as chamadas leis injustas, que negam ao homem o que lhe é devido. Três concepções básicas sobre o Direito Natural ao longo da História LEI ESTABELECIDA PELA VONTADE DIVINA Concepção teológica do Direito Natural: própria de agrupamentos sociais orientados por uma cultura mítica, na qual as normas de conduta refletem os padrões morais preservados pela religião dominante. Esta concepção parte do pressuposto de que existe uma ordem sobrenatural ou transcendente que condiciona o mundo físico e o próprio agir das pessoas, sendo em realidade os deuses os responsáveis pela criação das regras de conduta, que irão disciplinar a vida em sociedade, sendo as autoridades humanas meras porta-vozes desta vontade superior. LEI NATURAL, APLICÁVEL UNIVERSALMENTE, EM TODAS AS ÉPOCAS E LOCAIS Concepção cosmológica do Direito Natural: esse caráter universal deriva da noção de que existe uma ordem natural das coisas, decorrente de parâmetros de valor atemporais, alcançando a todos os locais, pessoas e épocas. Trata-se de uma decorrência da transição das culturas míticas, para as visões laicas sobre a realidade, segundo as quais uma ordem moral superior deve orientar as ações humanas. A realidade não é mais vista como uma mera emanação da vontade divina e sim como um resultado de uma racionalidade observada no funcionamento da própria natureza, cujos fenômenos podem ser explicados racionalmente. Da mesma forma, as regras que condicionam as ações humanas em sociedade devem observar certos parâmetros gerais, extraídos de uma ordem universal. LEI RACIONAL OU INDIVIDUALISTA Concepção racionalista do Direito Natural: parte da existência de uma lei natural associada à própria existência humana. Como ser dotado de racionalidade, o homem lança mão de seu intelecto e da experiência na organização da sociedade política e na produção do direito positivo, que deve obedecer a parâmetros gerais ditados pela razão humana. Grande referência da chamada escolástica medieval, que representava basicamente uma espécie de releitura filosofia da Antiguidade, à luz da teologia cristã, São Tomás de Aquino reafirma a existência de uma lei natural primária, que corresponderia à concepção da Patrística, de uma lei de Deus imutável e eterna, inacessível aos homens. Todavia, Tomás de Aquino lança a ideia inovadora de uma lei natural secundária, social e humana, que deve ser orientada pelos desígnios do Criador, mas que pode não ser, uma vez que é produto do intelecto do próprio homem. O ideal é que a lei humana seja um instrumento para a concretização do Reino de Deus na Terra, buscando o alcance do bem comum, expresso pela fraternidade cristã. A importância do pensamento tomista (conjunto das ideias de S. Tomás de Aquino) para o campo do Direito Natural reside no fato de que a repartição da lei natural por ele promovida lança as bases de uma nova concepção sobre o Direito Natural, que irá ganhar corpo a partir da Idade Moderna, que é exatamente aquela associada à Razão Humana. Não obstante se mostrarem conectadas no pensamento de Tomás de Aquino, as leis naturais primária e secundária são, na prática, independentes: LEI NATURAL PRIMÁRIA Decorre da providência divina e escapa do controle dos homens. LEI NATURAL SECUNDÁRIA É resultado direto da vontade dos seres humanos, devendo estar em concordância com a vontade de Deus, mas podendo na prática dela se afastar, por ser uma criação da sociedade. Escola do Direito Natural (Séculos XVII e XVIII) Expressão genérica que reúne diferentes tendências e autores do pensamento moderno, que associaram a noção de Direito Natural à ideia de Razão, como atributo do ser humano, que é capaz de fazer suas próprias escolhas, independentemente da vontade divina. DE DIREITOS NATURAIS INATOS Cada um nasce com determinados direitos que preexistem e independem da vontade do Estado, cabendo a este apenas declará-los. DE UM ESTADO DE NATUREZA Um momento hipotético antecedente à formação da sociedade política, em que não havia limites à atuação dos indivíduos na satisfação de seus interesses DE CONTRATO SOCIAL Representa o pacto fundacional da sociedade política, segundo o qual os indivíduos abririam mão de parte de sua liberdade plena no estado natural em prol de um Poder Soberano, que lhes garantiria a vida e a segurança contra a possível ameaça perpetrada por seus semelhantes, na busca da satisfação de seus apetites individuais. Sob esta ótica, o Estado e o próprio direito seriam produto de opções racionais de cada um dos indivíduos, que renunciariam à liberdade plena no estado natural, em troca da preservação de sua integridade e de seu patrimônio. O positivismo jurídico Na visão positivista, a Ciência do Direito tem por missão estudar a correlação entre as normas que compõem a ordem jurídica vigente. Em relação à justiça, a atitude do positivismo jurídico é a de um ceticismo absoluto. Para os cultores do positivismo jurídico, fora da experiência jurídica, do fato ou do Direito Positivo, isto é, do direito reconhecido pelo Estado e em suas leis, não há direito. O direito identifica-se com o direito estatal, na dependência da vontade do legislador, na tradição europeia continental ou nos precedentes jurisprudenciais, na tradição anglo-saxônica do Common Law. Correntes do positivismo jurídico O positivismo jurídico não é somente uma corrente de pensamento jurídico, mas também uma tendência formalista no campo das ideias jurídicas, que se identifica com diferentes correntes do pensamento jurídico do Século XIX, surgidas em distintos sistemas jurídicos europeus, podendo ser identificadas três escolas principais: Escola da Exegese, na França; Pandectismo Jurídico, na Alemanha e Jurisprudência Analítica, na Inglaterra. Escola da Exegese Trata-se de uma escola ligada a um projeto político determinado, de unificação do direito privado francês e que se valeu de uma técnica inteiramente nova de elaboração legislativa, denominada de Código, que seria um documento completo de toda a disciplina jurídica de uma determinada área do direito, pondo fim a outras fontes históricas do direito, tais como Direito Romano, Direito Costumeiro e o Direito Natural. O Pandectismo Alemão e sua relação com a Escola Histórica Em 1814, Thibaut publicou uma obra defendendo a codificação do direito alemão,como elemento viabilizador da organização do direito e fomentador da unidade nacional. No mesmo ano, Savigny publicou uma obra defendendo o costume como legítima fonte do direito. Para ele, a codificação representaria uma indevida invasão estrangeira na rica cultura jurídica alemã Savigny afirmava que o povo manifesta-se especialmente por meio de regras de caráter consuetudinário, que cabe ao legislador interpretar: os costumes devem exprimir-se em leis, porque somente são leis verdadeiras as que traduzem as aspirações autênticas do povo. A Escola Histórica do Direito A Escola Histórica considerava o costume como a fonte principal de direito, devendo a lei derivar dele. Opunha- se ao jusnaturalismo, porque o considerava metafísico e divorciado da realidade histórica das sociedades. Insurgiu-se contra a codificação, por petrificar o direito, impedindo a sua adaptação a novas realidades. Pandectismo Jurídico (Jurisprudência Conceitual) O formalismo dominante no pensamento jurídico europeu do Século XIX triunfou também na Alemanha, suplantando o enfoque factualista da Escola Histórica, mas de uma forma fiel à tradição jurídica germânica, o que fez com que, paradoxalmente, o denominado Pandectismo Jurídico bebesse na fonte do próprio historicismo, não obstante fosse uma escola sem preocupações com a influência dos fatos sobre o direito. O Pandectismo defendia a imperatividade dos conceitos jurídicos construídos a partir do estudo das Instituições do Direito Romano, mescladas com a tradição doutrinária germânica. Conceitos como os de direito objetivo, direito subjetivo, ato lícito, sujeito de direito, propriedade, obrigação etc. formados a partir da generalização dos casos solucionados pela jurisprudência romana da Antiguidade, serviram de base para a construção de um modelo doutrinariamente organizado, que deu origem ao que se chamou de Teoria Geral do Direito Privado, que, por sua vez, lançou os fundamentos da denominada Teoria Geral do Direito. A Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen Hans Kelsen (1881-1973) dedicou a maior parte de sua vida à discussão da Teoria do Direito. O normativismo jurídico kelseniano consiste basicamente na defesa da construção de parâmetros metodológicos próprios para a Ciência do Direito, expressos na denominada Teoria Pura do Direito, que não fossem uma mera importação das Ciências Sociais e Humanas do Século XIX, tampouco a reprodução dos paradigmas teóricos próprios das Ciências Naturais e Exatas. Com base na Teoria Geral do Estado para desenvolver uma teoria sobre o ordenamento jurídico, Kelsen partiu da premissa de que o direito representa uma expressão formal da soberania estatal, não sendo um produto da natureza ou de fatos e sim um resultado da vontade política do Estado. Pontos Principais da Teoria Pura do Direito Kelsen priorizava o aspecto estrutural do ordenamento jurídico e a correlação entre suas normas, independentemente de concepções ideológicas e de regimes políticos. Pregava a pureza metodológica de uma Ciência “Pura” do Direito. Na Ciência “Pura” do Direito a análise do direito leva em consideração apenas os seus aspectos normativos, descontaminando-o em relação aos aspectos políticos, sociológicos, históricos, que eram à base do pensamento das escolas factualistas do final do Século XIX, início do Século XX Kelsen defendia a criação de uma Ciência do Direito cujo centro gravitacional fosse a norma jurídica, conceito que compreende as diferentes formas de manifestação do direito ao longo da História, pouco importando se a norma decorre do direito positivo, do costume, do Direito Natural ou de qualquer outra fonte. Realmente importante é o reconhecimento estatal de uma norma, para que ela seja considerada válida na estrutura do ordenamento jurídico. Ordenamento Jurídico são normas emanadas pelo Estado, de forma escalonada, dispostas em diferentes níveis hierárquicos. Algumas normas têm mais autoridade se comparadas com outras, servindo-lhes de fundamento de validade. Tal estruturação do ordenamento jurídico deu origem ao que se convencionou chamar de pirâmide de Kelsen IMAGEM pag 47 capitulo 2 Segundo Kelsen, não compete ao jurista questionar o conteúdo da Norma Fundamental, exatamente por se tratar de uma reflexão que escapa ao campo da Ciência do Direito, cuja preocupação central deveria ser a inserção da norma no contexto do ordenamento jurídico, independentemente do seu conteúdo. A validade da norma jurídica emana de sua compatibilidade com o sistema normativo. A base principal da validade da norma é a autoridade política por trás dela. Essa validade independe do conteúdo da norma, mas sim da hierarquia, pois esta irá configurar a compatibilidade com as normas de níveis superiores, até se chegar à Norma Fundamental, que valida todas as demais, por ser a expressão maior da autoridade do Estado. Na estrutura do ordenamento jurídico kelseniano, a norma jurídica impõe-se em decorrência de uma vontade política, expressa pela figura do Estado e não por valores que se afirmam a partir da convivência social. Exatamente por causa disso, a Ciência Pura do Direito não se preocupa com parâmetros morais que fundam o ordenamento e sim com o mecanismo de funcionamento interno da ordem jurídica O pós-positivismo e a crítica à teoria pura do Direito de Kelsen O pensamento jurídico de Hans Kelsen representou um marco importantíssimo na Teoria do Direito, à medida que ele foi capaz de conceber uma metodologia própria para a Ciência do Direito, centrada, sobretudo, na montagem de uma estrutura do ordenamento jurídico aplicável a diferentes sistemas jurídicos, sendo difícil pensar na organização das normas jurídicas no Estado sem fazer referência ao pensamento de Kelsen. Basta pensar na discussão contemporânea sobre o controle de constitucionalidade das leis, por exemplo, para constatar a substancial influência exercida pela Teoria do Ordenamento kelseniana. A partir da década de 1950, começaram a surgir diferentes tendências no pensamento jurídico que têm em comum a crítica à ânsia purificadora da Teoria de Kelsen e que passaram a defender a possibilidade de edificação de uma Ciência do Direito, com uma metodologia peculiar, seguindo o projeto kelseniano, mas que levasse em consideração também um conjunto de parâmetros de ordem moral, que foram sendo consolidados a partir da experiência histórica do Ocidente, e que deveriam ser reconhecidos em qualquer sistema político, independentemente de tendências político-ideológicas. Miguel Reale e a estrutura tridimensional do Direito Miguel Reale é uma importante referência na literatura jurídica atinente ao pensamento culturalista, que teve origem na Alemanha e empreendeu uma crítica às ideias de Kelsen, tendo sido bastante difundido na América Latina. Reale tem por ponto de partida a distinção de origem kantiana (de Imannuel Kant, apresentada no capítulo 1) entre natureza, valor e cultura. Segundo os defensores deste posicionamento: A cultura Exige método de conhecimento diverso do empregado nas ciências físico-naturais, como objetivação de valores ou sentidos. O direito Pertence ao reino da Cultura e não ao da Natureza, sendo construído a partir da experiência histórica das sociedades. Apesar da crítica a ele, o Culturalismo absorve de Kelsen a dimensão não causal do fenômeno jurídico, reconhecendo a existência de um Dever-Ser jurídico. Na América Latina, o culturalismo jurídico é o traço característico do pensamento de três grandes juristas: Para Miguel Reale, o direito é a síntese histórica de dois elementos pertencentes a realidades diferentes: fato (econômico, geográfico, demográfico etc.) e valor (justiça, ordem, garantia etc.), concretizados dialeticamente na norma jurídica. Assim, a norma jurídica, para ele, é a síntese ou unidade histórica resultante da integração dinâmicae dialeticamente aberta a novas sínteses de fatos e valores A Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale é tida como a melhor sistematização da visão culturalista sobre o Direito. Para Reale, toda experiência jurídica pressupõe a correlação entre estes três elementos: fato, valor e norma. A Teoria Tridimensional do Direito agrega contribuições das principais correntes do pensamento, desenvolvendo-se sobre a herança da tradição jurídica ocidental, de forma a criar um parâmetro metodológico sobre o direito que permita harmonizá-las FATO-Dado da realidade (sociedade)-Sociologismo/Realismo VALOR-Elemento de natureza moral (justiça)-Jusnaturalismo NORMA-Elemento regulador (lei)-Positivismo/Normativismo CAP 3 Conceitos jurídicos fundamentais Conforme estudado no capítulo anterior, deve-se à Teoria Pura do Direito de Kelsen a ideia de um Direito concebido como ciência pela definição do objeto da ciência do Direito, que para ele é constituído em primeiro lugar pelas normas jurídicas e secundariamente pelo conteúdo destas normas, ou seja, pela conduta humana que elas regulam. Desse modo, à medida que são estudadas as normas reguladoras da conduta, ou seja, o Direito, como um sistema de normas em vigor, trata-se do estudo da Teoria Estática do Direito. No entanto, se o objeto do estudo se volta para essa conduta humana regulada, ou seja, o processo jurídico, em seu movimento de concepção e aplicação, trata-se do que Kelsen chama de Teoria Dinâmica do Direito. Direito Natural Como visto no capítulo anterior, a Teoria do Direito Natural é muito antiga e está presente na literatura jurídica ocidental desde a aurora da Civilização Europeia, antes de Cristo, em Atenas e Roma. Considerado expressão da natureza humana ou dedutível dos princípios da razão, o direito natural foi sempre concebido, pelos defensores desta teoria, como superior ao direito positivo, como sendo absoluto e universal por corresponder à natureza humana. O Direito Natural revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao ser humano, que deverão ser consagrados pela legislação, para que se tenha um ordenamento jurídico justo. Esta teoria sustenta que todo ser humano é dotado de uma natureza e um fim. A natureza, ou seja, as propriedades que compõem o ser define o fim que este tende a realizar.O direito natural consiste na permanente aspiração de justiça que acompanha o ser humano. Para a corrente denominada jusnaturalismo (jus = direito), além do direito escrito (positivo), há uma ordem superior que é a do direito justo. Universalidade Próprio a todos os povos. Imutabilidade Tal qual a natureza humana, o direito natural não se modifica. Indelebilidade Significa que não podem os direitos naturais ser olvidados pelo coração e consciência dos seres humanos. Obrigatoriedade Deve ser obedecido por todos. Validez Seus princípios são sempre válidos e podem ser impostos aos homens em qualquer situação em que se encontrem. Perpetuidade Válido em todas as épocas. Indispensabilidade Direito irrenunciável. Unidade Sempre o mesmo para todos. Necessidade Nenhum grupo social pode viver sem o direito natural. O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado. É um Direito espontâneo, que se origina da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação de experiência e razão. É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, de caráter universal, eterno e imutável. Direito Positivo O Direito Positivo é assim denominado porque provém diretamente do Estado, vem a ser também, a base da unidade do sistema jurídico nacional. O Positivismo jurídico é a manifestação, no campo do direito, do positivismo, ou seja, da doutrina de Comte, na forma apresentada no seu Cours de Philosophie Positive. Dando grande importância à ciência no progresso do saber, restringindo o objeto da ciência e da filosofia aos fatos e à descoberta das leis que os regem, o positivismo pretendia ser a filosofia da ciência, ou seja, o coroamento do saber científico. No domínio jurídico, abandonando a metafísica, definindo o direito positivo como fato, passível de estudo científico, plantado em dados reais, o positivismo jurídico tornou-se a doutrina do direito positivo. O positivismo se caracteriza assim, por ser antimetafísico e antijusnaturalista, por ser empirista, por afastar do estudo científico do direito os valores e por considerar o direito positivo o único objeto da Filosofia e das Ciências jurídicas. Diferenças entre o Direito Natural e o Direito Positivo Os seres humanos estão perenemente insatisfeitos com a situação em que se encontram e sua aspiração é melhorá-la cada vez mais. Surge assim a distinção entre direito positivo e direito natural. O primeiro é o ordenamento jurídico em vigor em um determinado país e em uma determinada época; o segundo, o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior e suprema. Direito Substantivo e Direito Adjetivo O Direito Substantivo (Material) é o conjunto das regras criadas pelo Estado que normatiza a vida em sociedade definindo relações jurídicas, constitui o chamado direito material. O direito substantivo (material) é o que define as relações concretas das pessoas em sociedade e as submete à sua ação. O Direito Adjetivo (Processual) consiste nas regras de direito processual que regulam a existência dos processos, bem como o modo destes se iniciarem, se desenvolverem e terminarem. O direito formal ou "adjetivo" diz respeito à processualística, ou seja, à forma pela qual se aplica o direito material. Revela como efetivar, manter, tornar válidos ou recuperar os direitos previstos no direito substantivo (material). Há autonomia do direito adjetivo (processual) em relação ao direito substantivo (material). O direito material (substantivo) define as normas de conduta para a paz na convivência social, por isso dita as normas. Já o direito processual (adjetivo) visa assegurar o cumprimento das normas, ou seja, se preocupa em garantir a obediência das normas de direito material. Direito Objetivo e Direito Subjetivo O Direito Objetivo e Direito Subjetivo são conceitos de uma mesma realidade, interdependentes e complementares. O Direito Objetivo é um conjunto de normas que regem o comportamento humano, prescrevendo uma sanção (punição) em caso de sua violação. É a regra social obrigatória imposta a todos, quer seja sobre a forma de lei ou mesmo sob a forma de um costume, que deva ser obedecido, é a norma agendi, reguladora de todas as ações do ser humano, em suas múltiplas manifestações e de todas as atividades das instituições políticas, públicas e particulares. O direito objetivo é expresso por modelos abstratos de conduta (Códigos, Leis, Consolidações etc.). São modelos normativos genéricos que não individualizam as pessoas neles envolvidas. Em outras palavras, o direito objetivo é composto pelas normas jurídicas, as leis, que devem ser obedecidas rigorosamente por todos os seres humanos que vivem na sociedade que adota essas leis. O seu descumprimento, dá origem a sanções. O Direito Subjetivo é o poder de exigir uma determinada conduta de outrem, conferido pelo direito objetivo, pela norma jurídica. É o poder de ação assegurado legalmente a todas as pessoas para defesa e proteção de toda e qualquer espécie de bens materiais ou imateriais, do qual decorre a faculdade de exigir a prestação ou abstenção de atos, ou o cumprimento da obrigação, a que outrem esteja sujeito. Relação entre Direito Positivo e Direito Objetivo Direito Objetivo é gênero do qual o direito positivo é espécie, assim como os costumes e, por exemplo, cláusulas contratuais entre particulares. São normas de direito objetivo positivo: a Constituição, a lei, o decreto, a circular, a portaria e outros tantosatos administrativos. Entretanto, são normas de direito objetivo: os costumes e as cláusulas de um contrato de locação, por exemplo. Embora jurídicas, não são normas de direito positivo, pois não emanam, diretamente, do Estado, mas sim da sociedade e da vontade dos particulares contratantes, respectivamente. O direito positivo é assim denominado porque é o que provém diretamente do Estado. Desse modo, todo direito positivo é direito objetivo, mas nem todo direito objetivo é direito positivo. Direito Público e Privado A dicotomia entre o Direito Público e Privado é histórica, servindo a propósitos ideológicos. O Direito liberal burguês defendia a igualdade entre as partes contratantes. Esta igualdade escondia uma realidade fática: a brutal desigualdade econômica, sendo, pois, uma ficção jurídica. Interessou ao pensamento liberal burguês alargar o campo de atuação do Direito Privado, para que o Estado não interferisse nas relações, principalmente aquelas referentes ao contrato de trabalho. A divisão do Direito em Público e Privado é invenção romana, sendo desconhecida na Idade Média, e recuperada pelo Direito liberal burguês. Vale lembrar que essa divisão variava de intensidade conforme o país e o regime. A divisão entre Direito Público e Direito Privado sofreu críticas no início do Século XX, devido à publicização do Direito, quando o Estado passou a intervir para defender os interesses dos mais fracos na sociedade, passando a ocorrer ingerência das normas de ordem pública nas relações privadas. A publicização deve ser entendida como um processo de intervenção legislativa infraconstitucional, diferente de outro fenômeno conhecido como constitucionalização que tem por fito submeter o direito positivo aos fundamentos de validade constitucionais Atualmente, dois critérios são utilizados para a divisão os ramos de Direito Público e Direito Privado: O primeiro é o Critério do conteúdo ou objeto da relação jurídica. Neste critério, quando prevalece o interesse geral o direito é público, quando prevalece o particular o direito é privado. O segundo Critério é relativo à forma da relação jurídica, ou Teoria da Natureza da Relação Jurídica. Assim, se a relação é de coordenação, trata-se, em regra, de Direito Privado, se a relação é de subordinação, trata-se, em regra de Direito Público. Enquanto o Direito Privado é informado, entre outros, pelos princípios da autonomia da vontade e da licitude ampla , o Direito Público é regido pelos princípios da supremacia do interesse público e da estrita legalidade - o agente público só pode agir se, quando e como a lei prescrever. As cláusulas de um contrato são normas de Direito Privado, sendo normas individuais, pois não derivam diretamente do Estado, mas sim da vontade dos particulares. Ramos do Direito Público Direitos Constitucional, Financeiro, Tributário, Internacional Privado, Administrativo, Processual, Ambiental, Penal Ramos do Direito Privado Direitos Civil, Empresarial. Direito Interno e Internacional Existem duas posições doutrinárias sobre a relação entre o Direito internacional e o Direito interno: a dualista e a monista. TEORIA DUALISTA O primeiro estudo sistematizado acerca da existência de um conflito entre as normas internas e as internacionais foi realizado por Heinrich Triepel, em 1899. Os dualistas defendem que o Direito Internacional e o Direito interno são concepções distintas, à medida que se encontram baseados em duas ordens: a interna e a externa. TEORIA MONISTA O monismo surge como alternativa ao dualismo. Os monistas argumentam que o Direito internacional e o Direito interno são noções de uma só ordem jurídica e, neste caso, havendo um só ordenamento, haveria uma norma hierarquicamente superior a todas as demais regulando este único ordenamento. Esta teoria, ainda, apresenta duas versões: a que defende a preferência do Direito interno, e, outra, a precedência do Direito internacional. Direito Público Interno O Direito Constitucional tem por objeto o sistema de regras referente à organização do Estado, no tocante à distribuição das esferas de competência do poder político, assim como no concernente aos direitos fundamentais dos indivíduos para como o Estado, ou como membros da comunidade política Nas Constituições contemporâneas, em vez de se disciplinar primeiro a organização do Estado, os poderes do Estado são estatuídos em função dos imperativos da sociedade civil, isto é, em razão dos indivíduos e dos grupos naturais que compõem a comunidade. Em outras palavras, o social prevalece sobre o estatal O Direito Administrativo tem por objeto o sistema de princípios e regras, relativos à realização de serviços públicos, destinados à satisfação de um interesse que, de maneira direta e prevalecente, é do próprio Estado. O Direito Financeiro e Tributário é uma disciplina que tem por objeto toda a atividade financeira do Estado concernente à realização da receita e despesa necessárias à execução do interesse da coletividade. O Direito Tributário disciplina às relações entre o Fisco e os contribuintes, tendo como objeto primordial o campo das receitas de caráter compulsório, isto é, as relativas à imposição, fiscalização e arrecadação de impostos, taxas e contribuições, determinando-se, de maneira complementar os poderes do Estado e a situação subjetiva dos contribuintes, como complexo de direitos e deveres. O Direito Processual objetiva o sistema de princípios e regras; mediante os quais se obtém e se realiza a prestação jurisdicional do Estado necessária à solução dos conflitos de interesses surgidos entre particulares, ou entre estes e o próprio Estado. O Direito Penal é o sistema de princípios e regras mediante os quais se tipificam as formas de conduta consideradas criminosas, e para as quais se tipificam as formas de conduta consideradas criminosas, para as quais são cominadas, de maneira precisa e prévia, penas ou medidas de segurança Dada a sua natureza, que envolve o problema substancial da liberdade humana, o ordenamento jurídico penal se distingue dos demais pelos princípios da legalidade estrita, ou seja, não há crime sem prévia previsão legal. O Direito Eleitoral disciplina a escolha dos membros dos Poderes Executivo e Legislativo. Suas normas regulam critérios para as candidaturas, para as eleições, apurações etc. O Direito Militar regula as normas aplicáveis aos militares. Tal Direito é previsto na Constituição, no artigo 42. O Direito do Trabalho é composto por normas jurídicas que regulam as relações individuais entre empregado e empregador, bem como, por normas de Direito Coletivo do Trabalho, que engloba os acordos coletivos de trabalho, o direito de greve e as relações sindicais. O Direito Previdenciário é parte dos Direitos da Seguridade Social garantidos na Constituição, que englobam além da Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde. É um ramo da maior relevância porque afeta diretamente todos os cidadãos do País. O Direito Econômico é composto por normas jurídicas que regulam a produção e circulação de produtos e serviços com foco no desenvolvimento do País e no controle do mercado, visando impedir a concorrência desleal, regular monopólios e oligopólios. O Direito do Consumidor, positivado na Lei 8078/90, regula as relações entre consumidores e fornecedores de produtos e serviços. No artigo 81, o Código do Consumidor conceituou, expressamente, os Direitos Difusos como sendo aqueles cujos titulares são indeterminados e indetermináveis. O Direito Ambiental é um ramo, relativamente novo do Direito, mas da maior relevância em todo o planeta na atualidade. A Constituição Brasileira de 1988 consagrou a proteção dos valores ambientais, tendo como base o artigo 225 que preceitua: Direito Externo O Direito Positivo Externo pode ser dividido entre Direito InternacionalPúblico e Direito Internacional Privado. O Direito Internacional Público é composto dos tratados internacionais, convenções, pactos, convênios ou acordos, além dos costumes internacionais. Um tratado Internacional é realizado entre Estados Nacionais independentes, com objetivo de regular determinada matéria, por meio de cláusulas que se tornam normas jurídicas. O Direito Internacional Privado é regido por normas que regulam as relações privadas em âmbito internacional. Trata de definir qual a norma a ser aplicada em razão do domicílio, ou da nacionalidade da pessoa, do lugar em que foi realizado o ato, do local em que se situa o objeto do Direito CAP 4 Conceito de norma O conceito de norma jurídica tem caráter amplo e engloba os diferentes tipos de fonte de direito reconhecidas pelo Estado, que criam condicionantes do agir social e fixam as bases da organização das instituições públicas no Estado de Direito. A norma jurídica se apresenta como heterônoma, na medida em que deriva de uma imposição externa à consciência de seu destinatário, sendo dotada também de caráter obrigatório. Normas de conduta São também denominadas de normas primárias, exatamente porque cumprem a finalidade básica das regras de direito, que é a disciplina de comportamentos na sociedade. Tais normas têm as pessoas como destinatárias e estabelecem um padrão de agir social segundo uma estrutura lógica, na qual a norma prevê uma hipótese, correspondente a um fato do mundo da vida e uma consequência jurídica para a ocorrência concreta do fato hipotético. Normas de organização Chamadas também de secundárias, fixam competências e atribuições no âmbito do Estado, algo indispensável no Estado do Direito, no qual prevalece o império da lei, estando as autoridades públicas subordinadas a um princípio de legalidade estrita, segundo o qual as suas ações somente podem ocorrer nos limites fixados pela lei. Desse modo, verifica-se uma formalização na esfera pública, de acordo com a qual a atuação dos agentes do Estado circunscreve-se às matérias normativamente estabelecidas, do mesmo modo que deve obedecer a formas e procedimentos também fixados pelo ordenamento jurídico. Sob o prisma da lógica, as normas de organização têm uma formação diferente das normas de conduta, uma vez que em regra não possuem uma sanção específica, sendo o efeito do descumprimento deste tipo de norma a nulidade do ato praticado. As diversas classificações da norma Quanto ao tipo de comando Segundo um critério estritamente de ordem formal, a norma jurídica pode ser classificada em função do tipo de comando nela contido, compreendendo as seguintes espécies: NORMA IMPERATIVA OU COGENTE (PRECEPTIVA) É aquela que exige de seu destinatário uma conduta positiva ou uma ação, sendo antijurídica qualquer atitude diferente da prescrita na lei ou a omissão. Um exemplo seria uma norma que exige o recolhimento de um determinado valor de imposto, diante da ocorrência da hipótese legal (fato gerador). O não recolhimento do tributo pelo contribuinte ou o seu recolhimento em desconformidade com o montante previsto na lei denotam uma violação à ordem jurídica. NORMA PROIBITIVA Parte exatamente da premissa oposta da norma imperativa: neste caso, a postura juridicamente admitida pressupõe uma omissão por parte do destinatário da prática da conduta prevista pela norma. A hipótese legalmente estabelecida não pode acontecer do contrário enseja aplicação de uma sanção jurídica. É exatamente o exemplo de uma norma que proíbe fumar em determinado local e fixa uma penalidade em dinheiro, para aquele que praticar o ato. O que o direito exige neste caso é um não agir por parte do destinatário da norma. NORMA SUPLETIVA (PERMISSIVA) Este tipo de norma compreende aquelas situações em que a ordem jurídica cria um padrão de agir, mas permite ao destinatário optar por uma atuação diferente, de acordo com o princípio da autonomia privada. No Direito Civil, a legislação cria regimes jurídicos padronizados para a destinação dos bens no casamento e na sucessão por morte, mas permite aos nubentes a celebração de um pacto antenupcial, no primeiro caso, e ao falecido a elaboração de legados ou testamentos, no segundo, dispondo de forma diversa do padrão legal. Quanto à amplitude NORMA GENÉRICA A hipótese nela prevista tem conteúdo aberto, sendo aplicável a uma infinidade de situações. As normas que trazem em si princípios de direito ou garantias fundamentais tendem a ter uma dicção genérica: “todos são iguais perante a lei”, por exemplo. NORMA ESPECÍFICA (PARTICULAR) Disciplina certas situações de modo pontual, buscando um regramento detalhado do direito em questão ou simplesmente trata de uma matéria muito especializada. Ratificando a observação feita anteriormente, entre as normas especiais é possível identificar normas mais específicas do que outras. São normas específicas, por exemplo, as que disciplinam o contrato de locação imobiliária residencial, exatamente porque há uma infinidade de modalidades contratuais e dentro do contrato locação há também diferentes espécies. NORMA INDIVIDUALIZADA (“DE EFEITOS CONCRETOS”) Tem aplicação a uma situação determinada, perfeitamente identificável no tempo e no espaço, havendo casos em que sua disciplina jurídica se exaure na incidência sobre um fato específico ou perdura durante reduzido período de tempo. Como o conceito de norma jurídica abarca não apenas as leis, mas também os atos normativos elaborados pelas autoridades político-administrativas, no exercício do chamado poder regulamentar, é usual a atribuição de formato de norma a atos administrativos, como um Decreto de nomeação de alguma pessoa em um cargo público, por exemplo. Esta é uma hipótese clara de norma individualizada, uma vez que o seu único destinatário é o cidadão nomeado para o cargo. São também de efeitos concretos normas de tombamento de imóveis e a Lei Orçamentária Anual, que determina os valores que serão aplicados em cada órgão e projeto do Estado a cada exercício financeiro. Quanto ao elemento espacial NORMA DE DIREITO INTERNACIONAL As relações entre os Estados na ordem internacional contam com normas estabelecidas com base em tratados, convenções e costumes internacionais, cujo fundamento se encontra no princípio da “autolimitação da soberania”, segundo o qual, os Estados se submetem voluntariamente às regras de direito internacional, a elas aderindo e recepcionando no direito interno, de acordo com os procedimentos previstos na legislação de cada país. Não há uma sujeição compulsória dos Estados às normas do direito internacional, que serão a eles aplicadas, via de regra, quando houver uma submissão voluntária, motivada por variados fatores, como política internacional, interesses estratégicos, econômicos etc. NORMA DE DIREITO INTERNO (FEDERAL, ESTADUAL, MUNICIPAL) De modo geral, a norma jurídica é associada à norma de direito interno, que é criada pelo Estado, no exercício do seu poder soberano, e que se impõe a todos que se encontram em seu território. A Constituição brasileira adotou a forma federativa de Estado, na qual são atribuídas competências legislativas aos entes públicos: União, Estados e Municípios. Dessa forma, cada ente conta com uma franquia de temas em torno dos quais poderá elaborar suas próprias normas, nos limites da Constituição. Naturalmente, as normas editadas por um determinado ente da federação terão sua aplicação circunscrita ao território respectivo, sendo a legislação federal aplicável em todo o território nacional. Quanto ao elemento temporal NORMA PERMANENTE O usual é que uma norma ao entrar em vigor, assim permaneça até que outra norma a revogue, salvo se ela própria criar algum tratamento específico para a sua incidência temporal. NORMA TEMPORÁRIA Situação excepcional no direito, se traduz por umanorma cuja vigência é limitada no tempo por disposição expressa daquele que a criou ou pelo exaurimento das hipóteses concretas por ela alcançadas. Uma norma prevendo uma anistia ou um parcelamento de um débito fiscal normalmente terá uma data limite para que os interessados requeiram o benefício. Findo tal prazo, o regime diferenciado não mais poderá prevalecer, valendo a regra gera Quanto aos efeitos sobre o fato NORMA DE EFEITO PROSPECTIVO Com base no princípio da irretroatividade da lei, em regra a mudança legislativa operará apenas em relação aos fatos ocorridos após a entrada em vigor das novas normas, o que se chama de efeito prospectivo, ex nunc, sendo importante destacar que tal princípio no direito brasileiro é balizado pelos fenômenos da coisa julgada, do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, que serão estudados em item específico. NORMA DE EFEITO RETROATIVO A exceção no direito é a atribuição à norma de efeitos retroativos, também chamados de ex tunc. Nas situações pontuais em que uma nova legislação deita efeitos para o passado, normalmente estar-se-á falando de normas de conteúdo benéfico, que concedem algum benefício aos seus destinatários, sem causar prejuízos a terceiros, uma vez que a regra no direito brasileiro é a irretroatividade da lei, com a preservação das situações constituídas Os planos da vigência, validade e eficácia da norma Da Vigência Também denominada de validade formal, funda-se no preenchimento pela norma dos requisitos estabelecidos pelo processo legislativo constitucionalmente instituído. Ao preencher os mecanismos de reconhecimento criados pela ordem jurídica, uma norma pode ser dita como vigente. Da Validade O campo da validade da norma jurídica situa-se em uma posição média entre a questão formal e material do direito. Levando-se em consideração que a norma inicialmente se incorpora à ordem jurídica (plano da vigência), a aferição da validade normativa consiste em verificar a compatibilidade da norma com o restante das normas do ordenamento jurídico. A sua inconstitucionalidade, consistente na afronta de seu comando a prescrição constitucional ou no descumprimento de algum requisito do processo de produção normativa constitucionalmente estabelecido. A revogação tácita, que decorre da aferição da incompatibilidade dos conteúdos de uma norma mais antiga e uma mais recente, concluindo-se pela revogação da primeira. A própria questão da nulidade da norma, da qual a inconstitucionalidade seria uma espécie, pois se sabe que os regulamentos possuem natureza de norma jurídica e eventualmente afrontam as leis e não a Constituição de forma direta. Da Eficácia Refere-se à efetiva aplicação ou execução da norma jurídica. Este representa o plano em que a norma jurídica repercute na vida das pessoas, disciplinando concretamente as relações sociais. Como se pode observar no item precedente, a validade ou não da norma jurídica repercutirá diretamente na esfera da sua eficácia LEI EM DESUSO É ineficaz desde o seu nascedouro. O desuso de uma norma tem causas variadas, podendo ser resultado do fenômeno da norma defectiva, que prevê hipótese, mas não contém sanção; ser decorrente de uma hipótese legal de impossível cumprimento em termos concretos ou de uma exigência jurídica irrazoável, injusta ou que afronte o senso comum que predomina na sociedade. LEI ANACRÔNICA (VELHA, ULTRAPASSADA, DEFASADA) É aquela que durante um determinado período até teve aplicação na sociedade, mas que sofreu um enfraquecimento de sua normatividade com o passar dos anos.
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