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Jusnaturalismo; Contratualismo e Natureza humana em hobbes

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TRABALHO
 
POLÍTICA CLÁSSICA 
Prof. Vera Cepeda
Aluno: Leandro Dolensi 743945
Turma B
Questão 1 – Definir Jusnaturalismo. 
R: Jusnaturalismo é uma corrente filosófica que alega existir direitos
naturais decorrentes da natureza de algo, motivo pelo qual se pode falar por
exemplo de direito natural de origem divina ou em direito natural fundado na
essência do ser humano. De qualquer modo, as filosofias jusnaturalistas
partem do pressuposto de que o direito natural possui regras imutáveis no
tempo e no espaço, diferente do direito positivo que tem suas características
marcadas de acordo com o seu tempo histórico. É importante entender essa
diferença entre direito natural e direito positivo, tendo em vista que este último
resulta da criação do homem, precisamente o contrário daquele que tem sua
origem na natureza de algo que não seja o ser humano. 
Em seu surgimento, o então chamado Direito natural cosmológico
fundamentava sua filosofia na ‘’natureza das coisas’’, na natureza do cosmos, e
viam o homem como constituinte desse espaço, desse universo. Num segundo
momento, temos o Direito Natural teológico, aqui se tinha em Deus e no divino
o fundamento absoluto do Direito. Num terceiro momento, em meio ao
renascimento e o antropocentrismo, o Jusnaturalismo passou a buscar na
razão humana o suposto parâmetro absoluto do Direito Natural. Podemos falar
então em, pelo menos, três fases do Jusnaturalismo, que vamos chamar de
Jusnaturalismo clássico, medieval e moderno(ou racional). 
As primeiras manifestações do Jusnaturalismo surgiram na Grécia,
sendo que o primeiro registro desse pensamento de direito natural aparece em
Sófocles, na obra Antígona com a afirmação ‘’justo por natureza’’, que seria o
que é justo conforme a razão. Vários filósofos após Sófocles também vão citar
esse pensamento do ‘’justo por natureza’’, mas foram os Estóicos que firmaram
o conceito de direito natural e foi Cícero quem levou esse conceito para a
cultura romana. O Estoicismo observa uma estreita relação entre physis e o
ethos, para essa corrente filosófica, o homem é parte do cosmos e, para ter
uma conduta ética que assegure a sua felicidade, suas ações devem estar em
equilíbrio com os direitos naturais e com a estabilidade do cosmos, o qual dá
harmonia a todo o universo, incluindo o homem.
Quando falamos em Jusnaturalismo Medieval claramente estamos
falando da idade média, período histórico fortemente influenciado pela Igreja,
portanto, neste tempo o conceito de Direito Natural está atribuído ao Deus
Cristão. O Cristianismo nesse espaço de tempo tomou para si a educação
doutrinária, e se apropriou das antigas filosofias, dando a ela uma nova
roupagem. São Tomas de Aquino pensou uma doutrina Jusnaturalista com três
tipos de leis: lei eterna(razão divina), lei natural(participação da lei eterna na
criatura racional) e lei humana(produto da razão humana). Esse Jusnaturalismo
é extremamente pautado em fundamentos religiosos, e se caracteriza por
pregar um Direito universal que tenha como visão essencial a busca por uma
justiça dentro dos dogmas do cristianismo, ou melhor, da igreja.
Com o advento da Renascença, o homem passa a indagar a origem
daquilo que o cerca colocando-se no centro do universo. Sujeita o
conhecimento a uma verificação de ordem racional. O Jusnaturalismo
moderno, portanto, colocará os alicerces do Direito na natureza de um homem
racional e passível de socialização, quer esta esteja inscrita de maneira inata
na sua natureza, quer se mostre como uma espécie de superação dos
obstáculos que sua natureza individual não consegue superar. É com as ideias
dos filósofos racionalistas do século XVI que vai se pautar a ‘’lei ditada pela
razão’’, neste período, o homem e sua racionalidade vai fundamentar o
Jusnaturalismo Moderno. A declaração de independência dos Estados
Unidos(1776), a revolução francesa e sua declaração dos direitos do homem e
do cidadão(1789) estão impregnadas de pensamentos Jusnaturalistas desta
época. 
É plausível afirmar que quando um filósofo vai atrás de direitos em
outro lugar que não seja a lei, ele está fazendo nada mais que condensando os
princípios morais e éticos e transformando-os em termos de princípios de
direito natural. Note-se, então, que o Jusnaturalismo defende a lei natural,
eterna e imutável, que se traduz na existência de um universo já legislado.
Jusnaturalismo é, portanto, a subordinação do direito positivo em relação ao
direito natural, traduzindo, é a exigência de que o direito criado pelo homem se
submeta a padrões morais superiores, os quais seriam eternos, porque são
decorrentes da natureza de alguma coisa. 
Questão 2 – Definir Contratualismo. 
R: Corrente filosófica que surgiu entre os séculos XVI e o XVIII que
tenta explicar e legitimar a existência do Estado, basicamente essa corrente vai
afirmar que a origem do estado ou sociedade está num contrato. Os homens
viveriam naturalmente sem poder e sem organização que somente surgiriam
depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras do convívio
social e de subordinação política, seus principais autores foram T. Hobbes, J.
Locke e J.J. Rousseau. 
Este pensamento não está fora de seu tempo histórico, surgido na
efervescência de novas descobertas científicas o Contratualismo vai ter
inspiração no modelo geométrico, abraçando poucos conceitos e postulados,
que são constituídos de naturezas simples, no caso, de corpúsculos, e também
com poucas propriedades, como massa e velocidade. Sempre com a visão
ancorada na ciência da época, que passa por um momento de descobertas de
novos mundos e leis científicas, vão pegar emprestado da física o conceito
onde todos os fenômenos físicos seriam resultados da interação e choque das
partículas e das leis governando seus comportamentos. A explicação dos
fenômenos por meio deste atomismo mecânico foi denominada ‘’explicação
mecânica’’. A metodologia contratualista recorreu, portanto, ao modelo
geométrico como forma de organizar o conhecimento, e ao modelo atomista
mecânico da natureza. 
De um só golpe, o contrato produz quatro resultados importantes.
Primeiro, o homem é autor de sua condição, de seu destino, e não Deus ou a
natureza. Segundo, o homem pode conhecer tanto a sua presente condição
miserável quanto os meios de conseguir a paz e a prosperidade. Terceiro,
provoca a quebra com os modelos clássicos e medievais de Jusnaturalismo,
colocando os Direitos Naturais na racionalidade do homem. Quarto, essa
corrente abre espaço para a democracia dos modernos, pois funda a existência
do Estado na vontade humana, ou melhor, concebe o Estado como criação da
vontade humana. A partir disso abre-se espaço para teorizar-se o sufrágio, o
mandato, etc..
Questão 3 – A partir da leitura do texto Leviatã, explique a concepção
de Hobbes de Natureza Humana e Estado de Natureza. 
R: Acredito que ficou muito claro nas duas primeiras respostas, o
contexto histórico em que Hobbes está escrevendo. Inserido num contexto
revolucionário da perspectiva científica, e tumultuosa da perspectiva política.
Na primeira, no campo das ciências físicas e matemática que abundará a
riqueza da idade moderna, figuras distintas como Kepler, Bruno, Bacon,
Galileu, Harvey e Descartes vão influenciar de forma intensa pensadores da
filosofia política da época. Já na segunda, no campo da política, as revoluções
religiosas do século XVI(Luteranismo na Alemanha, Calvinismo em Genebra e
o Anglicanismo na Inglaterra),a instabilidade política causada pelo
tempestuoso choque entre Rei e Parlamento na Inglaterra, vão condicionar o
pensamento do autor que está sendo analisado nesta questão, e ele está
ciente dessa influência quando diz ‘’Pois apertado entre aqueles que de um
lado se batem por uma excessiva liberdade, e do outro por uma excessiva
autoridade, é difícil passar sem ferimento por entre as lanças de ambos os
lados.” (HOBBES, Leviatã, dedicatória ao Sr. Francis Godolphin) 
Influenciado pelos postulados da geometria e das leis físicas, Hobbes
vai estudar o indivíduo do mesmo modo que galileu estuda o movimento de um
corpo, primeiro analisando as propriedades mais simples e depois vendo como
ela se comporta em relação com outros corpos. Hobbes vai olhar para o
indivíduo, analisá-lo isoladamente, enxergar suas faculdades e caraterísticas e
a partir dai vai tentar encontrar postulados da Natureza humana. O autor
identifica paixões no homem, que são idênticas em todos, e 
‘’Refiro-me à semelhança das paixões, que são as
mesmas em todos os homens, desejo, medo, esperança, etc..
e não à semelhança dos objetos das paixões, que são as
coisas desejadas, temidas, esperadas, etc.’’(HOBBES, Leviatã,
introdução.)
As paixões humanas, no sistema de Hobbes, estão para a política
assim como os postulados estão para a matemática. Do mesmo modo como na
equação matemática, o princípio lógico na equação Hobbesiana é: procure o
bem aparente e repulsa ao mal aparente. E esta lei é igual para todos, pois 
‘’A natureza fez os homens tão iguais, quanto às
faculdades do corpo e do espírito que, embora por vezes se
encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de
espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se
considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro
homem não é suficientemente considerável para que qualquer
um possa com base nela reclamar qualquer benefício a que
outro não possa também aspirar, tal como ele.’’ (HOBBES,
Leviatã, caps XIII). 
 
Aqui os homens são iguais no sentido de serem capazes de fazerem o
mal uns aos outros, disso decorre que o homem dotado de racionalidade que
para Hobbes capacita o homem a fazer cálculos para extrair todas as
consequências de uma determinada ação na busca de um fim, avalia as
consequências em termos de custos e benefícios e, então, escolhe aquela que
maximiza o benefício líquido. E para Hobbes, a natureza humana não muda
conforme o tempo, ou a história, ela é imutável. A partir disso, e o
reconhecimento das potencialidades em todos os homens, a insegurança é
instaurada e o medo passa a ficar em estado simbiótico com o homem.
Traduzindo: o homem é regido pela lei da autopreservação, de capacidade
mental, de reconhecimento dessa capacidade mental em outros indivíduos, e
com isso a possibilidade da morte violenta, portanto, o homem é naturalmente
inseguro, o homem é o lobo do homem. E ‘’contra esta desconfiança de uns
em relação aos outros, nenhuma maneira de se garantir é tão razoável como a
antecipação’’(HOBBES, Leviatã, caps XIII). 
Agora com o conhecimento da Natureza Humana e da lei de sua ação,
Hobbes constrói um modelo formado de indivíduos que se interagem em um
determinado espaço, de forma hipotética e lógica, o autor vai imaginar um
cenário onde os indivíduos interagem sem a presença do Estado, daí ‘’Estado
de Natureza’’. Nestas circunstâncias, Hobbes pressupõe que os homens são
iguais no sentido de que todos têm condições e capacidades de tirar a vida um
do outro e também são iguais na esperança de realizarem seus propósitos. Do
Estado de Natureza, novas propriedades do indivíduo são explicitadas sendo
estas decorrentes da interação com os outros indivíduos, ‘’ De modo que na
natureza do homem encontramos três causas principais de discórdia. Primeiro,
a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória.’’ (HOBBES,
Leviatã, caps XIII).
Aqui o homem de Aristóteles o ‘’Zoon Politikon’’ é contestado e ao invés
do raciocínio aristotélico de que o homem é naturalmente sociável, Hobbes vai
alegar ‘’Por outro lado, os homens não tiram prazer algum da companhia uns
dos outros(e sim, pelo contrário, um enorme desprazer).(HOBBES, Leviatã,
caps XIII.) Analisando as consequências desse cenário hipotético, pela lógica,
o Estado de Natureza é um estado de guerra de todos os homens contra todos
os homens. A guerra de todos contra todos não se trata do combate em si, e
sim a desconfiança inerente ao Estado de Natureza onde qualquer semelhante
é possivelmente um assassino que lhe infligirá uma morte violenta. Neste
cenário ‘’nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, de justiça e
injustiça, não podem aí ter lugar.’’ (HOBBES, Leviatã, caps XIII). 
Os homens vivendo apenas pela sua própria segurança e
autopreservação partindo da sua própria força, no Estado de Natureza
Hobbesiano, o autor vai dizer:
‘’Numa tal situação não há luga para a indústria, pois
seu fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra,
nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser
importadas pelo mal; não há construções confortáveis, nem
instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de
grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem
cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e
o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte
violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida,
embrutecida e curta.’’ (HOBBES, Leviatã, caps XIII) 
Visto tudo isto, podemos tirar pelo menos quatro elementos do Estado
de Natureza Hobbesiano que o faz se tornar um Estado de Guerra e com isso,
a decisão lógica e racional de fazer um contrato mútuo entre os indivíduos, um
contrato de abdicação de direito em troca de segurança e garantia da mesma.
São eles: primeiro, que os homens são totalmente livres, no sentido de deterem
o Direito de Natureza; segundo, que os homens são iguais na capacidade de
infringiram mal uns aos outros, e de ter a esperança de realizar seus
propósitos; terceiro que os homens são interessados em si mesmos e na sua
autopreservação pelo máximo de tempo que a natureza permite; quarto, que os
homens são racionais no sentido de calcularem suas ações para escolher
aquela que mais lhe trará benefícios e afastar as que lhe prejudicarão. 
Os homens precisam então construir uma solução para garantir seus
interesses, Hobbes vai falar então sobre o contrato. Isto seria relações
contratuais entre os homens que tem como fim realizar vantagens mútuas, ou
melhor dizendo ‘’A transferência mútua de direitos é aquilo a que se chama
contrato.’’(HOBBES, Leviatã, caps XIV). Porém, como os homens estão sobre
as leis das paixões, não há garantia de que esse contrato garanta o interesse
comum. 
‘’Mas se houver um poder comum situado acima dos
contratantes, com direito e força suficiente para impor seu
cumprimento, ele não é nulo. Pois aquele que cumpre primeiro
não tem nenhuma garantia de que o outro também cumprirá
depois, porque os vínculos das palavras são demasiados
fracos para refrear a ambição, a avareza, a cólera e outras
paixões dos homens, se não houver o medo de algum poder
coercitivo.’’ (HOBBES, Leviatã, caps XIV).
Como já foi bem explicado o contratualismo na questão dois, não irei
me alongar aqui. Em suma, toda a lógica Hobbesiana desemboca na
construção do Estado Civil e do Absolutismo. Hobbes justifica assim a
existência do estado ou da sociedade partindo de postulados que são para ele
verdades evidentes, e que vai encadear toda umalinha de raciocínio lógico,
qual seja: as paixões humanas. 
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Aline Muriene Eloy Schüür. Da relação entre o Direito e a moralnas Teorias positivistas e pós-
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