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Teoria Política Contemporânea - Livro-Texto Unidade I

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Autora: Profa. Daniela Emilena Santiago
Colaboradoras: Profa. Josefa Alexandrina da Silva
 Profa. Ivy Judeinsnainder
Teoria Política 
Contemporânea 
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Professora conteudista: Daniela Emilena Santiago
Assistente social graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Violência Doméstica 
contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Psicologia pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e mestranda em História pela mesma universidade. Atualmente é funcionária 
pública do município de Quatá/SP, atuando como assistente social junto à Secretaria Municipal de Promoção Social. 
Exerce também a função de docente e líder junto ao curso de Serviço Social da Universidade Paulista (Unip).
Partindo de sua vinculação à Unip, como docente atuante no curso de Serviço Social, emergiu a oportunidade de 
seu atrelamento também ao curso de graduação em Serviço Social na modalidade SEI, prestada pela Unip Interativa, 
o que lhe proporcionou a oportunidade de ministrar aulas de diversas disciplinas nessa modalidade de ensino. Além 
dessa inserção, ministrou, na modalidade SEPI, aulas da disciplina Política Social de Saúde no curso de pós‑graduação 
de Gestão em Políticas Sociais, oferecido pela Unip.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S235t Santiago, Daniela Emilena
Teoria Política Contemporânea. / Daniela Emilena Santiago. – 
São Paulo: Editora Sol, 2016.
120 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑125/16, ISSN 1517‑9230.
1. Teoria política. 2.Biopolítica. 3. Neoliberalismo. I. Título.
CDU 32
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Elaine Pires
 Juliana Mendes
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Sumário
Teoria Política Contemporânea
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 BIOPOLÍTICA E BIOPODER: A PERSPECTIVA DE MICHEL FOUCAULT ..............................................9
1.1 O conceito de poder ...............................................................................................................................9
1.2 Biopolítica e Biopoder ....................................................................................................................... 16
2 “ESTADO DE EXCEÇÃO COMO REGRA”: O IMPASSE POLÍTICO CONTEMPORÂNEO NO 
PENSAMENTO DE GIORGIO AGAMBEN ...................................................................................................... 22
2.1 O Estado de Exceção no cenário internacional e no Brasil ................................................. 31
2.1.1 O Estado de Exceção no cenário internacional .......................................................................... 31
2.1.2 O Brasil e o Estado de Exceção .......................................................................................................... 35
2.1.3 Estado de Exceção e contemporaneidade no Brasil ................................................................. 45
3 MULTIDÃO E DEMOCRACIA: A PERSPECTIVA DE MICHAEL HARDT E ANTONIO NEGRI ...... 47
3.1 Spinoza e o conceito de Multidão: algumas aproximações ............................................... 48
3.2 Multidão e Democracia: as contribuições de Hardt e Negri ............................................... 49
3.2.1 Multidão no pensamento de Hardt e Negri ................................................................................. 49
3.2.2 Democracia conforme Hardt e Negri .............................................................................................. 54
4 EM BUSCA DA POLÍTICA: O DIAGNÓSTICO DE ZYGMUNT BAUMAN ......................................... 63
Unidade II
5 A PERSPECTIVA DE BOAVENTURA SANTOS SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL 
E O CONTEXTO HISTÓRICO DO BRASIL ....................................................................................................... 75
5.1 A democracia e a participação popular de Boaventura Santos ........................................ 75
5.2 O Brasil e a Democracia ..................................................................................................................... 82
6 O PODER DAS REDES: A FORTUNA CRÍTICA DE MANUEL CASTELLS .......................................... 83
7 CAPITALISMO GLOBAL E TECNOLÓGICO ................................................................................................ 88
8 NEOLIBERALISMO............................................................................................................................................ 89
8.1 O Liberalismo, o papel do Estado e o Welfare State .............................................................. 90
8.2 O Neoliberalismo no cenário internacional ............................................................................... 95
8.2.1 Brasil e Neoliberalismo .......................................................................................................................101
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APRESENTAÇÃO
Nesta disciplina, buscaremos discutir as mais variadas conceituações sobre o Estado que têm sido 
atribuídas pelos teóricos contemporâneos, considerando para tanto o contributo de autores vinculados 
à perspectiva crítica marxista. Por assim dizer, na disciplina em pauta, estudaremos ainda aspectos 
relacionados ao desenvolvimento capitalista, tendo em vista a correspondência que há entre o formato 
de produção de uma sociedade e a definição do Estado.
Por conseguinte, esta disciplina é fundamental para de instrumentalizá‑lo na construção crítica 
do conceito de Estado, assim como no entendimento da influência que os meios de produção exercem 
na determinação deste e dos fenômenos correlatos a esse processo. Assim, o alcance desse estudo 
buscará oferecer a você parâmetros para analisar criticamente a realidade em que estamos inseridos na 
perspectiva da totalidade, compreendendo como uma série de eventos políticos, econômicos e sociais 
estão imbrincados e conformandoa vida em sociedade.
Por oportuno, nesta disciplina ofereceremos a você conceitos extremamente valiosos para a sua 
formação como sociólogo, e tais conceitos irão instrumentalizá‑lo para a atuação em qualquer área 
em que seja inserido futuramente, na docência, na pesquisa, no gerenciamento de políticas sociais, ou 
quaisquer outras áreas de atuação.
INTRODUÇÃO
Vamos adentrar os conteúdos de nossa disciplina. 
Abordaremos as diversas formas de conceituar o Estado, segundo as perspectivas de Michel 
Foucault e Giorgio Agamben. Com tais teóricos pretendemos apresentar a você os conceitos de 
poder e Estado de Exceção, demonstrando assim compreensões distintas e complementares sobre a 
constituição do Estado.
Na sequência apresentaremos um conceito diferenciado sobre a forma do poder ser exercido por 
meio do conceito de Multidão abordado por Hardt e Negri. Com esses autores também discutiremos a 
questão da Democracia e do direcionamento dessa forma de governo a escalas gerais, ou seja, formas 
diferenciadas de poder a serem instituídas em todo o globo, na sociedade geral. 
Encerrando, abordaremos a perspectiva de Bauman sobre a política, não sendo, nesse caso, 
realizada uma conceituação sobre o Estado, mas sim sobre a atual configuração política que 
observamos na sociedade contemporânea e para a qual concorre o desenvolvimento econômico 
vigente na era dos monopólios. 
Dando seguimento aos nossos estudos, abordaremos as perspectivas de Boaventura Santos e Manuel 
Castells. Ao passo que Boaventura Santos discute a relevância da participação popular na sociedade 
atual, indicando a relevância dos espaços de participação popular para além do voto, Castells discute a 
relevância e a potencialidade das redes. 
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Concluindo os nossos estudos, abordaremos ainda questões que nos permitirão conhecer o 
desenvolvimento capitalista contemporâneo, que, como sabemos, é assentado no desenvolvimento 
tecnológico. Derivando de tais colocações, abordaremos aspectos afetos ao desenvolvimento do 
Neoliberalismo no Mundo e também em nosso país.
Vamos dar início aos nossos estudos, afinal, os conteúdos aqui abordados são fundamentais para sua 
formação acadêmica e para sustentar seu exercício profissional futuro.
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TEORIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA
Unidade I
1 BIOPOLÍTICA E BIOPODER: A PERSPECTIVA DE MICHEL FOUCAULT
Prezado aluno, convidamos você para dar início a nossos estudos com base nas valiosas contribuições 
de Michel Foucault. Recorrendo a esse teórico, abordaremos o conceito de poder para, na sequência, 
também compreendermos as formulações foucaultianas de Biopolítica e Biopoder. 
Antes de adentrarmos a discussão teórica posta, gostaríamos de apresentar a você Michel Foucault. 
Bem, Foucault foi um filósofo, historiador e crítico literário francês que dedicou grande parte dos seus 
estudos a discutir a questão do poder. Nesse sentido, Foucault empreende uma análise sobre a relação 
existente entre poder e saber. Em sua análise discute a importância do poder do Estado, mas orienta 
também seus estudos para entender outras formas de expressão do poder, em várias instituições e nas 
relações cotidianas. 
As primeiras produções foucaultianas foram ancoradas na arqueologia – tendo em vista a grande 
recorrência do autor a dados e informações históricas – e colhidas de diversas fontes. Como exemplo 
dessa colocação podemos citar o livro História da Loucura, escrito pelo autor em 1961, no qual temos 
uma descrição pormenorizada sobre o desenvolvimento da loucura no mundo. Nessa obra, Foucault 
indica as diversas formas de entendimento do louco que surgiram na sociedade e destaca ainda as ações 
que eram desenvolvidas nos mais diversos momentos históricos junto a esse segmento. 
Assim, podemos indicar que Foucault vivenciou, em sua produção acadêmica, uma fase inicial em 
que os seus estudos estavam assentados em dados arqueológicos. Nesse estágio, o autor construiu 
sua produção com recorrência a dados históricos acerca de tais fenômenos. Após essa fase, a obra 
de Foucault foi orientada para a produção de estudos sobre a evolução do poder nas sociedades e 
suas especificidades. Assim, os estudos genealógicos são construídos embasados nos eventos históricos, 
porém, considerando a sua evolução na sociedade nos mais variados momentos e incluindo em sua 
análise o estudo da realidade contemporânea.
Na sequência, passaremos a discutir o conceito de poder contido na obra de Foucault. 
1.1 O conceito de poder
A análise de Foucault sobre o poder está posta em grande parte de seus trabalhos. No entanto, 
em Microfísica do Poder, lançado em 1979, temos quase um tratado sobre o poder e suas diversas 
formas de expressão. É importante que se destaque que essa obra de referência é composta por textos 
de entrevistas e conferências de que Foucault participou, assim como por textos que o autor mesmo 
escreveu. A análise de toda a obra do autor nos dá, no entanto, uma ampla visão de sua construção 
teórico‑conceitual.
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Unidade I
Bem, Foucault nos coloca que as análises até então empreendidas em relação à questão do poder, 
sobretudo os estudos mais críticos, acabam constituindo, enquanto objeto de estudo, as formas de 
expressão do poder por meio dos Estados que têm sido constituídos. Na verdade, o autor entende 
que o Estado é uma forma de poder, porém, não a única. Assim, o que Foucault pretende é discutir as 
expressões de poder que estão presentes em outros momentos do viver do ser humano para além de 
sua expressão no Estado.
Para isso, o autor observou como as relações de poder estão presentes no tratamento 
conferido à loucura e ao doente mental, o que teria resultado em obras como História da Loucura 
(1961) e Nascimento da Clínica (1963), que olham para o fenômeno do atendimento ao louco 
considerando para tanto as relações de poder que são firmadas nesses espaços. Melhor dizendo, 
Foucault olha para como o poder é exercido nas relações cotidianas estabelecidas pelo homem 
e, no caso específico, examina como essas relações se expressam nas instituições constituídas no 
espaço de atendimento psiquiátrico. 
Nesse sentido, as obras nos apresentam a intervenção psiquiátrica ao longo dos anos e as práticas 
desenvolvidas e voltadas à normalização mental dos indivíduos, mas, além disso, nos chamam atenção 
para a “mecânica do poder” e para a “concretude do poder” (FOUCAULT, 1979, p. 7), ou seja, indicam 
os dispositivos que efetivam o poder em tais instituições e chamam atenção para o poder como algo 
concreto, para além da teoria, como algo real presente na vivência do homem.
Além disso, o autor realizou a análise das prisões, sobretudo por meio da obra Manicômios, 
Prisões e Conventos, publicada em 1961, em que destaca quão repressoras são as prisões. Para tanto, 
conforme Foucault (1979), na prisão a expressão do poder é considerada como algo inerente àquela 
instituição, e a repressão utilizada nesses espaços como expressão de poder se manifesta sem que 
para isso precise se justificar. Na prisão, o poder se apresenta como tirania, mas, mesmo assim, não 
é percebido dessa forma, posto que é compreendido como uma suposta vitória do bem sobre o mal. 
Equivale a entender que todas as pessoas que ali estão merecem esse tratamento. Melhor dizendo: 
“A prisão é o único lugar onde o poder pode se manifestar em estado puro em suas dimensões mais 
excessivas e se justificar como poder moral. Tenho razão em punir pois vocês sabem que é desonesto 
roubar, matar [...]”(FOUCAULT, 1979, p. 43).
Por conseguinte, Foucault aproxima seu estudo à realidade, ou seja, sua análise aborda questões 
que estão presentes no dia a dia da sociedade. Aliás, o autor chega até a criticar as teorias que 
discutem conceitos muito distantes da realidade concreta. No sentido posto, Foucault tece uma série 
de colocações ao marxismo indicando que tal corrente teria sido um dos principais responsáveis por 
estudar a questão do poder, porém, as teorias marxistas são suficientes apenas para explicar conceitos 
distantes da realidade cotidiana das pessoas. 
Na verdade, o autor faz uma crítica contundente à produção acadêmica, que sempre buscou 
estudar aspectos gerais da realidade ao passo que indica como relevante a mudança na produção de 
conhecimento observada a partir da Segunda Guerra Mundial, em que os produtores do conhecimento 
passaram a olhar mais para setores determinados e específicos da vida do homem. Esse perfil de 
pesquisador Foucault denomina “intelectual específico” (FOUCAULT, 1979, p. 9), visto que se ocupa 
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da produção de conhecimento junto a questões específicas do fazer humano. Assim, tais pesquisas 
nos indicariam a conhecer mais sobre o poder e sobre como o poder está presente e se expressa nas 
relações diárias. 
 Observação
O texto IV, “Os intelectuais e o poder” (FOUCAULT, 1979), traz a descrição 
da entrevista entre Foucault e Gilles Deleuze. Deleuze foi um filósofo francês 
que estabeleceu um forte vínculo de amizade com Foucault. 
Na perspectiva foucaultiana, caberia a esse intelectual desvelar os entendimentos sobre o 
poder presentes na realidade e instrumentalizar as massas, transmitindo a elas informações 
sobre o poder. Assim, para o autor, o intelectual tem um papel de destaque por desmistificar a 
realidade que está envolta nas expressões de poder. 
O papel do intelectual não é mais o de se colocar “um pouco na frente 
ou um pouco de lado” para dizer a muda verdade de todos; é antes o de 
lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o 
objeto e o instrumento: na ordem do saber, da “verdade”, da “consciência”, 
do discurso (FOUCAULT, 1979, p. 42).
De tal maneira, Foucault ressalva que o intelectual tem um papel de destaque na luta contra o 
poder imposto. Para ele, a produção teórica é uma forma de oferecer às massas o embasamento de que 
necessitam. Portanto, compreende a teoria como uma forma de luta, uma maneira de construir um 
discurso contra o poder instituído. Nesse sentido, o autor exemplifica com o estudo realizado junto aos 
presídios, indicando que só poderemos compreender o poder amplamente se analisarmos o discurso do 
preso sobre as formas de expressão do poder em sua realidade cotidiana. 
O intelectual possuiria assim as condições necessárias para construir um contradiscurso. Esse 
contradiscurso é entendido por Foucault como uma possibilidade de mudar aquilo que é instituído 
como verdade e que por conseguinte determina também o que é compreendido como poder. 
No que diz respeito ao poder, conforme diz Foucault, após suas pesquisas, podemos inferir que 
o poder está diretamente relacionado ao conceito de verdade. Para ele, a verdade é relacionada aos 
conceitos que possuímos sobre os fenômenos com os quais nos deparamos. Assim, a verdade também é 
uma produção do poder, e, muitas vezes, provém de coerções. Melhor dizendo, o que é verdade em uma 
sociedade busca explicar a realidade, mas essa explicação expressa também o poder, visto que, muitas 
vezes, o que entendemos como poder provém de uma interpretação que foi em nós criada. 
Aquilo que uma sociedade produz como verdade, por outro lado, também produz resultados na 
construção do que é definido como poder. Por conseguinte, verdade e poder são conceitos que estão 
totalmente relacionados e interdependentes. Tanto a verdade influencia o poder como o poder é 
construído pela verdade. 
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Foucault ainda nos coloca que cada sociedade tem uma verdade que é construída socialmente. Cada 
sociedade tem determinados discursos que aceita e outros que refuta. 
Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: 
isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; 
os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados 
verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas 
e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; 
o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como 
verdadeiro (FOUCAULT, 1979, p. 10).
Por conseguinte, não há verdades absolutas, mas o que é verdade vai depender de cada sociedade, e 
também o que é poder, e como deve ser distribuído.
Assim, podemos inferir que para Foucault poder é verdade e, como tal, é construído em cada 
sociedade. Podemos também concluir que o intelectual tem um papel relevante em tornar conhecidas 
as expressões de poder, sobretudo às massas. Mas a noção de poder não se esgota no que apontamos 
supra. Aliás, para que possamos entender amplamente o conceito de poder de Foucault precisamos 
avançar em nossos estudos. 
Foucault (1979, p. 43), em sua discussão sobre o poder, coloca‑nos que este é exercido por meio do 
que denominou “pueridade” dos exercícios do poder. Conforme o autor nos diz, muitas vezes o poder 
se exerce por técnicas que são usadas para “educar” crianças, por exemplo, quando na prisão os presos 
permanecem apenas a pão e água. É uma técnica pueril, infantil, buscando obter sujeição por meio de 
um castigo. 
Assim, Foucault nos coloca que não sabemos ainda o que é poder, e esse conceito está em constante 
construção. O autor nos diz que o poder é algo que pode ser visível ou invisível, expressando‑se de forma 
subliminar. Coloca que o poder está investido e presente em toda parte, mesmo que nem sempre isso 
seja perceptível. Assim, o poder não está presente apenas no Estado, mas em todos os momentos da 
vida do ser humano. Aliás, podemos dizer que o grande diferencial da obra de Foucault reside no fato 
de chamar atenção para as outras formas de expressão do poder às quais o homem está exposto. “Mas 
quando penso na mecânica do poder, penso em sua forma capilar de existir, no ponto em que o poder 
encontra o nível dos indivíduos, atinge seus corpos, vem se inserir em seus gestos, suas atitudes, seus 
discursos, sua aprendizagem, sua vida quotidiana” (FOUCAULT, 1979, p. 74).
Portanto, o autor nos coloca que quando há uma luta pelo poder, há uma luta sob um foco particular 
de poder. Quando há, no entanto, uma denúncia sobre um foco particular de expressão do poder, 
podemos então ter uma luta. Sempre que há denúncia, há luta. A luta não precisa acontecer com os 
envolvidos presentes na mesma área geográfica, mas sim que tenham vinculação com a denúncia. Vamos 
pensar em um exemplo? O caso de mulheres que lutam contra a opressão masculina, elas não estariam 
denunciando um foco particular do poder? Sim, estariam, o poder exercido por homens. Precisariam as 
mulheres residirem no mesmo espaço, no mesmo território? Não, isso não seria necessário.
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Outro aspecto extremamente importante destacado por Foucault em relação ao poder é a questão 
da disciplina, termo usado pelo autor no sentido de que o poder é alcançado por meio dela, do controle 
dos corpos. O autor nos coloca que a imposição de uma disciplina para o domínio do homem é uma 
técnica de exercício dopoder que é utilizada há um longo tempo, sobretudo nos primeiros exércitos e nas 
escolas. Inicialmente, segundo o autor, nos exércitos e também nas escolas não havia uma organização, 
e mesmo no exército os soldados eram amontoados nos espaços. No século XVII, foi inserida uma forte 
disciplina nesses espaços, visando assim orientá‑los.
Com o tempo, sobretudo no começo do século XVIII, a disciplina nas escolas, no exército e em vários 
outros espaços passou a ser utilizada, conforme Foucault, para alcançar uma ação. A disciplina imposta 
sobre um corpo faz que ele adote a ação desejada. Por conseguinte, a disciplina é uma forma de exercer 
o poder. Além disso, a disciplina é também uma técnica de poder que possibilita a vigilância perpétua. 
O autor ainda nos coloca que a disciplina, para fazer valer o poder, demanda um registro contínuo. 
Dessa forma a vigilância é possível. Nesse registro, nenhum detalhe escapa. Toda essa ação tem como 
alvo e resultado os indivíduos. Apenas para provocar maiores reflexões sobre a questão da disciplina, 
considerando a realidade contemporânea, observe o texto a seguir.
Especialistas em educação analisam diferentes formas de criar os filhos
Chegamos ao tempo em que resgatar antigos costumes é uma boa alternativa para 
solucionar velhos problemas. Uma das tarefas mais difíceis, e que exige tempo e dedicação, 
é educar os filhos. A escolha entre uma educação rígida, com normas e limites, como os 
antigos defendiam, se confronta com uma maneira altruísta, em que as crianças ficam no 
poder e garantem mimos e vontades. Mas, afinal, qual é o melhor caminho? De que forma 
o comportamento dos adultos influencia a educação infantil?
Os filhos geralmente se espelham no comportamento dos pais, mas é uma ideia 
equivocada achar que todos os problemas e, principalmente, o que as crianças fazem de 
errado seja culpa da mãe e do pai. E talvez isso passe despercebido, em meio a uma vida 
tão agitada e cheia de afazeres. Também é difícil entender que as necessidades das crianças, 
atualmente, são diferentes daquelas que todos vivemos anteriormente. Isolar os conflitos 
e vivências da infância de cada pessoa é algo desafiador. Tampouco as crianças filhas dos 
mesmos pais são iguais, ainda que carreguem carga genética similar; muitas vezes elas 
precisam ter tratamentos diferenciados.
Em meio a tantos questionamentos, como educar as crianças, com rigidez ou flexibilidade? 
Atualmente, um dos grandes dilemas das famílias é a falta de limite. Conseguir dizer não para 
uma criança que vive um cotidiano carregado de estímulos está mais trabalhoso. É melhor 
ceder a todas as vontades das crianças para agradá‑las ou saber dizer não na hora certa?
Como ser forte e transmitir aos filhos o que é aceitável, adequado e essencial? Muitos 
pais cedem por comodismo, porque superficialmente parece mais fácil dizer sim às crianças, 
sem pensar que isso pode acarretar danos futuros. A frustração dos filhos traz sofrimento 
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Unidade I
aos pais, que distorcem a realidade, sem deixar que as crianças façam suas escolhas e 
aprendam suas consequências de forma sadia.
Interagir com a vida ao redor é fundamental para a criança. Dalila Amorim Simas, 
60, coordenadora do Centro de Educação Infantil Criarte, defende o uso da metodologia 
sociointeracionista, que busca a interação do sujeito com o meio social no qual ele está 
inserido, contribuindo para a construção do seu conhecimento. Segundo Dalila, com essa 
construção, o aluno é capaz de interagir com o grupo através da mediação do professor, 
enriquecendo e ampliando sua aprendizagem, formulando ideais e hipóteses particulares 
que resultam em um trabalho de criação e significado.
Sobre birras e desrespeito, Dalila diz que a conversa e a reavaliação sobre o que foi 
combinado com a própria criança entram em ação. A professora fala em voz baixa e fica na 
mesma altura da criança, demonstrando a ela segurança e repetindo o que ficou combinado 
para a execução e a continuação da proposta de trabalho. 
— Quando precisamos conversar com os pais, a respeito de qualquer assunto e sobre 
seus filhos, realizamos uma conversa informal, assinalamos os pontos positivos e os que 
necessitam de reforços, respeitando cada caso e cada criança ‑ explica Dalila.
A tecnologia trouxe momentos cômodos para os pais, porém, traz consequências para as crianças, 
já que deixam de interagir totalmente com o meio social. Como as crianças podem entender que 
é permitido usar a tecnologia em casa, para se distrair, e serem reprimidas na sociedade? Simone 
Almeida, 42, sócia e administradora do Criarte, fala sobre esse problema atual.
— Alguns pais que em casa são permissivos demais com os seus filhos para não serem 
incomodados, podem fazer as suas tarefas e assistir a seus programas sossegados, liberam 
televisão, eletrônicos como iPad, aplicativos como Netflix, jogos de video game como Nintendo, 
jogos no celular. Tudo sem qualquer limite para crianças de 3, 4, 5 anos. E, quando estão na 
escola, entre amigos ou família, os pais ficam envergonhados em virtude das atitudes e da falta 
de limite, que deveria começar em casa. Algumas vezes os pais cobram que a escola ensine coisas 
básicas, mas essas coisas só vão funcionar se houver exemplo em casa ‑ conclui. [...]
Fonte: Goulart (2016).
Exemplo de aplicação
Analisando a matéria inserida, reflita sobre os seguintes quesitos:
a) A disciplina para crianças pequenas, como a que fora representada no texto, é positiva ou negativa? 
Quais seriam os aspectos que justificariam ou então refutariam a recorrência a práticas assentadas na 
disciplina de crianças?
 b) As relações familiares estabelecidas entre pais e filhos também constituem expressões de poder? 
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Na verdade, isso nos leva a outros conceitos que estão vinculados à questão do poder, sendo estes 
o de punição e de vigilância. Retomaremos o conceito de disciplina no item subsequente. Foucault 
nos coloca que até meados do século XIX vigiar era considerado melhor do que punir. A partir desse 
período surgiu uma nova expressão do poder, para além de vigiar, em que a punição assumiu um papel 
de destaque. A punição também funciona como um exemplo para que outras pessoas não cometam o 
mesmo erro.
A punição incide sobre o corpo. No corpo é que temos a grande expressão do poder. O poder, quando 
exerce influência coletiva, gera o corpo social. O corpo social pode ser equiparado à consciência social. 
Essa constituição do corpo social e, em tese, da aceitação do poder acontecem por meio da formação 
de uma subjetividade. Ou seja, não podemos acreditar que o poder seja exercido somente por meio da 
repressão; antes, temos de compreendê‑lo como decorrente de uma manipulação da subjetividade, o 
que torna, muitas vezes, difícil sua percepção. Assim, se a subjetividade do ser humano é condicionada 
ao fato de que este tem de obedecer a determinadas regras e normas, é muito difícil que a pessoa que 
foi assim condicionada percer isto. 
Pois se o poder só tivesse a função de reprimir, se agisse apenas por meio 
da censura, da exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de 
um grande superego, se apenas se exercesse de um modo negativo, ele 
seria muito frágil. Se ele é forte, é porque produz efeitos positivos a nível 
do desejo − como se começa a conhecer − e também a nível do saber. O 
poder, longe de impedir o saber, o produz. Se foi possível constituir um saber 
sobre o corpo, foi através de um conjunto de disciplinas militares e escolares 
(FOUCAULT, 1979, p. 84).
Isso porque não podemos associar o poder “apenas” aatos agressivos, mas devemos compreendê‑lo 
também como algo que acontece, muitas vezes, sem que as pessoas percebam. Em grande parte das 
vezes o poder é manifesto por meio do discurso. Discurso que está expresso em grande parte das relações 
sociais que o ser humano estabelece. Tais relações, conforme Foucault, também são, por conseguinte, 
relações de poder. 
[...] em uma sociedade como a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade, 
existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e 
constituem o corpo social e estas relações de poder não podem se dissociar, 
se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma 
circulação e um funcionamento do discurso (FOUCAULT, 1979, p.101).
Assim, essas relações não estão expressas apenas no aparato estatal, ou no meio jurídico, mas 
presentes nas relações de trabalho, nas relações familiares, nas relações escolares, entre outras afins, 
reforçando assim a perspectiva do autor, segundo a qual o poder está expresso em todas as relações.
Sintetizando, podemos concluir que para Foucault poder tem relação direta com a verdade; cada 
sociedade constrói sua verdade e isso influencia em seu entendimento e em sua organização sobre 
o poder. Há técnicas pueris para o exercício do poder, e este pode ser percebido pelo ser humano ou 
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pode estar oculto. Vimos ainda que o poder não recorre apenas a atos agressivos, mas também molda a 
subjetividade das pessoas. Vimos, por fim, que a disciplina, a punição e o ato de vigiar também integram 
o conceito de poder.
Na sequência, abordaremos outros conceitos de Foucault: Biopolítica e Biopoder.
1.2 Biopolítica e Biopoder 
Bem, adentrando os conceitos de Biopolítica e Biopoder, é preciso que se diga que eles não estão 
contidos em uma única obra de Foucault, mas sim diluídos em vários trabalhos do autor. Danner (2010) 
nos diz que a primeira vez que Foucault teria feito uso do termo “Biopolítica” teria sido em 1979 em 
uma palestra no Rio de Janeiro, intitulada O Nascimento da Medicina Social. No entanto, os conceitos 
análogos a Biopolítica e Biopoder já teriam sido abordados pelo autor em Vigiar e Punir (1975). Tais 
conceitos foram retomados na obra de Foucault nos cursos que ministrou no Collège de France, em 
1970, os quais resultaram na obra Nascimento da Biopolítica, de 1978‑1979. Este último livro seria o 
mais orientado à discussão dos conceitos de Biopolítica e Biopoder.
Para o entendimento de tais conceitos é basal a compreensão do que Foucault entendeu por 
disciplina, e foi em Vigiar e Punir que o autor fez as maiores considerações sobre o assunto. Abordamos 
a questão da disciplina quando discutimos sobre o poder, e agora retomaremos para melhor estruturar 
nosso conhecimento sobre o tema. 
Foucault (1975) nos coloca que a disciplina integra o desenvolvimento do ser humano; para tanto, 
somente a partir do século XVII ela passou a ser utilizada como uma técnica de poder orientada a alcançar 
o controle dos corpos. Esse controle visaria alcançar resultados no âmbito macropolítico, que seria 
fundamental na consolidação do Estado Liberal. Assim, cabe ressaltar que o Estado Liberal se caracteriza 
pela ausência de intervenção nas questões sociais. Trata‑se das protoformas do Estado Mínimo.
 Lembrete
Conforme salientamos, Foucault analisa as múltiplas formas de expressão 
do poder, compreendendo que o Estado é um dispositivo de poder, porém 
não o único.
Foucault nos coloca que por volta dos séculos XVII e XVIII as monarquias soberanas até então 
hegemônicas foram sendo substituídas por outros formatos de Estado, os quais deixaram de recorrer 
ao poder do soberano e passaram a estar assentados na utilização das disciplinas. Por conseguinte, o 
poder, que antes era concentrado na figura do rei, agora passa a ser diluído nas instituições por meio 
das disciplinas, mesmo que em grande parte das vezes esse poder não seja percebido.
Mas em que medida a disciplina é importante para o Estado? Podemos nos perguntar. Foucault 
poderia então nos responder que a disciplina é importante porque auxilia no estímulo da criação do 
corpo dócil, controlado e servil ao Estado. Além disso, o autor nos diz que a disciplina torna o exercício 
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do poder menos custoso, ou seja, menos cansativo. Dessa forma, os efeitos e resultados do poder são 
intensificados, potencializados. Dada a sua natureza, a disciplina, nesse contexto específico, aumenta a 
docilidade dos corpos. 
O autor nos diz ainda que a disciplina é exercida por meio de três dispositivos nomeados por ele como 
olhar hierárquico, sanção normalizadora e exame. O olhar hierárquico relaciona‑se à vigilância exercida 
sobre os corpos; a sanção normalizadora faz menção aos mecanismos penais que são constituídos 
visando à punição daqueles que não se encaixam no que é disciplinado; e o exame consiste na análise 
do sujeito após o processo de disciplinamento. 
Essas disciplinas, no dizer de Foucault, foram potencializadas no século XVII porque foi nesse 
momento que tivemos o surgimento e a grande expansão de instituições como o exército, a escola, 
o hospital e a fábrica. Isso porque nesse momento a disciplina poderia ser utilizada em um espaço, 
com uma finalidade a alcançar. Os resultados das técnicas disciplinares passam a ser mensurados, 
checados, acompanhados e orientados. Dessa maneira, forma‑se o corpo dócil, que é funcional ao 
Estado Liberal, mas que também é funcional às necessidades das instituições aqui citadas. Agora, 
no Estado Liberal, o ser humano passa a ser necessário à acumulação capitalista. Por isso ele precisa 
ser disciplinado, controlado, moldado. 
Foucault entende que a disciplina torna‑se assim um dispositivo para se exercer o poder, mas 
também para atender as necessidades geradas pelo desenvolvimento econômico, ou, melhor dizendo, 
a disciplina:
[...] dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma 
“capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por um lado a energia, 
a potência que poderia resultar disso, e faz dele uma relação de sujeição 
estrita. Se a exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, 
digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre 
uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada (op. cit., p. 119).
A aceitação da disciplina pelo sujeito é considerada como uma qualidade, para que você seja aceito 
socialmente precisa aceitar a disciplina que lhe é imposta, e aquilo que lhe foi “ensinado” deve ser 
aprendido e resultar em uma aptidão. O indivíduo disciplinado deve aprender como agir e também como 
se comportar. 
Foucault entende que a disciplina do século XVII contou com um importante dispositivo para ser 
constituída, o que o autor designou pelo termo panóptico. O panóptico designaria uma máquina de 
vigilância que permite a alguns indivíduos conseguir vigiar outros. Em tese, a disciplina torna‑se efetiva 
à medida que os seres humanos são vigiados.
Para o autor há três elementos fundamentais para que a vigia dos corpos aconteça: um espaço 
circular e fechado em que os indivíduos estejam alocados; espaço para a segregação dos indivíduos 
em pequenos espaços ou celas; torre central que permita a visualização de todos os espaços. Com tais 
características, o autor nos cita as prisões. Nesses espaços, apesar de haver várias pessoas convivendo, 
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sua segregação na maior parte do tempo estimula o fim da noção de coletividade,prevalecendo assim 
o aspecto individualista na determinação da personalidade. De forma que o homem fabricado entre os 
séculos XVII e XVIII por meio da disciplina, que não estava presente apenas nas prisões, mas também, 
como dissemos, nas escolas e nas fábricas, era, conforme Foucault, o tipo de ser humano necessário 
para a economia capitalista. Aqui, vemos um grande salto nas colocações do autor, ao passo que 
estabeleceu uma analogia entre as disciplinas utilizadas no período em questão e a necessidade 
capitalista. Mas, vejamos, essa relação existe? Como entender essa colocação de Michel Foucault? 
Sim, existe. Diante do desenvolvimento capitalista, eram necessários homens que fossem letrados, 
que pudessem administrar a nova ordem social constituída e que produzissem. Por esse motivo a 
escola foi tão importante. Essa disciplina também era necessária nas indústrias. Assim, o homem da 
Idade Feudal, com os conhecimentos que possuía, com os comportamentos que adotava, não era 
funcional para o capitalismo. Por isso, foi necessário fundar‑se o novo homem, e nesse processo a 
disciplina foi fundamental. 
Isso corresponde ao surgimento de um novo formato de Estado, que passa, por meio do poder, 
a controlar os processos biológicos. Foucault nos coloca que essa maneira de gestão teria se 
consolidado a partir do século XVIII, em que vemos o surgimento da chamada Biopolítica. De certa 
maneira, a Biopolítica é entendida por Foucault como a ampliação da capacidade do Estado de 
controlar a vida humana. 
Atrelada a essa noção o autor nos coloca que surge o corpo múltiplo, representado por todos os 
corpos que passam a ser controlados pelo Estado. O autor recorre ainda ao termo corpo dócil, pelo qual 
busca designar o controle do indivíduo. 
 Observação
O corpo múltiplo representa os corpos coletivos controlados pelo Estado.
Para entender o que é Biopolítica são necessárias outras colocações. Vamos a elas?
Foucault nos coloca que o conceito de Biopolítica nos remete ao entendimento dos processos 
biológicos relacionados ao homem, à vida humana. Assim, a partir do século XVIII, observamos que a 
vida humana passa a ser regulamentada pelo Estado. 
Para esse controle passa a ser necessária a realização de uma análise de dados populacionais, motivo 
pelo qual o autor nos indica que tivemos o surgimento da Estatística e da Demografia com tal finalidade. 
Também tivemos no mesmo momento histórico o desenvolvimento da Medicina Sanitária, esta por 
sua vez destinada a conferir parâmetros para a vida sadia da população, mas também utilizada como 
uma forma de controle sobre os corpos, introduzindo hábitos considerados como bons e necessários à 
preservação da vida. 
O Estado foi a partir de então incumbido de promover a vida por meio da instauração de normas 
e regras que devem ser observadas por toda população. Essas normas são instituídas por meio de 
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mecanismos reguladores que possuem aplicabilidade contínua e que têm, além da funcionalidade de 
regular a vida em sociedade, a função de delimitar punições e formas de correção para aqueles que 
porventura não correspondam à norma. Tal raciocínio pode parecer algo distante de nossa realidade 
atualmente, mas pensando, por exemplo, no caso do nosso país, em que o Estado define a proibição 
do aborto, não seria uma regulação do Estado sobre a vida? Tal regulação, atualmente, como sabemos, 
proíbe o aborto e dá ao Estado o direito de punir quem o cometer. Por conseguinte, vemos quão 
contemporânea é a obra de Foucault, ao passo que, mesmo sendo escrita em meados da década de 
1970, ainda se mostra extremamente contemporânea e trata de questões que ainda estão presentes 
em nossa realidade.
A Biopolítica, por conseguinte, só é possível quando os fenômenos gerados pelos vivos, pela vida 
cotidiana do homem, passam a integrar a prática do Governo. Assim, Foucault nos coloca que mesmo 
durante a vigência da doutrina neoliberal, sobretudo no segundo Pós‑guerra, temos a instituição, pelo 
Estado, de uma série de formas de controle da vida humana. O Neoliberalismo surgiu em meados dos 
anos 1940; foi uma corrente teórica que ofereceu novos parâmetros para a forma de gestão estatal 
e pressupõe a ausência de intervenção do Estado junto aos problemas sociais, assim como disciplina 
que a economia deve ser autorregulada, ou seja, o desenvolvimento econômico não poderia ser 
orientado pelo Estado. Junto ao desenvolvimento dessa doutrina, o autor nos coloca ainda que temos 
o desenvolvimento de diversas formas de controle dos indivíduos e das populações pelo Estado. Essas 
formas de controle seriam mantidas ainda no período em que Foucault escreveu a obra em questão e, a 
nosso ver, são desenvolvidas até os dias de hoje.
 Observação
O Neoliberalismo foi uma doutrina econômica e de regulação do Estado 
que em tese pressupõe a diminuição da intervenção estatal em viabilizar o 
acesso da população mais vulnerável às políticas e aos direitos sociais. 
Nesse período surgiu o que Foucault denominou pelo termo Homo economicus, que seria o ser 
humano estimulado para atender as novas exigências do mercado. O ser humano sempre busca 
responder a essas exigências. Assim, é importante a disciplina que prepara o homem para que, por meio 
de sua inserção no mercado, tenha suas necessidades contempladas. 
Bem, se podemos compreender a Biopolítica como uma forma de o Estado gerir e controlar a vida 
humana, que teve seu início no século XVII, manteve‑se no século XVIII e se mantém atualmente, 
podemos nos questionar: o que seria o Biopoder? Como resposta a essa pergunta, Foucault nos diz que 
o Biopoder é a forma de a Biopolítica se expressar. 
 Observação
O Biopoder é a forma de o Estado exercer a Biopolítica.
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Na verdade, o Biopoder surge, conforme o autor, em meados do século XVII e início do século 
XVIII como um complemento às técnicas disciplinares até então utilizadas pelo Estado. O Biopoder 
é composto por técnicas de poder que não têm tanta semelhança com as disciplinas. Na verdade, as 
disciplinas coexistem com o Biopoder, sendo, entretanto, formas distintas e complementares de o poder 
ser implementado. Assim, qual seria a distinção existente entre disciplina e Biopoder? A disciplina exerce 
controle sobre o corpo, e o Biopoder aplica‑se a vidas de modo geral.
O Biopoder é exercido massivamente, dirigindo‑se à população inteira. Via de regra, busca 
regulamentar e orientar aspectos afetos à natalidade, à longevidade e à mortalidade de um determinado 
grupo. Por oportuno, intervém em problemas que são partilhados entre as pessoas de uma sociedade. 
Para a intervenção nesses problemas são utilizados mecanismos de regulamentação normativos que 
visam garantir a vida e prevenir a morte. Não é um dispositivo exclusivo do Estado, posto que é exercido 
por outros órgãos de defesa, por exemplo, as instituições e categorias médicas. O principal executor do 
Biopoder, porém, é o Estado. 
Visando consolidar o entendimento acerca das diferenças entre disciplina e Biopoder, observe 
a imagem.
Biopoder
Disciplina
• Destina‑se ao controle das vidas
• Relaciona‑se ao controle de natalidade, 
mortalidade e longevidade
• Forma de expressão da Biopolítica
• Controle dos corpos e estímulo de 
comportamentos
• Orientada para o corpo
Figura 1 – Distinção entre Biopoder e disciplina 
Em tese, no século XVIII e mesmo no século XIX esse poder disciplinador e normalizador exercido 
pelo Estado era posto em prática por meio de políticas estatais. 
Tais políticas podem ser exemplificadas com o controle da natalidade,ou mesmo, conforme o autor, 
pela iminência de guerras. Foucault nos coloca que as guerras, mesmo as civis, são dispositivos de 
controle populacional. entretanto, tivemos também Estados que em nome de uma suposta melhora 
da raça e ancorados em argumentos supostamente científicos perpetraram a morte de muitas pessoas. 
No caso do nazismo, havia argumentos assentados em uma pseudociência que “justificaria” a morte de 
todos aqueles que não atendessem o padrão alemão de “raça”. O autor nos coloca que o mesmo poder 
que gera e protege a vida pode também sustentar ações que levem à morte, motivo pelo qual tivemos 
nesse período, do século XIX, as guerras mais sangrentas da história. 
A respeito da questão da natalidade e também das mortes sancionadas com o respaldo estatal, o autor 
nos coloca que o poder do Estado é tamanho que pode até decidir sobre quem deve viver e quem deve morrer. 
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É importante, entretanto, reforçar que mesmo no século XIX, conforme Foucault, a disciplina foi 
usada para gerenciar a vida das populações, assim como em seu surgimento enquanto técnica de 
adestramento nos exércitos, escolas e fábricas. No século XIX, a administração do corpo social tornou‑se 
ainda mais intensificada pelo Estado. 
Atualmente, ainda de acordo com Foucault, o formato de gestão assentado na Biopolítica 
ainda é mantido. Nesse contexto, o autor nos diz que temos a economia e o mercado como 
instâncias supremas para a regulação da vida no mundo contemporâneo. Nesse estágio posto, 
sobretudo a partir de meados do século XX, o Estado passa a adotar formas sutis de controle da 
população, de controle do corpo social. 
A imagem a seguir é bastante representativa do conceito de Foucault sobre o controle dos 
corpos. Vejamos:
Figura 2 – Ser humano controlado por agente externo 
A figura representa um corpo que é controlado, ou seja, que tem seus movimentos decorrentes de 
um agente externo. Por analogia, podemos entender o corpo como o corpo dócil ou mesmo o corpo 
social. Esse corpo muitas vezes é controlado pelo Estado, sem que muitas vezes se perceba disso. 
Por conseguinte, à guisa de conclusão, podemos apontar que a obra de Foucault é vasta, ampla e 
traz uma abordagem substancial sobre a questão do poder. Como pudemos observar no início deste 
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texto, Foucault conseguiu analisar as expressões de poder presentes na realidade cotidiana em que os 
seres humanos estão inseridos, expressões presentes no trabalho, na família e em outros espaços afins. 
No entanto, a genialidade de Foucault está no fato de não restringir sua análise apenas às expressões 
de poder presentes no cotidiano, mas também compreender como o poder do Estado tem se expressado 
no controle dos corpos.
Tendo nos aproximado dos conceitos de Estado, conforme Foucault, agora, convidamos você para a 
interlocução com a obra de Giorgio Agamben, que também adotou como referência para seus estudos 
o trabalho de Foucault. 
 Saiba mais
Para ampliar sua reflexão sobre o controle do Estado na vida dos 
indivíduos, recomendamos os filmes:
1984. Dir. Michael Radford. Reino Unido: Virgin Records, 1984. 113 min. 
V de Vingança. Dir. James McTeigue. Reino Unido: Warner Bros, 
2006. 132 min. 
2 “ESTADO DE EXCEÇÃO COMO REGRA”: O IMPASSE POLÍTICO 
CONTEMPORÂNEO NO PENSAMENTO DE GIORGIO AGAMBEN
Agora, convidamos você para conhecer melhor o conceito de Estado de Exceção, de acordo 
com a perspectiva de Giorgio Agamben, um filósofo e jurista italiano que escreveu sobre uma série 
de assuntos, dentre os quais a discussão sobre estética e também o conceito de Estado, que ora 
apresentamos a você. 
 Saiba mais
Visando ampliar o conhecimento sobre a obra de Giorgio Agamben, 
recomendamos a leitura da obra citada a seguir:
AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo 
Horizonte: UFMG, 2007. Disponível em: <http://petdireito.ufsc.br/wp‑
content/uploads/2016/05/AGAMBEN‑G.‑Homo‑Sacer‑o‑poder‑soberano‑
e‑a‑vida‑nua.pdf>. Acesso em: 7 out. 2016.
Agamben foi vinculado à Escola de Frankfurt e, como veremos, sua obra foi fortemente influenciada 
por Walter Benjamim e Carl Schimitt. Também foi influenciado por Foucault, de quem extraiu grande 
parte de suas considerações sobre o Estado de Exceção, conforme veremos. Em seus estudos, recorreu 
ao método genealógico, o que corresponde a dizer que Agamben recorreu à história, à origem e ao 
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desenvolvimento dos fenômenos que estudou, ou seja, o conceito de Estado de Exceção fora construído 
por meio de uma sólida e contundente análise histórica (PONTEL, 2012).
Tendo tais colocações arroladas, cabe a nós questionar: O que podemos compreender como Estado de 
Exceção? Seria esse um conceito antiquado? E mais, quais seriam as possíveis colaborações de Agamben 
na delimitação de tal conceito? Para ter essa e outras questões respondidas, dê seguimento à leitura do 
presente material. 
 Saiba mais
Vamos conhecer mais dos conceitos de Giorgio Agamben? Veja a 
entrevista realizada por Flavia Costa:
COSTA, F. Entrevista com Giorgio Agamben. Rev. Dep. Psicol., Niterói, v. 
18, n. 1, p. 131‑6, jun. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104‑80232006000100011&lng=en&nrm=
iso>. Acesso em: 18 ago. 2016.
A análise de Agamben parte da premissa de que grande parte dos países deveria ser governada por 
Estados de natureza democrática. No entanto, diante de qualquer situação atípica, poderia então ser 
decretado o Estado de Exceção, ou seja, uma forma de governo específica para um momento atípico. 
No entanto, as particularidades desse “tipo” de Estado dificultam a elaboração de um conceito sobre 
ele. Agamben (2004), buscando fazê‑lo, recorreu a várias fontes e, dessa forma, conseguiu avançar 
substantivamente na conceituação do Estado de Exceção.
O autor nos indica que há dificuldade até mesmo em escolher um termo que designe a forma 
de governo em situações atípicas. Assim, diz‑nos que na Alemanha são utilizados os termos 
ausnahmezustand e notstand (AGAMBEN, 2004, p. 15), os quais correspondem à noção de Estado de 
Necessidade. Já na França, seria usado o termo Estado de Sítio, e nos países de origem anglo‑saxônica 
os termos mais usados são martial law e emergency powers, que correspondem, respectivamente, a lei 
marcial e poderes de emergência. Há uma diversidade de termos, mas ambos buscam designar o formato 
que é momentaneamente assumido pelo poder em uma dada região.
No que concerne à questão terminológica, Agamben optou pelo termo Estado de Exceção por 
entender que é o mais próximo de designar esse formato de organização estatal. No sentido em tela, o 
autor nos diz que quando recorre ao termo Estado de Exceção está se referindo a organizações estatais 
em que podemos observar a existência de guerras, ou seja, podem acontecer expressões de tal magnitude. 
Como o autor também nos diz, no Estado de Exceção é também comum que o Governo recorra à lei 
marcial e decrete o Estado de Sítio. Além de tais especificidades, o autor nos coloca que o termo Estado 
de Exceção também designa momentos em que temos uma espécie de suspensão da própria ordem 
jurídica. Melhor dizendo, no Estado de Exceção muitos direitos são suprimidos, supostamente, em nome 
da seguridade nacional.
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Assim, recorrendo a Carl Schmitt, especialmente à obra Politische theologie, publicada em 1922, 
Agamben nos diz que uma das especificidades do Estado de Exceção é que o soberano, a pessoa que está 
no poder, decide sobre quando essa medida poderá ser instituída. 
Para ser instituído, o Estado de Exceção é movido por uma necessidade, ou seja, uma dada situação 
que demandou tal intervenção. Via de regra, essa necessidade está presente nos momentos de crise 
política. Por conseguinte, é possível inferir que não há, conforme Agamben, uma sustentação jurídica 
para a instituição do Estado de Exceção, tendo em vista que este pode ser motivado em virtude de uma 
necessidade específica, e não de um ordenamento jurídico. 
Ainda vemos que uma das possíveis “necessidades” que motivam o Estado de Exceção seria a 
existência de guerra civil, insurreição e também resistência da sociedade a um determinado aspecto de 
gerenciamento do Estado. Motivo pelo qual, muitas vezes, o Estado de Exceção acaba sendo relacionado 
à ocorrência de guerra civil e outras expressões de resistência. No sentido posto, Agamben indica alguns 
exemplos, dos quais falaremos no decurso deste material, em que o Estado de Exceção acabou sendo 
instituído por meio de guerras, por exemplo, no regime de Hitler, na Alemanha. Nesse caso, o Estado é 
considerado Exceção porque fugiu ao formato usual de governo. O diferencial nesse caso é que para 
fazer valer os ideais então difundidos pelo Estado Alemão foi constituída guerra civil com o massacre 
de muitos povos.
 Observação
Hitler ficou conhecido como defensor do Nazismo, uma teoria que 
estava assentada no racismo científico e no antissemitismo. 
Agamben (2004) ainda nos coloca que o Estado de Exceção deveria ser uma medida de governo 
adotada apenas em casos específicos e excepcionais. No entanto, para esse autor, o Estado de Exceção 
acaba se constituindo como uma forma de governo indeterminada, ao passo que está situada entre a 
democracia e o absolutismo. 
Como tal, o Estado de Exceção não tem uma lei a ser seguida. Na verdade, o que prevalece não 
é o ordenamento jurídico instituído, mas a atenção à necessidade que motivou a instituição do 
Estado de Exceção. 
A teoria da necessidade não é aqui outra coisa que uma teoria da exceção 
(dispensatio) em virtude da qual um caso particular escapa à obrigação da 
observância da lei. A necessidade não é fonte de lei e tampouco suspende, 
em sentido próprio, a lei; ela se limita a subtrair um caso particular à 
aplicação literal da norma [...] (AGAMBEN, 2004, p. 41).
Por assim dizer, toda lei passa a ser subordinada à necessidade, que, em tese, representa uma forma 
de auxílio para o homem que vive em uma determinada sociedade. Conforme o autor, no Estado de 
Exceção podem também ser adotadas medidas extrajurídicas, e isso não é considerado, nesse momento, 
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algo ilegal, mas sim ato desenvolvido com vistas a um bem maior. Isso inauguraria uma nova ordem 
jurídica, na qual tudo será condicionado pela necessidade. 
Entende assim que o contexto do Estado de Exceção pode ser compreendido como a suspensão do 
Estado de Direito, e, em alguns governos, em que a exceção torna‑se regra, seria sua total eliminação. 
Para que isso aconteça, o autor nos diz que há casos em que o Estado de Exceção não é decretado 
formalmente, mas é instituído de uma forma velada, em que a população de determinada sociedade 
sequer consegue aperceber‑se de tal situação. 
Agamben ressalta, entretanto, que não podemos entender que no Estado de Exceção não há 
ordenamento jurídico a ser seguido. Assim, diz que mesmo nas ditaduras pode haver uma norma jurídica, 
no entanto essa norma servirá aos interesses do Estado de Exceção. 
O autor nos esclarece que para o ordenamento jurídico há dois elementos fundamentais: a norma 
e a decisão. Por conseguinte, para haver uma lei é fundamental a decisão, a ação. Nesse formato de 
Estado, a decisão cabe ao Soberano. “O soberano, que pode decidir sobre o estado de exceção, garante 
sua ancoragem na ordem jurídica” (AGAMBEN, 2004, p. 56). 
No percurso adotado por Agamben em sua obra, o autor apresenta as compreensões distintas de 
Estado de Exceção que foram difundidas por Walter Benjamin e Carl Schmitt.
 Observação
Walter Benjamim foi um filósofo judeu vinculado à Escola de Frankfurt 
e, por conseguinte, vinculado ao pensamento marxista. Carl Schmitt, por 
sua vez foi um especialista em direito alemão.
Walter Benjamin entendia que o Estado de Exceção é um formato de governo que expressa 
a violência, ou melhor, esse formato de organização estatal é a violência revolucionária que é 
organizada pelo ser humano. No entanto, para Benjamin, no Estado de Exceção temos a deposição e 
a inauguração do direito, que oferece sustentação para tal formato de governo. Para ele, somente o 
Estado pode e deve impedir a constituição do Estado de Exceção; o autor entende que esse formato 
de governo é nocivo às sociedades. 
Schmitt escreveu várias obras, entre as quais estão Die diktatur, de 1921, e Politische theologie, de 
1922, as quais iniciam uma discussão fecunda sobre o Estado de Exceção. 
Na obra Die diktatur, Schmitt orientou seus estudos para a questão da ditadura; chegou até a 
indicar que há duas imagens de ditaduras que podem ser construídas: a ditadura comissária e a ditadura 
soberana. Conforme o autor, a ditadura comissária defende a reforma da Constituição, ao passo que a 
ditadura soberana faz menção aos modelos em que o soberano torna‑se um ditador. No ano de 1922, 
entretanto, Schmitt passou a se referir a esse formato de organização estatal com o termo “Estado de 
Exceção” (AGAMBEN, 2004). 
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Schmitt entendia ainda que é um direito do Estado a constituição do Estado de Exceção. Nos 
coloca assim que cabe ao soberano exercer esse direito e, se considerar que convém, decretar 
o Estado de Exceção. Para ele o Estado de Exceção surge no caos, na crise, mas responderia 
e atenderia a uma determinada ordem jurídica específica. Aliás, para o autor, a suspensão de 
determinadas regras ou normas não significa a sua anulação, mas sim que para aquele momento 
elas não são válidas. 
Em tese, esses autores discutiram, por suas obras, o conceito de Estado de Exceção, buscando cada 
qual defender a sua perspectiva sobre tal fenômeno. Além disso, Agamben chama nossa atenção para 
outras especificidades do Estado de Exceção. 
A primeira delas refere‑se ao conceito de “luto”. Para ele, sempre que temos o Estado de 
Exceção, também vivenciamos o luto público, em decorrência da morte da democracia que lhe é 
inerente e da desestruturação do país que é provocada por esse formato de Estado. No sentido 
posto, no luto vemos que as “[...] regras e instituições sociais parecem se dissolver rapidamente” 
(AGAMBEN, 2004, p. 102). 
O luto, por sua vez, resulta nas situações de anomia e crise social. Na anomia não temos regras, e 
isso resulta em desorganização social. Na anomia, conforme Agamben, temos também a suspensão 
dos direitos antes adquiridos pela população. A título de exemplo, considerando a contemporaneidade, 
observe o texto a seguir.
Maduro decreta estado de exceção na Venezuela contra um suposto “golpe”
Presidente impõe restrições diante de um cenário de descontentamento popular
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, decretou estado de exceção e emergência 
econômica, na última sexta‑feira, diante da possibilidade de um suposto “golpe” contra seu 
Governo. O decreto é uma carta em branco que, segundo os opositores, tenta apaziguar a 
pressão popular que busca organizarum referendo que coloque um fim ao seu mandato 
este ano. “Isso é para proteger nosso povo”, disse o chefe de Estado.
O mandatário não especificou o alcance dessa medida. Apenas adiantou que o decreto 
lhe dá poderes para lidar com a acentuada crise econômica, que mergulha o país em 
um iminente colapso, e evitar uma conspiração contra seu governo, mediante medidas 
excepcionais: “Isso nos permite, durante os meses de maio, junho, julho, e por toda a 
extensão do que vamos fazer constitucionalmente durante o ano de 2016 e seguramente 
em 2017, recuperar a capacidade produtiva do país”, explicou.
A Venezuela, asfixiada pela inflação mais alta do mundo (180,9% em 2015) e uma crítica 
escassez de alimentos e remédios, começa a mostrar sinais de tensão social. Em apenas três 
semanas, intensificaram‑se as tentativas de saques a lojas e protestos nas ruas em vários 
locais do país.
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“Decidi aprovar um novo decreto de estado de exceção e emergência econômica que me 
dê o poder suficiente para derrotar o golpe de Estado, a guerra econômica, para estabilizar 
socialmente nosso país e para enfrentar todas as ameaças internacionais e nacionais 
que existem contra nossa pátria neste momento”, disse Maduro, durante um conselho 
de ministros que chefiou no palácio presidencial de Miraflores, transmitido em cadeia 
obrigatória de rádio e televisão.
A oposição, representada pela aliança de partidos políticos Mesa da Unidade Democrática 
(MUD), convocou manifestações às ruas, nos últimos dias, para pressionar o Conselho 
Nacional Supremo Eleitoral (CNE) – controlado pelo chavismo – com a intenção de que se 
agilizem trâmites para uma saída imediata do governo de Maduro, mediante a convocação 
de um referendo.
A oposição convocou manifestações às ruas e tenta aprovar um referendo para encurtar 
o mandato de Maduro.
Mas o Executivo é de ferro. Os dirigentes do chavismo juraram à oposição que eles 
não tomarão o controle político. Jorge Rodríguez, prefeito de Caracas e um dos máximos 
dirigentes do Partido Socialista de Venezuela (PSUV), indicou que o referendo para revogar 
o mandato do sucessor de Hugo Chávez não será realizado este ano. Isso representa um 
tropeço para os planos dos opositores, que resistem a ceder terreno ao chavismo. Henrique 
Capriles, governador do Estado de Miranda e ex‑candidato à presidência, não suspendeu 
uma manifestação popular programada para este sábado, que exigirá que a CNE agilize o 
processo de revogação do mandato de Maduro.
Fonte: Castro (2016).
Exemplo de aplicação
Analisando a matéria supra, podemos inferir que no Estado de Exceção temos expressões ou 
situações de anomia. Considerando a matéria, indique quais seriam as principais situações presentes na 
realidade venezuelana e que correspondem à anomia. Podemos dizer que o Estado de Exceção fortalece 
o acontecimento desses fenômenos? Por quê?
O conceito de festa usado por Agamben em Estado de Exceção é análogo ao de luto. Assim, em 
uma festa temos também a suspensão do direito. Essas festas seriam as comemorações cíclicas que 
acontecem durante o Estado de Exceção e nas quais também não vemos normas a serem seguidas. 
Por exemplo, o Carnaval é uma festa de tal magnitude que envolve toda a sociedade e na qual temos 
a total liberação de grande parte das normas sociais convencionalmente instituídas. Muitas dessas 
festas têm autorização legal para acontecer mesmo que contrariem princípios e valores legais antes 
vigentes e aceitos socialmente. Assim, vejamos, quem nunca pensou ou agiu de maneira distinta do seu 
comportamento cotidiano em uma festa de Carnaval?
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Na festa, de acordo com Agamben (2004), em que temos uma suspensão da lei, temos a anomia, 
motivo pelo qual o autor denomina as festas do Estado de Exceção com o termo “festas anômicas”. 
Agamben (2004) nos coloca ainda que nesse contexto foram conferidos plenos poderes ao Estado, 
que pode até promulgar decretos com força de lei. Nesse sentido, o Estado passa a representar os vários 
Poderes (Legislativo e Judiciário).
Até o momento, conseguimos apresentar a você alguns dos conceitos de Agamben. Assim, vimos 
que há uma dificuldade conceitual de definir o que entendemos por Estado de Exceção. No entanto, 
apesar da aparente dificuldade conceitual, conseguimos, à luz do referencial adotado, sumariar as 
especificidades presentes no Estado de Exceção. Entre tais especificidades, podemos citar: sempre é 
o soberano que decide a instituição do Estado de Exceção; o Estado de Exceção sempre é motivado 
por uma necessidade; mesmo com grande esforço de teóricos por conceituá‑lo, ainda se trata de uma 
forma indeterminada de Estado; é um Estado em que temos a suspensão da lei; e, nesse formato de 
constituição estatal, temos presente o luto, a anomia e a festa anômica. 
No entanto, esse formato de Estado, assim como toda organização estatal, nos remete à questão 
do poder. Neste texto apresentamos a questão do poder conforme a perspectiva de Michel Foucault. 
Mas Agamben também discute a questão de poder em sua obra, mais especificamente no capítulo final, 
apesar de essa discussão estar imbuída em toda a sua produção. Por assim dizer, o autor nos coloca 
que o soberano é dotado de poder que não se baseia apenas em autorização jurídica. As leis conferem 
legitimidade ao poder do soberano. 
Partindo disso, o autor inicia uma discussão sobre a questão da autoridade utilizando o termo 
auctoritas. Sua discussão busca entender a constituição assim como a instituição de autoridade 
presente na figura do soberano. Nesse sentido, o autor recupera a organização do Senado Romano, 
que indicaremos no item posterior. Para o momento, cabe a nós destacarmos que Agamben também 
entende que essa autoridade, para constituir‑se, também recorre à legislação, e, no caso do Estado 
de Exceção, a autoridade também é alcançada e mantida por meio da coerção e da violência. Assim, 
Agamben destaca que a autoridade, via de regra, é imposta.
Mas há outros dizeres sobre o Estado de Exceção nessa brilhante obra de Agamben, entre eles 
o fato de que essa medida deveria ser excepcional, adotada apenas e tão somente em momentos 
específicos. No entanto, conforme o autor nos diz, esse formato de Estado é inicialmente instituído 
sob a perspectiva da excepcionalidade, mas acaba mantido como uma técnica constante de 
governo. 
Sinalizamos que uma das influências de Agamben foi Michel Foucault. Lembre‑se de que já estudamos 
o conceito foucaultiano. Foucault estudou o poder do soberano na vida nua e, de certa forma, tentou 
entender o Estado de Exceção como uma forma de controle e expressão de poder, apesar de ressaltar 
que há expressões de poder presentes no cotidiano dos seres humanos. Em Homo sacer (2007), Agamben 
extraiu, em grande parte, de Foucault a sua compreensão do Estado de Exceção, que representa um 
poder, uma maneira de controle instituída para um período específico, mas que acaba instituída como 
forma de governo permanente. 
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Partindo disso, Agamben aprofunda o entendimento do Estado, porém orientando a reflexão do 
Homo sacer e da vida nua. Vamos compreender tais conceitos?
Em tese, o conceito de Homo sacer nos remete ao Direito romano. Na Antiguidade Romana, o 
Homo sacer fazia menção ao homem que está desprotegido pela legislação vigente, ou seja, era o 
homem que não possuía os seus direitos garantidos. Esse homem podia ser morto, e isso não trariajulgamento àqueles que o agredissem. No entanto, essa morte não poderia acontecer por meio de 
sacrifício religioso, ou seja, nesse caso, a morte poderia ser punida. Podemos dizer que havia uma 
suspensão da norma instituída (AGAMBEN, 2007).
 Saiba mais
Os filmes a seguir representam uma realidade futurística em que os 
crimes, incluindo assassinatos, são sancionados pelo Estado e representam 
grande similaridade com o conceito de Homo sacer romano. 
UMA NOITE de Crime. Dir. James DeMonaco. Estados Unidos: Universal, 
2013. 88 minutos. 
UMA NOITE de Crime 2: anarquia. Dir. James DeMonaco. Estados Unidos: 
Universal, 2014. 104 minutos. 
Agamben retorna a Aristóteles (384 a.C. ‑ 322 a.C.), que nos dizia que o homem é zoé, que significa 
vida nua, existência. Assim dizendo, todos os homens nascem zoé. Com o tempo, por meio da mediação 
da linguagem, o homem consegue ascender à vida política, que seria descrita com o termo politikòn 
zôon, ou bios políticos, também denominado “animal político”.
Segundo Agamben, acreditava‑se que todos os homens na vida nua nascessem para viver bem. Quando 
ingressavam na pólis, os homens deviam proporcionar o bem para os outros homens. Acreditava‑se que 
dessa forma todos alcançariam uma vida boa. No entanto, o poder do soberano, que inclui decidir quem 
vive e quem morre, pode ter comprometido muito a capacidade do homem de viver bem e, em muitos 
casos, de sobreviver. Isso porque caberia também ao soberano decidir sobre a vida dos homens, sobre 
aqueles que deveriam viver e aqueles que deveriam morrer.
Esse poder do soberano existente na Roma antiga também está presente na contemporaneidade. 
Assim, vemos que no Estado Moderno ainda é esse ente que decide quem vive e quem morre. No caso, 
Agamben indica que o Estado mata sob o argumento de que seria para defender os demais membros 
da nação, e isso não é recriminado. Assim, por analogia ao antigo Direito romano, pode‑se entender o 
Homo sacer como o ser humano ou os seres humanos que podem morrer, ou seja, aqueles cuja morte 
seria facilmente aceitável.
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No entanto, no caso conceitual de Agamben, o Estado, denominado Soberano, teria então o papel 
de coordenar as mortes, de avaliar quais seriam aqueles que teriam direito de viver e quais teriam o 
direito de morrer. A esse direito Agamben denominou tanatopolítica, que seria o poder atribuído ao 
soberano de decidir quem vive e quem morre.
O soberano, conforme o autor, não responde pelo fato de cometer atos que podem resultar 
na morte das pessoas. Nesse sentido, não responde a normativas jurídicas e torna‑se a própria 
normativa. 
Ainda há muitos Estados cujos membros são Homo sacer. Neles, a vida não tem valor, cabendo ao 
Estado decidir sobre quem vive e sobre quem morre. Na notícia a seguir vemos um exemplo retratado 
pelo Estado da Coreia do Norte. 
Coreia do Norte: sete curiosidades sobre o ditador Kim Jong-un
O líder da Coreia do Norte é o primeiro ditador a 
demonstrar afeição por personagens da Disney
Kim Jong‑un é filho de Kim Jong‑Il e neto de Kim Il‑sung, o fundador do Partido dos 
Trabalhadores da Coreia (o único do país). Foi designado para comandar a nação após a morte 
do pai, em 19 de dezembro de 2011. Apesar de liderar o regime mais fechado do mundo, 
sobram evidências sobre sua personalidade distinta (adjetivando de modo equilibrado).
Nesta quarta‑feira (6), Kim Jong‑un voltou aos holofotes ao anunciar que a Coreia do 
Norte realizou, com sucesso, testes com bomba de hidrogênio – 50 vezes mais potente 
do que uma bomba atômica, como a que destruiu a cidade de Hiroshima, na Segunda 
Guerra Mundial. “Fazer o mundo olhar para a força nuclear do nosso país e do Partido 
dos Trabalhadores ao abrir o ano com o emocionante barulho da primeira bomba de 
hidrogênio”, escreveu em um documento. O anúncio desta semana pode marcar também as 
comemorações de seu aniversário. Como em relação a tudo em torno dele, não há certeza 
sobre sua data de nascimento, mas o dia apontado é 8 de janeiro de 1983. Ele faria, então, 
33 anos na sexta‑feira. 
Confira sete curiosidades sobre esse homem de rosto arredondado e corte de cabelo 
único, com poder de amedrontar e chantagear as grandes potências. 
1. Kim Jong‑un não aceita divergências
Mesmo com aparência inofensiva, só em 2015, a imprensa internacional veiculou 
dezenas de execuções atribuídas às ordens do líder, apesar de informações sobre eventos 
ocorridos na Coreia do Norte serem de difícil confirmação. A tia Kim Kyong‑hui, de 
68 anos, não foi poupada por ter reclamado da execução de seu marido, Jan Song‑
thaek, em 2013. Ela morreu por envenenamento, conforme relato do dissidente 
Mr. Park à rede CNN. Já o tio, assassinado dois anos antes, criticou alguns projetos 
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megalomaníacos do ditador, como um resort de esqui e um parque aquático, diante do 
mau desempenho da economia nacional. O ex‑ministro da Defesa da Coreia do Norte 
Hyon Yong‑chol foi executado por, entre outros “desrespeitos”, dormir em um evento 
comandado pelo presidente. Ele foi morto diante de centenas de pessoas. Kim Jong‑un 
também ficou insatisfeito ao ver que dezenas de bebês tartaruga morreram em um aquário. 
O administrador do local, então, foi assassinado.
Em abril de 2015, os serviços secretos sul‑coreanos afirmaram que o ditador já havia 
executado 15 membros do governo e quatro músicos no ano. O motivo: basicamente, 
opiniões diferentes das suas. Em julho, a Coreia do Sul comunicou que, desde o início de seu 
regime, ele orientou a execução de 70 funcionários.[...]
Fonte: Soprana (2016).
Exemplo de aplicação
No caso, o ditador coreano decide sobre a execução de todos que desejar. Como podemos inferir, o 
Estado coreano não responde legalmente pelos atos cometidos. Podemos dizer que, nesse contexto, os 
coreanos seriam Homo sacer? Argumente. 
Os aspectos que indicamos supra sinalizam em grande medida o entendimento de Giorgio Agamben 
sobre o Estado de Exceção, porém não o esgotam. Mais à frente abordaremos também as colocações 
desse autor sobre os principais momentos em que observamos no Brasil e no Mundo a constituição do 
chamado Estado de Exceção. 
2.1 O Estado de Exceção no cenário internacional e no Brasil
Neste item indicaremos uma série de informações a respeito dos principais momentos de 
desenvolvimento do Estado de Exceção, de acordo com Agamben. Nessa análise, indicaremos 
o relevante conceito de institum, além de uma série de outras contribuições do autor que nos 
permitirão compreender o Estado de Exceção no cenário internacional. Além disso, mencionaremos, 
com recorrência a outros autores, uma série de informações a respeito dos momentos de instituição 
do Estado de Exceção no Brasil. 
2.1.1 O Estado de Exceção no cenário internacional
Para que possamos entender de forma ampla o conceito de Estado de Exceção, vamos saber um 
pouco mais sobre o tema compreendendo suas primeiras manifestações pelo mundo. 
Em Estado de Exceção (2004), Agamben entende que uma das formas mais primitivas de 
Estado de Exceção teve sua origem na Roma antiga. Lá, sempre que fosse constatado qualquer 
tipo de ameaça ou qualquer perigo à República, o Senado Romano poderia estabelecer o chamado 
senactus consultum ultimun (decreto do senado), que permitiria ao Senado adotasse qualquer 
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medida para salvaguardar o Estado. Na verdade, conforme o senactus consultum ultimun, mesmo 
os cônsules, pretores

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