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25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial

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03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/ 1/34
Literatura Poesia/
25 poemas de Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade (31 de outubro de 1902 — 17 de agosto de 1987) é um dos
maiores autores da literatura brasileira, sendo considerado o maior poeta nacional do século
XX.
Integrada na segunda fase do modernismo brasileiro, sua produção literária reflete algumas
características do seu tempo: uso da linguagem corrente, temas do cotidiano, reflexões
políticas e sociais.
Através de sua poesia, Drummond foi eternizado, conquistando a atenção e a admiração dos
leitores contemporâneos. Seus poemas se centram em questões que se mantêm atuais: a
rotina das grandes cidades, a solidão, a memória, a vida em sociedade, as relações humanas.
Entre suas composições mais famosas, se destacam também aquelas que expressam
reflexões existenciais profundas, onde o sujeito expõe e questiona seu modo de viver, seu
passado e seu propósito. Confira alguns dos poemas mais famosos de Carlos Drummond de
Andrade, analisados e comentados.
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedraNo meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedratinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra.no meio do caminho tinha uma pedra. 
 
Nunca me esquecerei desse acontecimentoNunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas.na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminhoNunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedratinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminhotinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra.no meio do caminho tinha uma pedra.
03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/ 2/34
Este é, provavelmente, o poema mais célebre de Drummond, pelo seu carácter singular e
temática fora do comum. Publicado em 1928, na Revista da Antropofagia, "No Meio do
Caminho" expressa o espírito modernista que pretende aproximar a poesia do cotidiano.
Referindo os obstáculos que surgem vida do sujeito, simbolizados por uma pedra que se
cruza no seu caminho, a composição sofreu duras críticas pela sua repetição e redundância.
Contudo, o poema entrou para a história da literatura brasileira, mostrando que a poesia não
tem de ficar limitada aos formatos tradicionais e pode versar sobre qualquer tema, até
mesmo uma pedra.
Consulte também a análise completa do poema "No meio do caminho tinha uma pedra".
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo tortoQuando nasci, um anjo torto 
desses que vivem na sombradesses que vivem na sombra 
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homensAs casas espiam os homens 
que correm atrás de mulheres.que correm atrás de mulheres. 
A tarde talvez fosse azul,A tarde talvez fosse azul, 
não houvesse tantos desejos.não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:O bonde passa cheio de pernas: 
pernas brancas pretas amarelas.pernas brancas pretas amarelas. 
Para que tanta perna, meu Deus,Para que tanta perna, meu Deus, 
pergunta meu coração.pergunta meu coração. 
Porém meus olhosPorém meus olhos 
não perguntam nada.não perguntam nada.
O homem atrás do bigodeO homem atrás do bigode 
é sério, simples e forte.é sério, simples e forte. 
Quase não conversa.Quase não conversa. 
Tem poucos, raros amigosTem poucos, raros amigos 
o homem atrás dos óculos e do bigode.o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonasteMeu Deus, por que me abandonaste 
se sabias que eu não era Deusse sabias que eu não era Deus 
se sabias que eu era fraco.se sabias que eu era fraco.
03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/ 3/34
Mundo mundo vasto mundo,Mundo mundo vasto mundo, 
se eu me chamasse Raimundose eu me chamasse Raimundo 
seria uma rima, não seria uma solução.seria uma rima, não seria uma solução. 
Mundo mundo vasto mundo,Mundo mundo vasto mundo, 
mais vasto é meu coração.mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizerEu não devia te dizer 
mas essa luamas essa lua 
mas esse conhaquemas esse conhaque 
botam a gente comovido como o diabo.botam a gente comovido como o diabo.
Um dos aspectos que captam imediatamente a atenção do leitor neste poema é o facto do
sujeito referir a si mesmo como "Carlos", primeiro nome de Drummond. Assim, existe uma
identificação entre o autor e o sujeito da composição, o que lhe confere uma dimensão
autobiográfica.
Desde o primeiro verso, ele se apresenta como alguém marcado por "um anjo torto",
predestinado a não se enquadrar, a ser diferente, estranho. Nas sete estrofes são
demonstradas sete facetas diferentes do sujeito, demonstrando a multiplicidade e até
contradição dos seus sentimentos e estados de espírito.
É evidente o seu sentimento de inadequação perante o resto da sociedade e a solidão que o
assombra, por trás de uma aparência de força e resiliência (tem "poucos, raros amigos").
Na terceira estrofe, alude à multidão, metaforizada nas "pernas" que circulam pela cidade,
evidenciando o seu isolamento e o desespero que o invade.
Citando uma passagem da Bíblia, compara o seu sofrimento com a paixão de Jesus que,
durante a sua provação, pergunta ao Pai por quê Ele o abandonou. Assume, assim, o
desamparo que sente perante Deus e a sua fragilidade enquanto homem.
Nem mesmo a poesia parece ser uma resposta para essa falta de sentido: "seria uma rima,
não seria uma solução". Durante a noite, enquanto bebe e olha a lua, o momento da escrita é
aquele onde se sente mais vulnerável e emocionado, fazendo versos como uma forma de
desabafar.
Quadrilha
03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/ 4/34
João amava Teresa que amava RaimundoJoão amava Teresa que amava Raimundo 
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, 
que não amava ninguém.que não amava ninguém. 
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto FernandesJoaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história.que não tinha entrado na história.
Com o título "Quadrilha", esta composição parece fazer referência à dança europeia com o
mesmo nome que virou tradição nas festas juninas brasileiras. Vestidos com disfarces, os
casais dançam em grupo, conduzidos por um narrador que propõe várias brincadeiras.
Usando essa metáfora, o poeta apresenta o amor como uma dança onde os pares se trocam,
onde os desejos se desencontram. Nos três primeiros versos, todas as pessoas mencionadas
sofrem de amores não correspondidos, menos Lili "que não amava ninguém".
Nos quatro versos finais, descobrimos que todos os romances falharam. Todas as pessoas
mencionadas acabaram isoladas ou morreram, apenas Lili casou. O absurdo da situação
parece ser uma sátira sobre a dificuldade de encontrar um amor verdadeiro e correspondido.
Como se fosse um jogo de sorte, apenas um dos elementos é contemplado com o final feliz.
José
E agora, José?E agora, José? 
A festa acabou,A festa acabou, 
a luz apagou,a luz apagou, 
o povo sumiu,o povo sumiu, 
a noite esfriou,a noite esfriou,e agora, José?e agora, José? 
e agora, você?e agora, você? 
você que é sem nome,você que é sem nome, 
que zomba dos outros,que zomba dos outros, 
você que faz versos,você que faz versos, 
que ama, protesta?que ama, protesta? 
e agora, José?e agora, José? 
 
Está sem mulher,Está sem mulher, 
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está sem discurso,está sem discurso, 
está sem carinho,está sem carinho, 
já não pode beber,já não pode beber, 
já não pode fumar,já não pode fumar, 
cuspir já não pode,cuspir já não pode, 
a noite esfriou,a noite esfriou, 
o dia não veio,o dia não veio, 
o bonde não veio,o bonde não veio, 
o riso não veio,o riso não veio, 
não veio a utopianão veio a utopia 
e tudo acaboue tudo acabou 
e tudo fugiue tudo fugiu 
e tudo mofou,e tudo mofou, 
e agora, José?e agora, José? 
 
E agora, José?E agora, José? 
Sua doce palavra,Sua doce palavra, 
seu instante de febre,seu instante de febre, 
sua gula e jejum,sua gula e jejum, 
sua biblioteca,sua biblioteca, 
sua lavra de ouro,sua lavra de ouro, 
seu terno de vidro,seu terno de vidro, 
sua incoerência,sua incoerência, 
seu ódio — e agora?seu ódio — e agora? 
 
Com a chave na mãoCom a chave na mão 
quer abrir a porta,quer abrir a porta, 
não existe porta;não existe porta; 
quer morrer no mar,quer morrer no mar, 
mas o mar secou;mas o mar secou; 
quer ir para Minas,quer ir para Minas, 
Minas não há mais.Minas não há mais. 
José, e agora?José, e agora? 
 
Se você gritasse,Se você gritasse, 
se você gemesse,se você gemesse, 
se você tocassese você tocasse 
a valsa vienense,a valsa vienense, 
se você dormisse,se você dormisse, 
se você cansasse,se você cansasse, 
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se você morresse...se você morresse... 
Mas você não morre,Mas você não morre, 
você é duro, José!você é duro, José! 
 
Sozinho no escuroSozinho no escuro 
qual bicho-do-mato,qual bicho-do-mato, 
sem teogonia,sem teogonia, 
sem parede nuasem parede nua 
para se encostar,para se encostar, 
sem cavalo pretosem cavalo preto 
que fuja a galope,que fuja a galope, 
você marcha, José!você marcha, José! 
José, para onde?José, para onde?
Um dos maiores e mais conhecidos poemas de Drummond, "José" exprime a solidão do
individuo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de estar perdido na vida.
Na composição, o sujeito lírico se interroga repetidamente acerca do rumo que deve tomar,
procurando um sentido possível.
José, um nome muito comum na língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito
coletivo, simbolizando um povo. Assim, parecemos estar perante a realidade de muitos
brasileiros que superam inúmeras privações e batalham, dia após dia, por um futuro melhor.
Na reflexão sobre o seu percurso é evidente o tom disfórico, como se o tempo tivesse
deteriorado tudo em seu redor, o que fica nítido em formas verbais como "acabou", "fugiu",
"mofou". Listando possíveis soluções ou saídas para a situação atual, percebe que nenhuma
delas funcionaria.
Nem mesmo o passado ou a morte surgem como refúgios. Contudo, o sujeito assume a sua
própria força e resiliência ("Você é duro, José!"). Sozinho, sem a ajuda de Deus ou o apoio
dos homens, continua vivo e segue em frente, mesmo sem saber para onde.
Consulte também a análise completa do poema "José" de Carlos Drummond de Andrade.
Amar
Que pode uma criatura senão,Que pode uma criatura senão, 
entre criaturas, amar?entre criaturas, amar? 
03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
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amar e esquecer, amar e malamar,amar e esquecer, amar e malamar, 
amar, desamar, amar?amar, desamar, amar? 
sempre, e até de olhos vidrados, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,Que pode, pergunto, o ser amoroso, 
sozinho, em rotação universal,sozinho, em rotação universal, 
senão rodar também, e amar?senão rodar também, e amar? 
amar o que o mar traz à praia,amar o que o mar traz à praia, 
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, 
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,Amar solenemente as palmas do deserto, 
o que é entrega ou adoração expectante,o que é entrega ou adoração expectante, 
e amar o inóspito, o cru,e amar o inóspito, o cru, 
um vaso sem flor, um chão de ferro,um vaso sem flor, um chão de ferro, 
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, ee o peito inerte, e a rua vista em sonho, e 
uma ave de rapina.uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,Este o nosso destino: amor sem conta, 
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, 
doação ilimitada a uma completa ingratidão,doação ilimitada a uma completa ingratidão, 
e na concha vazia do amor a procura medrosa,e na concha vazia do amor a procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor.paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,Amar a nossa falta mesma de amor, 
e na secura nossa amar a água implícita,e na secura nossa amar a água implícita, 
e o beijo tácito, e a sede infinita.e o beijo tácito, e a sede infinita.
Apresentando o ser humano como um ser social, que existe em comunicação com o outro,
nesta composição o sujeito defende que o seu destino é amar, estabelecer relações, criar
laços.
Descreve as várias dimensões do amor como perecíveis, cíclicas e mutáveis ("amar, desamar,
amar"), transmitindo também as ideias de esperança e renovação. Sugere que mesmo
perante a morte do sentimento, é preciso acreditar no seu renascimento e não desistir.
Apontado como "ser amoroso", sempre "sozinho" no mundo, o sujeito defende que a
salvação, o único propósito do ser humano está na relação com o outro.
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https://www.culturagenial.com/poemas-de-carlos-drummond-de-andrade/ 8/34
Para isso, tem que aprender a amar "o que o mar traz" e "sepulta", ou seja, o que nasce e o
que morre. Vais mais além: é preciso amar a natureza, a realidade e os objetos, ter admiração
e respeito por tudo o que existe, já que esse é "nosso destino".
Para cumpri-lo é necessário que o indivíduo seja teimoso, "paciente". Deve amar até a falta
de amor, por conhecer sua "sede infinita", a capacidade e vontade de amar mais e mais.
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. 
Tempo de absoluta depuração. Tempo de absoluta depuração. 
Tempo em que não se diz mais: meu amor. Tempo em que não se diz mais: meu amor. 
Porque o amor resultou inútil. Porque o amor resultou inútil. 
E os olhos não choram. E os olhos não choram. 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. 
E o coração está seco.E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. 
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, Ficaste sozinho, a luz apagou-se, 
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. 
És todo certeza, já não sabes sofrer. És todo certeza, já não sabes sofrer. 
E nada esperas de teus amigos.E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? 
Teus ombros suportam o mundo Teus ombros suportamo mundo 
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios 
provam apenas que a vida prossegue provam apenas que a vida prossegue 
e nem todos se libertaram ainda. e nem todos se libertaram ainda. 
Alguns, achando bárbaro o espetáculo Alguns, achando bárbaro o espetáculo 
prefeririam (os delicados) morrer. prefeririam (os delicados) morrer. 
Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. 
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. 
A vida apenas, sem mistificação.A vida apenas, sem mistificação.
Publicado em 1940, na antologia Sentimento do Mundo, este poema foi escrito no final da
década de 1930, durante a Segunda Guerra Mundial. É notória a temática social presente,
retratando um mundo injusto e repleto de sofrimento.
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O sujeito descreve a dureza da sua vida sem amor, religião, amigos ou sequer emoções ("o
coração está seco"). Em tempos tão cruéis, repletos de violência e morte, ele tem que se
tornar praticamente insensível para suportar tanto sofrimento. Deste modo, sua
preocupação é apenas trabalhar e sobreviver, o que resulta numa solidão inevitável.
Apesar do tom pessimista de toda a composição, surge um laivo de esperança no futuro,
simbolizada pela "mão de uma criança". Aproximando as imagens da velhice e do
nascimento, faz referência ao ciclo da vida e à sua renovação.
Nos versos finais, como se transmitisse uma lição ou conclusão, afirma que "a vida é uma
ordem" e deve ser vivida de forma simples, focada no momento presente.
Consulte também a análise completa do poema "Os ombros suportam o mundo" .
Destruição
Os amantes se amam cruelmenteOs amantes se amam cruelmente 
e com se amarem tanto não se veem.e com se amarem tanto não se veem. 
Um se beija no outro, refletido.Um se beija no outro, refletido. 
Dois amantes que são? Dois inimigos.Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragadosAmantes são meninos estragados 
pelo mimo de amar: e não percebempelo mimo de amar: e não percebem 
quanto se pulverizam no enlaçar-se,quanto se pulverizam no enlaçar-se, 
e como o que era mundo volve a nada.e como o que era mundo volve a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasmaNada, ninguém. Amor, puro fantasma 
que os passeia de leve, assim a cobraque os passeia de leve, assim a cobra 
se imprime na lembrança de seu trilho.se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.E eles quedam mordidos para sempre. 
Deixaram de existir, mas o existidoDeixaram de existir, mas o existido 
continua a doer eternamente.continua a doer eternamente.
Partindo do próprio título, neste poema é inegável a visão negativa do sujeito acerca dos
relacionamentos amorosos. Descrevendo o amor como "destruição", reflete sobre o modo
como os casais se amam "cruelmente", como se lutassem. Sem enxergar a individualidade do
outro, deixam de se ver, procurando uma projeção de si mesmos no parceiro.
03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
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É o próprio amor que parece "estragar" os amantes, corrompê-los, levá-los a agir desta
forma. Alienados, não percebem que a união os destrói e afasta do resto do mundo. Por
causa dessa paixão se apagam e se anulam mutuamente.
Destruídos, guardam a memória do amor como uma "cobra" que os persegue e morde.
Mesmo com a passagem do tempo, essa memória ainda machuca ("quedam mordidos") e a
lembrança do que viveram persiste.
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,Provisoriamente não cantaremos o amor, 
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. 
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, 
não cantaremos o ódio, porque este não existe,não cantaremos o ódio, porque este não existe, 
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, 
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, 
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, 
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, 
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte. 
Depois morreremos de medoDepois morreremos de medo 
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
"Congresso Internacional do Medo" assume uma temática social e política que espelha o
contexto histórico da sua criação. Depois da Segunda Guerra Mundial, uma das questões que
mais assombrou poetas e escritores foi a insuficiência do discurso perante a morte e a
barbárie.
Esta composição parece refletir o clima de terror e petrificação que atravessava todo o
mundo. Esse sentimento universal se sobrepõe totalmente ao amor e até ao ódio, criando a
desunião, o isolamento, a frieza "que esteriliza os abraços".
O sujeito pretende expressar que a humanidade ainda não superou todo o sofrimento a que
assistiu, sendo assombrada e comandada apenas pelo medo e esquecendo todas as outras
emoções.
A repetição ao longo de todo o poema parece sublinhar que essa insegurança constante, essa
obsessão, levará os indivíduos à morte e se perpetuará depois deles, em "flores amarelas e
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medrosas". Assim, Drummond reflete acerca da importância de nos curarmos, enquanto
humanidade, e reaprendermos a viver.
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) (mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo novo 
até no coração das coisas menos percebidas até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) (a começar pelo seu interior) 
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? (planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) passa telegramas?) 
 
Não precisa Não precisa 
fazer lista de boas intenções fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança que por decreto de esperançaa partir de janeiro as coisas mudem a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. pelo direito augusto de viver. 
 
Para ganhar um Ano Novo Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, que mereça este nome, 
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você, meu caro, tem de merecê-lo, você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.cochila e espera desde sempre.
Nesta composição, o sujeito lírico parece falar diretamente com o seu leitor ("você").
Procurando aconselhá-lo, partilhar sua sabedoria, formula neste seus votos de
transformação para o novo ano.
Começa recomendando que este seja realmente um ano diferente dos anteriores (tempo
"mal vivido", "sem sentido"). Para isso, é necessário buscar uma mudança real, que vá além
da aparência, que gere um futuro novo.
Prossegue, afirmando que a transformação deve estar presente nas pequenas coisas, tendo
origem no interior de cada um, nas suas atitudes. Para isso, é preciso cuidar de si mesmo,
relaxar, se compreender e evoluir, sem precisar de luxo, distrações ou companhia.
Na segunda estrofe, consola seu leitor, determinando que não vale a pena se arrepender de
tudo o que fez, nem acreditar que um novo ano será a solução mágica e instantânea para
todos os problemas.
Pelo contrário, tem que merecer o ano que chega, tomar a decisão "consciente" de mudar a
si mesmo e, com muito esforço, mudar a sua realidade.
Sentimento do mundo
Tenho apenas duas mãosTenho apenas duas mãos 
e o sentimento do mundo,e o sentimento do mundo, 
mas estou cheio de escravos,mas estou cheio de escravos, 
minhas lembranças escorremminhas lembranças escorrem 
e o corpo transigee o corpo transige 
na confluência do amor.na confluência do amor. 
Quando me levantar, o céuQuando me levantar, o céu 
estará morto e saqueado,estará morto e saqueado, 
eu mesmo estarei morto,eu mesmo estarei morto, 
morto meu desejo, mortomorto meu desejo, morto 
o pântano sem acordes.o pântano sem acordes. 
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Os camaradas não disseramOs camaradas não disseram 
que havia uma guerraque havia uma guerra 
e era necessárioe era necessário 
trazer fogo e alimento.trazer fogo e alimento. 
Sinto-me disperso,Sinto-me disperso, 
anterior a fronteiras,anterior a fronteiras, 
humildemente vos peçohumildemente vos peço 
que me perdoeis.que me perdoeis. 
Quando os corpos passarem,Quando os corpos passarem, 
eu ficarei sozinhoeu ficarei sozinho 
desfiando a recordaçãodesfiando a recordação 
do sineiro, da viúva e do microscopistado sineiro, da viúva e do microscopista 
que habitavam a barracaque habitavam a barraca 
e não foram encontradose não foram encontrados 
ao amanhecerao amanhecer 
esse amanheceresse amanhecer 
mais noite que a noite.mais noite que a noite.
Publicado em 1940, na ressaca da Primeira Guerra, o poema reflete um mundo ainda
abalado perante o terror do fascismo. O sujeito frágil, pequeno, humano, possui "apenas
duas mãos" para carregar o "sentimento do mundo", algo de enorme, avassalador. Em seu
redor, tudo o confronta com a vulnerabilidade da vida e a inevitabilidade da morte.
Rodeado de guerra e morte, se sente alienado, distante da realidade. Fazendo menção à luta
política, através do uso da expressão "camaradas", sublinha que foi surpreendido por uma
guerra maior, a batalha pela sobrevivência de cada um.
Leia também a análise completa do poema "Sentimento do Mundo".
As Sem-Razões do Amor
Eu te amo porque te amo. Eu te amo porque te amo. 
Não precisas ser amante, Não precisas ser amante, 
e nem sempre sabes sê-lo. e nem sempre sabes sê-lo. 
Eu te amo porque te amo. Eu te amo porque te amo. 
Amor é estado de graça Amor é estado de graça 
e com amor não se paga. e com amor não se paga. 
 
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Amor é dado de graça, Amor é dado de graça, 
é semeado no vento, é semeado no vento, 
na cachoeira, no eclipse. na cachoeira, no eclipse. 
Amor foge a dicionários Amor foge a dicionários 
e a regulamentos vários. e a regulamentos vários. 
 
Eu te amo porque não amo Eu te amo porque não amo 
bastante ou de mais a mim. bastante ou de mais a mim. 
Porque amor não se troca, Porque amor não se troca, 
não se conjuga nem se ama. não se conjuga nem se ama. 
Porque amor é amor a nada, Porque amor é amor a nada, 
feliz e forte em si mesmo. feliz e forte em si mesmo. 
 
Amor é primo da morte, Amor é primo da morte, 
e da morte vencedor, e da morte vencedor, 
por mais que o matem (e matam) por mais que o matem (e matam) 
a cada instante de amor.a cada instante de amor.
O jogo de palavras presente no título do poema (a assonância entre "sem" e "cem") está
diretamente relacionado com o significado da composição. Por muitas razões que tenhamos
para amar alguém, elas serão sempre insuficientes para justificar esse amor.
O sentimento não é racional ou passível de explicações, ele simplesmente acontece, mesmo
se o outro não merecer. O sujeito acredita que o amor não pede nada em troca, não precisa
ser retribuído ("com amor não se paga"), nem pode ser submetido a um conjunto de regras
ou instruções, porque existe e vale em si mesmo.
Comparando o sentimento amoroso à morte, declara que consegue superá-la ("da morte
vencedor"), embora muitas vezes desapareça de repente. Parece ser esse caráter
contraditório e volátil do amor que contém também o seu encanto e mistério.
Para Sempre
Por que Deus permitePor que Deus permite 
que as mães vão-se embora?que as mães vão-se embora? 
Mãe não tem limite,Mãe não tem limite, 
é tempo sem hora,é tempo sem hora, 
luz que não apagaluz que não apaga 
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quando sopra o ventoquando sopra o vento 
e chuva desaba,e chuva desaba, 
veludo escondidoveludo escondido 
na pele enrugada,na pele enrugada, 
água pura, ar puro,água pura, ar puro, 
puro pensamento.puro pensamento. 
Morrer aconteceMorrer acontece 
com o que é breve e passacom o que é breve e passa 
sem deixar vestígio.sem deixar vestígio. 
Mãe, na sua graça,Mãe, na sua graça, 
é eternidade.é eternidade. 
Por que Deus se lembraPor que Deus se lembra 
— mistério profundo —— mistério profundo — 
de tirá-la um dia?de tirá-la um dia? 
Fosse eu Rei do Mundo,Fosse eu Rei do Mundo, 
baixava uma lei:baixava uma lei: 
Mãe não morre nunca,Mãe não morre nunca, 
mãe ficará sempremãe ficará sempre 
junto de seu filhojunto de seu filho 
e ele, velho embora,e ele, velho embora, 
será pequeninoserá pequenino 
feito grão de milho.feito grão de milho.
Abalado e triste, o sujeito questiona a vontade divina, perguntando por que Deus leva as
mães e deixa seus filhos para trás. Fala na figura maternal como algo maior que a própria
vida ("Mãenão tem limite"), uma eterna "luz que não apaga".
A repetição do adjetivo "puro" sublinha o caráter único e grandioso da relação entre mães e
filhos. Por isso, o eu lírico não aceita a morte de sua mãe, já que "morrer acontece com o que
é breve". Pelo contrário, ela é imortal, está eternizada na sua memória e continua presente
nos seus dias.
Desse modo, a vontade de Deus é um "mistério profundo" que o sujeito não consegue
decifrar. Se opondo ao funcionamento do mundo, afirma que se fosse o "Rei" não permitiria
mais que as mães morressem.
Este desejo quase infantil de inverter a ordem natural das coisas vem lembrar que, mesmo
depois de adultos, os filhos continuam necessitando do colo materno. O filho "velho embora,
/ será pequenino" sempre nos braços de sua mãe.
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O poema marca, assim, uma dupla solidão e orfandade do sujeito. Por um lado, perde a
progenitora; por outro, começa a questionar sua relação com Deus, incapaz de compreender
e aceitar o sofrimento presente.
O Amor Bate na Porta
Cantiga do amor sem eira Cantiga do amor sem eira 
nem beira, nem beira, 
vira o mundo de cabeça vira o mundo de cabeça 
para baixo, para baixo, 
suspende a saia das mulheres, suspende a saia das mulheres, 
tira os óculos dos homens, tira os óculos dos homens, 
o amor, seja como for, o amor, seja como for, 
é o amor. é o amor. 
 
Meu bem, não chores, Meu bem, não chores, 
hoje tem filme de Carlito! hoje tem filme de Carlito! 
 
O amor bate na porta O amor bate na porta 
o amor bate na aorta, o amor bate na aorta, 
fui abrir e me constipei. fui abrir e me constipei. 
Cardíaco e melancólico, Cardíaco e melancólico, 
o amor ronca na horta o amor ronca na horta 
entre pés de laranjeira entre pés de laranjeira 
entre uvas meio verdes entre uvas meio verdes 
e desejos já maduros. e desejos já maduros. 
 
Entre uvas meio verdes, Entre uvas meio verdes, 
meu amor, não te atormentes. meu amor, não te atormentes. 
Certos ácidos adoçam Certos ácidos adoçam 
a boca murcha dos velhos a boca murcha dos velhos 
e quando os dentes não mordem e quando os dentes não mordem 
e quando os braços não prendem e quando os braços não prendem 
o amor faz uma cócega o amor faz uma cócega 
o amor desenha uma curva o amor desenha uma curva 
propõe uma geometria. propõe uma geometria. 
 
Amor é bicho instruído. Amor é bicho instruído. 
Olha: o amor pulou o muro Olha: o amor pulou o muro 
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o amor subiu na árvore o amor subiu na árvore 
em tempo de se estrepar. em tempo de se estrepar. 
Pronto, o amor se estrepou. Pronto, o amor se estrepou. 
Daqui estou vendo o sangue Daqui estou vendo o sangue 
que escorre do corpo andrógino. que escorre do corpo andrógino. 
Essa ferida, meu bem, Essa ferida, meu bem, 
às vezes não sara nunca às vezes não sara nunca 
às vezes sara amanhã. às vezes sara amanhã. 
 
Daqui estou vendo o amor Daqui estou vendo o amor 
irritado, desapontado, irritado, desapontado, 
mas também vejo outras coisas: mas também vejo outras coisas: 
vejo corpos, vejo almas vejo corpos, vejo almas 
vejo beijos que se beijam vejo beijos que se beijam 
ouço mãos que se conversam ouço mãos que se conversam 
e que viajam sem mapa. e que viajam sem mapa. 
Vejo muitas outras coisas Vejo muitas outras coisas 
que não ouso compreender...que não ouso compreender...
O poema fala sobre o poder transformador do sentimento amoroso e as emoções
contraditórias que gera no sujeito lírico. A paixão súbita altera os comportamentos de
homens e mulheres: basta uma "cantiga de amor sem eira / nem beira" para virar "o mundo
de cabeça para baixo", subvertendo as regras sociais.
Assim, o amor surge personificado, uma figura andrógina que invade a casa e o coração do eu
lírico, afetando até a sua saúde ("cardíaco e melancólico"). A antítese entre as "uvas meio
verdes" e os "desejos já maduros" parece ser uma alusão às expectativas românticas que
frequentemente causam frustração nos amantes. Mesmo quando "verde" e ácido, o amor
pode adoçar a boca daquele que o vive.
Selvagem e esperto como um "bicho instruído", o amor é corajoso, temerário, segue seu
caminho correndo todos os riscos. Muitas vezes, esses riscos geram sofrimento e perda,
simbolizada aqui com a figura caindo da árvore ("Pronto, o amor se estrepou").
Usando um tom humorístico e quase infantil, o sujeito parece relativizar esse sofrimento,
encarando-o como parte das aventuras e desventuras cotidianas.
A imagem do amor no chão, se esvaindo em sangue, simboliza o coração partido do eu lírico.
Trata-se de um final trágico que deixa uma ferida, que não se sabe quando passará ("às vezes
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não sara nunca / às vezes sara amanhã"). Mesmo machucado, "irritado, desapontado"
depois da desilusão, continua vendo novos amores nascendo, mantendo uma inexplicável
esperança.
Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.Não serei o poeta de um mundo caduco. 
Também não cantarei o mundo futuro.Também não cantarei o mundo futuro. 
Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estou preso à vida e olho meus companheiros. 
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. 
Entre eles, considero a enorme realidade.Entre eles, considero a enorme realidade. 
O presente é tão grande, não nos afastemos.O presente é tão grande, não nos afastemos. 
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, 
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, 
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, 
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. 
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, 
a vida presente.a vida presente.
Como uma espécie de arte poética, esta composição expressa as intenções e os princípios do
sujeito enquanto escritor. Se demarcando de movimentos e tendências literárias anteriores,
declara que não escreverá sobre um "mundo caduco". Também afirma que não está
interessado no "mundo futuro". Pelo contrário, tudo o que merece sua atenção é o momento
presente e aqueles que o rodeiam.
Se opondo aos modelos antigos, aos temas comuns e às formas tradicionais, traça suas
próprias diretrizes. Seu objetivo é andar "de mãos dadas" com o tempo presente, retratar sua
realidade, escrever livremente sobre aquilo que vê e pensa..
Balada do Amor através das Idades
Eu te gosto, você me gosta Eu te gosto, você me gosta 
desde tempos imemoriais. desde tempos imemoriais. 
Eu era grego, você troiana, Eu era grego, você troiana, 
troiana mas não Helena. troiana mas não Helena. 
Saí do cavalo de pau Saí do cavalo de pau 
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para matar seu irmão. para matar seu irmão. 
Matei, brigámos, morremos. Matei, brigámos, morremos. 
 
Virei soldado romano, Virei soldado romano, 
perseguidorde cristãos. perseguidor de cristãos. 
Na porta da catacumba Na porta da catacumba 
encontrei-te novamente. encontrei-te novamente. 
Mas quando vi você nua Mas quando vi você nua 
caída na areia do circo caída na areia do circo 
e o leão que vinha vindo, e o leão que vinha vindo, 
dei um pulo desesperado dei um pulo desesperado 
e o leão comeu nós dois. e o leão comeu nós dois. 
 
Depois fui pirata mouro, Depois fui pirata mouro, 
flagelo da Tripolitânia. flagelo da Tripolitânia. 
Toquei fogo na fragata Toquei fogo na fragata 
onde você se escondia onde você se escondia 
da fúria de meu bergantim. da fúria de meu bergantim. 
Mas quando ia te pegar Mas quando ia te pegar 
e te fazer minha escrava, e te fazer minha escrava, 
você fez o sinal-da-cruz você fez o sinal-da-cruz 
e rasgou o peito a punhal... e rasgou o peito a punhal... 
Me suicidei também. Me suicidei também. 
 
Depois (tempos mais amenos) Depois (tempos mais amenos) 
fui cortesão de Versailles, fui cortesão de Versailles, 
espirituoso e devasso. espirituoso e devasso. 
Você cismou de ser freira... Você cismou de ser freira... 
Pulei muro de convento Pulei muro de convento 
mas complicações políticas mas complicações políticas 
nos levaram à guilhotina. nos levaram à guilhotina. 
 
Hoje sou moço moderno, Hoje sou moço moderno, 
remo, pulo, danço, boxo, remo, pulo, danço, boxo, 
tenho dinheiro no banco. tenho dinheiro no banco. 
Você é uma loura notável, Você é uma loura notável, 
boxa, dança, pula, rema. boxa, dança, pula, rema. 
Seu pai é que não faz gosto. Seu pai é que não faz gosto. 
Mas depois de mil peripécias, Mas depois de mil peripécias, 
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eu, herói da Paramount, eu, herói da Paramount, 
te abraço, beijo e casamos.te abraço, beijo e casamos.
Logo nos dois versos iniciais do poema percebemos que o sujeito e sua amada são almas
gêmeas, destinadas a encontros e desencontros ao longo dos séculos. Apesar do amor que os
une, vivem paixões proibidas em todas as encarnações, condenados a nascer como inimigos
naturais: grego e troiana, romano e cristã.
Em todas as idades, terminam de forma trágica, com assassinatos, guilhotinas e até suicídio,
como Romeu e Julieta. Nas primeiras três estrofes do poema, o sujeito narra todos os
fracassos e provações que o casal teve que enfrentar.
Por oposição, na última estrofe fala da vida presente, exaltando suas qualidades e se
descrevendo como um bom partido. Face a tantas peripécias, o único obstáculo que
enfrentam agora (o pai que não aprova o romance) não parece tão grave assim. Com humor,
o eu poético parece convencer sua namorada que desta vez merecem um final feliz, digno de
cinema.
O poema deixa uma mensagem de esperança: devemos sempre lutar pelo amor, mesmo
quando ele parece impossível.
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.Por muito tempo achei que a ausência é falta. 
E lastimava, ignorante, a falta.E lastimava, ignorante, a falta. 
Hoje não a lastimo.Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência.Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim.A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres,que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência, essa ausência assimilada,porque a ausência, essa ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim.ninguém a rouba mais de mim.
A produção poética de Carlos Drummond de Andrade tem como um dos seus focos principais
a reflexão sobre a passagem do tempo, a memória e a saudade. Nesta composição, o sujeito
lírico começa por estabelecer a diferença entre "ausência" e "falta".
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Com a experiência de vida, percebeu que saudade não é sinônimo de falta mas o seu oposto:
uma presença constante.
Assim, a ausência é algo que o acompanha a todo o momento, que é assimilado na sua
memória e passa a fazer parte dele. Tudo aquilo que perdemos e do qual sentimos saudade
está eternizado em nós e, por isso, permanece connosco.
Poema da necessidade
É preciso casar João,É preciso casar João, 
é preciso suportar Antônio,é preciso suportar Antônio, 
é preciso odiar Melquíadesé preciso odiar Melquíades 
é preciso substituir nós todos.é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,É preciso salvar o país, 
é preciso crer em Deus,é preciso crer em Deus, 
é preciso pagar as dívidas,é preciso pagar as dívidas, 
é preciso comprar um rádio,é preciso comprar um rádio, 
é preciso esquecer fulana.é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque,É preciso estudar volapuque, 
é preciso estar sempre bêbado,é preciso estar sempre bêbado, 
é preciso ler Baudelaire,é preciso ler Baudelaire, 
é preciso colher as floresé preciso colher as flores 
de que rezam velhos autores.de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homensÉ preciso viver com os homens 
é preciso não assassiná-los,é preciso não assassiná-los, 
é preciso ter mãos pálidasé preciso ter mãos pálidas 
e anunciar O FIM DO MUNDO.e anunciar O FIM DO MUNDO.
Este é um poema com forte crítica social que aponta os vários modos como a sociedade
condiciona a vida dos indivíduos, ditando aquilo que devemos e "precisamos" fazer.
De modo irônico, Drummond reproduz todas essas expetativas e regras de conduta,
mostrando até que ponto a sociedade regula as nossas relações pessoais. Refere pressões
como a necessidade de casar e constituir família, o ambiente de competição e hostilidade.
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A segunda estrofe, mencionando patriotismo e fé em Deus, parece ecoar os discursos
ditatoriais. Existe também a menção do sistema capitalista, a necessidade de "pagar" e
"consumir". Citando vários exemplos, o sujeito enumera as formas como a sociedade nos
manipula, isola e enfraquece através do medo.
A Máquina do Mundo
E como eu palmilhasse vagamenteE como eu palmilhasse vagamente 
uma estrada de Minas, pedregosa,uma estrada de Minas, pedregosa, 
e no fecho da tarde um sino roucoe no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatosse misturasse ao som de meus sapatos 
que era pausado e seco; e aves pairassemque era pausado e seco; e aves pairassem 
no céu de chumbo, e suas formas pretasno céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindolentamente se fossem diluindo 
na escuridão maior, vinda dos montesna escuridão maior, vinda dos montes 
e de meu próprio ser desenganado,e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriua máquina do mundo se entreabriu 
para quem de a romper já se esquivavapara quem de a romper já se esquivava 
e só de o ter pensado se carpia.e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,Abriu-se majestosa e circunspecta, 
sem emitir um som que fosse impurosem emitir um som que fosse impuro 
nem um clarão maior que o tolerávelnem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeçãopelas pupilas gastas na inspeção 
contínua e dolorosa do deserto,contínua e dolorosa do deserto, 
e pela mente exausta de mentare pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcendetoda uma realidade que transcende 
a própria imagem sua debuxadaa própria imagem sua debuxada 
no rosto do mistério, nos abismos.no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se emcalma pura, e convidandoAbriu-se em calma pura, e convidando 
quantos sentidos e intuições restavamquantos sentidos e intuições restavam 
a quem de os ter usado os já perderaa quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,e nem desejaria recobrá-los, 
se em vão e para sempre repetimosse em vão e para sempre repetimos 
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os mesmos sem roteiro tristes périplos,os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,convidando-os a todos, em coorte, 
a se aplicarem sobre o pasto inéditoa se aplicarem sobre o pasto inédito 
da natureza mítica das coisas,da natureza mítica das coisas,
assim me disse, embora voz algumaassim me disse, embora voz alguma 
ou sopro ou eco o simples percussãoou sopro ou eco o simples percussão 
atestasse que alguém, sobre a montanha,atestasse que alguém, sobre a montanha,
a outro alguém, noturno e miserável,a outro alguém, noturno e miserável, 
em colóquio se estava dirigindo:em colóquio se estava dirigindo: 
“O que procuraste em ti ou fora de“O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,teu ser restrito e nunca se mostrou, 
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,mesmo afetando dar-se ou se rendendo, 
e a cada instante mais se retraindo,e a cada instante mais se retraindo,
olha, repara, ausculta: essa riquezaolha, repara, ausculta: essa riqueza 
sobrante a toda pérola, essa ciênciasobrante a toda pérola, essa ciência 
sublime e formidável, mas hermética,sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação da vida,essa total explicação da vida, 
esse nexo primeiro e singular,esse nexo primeiro e singular, 
que nem concebes mais, pois tão esquivoque nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardentese revelou ante a pesquisa ardente 
em que te consumiste… vê, contempla,em que te consumiste… vê, contempla, 
abre teu peito para agasalhá-lo.”abre teu peito para agasalhá-lo.”
As mais soberbas pontes e edifícios,As mais soberbas pontes e edifícios, 
o que nas oficinas se elabora,o que nas oficinas se elabora, 
o que pensado foi e logo atingeo que pensado foi e logo atinge
distância superior ao pensamento,distância superior ao pensamento, 
os recursos da terra dominados,os recursos da terra dominados, 
e as paixões e os impulsos e os tormentose as paixões e os impulsos e os tormentos
e tudo que define o ser terrestree tudo que define o ser terrestre 
ou se prolonga até nos animaisou se prolonga até nos animais 
e chega às plantas para se embebere chega às plantas para se embeber
03/05/2019 25 melhores poemas de Carlos Drummond de Andrade analisados e comentados - Cultura Genial
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no sono rancoroso dos minérios,no sono rancoroso dos minérios, 
dá volta ao mundo e torna a se engolfardá volta ao mundo e torna a se engolfar 
na estranha ordem geométrica de tudo,na estranha ordem geométrica de tudo,
e o absurdo original e seus enigmas,e o absurdo original e seus enigmas, 
suas verdades altas mais que tantossuas verdades altas mais que tantos 
monumentos erguidos à verdade;monumentos erguidos à verdade;
e a memória dos deuses, e o solenee a memória dos deuses, e o solene 
sentimento de morte, que florescesentimento de morte, que floresce 
no caule da existência mais gloriosa,no caule da existência mais gloriosa,
tudo se apresentou nesse relancetudo se apresentou nesse relance 
e me chamou para seu reino augusto,e me chamou para seu reino augusto, 
afinal submetido à vista humana.afinal submetido à vista humana.
Mas, como eu relutasse em responderMas, como eu relutasse em responder 
a tal apelo assim maravilhoso,a tal apelo assim maravilhoso, 
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,
a esperança mais mínima — esse aneloa esperança mais mínima — esse anelo 
de ver desvanecida a treva espessade ver desvanecida a treva espessa 
que entre os raios do sol inda se filtra;que entre os raios do sol inda se filtra;
como defuntas crenças convocadascomo defuntas crenças convocadas 
presto e fremente não se produzissempresto e fremente não se produzissem 
a de novo tingir a neutra facea de novo tingir a neutra face
que vou pelos caminhos demonstrando,que vou pelos caminhos demonstrando, 
e como se outro ser, não mais aquelee como se outro ser, não mais aquele 
habitante de mim há tantos anos,habitante de mim há tantos anos,
passasse a comandar minha vontadepassasse a comandar minha vontade 
que, já de si volúvel, se cerravaque, já de si volúvel, se cerrava 
semelhante a essas flores reticentessemelhante a essas flores reticentes
em si mesmas abertas e fechadas;em si mesmas abertas e fechadas; 
como se um dom tardio já não foracomo se um dom tardio já não fora 
apetecível, antes despiciendo,apetecível, antes despiciendo,
baixei os olhos, incurioso, lasso,baixei os olhos, incurioso, lasso, 
desdenhando colher a coisa ofertadesdenhando colher a coisa oferta 
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que se abria gratuita a meu engenho.que se abria gratuita a meu engenho.
A treva mais estrita já pousaraA treva mais estrita já pousara 
sobre a estrada de Minas, pedregosa,sobre a estrada de Minas, pedregosa, 
e a máquina do mundo, repelida,e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,se foi miudamente recompondo, 
enquanto eu, avaliando o que perdera,enquanto eu, avaliando o que perdera, 
seguia vagaroso, de mão pensas.seguia vagaroso, de mão pensas.
"A Máquina do Mundo" é, sem dúvida, uma das composições mais majestosas de Carlos
Drummond de Andrade, eleito o melhor poema brasileiro de todos tempos pela Folha de São
Paulo.
O tema da máquina do mundo (as engrenagens que condicionam o modo como o universo
funciona) é um tema bastante explorado pela ciência e a literatura medieval e renascentista.
Drummond faz referência ao canto X dos Lusíadas, passagem onde Tétis mostra a Vasco da
Gama os mistérios do mundo e a força do destino.
O episódio simboliza a grandeza da construção divina face à fragilidade humana. No texto de
Camões, é evidente o entusiasmo do homem face ao conhecimento que lhe é concedido; o
mesmo não acontece no poema do autor brasileiro.
A ação é situada em Minas, terra natal do autor, o que o aproxima do sujeito lírico. Ele está
contemplando a natureza quando é atingido por uma espécie de epifania. Nas primeiras três
estrofes, é descrito o seu estado de espírito: um "ser desenganado", cansado e sem
esperanças.
A compreensão súbita do destino o assusta e desvia. A perfeição divina apenas contrasta com
a sua decadência humana, opondo o sujeito à máquina e evidenciando a sua inferioridade.
Assim, rejeita a revelação, recusa compreender o sentido da própria existência por cansaço,
falta de curiosidade e interesse. Permanece, deste modo, no mundo caótico e desordenado
que conhece. 
Ainda que mal
Ainda que mal pergunte,Ainda que mal pergunte, 
ainda que mal respondas;ainda que mal respondas; 
ainda que mal te entenda,ainda que mal te entenda, 
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ainda que mal repitas;ainda que mal repitas; 
ainda que mal insista,ainda que mal insista, 
ainda que mal desculpes;ainda que mal desculpes; 
ainda que mal me exprima,ainda que mal me exprima, 
ainda que mal me julgues;ainda que mal me julgues; 
ainda que mal me mostre,ainda que mal me mostre, 
ainda que mal mevejas;ainda que mal me vejas; 
ainda que mal te encare,ainda que mal te encare, 
ainda que mal te furtes;ainda que mal te furtes; 
ainda que mal te siga,ainda que mal te siga, 
ainda que mal te voltes;ainda que mal te voltes; 
ainda que mal te ame,ainda que mal te ame, 
ainda que mal o saibas;ainda que mal o saibas; 
ainda que mal te agarre,ainda que mal te agarre, 
ainda que mal te mates;ainda que mal te mates; 
ainda assim te perguntoainda assim te pergunto 
e me queimando em teu seio,e me queimando em teu seio, 
me salvo e me dano: amor.me salvo e me dano: amor.
Neste poema, o sujeito lírico manifesta todas as contradições e imperfeições que atravessam
os relacionamentos amorosos. Apesar de todas as dificuldades de comunicação e
compreensão, da falta de verdadeiro entendimento ou intimidade entre o casal, o amor
prevalece.
Embora por vezes duvide da própria paixão ("ainda que mal te ame"), mesmo estando ciente
da precariedade do sentimento, permanece "queimando" em seus braços. O amor é,
simultaneamente, a salvação e a ruína do sujeito.
Canção Final
Oh! se te amei, e quanto!Oh! se te amei, e quanto! 
Mas não foi tanto assim.Mas não foi tanto assim. 
Até os deuses claudicamAté os deuses claudicam 
em nugas de aritmética.em nugas de aritmética. 
Meço o passado com réguaMeço o passado com régua 
de exagerar as distâncias.de exagerar as distâncias. 
Tudo tão triste, e o mais tristeTudo tão triste, e o mais triste 
é não ter tristeza alguma.é não ter tristeza alguma. 
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É não venerar os códigosÉ não venerar os códigos 
de acasalar e sofrer.de acasalar e sofrer. 
É viver tempo de sobraÉ viver tempo de sobra 
sem que me sobre miragem.sem que me sobre miragem. 
Agora vou-me. Ou me vão?Agora vou-me. Ou me vão? 
Ou é vão ir ou não ir?Ou é vão ir ou não ir? 
Oh! se te amei, e quanto,Oh! se te amei, e quanto, 
quer dizer, nem tanto assim.quer dizer, nem tanto assim.
Com "Canção Final", o poeta exprime de forma primorosa as contradições que vivemos no
término de um relacionamento. O primeiro verso anuncia o final de um romance e a
intensidade da sua paixão pela mulher perdida. Logo depois, ele vai se contradizer ("não foi
tanto assim"), relativizando a força do sentimento.
O tom dos versos seguintes é de indiferença e desdém. O eu lírico confessa que nem os
próprios deuses conseguem saber com exatidão aquilo que ele sentiu. A memória é apontada
como uma "régua de exagerar as distâncias", que aumenta e exagera tudo.
Além da incerteza, o eu poético desabafa sobre o vazio que o consome: não tem sequer a
tristeza, já não tem nem a rotina de "acasalar e sofrer". Sem esperança, não tem nem uma
"miragem", uma ilusão que o faça continuar.
O Deus de Cada Homem
Quando digo “meu Deus”,Quando digo “meu Deus”, 
afirmo a propriedade.afirmo a propriedade. 
Há mil deuses pessoaisHá mil deuses pessoais 
em nichos da cidade.em nichos da cidade. 
 
Quando digo “meu Deus”,Quando digo “meu Deus”, 
crio cumplicidade.crio cumplicidade. 
Mais fraco, sou mais forteMais fraco, sou mais forte 
do que a desirmandade.do que a desirmandade. 
 
Quando digo “meu Deus”,Quando digo “meu Deus”, 
grito minha orfandade.grito minha orfandade. 
O rei que me ofereçoO rei que me ofereço 
rouba-me a liberdade.rouba-me a liberdade. 
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Quando digo “meu Deus”,Quando digo “meu Deus”, 
choro minha ansiedade.choro minha ansiedade. 
Não sei que fazer deleNão sei que fazer dele
O poema é uma reflexão acerca da condição humana e da sua difícil conexão com a força
divina. Na primeira estrofe, o sujeito aponta que a relação de cada um com Deus é particular,
só sua. Quando dizemos "meu Deus", não estamos perante uma divindade única mas
múltiplos "deuses pessoais". Cada um imagina seu próprio criador, a fé se processa de
formas diferentes nos indivíduos.
Na estrofe seguinte, o sujeito sublinha que o uso do pronome possessivo "meu" gera
proximidade. Focando na"cumplicidade" entre o humano e o divino, evoca a sensação de
companhia e amparo.
A antítese na terceira estrofe ("Mais fraco, sou mais forte") reflete a relação paradoxal deste
sujeito com Deus. Por um lado, assumindo que necessita da proteção divina, reconhece a sua
fragilidade. Por outro, se fortalece através da fé, superando a "desirmandade", a solidão e a
indiferença.
Este laivo de luz se dilui nos versos seguintes, quando o eu lírico define sua fé como uma
forna "gritar" sua "orfandade", desabafar seu desespero. Ele se sente abandonado por Deus,
entregue à própria sorte.
Acreditando na figura do Divino Criador, se sente preso por ele, submetido aos seus decretos
("O rei que me ofereço / rouba-me a liberdade") e sem poder para alterar a própria vida.
A composição exprime, deste modo, a "ansiedade" do sujeito e seu conflito interior entre a fé
e a descrença. Através da poesia manifesta, simultaneamente, a vontade de acreditar em
Deus e o medo de que Ele não exista.
Memória
Amar o perdidoAmar o perdido 
deixa confundidodeixa confundido 
este coração.este coração. 
 
Nada pode o olvidoNada pode o olvido 
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contra o sem sentidocontra o sem sentido 
apelo do Não.apelo do Não. 
 
As coisas tangíveisAs coisas tangíveis 
tornam-se insensíveistornam-se insensíveis 
à palma da mãoà palma da mão 
 
Mas as coisas findasMas as coisas findas 
muito mais que lindas,muito mais que lindas, 
essas ficarão.essas ficarão.
Em "Memória", o sujeito poético confessa que está confuso e magoado por amar aquilo que
já perdeu. Por vezes, a superação simplesmente não acontece e esse processo não pode ser
forçado.
A composição fala daqueles momentos em que continuamos amando mesmo quando não
devemos fazê-lo. Movido pelo "sem sentido / apelo do Não", o sujeito insiste quando é
rejeitado. Preso ao passado, deixa de prestar atenção ao tempo presente, aquilo que ainda
pode tocar e viver. Contrariamente à efemeridade do agora, o passado, aquilo que já
terminou, é eterno quando se instala na memória.
Não se mate
Carlos, sossegue, o amorCarlos, sossegue, o amor 
é isso que você está vendo:é isso que você está vendo: 
hoje beija, amanhã não beija,hoje beija, amanhã não beija, 
depois de amanhã é domingodepois de amanhã é domingo 
e segunda-feira ninguém sabee segunda-feira ninguém sabe 
o que será.o que será. 
 
Inútil você resistirInútil você resistir 
ou mesmo suicidar-se.ou mesmo suicidar-se. 
Não se mate, oh não se mate,Não se mate, oh não se mate, 
Reserve-se todo paraReserve-se todo para 
as bodas que ninguém sabeas bodas que ninguém sabe 
quando virão,quando virão, 
se é que virão.se é que virão. 
 
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O amor, Carlos, você telúrico,O amor, Carlos, você telúrico, 
a noite passou em você,a noite passou em você, 
e os recalques se sublimando,e os recalques se sublimando, 
lá dentro um barulho inefável,lá dentro um barulho inefável, 
rezas,rezas, 
vitrolas,vitrolas, 
santos que se persignam,santos que se persignam, 
anúncios do melhor sabão,anúncios do melhor sabão, 
barulho que ninguém sabebarulho que ninguém sabe 
de quê, praquê.de quê, praquê. 
 
Entretanto você caminhaEntretanto você caminha 
melancólico e vertical.melancólico e vertical. 
Vocêé a palmeira, você é o gritoVocê é a palmeira, você é o grito 
que ninguém ouviu no teatroque ninguém ouviu no teatro 
e as luzes todas se apagam.e as luzes todas se apagam. 
O amor no escuro, não, no claro,O amor no escuro, não, no claro, 
é sempre triste, meu filho, Carlos,é sempre triste, meu filho, Carlos, 
mas não diga nada a ninguém,mas não diga nada a ninguém, 
ninguém sabe nem saberá.ninguém sabe nem saberá. 
Não se mateNão se mate
"Carlos" é o destinatário da mensagem deste poema. Mais uma vez, parece existir uma
aproximação entre o autor e o sujeito que reflete e fala consigo mesmo, procurando se
aconselhar e apaziguar.
De coração partido, lembra que o amor, como a própria vida, é inconstante, passageiro,
repleto de incertezas ("hoje beija, amanhã não beija"). Afirma, então, que não tem como fugir
disso, nem através do suicídio. O que resta é esperar "as bodas", o amor correspondido,
estável. Para seguir em frente, precisa acreditar no final feliz, ainda que não chegue nunca.
Caminha firme, "vertical", persiste mesmo derrotado. Melancólico, durante a noite, procura
convencer a si mesmo que deve avançar com a sua vida, apesar da vontade de morrer, de se
matar. Assume que o amor "é sempre triste" mas sabe que deve manter segredo, não pode
partilhar o sofrimento com ninguém.
Apesar de toda a desilusão, o poema transmite uma réstia de esperança, que o sujeito lírico
procura cultivar para continuar vivendo. Embora seja a sua maior angústia e pareça a sua
maior perdição, o amor surge também como o último reduto, no qual precisamos ter fé.
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O tempo passa? Não passa
O tempo passa? Não passaO tempo passa? Não passa 
no abismo do coração.no abismo do coração. 
Lá dentro, perdura a graçaLá dentro, perdura a graça 
do amor, florindo em canção.do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproximaO tempo nos aproxima 
cada vez mais, nos reduzcada vez mais, nos reduz 
a um só verso e uma rimaa um só verso e uma rima 
de mãos e olhos, na luz.de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumidoNão há tempo consumido 
nem tempo a economizar.nem tempo a economizar. 
O tempo é todo vestidoO tempo é todo vestido 
de amor e tempo de amar.de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu, amada,O meu tempo e o teu, amada, 
transcendem qualquer medida.transcendem qualquer medida. 
Além do amor, não há nada,Além do amor, não há nada, 
amar é o sumo da vida.amar é o sumo da vida.
São mitos de calendárioSão mitos de calendário 
tanto o ontem como o agora,tanto o ontem como o agora, 
e o teu aniversárioe o teu aniversário 
é um nascer toda a hora.é um nascer toda a hora.
E nosso amor, que brotouE nosso amor, que brotou 
do tempo, não tem idade,do tempo, não tem idade, 
pois só quem amapois só quem ama 
escutou o apelo da eternidade.escutou o apelo da eternidade.
Neste poema, é evidente o contraste entre o tempo exterior, real, e o tempo interior do
sujeito, a sua percepção. Embora envelheça e sinta as marcas da idade superficialmente, o eu
lírico não sente a passagem do tempo na sua memória ou nos seus sentimentos, que
permanecem iguais. Esta diferença de ritmos se deve ao amor que o acompanha. A rotina
parece unir mais e mais os amantes, que se transformam em um só verso, um só ser.
Anuncia, movido pela paixão, que a vida não deve ser poupada nem desperdiçada: o nosso
tempo deve ser dedicado ao amor, propósito maior do ser humano. Juntos, os amantes não
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precisam se preocupar com prazos, datas ou "calendários". Vivem em um mundo paralelo,
afastado dos outros e entregues um ao outro, porque sabem que "além do amor / não há
nada".
Subvertendo regras universais, misturam passado, presente e futuro, como se pudessem
renascer a cada segundo por estarem unidos. Deste modo, a composição ilustra o poder
mágico e transformador do sentimento amoroso. Algo que faz os amantes se sentirem e
querem ser imortais: "só quem ama/ escutou o apelo da eternidade".
Consolo na praia
Vamos, não chores.Vamos, não chores. 
A infância está perdida.A infância está perdida. 
A mocidade está perdida.A mocidade está perdida. 
Mas a vida não se perdeu.Mas a vida não se perdeu. 
O primeiro amor passou.O primeiro amor passou. 
O segundo amor passou.O segundo amor passou. 
O terceiro amor passou.O terceiro amor passou. 
Mas o coração continua.Mas o coração continua. 
Perdeste o melhor amigo.Perdeste o melhor amigo. 
Não tentaste qualquer viagem.Não tentaste qualquer viagem. 
Não possuis carro, navio, terra.Não possuis carro, navio, terra. 
Mas tens um cão.Mas tens um cão. 
Algumas palavras duras,Algumas palavras duras, 
em voz mansa, te golpearam.em voz mansa, te golpearam. 
Nunca, nunca cicatrizam.Nunca, nunca cicatrizam. 
Mas, e o humour?Mas, e o humour? 
A injustiça não se resolve.A injustiça não se resolve. 
À sombra do mundo erradoÀ sombra do mundo errado 
murmuraste um protesto tímido.murmuraste um protesto tímido. 
Mas virão outros.Mas virão outros. 
Tudo somado, deviasTudo somado, devias 
precipitar-te, de vez, nas águas.precipitar-te, de vez, nas águas. 
Estás nu na areia, no vento…Estás nu na areia, no vento… 
Dorme, meu filho.Dorme, meu filho.
Assim como em outras composições do autor, estamos perante um desabafo do sujeito que
parece tentar apaziguar a própria tristeza. O destinatário da mensagem de consolo, tratado
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na segunda pessoa, pode também ser o próprio leitor. Refletindo sobre a sua jornada e a
passagem do tempo, constata que muita coisa se perdeu ("a infância", a "mocidade") mas a
vida continua.
Conheceu várias paixões, sofreu perdas e desgostos mas soube conservar a capacidade de
amar, apesar de todos os relacionamentos falhados. Fazendo um balanço, enumera o que
não realizou e o que não tem, recordando dores e ofensas passadas e revelando que ainda
são feridas abertas.
Quase no final da vida, olha para trás, reconhecendo aquilo em que falhou. Perante a
injustiça social, o "mundo errado", sabe que tentou se rebelar mas seu protesto foi "tímido",
não fez diferença. Mesmo assim, parece consciente de que fez a sua parte e de que "outros
virão".
Com a esperança depositada nas gerações futuras, analisando profundamente sua existência
e cansaço, conclui que deveria se jogar no mar, terminar com tudo. Como se murmurasse
uma canção de ninar, consola seu espírito e espera a morte como se fosse o sono.
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