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UNEP 2004

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Capítulo
1
Integração entre o
meio ambiente e o
desenvolvimento:
1972–2002
UNEP, Tom Nebbia, Ecuador, Topham PicturePoint
2 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
E mbora o meio ambiente sempre tenha sidoessencial para a vida, a preocupação com oequilíbrio entre a vida humana e o meio ambi-
ente só assumiu dimensões internacionais durante a
década de 1950. Nos anos seguintes, peças supos-
tamente desconexas de um quebra-cabeças global
começaram a se encaixar de forma a revelar um mundo
com um futuro incerto.
Livros e artigos inovadores, como “Primavera
Silenciosa”, de Rachel Carson (Silent Spring, Carson,
1962) e The Tragedy of the Commons (“A Tragédia
dos Bens Comuns”), de Garrett Hardin (Hardin, 1968),
quebraram paradigmas, motivando vários países e a
comunidade internacional em geral a agir. Uma série
de catástrofes jogou mais lenha na fogueira ambiental:
descobriu-se que a droga talidomida causa má-forma-
ção congênita em recém-nascidos, o navio Torrey
Canyon derramou petróleo ao longo da pitoresca costa
norte da França e cientistas suecos afirmaram que a
morte de peixes e outros organismos em milhares de
lagos da Suécia era resultado do longo alcance de
poluição atmosférica vinda da Europa Ocidental.
No final da década de 1960, as questões
ambientais eram uma preocupação quase que exclusi-
vamente do mundo ocidental. Em países comunistas,
a destruição implacável do meio ambiente em nome da
industrialização continuava de forma incessante. Em
países em desenvolvimento, a preocupação com o meio
ambiente era vista como um luxo do Ocidente. “A po-
breza é a pior forma de poluição”, afirmou a primeira-
ministra da Índia, Indira Ghandi, que desempenhou
um papel essencial no direcionamento da agenda da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambi-
ente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, às
questões dos países em desenvolvimento (Strong,
1999). “Pensamos que, de todas as coisas do mundo,
as pessoas são o que há de mais precioso”, afirmou
Tang Ke, chefe da delegação chinesa na Conferência
de Estocolmo (Clarke e Timberlake, 1982).
No início da década de 1970, a atenção se con-
centrou no meio ambiente biofísico, em questões como
as relacionadas ao manejo da fauna e da flora silves-
tres, a conservação do solo, poluição da água, degra-
dação da terra e desertificação – e o homem era consi-
derado a causa principal desses problemas. No Oci-
dente, havia (e de certa forma ainda há) duas grandes
escolas de pensamento sobre as causas da degrada-
ção ambiental: uma culpava a ganância e a busca im-
placável pelo crescimento econômico; a outra respon-
sabilizava o crescimento populacional. Como obser-
vou um comentarista, “a poluição contínua e a falta de
estabilidade da população são as ameaças reais à nos-
sa maneira de viver e à própria vida” (Stanley
Foundation, 1971).
Essa visão foi resumida no estudo mais famo-
so da época, o modelo computadorizado sobre o futu-
ro global, realizado pelo Clube de Roma, que atraiu a
atenção do mundo. O Clube de Roma era um grupo de
Símbolos
evento
internacional
nova direção
nova instituição
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A tragédia dos bens comuns
“A tragédia dos bens comuns como fonte de
alimentos pode ser evitada pela propriedade
privada, ou algo que se assemelhe formalmente a
isso. Mas o ar e as águas a nossa volta não podem
ser cercados de forma fácil, e assim, a tragédia do
uso dos bens comuns como fossa sanitária deve ser
evitada por outros meios, por leis coercitivas ou
impostos que façam com que seja menos
dispendioso para o poluidor tratar seus agentes
poluentes do que despejá-los sem tratamento no
meio ambiente.”
Fonte: Hardin, 1968
3INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
cerca de 50 homens (e mulheres) autodenominados “sá-
bios” que se reunia regularmente na tentativa de endirei-
tar o mundo, como fazia o grupo de cientistas do movi-
mento Pugwash em relação à Guerra Fria. Publicado com
o título de “Limites do Crescimento” (The Limits to
Growth, Meadows e Meadows, 1972), o modelo do Clu-
be de Roma analisava cinco variáveis: tecnologia, popu-
lação, nutrição, recursos naturais e meio ambiente. A prin-
cipal conclusão do estudo foi a de que, se as tendências
da época continuassem, o sistema global se sobrecarre-
garia e entraria em colapso até o ano 2000. Para que isso
não ocorresse, tanto o crescimento populacional quanto
o crescimento econômico teriam de parar (Meadows e
Meadows, 1972). Embora o estudo “Limites do Cresci-
mento” tenha sido muito criticado, ele tornou pública
pela primeira vez a noção de limites externos – a idéia de
que o desenvolvimento poderia ser limitado pelo tama-
nho finito dos recursos terrestres.
A década de 1970: a base do
ambientalismo moderno
Em 1972, o mundo era bem diferente do que é hoje. A
Guerra Fria ainda dividia a maior parte das nações mais
industrializadas, o período de colonização ainda não
havia chegado ao fim e, embora o e-mail acabasse de
ser inventado (Campbell, 1998), mais de duas décadas
se passariam antes que seu uso se tornasse comum. O
computador de uso pessoal ainda não existia, e o aque-
cimento global acabara de ser mencionado pela pri-
meira vez (SCEP, 1970). Considerava-se que a princi-
pal ameaça à camada de ozônio seria proveniente de
uma vasta frota de aviões supersônicos, o que nunca
viria a se materializar. Embora empresas transnacionais
existissem e estivessem se tornando cada vez mais
poderosas, o conceito de globalização surgiria somente
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Princípios da Declaração de Estocolmo
1. Os direitos humanos devem ser defendidos; o e o
colonialismo devem ser condenados
2. Os recursos naturais devem ser preservados
3. A capacidade da Terra de produzir recursos renováveis deve ser
mantida
4. A fauna e a flora silvestres devem ser preservadas
5. Os recursos não-renováveis devem ser compartilhados, não
esgotados
6. A poluição não deve exceder a capacidade do meio ambiente de
neutralizá-la
7. A poluição danosa aos oceanos deve ser evitada
8. O desenvolvimento é necessário à melhoria do meio ambiente
9. Os países em desenvolvimentorequerem ajuda
10. Os países em desenvolvimento necessitam de preços justos para as
suas exportações, para que realizem a gestão do meio ambiente
11. As políticas ambientais não devem comprometer o
desenvolvimento
12. Os países em desenvolvimento necessitam de recursos para
desenvolver medidas de proteção ambiental
13. É necessário estabelecer um planejamento integrado para o
desenvolvimento
14. Um planejamento racional deve resolver conflitos entre meio
ambiente e desenvolvimento
15. Assentamentos humanos devem ser planejados de forma a
eliminar problemas ambientais
16. Os governos devem planejar suas próprias políticas populacionais
de maneira adequada
17. As instituições nacionais devem planejar o desenvolvimento dos
recursos naturais dos Estados
18. A ciência e a tecnologia devem ser usadas para melhorar o meio
ambiente
19. A educação ambiental é essencial
20. Deve-se promover pesquisas ambientais, principalmente em
países em desenvolvimento
21. Os Estados podem explorar seus recursos como quiserem, desde
que não causem danos a outros
22. Os Estados que sofrerem danos dessa forma devem ser
indenizados
23. Cada país deve estabelecer suas próprias normas
24. Deve haver cooperação em questões internacionais
25. Organizações internacionais devem ajudar a melhorar o meio
ambiente
26. Armas de destruição em massa devem ser eliminadas
apartheid
Fonte: Clarke e Timberlake, 1982
4 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
“Uma das nossas principais responsabilidades nesta Conferência é produzir
uma declaração internacional sobre o meio ambiente humano; um documento
sem uma obrigação legal, mas – esperamos – com autoridade moral, que
inspire nos homens o desejo de viver em harmonia uns com os outros e com
o seu meio ambiente.” — Professor Mostafa K. Tolba, chefe da Delegação do
Egito na Conferência de Estocolmo, diretor- executivo do PNUMA 1975-93
vinte anos depois. Na África do Sul, o apartheid ain-
da vigorava e, na Europa, o Muro de Berlim ainda
estava de pé.
O mundo do início da década de 1970 era, por-
tanto, extremamente polarizado, e de várias maneiras.
Com esse pano de fundo, é surpreendente que a idéia
de uma conferência internacional sobre o meio ambi-
ente tenha sido até mesmo cogitada (pela Suécia, em
1968) e, mais ainda, que ela efetivamente tenha sido
realizada (em Estocolmo, em 1972). E é impressionante
que tal conferência tenha dado origem ao que posteri-
ormente ficaria conhecido como o “espírito de com-
promisso de Estocolmo”, em que representantes de
países desenvolvidos e em desenvolvimento busca-
ram maneiras de conciliar os pontos de vista extrema-
mente divergentes de cada um. A Conferência foi rea-
lizada na Suécia, que havia sofrido sérios danos em
milhares de seus lagos, em conseqüência de chuvas
ácidas resultantes da forte poluição atmosférica na
Europa Ocidental.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Am-
biente Humano, realizada em junho de 1972, foi o even-
to que transformou o meio ambiente em uma questão
de relevância internacional. A Conferência reuniu tan-
to países desenvolvidos quanto em desenvolvimen-
to, mas a antiga União Soviética e a maioria de seus
aliados não compareceram.
A Conferência de Estocolmo produziu uma De-
claração de 26 princípios e um Plano de Ação com 109
recomendações. Algumas metas específicas foram
estabelecidas: uma moratória de dez anos sobre a caça
comercial a baleias, a prevenção a derramamentos de-
liberados de petróleo no mar até 1975 e um relatório
sobre o uso da energia até 1975. A Declaração de Es-
tocolmo sobre o Meio Ambiente Humano e seus prin-
cípios constituíram o primeiro conjunto de “soft law“
(leis internacionais sem aplicação prática, apenas in-
tencionais) para questões ambientais internacionais
(Long, 2000). Os princípios encontram-se para-
fraseados de forma livre no box da página 3.
A Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente Humano
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A origem do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
A Conferência de Estocolmo recomendou a criação de um pequeno
secretariado dentro da Organização das Nações Unidas como núcleo
para ação e coordenação de questões ambientais dentro do sistema
das Nações Unidas. Esse órgão foi criado ainda no ano de 1972, com o
nome de Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
comandado por um diretor-executivo cujas responsabilidades
incluíam:
A missão do PNUMA hoje é “desempenhar o papel de líder e
incentivar parcerias na proteção do meio ambiente, inspirando,
informando e capacitando os países e as pessoas a melhorarem sua
qualidade de vida sem comprometer a das gerações futuras”.
dar apoio ao Conselho Administrativo do PNUMA;
coordenar programas ambientais dentro do sistema da
Organização das Nações Unidas;
prestar assessoria na formulação e implementação de programas
ambientais;
garantir a cooperação da comunidade científica, assim como de
outras comunidades profissionais de todas as regiões do mundo;
prestar assessoria sobre cooperação internacional na área de
meio ambiente; e
apresentar propostas relativas ao planejamento a médio e longo
prazos para programas das Nações Unidas na área de meio
ambiente.
5INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
A Conferência também instituiu o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA – ver
box à esquerda) como “a consciência ambiental do
sistema da Organização das Nações Unidas”.
Pode-se dizer que vários dos marcos ambientais
da década de 1970 foram conseqüência direta de Esto-
colmo. É importante lembrar, no entanto, que a Confe-
rência de Estocolmo foi por si só um reflexo do espíri-
to da época, ou ao menos da visão de muitos no Oci-
dente. Isso posto, é instrutivo listar algumas das prin-
cipais mudanças que se seguiram a Estocolmo:
A Conferência expressou o direito das pessoas
de viverem “em um ambiente de qualidade que
permita uma vida com dignidade e bem-estar”. A
partir de então, várias organizações, incluindo a
Organização da Unidade Africana (OUA) e cerca
de 50 governos ao redor do mundo, adotaram ins-
trumentos ou dispositivos constitucionais reco-
nhecendo o meio ambiente como um direito hu-
mano fundamental (Chenje, Mohamed-Katerere e
Ncube, 1996).
Muitas legislações nacionais sobre o meio ambi-
ente seguiram-se a Estocolmo. Entre 1971 e 1975,
31 importantes leis ambientais em âmbito nacio-
nal foram aprovadas em países da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econô-
mico (OCDE), em comparação com somente 4 no
período entre 1956 e 1960, 10 de 1960 a 1965 e 18
entre 1966 e 1970 (Long, 2000).
O meio ambiente passoua existir ou entrou na
lista de prioridades de várias agendas nacionais e
regionais. Por exemplo, antes da Conferência de
Estocolmo, havia apenas 10 ministérios do meio
ambiente no mundo; em 1982, cerca de 110 países
possuíam ministérios ou departamentos respon-
sáveis por essa pasta (Clarke e Timberlake, 1982).
A conservação da fauna e da flora silvestres foi uma
área em que governos e outros grupos de interesse
obtiveram sucessos notáveis durante a década de
1970. Isso foi o resultado de uma combinação de
ações legais em âmbito mundial que foram (e ainda
são) aplicadas em âmbito nacional com uma eficácia
variável. A base para alguns desses sucessos foi fun-
damentada em acordos ambientais multilaterais como
os seguintes:
1971: Convenção sobre Zonas Úmidas de Impor-
tância Internacional especialmente como Habitat
de Aves Aquáticas (Ramsar);
1972: Convenção sobre a Proteção do Patrimônio
Mundial Cultural e Natural (Patrimônio Mundial);
1973: Convenção sobre o Comércio Internacional
das Espécies da Fauna e Flora Selvagens em Peri-
go de Extinção (CITES); e
1979: Convenção sobre a Conservação das Espé-
cies Migratórias de Animais Silvestres (CMS).
A Convenção de Ramsar é anterior à Conferência de
Estocolmo, já que foi aberta a assinaturas em 1971. A
Convenção, que entrou em vigor dois anos após a Con-
venção em Estocolmo, contava com 130 partes em de-
zembro de 2001. Ela foi desenvolvida principalmente a
partir de atividades realizadas por ONGs na década de
1960 preocupadas com a proteção dos pássaros e de
seu habitat. Embora o foco inicial da Convenção fosse
a conservação de aves aquáticas e de seus habitats,
hoje ela trata da qualidade da água, da produção de
alimentos, da biodiversidade geral e de todas as zonas
úmidas, incluindo zonas costeiras de água salgada.
Acordos ambientais multilaterais
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A Convenção de Ramsar
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6 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
As partes são obrigadas a listar ao menos uma
zona úmida de importância, estabelecer reservas na-
turais, ter bom senso na utilização dessas áreas, in-
centivar o aumento de populações de aves aquáticas
em zonas úmidas apropriadas e fornecer informações
sobre a implementação de políticas relacionadas a es-
sas zonas. Há hoje mais de 1.100 áreas, cobrindo 87,7
milhões de hectares, designadas como sítios Ramsar,
melhorando a conservação da fauna silvestre em dife-
rentes regiões (Ramsar Convention Bureau, 2001).
A Convenção do Patrimônio Mundial, negociada em
1972, é administrada pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco). A Convenção contava com 161 Partes em
meados de 2001. Desde 1972, quando as Ilhas
Galápagos foram colocadas sob a égide da Unesco
como uma “universidade natural de espécies únicas”,
até dezembro de 2001, um total de 144 sítios em dife-
rentes regiões haviam sido designados sítios de
patrimônio natural. Outros 23 sítios foram considera-
dos como sendo de importância natural e cultural
(Unesco, 2001). O impacto da Convenção trouxe mai-
or consciência sobre a importância desses sítios tan-
to para as atuais como para as futuras gerações. No
entanto, o derramamento de petróleo perto das Ilhas
“Todos os povos têm direito a um meio ambiente geral satisfatório, propício
ao seu desenvolvimento.” — Carta Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos, 27 de junho de 1981
Galápagos no início de 2001, colocando várias espéci-
es e seus habitats em perigo, mostra que os sistemas de
gestão ambiental talvez nunca cheguem a ser infalíveis.
Durante a Conferência de Estocolmo, foi relatado que
mais de 150 espécies de aves e animais já haviam sido
exterminadas e que cerca de outras mil espécies se
encontravam ameaçadas de extinção (Comissão para
Estudar a Organização da Paz, 1972). Uma Comissão
da Organização das Nações Unidas recomendou a
imediata identificação de espécies ameaçadas de
extinção, a conclusão de acordos adequados, a cria-
ção de instituições que cuidassem da conservação da
fauna e da flora silvestres e a regulamentação do co-
mércio internacional de espécies em perigo de extinção.
A recomendação da Comissão basicamente
endossava uma resolução, de 1963, de membros da
União Internacional para a Conservação da Natureza
(UICN), o que delineou a redação da Convenção CI-
TES. A Convenção, que foi adotada em 1973 e entrou
em vigor dois anos depois, controla e/ou proíbe o
comércio internacional de espécies ameaçadas de
extinção, o que inclui cerca de 5 mil espécies animais e
25 mil espécies de plantas (CITES Secretariat, 2001).
Controvérsias em relação a espécies de maior desta-
que, como o elefante africano e as baleias, com fre-
qüência desviam a atenção do que foi feito em prol de
outras espécies.
Em termos de ações tangíveis, a Conferência de Esto-
colmo parece ter conseguido muito. Embora muitas
das suas 109 recomendações ainda não tenham sido
aplicadas, elas servem – hoje em dia tanto quanto an-
“As pessoas não se satisfazem mais apenas com declarações. Elas exigem
ações firmes e resultados concretos. Esperam que, ao identificar um
problema, as nações do mundo tenham vitalidade para agir.” —
Primeiro-ministro sueco Olof Palme, cujo país sediou a Conferência de
Estocolmo, 1972
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A Convenção do Patrimônio Mundial
A CITES
Outras realizações
7INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
Imagens Landsat do Rio Saloum, no Senegal, em 5 de novembro de 1972 (superior) e em 31 de
outubro de 1992 mostram quanto da floresta de mangue (áreas em vermelho escuro) desapareceu
em vinte anos, mesmo em uma área protegida.
tes – como metas importantes. De igual importância, no
entanto, foi o sucesso da Conferência na redução da
diferença entre os pontos de vista dos países desen-
volvidos e dos em desenvolvimento. Uma primeira ten-
tativa com tal objetivo havia sido feita em uma confe-
rênciaem Founex, na Suíça, em 1969, e o Relatório de
Founex de junho de 1971 identificou o desenvolvimen-
to e o meio ambiente como “dois lados da mesma moe-
da” (UNEP, 1981). O Comitê de Redação e Planejamento
para a Conferência de Estocolmo observou, em seu re-
latório de abril de 1972, que a “proteção ambiental não
pode ser usada como pretexto para que se desacelere o
progresso econômico de países emergentes”.
Outros avanços ocorreram em 1974, quando
foi realizado um simpósio de especialistas presidido
por Barbara Ward em Cocoyoc, no México. Organiza-
do pelo PNUMA e pela Conferência das Nações Uni-
das sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD),
o Simpósio identificou os fatores sociais e econômi-
cos que levam à deterioração ambiental (UNEP/
UNCTAD, 1974). A Declaração de Cocoyoc, o relató-
rio formal publicado pelo Simpósio, influiu na mudan-
ça de atitude dos principais pensadores ambientais. O
que foi dito em Cocoyoc serviu como o primeiro pará-
grafo da “Estratégia de Conservação Mundial”,
publicada em 1980 (ver página 10) e foi reafirmado no
GEO-2000, de 1999: “Os impactos destrutivos combi-
nados de uma maioria carente lutando para sobrevi-
ver e uma minoria rica consumindo a maior parte dos
recursos terrestres têm comprometido os próprios
meios que permitem a todas as pessoas sobreviver e
prosperar.” (UNEP/UNCTAD, 1974).
Outras afirmações feitas na Declaração de
Cocoyoc demonstram uma consciência sobre a difi-
culdade de se atender às necessidades humanas de
forma sustentável em um meio ambiente sob pressão:
O problema básico de hoje em dia não é o de uma
escassez material absoluta, mas sim de má distribui-
ção e uso, do ponto de vista econômico e social.
A tarefa dos estadistas é orientar os países em
direção a um novo sistema mais capaz de satisfa-
zer os limites internos das necessidades humanas
básicas para todas as pessoas do mundo, e fazê-
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Fonte: Landsat, 2001
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8 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
lo sem violar os limites externos dos recursos e do
meio ambiente do planeta.
Os seres humanos têm necessidades básicas: ali-
mentação, abrigo, vestimentas, saúde, educação.
Qualquer processo de crescimento que não leve à
sua realização – ou pior, que a impeça – é uma
paródia da idéia de desenvolvimento.
Precisamos todos redefinir nossos objetivos, ou
novas estratégias de desenvolvimento, ou novos
modos de vida, incluindo um padrão mais modes-
to de consumo entre os ricos.
A Declaração de Cocoyoc termina assim:
“O caminho à frente não se encontra no
desespero pelo fim dos tempos nem em um
otimismo fácil resultante de sucessivas so-
luções tecnológicas. Ele se encontra na
avaliação cuidadosa e imparcial dos ‘limi-
tes externos’, na busca conjunta por mei-
os de alcançar os ‘limites internos’ dos di-
reitos humanos fundamentais, na constru-
ção de estruturas sociais que expressem
esses direitos e no trabalho paciente de
elaborar técnicas e estilos de desenvolvi-
mento que aprimorem e preservem o nos-
so patrimônio terrestre.”
Essa visão do caminho a seguir refletiu-se
nas novas imagens detalhadas do planeta que sur-
giram na década de 1970 como resultado do lança-
mento do satélite Landsat em julho de 1972 pelos
Estados Unidos. Tais imagens foram sem dúvida
determinantes para a mudança de atitude das pes-
soas em relação ao estado do meio ambiente mun-
dial. Infelizmente, as imagens fornecidas pelo
Landsat nos últimos trinta anos também mostram
que a atitude geral ainda não mudou o suficiente
(ver fotos da página 7).
Em termos de mudanças climáticas, a preo-
cupação cada vez maior com o aquecimento global
(em 1896, o cientista sueco Svante Arrhenius ha-
via alertado o mundo sobre o “efeito estufa”) le-
vou à realização da primeira Conferência Mundial
sobre o Clima, em Genebra, em fevereiro de 1979
(Centre for Science and Environment, 1999). Du-
rante a Conferência, chegou-se à conclusão de que
emissões antropogênicas de dióxido de carbono
podem causar efeitos a longo prazo sobre o clima.
O Programa Mundial do Clima (WCP) foi estabele-
cido no ano seguinte, proporcionando uma estru-
tura para cooperação internacional em pesquisas
e a base para a identificação de questões climáti-
cas importantes ocorridas nas décadas de 1980 e
1990, como a destruição da camada de ozônio e o
aquecimento global.
A década de 1980: definindo o
desenvolvimento sustentável
Os principais eventos políticos da década de 1980 fo-
ram o colapso do Bloco Oriental e o fim de um mundo
bipolarizado, construído sobre o equilíbrio de pode-
res entre o Ocidente, de um lado, e os países comunis-
tas e seus respectivos aliados em países em desen-
volvimento, de outro. As mudanças resultantes de
reformas e da Perestroika no Bloco Soviético segui-
ram-se a anos de um crescimento econômico aparen-
temente forte e enormes investimentos militares.
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9INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
A situação era sensivelmente diferente em regiões
em desenvolvimento como a África, a Ásia Ociden-
tal e a América Latina e o Caribe, onde a maioria dos
países registrou um aumento pequeno na renda
(UNCHS, 1996). A região subsaariana retrocedeu ain-
da mais, com a renda per capita caindo 1,2% ao ano
durante a década de 1980 (UN, 2000), devido a uma
combinação de fatores, incluindo fortes secas e ter-
mos comerciais desfavoráveis. Para vários países em
desenvolvimento, a década de 1980 ficou conhecida
A década perdida como a década perdida. A começar pela crise da dívi-
da que atingiu a América Latina em 1982, a situação
ficou especialmente difícil em países onde milhões
de pessoas se deslocaram por conta de guerras. O
número de refugiados passou de cerca de 9 milhões
de pessoas em 1980 para mais de 18 milhões no início
da década de 1990 (UNHCR, 2000).
Lidar com o ciclo da pobreza tornou-se um de-
safio em particular, uma vez que o crescimento
populacional nos países em desenvolvimento não só
continuou, como um número cada vez maior de pes-
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África, Ásia e
América Latina
viviam na
pobreza.
Fonte: UNEP, To-
pham Picturepoint
10 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
soas carentes passou a residir em centros urbanos.
Com o aumento da população urbana, a infra-estrutu-
ra física das cidades começou a ficar sobrecarregada e
sem condições de atender à demanda.
Medições relativas ao tamanho do buraco na camada
de ozônio realizadas por pesquisadores britânicos e
publicadas pela primeira vez em 1985 (Farnham,
Gardiner e Shanklin, 1985) causaram surpresa tanto
no mundo científico quanto na esfera política. O rela-
tório Global 2000 reconheceu pela primeira vez que a
extinção das espécies ameaçava a biodiversidade como
componente essencial dos ecossistemas terrestres (US
Government, 1980). Como a interdependência entre o
meio ambiente e o desenvolvimento se tornava cada
vez mais óbvia, a Assembléia Geral das Nações Uni-
das adotou a Carta Mundial da Natureza (World
Charter for Nature), chamando a atenção para o valor
intrínseco das espécies e dos ecossistemas (UN, 1982).
Além das novas descobertas, a década de 1980
também presenciou uma série de eventos catastrófi-
cos que marcou de forma permanente tanto o meio
ambiente quanto a compreensão da sua ligação com a
condição humana. Em 1984, um vazamento de gases
letais da fábrica Union Carbide deixou um saldo de 3
mil mortos e 20 mil feridos em Bhopal, na Índia
(Diamond, 1985). No mesmo ano, mais de um milhão
de pessoas morreram de fome na Etiópia. Em 1986, o
mundo presenciou o seu pior desastre nuclear quan-
do um reator da usina nuclear de Chernobyl explodiu
na Ucrânia, república da União Soviética. O derrama-
mento de 50 milhões de litros de petróleo no Canal
Príncipe William, no Alasca, causado pelo petroleiro
Exxon Valdez em março de 1989, mostrou que nenhu-
ma área, por mais remota e “intacta” que seja, está a
salvo do impacto causado pelas atividades humanas.
Os eventos mencionados acima confirmaram que as
questões ambientais são sistêmicas e que lidar com
elas requer estratégias a longo prazo, ações integra-
das e a participação de todos os países e todos os
membros da sociedade. Essa noção se refletiu na Es-
tratégia de Conservação Mundial (World Conser-
vation Strategy – WCS), um dos documentos mais
importantes que ajudaram a redefinir o ambientalismo
após a Conferência de Estocolmo. Lançada em 1980
pela União Internacional para a Conservação da Na-
tureza (UICN), a Estratégia reconhece que a aborda-
gem de problemas ambientais requer um esforço a lon-
go prazo e a integração entre objetivos ambientais e
relacionados ao desenvolvimento.
Novas questões e novos desastres
A Estratégia de Conservação Mundial
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Carta Mundial da Natureza: princípios gerais
A viabilidade genética da Terra não deve ser comprometida; os
níveis populacionais de todas as formas de vida, silvestres e
domesticadas, devem ser ao menos suficientes para a sua
sobrevivência e, com essa finalidade, os habitats necessários devem
ser protegidos.
Todas as áreas do planeta, tanto terrestres quanto marítimas,
devem estar sujeitas a esses princípios de conservação; uma
proteção especial deve ser dada a áreas singulares, a amostras
representativas de todos os diferentes tipos de ecossistema e ao
habitat de espécies raras e ameaçadas de extinção.
Os ecossistemas e organismos, assim como os recursos terrestres,
marinhos e atmosféricos usados pelo homem, devem ser
manejados de forma a alcançar e manter uma produtividade
sustentável e em condições favoráveis, desde que não
comprometam a integridade dos outros ecossistemas ou espécies
com os quais coexistem.
A natureza deve ser protegida da degradação causada por guerras e
outras atividades hostis.
Fonte: UN, 1982
11INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
A Estratégia sugeriu que os governos das di-
ferentes partes do mundo criassem suas próprias es-
tratégias nacionais de conservação, de acordo com
um dos objetivos da Conferência de Estocolmo, o de
incorporar o meio ambiente ao planejamento do de-
senvolvimento. Desde 1980, mais de 75 países inicia-
ram estratégias multissetoriais nos níveis nacional,
estadual e local (Lopez Ornat, 1996). Essas estratégias
são destinadas a tratar de problemas ambientais como
a degradação da terra, a conversão e a perda de habitat,
o desmatamento, a poluição da água e a pobreza.
No entanto, passar a mensagem de que o meio am-
biente e o desenvolvimento são interdependentes
requeria um processo que tivesse autoridade e cre-
dibilidade em ambos os hemisférios, em governos e
no setor empresarial, em organizações internacio-
nais e na sociedade civil. Em 1983, a Comissão Mun-
dial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD), também conhecida como a Comissão
Brundtland, foi criada para realizar audiências ao
redor do mundo e produzir um relatório formal com
suas conclusões.O relatório foi publicado após três anos de
audiências com líderes de governo e o público em
geral no mundo todo sobre questões relacionadas ao
meio ambiente e ao desenvolvimento. Reuniões pú-
blicas foram realizadas tanto em regiões desenvolvi-
das quanto nas em desenvolvimento, e o processo
possibilitou que diferentes grupos expressassem seus
pontos de vista em questões como agricultura, silvi-
cultura, água, energia, transferência de tecnologias e
desenvolvimento sustentável em geral. O relatório fi-
nal da Comissão, intitulado “Nosso Futuro Comum”
(Our Common Future), definiu o desenvolvimento
sustentável como sendo “o desenvolvimento que
atende às necessidades das gerações presentes sem
comprometer a capacidade de gerações futuras de
suprir suas próprias necessidades”, tornando-se par-
te do léxico ambiental (CMMAD, 1987).
A Comissão enfatizou problemas ambientais
como o aquecimento global e a destruição da camada
de ozônio, conceitos novos para a época, e expressou
preocupação em relação ao fato da velocidade das mu-
danças estar excedendo a capacidade das disciplinas
científicas e de nossas habilidades atuais de avaliar e
aconselhar. A Comissão concluiu que os arranjos
institucionais e as estruturas de tomada de decisões
existentes, tanto em âmbito nacional quanto no inter-
nacional, simplesmente não comportavam as deman-
das do desenvolvimento sustentável (WCED, 1987).
“A década atual (1980) tem sido marcada por
um retrocesso das preocupações sociais. Ci-
entistas chamam a nossa atenção em relação
a problemas urgentes e complexos que di-
zem respeito à nossa sobrevivência: o aque-
cimento global, ameaças à camada de ozônio
da Terra, desertos avançando sobre terras
cultiváveis. preparadas para lidar com eles.
Respondemos exigindo mais detalhes e pas-
sando os problemas a instituições mal pre-
paradas para lidar com eles” (WCED, 1987).
“Esse é o tipo de desenvolvimento que proporciona melhorias reais na
qualidade da vida humana e ao mesmo tempo conserva a vitalidade e a
diversidade da terra. O objetivo é um desenvolvimento que seja sustentável.
Hoje isso pode parecer visionário, mas é um objetivo alcançável. Para um
número cada vez maior de pessoas, essa também parece ser a única opção
sensata.” — Estratégia de Conservação Mundial – IUCN, UNEP e WWF, 1980
Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)
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12 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
Assim foi semeado um maior envolvimento com
questões relacionadas ao meio ambiente e ao desen-
volvimento. Como sinal do fortalecimento do setor
não-governamental, várias organizações novas foram
formadas. Na Europa, partidos verdes ingressaram na
arena política, e a associação a organizações ambientais
de base cresceu rapidamente.
Seguindo-se aos acidentes industriais da década de
1980, a pressão sobre grandes empresas aumentou.
Em 1984, o PNUMA participou da organização da
Conferência Mundial da Indústria sobre a Gestão do
Meio Ambiente (WICEM), e no mesmo ano o setor
químico do Canadá criou o programa Atuação Res-
ponsável (Responsible Care), uma das primeiras ten-
tativas de se proporcionar um código de conduta para
uma gestão ambiental saudável no setor empresarial.
Ao final da década, o conceito de ecoeficiência esta-
va sendo introduzido na indústria como uma forma
de, simultaneamente, reduzir o impacto ambiental e
aumentar a rentabilidade. Embora esses interesses em
geral não fossem compartilhados por empresas que
tinham base em países em desenvolvimento, já se de-
batiam as implicações da migração de indústrias para
“paraísos de poluição” no Hemisfério Sul.
Ficou claro que um número cada vez maior de
atores teria de lidar com as dimensões ambientais de
atividades que anteriormente não eram vistas como ten-
do implicações ambientais, e houve um crescente inte-
resse acadêmico sobre o assunto. O meio ambiente e o
desenvolvimento tornaram-se matérias legítimas de es-
tudo em disciplinas sociais e naturais já estabelecidas,
e novas disciplinas foram criadas para lidar com ques-
tões multidisciplinares. Economia ambiental, engenha-
ria ambiental e outras matérias anteriormente periféri-
cas passaram a ser campos de estudo legítimos e reco-
nhecidos, desenvolvendo suas próprias teorias, mas
também provando sua validade em contextos reais.
O meio ambiente e a sustentabilidade ainda não
figuravam muito nos princípios e especialmente na
prática de assistência bilateral. Um dos primeiros si-
nais de mudança foi a instituição de um Comitê de
Ajuda ao Desenvolvimento em 1987 pela OCDE, res-
ponsável por estabelecer critérios para a integração
do meio ambiente e do desenvolvimento em progra-
mas de assistência ao desenvolvimento.
A conclusão do Protocolo de Montreal em 1987
foi considerada como um modelo promissor de coo-
peração entre os hemisférios norte e sul, os governos
e o setor empresarial, no tratamento de questões
ambientais globais. Lidar com a destruição da camada
de ozônio, no entanto, mostrou ser menos complica-
do do que lidar com outras questões ambientais que
se apresentariam na década de 1980, mais especifica-
mente as mudanças climáticas.
Em 1989, o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC, em inglês) foi criado com três gru-
pos de trabalho concentrados na avaliação científica
das mudanças climáticas, nos impactos ambientais e
socioeconômicos e em estratégias de resposta, ante-
cipando os vários desafios a serem enfrentados pela
humanidade no início da última década do milênio. O
IPCC, criado pelo PNUMA e pela Organização
Meteorológica Mundial (OMM), ajudou a se chegar a
um consenso sobre a ciência, os impactos sociais e as
melhores respostas ao aquecimento global resultante
da ação humana. O IPCC contribuiu muito para a com-
preensão pública dos perigos do aquecimento global,
Envolvendo outros atores
Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas
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13INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
em especial nos países industrializados. Em vários
países em desenvolvimento, onde os estudos sobre o
clima são raros e praticamente não há especialistas no
tema, as mudanças climáticas não são vistas da mesma
forma. Essa situação levou algumas organizações des-
sas regiões a protestarem contra “uma enorme
disparidade entre a participação dos hemisférios norte
e sul. ... Países do hemisfério sul não possuem progra-
mas nacionais coordenados sobre o clima, contam com
poucos climatologistas, e praticamente não detêm ne-
nhum dado para elaborar projeções climáticas a longo
prazo” (Centre for Science and Environment, 1999).
Alguns dos Acordos Ambientais Multilaterais (Mul-
tilateral Environmental Agreements – MEAs) mais
importantes da década de 1980 são os seguintes:
a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar (CNUDM), de 1982;
o Protocolo de Montreal sobre Substâncias que
Destroem a Camada de Ozônio, de 1987
(implementando a Convenção de Viena para a
Proteção da Camada de Ozônio, de 1985); e
a Convenção da Basiléia para o Controle de Mo-
vimentos Transfronteiriços de Resíduos Peri-
gosos e sua Eliminação (Convenção da Basi-
léia), de 1989.
Embora tenha sido assinada em 1982, a CNUDM só
veio a entrar em vigor doze anos depois, o que talvez
seja um indício da complexidade de se negociar um
MEA. A Convenção, que conta com 136 Partes, é uma
“Os povos indígenas são a base do que poderia ser chamado de sistema de
segurança ambiental. Para muitos de nós, no entanto, os últimos séculos
significaram uma grande perda de controle sobre nossas terras e águas.
Ainda somos os primeiros a sentir as mudanças no meio ambiente, mas
agora somos os últimos a ser questionados ou consultados sobre o assunto.”
— Louis Bruyère, presidente do Native Council do Canadá, audição pública
da CMMAD, Ottawa, Canadá, Maio de 1986
Acordos ambientais multilaterais
iniciativa legal que compreende várias questões marí-
timas, incluindo a proteção ambiental. As suas cláu-
sulas ambientais incluem:
a extensão do direito de soberania sobre recursos
marinhos, como peixes, a uma zona econômica
exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas;
a obrigação de adotar medidas para gerir e con-
servar os recursos naturais;
o dever de cooperar regional e globalmente em
aspectos como a proteção ambiental e pesquisas
relativas a essa proteção;
o dever de reduzir ao mínimo a poluição marinha,
incluindo aquela gerada em terra; e
restrições a despejo de dejetos no mar por navios.
O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Des-
troem a Camada de Ozônio implementa a Convenção
de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio. O
Protocolo, que entrou em vigor em 1989 e em dezem-
bro de 2001 já contava com 182 Partes, é um dos exem-
plos mais bem-sucedidos de cooperação internacio-
nal sobre o meio ambiente. O sucesso do Protocolo é
em parte resultado do Fundo Multilateral criado como
um incentivo à participação de países em desenvolvi-
mento (UNEP, 2001a).
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Direito do Mar
O Protocolo de Montreal
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14 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
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As partes do Protocolo de Montreal devem
fornecer para o Secretariado, na forma de relató-
rios nacionais, dados estatísticos anuais sobre a
produção, importação e exportação das substân-
cias que destroem a camada de ozônio (SDO) con-
troladas pelo Protocolo. Mais de 85% das partes
entregam relatórios com seus dados. A imple-
mentação do Protocolo foi reforçada e ampliada
de forma significativa através dos anos, por meio
das Emendas de Londres (1990), de Copenhague
(1992), de Montreal (1997) e de Beijing (1999)
(UNEP, 2000).
A Convenção da Basiléia, que entrou em vigor em
1992 e contava com 149 Partes em dezembro de
2001, tem três objetivos principais:
reduzir os movimentos transfronteiriços de re-
síduos perigosos;
minimizar a criação de tais resíduos; e
proibir seu envio a países que não possuam a
capacidade de eliminar os resíduos perigosos
de forma ecologicamente racional.
A Convenção resultou das preocupações
em relação ao envio de despejos de países indus-
trializados para regiões em desenvolvimento. Pre-
ocupados com tais envios para a África, Estados
Membros da Organização da Unidade Africana
(OUA) responderam com a Convenção Africana
sobre o Banimento da Importação e Controle do
Movimento e Gerenciamento de Resíduos Perigo-
sos Transfronteiriços (Bamako), que entrou em
vigor em abril de 1998.
A década de 1990: implementando o
desenvolvimento sustentável
A década de 1990 caracterizou-se pela busca por uma
melhor compreensão sobre o conceito e o significado
do desenvolvimento sustentável, paralelamente às
tendências crescentes em direção à globalização, es-
pecialmente no que diz respeito ao comércio e à
tecnologia. A convicção de que havia um número cada
vez maior de problemas ambientais no mundo que exi-
giam soluções internacionais se tornou mais forte. As
questões ambientais também adquiriam uma dimen-
são maior no hemisfério sul à medida que as organiza-
ções começaram a exigir diagnósticos e soluções para
países em desenvolvimento. O Centro Regional para
o Meio Ambiente foi criado na Hungria em 1990 para
tratar de questões ambientais na Europa Central pós-
soviética. Houve uma ação significativa por parte da
indústria privada no sentido de se “compatibilizar”
com as questões ambientais. Também houve um cres-
cimento explosivo em relação ao uso da Internet e da
comunicação eletrônica.
A década começou mal para o meio ambiente,
com a perda de milhares de vidas na Guerra do Golfo,
em 1991, e um blecaute parcial em algumas áreas da
região quando milhões de barris de petróleo foram
propositadamente incendiados (Bennett, 1995). Para
a Ásia Ocidental, isso representou uma catástrofe
ambiental degrandes proporções. Avalia-se que a maré
negra causada pelo derramamento de entre 0,5 milhão
e 11 milhões de barris de petróleo bruto matou entre
15 mil e 30 mil aves aquáticas. Além disso, cerca de
20% dos manguezais do Golfo Pérsico foram contami-
nados, e 50% dos recifes de corais foram afetados
(Island Press, 1999). A atmosfera também não foi pou-
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A Convenção da Basiléia
15INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
pada: cerca de 67 milhões de toneladas de petróleo
foram queimadas, produzindo cerca de 2,1 milhões de
toneladas de fuligem e 2 milhões de toneladas de
dióxido de enxofre (Bennett, 1995).
Em outras regiões, embora o progresso tecnológico
transformasse a sociedade industrializada, poucos países
em desenvolvimento estavam se beneficiando com isso.
O número de mortes causadas por doenças infecciosas
(como Aids, malária, doenças respiratórias e diarréia) foi
160 vezes maior do que o número de pessoas mortas em
conseqüência de desastres naturais em 1999, incluindo
terremotos na Turquia, enchentes na Venezuela e ciclones
na Índia (IFRC, 2000). Segundo informações da Federação
Internacional da Cruz Vermelha e Sociedades do Crescen-
te Vermelho, pesquisa realizada em 1995 em 53 países reve-
lou uma redução de 15% nas despesas com saúde por
pessoa, após ajustes econômicos estruturais.
Em 1997, já no final do século XX, cerca de 800
milhões de pessoas (quase 14% da população mundi-
al) não só passavam fome como não sabiam ler ou
escrever, habilidades essenciais para o desenvolvi-
mento sustentável (Unesco, 1997).
Em termos de gestão governamental, os even-
tos do final da década de 1980 continuavam a influen-
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Bombeiros tentando
apagar um poço de
petróleo em chamas
no Kuwait em 1991.
Fonte: UNEP, Abdel
Saurad-Mali, Kuwait,
Topham PicturePoint
16 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
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“A solução não pode implicar a interdição ao desenvolvimento daqueles
que mais precisam dela; o fato é que tudo o que contribui para o
subdesenvolvimento e a pobreza é uma violação patente à ecologia.”
 — Presidente cubano Fidel Castro, Rio-92, 1992
ciar o desenvolvimento político em todo o mundo.
Nenhuma região ficou imune: as ditaduras e os regi-
mes militares foram derrubados na África e na Améri-
ca Latina, e, em alguns países da Europa, governos de
partido único foram relegados à oposição por um elei-
torado ávido por mudanças. As pessoas haviam co-
meçado a exercer seu direito de eleger seus líderes e
exigir prestação de contas. Embora radicais, essas
mudanças em relação aos regimes governamentais ti-
veram pouco impacto imediato sobre o meio ambiente
na maioria dos países. Nos países da antiga União
Soviética, no entanto, a recessão econômica ajudou a
diminuir as emissões poluentes e o consumo de ener-
gia. Resta saber se tais efeitos serão permanentes.
No âmbito institucional, as idéias que tomaram
forma no final da década de 1980, como a participação
de múltiplos grupos de interesse e uma maior
responsabilização em relação a questões ambientais e
sociais, ganharam maior dimensão com uma série de
eventos internacionais. O primeiro desses eventos foi
uma conferência ministerial sobre o meio ambiente re-
alizada em Bergen, na Noruega, em maio de 1990, onde
tais idéias foram formalmente apoiadas pela primeira
vez. Essa conferência foi convocada como uma pre-
paração para a Conferência das Nações Unidas para
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), tam-
bém conhecida como Cúpula da Terra, ou Rio-92), re-
alizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, Brasil.
Um número sem precedentes de representantes de
Estado, da sociedade civil e do setor econômico com-
pareceu à Rio-92 – 176 governos (UN, 1993), mais de
100 chefes de Estado, contra apenas dois que compa-
receram à Conferência de Estocolmo (Haas, Levy e
Parson, 1992), cerca de 10 mil delegados, 1.400 organi-
zações não-governamentais (ONGs) e aproximadamen-
te 9 mil jornalistas (Demkine, 2000). A Rio-92 ainda é a
maior reunião do gênero já realizada. Antes da Cúpula
propriamente dita, as preparações em âmbito nacio-
nal, sub-regional, regional e global também envolve-
ram a participação de centenas de milhares de pesso-
as em todo o mundo, garantindo que suas vozes fos-
sem ouvidas. Organizações regionais e sub-regionais,
como a Associação das Nações do Sudeste Asiático
(ASEAN), a Organização da Unidade Africana, a União
Européia e várias outras, desempenharam um papel
importante tanto antes quanto durante a Rio-92 e con-
tinuam a fazê-lo na implementação da Agenda 21, o
plano de ação que resultou da Conferência.
A Rio-92 produziu ao menos sete grandes
resultados:
a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e De-
senvolvimento (contendo 27 princípios);
a Agenda 21 – um plano de ação para o meio am-
biente e o desenvolvimento no século XXI;
duas grandes convenções internacionais – a Con-
venção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-
dança do Clima (UNFCCC) e a Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB);
a Comissão de Desenvolvimento Sustentável
(CDS);
um acordo para negociar uma convenção mundial
sobre a desertificação; e
a declaração de Princípios para o Manejo Susten-
tável de Florestas.
Os Princípios do Rio reafirmaram as questões
que haviam sido formuladas em Estocolmo, vinte anos
A Cúpula da Terra, ou RIO-92
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17INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
“Independente das resoluções que se tomem ou se deixem de tomar em uma
conferência como essa, nenhuma melhoria ambiental genuína e duradoura
pode acontecer sem um envolvimento local em escala global.” — Presidente
da Islândia, Vigdís Finnbogadóttir, Rio-92, 1992
antes, colocando os seres humanos no centro das
preocupações relacionadas ao desenvolvimento sus-
tentável, ao declarar que os seres humanos “têm o
direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia
com a natureza”.
A Rio-92 proporcionou um fórum para abor-
dar questões relacionadas tanto ao meio ambiente
quanto ao desenvolvimento e para enfatizar os dife-
rentes pontos de vista dos hemisférios norte e sul.
Após a Conferência, o desenvolvimento sustentá-
vel ganhou vida própria, impondo-se nas delibera-
ções de organismos, desde conselhos municipais a
organizações internacionais. Mais de 150 países cri-
aram instituições nacionais para desenvolver uma
abordagem integrada ao desenvolvimento sustentá-
vel – embora em alguns países os conselhos nacio-
nais de desenvolvimento sustentável tivessem uma
natureza mais política do que substancial (Myers e
Brown, 1997). Uma grande variedade de setores da
sociedade civil tem hoje envolvimento com a criação
de agendas e estratégias. Mais de 90% deles foram
criados em decorrência da Rio-92, a maioria em paí-
ses em desenvolvimento.
A ênfase dada ao desenvolvimento sustentá-
vel também teve um impacto considerável tanto em
instrumentos legais quanto nas instituições respon-
sáveis por eles. A CITES, por exemplo, que já se afas-
tava do enfoque clássico de conservação, direcionou
seu enfoque a uma abordagem que equilibra a conser-
vação e o uso sustentável. A aplicação prática do uso
sustentável na CITES provocou um debate substan-
cial e acalorado durante toda a década.
A Agenda 21 é um plano de ação parcialmente basea-
do em uma série de contribuições especializadas de
governos e organismos internacionais, incluindo a pu-
Agenda 21
blicação “Cuidando do Planeta Terra: uma estratégia
para o futuro da vida” (Caring for the Earth: a Stratey
for Sustainable Living, IUCN, UNEP e WWF, 1991). A
Agenda 21 é hoje um dos instrumentos sem validade
legal mais importantes e influentes no campo do meio
ambiente, servindo como base de referência para o
manejo ambiental na maior parte das regiões do mun-
do (ver box acima).
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Agenda 21
A Agenda 21 estabelece uma base sólida para a promoção do
desenvolvimento em termos de progresso social, econômico e
ambiental. A Agenda 21 tem quarenta capítulos, e suas recomendações
estão divididas em quatro áreas principais:
Questões sociais e econômicas como a cooperação internacional
para acelerar o desenvolvimento sustentável, combater a pobreza,
mudar os padrões de consumo, as dinâmicas demográficas e a
sustentabilidade, e proteger e promover a saúde humana.
Conservação e manejo dos recursos visando o desenvolvimento,
como a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento, o
combate à desertificação e à seca, a promoção da agricultura
sustentável e do desenvolvimento rural, a conservação da
diversidade biológica, a proteção dos recursos de água doce e dos
oceanos e o manejo racional de produtos químicos tóxicos e de
resíduos perigosos.
Fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo mulheres,
crianças e jovens, povos indígenas e suas comunidades, ONGs,
iniciativas de autoridades locais em apoio à Agenda 21, traba-
lhadores e seus sindicatos, comércio e indústria, a comunidade
científica e tecnológica e agricultores.
Meios de implementação do programa, incluindo mecanismos e
recursos financeiros, transferência de tecnologias ambien-
talmente saudáveis, promoção da educação, conscientização pú-
blica e capacitação, arranjos de instituições internacionais,
mecanismos e instrumentos legais internacionais e informações
para o processo de tomada de decisões.
18 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
O custo de implementação da Agenda 21 em
países em desenvolvimento foi estimado pelo Secre-
tariado da Cúpula da Terra como sendo de aproxima-
damente US$ 625 bilhões ao ano, com os países em
desenvolvimento cobrindo 80% do custo, ou seja, US$
500 bilhões. Esperava-se que os países desenvolvi-
dos cobrissem os 20% restantes, ou cerca de US$ 125
bilhões por ano, cumprindo com a sua meta antiga de
consagrar 0,7% do seu produto nacional bruto (PNB)
à assistência oficial para o desenvolvimento (ODA).
Embora a Rio-92 se preocupasse com uma abor-
dagem global, um resultado importante da Conferên-
cia foi a adoção de vários programas nacionais e regi-
onais da Agenda 21 para o desenvolvimento susten-
tável. Na região da Comunidade para o Desenvolvi-
mento da África Austral (SADC), por exemplo, os Es-
tados Membros adotaram a Política e Estratégia para
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da
SADC em 1996. A União Européia adotou o Quinto
Plano de Ação Ambiental “Em Direção à Sustenta-
bilidade” (Towards Sustainability, EU, 1993).
O Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) foi
criado em 1991 como uma parceria experimental entre
o PNUMA, o PNUD e o Banco Mundial para gerar
dividendos ecológicos a partir do desenvolvimento
local e regional, fornecendo subvenções e emprésti-
mos a juros baixos para países em desenvolvimento e
economias em transição. Após a Rio-92, intencionava-
se que funcionasse como o mecanismo de financia-
mento da Agenda 21 e que mobilizasse os recursos
necessários. O Fundo ajuda a financiar projetos de
desenvolvimento em âmbito regional, nacional e glo-
bal que beneficiem o meio ambiente mundial em qua-
tro áreas básicas – mudanças climáticas, biodiversi-
dade, camada de ozônio e águas internacionais – e
também economias e sociedades locais.
Depois do êxito da sua reestruturação em março
de 1994, o número de membros do GEF passou de 34 a
mais de 155 países, cujos representantes se reúnem na
Assembléia de Estados Participantes do GEF, o órgão
de supervisão geral do Fundo, a cada três anos.
O presidente e executivo principal do GEF,
Mohamed T. El-Ashry, reconhece que ainda é cedo
para avaliar o impacto dos mais de 220 projetos finan-
ciados pelo Fundo em termos de desenvolvimento
sustentável. A diferença entre as promessas feitas
pelos doadores e suas contribuições efetivas ao GEF
causou uma certa preocupação, especialmente em
países em desenvolvimento. Embora o compromisso
dos países desenvolvidos fosse o de contribuir com
0,7% do seu PNB para a ODA anualmente, esta só
recebeu 0,29% em 1995, o nível mais baixo alcançado
desde 1973 (GEF, 1997).
No entanto, fundações, indivíduos, grandes
empresas e heranças consagradas ao desenvolvimen-
to sustentável deram um novo sentido à palavra “ca-
ridade”, contribuindo com um total de US$ 129 bi-
lhões em 1994 (Myers e Brown, 1997). Estima-se que
essa quantia aumentou em 9% em 1995, alcançandoUS$ 143,85 bilhões.
A capacidade do Painel Intergovernamental de Mu-
danças Climáticas (IPCC) de fornecer evidências de
que as mudanças climáticas significavam uma ameaça
real incentivou governos, durante a Rio-92, a assinar
a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mu-
dança do Clima (UNFCCC). A Convenção tornou-se a
peça principal da Rio-92 e entrou em vigor em 1994;
em dezembro de 2001, já contava com 186 Partes. A
origem da Convenção remonta à Segunda Conferên-
cia Mundial sobre o Clima (1990), em que a declaração
ministerial foi a forma de se levar adiante a elaboração
de políticas e o estabelecimento de um Sistema Global
de Observação do Clima (GCOS).
O objetivo principal da UNFCCC é estabilizar
as emissões de gases de efeito estufa em um nível
que evite uma interferência antrópica perigosa no
clima global. O princípio de “responsabilidades dife-
renciadas, embora comuns” da Convenção orientou
a adoção de uma estrutura regulatória. Esse princí-
pio reflete a realidade, ou seja, o fato de que os paí-
ses industrializados são os maiores emissores de
gases de efeito estufa.
O Protocolo de Quioto, que estabeleceu metas
reais para a redução das emissões, foi aberto a assina-
turas em 1997. Em dezembro de 2001, 84 Partes haviam
assinado e 46 haviam ratificado ou aderido ao Proto-
colo (UNFCCC, 2001). Uma exceção notável foi a posi-
ção dos Estados Unidos, que anunciou a sua decisão
de não ratificar o Protocolo no início de 2001.
A CDB entrou em vigor em 1993. Foi o primeiro acordo
mundial para a conservação e o uso sustentável da
biodiversidade e serve como base para ações nacio-
O Fundo Mundial para o Meio Ambiente
Acordos ambientais multilaterais
A Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima
Convenção sobre Diversidade Biológica
(CDB)
19INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
nais. A Convenção estabelece três objetivos princi-
pais: a conservação da diversidade biológica, o uso
sustentável dos seus componentes e a divisão justa e
eqüitativa dos benefícios provenientes do uso dos
recursos genéticos. Várias questões relativas à
biodiversidade são abordadas, como a preservação
de habitats, os direitos de propriedade intelectual, a
biossegurança e os direitos dos povos indígenas.
A Convenção é um marco importante no direi-
to internacional, respeitada por sua abordagem
abrangente, com base na noção de ecossistemas para
a proteção da biodiversidade. O Tratado foi ampla e
rapidamente aceito – em dezembro de 2001, um total
de 182 governos já havia ratificado o acordo. Um acor-
do suplementar à Convenção, o Protocolo de
Cartagena sobre Biossegurança, foi adotado em ja-
neiro de 2000 para tratar dos riscos em potencial cau-
sados pelo comércio transfronteiriço e pela liberação
acidental de organismos geneticamente modificados.
A adoção do Protocolo de Biossegurança é um suces-
so para os países em desenvolvimento que o requisi-
taram. O Protocolo já havia sido assinado por 103 Par-
tes e ratificado por 9 em dezembro de 2001. A CDB
também influenciou a decretação de uma lei que bus-
ca regulamentar os recursos genéticos nas nações
participantes do Pacto Andino – Bolívia, Colômbia,
Equador, Peru e Venezuela. A lei entrou em vigor em
julho de 1996 (Centre for Science and Environment,
1999). Apesar do sucesso da Convenção, as negocia-
ções que precederam a sua adoção foram em geral um
tanto quanto amargas (ver box).
Embora as negociações só tivessem se completado
em 1994, o processo de elaboração da Convenção
das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(CCD) teve início na Rio-92. No entanto, sua história
remonta à década de 1970. A Convenção entrou em
vigor em 1996 e contava com 177 partes em dezembro
de 2001. A CCD foi descrita como uma “enteada da
Rio-92” (Centre for Science and Environment, 1999),
porque não recebeu a mesma atenção que a UNFCCC
e a CDB. As nações industrializadas se opuseram à
CCD porque não se dispunham a aceitar nenhuma
responsabilidade financeira pela interrupção do pro-
cesso de desertificação, que não é visto como um
problema mundial (Centre for Science and
Environment, 1999). Projeções indicaram que um es-
forço mundial de vinte anos para combater a
desertificação custaria de US$ 10 bilhões a US$ 22
bilhões por ano, mas os países financiadores contri-
buíram com uma quantia mísera de US$ 1 bilhão em
1991 para o controle da desertificação no mundo
(Centre for Science and Environment, 1999).
Embora a CCD receba um apoio financeiro
modesto em comparação à UNFCCC e à CDB, a con-
venção se distingue por dois motivos:
Endossa e utiliza uma abordagem “de baixo para
cima” (bottom-up) em relação à cooperação mun-
dial para o meio ambiente. Pelos termos da CCD,
as atividades relacionadas ao controle e à
mitigação da desertificação e de seus efeitos de-
vem estar sintonizadas com as necessidades e a
participação de usuários locais das terras e de
organizações não-governamentais.
A Convenção possui anexos regionais detalha-
dos, por vezes mais que o próprio corpo da Con-
venção. Esses anexos abordam as particularida-
des do problema da desertificação em regiões es-
pecíficas como a África, a América Latina e o
Caribe e o Norte do Mediterrâneo (Raustiala, 2001).
O compromisso mais importante e central da
CCD é a obrigação de desenvolver “programas de ação
nacional” em conjunto com grupos de interesse lo-
cais. Esses programas delineiam as tarefas que as par-
A Convenção das Nações Unidas de
Combate à Desertificação
•
•
O papel de países em desenvolvimento
nas negociações da CDB
Descontente com a versão inicial do CDB em
novembro de 1991, o Centro Sul, com sede em
Genebra, incitou os países em desenvolvimento a
rejeitar essa versão e insistiu que qualquer
negociação sobre a biodiversidade deve ser
associada a uma negociação sobre biotecnologia e,
de forma mais geral, aos direitos de propriedade
intelectual. Essa tendência de privatização do
conhecimento e dos recursos genéticos representa
uma séria ameaça ao desenvolvimento do
Hemisfério Sul e deve ser combatida.
Durante as negociações, o Sul:
enfatizou a soberania nacional sobre os
recursos naturais;
pediu que a transferência de tecnologia aos
países em desenvolvimento fosse feita de forma
preferencial;
exerceu pressão para que a CDB tivesse
supremacia sobre outras instituições, como a
Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI) e o Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio (GATT); e
pediu o desenvolvimento de um protocolo sobre
biossegurança.
Fonte: Centre for Science and Environment, 1999
20 INTEGRAÇÃO ENTRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO: 1972-2002
tes devem empreender na implementação da CCD. Por
exemplo, as partes devem fazer da prevenção à
desertificação uma prioridade em políticas nacionais e
devem promover a conscientização sobre esse pro-
blema entre seus cidadãos.
O estabelecimento da CDS em dezembro de 1992 foi
uma conseqüência direta da Rio-92. Embora a meta de
desenvolvimento sustentável tivesse sido
estabelecida na década de 1980, foi somente durante a
Rio-92 que um órgão internacional foi criado com o
mandato de supervisionar e ajudar a comunidade in-
ternacional a atingir essa meta (ver box). Apesar de
um grande passo, a Comissão foi criticada como sen-
do uma resposta fraca a problemas de capacidade
institucional, além de deparar-se com a apatia de mi-
nistros de Estado (Long, 2000). A integração de polí-
ticas econômicas, sociais e ambientais – uma exigên-
cia do desenvolvimento sustentável já expressa pela
Comissão Brundtland – continua a se colocar como
um desafio para instituições em todos os níveis.
Cinco anos após a Rio-92, a comunidade internacio-
nal convocou uma nova cúpula chamada Rio + 5 para
rever os compromissos empreendidos no Rio de Ja-
neiro em 1992. Durante o encontro, realizado em Nova
York, houve uma preocupação em relação à

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