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�PAGE � Centro Universitário Júlio Cesar de Souza Filho (IDENTIFICAÇÃO DE TEMAS) QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL DO PARANÁ: MUDANÇAS NO EMPREGO E RENDA NO PERÍODO DE 2000 A 2010 Fortaleza/CE 2016 Qualificação profissional na indústria da construção civil do Paraná: mudanças no emprego e renda no período de 2000 a 2010 Marcos Henrique Pessoa* Katy Maia** Resumo (OBJETIVO GERAL) (Este artigo tem como objetivo analisar as principais mudanças no emprego e na renda, segundo o nível de qualificação profissional dos trabalhadores da indústria da construção civil do Paraná, entre 2000 e 2010.) Este estudo teve como fundamento teórico as teorias do capital humano e da segmentação, a revisão da literatura sobre este tema foi baseada em artigos publicados em periódicos econômicos e em sites de órgãos institucionais. Para atingir o objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa no banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os principais resultados mostram que há uma tendência positiva no mercado de trabalho da construção civil paranaense, observa-se no período uma redução contínua da participação dos trabalhadores não qualificados e uma elevação do número de trabalhadores qualificados. Devido às características do setor, percebe-se um viés para o gênero masculino e pela experiência do trabalhador. Com relação à renda, os resultados indicaram um aumento em todos os níveis de qualificação da mão de obra, destacando-se a de baixa qualificação que obteve no acumulado o maior aumento no rendimento médio real. Palavras-chave: Qualificação Profissional. Teorias do Capital Humano e da Segmentação. Indústria da Construção Civil do Paraná. Abstract This article aims to analyze the main changes in employment and income, by level of qualification of workers in the construction industry of Paraná, between 2000 and 2010. This study theoretical foundation theories of human capital and segmentation, reviewing the literature on this topic was based on articles published in economic journals and sites of institutional bodies. To reach that goal, we conducted a survey in the database from the Annual Report of Social Information (RAIS) of the Ministry of Labour and Employment (MTE). The main results show that there is a positive trend in the labor market construction Paraná, there is a reduction in the period of continuous participation of unskilled workers and a rise in the number of skilled workers. Due to the characteristics of the sector perceives a bias for male and experience of the worker. With respect to income, the results showed an increase in all skill levels of the workforce, especially the low-skilled who got accumulated the largest increase in average real income. Keywords: Professional Qualification. Human Capital and Segmentation Theories. Construction Industry of Paraná. Área 3: Economia Regional e Urbana JEL: R23 * Graduado em Economia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) marcos.henrique01@hotmail.com ** Professora Drª do Deptº de Economia - Universidade Estadual de Londrina (UEL) katymaia@terra.com.br � Qualificação profissional na indústria da Construção Civil do Paraná: mudanças no emprego e renda no período de 2000 a 2010 1 Introdução A construção civil destaca-se como uma importante atividade para o desenvolvimento da economia brasileira. O setor colabora para o crescimento econômico através do efeito multiplicador que exerce sobre o processo produtivo, estimulando o consumo de bens e serviços de outros setores. Grande parte dos insumos utilizados na construção civil é de origem nacional, indicando uma pequena participação na importação. No aspecto social, é um dos maiores geradores de emprego e apresenta capacidade elevada na geração de renda. Além disso, a construção civil é fundamental para redução do déficit habitacional e para a infraestrutura do país. Nos últimos anos a construção civil tem apresentado um crescimento consistente em suas atividades, acompanhando o bom momento da economia brasileira. Vem se destacando entre os demais setores de atividade econômica, impulsionado pela maior oferta de crédito imobiliário (redução das taxas de juros em conjunto com prazos maiores para pagamentos), pelas obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC bem como o programa habitacional (Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV). A expansão do emprego formal, o crescimento da renda familiar e a estabilidade macroeconômica também contribuíram para o melhor desempenho do setor. (PROBLEMA) (No Estado do Paraná, foco desta pesquisa, o setor da construção civil também apresentou um desempenho positivo, tendo como consequência o aquecimento do mercado de trabalho nesta atividade. Entre os demais setores, a construção civil registrou a maior variação, em termos percentuais, na criação de empregos no período analisado – 2000 a 2010.) (HIPÓTESE) (O mercado de trabalho brasileiro em geral vem passando por algumas modificações nas últimas décadas em função das mudanças ocorridas na economia do país. O ritmo de expansão vivenciado pelo setor proporcionou maior competitividade e isso forçou as empresas construtoras reestruturarem seus processos produtivos e adotarem modernas tecnologias para melhorar a qualidade de seus produtos, reduzir custo e, sobretudo, elevar a produtividade. Dado o novo paradigma de produção, o mercado de trabalho da construção civil passou a demandar profissionais mais especializados, com conhecimento diferente das qualificações requeridas há algumas décadas.) (JUSTIFICATIVA) (A qualificação profissional no Brasil tem sido um assunto amplamente discutido, devido à sua importância para o desenvolvimento econômico e regional.) (OBJETIVO ESPECÍFICO) (Neste contexto, este artigo tem como objetivo analisar as principais mudanças no emprego e renda, segundo o nível de qualificação profissional dos trabalhadores que atuam na construção civil do Paraná, no período de 2000 a 2010. Para tanto, foi elaborada uma revisão da literatura pertinente ao tema, também foram utilizados dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), para analisar o emprego e renda no setor da construção civil no estado do Paraná no período de 2000 a 2010. Além desta introdução, este artigo apresenta mais seis seções. Na seção 2 são descritas as teorias do capital humano e da segmentação, bem como suas evidências empíricas. A seção 3 trata de expor a importância da indústria construção civil para economia. A seção 4 dedica-se a uma breve revisão da literatura sobre a qualificação profissional. Na seção 5 descreve-se a metodologia utilizada para realizar a pesquisa. A seção 6 mostra os resultados e análise das principais mudanças no emprego e renda segundo a qualificação profissional dos trabalhadores da indústria da construção civil paranaense. Finalmente, na última seção estão as considerações finais deste estudo.) 2 Abordagens teóricas e evidências empíricas sobre as diferenciais de rendimentos no mercado de trabalho Nesta seção são apresentadas duas importantes teorias que fundamentam o estudo sobre os rendimentos do trabalho: a Teoria do Capital Humano e a Teoria da Segmentação. Em seguida, são apresentadas algumas evidências empíricas constatadas na economia brasileira. 2.1 Teoria do Capital Humano Na sociedade, em geral, é observado que diversas pessoas recebem diferentes remunerações por seu trabalho. Existem muitos estudos que visam explicar essas diferenças. De acordo com a Teoria do Capital Humano, a disparidade de salários em um mercado de trabalho é justificada pelo fato das pessoas possuírem diferentes quantidades desse tipo de capital. A teoria do capital humano consiste na ideia de que pessoas providas de conhecimento, mais capacitadas e ou aquelas que possuem um determinado nível de escolaridade, produzemde forma mais eficiente e sua produtividade é mais elevada, por conseguinte as empresas estão dispostas a pagar mais para essas pessoas. A teoria do capital humano se limita analisar as qualidades individuais dos trabalhadores e o impacto da qualificação profissional sobre o aumento da produtividade (BIAGIONI, 2006). Na economia, a palavra capital normalmente está relacionada à capacidade produtiva de um país (máquinas, fábricas, prédios de escritórios e outros). Mas há outro tipo de capital, o conjunto de habilidades dos trabalhadores na economia, denominado por muitos economistas de capital humano (BLANCHARD, 2007). Para Mankiw (2009), o capital humano é a acumulação de investimentos em pessoas e, como todo investimento, a educação representa um gasto de recursos para obter um ganho de produtividade no futuro. O capital humano abrange investimentos acumulados em atividades como educação, treinamento da força de trabalho, migração e busca de novos empregos. Estes investimentos envolvem um custo inicial e são efetuados na expectativa de recuperar durante certo período de tempo e, de forma análoga a outros investimentos, são executados na esperança de que trarão bons dividendos no futuro (EHRENBERG e SMITH, 2000). De acordo com Medeiros (1982), o capital humano refere-se ao estoque de escolaridade. As versões mais atualizadas dessa teoria mostram que a experiência profissional, o treinamento, a migração e a busca de informações acerca das oportunidades de emprego são outras fontes de capital humano. Para Schultz (1987), o capital humano aumenta a produtividade do trabalho tanto na produção agrícola, quanto na produção não agrícola e na produção doméstica, além disso, proporciona aos estudantes a possibilidade de migrar para as melhores oportunidades de emprego. Segundo este mesmo autor (1967, p.56), “a instrução aumenta a capacidade de adaptação das pessoas, face às flutuações das oportunidades de emprego, associados ao crescimento econômico”. Ainda nas palavras de Schultz (1967), sob diferentes circunstâncias, é reconhecido que as pessoas com oito anos de estudos estão mais bem preparadas para assumir novos empregos do que as que possuem quatro ou menos anos de instrução. A educação eleva os salários; para Mankiw (2009) este fato é explicado simplesmente através da oferta e da demanda. Isto significa que as empresas demandam mão de obra e estão dispostas a pagar mais para pessoas com alto grau de instrução devido a maior produtividade, em contra partida pessoas ofertam mão de obra e estão dispostas a pagar o custo da instrução se tiverem um retorno por isso. De acordo com a Teoria do Capital Humano, a educação gera habilidades e conhecimentos, isto significa que quanto mais o indivíduo estuda, maiores serão suas habilidades e maior a produtividade, permitindo uma renda elevada (SILVA, 2006). Segundo Chaves (2002), a Teoria do Capital Humano mostra que a remuneração dos trabalhadores aumenta à medida que ele obtém mais anos de escolaridade, porém admite que para os níveis mais elevados de educação os acréscimos salariais são menores. Em outras palavras, o incremento de um ano a mais no nível de escolaridade gera um menor acréscimo de conhecimento, por consequência gera menor acréscimo salarial. Portanto, assim como em qualquer processo produtivo a lei dos retornos decrescentes se aplica ao nível de educação. De acordo Borjas (2012), a decisão de investir em educação estabelece um trade-off entre receber pouco hoje e receber mais no futuro: “os trabalhadores que investem em educação estão dispostos a desistir de ganhos hoje em troca de ganhos mais altos no futuro. Por exemplo, ganhamos um salário relativamente baixo quando estamos cursando uma faculdade ou participamos de um programa formal de aprendizagem. No entanto, esperamos ser recompensados com ganhos maiores no futuro, quando tivermos retorno de nosso investimento” (BORJAS, 2012 p.256). Para Ehrenberg e Smith (2000), maiores investimentos em educação ampliam a produtividade do trabalhador e tais investimentos aumentam os ganhos dos indivíduos que os assumem. Diferentes pessoas agregam diferentes quantidades de capital humano. Este capital é proveniente do investimento em educação que deriva da comparação entre a taxa de retorno e a taxa de juros de mercado, como qualquer outro investimento (SILVA, 2006). 2.2 Teoria da Segmentação A teoria da Segmentação explica de maneira alternativa os diferenciais de rendimentos no mercado de trabalho. Além do nível de escolaridade dos indivíduos, segundo essa teoria, fatores como região, gênero, cor, sindicalização, entre outros atributos, são importante variáveis na determinação de salários. Na teoria da segmentação, a importância da educação é bem reduzida, se comparada com à teoria do capital humano, seu enfoque está voltado ao mercado de trabalho local onde a renda dos trabalhadores é determinada. A teoria da segmentação, para Biagioni (2006), analisa a demanda das empresas por mão de obra, busca observar os determinantes estruturais do mercado de trabalho dando pouca ênfase à capacidade individual dos trabalhadores. Para Medeiros (1982), a abordagem da segmentação busca analisar o conjunto de características que dão origem aos segmentos no mercado de trabalho. Nestes segmentos, os indivíduos são remunerados de forma diferente devido à influência de variáveis que não dependem da produtividade individual, tais como: sexo, cultura, organizações da produção, concentração de mercado, manutenção da estrutura de classes etc. De acordo com Lima (1980), o mercado de trabalho é dividido em dois segmentos, mercado primário e mercado secundário. O mercado primário caracteriza-se pela estabilidade no emprego, produtividade e remuneração elevada, desenvolvimento tecnológico, promoção definida dentro da própria empresa, a oferta de treinamento no próprio local de trabalho (on the job training), além da promoção por tempo de experiência. Neste mercado os empregos são típicos das empresas de grande porte, geralmente oligopolista. O mercado secundário tem como características, a rotatividade elevada, produtividade e remuneração baixa, piores condições de trabalho, estagnação tecnológica e o alto nível de desemprego. As exigências são mínimas em termos de qualificação e poucos treinamentos são oferecidos pelas empresas. A divisão do mercado de trabalho em dois segmentos pode ser explicada por diferentes causas. Lima (1980) aponta importantes correntes teóricas que visam esclarecer o processo de segmentação. Para Doeringer e Piore as características dos indivíduos, como raça, sexo, classe social, escolaridade, a experiência no emprego, etc., determinarão o mercado de trabalho em que irão atuar, portanto segundo esses autores a gama de oportunidade de trabalho está condicionada às suas características pessoais. Outro enfoque é mencionado nos trabalhos de Barry Bluestone, de Bennet Harrison e de Thomas Vietorisz. Este grupo de autores realça que a segmentação é resultante das características do emprego e das empresas que demandam a mão de obra. As diferentes classes sociais e as consequências disto para a segmentação do trabalho são foco de outra linha de pensamento (LIMA, 1980). Segundo Piore apud Medeiros (1982), a existência da segmentação do mercado de trabalho é determinado pelo nível de tecnologia, pois a exigências tecnológicas indicam a natureza e as exigências dos empregos definem as características dos trabalhadores. 2.3 Teoria do Capital Humano: Estudos Empíricos no Brasil A educação tem sido investigada como uma das variáveis capazes de explicar a disparidade de salários no mercado de trabalho brasileiro. As evidências empíricas sobre o capital humano, como um fator importante na explicação dos diferenciais dos rendimentos do trabalho, foram examinadas por Cacciamali e Freitas (1992), Chaves (2002), Salvato e Silva (2008), Queiroz e Calazans (2010), Zaist, Nakabashi e Salvato (2010). Cacciamali e Freitas (1992), a partir dos dados da RAIS de 1987, analisaram as variáveis determinantesdos salários para cinco setores manufatureiros da Região Metropolitana de São Paulo. Os resultados demonstraram que a escolaridade e a experiência do trabalhador são relevantes para explicar a formação dos salários nos setores analisados, independente de serem modernos ou tradicionais. Chaves (2002), com base nas informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre, do ano 2000, investigou um grupo de indivíduos do sexo masculino, ocupados no setor não agrícola e rendimento do trabalho mensal diferente de zero. O autor evidenciou que o capital humano explica 44,9% das variações dos rendimentos. Salvato e Silva (2008) analisaram dados da PNAD da Região Metropolitana de Belo Horizonte para o ano de 2005, considerando indivíduos entre 21 e 60 anos. De acordo com seus resultados, para cada um ano a mais de estudo havia um acréscimo de 16,15% na renda. Com dados do Censo Demográfico do Brasil, realizado pelo IBGE, nos anos 1991 e 2000, Queiroz e Calazans (2010) analisaram os efeitos da concentração de capital humano no retorno privado e social da educação no Brasil. Os autores mostraram que o capital humano médio das regiões tem influência sobre a disparidade dos salários no país. O resultado desta pesquisa apontou que um ano na educação média a mais eleva os salários médios dos trabalhadores em cerca de 5%. Zaist, Nakabashi e Salvato (2010), baseando-se em uma amostra da PNAD de 2005, estimaram os retornos educacionais dos trabalhadores homens que atuam nos setores privados da economia paranaense, com idade entre 24 a 56 anos. Os resultados apresentados indicaram que o retorno da escolaridade é mais elevado para os trabalhadores que completaram pelo menos um ano do ensino superior no Paraná. Em média, a diferença salarial é de 90% se comparada com a dos trabalhadores que possuem pelo menos um ano do fundamental. 2.4 Teoria da Segmentação: Estudos Empíricos no Brasil No Brasil, as evidências empíricas sobre o tema e a confirmação da segmentação no mercado de trabalho podem ser verificadas no estudo de Ramos e Vieira (2001), Biderman e Guimarães (2003), Matos e Machado (2006), e de Fontes e Pero (2009). Ramos e Vieira (2001) analisam a desigualdade de rendimento no Brasil, nas décadas de 80 e 90. A amostra analisada foi constituída por homens e mulheres com idade entre 18 e 65 anos, que residem em áreas urbanas e trabalham pelo menos 20 horas na semana. Os autores utilizaram a decomposição estática com dados da PNAD. Constaram que a escolaridade é o principal fator responsável pela desigualdade salarial. Os fatores que permitem captar alguma forma de segmentação no mercado de trabalho, como por exemplo, a posição na ocupação, região geográfica e o setor de atividade, assim como elementos de descriminação, como gênero e cor, mesmo em menor escala, mostraram ser relevantes na desigualdade dos rendimentos. Biderman e Guimarães (2003) investigaram os determinantes da desigualdade salarial que afeta mulheres e negros, nos setores de alimentos, couro e calçados, vestuário, bens de capital e telemática, por meio da decomposição de Oaxaca. Para tanto, utilizaram dados da PNAD de 1989 e 1999. Os resultados mostraram que a discriminação no mercado de trabalho é o principal determinante do hiato salarial que atinge as mulheres brancas, enquanto para homens negros o hiato ocorre devido à defasagem do seu grau escolaridade; já para as mulheres negras é devido à descriminação e à defasagem de qualificação escolar. Matos e Machado (2006), utilizando dados da PNAD para o período de 1987 a 2001, analisaram os diferenciais dos rendimentos em relação ao sexo e cor, e a partir dos resultados concluíram que ao longo do período examinado houve uma redução do diferencial de rendimentos entre em homens e mulheres da mesma cor. Contudo, na média, os homens ainda obtiveram os maiores salários e isso pode estar relacionado à discriminação por sexo, pois as mulheres brancas e negras possuíam uma média de escolaridade superior aos homens brancos e negros. Segundo Fontes e Pero (2009), a expansão recente do emprego com carteira assinada proporciona um novo contexto para análise da segmentação no mercado de trabalho brasileiro. Com base na PME/IBGE entre os anos de 2002 a 2007, eles analisaram os diferenciais de rendimentos entre empregados formais, empregados informais e trabalhadores por conta própria, levando em conta o nível de escolaridade dos trabalhadores. Os resultados demonstraram a existência de diferenças nos rendimentos por posição de ocupação, embora haja uma redução no diferencial da renda, desde os anos 1980, os empregados formais continuam sendo beneficiados. As estimativas por nível de escolaridade apontam que os diferenciais de rendimentos são decrescentes em função da escolaridade, sugerindo maior segmentação entre empregos formais e trabalho por conta própria para os trabalhadores com níveis de escolaridade mais baixos. 3 Panorama da indústria de construção civil no Brasil e no Paraná Nesta seção será abordada a importante contribuição da construção civil no desenvolvimento da economia brasileira. Será examinado o desempenho da atividade, entre o período de 2000 a 2010, no Brasil e no Paraná. 3.1 Indústria da Construção Civil: Características e Importância para a Economia A indústria da construção civil é um setor de grande dinamismo pelo tamanho da sua cadeia produtiva e alguns estudos têm destacado suas características e a importância para o desenvolvimento da economia. Segundo a Comissão de Economia e Estatística da Câmara Brasileira da Indústria da Construção CEE-CBIC [ca. 2000], a construção civil ganhou importância e começou a se destacar como atividade industrial nos anos de 1950, reflexo do crescimento e desenvolvimento da economia brasileira iniciado neste período. A construção civil destaca-se entre os demais setores da economia devido às suas características, por apresentar maior potencial na geração de renda, emprego e condições mais dignas de vida. Tais particularidades estabelecem uma forte razão para que a sua cadeia produtiva seja vista com maior atenção (ABRAMAT, 2007). Para Tavares (2007), a construção civil exerce um papel fundamental no país, devido à capacidade de gerar empregos diretos e indiretos, inclusive absorve grande parcela de mão de obra não qualificada. Por conta disso, auxilia no desenvolvimento de países como o Brasil, em que a grande maioria da população economicamente ativa possui um baixo nível de instrução, e que não seria absorvida no mercado de trabalho que demanda uma mão de obra mais qualificada e especializada. De acordo com Teixeira e Carvalho (2005), a construção civil gera um forte impacto no desenvolvimento econômico e social. O setor apresenta potencial elevado na geração de emprego e renda, contribui na geração de impostos e também possui reduzido coeficiente de importação, indicando maior utilização de matéria prima e insumos nacionais. De acordo com (CEE–CBIC 2003), o investimento na construção civil é indispensável para o Brasil alcançar um novo ciclo de desenvolvimento, devido às particularidades do setor, como o baixo coeficiente de importação, o uso intensivo de mão de obra, inclusive absorve grande parcela de trabalhadores com baixo nível de qualificação formal, além dos efeitos multiplicadores sobre a economia, a renda, o emprego e impostos. Breitbach (2009) também evidencia a relevância deste setor: “A atividade da construção civil tem grande importância econômica não apenas pelo elevado volume de recursos financeiros que mobiliza e por seu forte efeito potencial gerador de empregos, mas também por sua capacidade de contribuir com o dinamismo de muitos segmentos industriais e de serviços. A cadeia produtiva da construção é formada por um grande número de gêneros industriais que aportam uma gama diversificada de insumos e serviços, durante as diversas etapas da produção de edificações. Assim, o dinamismo da construção civil é capaz de engendrar efeitos que se reproduzem - em diferentes intensidades– sobre o conjunto da economia, especialmente na indústria de transformação” (BREITBACH, 2009, p.1). A cadeia produtiva da construção civil abrange algumas atividades da indústria extrativista, por exemplo, a areia consumida na produção. O comércio de imóveis, a infraestrutura, como a construção de pontes, as estradas e as instalações industriais (KURESKI, et al, 2008). Outro aspecto importante da construção civil foi destacado por Vieira (2006), o impacto no meio ambiente causado por esta atividade, seja por meio da obtenção de matéria prima ou pela grande quantidade de resíduos gerados pelo setor. Cabendo destacar a importância da construção não só nos aspectos econômicos e sociais, mais também em termos ambientais. 3.2 Desempenho da Indústria da Construção Civil no Brasil de 2000 a 2010 Nos últimos anos a construção civil vem ostentando um aumento significativo em suas atividades. A Tabela 1 mostra algumas informações relevantes para o setor, no período de 2000 até 2010. O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil aumentou 220,23% e o Valor Adicionado Bruto da construção civil (VAB), em termos nominais expandiu a uma taxa de 223,75 % de 2000 a 2010. Em 2010 o PIB nacional alcançou R$ 3,770 trilhões, no mesmo ano o VAB da construção civil atingiu 182,4 bilhões. Pode-se observar na Tabela 1, com exceção de 2009, um crescimento real da economia brasileira entre 2000 a 2010, destacando o último ano da série em que o PIB expandiu a uma taxa de 7,5 % em relação ao ano de 2009, enquanto a construção civil apresentou uma excelente taxa de crescimento de 11,6%, mostrando uma forte recuperação em relação ao ano imediatamente anterior. Observa-se que ao longo do período a taxa de crescimento real do PIB aumentou em 3,3 p.p., contra 9 p.p. do VAB da Construção Civil. O investimento realizado em toda cadeia produtiva da construção civil tem colaborado para o desempenho apresentado pelo setor nos últimos anos. A Formação Bruta de Capital Fixo da Construção Civil (FBCFcc) aumentou significativamente, de 98,3 bilhões no ano 2000 para 298,2 bilhões em 2010, o que representa um crescimento de 203,7 %. No período a FBCFcc representa em média 7,3 % do PIB. O resultado desta atividade está relacionado ao desempenho da economia, que por sua vez, é representado pelo PIB. No Gráfico 1 nota-se que nos anos de forte crescimento do PIB, o setor expandiu a taxas elevadas, ao contrário, nos anos de baixo crescimento a construção civil registrou pouco incremento em suas atividades e em alguns anos chegou apresentar taxas negativas de crescimento. Uma possível explicação para relação do PIB com o desempenho da construção civil foi observada pelo SEBRAE- MG: “o aumento do PIB provavelmente estimulará a demanda interna, criando condições para a recuperação do consumo e do crédito, da renda familiar, do emprego e abrindo espaço para o retorno dos investimentos produtivos, refletindo, fatalmente no setor da construção” (SEBRAE-MG, 2005, p.6). Ano PIBpm - Total (em R$ milhões) VABpb - Contrução Civil (em R$ milhões) Taxa Real de Crescimento (%) FBCFcc - a preços correntes (em R$ milhões) Participação da FBCFcc/PIB (%) a preços correntes PIBpm - Total VABpb - Construção Civil 2000 1.179.482 56.364 4,3 2,0 98.305 8,3 2001 1.302.136 59.486 1,3 -2,1 103.070 7,9 2002 1.477.822 67.219 2,7 -2,2 114.517 7,7 2003 1.699.948 68.935 1,1 -3,3 114.768 6,8 2004 1.941.498 84.868 5,7 6,6 136.671 7,0 2005 2.147.239 90.228 3,2 1,8 144.709 6,7 2006 2.369.484 96.287 4,0 4,7 157.385 6,6 2007 2.661.344 111.201 6,1 4,9 177.816 6,7 2008 3.032.203 126.551 5,2 7,9 210.430 6,9 2009 3.239.404 146.783 -0,3 -0,7 247.550 7,6 2010 3.770.085 182.477 7,5 11,6 298.228 7,9 Δ % 220,23 223,75 3,3p.p 9,0p.p 203,37 -0,4 Tabela 1 - PIB Total, VAB Construção Civil, Taxa real de crescimento, FBCFcc e Participação FBCFcc/PIB), Brasil Fonte: Elaboração própria, a partir dados da CBIC (2000 -2010). Nota: PIBpm – Produto Interno Bruto a preços de mercado. VABpb – Valor Adicionado Bruto a preços básicos. FBCFcc – Formação Bruta de Capital Fixo da Construção Civil. De outro modo, para FGV (2011), à medida que a economia brasileira cresce, é necessário ampliar os investimentos, a infraestrutura econômica e as instalações comerciais e industriais do país. Gráfico 1 - Taxa real de crescimento, PIB total e Taxa real de crescimento do VAB da Construção Civil – 2000/2010 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da CBIC (2000-2010). De acordo com o Gráfico 1, o PIB total cresceu 1,3 % no ano de 2001 em relação ao ano de 2000, embora tenha registrado um resultado positivo a expansão da economia brasileira foi menor do que a apresentada em 2000. Segundo Giambiagi et al (2005), um conjunto de eventos, incluindo a crise de energia, o “contágio” argentino e os atentados terroristas de 11 de setembro que agitaram os mercados mundiais prejudicou o desempenho da economia no ano de 2001. A menor disponibilidade de capitais, gerado pelo aumento do risco-país refletiu nas taxas de juros domésticos. De acordo com CEE-CBIC (2003), os juros altos, a renda do trabalhador em baixa, o desemprego acentuado em conjunto com a demanda interna deprimida e a restrição do crédito exerceram impacto negativo para o desempenho da construção civil. Após o crescimento de 2% no ano de 2000, a indústria da construção civil registrou um período de queda nos anos de 2001, 2002 e 2003, respectivamente, as taxas de crescimento foram de -2,1% , -2,2% e -3,3%. Segundo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos – DIEESE (2011), a construção civil de 2000 até 2003 demonstrou instabilidade em suas atividades, devido à falta de incentivo, a não disponibilidade de recursos e a escassez de financiamentos imobiliários. No ano de 2004 a recuperação da economia foi bastante positiva para o setor, após três anos de recesso o VAB da construção civil cresceu a uma taxa de 6,6%, taxa superior ao PIB nacional que expandiu 5,7% no mesmo ano. Em 2005 encerrou o ano com um crescimento de 1,8%; embora abaixo do ano anterior, manteve o ritmo de recuperação do setor iniciada em 2004. No triênio 2006-2008 a construção civil seguiu a tendência nacional e apresentou um crescimento positivo nesses anos. Segundo o Boletim do Banco Central (2006), o crescimento da economia brasileira no ano de 2006, foi incentivado pelo aumento de investimento e do consumo. Devido à crise internacional ocorrida em 2008, o crescimento contínuo da economia brasileira iniciado em 2004 foi interrompido. No ano 2009 o PIB total retrocedeu a uma taxa de -0,3%. A desaceleração da economia brasileira refletiu na construção civil, a qual sofreu uma redução de -0,7% no VAB se comparado com ano de 2008. Em 2010, a economia brasileira cresceu a uma taxa extraordinária de 7,5%, enquanto a construção civil registrou a incrível taxa de 11,7% de crescimento. Este desempenho, segundo o Boletim da ABDI (2011), reflete o comportamento da demanda principalmente a demanda por investimento; além disso, ressalta o crescimento do emprego e da renda, com estímulos das políticas fiscais e de crédito. Para o DIEESE (2011), o resultado apresentado na construção civil nacional em 2010, ocorreu devido a um conjunto de fatores como, por exemplo, o aumento do crédito, a redução nas taxas de juros, as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), as obras habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida e a redução de impostos. 3.3 Desempenho da Indústria da Construção Civil no Paraná de 2000 a 2010 Alguns dados da construção civil do Paraná mostram que o setor vem crescendo nos últimos anos. Como pode ser observado na Tabela 2, o crescimento anual médio da construção civil paranaense foi de 1,6%, no períodode 2003 a 2009, contra 3,1% da construção nacional no mesmo período. Contudo, no ano de 2009, mesmo com efeitos da crise o setor expandiu a uma taxa de 1,8%, resultado superior à construção civil brasileira que registrou queda de 0,7 % em relação ao ano de 2008. Tabela 2 –Taxa de crescimento real do VAB da construção civil – Paraná e Brasil, 2003 a 2009 ANO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Crescimento Anual Médio (%) Paraná -2,2 5,6 -1,7 -2,1 1,6 7,9 1,8 1,6 Brasil -3,3 6,6 1,8 4,7 4,9 7,9 -0,7 3,1 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da CBIC (2003-2009). Nota: A CBIC não disponibiliza dados para o Paraná nos anos de 2000, 2001,2002 e 2010. O cimento é um insumo essencial para construção civil, o consumo deste é utilizado neste estudo como indicador ou uma proxy para avaliar o desempenho do setor no estado do Paraná. De acordo com a Tabela 3, o consumo de cimento não aumentou de forma linear e apresentou algumas oscilações no período de 2000 a 2010, porém vem demonstrando uma tendência de crescimento nos últimos anos. De 2000 a 2010 o consumo nacional de cimento cresceu de 39.710 toneladas para 60.008 toneladas, no mesmo período o consumo no Paraná aumentou de 2.272 toneladas para 2.381 toneladas. Cabe destacar a maior queda no consumo de cimento do estado ocorreu em 2003, apresentando uma variação negativa na ordem de 6,3% se comparado com ano de 2002, refletindo o desempenho da atividade no estado Paraná que neste ano reduziu a uma taxa de 2,2% do seu valor adicionado. No ano de 2004, a construção paranaense consumiu 2.260 toneladas, alta de 4% em relação a 2003. Tabela 3 – Consumo de cimento (em 1.000 toneladas) no Paraná e Brasil - 2000 a 2010 ANO BRASIL Crescimento Anual (%) PARANÁ Crescimento Anual (%) 2000 39.710 2.272 2001 38.864 -2,1 2.238 -1,5 2002 38.807 -0,1 2.320 3,7 2003 34.817 -10,3 2.173 -6,3 2004 35.660 2,4 2.260 4,0 2005 37.581 5,4 2.226 -1,5 2006 40.939 8,9 2.204 -1,0 2007 44.957 9,8 2.381 8,0 2008 51.489 14,5 3.001 26,0 2009 51.892 0,8 3.092 3,0 2010 60.008 15,6 3.749 21,2 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados do SNIC (2000-2010). Nos anos de 2005 e 2006 o consumo de cimento no Paraná caiu, ao contrário do que ocorreu no Brasil que apresentou aumento nesses dois anos. Para ano de 2008 a indústria da construção civil brasileira consumiu cerca de 52 mil toneladas de cimento,o que representa uma expansão de 14,5% comparado ao ano de 2007,seguindo a tendência nacional ,no Paraná cresceu 26% no mesmo ano. Observa-se que no período de 2007 a 2010 o aumento no consumo cimento foi mais consistente. A maior variação percentual no consumo deste produto ocorreu em 2010, tanto no Brasil como no Paraná, registrando aumento de 15,6% e 21,2%, respectivamente, em relação ao ano de 2009. De acordo com Lima e Castro (2011), os investimentos do PAC no estado do Paraná entre os anos de 2007 a 2010 totalizaram R$ 24,257 bilhões e foi desmembrado em três eixos; R$ 971,9 milhões em logística, R$ 9,188 bilhões no eixo energético e R$ 14,097 bilhões no social e urbano. Tal resultado pode estar explicando o aumento no consumo de cimento apresentado no Paraná neste mesmo período. Segundo Kureski (2011), após a recessão no ano de 2009 em função da crise financeira internacional, a economia paranaense e brasileira em 2010 cresceu 8,3% e 7,5% respectivamente. O governo federal tomou algumas medidas para conter efeitos da crise, adotou medidas de política fiscal, como a diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para indústria de automóvel, para eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar), para materiais de construção e a alteração no recolhimento do imposto de renda, além dessas, adotou medidas de política monetária no qual constitui a expansão de financiamentos provenientes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a redução nas taxas de juros e a diminuição na taxa do compulsório. 4 Mercado de trabalho e qualificação da mão de obra na construção civil Com o ritmo de expansão da indústria construção civil nos últimos anos, surgiu à necessidade de novos modelos de organização e a inserção tecnológica. Com isso, as empresas passaram a demandar profissionais mais capacitados para acompanhar a nova tendência, provocando um desequilíbrio no mercado de trabalho brasileiro e paranaense, tendo em vista que a mão de obra qualificada ainda é bastante escassa. De acordo com estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria – CNI (2011), 385 empresas da construção civil foram entrevistadas, sendo que 89% delas foram afetadas pela falta de mão de obra qualificada, mostra ainda que 94% das empresas tem dificuldade para contratar funcionários básicos, como por exemplo, pedreiros e serventes. A falta de profissional qualificado na construção civil pode estar relacionada a alguns fatos ocorridos na década de 80 e 90, como por exemplo, a recessão da economia brasileira neste período, a inflação elevada, o fim do Banco Nacional de Habitação (BNH) e a redução do crédito imobiliário, provocando uma redução nas atividades do setor, por consequência menor demanda por trabalhadores e menor investimento para qualificação de mão de obra, que por sua vez estes foram atraídos pelo desenvolvimento de outros setores, oferecendo melhores salários, trabalho mais seguro e menos braçal (COSTA; TOMASI, 2009). Para Costa e Tomasi (2009), os baixos salários praticados pelas empresas construtoras, bem como a ausência de investimentos na formação da mão de obra podem ter contribuído fortemente, para afastar muitos trabalhadores dispostos a se qualificarem nos ofícios da construção e nela permanecerem. Ainda segundo Costa e Tomasi (2009), a mão de obra da construção civil possui um elevado índice de rotatividade, o que também dificulta a formação de um profissional qualificado, o curto período de tempo na empresa interrompe o processo de aprendizado. A evasão do setor ou a troca de empresa muitas das vezes se da pelo desinteresse do empresário em manter o trabalhador e a busca pelo próprio trabalhador por salários melhores e condição de trabalho. Do mesmo modo o índice elevado da rotatividade desestimula os empresários a realizar investimentos na formação de seus empregados. De acordo Garcia e Dias (2011), a tecnologia está cada vez mais presente no setor da construção civil. Os processos produtivos têm demandado trabalhadores capazes de absorver informações técnicas, de modo que a busca pela qualificação tornou-se indispensável para melhorar a competitividade. Para Vieira (2006), os indivíduos estão mais exigentes com relação à qualidade dos produtos consumidos. Essa nova percepção dos consumidores tem provocado mudanças no aspecto mercadológico da construção nos últimos anos, consequentemente requer uma nova postura para o setor. Os novos processos passaram a demandar maior profissionalização dos gestores, tanto no aspecto de qualificação quanto na tecnologia operacional. Para este autor, as atividades da construção civil estão cada vez mais industrializadas sendo necessária a qualificação de mão de obra. A crescente demanda por profissionais qualificados ocorre não apenas na indústria da construção civil. Em função das mudanças ocorridas ao longo dos anos na economia brasileira, como por exemplo, a abertura comercial no ano de 1990, a estabilidade de preços, o mercado de trabalho nacional, passaram a exigir uma mão de obra mais qualificada. Para Reis (2006), as mudanças ocorridas na economia brasileira nos anos de 1990, como a abertura comercial e o programa de privatização, devem ter afetado a estrutura da demanda por trabalho, por meio da maior concorrência no mercado doméstico e a inserção de novas tecnologias. Isto deve ter provocado a maior demanda por trabalhadores qualificados. A intensa reestruturaçãodas empresas ao longo da década de 90 determinou o funcionamento da nova dinâmica do mercado de trabalho brasileiro. Diante dos processos de modernização e racionalização requeridas pelo mercado,as empresas buscam selecionar e manter trabalhadores com maior nível de escolaridade (ROSANDISKI,2001). De acordo com Dedecca (2002), as novas condições de funcionamento da economia brasileira vêm exigindo uma reestruturação do mercado trabalho formal. As empresas adotam critérios seletivos na demissão de trabalhadores e a qualificação tem sido um dos fatores determinantes, os trabalhadores menos qualificados tendem a serem demitidos em primeiro lugar, pois a recontratação dos mesmos não gera maiores custos de seleção e treinamento para as empresas. Uma das exigências impostas pelo novo paradigma tecnológico e de gestão empresarial capitalista é a da produção de bens e serviços com elevada carga de inteligência aplicada. Isto significa dizer que haverá não apenas poucos empregos no futuro, mas principalmente que cairá drasticamente a demanda de profissionais de baixa qualificação. Para um país como o Brasil que detém um enorme contingente de trabalhadores de baixa qualificação profissional e outro tanto defasado em relação às exigências tecnológicas atuais, é imenso o desafio de reciclá-los para inseri-los no mercado de trabalho (GARCIA, 2004, p.95). Segundo Menezes-Filho (2001), os retornos médios aumentaram entre 1992 e 1997, o que pode estar refletindo um aumento na demanda por mão de obra qualificada decorrente da abertura comercial que ocorreu no Brasil no início dos anos 1990. 5 Procedimentos metodológicos (METODOLOGIA)((Para realização deste trabalho foi efetuada uma pesquisa bibliográfica, baseada em material publicado em livros, artigos, revistas especializadas, entre outros relacionados ao tema, bem como utilizados dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Foi analisada a indústria da construção civil do estado do Paraná, conforme a classificação de atividades econômicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 2000 a 2010.) A escolha do período analisado neste estudo se deu pelo bom desempenho da construção civil nos últimos anos, proporcionando significativa expansão em termos de geração de emprego e renda em relação às demais atividades. Por meio de uma regressão econométrica, utilizando o modelo log-lin, conforme a equação 1, foi estimada a taxa de crescimento geométrico instantânea do emprego na construção civil para o período de 2000 a 2010 e de 2005 a 2010. ln Y = β1+ β2t + ut (1) Segundo Gujarati (2006) este modelo é similar a qualquer outro modelo de regressão linear, onde; lnY = regressando ou variável dependente (emprego da construção civil) em forma logarítmica. β1 e β2 = parâmetros a serem estimados. t = regressor ou variável independente (tempo). ut = termo de erro. O parâmetro β1 representa a quantidade inicial de empregos no setor. O parâmetro β2 mostra a taxa de crescimento instantânea em um ponto de tempo. A taxa de crescimento ao longo de um período é obtida através da expressão [antilog (β2)-1]*100, ou seja, antilogaritmo do β2 estimado subtraindo um e multiplicando a diferença por 100. Neste estudo também foi estimada a taxa absoluta de crescimento. Diferentemente do modelo lin-log apresentado acima em que mostra a variação relativa, o modelo tendência linear mostra a variação absoluta. Neste caso, o modelo é especificado conforme a equação (2). Yt = β1+ β2t +ut (2) em que; Y = regressando (emprego da construção civil). β1 e β2 = parâmetros a serem estimados. t = variável tempo, conhecida como variável tendência. ut = termo de erro. De acordo com Gujarati (2006), para executar este modelo a regressão da variável dependente Y deve ser em relação ao tempo. Se o coeficiente angular (β2) for positivo, Y apresenta uma tendência crescente, se for negativo a tendência é decrescente. Como proxy da qualificação profissional foi adotado o nível de escolaridade do pessoal ocupado. Os trabalhadores foram classificados em quatro grupos de qualificação, quais sejam: (i) trabalhadores com até o 5º ano do ensino fundamental (analfabeto, 5º ano do ensino fundamental incompleto e completo), foram classificados como não qualificados; (ii) trabalhadores entre 6º e 9º anos do ensino fundamental (incompleto e completo), foram classificados como baixa qualificação; (iii) trabalhadores com até ensino médio (incompleto e completo) foram classificados como qualificação intermediária; e por último (iv) os trabalhadores que ingressaram no ensino superior (incompleto e completo) foram considerados qualificados nesse estudo. Devido à mudança de metodologia da RAIS, foi realizada uma compatibilização do nível de escolaridade, para período de 2000 a 2005 conforme o quadro 1: Quadro 1 – Níveis de Qualificação Profissional Grau de Instrução 1985 a 2005 Escolaridade Agregada após 2005 Classificação Analfabeto Analfabeto Não Qualificado Até 4ª Série Completa Até 5º ano do Fundamental 8ª Série Incompleta 6º a 9º ano Fundamental Incompleto Baixa Qualificação 8ª Série Completa 9º ano Fundamental Completo 2º Grau Incompleto Médio Incompleto Qualificação Intermediária 2º Grau Completo Médio Completo Superior Incompleto Superior Incompleto Qualificado Superior Completo Superior Completo Fonte: Elaboração Própria. Para obter o rendimento médio trabalho da construção civil do Paraná, a remuneração média nominal foi deflacionado pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), a preços de 2001. 6 Análise dos resultados para indústria da construção civil do Paraná – 2000 a 2010 Nesta seção, além de apresentar a evolução do emprego no setor da construção civil paranaense ao longo do período 2000 a 2010, destacam-se as principais mudanças no emprego e renda segundo a qualificação profissional dos trabalhadores que atuam nesta indústria. Para tanto, foram utilizados dados da RAIS, sendo os trabalhadores classificados em quatro níveis de qualificação profissional: não qualificado, baixa qualificação, qualificação intermediária e qualificado. 6.1 Evolução do Emprego nos Principais Setores de Atividade do Paraná - 2000 a 2010 Ao longo dos anos 2000 houve uma expansão significativa nos postos de trabalho formal em todos os setores de atividade do estado do Paraná. A Tabela 4 mostra a evolução do emprego no período de 2000 até 2010. O setor de comércio e a indústria de transformação, ao lado da construção civil, foram os principais responsáveis pela geração de emprego no Paraná entre os anos de 2000 a 2010. O comércio registrou crescimento de 103,52 % em relação ao ano de 2000, com pouco mais de 590 mil trabalhadores no setor em 2010. A indústria de transformação também apresentou um bom desempenho na criação de emprego de 353.881 em 2000 para 658.613 no ano de 2010, isso representa uma variação percentual de 86,11 %. Na Tabela 4 pode-se observar que o setor de serviços é o maior em número de postos de trabalho empregando aproximadamente 843 mil trabalhadores no ano de 2010. O desempenho da indústria da construção civil nos últimos anos teve como consequência o aquecimento do seu mercado de trabalho. No período de 2000 a 2010 o número de postos de trabalho deste setor passou de 64.528 para 136.051; em termos absolutos houve incremento de 71.523 empregos, o que representa um crescimento de 110,84%. Com esse resultado a construção civil foi o setor que proporcionou a maior expansão no emprego dentro do período analisado. Entre os anos de 2000 a 2010 o emprego da construção civil representa em média 3,5% da força do trabalho do estado do Paraná. De acordo com a Tabela 5 a participação da construção civil no mercadode trabalho aumentou de 3,9% em 2000 para 4,89% em 2010. A taxa geométrica instantânea mostra que o crescimento do emprego formal na construção civil entre os anos de 2000 a 2010 foi de 7,6% ao ano, sendo que a taxa de crescimento do período foi de 7,8%. Como se pode observar na Tabela 5, no período de 2005 a 2010 o aumento no emprego da construção civil foi mais robusto, neste período a taxa geométrica de crescimento instantânea foi de 17,84% ao ano, e ao longo deste período foi de 19,53%. Tabela 4 – Evolução do emprego formal nos setores de atividade do estado do Paraná – 2000 a 2010 ANO Extrativa Mineral Indústria de Transformação SIUP Construção Civil Comércio Serviços Administração Pública Agropecuária 2000 4.302 353.881 16.505 64.528 290.006 510.719 327.816 85.616 2001 4.659 372.956 16.444 63.377 308.023 547.169 324.922 84.106 2002 4.286 408.936 17.147 60.408 336.703 568.930 334.861 81.360 2003 4.284 431.618 17.959 55.012 368.963 582.883 338.247 85.414 2004 4.682 483.432 19.075 55.481 404.357 617.626 354.955 93.162 2005 4.411 496.518 20.618 56.391 431.821 642.430 366.035 91.124 2006 5.137 533.130 23.554 65.655 452.084 676.813 403.483 91.434 2007 5.328 585.818 23.262 76.802 488.158 709.362 398.574 91.627 2008 5.617 608.802 24.095 97.194 524.739 747.050 392.376 104.022 2009 5.722 620.249 24.715 112.059 548.637 779.480 441.693 105.234 2010 6.930 658.613 25.376 136.051 590.211 842.872 421.072 102.590 Δ % 61,09 86,11 53,75 110,84 103,52 65,04 28,45 19,83 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da RAIS (2000-2010). Nota: (SIUP) – Serviços Industriais de Utilidade Pública. Tabela 5 - Participação da Construção Civil no mercado de trabalho paranaense -2000 a 2010 ANO Construção Civil Total Emprego - Paraná Taxa de Participação (%) - Construção Civil 2000 64.528 1.653.373 3,90 2001 63.377 1.721.656 3,68 2002 60.408 1.812.631 3,33 2003 55.012 1.884.380 2,92 2004 55.481 2.032.770 2,73 2005 56.391 2.109.348 2,67 2006 65.655 2.251.290 2,92 2007 76.802 2.378.931 3,23 2008 97.194 2.503.895 3,88 2009 112.059 2.637.789 4,25 2010 136.051 2.783.715 4,89 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da RAIS (2000-2010). No período de 2000 a 2010, o emprego formal da construção civil, em média, obteve uma taxa absoluta de 6.313 empregos por ano. Entre os anos de 2005 a 2010 a taxa absoluta foi de 15.940 empregos por ano. 6.2 Qualificação da Mão da Obra na Construção Civil Paranaense Após verificar a evolução do emprego nos principais setores de atividade, com destaque para a construção civil, é importante observar a decomposição do emprego e a evolução da renda média real desta atividade no Paraná, por nível de qualificação profissional, no período 2000-2010. A indústria da construção civil, de modo geral, é um setor intensivo em mão de obra e inclusive concentra uma boa parcela de trabalhadores com pouca qualificação. No Paraná, percebe-se um aumento em todos os níveis de qualificação profissional, no período examinado, como pode ser observado na Tabela 6. O grupo não qualificado cresceu 0,32% em 2010 se comparado com o ano 2000, representando o menor crescimento entre os demais grupos. Em relação à sua participação relativa na força de trabalho, registrou queda de 18,28 p.p. no período. O grupo denominado de baixa qualificação expandiu de forma significativa ao longo do período, em número absoluto o crescimento foi de 26.4 mil para 52.3 mil em 2010, o que equivale uma expansão de 98,10%. Contudo, verifica-se que a participação deste grupo reduziu no período examinado, representava 40,93% do total no de ano 2000 e passou a representar 38,46% em 2010. Ao contrário do que ocorreu com nível de baixa qualificação, a participação do grupo constituído por trabalhadores de qualificação intermediária aumentou de 18,91% em 2000 para 39,93% em 2010, o que representa um aumento de 21,02 p.p.. Em 2010, cerca de 54,3 mil trabalhadores pertenciam a este grupo, 45.1 mil trabalhadores a mais do que em 2000, o que representa um aumento expressivo de 345,28%. De acordo com estes resultados, este foi o grupo que apresentou a melhor evolução em termos de geração de emprego na construção civil do Paraná, ao longo do período estudado. Já o número de trabalhadores qualificados mais que dobrou de 2000 até 2010, o crescimento do emprego para este grupo foi de 100,06%, embora sua participação praticamente manteve-se a mesma em todo o período. Tabela 6 – Emprego na Indústria da Construção Civil paranaense, por nível de qualificação profissional, em número absoluto e percentual – 2000 a 2010 Ano Não Qualificado Baixa Qualificação Qualificação Intermediária Qualificado Total Emprego % Emprego % Emprego % Emprego % 2000 22.503 34,87 26.411 40,93 12.200 18,91 3.414 5,29 64.528 2001 20.405 32,20 26.671 42,08 12.913 20,37 3.388 5,35 63.377 2002 17.663 29,24 26.899 44,53 12.554 20,78 3.292 5,45 60.408 2003 15.102 27,45 25.172 45,76 11.943 21,71 2.795 5,08 55.012 2004 14.725 26,54 24.692 44,51 13.202 23,80 2.862 5,16 55.481 2005 14.138 25,07 24.859 44,08 14.620 25,93 2.774 4,92 56.391 2006 15.076 22,96 29.303 44,63 18.098 27,57 3.178 4,84 65.655 2007 15.671 20,40 34.375 44,76 23.139 30,13 3.617 4,71 76.802 2008 18.839 19,38 41.787 42,99 31.909 32,83 4.659 4,79 97.194 2009 20.053 17,89 45.377 40,24 41.007 36,36 5.622 4,99 112.059 2010 22.576 16,59 52.321 38,46 54.324 39,93 6.830 5,02 136.051 Δ % 0,32 -18,28 98,10 -2,47 345,28 21,02 100,06 -0,27 110,84 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da RAIS (2000-2010). A partir desses dados, constata-se uma importante evolução em termos de qualificação profissional no mercado de trabalho da construção civil paranaense; houve uma queda na participação dos grupos denominados: não qualificado e de baixa qualificação, enquanto o grupo de qualificação intermediária registrou a maior expansão de postos de trabalho no período. Essa combinação de resultados pode ser atribuída à maior demanda por mão de obra mais qualificada e ou à maior oportunidade de escolarização dos trabalhadores pelo sistema educacional. Durante todo o período examinado foi mantida a predominância do gênero masculino entre os trabalhadores da construção civil. Em 2000, havia 59.296 trabalhadores homens (91,89%), em 2010 eram 126.681 deles (93,11%), aumentando sua participação em 1,22 p.p. no período. O número de mulheres atuantes no mercado de trabalho da construção civil paranaense aumentou 79,09% nesse período, embora sua participação tenha reduzido em 1,22 p.p. (ver tabela 7). Em 2000 elas ocupavam 5.232 vagas de emprego (8,11%) e em 2010 esse número cresceu para 9.370 (6,89%). Pelo fato de as mulheres serem mais detalhistas e cuidadosas do que os homens, elas podem estar se sobressaindo em algumas tarefas específicas do setor, isso pode justificar tal resultado. Tabela 7 – Emprego na Construção Civil do Paraná, por gênero - 2000 a 2010 Ano Homens Mulheres Total Emprego % Emprego % 2000 59.296 91,89 5.232 8,11 64.528 2001 58.114 91,70 5.263 8,30 63.377 2002 56.312 93,22 4.096 6,78 60.408 2003 51.267 93,19 3.745 6,81 55.012 2004 51.768 93,31 3.713 6,69 55.481 2005 53.136 94,23 3.255 5,77 56.391 2006 61.844 94,20 3.811 5,80 65.655 2007 72.524 94,43 4.278 5,57 76.802 200891.881 94,53 5.313 5,47 97.194 2009 105.289 93,96 6.770 6,04 112.059 2010 126.681 93,11 9.370 6,89 136.051 Δ % 2000-2010 113,64 1,22 79,09 -1,22 110,84 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da RAIS (2000-2010). Em relação à faixa etária, houve expansão do emprego de forma generalizada em todas as faixas na construção civil do Paraná. De acordo com a Tabela 8, cabe destacar que a evolução dos postos de trabalho por faixa etária foi mais expressiva naquelas com maior idade. A maior taxa de crescimento foi para aqueles com idade de 50 a 64 anos com um aumento de 217,91%. Seguida pela faixa de 65 anos ou mais que representou um crescimento de 215,19% nos postos de trabalhos, no período examinado. Tabela 8 – Emprego na Construção Civil do Paraná, por faixa etária - 2000 a 2010 Ano Até 17 anos De 18 a 24 anos De 25 a 29 anos De 30 a 39 anos De 40 a 49 anos De 50 a 64 anos 65 anos ou mais Total 2000 334 11.583 10.897 20.123 14.120 7.115 349 64.521 2001 263 11.065 10.755 19.783 14.009 7.140 358 63.373 2002 266 9.702 9.663 18.900 13.916 7.595 361 60.403 2003 190 8.238 8.977 17.317 12.937 7.050 303 55.012 2004 234 7.594 8.511 17.637 13.450 7.730 325 55.481 2005 206 7.590 8.476 17.720 13.854 8.183 362 56.391 2004 234 7.594 8.511 17.637 13.450 7.730 325 55.481 2006 216 8.862 9.660 19.886 16.532 10.077 421 65.654 2007 279 10.601 10.947 22.637 19.238 12.581 519 76.802 2008 340 14.493 14.121 27.674 23.587 16.303 576 97.094 2009 350 17.392 16.473 31.920 26.655 18.430 839 112.059 2010 547 22.363 20.155 37.570 31.696 22.619 1.100 136.050 Δ % 63,77 93,07 84,96 86,70 124,48 217,91 215,19 110,86 Fonte: Elaboração própria, a partir da RAIS (2000-2010). A faixa etária de 40 a 49 anos foi terceira que mais cresceu no período, de 14.120 para 31.696 em 2010, o equivalente a 124,48%. Segundo FGV (2011), a construção civil era um setor em que tradicionalmente as pessoas começavam a trabalhar muito jovens. No entanto, devido à busca para melhorar seu nível de escolaridade, os jovens brasileiros estão entrando cada vez mais tarde no mercado de trabalho e migrando para outros segmentos da economia que ofereçam funções menos braçais e mais qualificadas do que as oferecidas no setor da construção. De 2000 a 2010 no Paraná houve um incremento de apenas 213 empregos para os jovens de até 17 anos, o que representou um aumento de 63,77%, porém se comparado com as demais faixas etárias foi a que menos cresceu no período. Em termos absolutos, a faixa etária de 30 a 39 anos tem predominado no setor da construção civil, em 2010 ocuparam 37.570 postos de trabalho. Para mostrar o comportamento do rendimento médio real, considerou-se a remuneração média nominal obtida ao longo dos anos deflacionada pelo INPC, com base no ano de 2001. Devido o desempenho da construção civil nos últimos anos, os dados sobre os rendimentos médio real da Tabela 9 revelam um crescimento para todos os níveis de qualificação profissional. Cabe destacar, que o maior aumento ocorreu para o grupo de baixa qualificação. No acumulado, verifica-se um aumento real de 20,77%, ou seja, de R$ 501,16 em 2001 passou para R$ 605,23 em 2010. Se comparado com ano imediatamente anterior, a taxa de crescimento do rendimento médio dos trabalhadores de baixa qualificação em 2010 foi na ordem de 4,28%. O segundo melhor resultado foi do grupo de qualificação intermediária, que registrou um crescimento real nos rendimentos médios de 13,71% no período. Em seguida foi do grupo dos trabalhadores qualificados, com um crescimento de 10,70%. Em ambos os grupos, a remuneração média real cresceu em torno de 2,5% em 2010. Para o grupo não qualificado, constatou-se um crescimento no rendimento médio de 9,97%, o que representa a menor taxa registrada entre os níveis de qualificação profissional. Nos anos de 2002 e 2003, o país passou por uma crise, que refletiu tanto na construção civil (ver tabela 1 e 2) como no mercado de trabalho em geral. Observa-se nesses anos que a renda média real cresce, mas a taxas negativas, sendo que para os qualificados a queda foi de 10,60%. Tabela 9 – Rendimento médio real da Construção Civil paranaense, por nível de qualificação profissional – 2001/ 2010 Ano Não Qualificado Baixa Qualificação Qualificação Intermediária Qualificado Remuneração média real Δ % Remuneração média real Δ % Remuneração média real Δ % Remuneração média real Δ % 2001 477,40 501,16 579,42 1.392,25 2002 461,48 -3,33 473,66 -5,49 556,26 -4,00 1.353,28 -2,80 2003 436,35 -5,45 472,58 -0,23 537,41 -3,39 1.209,89 -10,60 2004 455,75 4,45 481,10 1,80 542,98 1,04 1.265,86 4,63 2005 450,49 -1,15 487,61 1,35 554,30 2,09 1.185,09 -6,38 2006 467,61 3,80 498,08 2,15 568,44 2,55 1.215,45 2,56 2007 470,29 0,57 505,84 1,56 559,26 -1,62 1.287,06 5,89 2008 500,86 6,50 538,90 6,54 600,78 7,43 1.413,31 9,81 2009 515,71 2,96 580,37 7,69 642,05 6,87 1.502,40 6,30 2010 525,01 1,80 605,23 4,28 658,84 2,61 1.541,15 2,58 Δ% 9,97 20,77 13,71 10,70 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da RAIS (2001-2010). Notas: Valores da remuneração média nominal, não disponível na RAIS para ano de 2000. Valores deflacionados para 2001 pelo Índice Nacional de Preço a Consumidor (INPC). Embora a taxa de crescimento não tenha sido a mais elevada para os trabalhadores qualificados, nota-se um diferencial elevado nos rendimentos deste grupo. Em todos os anos o trabalhador qualificado recebeu mais do que dobro se comparado com os demais trabalhadores. Essa dispersão na remuneração está associada à variável capital humano, citada neste estudo. De acordo com teoria do capital humano, o nível de escolaridade é um dos principais determinantes dos rendimentos em um mercado de trabalho. Vale lembrar que o grupo denominado qualificado neste estudo é constituído por indivíduos que ingressaram no ensino superior. É importante ressaltar ainda que em 2008 as taxas de crescimento dos rendimentos médios da construção civil do Paraná foram as maiores do período examinado. Tal desempenho mostra as consequências da crise internacional de 2008 que atingiu não só o setor da construção civil, mas toda a economia brasileira e paranaense, a partir de 2009. 7 Considerações Finais Este artigo procurou analisar as principais mudanças no emprego e na renda por nível de qualificação profissional dos trabalhadores que atuam na indústria da construção civil do Paraná, entre 2000 a 2010. (CONCLUSÃO) (A Construção Civil tem apresentado bons resultados, tanto no Brasil como no estado do Paraná. O desempenho do setor nos últimos anos é proveniente dos estímulos dados pelo governo federal, tais como; a expansão do crédito imobiliário, redução do IPI e as obras do PAC e do Programa “Minha Casa, Minha Vida”. Além disso, o aumento do emprego formal e o crescimento da renda das famílias contribuíram para o crescimento do setor.) Devido à sua característica peculiar (a rápida absorção da mão de obra), e o crescimento das atividades, a Construção Civil foi setor da economia paranaense que mais evoluiu na geração de empregos no período examinado, visto que alcançou cerca de 136 mil postos de trabalho em 2010. A partir dos dados da RAIS pode-se destacar uma tendência positiva, revelada ao longo do período, qual seja uma redução contínua da participação dos trabalhadores não qualificados, combinada com a elevação do número de trabalhadores qualificados. Este resultado pode indicar uma mudança importante na composição da forçade trabalho na indústria da construção civil paranaense. Contudo, é preciso avançar na qualificação da mão de obra, tendo em vista que os trabalhadores qualificados ocuparam em média apenas 5,05% dos postos de trabalho, sugerindo a necessidade de investimento em treinamento e educação. Na Construção Civil do Paraná percebe-se um viés para o gênero masculino e pela experiência do trabalhador devido às características do setor, por tratar-se de uma atividade que ainda exige um esforço físico muito grande e pela falta de investimentos na formação da mão de obra qualificada. Este resultado está de acordo com a teoria da segmentação; segundo essa teoria o emprego em que o indivíduo irá atuar é definido por suas características individuais. O mercado de trabalho desta atividade no Paraná, durante todo o período estudado, foi predominado por homens com idade entre 30 a 39 anos, mas cabe ressaltar a presença das mulheres que cresceu 79,09%. Em termos de rendimento médio, os trabalhadores de todos os níveis de qualificação obtiveram aumento real no final do período. Verificou-se a menor taxa de crescimento da renda para aqueles denominados como não qualificados. Em consonância com a queda da desigualdade de renda ocorrida no país e no estado nos últimos anos, a expansão do rendimento médio acumulado dos trabalhadores qualificados foi inferior aos de baixa qualificação e de qualificação intermediária. Os trabalhadores de qualificação intermediária foram os mais beneficiados com o desempenho da construção civil paranaense nos últimos anos, houve um incremento de 42.124 empregos para este grupo no período examinado. Em relação ao rendimento médio real deste grupo, a taxa de crescimento foi de 13,71%, expansão inferior apenas do grupo de trabalhadores com baixa qualificação. (REFERENCIAL TEÓRICO) Referências AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – ABDI. Boletim Conjuntura Industrial, mar.2011, Disponível em: < http://www.abdi.com.br/Estudo/boletim_neit_marco_final.pdf> . Acesso em: 02 fev.2012 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE MATERIAIS DE CONTRUÇÃO - ABRAMAT. A Cadeia Produtiva da Construção e Mercado de Materiais, 2007. 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