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agressividade para freud

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O conceito de agressividade em Freud nasce como um dos componentes da pulsão sexual. Nos “Três ensaios…”, Freud aponta que
No tocante à algolagnia ativa, o sadismo, suas raízes são fáceis de apontar nas pessoas normais. A sexualidade da maioria dos varões exibe uma mescla de agressão, de inclinação a subjugar, cuja importância biológica talvez resida na necessidade de vencer a resistência do objeto sexual de outra maneira que não mediante o ato de cortejar. Assim, o sadismo corresponderia a um componente agressivo autonomizado e exagerado da pulsão sexual, movido por deslocamento para o lugar preponderante. (FREUD, 1996, vol VII, “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, pg 148, grifos do autor)
Freud parece não ter dúvidas sobre a origem sexual da agressividade. Nesse sentido, comenta no mesmo texto: “Que a crueldade e a pulsão sexual estão intimamente correlacionadas é-nos ensinado, acima de qualquer dúvida, pela história da civilização humana” (idem, fls 150).
Em 1920, no entanto, com a proposição do conceito de “pulsão de morte”, Freud passará a pensar a agressividade como uma pulsão independente e oposta à sexualidade. Passou-se, portanto, de um extremo (sexual) à outro (anti-sexual). Entre os dois extremos surge o texto sobre o narcisismo.
Freud o escreveu, como se sabe, a partir das discussões com Jung sobre a inflexão da libido na esquizofrenia[1], que se retiraria do mundo e retornaria ao Eu. Nesse texto o aparelho mental humano é apresentado como um aparelho destinado, acima de tudo, a dominar excitações:
reconhecemos nosso aparelho mental como sendo, acima de tudo, um dispositivo destinado a dominar as excitações que de outra forma seriam sentidas como aflitivas ou teriam efeitos patogênicos. (FREUD, 1914, “Sobre o narcisismo: uma introdução”, pg. 92).
A agressividade seria uma expressão dessa tendência, que buscaria dominar o desprazer oriundo das excitações do mundo externo. Como observa Souza Lima (2007, fls. 48), nesse contexto, “a emergência de toda e qualquer instância alteritária consistirá numa ameaça, devendo, portanto, ser destruída enquanto tal”. Assim, a agressividade vincula-se ao narcisismo, porque
‘Sua majestade o sujeito narcisista’, esforça-se por transformar em ‘si-mesmo’ tudo que vê ou toca, ignorando, ou mesmo abominando, tudo que não seja ‘Eu’. A hostilidade está no fundamento da relação do sujeito com toda e qualquer instância alteritária, “provém do repúdio primordial do ego narcisista ao mundo externo com seu extravasamento de estímulos” (FREUD, 1915, p.161, apud SOUZA LIMA, 2007, pg 41).
Essa aproximação entre agressividade e narcisismo é problemática, porque, nessa época, Freud opunha o Ego ao sexual; e a agressividade era sexual. Como agora seria também expressão do narcisismo egóico?
Veremos mais adiante que a questão foi resolvida por Freud através de um “retorno ao pulsional”. Por hora, consideremos que é como se esse duplo lugar concedido à agressividade forçasse Freud à escolher entre duas alternativas exclusivas: OU o psiquismo se estrutura a partir de seus próprios fundamentos, OU há necessidade de relações com o exterior (o ambiente) para estruturar o psiquismo.
No primeiro caso, temos uma autonomia pulsional comandando tudo, e o psiquismo é como o sistema digestivo do bebê, que já nasce pronto, funcionante, e só se relaciona com o fora – com o alimento – para “traduzi-lo” em elementos assimiláveis, aproveitáveis. A agressividade seria, então, uma pulsão.
No segundo caso, há necessidade de uma relação com o meio para desenvolver o sistema. Mal comparando, seria como o sistema muscular, que embora esteja atuante desde o nascimento, necessita do ambiente, da relação, do movimento, para se desenvolver. Essa relação com o ambiente seria constituinte da situação do próprio sistema muscular; há toda diferença entre uma pessoa que permaneceu imóvel durante todo o crescimento e outra que pôde se movimentar bastante. Nesse exemplo, a  agressividade seria não uma pulsão, mas ligada ao ego.
No fundo, trata-se de saber qual o estatuto do “Eu”, se ele se desenvolve somente a partir de considerações pulsionais ou se o ambiente joga um papel nisso. Em Freud a resposta é ambígua – na verdade, são várias as respostas, dependendo do momento teórico em que nos encontramos.
O que gostaria de sugerir é que as considerações de Freud sobre o narcisismo e a agressividade o aproximaram desse ponto de inflexão na teoria, onde haveria de ser decidido se a psicanálise daria primazia ao pulsional ou ao ambiental. Tanto é assim que o texto sobre o narcisismo é um dos poucos em que Freud “faz referência, de modo tão explícito quão enfático, à nossa condição inicial de dependência absoluta dos ‘cuidados’ e da atenção de um ‘agente externo’ (SOUZA LIMA, 2007, pg 38):
Na realidade o estado narcisista primordial não seria capaz de seguir o desenvolvimento, se não fosse pelo fato de que todo indivíduo passa por um período durante o qual é inerme, necessitando de cuidados, e durante o qual suas necessidades prementes são satisfeitas por um agente externo, sendo assim impedidas se tornarem maiores (Freud, 1915, p. 156, apud SOUZA LIMA, 2007, pg 38)
Ao meu ver, essa vinculação entre agressividade, narcisismo e ambiente permanecerá como um “resto não analisado” na teoria freudiana, retornando mais adiante como “recalcado” na famosa tese do “Mal-estar na civilização”.
Recapitulemos: Freud reconhecia uma dualidade entre o Ego e a sexualidade; concebia a agressividade como parte do sexual, mas a partir das questões relativas ao narcisismo, passa a cogitar que a agressividade na verdade estaria relacionada ao Ego. Por fim, percebia que o ambiente – os pais – eram fundamentais para o desenvolvimento da criança, ao atuarem como “escudos protetores”, que impediam que as necessidades da criança se tornassem grandes demais.
Assim dispostas as peças, e num olhar retrospectivo, Freud parecia ter todos os elementos para concluir, como Winnicott o fará anos depois, que a agressividade é sim um impulso a serviço do Ego, cuja importância está relacionada justamente  com a capacidade de estabelecer uma diferenciação entre o “Eu” e o “não-Eu”, e que nesse processo o ambiente joga papel fundamental. Parecia faltar apenas um passo. E foi então que…
E foi então que veio 1920. Abandonando um caminho que talvez o tivesse levado a reconhecer a importância do ambiente, Freud retorna à primazia da pulsão ao escrever “Além do Princípio do Prazer”.
Entendamos: na renovação conceitual derivada do narcisismo, a agressividade foi deixada a meio caminho entre o Ego e o sexual. Mais ainda, a importância da agressividade como pulsão foi relativizada, ao conceber que ela talvez se exercesse a partir de considerações defensivas do Ego. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo em que a importância do ambiente se avizinhava.
Como que reagindo à isso, em “Além do princípio do prazer” as pulsões retomam sua primazia, e são ainda mais dissociadas de qualquer outra determinação – ou, por outra, são tornadas ainda mais autônomas – a partir da introdução do conceito de “compulsão à repetição”. Como diz Green,
Freud fazia o possível para não se afastar de uma base teórica que tinha como certa: a primazia das pulsões – reafirmando com o conceito de compulsão à repetição a quase autonomia do funcionamento pulsional. Se Freud desconfia de todo deslizamento em direção ao objeto e aos fatores ambientais, promovido pelos discípulos, é porque teme uma regressão da teoria psicanalítica a uma concepção que atribui muito à conjuntura, ao real, à eventualidade. (GREEN, 1990, apud SOUZA LIMA, 2007, fls 51).
Encerra-se assim uma possibilidade outra de conceitualização da agressividade em Freud, e também a possibilidade de reconhecer o papel do ambiente no desenvolvimento humano. Doravante a agressividade será expressão de uma pulsão complicada, a “pulsão de morte”, que podemos definir, com Laplanche e Pontalis, como o
Conceito criado por Freud como contraposição às pulsões de vida (Eros) e que tende para a redução completadas tensões, para a redução do ser vivo ao estado inorgânico. Inicialmente voltada para o interior e tendente à autodestruição, é secundariamente dirigida para o exterior, manifestando-se então sob a forma de pulsão agressiva ou destrutiva. (Laplanche e Pontalis, 1976).
Talvez como mais uma expressão daquele “resto não analisado”, esse conceito de pulsão de morte será um dos mais controversos conceitos da psicanálise, não sendo aceito (ou utilizado) pela grande maioria dos psicanalistas praticamente desde sua concepção.
Resta a questão do ambiente. Que lugar receberá na conceitualização posterior de Freud, depois de perder a oportunidade de se tornar um dos conceitos centrais da psicanálise?
Um lugar marginal. O ambiente, o “não-eu”, ocupará doravante um lugar secundário, já que, grosso modo, as pulsões regulam-se por si mesmas, e o papel dos objetos do mundo externo será apenas o de servir de ocasião para expressão das pulsões.
A independência pulsional opõe-se ao reconhecimento da dependência ambiental do ser humano. O bebê, para crescer, precisa apenas não ser atrapalhado em seu desenvolvimento? Então estamos diante de um modelo de primazia pulsional, onde as pulsões ‘já nascem prontas’, por assim dizer. Há necessidade de uma relação com o ambiente para que o bebê se desenvolva? Então estamos diante de um modelo de primazia ambiental, onde a própria montagem da pulsão decorre das relações ambientais.
Ambas não podem ter a primazia juntas, pois opõe-se mutuamente. E Freud privilegiou o pulsional, não há dúvida. Persistiu, entretanto, uma certo mal-estar… uma espécie de ‘retorno do recalcado’, onde, pareceria, a questão do ambiente insistiu em retornar.
Penso, por exemplo, no texto do “Mal estar na civilização”, aonde Freud postula que, para viver em sociedade, o homem se veria obrigado a limitar suas pulsões – daí o “mal-estar”. Entenda-se, é o ambiente – a civilização – impondo uma restrição às pulsões.
Para encerrar, considere-se que, em Freud, a agressividade é dada como integrada desde sempre ao sujeito. Claro, ela é uma … pulsão, e a pulsão seria sempre primeira na organização psíquica. Não há que se integrar uma pulsão, não há desenvolvimento necessário, anterior ao funcionamento da pulsão. Seu funcionamento é que permitirá que o desenvolvimento ocorra.
Logo, o problema freudiano será não a integração da agressividade no sujeito – via social, como quer Winnicott, ou seja, via ambiente -, mas a integração do sujeito agressivo… no social. São quase os mesmos termos, mas, como veremos, ao “recolher” e sustentar a importância do ambiente no desenvolvimento, Winnicott permitirá toda uma outra visão da agressividade, que, em certa medida, revolucionou a psicanálise.

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