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58 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Unidade II 5 AS BASES DO COMÉRCIO: DOTAÇÃO DE FATORES E MODELO HECKSHER‑OHLIN Estudaremos novas hipóteses que solucionaram grande parte das inconsistências verificadas na análise do Modelo Ricardiano. Anteriormente, vimos que custos relativos de produção se diferenciam de seus próprios preços relativos em autarquia. Agora examinaremos, com mais detalhes, os fatores que influenciam os preços relativos antes da abertura comercial dos países, concentrando‑nos nas diferenças do lado da oferta. Os objetivos do estudo são os seguintes: • Entender como as dotações (quantidades) relativas de fatores de produção afetam os preços relativos desses insumos. • Reconhecer como diferentes preços relativos de fatores de produção geram a base para o comércio internacional. • Compreender como o comércio influencia o preço relativo dos fatores de produção e a distribuição de renda dentro dos países. 5.1 O Modelo de Fatores Específicos Vimos no Modelo Ricardiano – em que há apenas um tipo de fator de produção escasso e homogêneo (o trabalho) e inexistem custos ou barreiras para a movimentação desse fator entre os diferentes segmentos econômicos – que a questão da distribuição da renda não pode ser avaliada de forma adequada. Nesse caso, os recursos podem mover‑se rapidamente de um setor produtivo para outro, de acordo com o salário a ser pago. Sabemos, por outro lado, que a renda nada mais é do que a remuneração paga aos detentores dos fatores de produção pela sua utilização. As limitações do Modelo Ricardiano, entretanto, não reduzem sua importância: seus resultados básicos sobre a relação entre a produtividade e a remuneração aos fatores e os relativos à existência de ganhos potenciais com a abertura comercial sempre que os custos de oportunidade relativos forem diferentes entre os países são totalmente válidos. Para tratar de questões mais refinadas, como o caso da distribuição de renda, uma especificação mais precisa e detalhada da estrutura das economias passa a ser necessária. A fim de analisar o impacto do comércio internacional sobre a distribuição de renda interna aos países, lançaremos mão do Modelo de Fatores Específicos (Samuelson, 1971; Jones, 1971). Esse novo modelo exige alterações em diversas hipóteses simplificadoras do Modelo Ricardiano. Para tanto, utilizaremos a 59 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL estrutura mais simples, conhecida como modelo 2 x 2 x 3, em que há dois países, dois bens e três fatores de produção (capital, terra e trabalho). 5.1.1 Estrutura do modelo O modelo de fatores específicos se estrutura da seguinte forma: I. Dois países: Local e Estrangeiro (*). II. Dois bens: manufaturados (M) e agrícolas (A). III. Três fatores de produção: capital (K), terra (T) e trabalho (L). As tecnologias de produção estão sujeitas a rendimentos marginais decrescentes, K e T são fatores de produção específicos dos respectivos setores no curto prazo, ou seja: • K é usado apenas na produção de bens manufaturados. • T é usado apenas na produção de bens agrícolas. Dessa forma, esses recursos específicos não podem ser deslocados de um setor para a produção de um bem em outro setor. A oferta de trabalho total (L), como no Modelo Ricardiano, permanece homogênea e móvel entre os setores (M e A). Isso significa que: L = LM + LA (3,1) Para produzir M, o setor utiliza‑se de K (específico do setor) e LM, ou seja, a mão de obra alocada para o setor de manufaturas. Dessa forma, a tecnologia de produção desse setor poderá ser representada pela função: QM = f(K , LM) (3,2) De acordo com a hipótese de rendimentos marginais decrescentes do fator variável, a produtividade marginal do trabalho do setor de manufaturados (PMgLM) deverá apresentar as seguintes características: ∂ ∂ = > Q L PMgLM M M 0 (3,3) ∂ ∂ < PMgL L M M 0 (3,4) 60 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Por sua vez, para produzir A, o setor utiliza‑se de T (específico do setor) e LA (mão de obra do segmento agrícola). Dessa forma, a função de produção desse setor será: QA = f(T , LMA) (3,5) Pela hipótese de rendimentos marginais decrescentes do fator variável, podemos estabelecer que a produtividade marginal do trabalho do setor agrícola (PMgLA) apresentará as seguintes características: ∂ ∂ = > Q L PMgLA A A 0 (3,6) ∂ ∂ < PMgL L A A 0 (3,7) Por fim, adotaremos a hipótese simplificadora de que há competição perfeita em todos os mercados. 5.1.2 Fronteira de possibilidades de produção Segundo a hipótese de rendimentos marginais decrescentes na produção (seja do setor M, seja do setor A), quanto mais se utilizar do insumo variável (L), menos ele renderá. A figura a seguir mostra um exemplo da configuração da produção e da produtividade marginal sob essa hipótese para o setor de manufaturados. QM LM LM PMgLM Q f K L Q L PMg M M M LM = ∂ ∂ = > ( , ) 0 ∂ ∂ < PMg L LM 0 (a) Produção total (b) Produtividade marginal Figura 16 – Produção total e produtividade marginal do setor de manufaturados 61 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Assim, de acordo com as características apontadas em (3.3) e (3.6), a produtividade marginal do trabalhador será positiva, como apresentado no gráfico (a) da figura anterior. No entanto, os resultados demonstrados em (3.4) e (3.7) indicam que há rendimentos marginais decrescentes do fator trabalho, como pode ser observado no gráfico (b) da mesma figura. Em contrapartida, um aumento no estoque do capital ou no estoque de terra implicaria aumento da produtividade marginal do trabalho (PMgL) para cada nível de utilização de trabalho, conforme destacado na figura a seguir: QM Q´M = f(K1,LM) , (K1 > K0) QM = f(K0,LM) LM ∆PMgL Figura 17 – Efeito do aumento no estoque de capital na produção de manufaturados Pela hipótese de concorrência perfeita, deve‑se entender que todos os recursos precisam ser utilizados de modo eficiente, ou seja, supõe‑se que a economia esteja operando em pleno emprego; dessa forma, o pleno emprego dos fatores de produção baseia‑se em uma condição tríplice, composta pela equação (3.1) e mais as seguintes condições: K = K (3,8) T = T (3,9) A condição (3.8) indica que todo o estoque de capital é utilizado; a condição (3.9) mostra que todo o estoque de terra é utilizado. Se as condições (3.1), (3.8) e (3.9) forem satisfeitas, a economia estará empregando plenamente seus recursos. Essa situação é representada pelo conjunto de pontos sobre a Fronteira de Possibilidades de Produção (figura a seguir). 62 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II — (PMgLM/PMgLA) = Custo de oportunidade 1 QA Q1A Q1M QM Figura 18 – Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) com rendimentos marginais decrescentes Note que a FPP é convexa em relação à origem. Esse formato se deve às características das funções de produção de manufaturas e de produtos agrícolas, ambas sujeitas a rendimentos marginais decrescentes dos fatores. Note que essa FPP difere do Modelo Ricardiano, pois os rendimentos marginais decrescentes causam uma elevação no custo de oportunidade no momento em que a economia do país produzuma unidade a mais de um determinado bem. Acima do ponto 1 da figura anterior, uma elevação na produção agrícola exige, necessariamente, uma redução da produção de manufaturas. De fato, a inclinação da FPP nesse ponto (a inclinação da tangente à FPP no ponto 1) é dada por: ∂ ∂ = − Q Q a a A M LM LA (3,10) Onde αLM e αLA são, respectivamente, as quantidades de trabalho necessárias para a produção de uma unidade de produto manufaturado e agrícola. Portanto, para produzir mais uma unidade de manufaturados são necessárias αLM unidades de trabalho adicionais, que serão deduzidas da produção agrícola. A fim de saber quantas unidades de produtos agrícolas deixarão de ser produzidas para aumentar a produção de manufaturas, divide‑se αLM por αLA, ou seja, transforma‑se o número de horas necessárias para aumentar a produção de manufaturas em unidades de produtos agrícolas. No Modelo Ricardiano, em que a FPP era linear (com inclinação constante), as tecnologias eram sujeitas a uma PMgL constante. Agora, com especificação mais realista para as tecnologias, a PMgL 63 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL nos dois setores passa a ser decrescente, uma vez que a FPP fica menos inclinada à medida que mais mercadorias agrícolas são produzidas. Para melhor entender esse ponto, podemos reescrever a equação (3.10) como a relação entre o coeficiente de utilização de insumos e a produtividade marginal, ou seja: ∂ ∂ = − = − Q Q PMgL PMgL PMgL PMgL A M M A A M 1 1 / / (3,11) A equação (3.11) – em conjunto com a figura anterior – informa que, como o deslocamento de mão de obra do setor de manufaturados para o setor de produtos agrícolas diminui a PMgLA e aumenta a PMgLM, a inclinação da FPP diminui quando se caminha em direção à especialização na produção agrícola, ou seja, para produzir cada vez mais mercadorias agrícolas, é necessário arcar com os custos que se tornarão crescentes. Assim, tanto a produtividade marginal do trabalho diminui na produção agrícola (mais horas de trabalho são necessárias à produção de cada unidade de produto agrícola adicional) quanto o custo da redução na produção de manufaturas aumenta (mais unidades de manufaturas são deixadas de produzir em função de cada unidade de mão de obra deslocada para a produção agrícola). 5.1.3 Preços, salários e alocação de trabalho entre os setores Em concorrência perfeita, sabemos que a condição para que as firmas maximizem lucros é dada pela igualdade entre os custos marginais e o preço de mercado (P). Por sua vez, os salários (W) pagos nos dois setores precisam ser, sob as hipóteses destacadas anteriormente, idênticos. Dado que as firmas desses setores são maximizadoras de lucros, então, uma firma vai contratar trabalhadores até que: PMgLM . PM = w (3,12) PMgLA . PA = w (3,13) Onde PM e PA são, respectivamente, os preços de mercado dos produtos manufaturados e agrícolas. A condição de equilíbrio do mercado de trabalho pode ser obtida igualando‑se as equações (3.12) e (3.13): PMgLM . PM = PMgLA . PA P P PMgL PMgL M A A M = (3,14) A equação (3.14) mostra que o preço relativo dos produtos manufaturados em termos dos produtos agrícolas é igual ao valor (em nível absoluto) da inclinação da FPP. Isso significa que quando a economia tende a se especializar na produção agrícola, o preço das manufaturas tende a cair. Entretanto, o preço dos produtos agrícolas precisa aumentar. Esse resultado pode ser verificado na figura a seguir: 64 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Q2A Q1A Q2M Q 1 M QM QA 2 1 incl. = ‑ (PM/PA) 1 incl. = ‑ (PM/PA) 2 Figura 19 – Especialização na produção agrícola De acordo com as equações (3.12) e (3.13), se as firmas são competitivas e maximizam os lucros, o valor dos salários deve ser igual ao preço das mercadorias multiplicado pela produtividade marginal do trabalho, ou seja, é o valor do produto marginal do trabalho. Essa relação é representada graficamente na figura a seguir: w w w* DLM DLA LM LALM + LA Oferta Total de Mão de Obra (L) PA . PMgLA PM . PMgLM Figura 20 – Preços, salários e equilíbrio da alocação de trabalho 65 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL A quantidade total de mão de obra disponível do país (L) é representada no eixo horizontal do gráfico da figura anterior. As quantidades de mão de obra utilizadas na produção de manufaturas variam da esquerda para a direita. As quantidades de trabalho usadas na produção agrícola se movimentam da direita para a esquerda. O equilíbrio no mercado de trabalho ocorre no encontro entre as curvas de demanda por trabalhadores de cada segmento econômico (DLM e DLA). Nesse ponto, a mão de obra deve ser alocada para que o valor de seu produto marginal (P . PMgL) seja o mesmo nos setores de manufaturas e agrícola. Em equilíbrio, o salário (w*) é igual ao valor do produto marginal do trabalho. A figura seguinte mostra o efeito de um aumento proporcional (de 10%) nos preços de todos os bens (PM e PA). Essa variação deixa os preços relativos inalterados e não traz efeitos reais na economia, ou seja, se tanto os preços das manufaturas quanto os preços dos bens agrícolas aumentarem na mesma proporção, as curvas do valor da demanda por trabalho se deslocarão verticalmente para cima, pela mesma distância, sem interferir na alocação de trabalho entre os setores: o salário também aumenta (de w1 para w2) na mesma proporção dos preços. Portanto, a variação proporcional de todos os preços, inclusive os preços associados à utilização dos fatores de produção, não tem efeitos reais em mercados perfeitamente competitivos. w w D1LM D2LM D2LA D1LA w2 w1 2 1 LM LAL P2M . PMgLM ∆P2 = 10% ∆PA = 10% ∆w = 10% P1M . PMgLMP 1 A . PMgLA P2A . PMgLA Figura 21 – Efeito sobre os salários de um aumento proporcional de 10% em PA e PM Observação Inflação é um aumento persistente do nível geral de preços da economia de um país. Esse fenômeno monetário resulta em uma perda do poder aquisitivo dos salários (queda do salário real). Por sua vez, a elevação continuada de preços não resulta no aumento do produto gerado no país. 66 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Exemplo de aplicação Aumento no preço dos bens manufaturados Suponha que a economia de um país, com dois segmentos econômicos – de produção de manufaturados (M) e produtos agrícolas (A) – dividam igualmente a oferta total de mão de obra de 200 (L LM A 1 1 100 100 200+ = + = ). O preço médio dos bens manufaturados é de $2 (PM 1 2= ), e o preço médio dos bens agrícolas é de $1 (PA 1 1= ). De repente, esse país percebe um aumento de 10% apenas nos preços das manufaturas (PM 2 2 2= , ). Nesse caso, ocorrerá uma alteração nos preços relativos das manufaturas (PM / PA), com a consequência de proporcionar efeitos reais na economia desse país. A figura a seguir apresenta uma elevação de 10% no preço das manufaturas, sem mudança nos preços nominais dos produtos agrícolas. w w D1LM D2LM D1LA w2 w1 2 1 LM LA P2M . PMgLM P1M . PMgLM P1A . PMgLA ∆PM = 10% ∆w = menos de 10% ∆LM Figura 22 Nota‑se, portanto, que mudanças não proporcionais nos preços implicam alterações na alocação de recursos da economia.A curva de demanda por trabalho desloca‑se para cima à direita apenas no setor de manufaturados. Nesse caso, ocorre um incentivo ao deslocamento da mão de obra do setor agrícola para o de manufaturas. Os salários nominais, por sua vez, sobem, porém menos do que 10%. Isso ocorre porque a produtividade marginal do trabalho é decrescente: haverá uma elevação de custos (produtividade marginal menor) que é repassada aos preços, mas não aos salários. 67 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Para comprovar esse ponto, suponha que o setor de manufaturados requeira duas unidades de trabalho para a produção de uma unidade desse bem (αLM = 2). Nesse caso, a produtividade marginal do trabalho nesse setor será de: PMgL aM LM 1 1 1 2 0 5= = = , Assim, a massa de salários (wM) paga no setor de manufaturas antes do aumento de preços será: w PMgL P LM M M M 1 1 1 1= . . wM 1 0 5 2 100 100= =, . . $ O choque de preços no setor de manufaturas (∆PM = 10%) acarretará um deslocamento na demanda por mão de obra desse setor nessa mesma proporção. Logo, a quantidade de trabalhadores desse setor variará, também, 10%, ou seja: LM 2 100 11 110= × =, . Entretanto, esse aumento provocará uma redução proporcional na produtividade marginal do trabalho desse setor: PMgLM 2 0 5 0 9 0 45= × =, , , . Dessa forma, a massa salarial após o choque de preços do setor de manufaturas será: w PMgL P LM M M M 2 2 2 2= . . wM 2 0 45 2 2 110 108 9= =, . , . $ , Logo, a variação do salário nominal será 8,9% menor do que a variação de 10% observada no preço dos bens manufaturados. 5.1.4 Comércio internacional e distribuição de renda Quando as economias se abrem ao comércio, conforme estudamos no Modelo Ricardiano, há mudanças nos preços relativos. Esse resultado tem impacto sobre a renda dos diferentes segmentos econômicos domésticos. Seguindo o caso visto no último exemplo de aplicação, uma elevação do preço relativo das manufaturas provocará uma redistribuição de renda dos setores. Para ter certeza disso, vamos rearranjar os termos da equação de salários (3.12) da seguinte forma: w P PMgL M M= (3,15) 68 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Assim, um aumento em PM leva a uma queda da PMgLM. Isso significa dizer que há uma queda no salário real (w / PM) no setor de manufaturados, ou seja, há uma perda do poder de compra dos trabalhadores desse setor. Em contrapartida, esse resultado representa um incentivo para os proprietários das firmas ao contratarem trabalhadores para esse setor, ou seja, há uma elevação na demanda de trabalho no segmento manufatureiro. Como vimos no exemplo de aplicação, o aumento de preços no setor de manufaturas provoca um aumento do salário de equilíbrio da economia, porém menor que o aumento no preço da mercadoria. Esse resultado trará implicações ao setor agrícola. Rearranjando os termos da equação de salários (3.13), chegaremos a: w P PMgL A A= (3,16) Nesse caso, o preço dos produtos agrícolas permanece constante (PA), mas, como os salários nominais aumentam, o salário real (w / PA) também aumenta (cresce o poder de compra dos trabalhadores), levando a um crescimento na PMgLA. Por que isso ocorre? Como o aumento no preço do produto manufaturado leva a um aumento na demanda por trabalhadores desse setor, isso provoca uma redução na oferta de trabalho do setor agrícola. Dessa forma, os trabalhadores remanescentes deverão ser mais produtivos para manter o nível de produção agrícola estável, com impacto positivo em seus ganhos reais. Exemplo de aplicação Aumento no preço dos bens manufaturados Suponha que os valores pagos para trabalhadores e detentores de fatores de produção específicos dos setores manufatureiro e agrícola sejam os seguintes: • Setor manufatureiro (M): — receita de vendas dos produtores: RTM = PM . QM = $50 — custo total de produção (montante de salários pagos aos trabalhadores): CTM = w . LM = $30 — retorno total do capital: RK = rK . K = $20 • Setor agrícola (A): — receita de vendas dos produtores: RTA = PA . QA = $50 69 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL — custo total de produção (montante de salários pagos aos trabalhadores): CTA = w . LA = $30 — retorno total da terra: RT = rT . T = $20 K e T são os fatores específicos, respectivamente, dos setores manufatureiro e agrícola. Suponha que ocorram as seguintes alterações de preços: • Mercadorias: — setor manufatureiro: ∆PM / PM = 20% — setor agrícola: ∆PA / PA = 0% • Salários: — ∆w / w = 10% Usando essas informações, iremos determinar o impacto do aumento do preço dos bens manufaturados no rendimento do capital e da terra. a) Variação no rendimento do capital: O capital é o fator específico do setor manufatureiro. Logo, o rendimento total do fator capital na forma percentual (taxa de retorno do capital) pode ser representado pela seguinte fórmula: r RT CT R P Q w L r KK M M K M M M K = − = −. . . Ao incluirmos as variações percentuais no preço de manufaturados (∆PM / PM), salário (∆w /w) e retorno sobre o capital (∆rK / RK) na equação anterior, obtemos: ∆ = ∆ − ∆ r r P P P Q w w w L r K K K M M M M M K . . . . . Substituindo na equação anterior os valores informados, também, anteriormente, obtemos: ∆ = − = r r K K 0 20 50 0 10 30 20 0 35 , , , . . 70 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Logo, o aumento percentual no rendimento do capital foi de 35%, percentual maior do que a variação no preço do bem manufaturado (20%). b) Variação no rendimento da terra: A terra é o fator específico do setor agrícola. Dessa forma, o rendimento total do fator terra na forma percentual (taxa de retorno da terra) pode ser representado pela seguinte fórmula: r RT CT R P Q w L r TT A A T A A A T = − = −. . . De forma análoga ao capital, podemos incluir as variações percentuais no preço de produtos agrícolas (∆PA / PA), salário (∆w / w) e retorno da terra (∆rT / rT) na equação anterior, de forma que: ∆ = ∆ − ∆ r r P A P Q w w w L r T T T A A A A T . . . . . Substituindo os valores informados na expressão anterior, obtemos: ∆ = − = − r r T T 0 50 0 10 30 20 0 15 . ., , Nota‑se, portanto, que o aumento de 20% no preço dos manufaturados resultou na queda de 15% no rendimento dos proprietários de terra. Podemos resumir o impacto de uma mudança de curto prazo dos preços dos produtos como segue: • Para aumentos em PM: detentores de capital ficam em melhor situação porque o retorno do capital cresce mais do que a variação percentual no preço dos produtos manufaturados. Os proprietários de terra, por sua vez, pioram sua situação Os salários também aumentam, porém menos do que o aumento percentual do preço da manufatura. • Para aumentos em PA: proprietários de terra ficam em melhor situação porque o retorno da terra cresce mais do que a variação percentual no preço dos produtos agrícolas. Os detentores de capital, por sua vez, pioram sua situação. Os salários também aumentam, porém menos do que o aumento percentual do preço dos bens agrícolas. As mudanças observadas no mercado de trabalho decorrentes da alteração dos preços relativos podem ser avaliadas, no mercado interno debens, a partir de um gráfico da oferta e demanda relativas por bens manufaturados (QM / QA), conforme se observa na figura a seguir: 71 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL PM/PA OR1 OR2 P2M /PA P1M /PA 2 1 DR1 DR2 (QM / QA)* QM / QA Figura 23 – Equilíbrio entre oferta e demanda relativa de manufatura no mercado doméstico No modelo de fatores específicos, um preço relativo maior da manufatura conduzirá a um aumento da quantidade produzida de manufaturados em relação à de produtos agrícolas. Assim, a curva de oferta relativa (OR) é positivamente inclinada. Preços e quantidades relativas de equilíbrio são determinados pelo cruzamento da curva OR com a curva de demanda relativa (DR). Ao ocorrer uma alteração nos preços relativos – por exemplo, o aumento de PM 1 para PM 2 –, isso provoca um aumento na quantidade ofertada de manufaturas em termos dos bens agrícolas. Ao mesmo tempo, observa‑se um aumento no salário real dos trabalhadores do setor de manufaturas. Esse efeito provoca o deslocamento da curva de demanda relativa para a direita (de DR1 para DR2). Por sua vez, a oferta de produtos agrícolas diminuirá relativamente à de manufaturas. Esse efeito provoca o deslocamento da curva de oferta para a esquerda (de OR1 para OR2). Portanto, o aumento do preço relativo leva a um deslocamento do equilíbrio entre oferta e demanda relativa (do ponto 1 para o ponto 2) sem alteração no nível da quantidade relativa de manufaturados. Agora, analisemos esse resultado do ponto de vista dos detentores de fatores específicos (K e T). Por exemplo, os detentores de capital, insumo usado exclusivamente no setor de manufaturados, perceberão um aumento inequívoco de sua renda, por serem beneficiados pela alteração de preços. Para averiguar isso, suponha que a remuneração pela utilização de capital seja representada por rK. Nesse caso: PMgKM . PM = rK (3,17) A remuneração do detentor do capital deve igualar‑se à produtividade marginal do capital do setor de manufaturas (PMgKM ) multiplicada pelo preço da mercadoria vendida (PM ). Assim, um 72 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II aumento em PM faz a renda do capital se elevar, enquanto os salários reais dos trabalhadores do setor diminuem. Por sua vez, os detentores de terra, insumo usado exclusivamente no setor agrícola, perceberão uma redução inequívoca de seus rendimentos, pelo fato de serem prejudicados pela alteração de preços relativos. Isso pode ser averiguado a partir da representação da remuneração pela utilização do fator terra (rT): PMgTA . PA = rT (3,18) A remuneração do detentor de terras deve igualar à produtividade marginal da terra (PMgTA) multiplicada pelo preço do produto agrícola vendido (PA). Como PA permanece constante, os salários reais dos trabalhadores do setor aumentam, mas a renda dos proprietários de terra, relativamente à renda dos trabalhadores, será menor. Lembrete Até aqui, mostramos o comportamento das economias em autarquia. Caso uma economia em autarquia apresente setores com preços relativamente diferentes, a Teoria das Vantagens Comparativas sugere que há potencial ganho com o comércio internacional. Na ausência de comércio internacional, a produção doméstica de manufaturados e bens agrícolas (QM S e QA S , respectivamente) deve ser igual ao consumo doméstico dessas mercadorias (QM D e QA D ) Logo, em equilíbrio de oferta e demanda doméstica, sob autarquia, será dada por: P Q P Q P Q P QM M S A A S M M D A A D. . . .+ = + (3,19) Havendo diferentes preços na economia doméstica, existirão incentivos ao comércio internacional. Este, por sua vez, permite alterar o mix dos bens consumidos (manufaturas e produtos agrícolas) tornando a produção doméstica diferente do consumo doméstico. Nesse caso, a equação (3.19) pode ser alterada da seguinte forma: P Q P Q P Q P QM M D M M S A A S A A D. . . .− = − P Q Q P Q QM M D M S A A S A D−( ) = −( ) Q Q P P Q QM D M S A M A S A D−( ) = −( ) (3,20) 73 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL A equação (3.20) é conhecida como condição de equilíbrio externo. Aos preços relativos internacionais, para que haja equilíbrio externo, a restrição externa precisa ser satisfeita (3.20). Sob esse aspecto, o valor das importações será igual ao das exportações. O comércio internacional implicará homogeneização dos preços relativos na economia do país Local e do Estrangeiro. De fato, os preços serão determinados pelo equilíbrio de oferta e demanda relativa no mercado mundial, conforme mostra o gráfico da figura a seguir: PM/PA ∆PM OR ORmundial P2M /PA P1M /PA 2 1 DR QM / QAQ Q Q Q M A M A 2 1 Figura 24 – Equilíbrio entre oferta e demanda relativa mundial Na figura anterior observa‑se, inicialmente, o equilíbrio doméstico, sob autarquia, no Ponto 1. A oferta relativa do país Local (OR) indica que, em autarquia, os preços relativos das manufaturas são iguais aos preços internacionais. Com a elevação dos preços dos bens manufaturados no país Local, o preço relativo das manufaturas se eleva e o novo equilíbrio internacional passa a ser estabelecido no Ponto 2. A elevação do preço das manufaturas fará o país Local aumentar a produção agrícola, importando manufaturas (relativamente) mais baratas do exterior (país Estrangeiro). O oposto ocorrerá no país Estrangeiro, que aumentará a produção de manufaturas, importando os produtos agrícolas (relativamente) mais baratos do país Local. Conclui‑se, portanto, que o comércio internacional beneficia os detentores do fator de produção, que é específico do setor exportador de cada país. Porém, o comércio internacional prejudica os detentores do fator específico dos setores que concorrem com as importações. Em contrapartida, os detentores de fatores móveis (os trabalhadores), que são capazes de atuar em qualquer setor, podem ganhar ou perder, dependendo do setor em que atuam. 74 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II 5.2 O Modelo Hecksher‑Ohlin (H‑O) Incorpora à explicação sobre os ganhos advindos do comércio internacional, entre outras coisas, a importância das diferenças nas dotações de fatores entre os países. Saiba mais Eli Filip Heckscher e Bertil Ohlin são suecos, e este último recebeu o Nobel em 1977. A obra desses dois autores contribuiu para um novo fundamento do comércio exterior que ficou conhecido como a Teoria Sueca do Comércio Internacional, que é baseada na dependência existente entre a oferta, a procura e os preços. A respeito da contribuição dos dois autores para a criação do modelo H‑O, leia: FEENSTRA, R. C.; TAYLOR, A. M. 3. ed. International Economics. New York: Worth Publishers, 2014. OHLIN, B. Interregional and International Trade. Cambridge: Harvard University Press, 1933. A ideia original formulada no Modelo H‑O era a de que o comércio internacional deveria ser influenciado pelas dotações relativas de fatores. Assim, por exemplo, um país que possuísse mais terras (em comparação aos outros países), costumaria ter uma vantagem na produção de bens que usassem esse insumo de forma intensiva, por isso esse modelo também é conhecido como o Modelo de Proporções de Fatores. Do Modelo H‑O derivam‑se diversas conclusões importantes que serão demonstradas na sequência,como: • Um país deve exportar os bens cuja produção é intensiva na utilização dos fatores de produção que lhe são relativamente abundantes. • Caso as tecnologias e os produtos em dois países sejam idênticos e todos os produtos sejam produzidos em todos os países (especialização incompleta), os preços dos fatores são iguais nos dois países. • Qualquer efeito do comércio que eleve o preço local do produto importado beneficia os detentores do fator produtivo usado intensivamente na produção do bem concorrente do importado. 75 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL 5.2.1 Estrutura básica do Modelo H‑O Em sua versão mais simples, o Modelo H‑O adota a estrutura 2 x 2 x 2, ou seja, supõe a existência de dois países – Local e Estrangeiro (*) –, cada qual produzindo dois bens: • vestuários (V), e a produção total desse setor é denotada por QV; • alimentos (A), e a produção total desse setor é denotada por QA. Para a produção desses dois bens, são necessários dois insumos: • terra (K); • trabalho (L). O montante total do capital (K) utilizado em um país é dado pela soma do capital usado na produção de vestuários (KV) e alimentos (KA). Da mesma forma, a força de trabalho total disponível (L) é igual à mão de obra utilizada na produção de vestuários (LV) e alimentos (LA). As quantidades requeridas de insumos em cada atividade econômica são definidas da seguinte forma: • αKV: quantidade de K na produção de V; • αLV: quantidade de L na produção de V; • αKA: quantidade de K na produção de A; • αLA: quantidade de L na produção de A. Por fim, a remuneração dos fatores trabalho e capital são, respectivamente: • salários (w); • retorno do capital (r). 5.2.2 Hipóteses do Modelo H‑O Hipótese 1 As economias operam em regime de competição perfeita, e os fatores de produção (K e L) podem circular livremente entre os segmentos industriais. Na figura a seguir, podemos observar uma implicação dessa hipótese: a produção de alimentos na economia doméstica é uma função da quantidade de insumos (capital e trabalho) utilizada por intervalo de tempo. Assim, um produtor do setor alimentício pode fabricar uma 76 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II unidade de alimento (definido pela isoquanta Q(A) com menos capital – caso utilize mais trabalhadores – e vice‑versa. Isoquanta Isocusto Q(A) = f(KA, LA) ∆L ∆K αLA αKA 1 ‑w/r Figura 25 – Isoquanta da produção de alimentos no país doméstico Lembrete Isoquanta é uma curva que nos fornece as combinações entre diferentes quantidades utilizadas de insumos, que produzem uma mesma quantidade de um bem ou serviço. As isoquantas podem ser obtidas a partir da função de produção. As isoquantas podem ser usadas para conhecer a combinação ótima de fatores de produção que será utilizada. Para tanto, é necessário conhecer o custo de utilização dos fatores: o salário (w) e o retorno do capital (r). Dadas as quantidades de trabalho requeridas para a produção de alimentos e vestuários, os custos totais de produção de cada produto serão dados, respectivamente, por: CTA = αLA x w + αKA x r (3,21) CTV = αLV x w + αKV x r (3,22) As equações (3.21) e (3.22) representam a linha de isocusto de cada segmento econômico, com inclinação igual a ‑ w / r. 77 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Supondo que os preços dos fatores de produção sejam conhecidos e dados, a combinação de insumos que, para uma tecnologia dada, maximizará os lucros será encontrada quando a isoquanta tangenciar a linha de isocusto. A implicação decorrente dessa primeira hipótese é a de que o retorno do capital (r) e os salários (w) são idênticos para as duas indústrias. Um setor de atividade, por exemplo, pode ter sua capacidade instalada maior em relação ao outro setor. Isso tornaria o capital mais atrativo para quem necessitasse, pois poderia ser emprestado a preços mais baixos. Dessa forma, as taxas de retorno de capital entre as indústrias se ajustariam até o ponto em que elas se tornariam iguais entre as indústrias. O mesmo raciocínio se aplica aos salários, que seriam os mesmos para toda a indústria. Hipótese 2 O setor alimentício é trabalho‑intensivo. Em outras palavras, a produção de alimentos requer mais trabalho por unidade de capital do que a produção de vestuários. Desse modo: L K L K A A V V > (3,23) No entanto, essa hipótese nos leva a dizer que a produção de vestuários é capital‑intensivo em relação à produção de alimentos, pois requer mais capital por trabalhador do que a produção de alimentos: K L K L V V A A > (3,24) Exemplo de aplicação Intensidade no uso dos fatores Suponha que uma economia doméstica com dois setores industriais (vestuário e alimentício) apresente o seguinte mix de fatores de produção: Para produzir uma unidade de produto de vestuário (V): αKV = 3; αLV = 1 Para produzir uma unidade de produto alimentício (A): αKA = 2; αLA = 2 78 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II A produção de A será trabalho‑intensivo em relação à produção de V, se o setor A utilizar mais trabalho (L) por unidade de capital (K) que o setor V. Com base nos dados desse exemplo, sabemos que: α α LV KV = = 1 3 0 33, α α LA KA = = 2 2 1 Portanto: α α α α LA KA LV KV > ⇔ >1 0 33, A produção de A usa mais intensivamente L em relação à produção de T. Alternativamente, a produção de T utiliza mais intensivamente K em relação à produção de A, como podemos observar a seguir: α α KV LV = = 3 1 3 α α KA LA = = 2 2 1 Logo: α α α α KV LV KA LA > ⇔ >3 13 Conclui‑se, dessa forma, que cada fator é usado mais intensivamente na produção de um bem e a produção de cada bem utiliza um fator relativamente mais intensivo. Hipótese 3 O país Estrangeiro é abundante em mão de obra. Desse modo, podemos dizer que a razão trabalhocapital do país Estrangeiro é maior do que a do país Local: L K L K * * > (3,25) 79 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL De modo equivalente, o país Local é abundante em capital, logo: K L K L > * * (3,26) Essa terceira hipótese implica dizer que os recursos são distribuídos de forma desigual entre os dois países, com o país Local sendo capital‑abundante, enquanto o país Estrangeiro é trabalho‑abundante. Exemplo de aplicação Abundância de fatores Suponha, agora, que dois países – Local e Estrangeiro –, produtores de vestuário e alimentos, possuam as seguintes quantidades de fatores de produção disponíveis em cada país: • País Local: K = 4.000 unidades; L = 2.000 horas • País Estrangeiro: K* = 3.000 unidades; L* = 2.000 horas Com base nessas informações, podemos verificar que o país Local é abundante em K relativamente a L. Alternativamente, o país Estrangeiro é escasso em K relativamente a L, pois: K L = = 4 000 2 000 2 . . K L * * . . ,= = 3 000 2 000 15 Portanto: K L K L > ⇔ > * * ,2 15 Por sua vez, o país Local é escasso em L relativamente a K, enquanto o país Estrangeiro é abundante em L relativamente a K, conforme demonstramosa seguir: 80 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II L K = = 2 000 4 000 0 5 . . , L K * * . . ,= = 2 000 3 000 0 67 Logo: L K L K < ⇔ < * * , ,0 5 0 67 Hipótese 4 Os bens finais produzidos, vestuários e alimentos, podem ser comercializados internacionalmente, mas o trabalho e o capital não se movem entre os países. Portanto, a quarta hipótese permite que os bens finais se desloquem entre os países, mas não os fatores de produção. Hipótese 5 As tecnologias empregadas nos dois países são idênticas e sujeitas à Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes. Desse modo, em ambos os países, cada setor tem a mesma intensidade de fator. Em decorrência dessa hipótese, cada segmento industrial deve ser influenciado por K e L. Podemos entender melhor essa premissa a partir do desenho da Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP). Logo, é possível desenhar duas FPPs (figura a seguir), sendo que cada uma implica restrição máxima na utilização do fator de produção. 81 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL QA QA x αKA + QV x αKV ≤ K QA x αKA + QV x αKV ≤ K QA QV QV L LAα L LVα K KVα K KAα (a) Restrição de L. (b) Restrição de K. Figura 26 – Restrições de capital (K) e trabalho (L) na produção doméstica de alimentos (A) e vestuários (V) De acordo com a Hipótese 2: α α α α α α α α LA KA LV KV LA LV KA KV > ⇒ > Além disso, a figura anterior impõe uma restrição ao país: nenhuma produção final (QA mais QV) poderá utilizar mais do que a quantidade disponível de L e K no país. Desse modo, as restrições de fatores podem ser descritas pelas seguintes equações: αLA x QA + αLV x QV ≤ L (3,27) αKA x QA + αKV x QV ≤ L (3,28) Admitindo que o capital (ou o trabalho) não pudesse ser substituído por outro insumo, teremos as seguintes situações: • A economia do país não poderá utilizar mais do que oferta disponível de K ou L, caso houvesse especialização na utilização de um ou outro insumo, e a FPP passaria a ser definida pela linha tracejada, conforme a figura seguinte. • Quando os fatores de produção passarem a ser utilizados em quantidades distintas, de acordo com a figura a seguir, passaremos a observar que o custo de oportunidade do vestuário em termos do alimento aumentará à medida que a composição da produção mudar de alimentos para vestuários (e vice‑versa). 82 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II • Com isso, a produção de equilíbrio do país será aquela que utilizará a proporção exata de fatores de produção (escolha ótima dos fatores), de acordo com a intensidade de uso de cada segmento econômico (Ponto 1 da figura a seguir). FPP Inclinação = custo de oportunidade do vestuário em termos dos alimentos Restrição de k Restrição de L QA 1 QV Q*A Q*V L LAα L LVα K KVα K KAα Figura 27 – Restrições de capital (K) e trabalho (L) e custo de oportunidade na produção doméstica de alimentos (A) e vestuários (V) Dessa forma, transformando as equações (3.27) e (3.28) em termos de QA e QV: L Q L a a a QA LA LV LA V: = − (3,29) K Q K a a a QA KA KV KA V: = − (3,30) Onde: • − α α LV LA é a inclinação da restrição de L; 83 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL • − α α KV KA é a inclinação da restrição de K. Mantendo a hipótese de autarquia, a resolução do sistema composto pelas equações (3.29) e (3.30) soluciona o problema da produção doméstica (QA e QV), ou seja, como são tomadas as decisões de produção de A e V e o uso de K e L simultaneamente. Exemplo de aplicação Restrições de capital e trabalho domésticas Suponha que uma economia doméstica com dois setores industriais (vestuário e alimentício) apresente os seguintes dados relativos aos fatores de produção: Produção de vestuário (V): αKV = 3; αLV = 1 Produção de alimentos (A): αKA = 2; αLA = 2 Além disso, esse país apresenta as seguintes quantidades disponíveis de fatores de produção: K = 4.000 unidades; L = 2.000 horas Com base nessas informações, podemos verificar que esse país apresenta os seguintes custos de oportunidade de se produzir vestuário em termos de alimentos: − = − = − α α KV KA 3 2 15, − = − = − α α LV LA 1 2 0 5, Portanto, a inclinação da restrição L é maior do que a inclinação da restrição K, pois a produção de alimentos é trabalho‑intensivo, enquanto a produção de tecido é capital‑intensivo. 84 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Os demais pontos de produção máxima são os seguintes: K L KV LVα α = = = = 4 000 3 1 333 33 2 000 1 2 000 . . , ; . . K L KA LAα α = = = = 4 000 2 2 000 2 000 2 1 000 . . ; . . Logo, as FPPs podem ser demonstradas conforme a figura a seguir: Restrição de L Restrição de K 2.000 1.000 1.000 ‑1,5 ‑0,5 2.0001.333,33 500 QA 1 QV Figura 28 Aplicando a equação (3.27) e assumindo que a produção total do país esgote a totalidade da oferta de trabalho, obteremos a equação que representa a restrição L: αKA x QA + αLV x QV = L 2QA + 1QV = 2.000 QA = 1.000 ‑ 0,5QV 85 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Utilizando, agora, a equação (3.28) e assumindo que a produção total do país esgote a totalidade da oferta de capital, obteremos a equação que representa a restrição K: αKA x QA + αKV x QV = K 2QA + 3QV = 4.000 QA = 2.000 ‑ 1,5QV Ao emprego total dos fatores de produção de QA e QV, teremos L = K. Dessa forma, igualando as duas restrições obtidas anteriormente, obteremos os seguintes valores produzidos em cada segmento econômico: L = K 1.000 ‑ 0,5QV = 2.000 ‑ 1.5QV QV = 1.000 QA = 1.000 ‑ 0,5(1.000) = 500 Portanto, em equilíbrio na utilização dos fatores de produção (Ponto 1 do gráfico), esse país produzirá 500 unidades de produtos alimentícios e 1.000 unidades de vestuário. Hipótese 6 Os gostos dos consumidores são os mesmos entre todos os habitantes dos países, e as preferências por alimentos e vestuários não variam com o nível de renda de um país. Essa sexta premissa traz que, embora um país mais pobre deva consumir menos de ambos os bens que o país mais rico, a proporção de dispêndios entre alimentos e vestuários é a mesma em ambos os países. Outra implicação dessa hipótese: num país em regime de autarquia, o produto total da economia é inteiramente consumido domesticamente. Fazendo CV e CA, o consumo doméstico de vestuário e alimentos, respectivamente, temos que, em economia fechada: QA = CA (3,31) QV = CV (3,32) O conjunto de famílias deve maximizar o consumo dessas mercadorias, aos preços de mercado, satisfazendo a restrição da renda nacional (Y). Fazendo PV e PA, os preços de mercado do vestuário e do alimento, respectivamente, a restrição de consumo doméstico pode ser descrita como: PA x CA + PV x CV = Y (3,33) 86 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Sabendoque em economia fechada toda a renda nacional deve ser esgotada no consumo dos bens e serviços produzidos, podemos trabalhar a equação (3.33) da seguinte forma: PA x CA + PV x CV = PA x QA + PV x QV PV x CV ‑ PV x QV = PA x QA ‑ PA x CA PV(CV ‑ QV) = PA(QA ‑ CA) C Q P P Q CA A V A V V− = −( ) (3,34) Onde PV / PA representa o preço relativo do vestuário em termos dos alimentos. Ainda, pela equação (3.34), temos que: • se CA < QA, o país doméstico deverá importar alimentos; • se QV > CV, o país doméstico deverá exportar vestuários. Assim, se a economia doméstica apresentar como característica K > L, ou seja, K é o fator abundante e L o fator escasso, então esse país será exportador de vestuários e importador de alimentos – gráfico (a) da figura a seguir. Por sua vez, se a economia estrangeira apresentar como característica K < L, ou seja, K é o fator escasso e L o fator abundante, então esse país será exportador de alimentos e importador de vestuários – gráfico (b) da figura a seguir. QA QA Q*A Q*V C*V C*A QA CV QV QV QV —PV/PA —PT/PA CAImportação de A Exportação de A Exportação de V Importação de V Saldo da Balança Comercial Saldo da Balança Comercial (a) País Local: K > L (b) País estrangeiro: K < L Figura 29 – Possibilidades de consumo, exportação e importação dos países Local e Estrangeiro 87 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL A área em destaque dos gráficos da figura anterior mostra o saldo da balança comercial, ou seja, a diferença entre as importações e as exportações de cada país. Observação A área em destaque na figura anterior é conhecida como triângulo de comércio, em que, para a economia doméstica, a base representa as exportações da mercadoria produzida com o fator de produção abundante e relativamente intensivo. No exemplo da figura anterior, destacamos duas situações: • O país Local, abundante em capital, se especializa na produção de vestuários. Com isso, ele passa a exportar o excedente de vestuários não consumidos (XV = QV ‑ CV) e a importar a quantidade de alimentos necessária para satisfazer o bem‑estar da população (MA = CA ‑ QA). • O país Estrangeiro, abundante em trabalho, se especializa na produção de alimentos. Com isso, ele passa a exportar o excedente de alimentos não consumidos ( X Q CA A A * * *= − ) e a importar a quantidade de vestuários necessária para complementar a demanda por esse bem (M C QV V V * * *= − ). 5.2.3 Efeitos do comércio internacional no Modelo H‑O As hipóteses anteriores permitiram ser discutidas, apenas, as escolhas ótimas de uso de insumos dados r e w, ou seja, sem considerar os preços relativos dos produtos que, em última instância, determinarão quanto de produtos alimentícios e de vestuários serão produzidos em cada país. Antes de mostrarmos os efeitos decorrentes de uma variação dos preços relativos dos fatores (relação salário/taxa de retorno do capital, w / r), devemos entender qual o efeito de uma alteração na proporção de utilização dos fatores de produção na alocação de recursos doméstica. Observação Teorema Rybczynski: caso um fator de produção aumente, então a oferta do bem que utiliza esse fator intensamente em relação ao outro aumentará e a oferta do outro bem diminuirá. De acordo com o Teorema Rybczynski, a partir das hipóteses elencadas anteriormente: • Uma elevação na quantidade de capital (↑K): provoca um aumento na oferta de vestuário e uma redução na oferta de alimentos (↓QV e ↓QA). 88 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II • Uma elevação na quantidade de trabalho (↑L): provoca um aumento na oferta de alimentos e uma redução na oferta de vestuários (↑QA e ↓QV). Exemplo de aplicação Efeito do aumento na oferta de capital 1) Continuando com os mesmos dados do exemplo anterior, suponha que nessa economia doméstica haja um aumento no estoque de capital para 4.500 unidades (K = 4.500). Qual a nova restrição de K e a nova composição de QA e QV? Resposta: Dados αKV = 3; αKA = 2; e K’ = 4.500, a nova restrição K passará a ser: αKA x QA + αKV x QV = K’ 2QA + 3QV = 4.500 QA = 2.250 ‑ 1,5QV A restrição L permanece a mesma do exemplo anterior. Assim, fazendo L = K: L = K 1.000 ‑ 0,5QV = 2.250 ‑ 1,5QV Q’V = 1.250 Q’A = 1.000 ‑ 0,5(1.250) = 375 Portanto, o novo equilíbrio na utilização dos fatores de produção (Ponto 2 no gráfico da figura a seguir) aponta aumento na produção de vestuários e redução na produção de mercadorias agrícolas. 89 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL 2 1 1.000 375 500 1.000 2.000 2.250 QA 1.333 ‑1,5 ‑1,5 0,5 1.250 1.500 2.000 QV Restrição de L Restrição de K ∆ K Restrição de K’ Figura 30 Portanto, o novo equilíbrio na utilização dos fatores de produção (Ponto 2 da figura anterior) aponta um aumento na produção de vestuários e redução na produção de mercadorias agrícolas. A partir desses resultados, podemos efetuar a comparação entre as ofertas relativas de vestuário em termos dos alimentos antes e depois do aumento do estoque de capital: antes Q Q V A : . = = 1 000 500 2 depois Q Q V A : ’ ’ . ,= = 1 250 375 3 33 Assim, o aumento do estoque de capital provocou um crescimento da oferta relativa de produtos da economia doméstica (↑QV / QA). 2) Seja, agora, o seguinte estoque de fatores de produção dos países Local e Estrangeiro: • País Local: K = 4.500 unidades; L = 2.000 horas 90 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II • País Estrangeiro: K* = 3.000 unidades; L* = 2.000 horas Quais serão as vantagens comparativas de cada país? Resposta: Com base nessas novas informações, podemos verificar que o país Local é abundante em K relativamente a L. Alternativamente, o país Estrangeiro é escasso em K relativamente a L, pois: K L = = 4 500 2 000 2 25 . . , K L * * . . ,= = 3 000 2 000 15 Portanto: K L K L > ⇔ > * * , ,2 25 15 Por outro lado, o país Local é escasso em L relativamente a K, enquanto o país Estrangeiro é abundante em L relativamente a K, conforme demonstramos a seguir: L K = = 2 000 4 500 0 44 . . , L K * * . . ,= = 2 000 3 000 0 67 Logo: L K L K < ⇔ < * * , ,0 44 0 67 Portanto: • O país Local tem vantagens comparativas na produção de bens capital‑intensivo (vestuários). 91 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL • O país Estrangeiro tem vantagens comparativas na produção de bens trabalho‑intensivo (alimentos). Observamos no exemplo de aplicação anterior uma combinação dos efeitos do Teorema Rybczynski com as Hipóteses 2 (intensidade) e 3 (abundância). Essa combinação nos permite formular o Teorema Heckscher‑Ohlin do comércio internacional. Lembrete Teorema Heckscher‑Ohlin (Teorema H‑O): uma economia que possui vantagem comparativa na produção de bens – que são intensivos na utilização de fatores de produção abundantes – exportará esses bens e importará bens que são intensivos na utilização de fatores de produção escassos. 5.2.4 Efeitos de mudanças nos preços relativos no comércio internacional De acordo com a Hipótese 1,sabemos que uma firma, em concorrência perfeita, maximizará seus lucros quando o preço de mercado se igualar ao custo marginal (P = CMg). Com base nessa informação, podemos reescrever as equações (3.21) e (3.22) da seguinte forma: Preço de A: PA = αLA x w + αKA x r (3,35) Preço de V: PV = αLV x w + αKV x r (3,36) Os interceptos das equações de preços (3.35) e (3.36) podem ser definidos, para cada segmento industrial, como: Alimentos r P wA KA LA KA : = − α α α (3,37) Vestu rios r P wV KV LV KV á : = − α α α (3,38) As equações (3.37) e (3.38) podem ser interpretadas como as restrições de trabalho e capital, em termos de seus preços relativos (r / w), para cada um dos segmentos econômicos. Assim, tomando o auxílio da figura a seguir, um aumento em r/w muda a escolha dos insumos com custo mais baixo do Ponto 1 para o Ponto 2 ao longo da isoquanta, ou seja, há uma escolha de uma razão K / L mais alta. 92 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II αKA αLA ∆K 1 2 (‑r/w)1 (‑r/w)2 Q(A) = f(KA/LA) ∆L Figura 31 – Mudança no preço relativo dos fatores e efeito na alocação dos insumos Para escolher o mix de K e L, que maximiza a produção do país, assuma que, para qualquer w e r, o setor de vestuários utiliza mais K relativamente a L do que o setor alimentício. Nesse caso: α α α α KV LV KA LA V V A A ou K L K L > > Portanto: • A produção de vestuários é relativamente capital‑intensivo em relação a alimentos. • A produção de alimentos é relativamente trabalho‑intensivo em relação a vestuários. Se a produção de alimentos é intensiva na utilização de trabalho em relação a vestuário, e os únicos insumos utilizados são K e L, as utilizações relativas ótimas de insumos no setor que produz alimentos são exibidas pela curva AA e, no setor de vestuário, por V V. Nesse caso, as curvas de demanda por fatores de produção seguirão o exemplo da figura a seguir. 93 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL V V AA r/w (‑r/w)1 (K/L)1 (K/L)2 K/L Figura 32 – Curvas de demanda por fatores de produção dos segmentos econômicos domésticos (A e V) Note que, no gráfico da figura anterior, a produção de alimentos é sempre relativamente intensiva em trabalho e que, por sua vez, a produção de vestuários é sempre intensiva em capital, quando comparada à produção de alimentos. Exemplo de aplicação Efeito do aumento nos preços relativos Suponha que uma economia doméstica com dois setores industriais (vestuário e alimentício) apresente os seguintes dados relativos aos fatores de produção: • Produção de vestuário (V): αKV = 3; αLV = 1 • Produção de alimentos (A): αKA = 2; αLA = 2 Além disso, esse país apresenta os seguintes preços de mercado de suas mercadorias produzidas: PV = PA = $4 94 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Aplicando a equação (3.35), poderemos representar o preço do setor alimentício da seguinte forma: PA = αLA x w + αKA x r 4 = 2w + 2r r = 2 ‑ w Utilizando, agora, a equação (3.36), o preço dos vestuários pode ser representado como: PV = αLV x w + αKV x r 4 = 1w + 3r r w= − 4 3 1 3 O equilíbrio de preços dos fatores de produção ocorre com a intersecção das duas equações de preços, dados os preços de ambos os bens que são produzidos: 2 4 3 1 3 − = −w w w = 1 r = 2 ‑ 1 = 1 Portanto, em equilíbrio, r = w = $1. A figura a seguir mostra esse resultado apontando todos os interceptos: 2 r Restrição de A 1,33 1 1 1 ‑1 ‑0,33 2 4 w 0,5 Figura 33 95 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Agora, suponha uma elevação no preço do vestuário de 12,5%: de $4 para $4,5 (P’V = $4,5). Esse choque proporcionará a seguinte alteração na equação de preços do setor de vestuários: P’V = αLV x w + αKV x r 4,5 = 1w + 3r r w= −15 1 3 , Igualando esse resultado ao encontrado anteriormente, a partir da equação de preços dos alimentos, obtemos: 2 15 1 3 − = −w w, w = 0,75 r = 2 ‑ 0,75 = 1,25 A partir desses resultados, podemos efetuar a comparação entre os preços relativos de fatores: antes w r : = = 1 1 1 depois w r : ’ ’ , , ,= = 0 75 125 0 6 Portanto, um aumento no preço do vestuário provocou uma queda no salário (w) relativamente ao retorno do capital (r): w r w r ’ ’ < Assim, dadas as variações percentuais de preços indicadas nesse exemplo (12,5% em PV e 0% em PA), encontramos as seguintes variações: ˆ , %w w w = ∆ = − = − 0 75 1 1 50 96 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II ˆ , %r r r = ∆ = − = 125 1 1 25 Dessa forma, um aumento no preço do vestuário, produto intensivo em capital, proporciona um aumento na taxa de retorno do capital. Concomitantemente, há uma queda no salário, que remunera o fator intensivo do setor alimentício. Os resultados decorrentes do choque de preços do vestuário podem ser visualizados no gráfico da figura a seguir: 2 r 1,5 1,33 1,25 1 2 1 1 ‑1 ‑0,33 ‑0,33 2 4 4,5 w 0,5 Figura 34 5.2.5 Preço dos fatores, preço dos bens e distribuição de renda Vimos anteriormente que há uma relação direta entre o custo do insumo e o preço do bem. Assim, um aumento verificado na relação retorno do capital‑salário (↑r / w) implica aumento do preço relativo do vestuário em termos do alimento (↑PV / PA). Essa relação é demonstrada na figura a seguir, cuja curva SS reflete a oferta total de fatores: 97 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL PV/PA r/w SS ↑r/w ⇒ ↑PV/PA Figura 35 – Relação entre o preço relativo dos fatores e o preço relativo dos bens A importância do fator para o custo de produção depende da quantidade desse fator envolvido na produção. De acordo com o Teorema H‑O, com a abertura comercial os países tendem a exportar bens cuja produção é intensiva no fator com o qual são favorecidos em abundância. Daí que: • Se o setor exportador ampliar sua produção, o setor que concorre com as importações encolherá. • Se a renda do proprietário de fatores abundantes crescer, a renda do proprietário dos fatores escasso diminuirá. Lembrete Teorema Stolper‑Samuelson: caso o preço relativo de um bem aumente, então o retorno real do fator utilizado intensivamente na produção do bem também crescerá, enquanto o retorno real do outro fator decrescerá (STOLPER; SAMUELSON, 1941). Portanto, de acordo com o Teorema Stolper‑Samuelson, qualquer alteração no preço relativo dos bens altera a distribuição de renda. Isso é demonstrado também no gráfico da figura a seguir, montado a partir dos gráficos das figuras anteriores. 98 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II r/w (r/w)2 (r/w)1 V V AA K/L SS (PV/PA)2 PV/PA (PV/PA)1 Crescente Crescente K L K L K LV K L A A A A V V V 2 1 2 2 Figura 36 – Relação entreo preço relativo dos fatores, o preço relativo dos bens e a demanda de fatores de produção Dado o preço relativo inicial do vestuário em termos do alimento (PV / PA)1, a razão entre salário e retorno do capital decorrente da curva SS será (r / w)1. Assim, as razões capital‑trabalho que correspondem às demandas por trabalho e capital para a produção de alimentos (curva AA) e vestuário (V V) serão, respectivamente, (KA / LA)1 e (KV / LV)1. Admitindo que a produção de vestuários seja relativamente intensiva em capital (ou, da mesma forma, que a produção de alimentos seja relativamente intensiva em trabalho), um aumento no preço relativo dos vestuários faz o retorno do capital aumentar em relação aos salários. Dessa forma, caso ocorra um aumento no preço do vestuário (↑PV ), isso acarretará uma elevação do preço relativo do vestuário (PV / PA)2 que proporcionará um aumento no rendimento relativo dos fatores de produção (↑r / w) para (r / w)2. A redução do salário relativamente ao retorno do capital provocará uma redução nas razões capital‑trabalho em cada segmento industrial (para (KA / LA)2 e (KV / LV)2). Portanto, os assalariados são inequivocamente prejudicados, e os proprietários de capital são beneficiados. 5.2.6 Comércio internacional entre economias com dois fatores de produção Com base no preço relativo definido, agora podemos complementar a definição do comércio internacional iniciada anteriormente. Pelas Hipóteses 5 e 6 do Modelo H‑O, países Local e Estrangeiro possuem a mesma tecnologia e a mesma demanda. Além disso, consideremos que: I. O país Local seja capital‑abundante e, com isso, se especialize na produção de vestuário (portanto, ele é exportador de vestuários e importador de alimentos). 99 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL II. O país Estrangeiro seja terra‑abundante e, dessa forma, se especialize na produção de alimentos e importe vestuários (portanto, ele é exportador de alimentos e importador de vestuários). III. Os dois países estão em equilíbrio de livre‑comércio. Lembrete Equilíbrio de livre‑comércio: quando as exportações forem iguais às importações, não haverá razão alguma para o preço relativo mudar e, por isso, esse preço representará o equilíbrio de livre‑comércio. Com base nas informações anteriores, o equilíbrio de livre‑comércio nos leva a uma convergência de preços relativos. Podemos observar no gráfico (a), da figura a seguir, que o preço relativo mundial de vestuários no equilíbrio de livre‑comércio é determinado pelo cruzamento das curvas de oferta por exportações de vestuário do país Local e de demanda por importações de vestuário do país Estrangeiro (Ponto 1). O gráfico (b) da mesma figura apresenta o equilíbrio de livre‑comércio para a produção mundial de alimentos (Ponto 2). Importações (País estrangeiro) (a) Equilíbrio de livre‑comércio para a produção mundial de vestuários. (b) Equilíbrio de livre‑comércio para a produção mundial de alimentos. Importações (País local) Exportações (País Local) Exportações (País Estrangeiro) PV/PA PV/PA (PV/PA)w (PV/PA)w1 2 M*V M*V XV X*A QV QVQV ‑ CV = C*V ‑ Q*V C*A ‑ Q*A = CA ‑ QA Figura 37 – Equilíbrio de livre‑comércio para a produção mundial de vestuários e alimentos Assim, ao preço relativo mundial (PV / PA)w a quantidade de vestuários que o país Local quer exportar (QV ‑ CV) é igual à quantidade de vestuários que o país Estrangeiro deseja importar (C QV V * *− ). Em contrapartida, (PV / PA)w a quantidade de alimentos que o país Local quer importar (CA ‑ QA) é igual à quantidade de alimentos que o país Estrangeiro deseja exportar (Q CA A * *− ). 100 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II A conclusão anterior é complementada pelo Teorema H‑O. Pode se afirmar que o padrão do comércio internacional é determinado a partir do equilíbrio de livre‑comércio, ou seja, um país vai exportar o bem que usa intensivamente e o fator de produção que possui em abundância. Isso significa que o país Local vai exportar bens capital‑intensivo (vestuários), e o país Estrangeiro exportará bens trabalho‑intensivo (alimentos), pois o primeiro é abundante em capital, enquanto o outro é abundante em mão de obra. Portanto, assim que os países Local e Estrangeiro comercializarem entre si, seus preços relativos convergirão para (PV / PA)w, pelo fato de que esses preços acompanham a evolução do preço relativo dos fatores de produção. Entretanto, existem alguns problemas que podem limitar a convergência para (PV / PA)w, como: • Existência de economias mais simples cujas diferenças entre fatores abundantes e escassos muito elevadas podem fazer um país não produzir ambos os bens. • A tecnologia empregada na produção não é necessariamente a mesma entre os países. • Existência de barreiras ao comércio e políticas de protecionismo. 6 RESTRIÇÕES À PRÁTICA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL Discutimos anteriormente a razão pela qual as nações comercializam entre si, mas outras questões sobre o comércio internacional também são relevantes, como: • Qual deveria ser a política comercial das nações? • Quem se beneficia e quem perde com políticas comerciais protecionistas? • Os benefícios de uma política protecionista são maiores ou menores do que os custos? Examinaremos, assim, quais políticas os governos adotam para proteger a economia dos seus países em relação ao comércio internacional, a quem isso beneficia e quais são os resultados dessa política em bem‑estar. Essas políticas incluem a tributação sobre as importações, a utilização de subsídios, a criação de quotas de importação e a adoção de medidas antidumping. Ao final será possível obter uma melhor compreensão dos efeitos dos instrumentos de política e comércio que um país pode adotar. 6.1 Efeitos do livre‑comércio sobre o bem‑estar A premissa inicial para avaliar os efeitos de bem‑estar do comércio internacional sobre os agentes econômicos é de que os mercados são estruturados de maneira perfeitamente competitiva. Nesse caso, tanto consumidores quanto produtores são agentes racionais ou, ainda, possuem comportamentos otimizadores. 101 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Saiba mais Agentes econômicos racionais fomentam que eles atuam de acordo com seu interesse. Nesse caso: I) cada consumidor maximiza seu bem‑estar na compra de bens e serviços que satisfaçam suas necessidades (utilidade), sujeito à restrição orçamentária; II) cada produtor decide se permanece no mercado de acordo com o resultado de maximização do lucro, sujeito à restrição dos custos de aquisição de insumos necessários para a produção de bens e serviços. Para saber mais acerca do assunto, leia: PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Análise de mercados competitivos. In: Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2014. Cap. 9. Sob os princípios de concorrência perfeita e racionalidade dos agentes é possível traçar as curvas de demanda e oferta dos bens e serviços negociados em um determinado mercado. O equilíbrio de mercado em concorrência perfeita é a situação em que a quantidade demandada por bens ou serviços se iguala à quantidade ofertada (Q* = QS = QD). O equilíbrio reflete a situação em que o preço é determinado pelas forças de mercado (P*) e não se altera, a menos que ocorram deslocamentos em alguma das curvas (de demanda, de oferta ou ambas). Em regime de autarquia, o equilíbrio de mercado doméstico é representado no gráfico da figura a seguir: pmax P = p* 0 Q D Escassez Excesso ES EC EP Q* = QS = Qd P pmin Figura 38 – Equilíbrio doméstico de oferta e demanda em autarquia 102 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II O ponto de equilíbrio E na figura anterior traduz a situação em que os agentes ofertantes e demandantes estão otimizando a satisfação em um mercado competitivo doméstico. Logo, a interação entre compradores e vendedores ao preço de mercado P* é a melhor situação de bem‑estar que os agentes econômicos desse país podem atingir. Em qualquer outro ponto, não ocorre essa otimização. Dessa forma: • Se o preço estiver acima de P*, haverá excesso de mercadorias (a oferta será maior do que a demanda). Assim, o preço deve se reduzir (e a quantidade demandada aumentar) para o mercado voltar ao equilíbrio. • Se o preço estiver abaixo de P, haverá escassez de mercadorias (a demanda será maior do que a oferta). Desse modo, o preço deve aumentar (e a quantidade demandada reduzir‑se), trazendo a economia de volta ao equilíbrio. • Portanto, apenas no ponto E da figura anterior a sociedade maximiza o bem‑estar ou, ainda, os agentes estão atuando de modo eficiente. A medida do bem‑estar do comércio internacional, ou seja, os ganhos e as perdas, para consumidores e produtores, causados pelas trocas internacionais, pode ser estabelecida a partir dos conceitos de excedente do consumidor e excedente do produtor. Observação Excedente do consumidor: benefício líquido que os consumidores desfrutam por pagar o preço de mercado pelas mercadorias que satisfazem seu bem‑estar. Excedente do produtor: benefício líquido que os produtores recebem ao vender pelo preço de mercado os bens e serviços produzidos que geram o máximo lucro. Na figura anterior, o benefício líquido usufruído pelos consumidores – o excedente do consumidor (EC) – será observado enquanto estes estiverem consumindo quantidades de bens e serviços entre 0 e Q* ao preço P*. Nessa mesma figura, o benefício líquido recebido pelos produtores – o excedente do produtor (EP) – será observado enquanto estes estiverem produzindo e vendendo quantidades de bens e serviços entre 0 e Q* ao preço P*. Dessa forma, podemos também definir o excedente total (ET) como o benefício líquido agregado obtido por consumidores e produtores, ou seja: ET = EC + EP (4.1) O gráfico da figura a seguir apresenta o efeito de bem‑estar decorrente da importação de uma mercadoria. Em autarquia, a interseção das curvas de oferta e demanda doméstica determinaria o equilíbrio no mercado doméstico (Ponto 1), resultando num preço P* e numa quantidade Q*. Sem comércio, portanto, o ganho dos consumidores é igual à área A e o ganho dos produtores corresponde à área B + E. 103 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL QS Q* QD E B A P Q 1 C D D Demanda doméstica SW Oferta mundial S Oferta doméstica Importações com livre‑comércio PW P* Figura 39 – Efeito das importações sob livre‑comércio Suponha agora que os ofertantes internacionais dessa mercadoria estejam dispostos a vender qualquer quantidade ao preço PW. Esse preço é inferior ao preço de equilíbrio de autarquia (PW < P*) e apenas cobre o custo médio de produção e entrega da mercadoria no mercado doméstico. Nesse caso, os consumidores desse país vão importar alguma quantidade do bem quando o preço mundial (PW) deste estiver abaixo do preço de equilíbrio (P*) que seria observado no seu mercado doméstico em autarquia. Dessa forma, sob livre‑comércio, o bem negociado nesse mercado poderá ser importado ao preço PW. Nessas condições, o preço doméstico será igual ao mundial, pois nenhum consumidor doméstico precisará pagar mais do que aquele preço. Com livre‑comércio, a produção doméstica será reduzida a QS, mas a quantia total consumida domesticamente será QD. As importações (M) serão a diferença entre o consumo doméstico e a produção doméstica (M = QD ‑ QS). Os consumidores domésticos se beneficiarão com o comércio internacional. Observe na tabela a seguir que o excedente do consumidor aumenta (com o acréscimo da área B + C + D), mas os produtores domésticos terão o excedente do produtor reduzido (com a perda da área B). Tabela 13 – Variações de bem‑estar devido ao livre‑comércio internacional Medidas de bem‑estar Equilíbrio de mercado – sem comércio Equilíbrio de mercado – com comércio internacional Efeito líquido do livre‑comércio (1) (2) (3) = (2) – (1) Excedente do Consumidor (EC) A A + B + C + D B + C + D 104 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade II Excedente do Produtor (EP) B + E E ‑ B Benefício Líquido Total: EC + EP A + B + E A + B + C + D + E C + D Ganho de Bem‑Estar Doméstico Zero C + D A área C + D representa o benefício líquido total (ou ganho de bem‑estar) decorrente do comércio internacional, ou seja, o livre‑comércio proporciona ganho de bem‑estar total para a sociedade. A área C, em particular, representa a substituição da produção doméstica pelas importações a preço menor que P*. A área D, por sua vez, representa o aumento em virtude da redução do preço doméstico para PW. Alternativamente, se o comércio internacional for restringido, o ganho de bem‑estar seria revertido e se tornará uma perda de excedente doméstico, ou seja, um peso morto para a sociedade. Lembrete Peso morto: medida da perda líquida de excedente total da sociedade em virtude de uma intervenção governamental ou de uma falha de mercado, como uma restrição ao comércio internacional. Exemplo de aplicação Efeito do livre‑comércio sobre o bem‑estar doméstico Suponha que o país Local produza e comercialize aço. Sob autarquia, esse país apresenta as seguintes funções de oferta e demanda doméstica por essa mercadoria: • Curva de oferta de aço (QS): QS = ‑ 2 + P • Curva de demanda (QD): QD = 10 ‑ 0,5P Onde QS e QD são as quantidades ofertadas e demandadas em milhares de unidades e P é o preço unitário em dólares ($). Sob autarquia, a interseção das curvas de oferta e demanda doméstica determinam o equilíbrio do mercado doméstico, resultando no seguinte preço de equilíbrio: QS = QD ‑ 2 + P = 10 ‑ 0,5P P* = $8 105 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Ao preço de equilíbrio de autarquia, P* = $8, a quantidade de aço negociada nesse mercado será de: Q* = ‑ 2 + 8 = 6 Suponha agora que o preço mundial (PW) do aço seja de $4. Isso significa dizer que os ofertantes internacionais estão dispostos a vender qualquer quantidade de aço a esse preço. Caso a restrição ao comércio seja removida (ou seja, o livre‑comércio passa a ser permitido), o bem pode ser importado pelo preço de negociação internacional, pois nenhum consumidor doméstico precisará pagar mais do que esse preço. Ao preço PW = $4, a quantidade demandada será: QD = 10 ‑ 0,5(4) = 8 Em contrapartida, com o livre‑comércio, a produção doméstica diminuirá, resultando na seguinte quantidade ofertada: QS = ‑ 2 + 4 = 2 Desse modo, haverá necessidade de importações (M), que é resultado da diferença entre a quantidade demandada e ofertada sob livre‑comércio, ou seja: M = QD ‑ QS = 8 ‑ 2 = 6 Esses resultados podem ser verificados no gráfico da figura a seguir: QS = 2 Q* = 6 QD = 8 E B A $P Q milhares 1 C D D Demanda doméstica SW Oferta mundial S Oferta doméstica M = 6 PW = 4 P* = 8 20 Figura 40 106 Re vi sã o: A na
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