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PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Apresentar a função geral do SNC; Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as estruturas anatômicas que formam a medula espinal, tronco encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo), cerebelo, diencéfalo, telencéfalo, meninges, ventrículos encefálicos, líquido cerebrospinal e vascularização. • Apresentar a função geral do SNP. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as estruturas anatômicas que o formam os nervos espinais, nervos cranianos, ple- xos nervosos, terminações nervosas, gânglios nervosos e lesões nervosas. • Apresentar a função geral do SNA. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, o SNA simpático e o SNA parassimpático. • Apresentar a função geral do sistema endócrino. Estudar, do ponto de vista morfológico e funcional, as principais glãndulas (hipófise, tireoide, paratireoide, pineal, suprar- renal, pâncreas, testículo e ovário). Sistema Nervoso Central (SNC) Sistema Nervoso Periférico (SNP) Sistema Endócrino Sistema Nervoso Autônomo (SNA) Dra. Carmem Patrícia Barbosa Sistema Neuroendócrino Sistema Nervoso Central (SNC) Prezado(a) aluno(a), o controle das funções or- gânicas e a integração do organismo ao ambiente depende da atuação do Sistema Nervoso (SN) e do sistema endócrino que controlam todas as funções dos demais sistemas permitindo modi- ficações a fim de manter a homeostasia. O sistema endócrino age sob influência do SN, cujas funções são voluntárias ou involuntárias. A complexidade desses sistemas é maior com a complexidade do organismo e atinge seu desen- volvimento máximo no homem uma vez que res- pondem por fenômenos psíquicos altamente com- plexos (raciocínio, aprendizado, memória e sono). O endócrino age por meio de glândulas cuja secreção (hormônios) é lançada no sangue. A hipó- fise é a “glândula-mestre”, pois produz hormônios que estimulam o funcionamento de outras como tireoide, suprarrenais, ovários e testículos. As funções do SN estão diretamente relacio- nadas às células que constituem o próprio tecido nervoso: neurônios (células nervosas) e neuro- glia (células gliais, neurogliais ou neurogliócitos). Neurônios são unidades estruturais e funcionais do SN, pois são especializados na rápida comunicação intercelular (sinapse). A neuróglia, embora, cinco vezes mais abundante do que os neurônios, não é excitável, mas sustenta, isola e nutre os neurônios. 203UNIDADE 5 Didaticamente, o SN pode ser dividido segundo critério anatômico, embriológico, segmentar e fun- cional. O critério embriológico considera seu desenvolvimento intrauterino, o segmentar considera a presença ou não de nervos, o anatômico considera o local onde o sistema nervoso está localizado e o funcional considera sua forma de atuação. O texto será fundamentado em autores como Machado e Haertel (2014), Afifi e Bergman (2008), Miranda Neto e Chopard (2014). A nomenclatura está atualizada (CFTA, 2001) e é necessário que uti- lize atlas como Narciso (2012), Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002) e outros. O objetivo é descrever aspectos relevantes do SN e do endócrino, suas inter-relações e a influência que exercem sobre os outros sistemas do corpo. Função do SNC De maneira geral, o sistema nervoso é responsável por receber, analisar e integrar informações prove- nientes do meio interno e externo. Representa o local onde ocorrem as tomadas de decisão e de onde são enviadas as ordens para o funcionamento de todo o corpo. Ele age em conjunto, e de maneira dependente, ao sistema nervoso periférico (MOORE et al., 2014). Estruturas do SNC O sistema nervoso central é organizado em encé- falo e medula espinal. Enquanto, o encéfalo é pro- tegido pela cavidade craniana, a medula espinal é protegida pela coluna vertebral. Tanto o encéfalo quanto a medula apresentam em sua constituição corpos celulares e fibras nervosas. A substância cinzenta é formada predominantemente por cor- pos neuronais e a branca por fibras nervosas que se aglomeram formando tratos. Todavia, segundo Miranda Neto e Chopard (2014), enquanto o encéfalo tem substância cin- zenta por fora da branca constituindo o córtex cerebral, a substância cinzenta da medula espinal (que tem a forma de uma borboleta ou da letra “H”) localiza-se internamente à branca (que é for- mada por fibras que sobem e descem na medula). Figura 1 - Sistema nervoso central e Sistema nervoso periférico 204 Sistema Neuroendócrino Medula Espinal (ME) Com certeza você já ouviu falar de alguém que teve uma lesão na medula e ficou paraplégico ou tetraplégico. Nesses casos, muitas perguntas sur- gem, por exemplo, será que estas pessoas conse- guirão sentir seu corpo normalmente? Será que a paralisia poderá ser revertida? Como ficam as funções sexuais? E tantas outras dúvidas que para serem respondidas é preciso enten- der melhor como a medula funciona. Então, lá vamos nós. Conforme Machado e Haertel (2014), a medula espinal é uma massa cilíndrica de tecido nervoso, ligeiramente achatada no sentido anteroposterior, que fica dentro do canal vertebral. Seu nome (medula) significa miolo justamente pelo fato de sua localização protegida no interior deste canal. Seu calibre não é uniforme, pois apresenta duas dilatações (chamadas intumescência cervical e intumescência lombossacral) onde as raízes nervosas que formam o plexo braquial e o plexo lombossacral fazem co- nexão. Esses plexos inervam os membros su- periores e inferiores. Assim, nas intumescências há maior quantidade de neurônios que entram ou saem da medula espinal. Esse fato tem apoio na anatomia comparada, uma vez que dinossauros com membros superiores pequenos não têm intumescência cervical, mas a intumescência lombar tem o tamanho aproximado do encéfalo. Em contraparti- da, a baleia que não apresenta membros expressivos, tem a medula larga, mas sem dilatações. Superiormente, a medula espinal limita-se com o bulbo (ao nível do forame magno do osso occipital) e, inferior- mente, termina afilando-se para formar o cone medular que continua com um delgado filamento meníngeo, o fila- mento terminal, ao nível da segunda vértebra lombar. Assim, no adulto a medula não ocupa todo o canal vertebral tendo aproximadamente 45 cm no homem e 42 cm na mulher. 205UNIDADE 5 Tal fato tem importância clínica, pois abaixo da segunda vértebra lombar o canal ver- tebral não tem medula, mas contém apenas as meninges e as raízes nervosas dos últimos nervos espinais que constituem a cauda equina. Isto decorre de ritmos diferentes de crescimen- to entre medula e coluna verte- bral. Por exemplo, até o quarto mês de vida intrauterina am- bas crescem no mesmo ritmo, mas a partir de então, a coluna cresce mais do que a medula causando como consequência o afastamento dos segmentos medulares das vértebras cor- respondentes. Além disso, caro aluno, a superfície da medula apresenta sulcos longitudinais (como o sulco lateral anterior e o sulco lateral posterior) onde se co- nectam os pequenos filamen- tos radiculares que se unirão para formar as raízes ventral e dorsal dos nervos espinais. Considerando que estes nervos trazem à medula informações sensitivas da periferia do corpo que deverão ser conduzidas ao encéfalo, e que levam as ordens do encéfalo à periferia do cor- po, é possível entender porque uma lesão medular causa perda sensitiva e motora, as quais não serão revertidas se a lesão me- dular for completa. Por isso, para maior proteção da medula, membranas fibrosas cha- madas meninges fazem seu revestimento externo. A dura-máter é a mais externa, espessa e resistente. Superiormente, a dura-máter espinal continua com a dura-máter craniana e caudalmente termi- na ao nível da segunda vértebra sacral. Por sua vez,a pia-máter é a mais delicada e interna, e adere intimamente ao tecido nervoso. Já a aracnoide-máter se dispõe entre as outras duas formando um emaranhado de trabéculas aracnóideas. Assim, entre a medula e as meninges se formam três espaços. O epidural ou extradural fica entre o periósteo das vértebras e a dura-máter, contém tecido adiposo e um grande número de veias. O espaço subdural fica entre a dura-máter e a aracnóide-máter e contém pequena quantidade de líquido para evitar a aderência das paredes. Já o espaço subaracnóideo é o mais importante, pois con- tém maior quantidade de líquido cerebrospinal. Vale ressaltar que abaixo da segunda vértebra lombar não há perigo de lesão medular, sendo esta área ideal para a introdução de agulhas com a finalidade de coletar o líquido cerebrospinal para fins terapêuticos ou diagnósticos, para medir a pressão do líquido, para introdução de substâncias que aumentam o contraste nas radiografias (mielografia) ou para introdução de anestésicos nas anestesias raquidianas. Medula espinal Substância cinzenta Substância branca Pia-máter Aracnoide-máter Dura-máter Meninges espinais Canal central da medula espinal Figura 3 - Sulcos da medula Espinal e meninges 206 Sistema Neuroendócrino Por isso, para cirurgia das extremidades inferiores, períneo, cavida- de pélvica e em algumas cirurgias abdominais, podem ser feitas anes- tesias raquidianas ou epidurais (também chamadas de peridurais). Na raquidiana, o anestésico é introduzido no espaço subaracnoideo entre as vértebras L2-L3, L3-L4 ou L4-L5 certificando-se de que a agulha atingiu o espaço subaracnoideo pela presença do líquido que goteja na extremidade da agulha. Na peridural, o anestésico é introduzido no espaço epidural onde se difunde e atinge as raízes dos nervos espinais. Certifica-se de que a agulha atingiu o espaço epidural após a per- furação do ligamento amarelo. Embora, exija uma habilidade técnica muito maior, não causa cefaleia em decorrência de vazamento do líquido cerebrospinal. Encéfalo Tronco Encefálico (TE) O tronco encefálico interpõe-se entre a medula espinal e o diencéfalo, ventralmente ao cerebelo. É constituído por corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras que se agrupam em tratos, fascículos ou lemniscos os quais formam relevos ou depressões em sua superfície. Divide-se em bulbo (inferiormente), mesencéfalo (superiormente) e ponte (entre ambos), e apresenta 10 dos 12 pares de nervos cra- nianos, sendo por isso uma região extremamente importante. Todo o texto que segue será escrito a partir das considerações de Afifi e Bergman (2007) e Machado e Haertel (2014). Bulbo O bulbo relaciona-se superior- mente com a ponte (por meio do sulco bulbo-pontino) e, inferiormente, com a medula espinal. Embora não haja uma demarcação nítida entre bul- bo e medula, considera-se que o limite entre eles é um plano horizontal que passa acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical ao nível do forame magno. Sua superfície é percorrida por sulcos contínuos aos sulcos da medula. Assim, de cada lado da fissura mediana anterior existe uma eminência alonga- da, a pirâmide, que é formada por um feixe de fibras nervosas descendentes que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurô- nios motores da medula espi- nal. Fibras desse trato cruzam obliquamente o plano mediano e formam a decussação das pi- râmides. Lesões neste trato cau- sam déficit motor contralateral à lesão. Em contrapartida, na área posterior do bulbo estão os fascículos grácil e cuneiforme os quais são constituídos por fibras nervosas ascendentes. Em relação às funções, o bulbo é um importante centro nervoso, pois se relaciona à fun- ção respiratória, cardiovascular, à tosse, ao vômito, ao espirro, à deglutição e ao bocejo. Comple- mentarmente, dele emergem os Mesencéfalo Mesencéfalo Ponte Figura 4 - Visão Geral do Troco Encefálico 207UNIDADE 5 Cerebelo O cerebelo situa-se posteriormente ao bulbo e à ponte, repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e está separado do lobo occipital por uma prega da dura-máter chamada tentório do cerebelo. Ele se relaciona à medula espinal e ao bulbo pelo pedúnculo cerebelar inferior, à ponte pelo pedúnculo cerebelar médio e ao mesencéfalo pelo pedúnculo cerebelar superior. Sua porção mediana e ímpar é chamada de verme, e suas massas laterais são os hemisférios cerebelares. Tanto o verme quanto os hemisférios apresentam sulcos transversais que delimitam lâ- minas finas chamadas de folhas. Os sulcos mais profundos são as fissuras e estas delimitam os lóbulos do cerebelo. Em corte, é possível identificar que o cerebelo é constituído por um centro de substância bran- ca, o corpo medular do cerebelo, e é revestido por uma fina camada de substância cinzenta, o córtex cerebelar. No interior do corpo medular existem quatro pares de núcleos de substância cinzenta, os núcleos centrais do cerebelo: den- teado, emboliforme, globoso e fastigial. filamentos dos nervos hipoglosso, glossofaríngeo, vago e a raiz craniana do nervo acessório, além de ajudar a formar o IV ventrículo. Por isso, várias síndromes podem acometê-lo desencadeando vasta sintomatologia. Ponte A ponte se localiza anteriormente ao cerebelo, en- tre o mesencéfalo e o bulbo. Lembra que a ponte e o bulbo são separados pelo sulco bulbo-pontino? Pois é! Desse sulco emergem, de cada lado a par- tir da linha mediana, os nervos abducente, facial e vestíbulococlear (por isso, tumores nesta área causam a síndrome do ângulo ponto-cerebelar com muitos sintomas). Além disso, a ponte ajuda a formar o IV ventrículo. Sua base (na região ventral) apresenta estrias transversais em virtude de feixes de fibras trans- versais que a percorrem, as quais convergem, de cada lado, para formar o pedúnculo cerebelar mé- dio ou braço da ponte. Esse pedúnculo penetra o cerebelo e é limitado em relação à ponte pela emergência do nervo trigêmeo. Mesencéfalo O mesencéfalo fica entre a ponte e o cérebro e é atravessado em toda a sua extensão por um canal estreito chamado aqueduto do mesencéfalo que une o III ao IV ventrículo. Nele existe uma área escura (chamada substância negra) que é formada por neurônios que contém melanina e se relacio- nam ao movimento. Além disso, dele emerge os nervos oculomotor e troclear, e está relacionado às vias auditivas e visuais. Mesencéfalo Ponte Bulbo Figura 5 - Bulbo, Ponte e Mesencéfalo 208 Sistema Neuroendócrino Todo profissional da saúde deve conhecer bem o cerebelo devido seus aspectos funcionais. Isso porque o cerebelo está bastante relacionado ao equilíbrio, à coordenação dos movimentos e à aprendizagem motora. No entanto, estudos têm sugerido que o cerebelo também apresenta fun- ções não motoras, por exemplo, função autônoma, de comportamento e de cognição, além de ajudar a formar o IV ventrículo. Além disso, é descrito que autistas apresentam hipoplasia cerebelar e que lesões cerebelares podem causar síndromes com diferentes sintomas (GARCIA; MOSQUE- RA, 2011). Diencéfalo O diencéfalo e o telencéfalo juntos formam o cérebro, que é a porção mais desenvolvida e im- portante do encéfalo ocupando cerca de 80% da cavidade craniana. Todavia, o telencéfalo se de- senvolveu em sentido lateral e posterior forman- do os hemisférios cerebrais e encobrindo quase completamente o diencéfalo que permaneceu em situação impar e mediana, podendo ser visto ape- nas na face inferior do cérebro. O diencéfalo, embora seja um região pequena em termos de tamanho, é extremamente importan- te em termos funcionais. Ele compreende quatro regiões principais: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo, os quais se relacionam ao III ventrículo. Otálamo é uma massa volumosa e ovoide de sustância cinzenta, disposta uma de cada lado do diencéfalo (essas massas são unidas pela aderên- cia intertalâmica). Ele recebe e reencaminha ao córtex motor e sensitivo os impulsos motores e sensitivos vindos da periferia do corpo (exceto o olfato). Devido sua íntima relação com a dor, uma lesão talâmica pode causar a síndrome talâmica dolorosa, além de déficit de memória, de lingua- gem e vários outros sintomas. O hipotálamo é uma área relativamente peque- na situada abaixo do tálamo, mas com importan- tes funções relacionadas principalmente ao con- trole da atividade visceral. Assim, é considerado um grande centro autônomo e endócrino atuando em processos como alimentação, ingestão de lí- quidos, comportamento sexual, comportamento emocional, regulação da temperatura, memória e crescimento. Suas disfunções podem causar diabetes insípido, distúrbios da termorregulação (hipo, hiper ou pecilotermia – alterações da tem- peratura corporal em decorrência de variação na temperatura ambiental), distúrbios do equilíbrio calórico, do comportamento emocional (raiva, medo e apatia) e da memória. O epitálamo se localiza acima do sulco hipo- talâmico limitando, posteriormente, o III ventrí- culo. Seu elemento mais evidente é a glândula pineal que atua no controle do ritmo circadiano e na função gonadal. Por isso, lesão pode retardar a puberdade ou fazê-la surgir precocemente ou alterar o ritmo circadiano. O subtálamo localiza-se abaixo do tálamo e seu elemento mais evidente é o núcleo subtalâ- mico que atua no controle e modulação do mo- vimento voluntário. Sua lesão pode provocar o hemibalismo (doença na qual ocorrem movimen- tos violentos e involuntários da metade do corpo contralateral ao subtálamo lesado). Figura 6 - Cerebelo Inteiro 209UNIDADE 5 Telencéfalo O telencéfalo ocupa toda a cavidade supratentorial do crânio e compreende os dois hemisférios cerebrais e uma pequena parte mediana situada na porção anterior do III ventrículo. Tais he- misférios são parcialmente separados pela fissura longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado pelo corpo caloso (o principal meio de união entre eles). Ele possui cavidades chamadas de ventrículos laterais, tem três pontos mais projetados (polo frontal, polo occipital e polo tempo- ral), cinco lobos (grandes regiões dentro de um polo) e três faces (súperolateral, medial e inferior ou base do cérebro). Estudaremos cada uma dessas regiões. A superfície do cérebro humano apresenta depressões denomi- nadas sulcos que delimitam os giros. Esses giros permitem aumentar a superfície do cérebro sem aumentar o volume cerebral (dois terços da área ocupada pelo córtex cerebral estão “escondidos” nos sulcos) fazendo com que seja chamado de girencéfalo (ao contrário de encéfalos sem giros que são chamados de lisencéfalos). LOBO FRONTALLOBO FRONTAL LOBO LÍMBICOLOBO LÍMBICO LOBO PARIETAL LOBO PARIETAL LOBO OCCIPITAL LOBO OCCIPITAL CEREBELOMEDULA ESPINAL BULBO PONTE Figura 7 - Diencéfalo e Cérebro 210 Sistema Neuroendócrino Muitos sulcos são inconstantes e não recebem qualquer denominação, mas outros são constan- tes e recebem denominações especiais ajudando a delimitar os lobos e as áreas cerebrais. Além disso, é importante salientar que o padrão dos sulcos e dos giros pode ser diferente nos dois hemisférios de um mesmo indivíduo, e não exis- te nenhum sulco ou giro que seja característico de uma determinada raça humana, sendo assim impossível a identificação da raça pelo estudo de um único cérebro. Os dois sulcos mais importantes são o lateral e o central. O lateral é uma fenda profunda que se- para os lobos frontal e parietal do lobo temporal. Ele dirige-se para a face súperolateral do cérebro onde termina dividindo-se. Já o sulco central é profundo e percorre obliquamente a face súpero- lateral do hemisfério separando os lobos frontal e parietal. Inicia na face medial do hemisfério e segue em direção ao sulco lateral. É ladeado por dois giros paralelos, o pré-central (anterior ao sul- co) e o pós-central (posterior a ele). Esses giros relacionam-se, respectivamente, à motricidade e à sensibilidade do corpo. Dos cinco lobos cerebrais, quatro recebem sua denominação de acordo com os ossos do crânio com os quais se relacionam. Assim, são chamados de lobo frontal, temporal, parietal e occipital. To- davia, o quinto lobo situa-se profundamente e não se relaciona diretamente com os ossos do crânio sendo chamado de lobo da ínsula. Esse lobo, que se relaciona a funções autônomas, é o que menos cresce e, por isso, é recoberto pelos lobos vizinhos. Tem forma cônica e também apresenta sulcos e giros (como o sulco circular da ínsula, o sulco central da ínsula, os giros curtos e o giro longo da ínsula). Você também precisa saber que o peso do en- céfalo depende do peso corporal do indivíduo e da complexidade do encéfalo que é expressa pelo coeficiente de encefalização (K). O K aumenta à medida que se sobe na escala zoológica, sendo quatro vezes maior no homem do que no chim- panzé. No homem adulto brasileiro normal, ele pesa em torno de 1300 gramas (1200 gramas na mulher). Além disso, saiba que o peso do encé- falo não tem relação com o estado cultural ou com a inteligência do indivíduo (o encéfalo do Einstein, por exemplo, pesava 1230 gramas). Hemisfério cerebral esquerdo Hemisfério cerebral direito Fissura longitudinal do encéfalo Figura 8 - Telencéfalo. Note os Hemisférios e a Fissura Lon- gitudinal do Cérebro Lobo parietal Lobo frontal Lobo temporal Ponte Bulbo Medula espinal Cerebelo Lobo occipital Figura 9 - Polos, Lobos e Faces 211UNIDADE 5 Por fim, o maior encéfalo humano registrado pesava 2850 gramas e o seu dono tinha um nível normal de inteligência (tem bebês que não nascem com este peso, já pensou?) e se admite que o menor encéfalo compatível com a inteligência normal deve pesar cerca de 900 gramas. Figura 10 - Telencéfalo (vista lateral). Note os sulco lateral e central, e os giros pré-central e pós-central Especificidades das Diversas Regiões do Encéfalo De agora em diante, estudaremos algumas das particularidades mais interessantes do encéfalo. Vamos começar com aquilo que pode ser estudado na face súperolateral dele. O lobo frontal apresenta o sulco pré-central, o sulco frontal superior e sulco frontal inferior. Entre o sulco central e o sulco pré-central está o giro pré-central onde se localiza a área motora primária do cérebro. Acima do sulco frontal superior e continuando na face medial do cérebro localiza-se o giro frontal superior. Entre o sulco frontal superior e o inferior está o giro frontal médio e, abaixo do sulco frontal inferior, está o giro frontal inferior (este, do lado esquerdo do cérebro, é chamado de giro de Broca e é onde se localiza o centro cortical da palavra falada, na maioria dos indivíduos). Já o giro frontal superior e o médio estão relacionados à cognição, ao raciocínio lógico e matemático, e à memória recente. O lobo temporal apresenta dois sulcos principais: o tempo- ral superior e o sulco temporal inferior. Entre o sulco lateral e o temporal superior está o giro temporal superior onde está a área de Wernicke envolvida na compreensão da linguagem falada. Entre o sulco temporal superior e o inferior está o giro temporal médio. Abaixo do sulco temporal inferior locali- za-se o giro temporal inferior (este está envolvido na percep- ção visual de cor e forma). Além disso, afastando-se os lábios do sulco lateral, aparecem peque- nos giros transversais dos quais o mais evidente e importante é o giro temporal transverso ante- rior, pois nele se localiza o cen- tro cortical da audição ou área acústica primária. O loboparietal apresenta dois sulcos principais, o sulco pós-central e o sulco intraparie- tal (este separa o lóbulo parietal superior do inferior). O lóbulo parietal superior está envolvi- do na interação do indivíduo ao meio ambiente e, por isso, lesões, principalmente, no hemisfério não dominante, causam negli- gência de partes do corpo. Nele existem dois giros, o supramar- ginal e o angular (ambos envol- vidos na integração de diversas informações sensoriais quanto à fala e percepção e, por isso, le- sões, principalmente, no hemis- fério dominante, causa distúrbio Giro pré-central Giro pós-central Sulco central Sulco lateral 212 Sistema Neuroendócrino de compreensão da linguagem e reconhecimento de objetos). Já o lobo occipital apresenta pequenos sulcos e giros inconstantes e irregulares. Agora, estudaremos os principais aspectos ana- tômicos e funcionais da face medial do encéfalo. Essa face é visível a partir de secção pelo plano sagital mediano e expõe o diencéfalo, o corpo ca- loso, o fórnice e o septo pelúcido. O corpo caloso é a maior comissura inter-hemisférica e aparece como uma lâmina branca arqueada. Ele é forma- do por um grande número de fibras mielínicas que cruzam o plano mediano e penetram de cada lado no centro branco medular do cérebro unindo áreas simétricas do córtex cerebral de cada hemis- fério. O fórnice emerge abaixo do corpo caloso e entre ele e o corpo caloso estende-se o septo pelúcido que separa os dois ventrículos laterais. Esse septo é constituído por duas delgadas lâmi- nas de tecido nervoso que delimitam a cavidade do septo pelúcido. Ainda na face medial, podemos identificar dois sulcos que passam do lobo frontal para o parietal, o sulco do corpo caloso (que contorna o corpo ca- loso) e o sulco do cíngulo (que é paralelo ao sulco do corpo caloso). Entre esses sulcos está o giro do cíngulo, que faz parte do sistema límbico e, por isso, afeta o funcionamento visceral, as emoções e o comportamento. Além disso, o lobo occipital apresenta dois sulcos importantes: o parietocci- pital e o calcarino entre os quais se situa um giro triangular chamado cúneo. Nas bordas do sulco calcarino está localizada a área visual primária. Por fim, na face inferior do encéfalo, o lobo frontal apresenta apenas o sulco olfatório, me- dialmente o qual se situa o giro reto (relaciona- do ao olfato) e lateralmente ao qual se situam os giros orbitários. Já o lobo temporal apresenta os sulcos occipito-temporal, colateral e sulco do hipocampo. Ventrículos Encefálicos e Líquido Cerebrospinal Por várias vezes, nesta unidade, falamos sobre ventrículos e usamos os termos “III ventrículo”, “IV ventrículo” e “ventrículos laterais”. Contudo, você sabe o que é um ventrículo? Ventrículos são cavidades que existem dentro do nosso encéfalo. Temos quatro deles. Os ven- trículos laterais (direito e esquerdo) são as cavi- dades dos hemisférios cerebrais. O III ventrículo é a cavidade do diencéfalo e o IV ventrículo é a cavidade do rombencéfalo (fica entre o bulbo, a ponte e o cerebelo). Eles produzem líquido cerebrospinal, mas como os ventrículos laterais são maiores, eles produzem maior quantidade deste líquido. No entanto, eles se comunicam entre si por meio de “ductos” e este líquido vai escoando e circulando. Por exemplo, o líquido cerebrospinal deixa os ven- trículos laterais e chega ao III ventrículo pelo fora- me interventricular. Depois, sai do III ventrículo e passa ao IV ventrículo por meio do aqueduto do mesencéfalo. Do IV ventrículo ele é drenado para o espaço subaracnoideo por meio das aberturas laterais e da abertura mediana do IV ventrículo. Por fim, o líquido sobe até a parte superior do en- céfalo, é absorvido pelas granulações aracnoideas e é drenado para as veias que drenam o encéfalo. Dessa forma, o líquido se mistura ao sangue e sofre os mesmos processos de filtragem que ele. É bem provável que você já ouviu falar desse líquido. Por exemplo, você já deve ter ouvido falar de alguém que tenha tido que tirar um pouco dele para saber se está com meningite ou já ouviu falar de alguém que perdeu este líquido ao tomar uma anestesia raquidiana e, por isso, teve dor de cabeça. Entretanto, você já parou para pensar para que ele serve e do que ele é composto? 213UNIDADE 5 O líquido cerebrospinal (ou líquor) é um fluido aquoso e incolor que ocupa o espaço subaracnoideo e os ventrículos. Ele dá proteção mecânica formando um coxim líquido entre o sistema nervoso central e os ossos, reduzindo o risco de traumatismo. Além disso, como o espaço subaracnoideo envolve todo o sistema nervoso cen- tral, este fica totalmente submerso no líquor de forma que se torna mais leve. Permite, por exemplo, que o encéfalo flutue impedindo que seu peso comprima as raízes dos nervos cranianos e os vasos sanguíneos contra a superfície interna do crânio. Ele é ativamente formado pelos plexos coroides dos ventrículos, mas sua circulação é extremamente lenta sendo auxiliada pelo fato de sua produção ser em uma extremidade e sua absorção em outra. Além disso, a pulsação das artérias intracranianas a cada sístole au- menta a pressão liquórica empurrando-o por meio das granulações aracnóideas. Seu volume total é de 400 a 500 ml/dia, renovando-se completamente a cada oito horas. Algumas doenças podem interferir em sua produção, circula- ção e/ou absorção causando hidrocefalia que se caracteriza por aumento da quantidade e da pressão do líquor, levando à dilata- ção dos ventrículos e à compressão do tecido nervoso com graves consequências. Essa doença pode ser corrigida por meio de um procedimento cirúrgico que drena o líquor por meio de um cateter desde os ventrículos cerebrais até a veia jugular interna, ou ao átrio direito ou à cavidade peritoneal. Vale lembrar que o aumento do volume de qualquer componente da cavidade craniana (por tumor, hematoma ou hidrocefalia, por exemplo) causa aumento da pressão intracraniana, podendo cau- sar a protrusão de tecido nervoso e graves sintomas como perda de consciência, coma profundo ou morte por lesão dos centros respiratório e vasomotor. Núcleos da Base Já vimos que o encéfalo apresenta uma camada superficial de subs- tância cinzenta (o córtex cerebral) que reveste um centro de subs- tância branca (o centro branco medular do cérebro). No interior desse centro existem massas de substância cinzenta chamadas de núcleos da base do cérebro, os quais atuam, principalmente, sobre o controle do movimento, embora tenham funções não motoras (como seleção de informação sensitiva para o controle motor, fun- 214 Sistema Neuroendócrino ção cognitiva, função emocional e de motivação). Suas lesões podem causar vários distúrbios moto- res como: coreia, atetose, balismo, distonia, tiques, síndrome de Tourette (tiques motores e vocais) e distúrbios hipocinéticos (como o parkinsonismo). Dentre esses núcleos pode-se citar o caudado, o lentiforme (dividido em putame e glóbulo pá- lido), claustrum, corpo amigdaloide (faz parte do sistema límbico e é um importante centro regula- dor do comportamento sexual e da agressividade), núcleo basal de Meynert e núcleo accumbens. Centro Branco Medular do Cérebro O centro branco medular do cérebro é formado por fibras mielínicas, as quais podem ser de pro- jeção ou de associação. As de projeção ligam o córtex cerebral a centros subcorticais (são o fór- nice e a cápsula interna). As de associação unem áreas corticais situadas em pontos diferentes (são o corpo caloso, a comissura do fórnice e a comis- sura anterior). Meninges O sistema nervoso central é envolto por mem- branas conjuntivas denominadas meninges (du- ra-máter, aracnoide-máter e pia-máter), as quais têm papel de proteção aos centros nervosos (já havíamos mencionado isto quando estudamosa medula espinal, lembra?). Assim, o acesso cirúrgico ao sistema nervoso central envolve, necessariamente, o contato com essas meninges. Além disso, elas podem ser fre- quentemente acometidas por processos patoló- gicos como infecções (meningites) ou tumores (meningiomas). A dura-máter é ricamente inervada e vascu- larizada. Como o encéfalo não tem terminações nervosas sensitivas, quase toda a sensibilidade intracraniana se localiza nela que é responsável pela maioria das cefaleias (dores de cabeça). A aracnoide-máter, em alguns pontos, forma as granulações aracnoideas que absorvem o líquido cerebrospinal (como já estudado), mas no adulto e no idoso, algumas delas tornam-se muito grandes constituindo os chamados corpos de Pacchioni que frequentemente se calcificam e podem deixar impressões na abóboda craniana. A pia-máter adere intimamente à superfície do encéfalo acompanhando os sulcos, os giros e, inclusive, os vasos que penetram o tecido nervoso. Assim, ela dá resistência ao encéfalo, pois este tem consistência mole. Aracnoide-máter e pia-máter são membranáceas e delicadas. Figura 11 - Núcleos da Base e Centro Branco Medular do Cérebro 215UNIDADE 5 Vascularização da Cabeça e do Pescoço Embora represente apenas uma pequena parte do peso do corpo, o encéfalo recebe aproximadamente um sexto do débito cardíaco e um quinto do oxigênio consumido pelo corpo em repouso. Isto porque é formado por estruturas nobres e altamente especializa- das que exigem um suprimento permanente e elevado de glicose e oxigênio para seu metabolismo. Por isso, a parada da circulação cerebral por mais de sete se- gundos leva à perda da consciência e após cerca de cinco minutos começam a aparecer lesões irreversíveis. O fluxo sanguíneo é maior em áreas com mais sinapses (é maior na substância cinzenta e há diferença entre as diversas áreas do córtex cerebral, mas tendem a diminuir durante o sono). Assim, a falta de oxigenação faz com que áreas diferentes sejam lesadas em tempos diferentes. A vascularização do en- céfalo é originada a partir do arco da aorta por meio da arté- ria carótida interna e da artéria subclávia. A artéria carótida interna passa o canal carótico na base do crânio, faz uma in- flexão conhecida como sifão carotídeo (onde existem baro e quimioceptores que detectam variações de pressão sanguí- nea e dos níveis de gases como O2 e CO2 no sangue) e emite a artéria oftálmica (que irriga retina), a artéria cerebral ante- rior, a cerebral média, a coriói- dea anterior e a comunicante posterior. As artérias vertebrais sobem pelos forames transversos das seis primeiras vértebras cer- vicais, entram no crânio pelo forame magno, unem-se e for- mam a artéria basilar. Essa arté- ria emite as artérias cerebelares, artéria do labirinto e a cerebral posterior. As veias do encéfalo não acompanham as artérias, são maiores e mais calibrosas, têm paredes muito finas, não têm válvulas e são praticamente des- providas de musculatura. Elas se dispõem em sistema venoso superficial e profundo, os quais se comunicam por anastomoses e desembocam na veia jugular interna, a qual, por sua vez, de- semboca na veia subclávia e, posteriormente, no átrio direito do coração. Seio sagital superior lâmina periostal lâmina meníngea Dura-máter encefálica Espaço subdural Aracnoide-máter Espaço subaracnóideo Pia-máter Substância cinzenta Substância branca Cérebro Crânio Foice do cérebro Vasos sanguíneos Granulações aracnoideas Figura 12 - Meninges Encefálicas 216 Sistema Neuroendócrino Na base do encéfalo existem várias artérias que, em conjunto, constituem o círculo arterial do encé- falo (popularmente conhecido como polígono ou círculo de Willis, em homenagem ao médico inglês Thomas Willis que o estudou). Esse círculo permite a troca de sangue entre as artérias que irrigam a região anterior e posterior do encéfalo, em situações de emergência. Leia mais sobre o assunto no artigo “Variações anatômicas na porção posterior do polígono de Willis” de Peixoto et al. (2015). Fonte: Peixoto et al. (2015) . Figura 13 - Artérias do Encéfalo Círculo arterial do encéfalo 217UNIDADE 5 Sistema Nervoso Periférico (SNP) Função do Sistema Nervoso Periférico Moore et al. (2014) afirmam que, de maneira geral, o sistema nervoso periférico é responsável por conduzir os estímulos da periferia do corpo ao sistema nervoso central e por levar os comandos provenientes do sistema nervoso central aos ór- gãos efetores (os quais são representados pelos músculos e pelas glândulas). Estruturas do Sistema Nervoso Periférico O sistema nervoso periférico é formado por cor- pos celulares e fibras nervosas localizadas fora do sistema nervoso central, que conduzem im- pulsos que chegam ou saem do sistema nervoso central. De acordo com Miranda Neto e Chopard (2014), ele é organizado em 4 estruturas princi- pais: a) nervos espinais e b) nervos cranianos 218 Sistema Neuroendócrino que unem a parte central do sistema nervoso às estruturas periféricas do corpo), c) terminações nervosas que são estruturas especializadas em captar os estímulos da periferia do corpo e d) gânglios espinais ou autônomos que são constituídos por um conjunto de corpos celulares. Todo o texto que segue será escrito a partir das considerações de Afifi e Bergman (2007) e Machado e Haertel (2014). Figura 14 - Tipos de Receptores Terminações Nervosas As terminações nervosas são originadas a par- tir das ramificações das extremidades das fibras nervosas dos nervos. Elas podem ser sensitivas ou aferentes (chamadas de receptores), e motoras ou eferentes (chamadas de junção neuroefetora). Os receptores, quando estimulados por uma forma adequada de energia (calor, luz, pressão etc.), ori- ginam um impulso nervoso que segue até atingir o sistema nervoso central e ser interpretado por áreas cerebrais próprias (como o giro pós-central ou área 3, 2, 1 de Brodmann). As terminações nervosas mo- toras trazem as ordens do sistema nervoso central até os órgãos efetores desencadeando contração muscular ou secreção glandular. Os receptores podem ser classificados como especiais ou gerais. Os especiais são mais comple- xos, pois estão ligados a um neuroepitélio (como retina e o órgão de Corti) e, assim, fazem parte dos órgãos especiais dos sentidos (visão, audição, equilíbrio, olfato e gustação). Os receptores ge- rais são mais simples, estão espalhados por todo o corpo (principalmente na pele) e podem ser livres ou encapsulados conforme tenham ou não uma cápsula de tecido conjuntivo. 219UNIDADE 5 Os receptores gerais livres não têm uma cápsula de tecido conjuntivo que os envolva. São mais abundantes, ramificam-se na pele sendo que al- guns estão relacionados ao tato (enrolam-se nos folículos pilosos) e outros estão relacionados à sensibilidade térmica e dolorosa. Os receptores gerais encapsulados são mais complexos, pois ocorre uma intensa ramificação da extremidade do axônio no interior de uma cápsula de tecido conjuntivo. São exemplos de receptores gerais encapsulados ao órgão tendinoso de Golgi (OTG): o fuso neu- romuscular (FNM) e os corpúsculos sensitivos da pele. Esses corpúsculos incluem o corpúsculo de Meissner (presente principalmente na pele espessa das mãos e pés, atuam como receptores de tato e pressão), o de Ruffini (também atuam como re- ceptores de tato e pressão e está presente principal- mente na pele espessa das mãos e pés e parte pilosa do resto do corpo) e de Vater-Paccini (presente principalmente no tecido subcutâneo das mãos e pés, septos intermusculares e periósteo atuando como receptores de sensibilidade vibratória). O FNM é um receptor proprioceptivo compos- to por feixes de fibras muscularesmodificadas (as fibras intrafusais) contidas em uma cápsula fibrosa. Está disposto paralelamente às fibras musculares extrafusais e se liga ao tendão do músculo. Ele res- ponde às variações no comprimento das fibras mus- culares (estiramento ou contração). Ele é impor- tante para a manutenção do tônus muscular e para o reflexo miotático, o qual pode ser desencadeado artificialmente, por exemplo, na região patelar. O OTG também é um receptor sensorial pro- prioceptivo, mas fica localizado na inserção da fibra muscular com o tendão do músculo esque- lético (na junção músculo-tendão). Ele permite ao sistema nervoso central avaliar a força que o músculo está exercendo e é muito sensível à alte- ração na tensão do músculo, ao contrário do FNM que é mais sensível à alteração do comprimento muscular. Esses receptores serão melhor vistos no seu segundo ano de graduação quando a relação sistema nervoso-movimento for estudada. Os receptores podem ser classificados de acordo com o tipo de estímulo que os ativa. As- sim, quimiorreceptores são ativados por estímu- los químicos como, por exemplo, os do olfato, gustação e da artéria carótida; os osmorrecepto- res detectam variações na pressão osmótica; os fotorreceptores são ativados por estímulos lu- minosos (como os cones e bastonetes da retina); os termorreceptores são ativados por estímulos térmicos (como as terminações nervosas livres); os nociceptores são ativados por estímulos no- civos (como as terminações nervosas livres); os mecanorreceptores são ativados por estímulos mecânicos (como ocorre na audição, equilíbrio, tato, pressão, vibração, nos barorreceptores da carótida, OTG e FNM). Além disso, os receptores também podem ser classificados de acordo com o local onde estão. Assim, ínteroceptores ou vísceroceptores estão localizados nas vísceras e nos vasos. Permitem sensações viscerais pouco localizadas como fome, prazer sexual, sede e dor visceral. Os exte- roceptores estão na superfície externa do corpo e são ativados pelo calor, frio, tato, pressão, luz e som. Já os proprioceptores estão nos músculos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares. Seus impulsos podem ser conscientes (como localizar partes do corpo de olhos fechados) ou incons- cientes (quando o cerebelo participa). A terminação nervosa motora pode ser somá- tica ou visceral. A somática termina no músculo estriado esquelético formando a placa motora onde muitas vesículas sinápticas liberam o neu- rotransmissor acetilcolina. As viscerais terminam no músculo liso, estriado cardíaco ou nas glându- las e pertencem ao sistema nervoso autônomo. Seu neurotransmissor pode ser a acetilcolina ou a noradrenalina. 220 Sistema Neuroendócrino Gânglios Os gânglios são estruturas formadas por um con- junto de corpos de neurônios localizados fora do sistema nervoso central (se estivesse no sistema ner- voso central seria chamado de núcleo, lembra?). Tais corpos neuronais são recobertos por pequenas célu- las chamadas células satélites as quais os protegem. Podem ser espinais ou autônomos. Os gân- glios espinais são constituídos por um conjunto de neurônios sensitivos, do tipo pseudounipola- res e estão ligados à raiz dorsal do nervo espinal. Os gânglios autônomos pertencem ao sistema nervoso autônomo e podem ser constituídos por corpos de neurônios simpáticos (gânglios simpáticos) e parassimpáticos (gânglios parasim- páticos). Enquanto os gânglios simpáticos estão localizados predominantemente na cavidade to- rácica e na abdominal, os gânglios parasimpáti- cos estão localizados principalmente no interior de órgãos e, por isso, são também denominados gânglios intramurais. Nervos Nervos são cordões esbranquiçados formados por feixes de fibras nervosas e tecido conjuntivo fora do sistema nervoso central. Eles unem o sistema nervoso central aos órgãos periféricos de forma que sua função é conduzir impulsos nervosos do sistema nervoso central à periferia do corpo (impulsos eferentes) e da periferia do corpo ao sistema nervoso central (impulsos aferentes). Alguns nervos são formados apenas por fibras nervosas sensitivas (nervos sensitivos), outros por fibras nervosas motoras (nervos motores) e outros Gânglio espinal Figura 15 - Gânglios podem ter fibras nervosas sensitivas e motoras (nervos mistos). Geralmente nervos motores são profundos e os sensitivos são superficiais. Além disso, em um mesmo nervo podem existir fibras inativas, pois elas têm funcionamento inde- pendente. Assim, eles podem se bifurcar ou se anas- tomosar por rearranjos de suas fibras e, próximo à sua terminação, ramificam-se muito. São muito vascularizados, mas são quase desprovidos de sensi- bilidade (estímulos dolorosos causam dor no trajeto do nervo e não no ponto onde foi feito o estímulo). 221UNIDADE 5 Os nervos são muito fortes, pois suas fibras nervosas são sustentadas e protegidas por três membranas de tecido conjuntivo, as quais são mais espessas em nervos superficiais: o endo- neuro envolve cada fibra nervosa; o perineuro envolve um fascículo de fibras nervosas; o epi- neuro circunda um feixe de fascículos, emite sep- tos para seu interior e tem tecido adiposo, vasos linfáticos e sanguíneos. Eles têm uma origem real (onde estão os corpos dos neurônios que o formam) e uma origem aparente (de onde eles emergem e são vistos). Alguns autores também consideram uma origem aparente no esqueleto. A velocidade de condução do impulso nervoso varia de 1 a 120 m/s dependendo do calibre da fibra nervosa. Fibras A presente nos nervos mistos têm grande calibre, são mielinizadas e subdividi- das em α, β e g. Fibras B são pré-ganglionares do SNA e têm médio calibre. Fibras C são pós-gan- glionares do SNA e têm pequeno calibre. Podem ser espinais ou cranianos conforme estejam liga- dos à medula espinal ou ao encéfalo. Nervos Cranianos Existem 12 pares de nervos cranianos nomina- dos individualmente e enumerados por algaris- mo romano (de I a XII). Eles têm conexão com o encéfalo e saem da cavidade craniana através de forames no crânio. A maioria se conecta ao tronco encefálico (apenas os nervos olfatório e óptico ligam-se, respectivamente, ao telencéfalo e ao diencéfalo, e o nervo acessório se origina na parte superior da medula). As fibras dos nervos cranianos se unem centralmente aos núcleos dos nervos cranianos e sua classificação funcional está apresentada a seguir. Gerais: Tato, propriocepção, dor, T°, pressão origem nos exteroceptores e proprioceptores. Somáticas Especiais: Visão, audição, equilíbrio origem na retina e ouvido interno. Fibras aferentes Gerais: Dor visceral, origem nos vísceroceptores. Viscerais Especiais: Origem nos receptores gustativos e olfatórios. Somáticas: Para músculos estriados esqueléticos miotômicos. Fibras eferentes Gerais: Inervam músculos lisos, cardíacos e das glândulas (formam o sistema nervoso autônomo parassimpático). Viscerais Especiais: Inervam músculos estriados esqueléticos branquioméricos. Figura 16 - Classificação funcional das fibras dos nervos cranianos Fonte: o autor. 222 Sistema Neuroendócrino Os nervos olfatório (I par) e óptico (II par) são classificados como sensitivos, pois são respon- sáveis, respectivamente, pelo olfato e pela visão. Já os nervos oculomotor (III par), troclear (IV par) e abducente (VI par) são classificados como motores, pois são responsáveis pelos movimentos dos músculos extrínsecos do bulbo do olho. O nervo trigêmeo (V par) é o maior nervo cra- niano. Ele emerge da face lateral da ponte por uma grande raiz sensitiva e uma pequena raiz motora. Os processos periféricos dos neurônios sensitivos formam três nervos: o oftálmico, o maxilar e o com- ponente sensitivo do nervo mandibular. As fibras da raiz motora são distribuídaspor meio do nervo mandibular fundindo-se com suas fibras (por isso é um nervo misto). De maneira geral, ele é respon- sável pela sensibilidade exteroceptiva (temperatura, dor, pressão e tato) de grande parte da cabeça (face, dentes, boca, cavidade nasal e dura-máter craniana), sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva dos músculos mastigatórios e da articulação tempo- romandibular. Além disso, inerva movimentos mastigatórios, milo-hioideo, ventre anterior do digástrico, tensor do véu palatino e tensor do tímpano. Assim, devido sua vasta área de inervação, a nevralgia ou neuralgia do trigêmeo é um distúrbio neuropático que causa episódios de dor intensa no couro cabeludo, man- díbula, fronte, olhos, nariz e lábios. Pode ser tratada por termocoagulação controlada (procedimento que destrói parcialmente suas fibras nervosas). O nervo oftálmico é exclusivamente sensitivo e seus principais ramos são os nervos frontal, nasoci- liar e lacrimal (os quais inervam regiões correspon- dentes). O nervo maxilar sai da cavidade craniana pelo forame redondo, é exclusivamente sensitivo e localiza-se na região da maxila. Seus principais ramos são os nervos infraorbital, alveolar superior anterior, médio e posterior, nasopalatino, palatino maior e palatinos menores. O gânglio pterigopa- latino está associado a essa divisão do trigêmeo. O nervo mandibular passa pelo forame oval e é considerado misto, pois, a raiz motora do trigêmeo acompanha suas fibras sensitivas. Seus principais ramos incluem nervos sensitivos (como o lingual, alveolar inferior, mentual e aurículotemporal) e nervos motores (como os temporais profundos, pterigoideos medial e lateral, bucal, massetérico e milo-hioideo). Dois gânglios parassimpáticos re- lacionados à inervação das glândulas salivares, o ótico e o submandibular, estão associados a essa divisão do nervo trigêmeo. O nervo facial (VII par) emerge do sulco bul- bopontino como duas divisões, o nervo facial pro- priamente dito (raiz motora) e o nervo intermédio (raiz sensitiva e visceral que conduz fibras sensiti- vas somáticas, parassimpáticas e do paladar). Ele atravessa o forame estilomastoideo e a glândula parótida, dá origem ao nervo petroso maior, nervo para o músculo estapédio, nervo corda do tímpano e ramo auricular posterior. Na glândula parótida, ele forma o plexo in- traparotídeo e dá origem aos cinco ramos motores terminais: temporal, zigomático, bucal, marginal da mandíbula e cervical, os quais inervam músculos da expressão facial, da orelha, ventre posterior do di- gástrico, estilo-hioideo e músculo estapédio. Além disso, ele envia fibras para o gânglio pterigopalatino (para inervar glândulas lacrimais) e para o gânglio submandibular (para inervar as glândulas salivares sublingual e submandibular). Adicionalmente dá sensibilidade gustativa dos dois terços anteriores da língua e do palato mole e supre uma pequena área de pele da concha da orelha, perto do meato acústico externo. O nervo vestibulococlear (VIII par) é respon- sável pelo equilíbrio, orientação espacial e audição. Sua lesão pode causar enjoo, alteração de equilíbrio, nistagmo, vertigem e hipoacusia. Emerge do sulco bulbopontino, entra no meato acústico interno e se divide nos nervos vestibular e coclear. Enquanto o nervo vestibular é sensível à aceleração linear e 223UNIDADE 5 à aceleração rotacional em relação à posição da cabeça, o nervo coclear está relacionado à audição. O nervo glossofaríngeo (IX par) é misto, emer- ge da face lateral do bulbo e deixa o crânio através do forame jugular. Ele permite movimento para o músculo estilofaríngeo e emite alguns seguintes ramos sensitivos como o nervo timpânico, nervo do seio carótico, nervo faríngeo, tonsilar e lingual. O nervo vago (X par) tem seu nome derivado do latim vagari que significa errante, devido sua extensa distribuição (tem o trajeto mais longo e a distribuição mais extensa de todos os nervos cra- nianos, principalmente fora da cabeça). Origina- -se por radículas na face lateral do bulbo as quais se fundem e deixam o crânio pelo forame jugular. Continua inferiormente na bainha carótica, envia ramos para o palato, faringe, laringe, brônquios pulmões e coração. Formam os troncos vagais anteriores e posteriores que se unem ao plexo eso- fágico inervando esôfago, estômago e intestinos (até a flexura esquerda do colo). Assim, é misto e tem fibras aferentes somáticas gerais, aferentes viscerais gerais e especiais, eferentes somáticas, eferentes viscerais gerais e proprioceptivas. O nervo acessório (XI par) é formado por uma raiz craniana (bulbar) e outra espinal. Une-se tem- porariamente ao nervo vago (com o qual inerva músculos da laringe e vísceras torácicas), penetra os músculos esternocleidomastoideo e trapézio dando- -lhes motricidade (é classificado como nervo motor). O nervo hipoglosso (XII par) dá movimento aos músculos extrínsecos e intrínsecos da língua. Sua lesão pode causar desvio lateral da língua quan- do se faz protrusão. Origina-se no bulbo como um nervo motor e deixa o crânio pelo canal do nervo hipoglosso, unindo-se a ramos do plexo cervical. Assim, a inervação da língua pode ser resumida da seguinte forma: sua motricidade é dada pelo ner- vo hipoglosso; a sensibilidade geral (temperatura, dor, tato e pressão) de seus dois terços anteriores é dada pelo nervo trigêmeo e a sensibilidade gusta- tiva pelo nervo facial (por meio do nervo lingual); a sensibilidade geral e gustativa do terço posterior é dada pelo nervo glossofaríngeo. Figura 17 - Nervos Cranianos Todos os 12 pares de nervos cranianos estão destacados em amarelo 224 Sistema Neuroendócrino Nervos Espinais Existem 31 pares de nervos espinais que inervam o tronco, os membros, o pescoço e a parte da cabe- ça (8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo). Com exceção do primeiro nervo que emerge entre o osso occipital e o atlas, todos os demais deixam o canal vertebral pelos forames intervertebrais. São identificados por uma letra (que identifica a região da medula à qual pertence) e um número (que iden- tifica sua ordem). Por exemplo: o nervo T4 é o 4° nervo da região torácica. Da medula espinal emergem radículas dos sulcos lateral anterior e posterior que convergem para formar as raízes ventral e dorsal, respectivamente. A raiz ventral apresenta axônios de neurônios mo- tores cujos corpos estão nos cornos anterior e lateral da medula espinal e se direcionam aos órgãos efeto- res situados na periferia do corpo (músculos e glândulas). A raiz dor- sal apresenta axônios de neurônios sensitivos que chegam ao corno posterior da medula espinal vindos das terminações sensitivas locali- zadas na periferia do corpo e cujos corpos estão nos gânglios espinais das raízes dorsais. Próximo do forame interver- tebral, as raízes ventral (moto- ra) e dorsal (sensitiva) se unem para formar o tronco do nervo espinal que funcionalmente é misto e tem componentes so- máticos e viscerais. O tronco sai do canal vertebral pelos forames intervertebrais e se divide em um ramo dorsal e outro ventral (ambos mistos). O ramo dorsal, geralmente menor do Todos os nervos es- pinais estão conecta- dos à medula espinal e inervam os mem- bros superiores, os membros inferiores e o tronco Medula espinal Figura 18 - Nervos Espinais 225UNIDADE 5 que o ventral, dirige-se posteriormente à pele, aos músculos da região occipital, nuca, região dorsal do tronco e articulações sinoviais da coluna verte- bral. São separados uns dos outros e não formam plexos nervosos (são unissegmentares). Em contrapartida, o ramo ventral (que é prati- camente a continuação do tronco do nervo espinal) se distribui a pele, músculos, ossos, articulações e vasos daregião ântero-lateral do pescoço, ao tron- co e aos membros. Na região torácica tem trajeto paralelo às costelas (são unissegmentares), mas em outras regiões se anastomosam e formam plexos plurissegmentares (com fibras de mais de um seg- mento medular). Os principais plexos formados são o cervical, braquial, lombar e sacral (todos pares). No entanto, também é descrito o plexo coccígeo que é uma pequena rede de fibras nervosas formada pelos ramos anteriores de S4 e S5 e os nervos coccígeos. Ele supre a articulação sacrococcígea, o músculo coccígeo e parte do levantador do ânus. Os nervos anococcígeos originados dele suprem uma pequena área de pele entre o cóccix e o ânus. Resumidamente, o plexo cervical é formado pelos ramos ventrais dos quatro primeiros nervos cervicais. Inerva pele e músculos da cabeça, pescoço, ombro e tórax e tem um ramo de cada lado, o nervo frênico, que inerva o músculo diafragma. Alguns de seus ramos se interconectam com alguns nervos cranianos (X, XI e XII pares). O plexo braquial é formado pelos ramos ventrais dos quatro últimos nervos cervicais e do primeiro nervo torácico. Estende-se inferior e lateralmente, passa abaixo da clavícula, entra na região axilar e desce pelo membro superior. Já o plexo lombar si- tua-se próximo ao músculo psoas maior, ao lado da coluna vertebral. É formado pelos ramos ventrais dos três primeiros nervos lombares, pela maior parte do quarto nervo lombar (L1 a L4) e um ramo anasto- mótico de T12. Emite vários nervos que se destinam aos músculos abdominais, regiões inguinal e púbica, e membros inferiores. Por fim, o plexo sacral é formado pelo ramo anas- tomótico de L4 unido a L5, pelos ramos ventrais do primeiro ao terceiro nervos sacrais e parte do quarto, e o restante do quinto nervo sacral unindo-se ao plexo coccígeo. Ele inerva as vísceras pélvicas e o membro inferior, e emite seu ramo terminal, o ner- vo isquiático. Esse nervo (popularmente conhecido como nervo ciático) é o mais calibroso e longo do corpo humano (suas fibras descem até os dedos dos pés). Ele não supre estruturas da região glútea, mas os músculos posteriores da coxa, todos os músculos da perna e do pé, e a pele da maior parte da perna e do pé. Envia ramos articulares para todas as ar- ticulações do membro inferior. Além dele, o plexo sacral emite vários outros nervos (como os glúteos superior e inferior, o nervo pudendo, os nervos para os músculos obturatório interno e gêmeo superior, para o músculo piriforme, para o quadríceps da coxa e gêmeo inferior e esfíncter externo do ânus, o nervo cutâneo posterior da coxa, o nervo cutâneo femoral posterior e nervo para o músculo quadrado femoral). Figura 19 - Formação dos Nervos Espinais 226 Sistema Neuroendócrino Lesão Nervosa As lesões nervosas são frequentes, podem ser causadas por diversos fatores (como arma branca, arma de fogo e traumas) e podem causar graves danos motores e sensitivos, pois neurônios não se proliferam no sistema nervo- so do adulto (exceto os neurônios do epitélio olfatório relacionados ao olfato). Em caso de lesão, é comum ocorrer degeneração anteró- grada onde o axônio que foi separado de seu corpo celular degenera. Essa degeneração é in- versamente proporcional à distância da lesão ao corpo e é máxima entre 7 e 15 dias. Um fator que pode contribuir para a rege- neração é a presença da glicoproteína laminina produzida pelas células de Schwann no sistema nervoso periférico. A laminina atua como um fator neurotrófico estimulando o crescimento axonal do coto distal em busca do coto proxi- mal (aquele ligado ao corpo celular). No entan- to, essa aposição dos cotos pode não ocorrer espontaneamente e pode inclusive predispor à formação de neuroma (os ramos do coto proxi- mal crescem desordenadamente, entrelaçam-se e formam uma estrutura muito sensível provo- cando dor; é comum em casos de amputação). Por isso, uma lesão por secção no nervo re- quer intervenção cirúrgica porque a regenera- ção do axônio exige a aposição das extremida- des seccionadas por suturas do epineuro. Vale ressaltar que a laminina não é produzida no sistema nervoso central onde a célula respon- sável pela mielinização é o oligodendrócito e não a célula de Schwann. O comprometimento do suprimento de um nervo por longo período pela compressão dos vasos dos nervos (vasa nervorum) pode causar degeneração do nervo (lesão por isquemia). Lesões de nervos periféricos são muito comuns e podem ocorrer a partir de traumas com arma de fogo, arma branca ou mesmo acidentes. Na maioria das vezes, sua correção é cirúrgica, mas o sucesso no tratamento dependeria de fatores como idade, a lesão propriamente dita, o tipo de re- paro realizado no nervo, o nível da lesão e período transcorrido entre lesão e reparo. Leia mais sobre este assunto no artigo de Siqueira (2007), intitulado “Lesões nervosas periféricas: uma revisão”. Fonte: Siqueira (2007). Figura 20 - Plexos Plexo lombar Plexo braquial 227UNIDADE 5 Você se lembra que o sistema nervoso pode ser classificado de várias maneiras como, por exem- plo, de acordo com critérios anatômicos, embrio- lógicos, segmentares e funcionais? Pois bem! A classificação anatômica (que estuda o sistema nervoso central e periférico) nós vimos no iní- cio desta unidade. A classificação embriológica e segmentar nós só estudaremos no segundo ano da sua graduação quando uma abordagem mais pormenorizada sobre este sistema for feita. Já a classificação funcional, divide o sistema nervoso em somático (ou de vida de relação) e sistema nervoso visceral (ou de vida vegetativa). Estuda- remos sistema nervoso autônomo de acordo as proposições de Miranda Neto e Chopard (2014), Moore et al. (2014) e Watanabe e Erhart (2009). O sistema nervoso somático faz com que o organismo se relacione com o meio em que vive e, por isso, apresenta vias sensitivas e motoras. As vias sensitivas iniciam-se nos exteroceptores (receptores sensitivos localizados na parte exter- na do corpo) e levam informações da periferia do corpo ao sistema nervoso central. Já as vias motoras trazem os comandos do sistema ner- voso central ao músculo estriado esquelético possibilitando o movimento voluntário. Sistema Nervoso Autônomo (SNA) 228 Sistema Neuroendócrino Por outro lado, no sistema nervoso visceral as vias sensitivas iniciam nos ínteroceptores ou vísceroceptores (receptores sensitivos localiza- dos nos órgãos) e vão até o sistema nervoso cen- tral. Esses neurônios sensitivos têm seus corpos nos gânglios sensitivos localizados ao lado da coluna vertebral. Já as vias motora do sistema nervoso visceral levam as ordens dos centros nervosos para o músculo liso, para o múscu- lo estriado cardíaco, para glândulas ou para os adipócitos possibilitando ações involuntárias, como o batimento cardíaco, os movimentos peristálticos ou a secreção glandular. Tudo isso, nós já tínhamos estudado no início desta unidade. Não é novidade! Todavia, você sabe o que realmente é o sistema nervoso autônomo? Embora eu creia que você já tenha ouvido falar dele, a maioria das pessoas faz uma certa confusão. Vamos entender, pois é bem fácil! O SNA nada mais é do que a via eferente do sis- tema nervoso visceral. Assim, pode ser entendido como o conjunto de neurônios centrais e periféri- cos responsáveis pela inervação motora das vísce- ras, ou seja, do músculo liso, do músculo estriado cardíaco e das glândulas. Ele é dividido em parte simpática, parassimpática e sistema nervoso enté- rico. A via eferente da parte simpática e parassim- pática apresenta apenas dois neurônios, sendo que um deles tem o corpo no sistema nervoso central (chamado de neurônio pré-ganglionar), e o outro tem o corpo celular localizado em gânglios mo- tores pertencentes ao sistema nervosoperiférico. A parte parassimpática é considerada cranios- sacral, pois seus neurônios pré-ganglionares loca- lizam-se em núcleos do tronco encefálico, anexos aos nervos cranianos (III, VII, IX e X pares) e na coluna lateral da substância cinzenta dos segmen- tos sacrais da medula espinal (S1 a S4). Suas fibras pré-ganglionares geralmente são muito longas e fazem sinapse com os neurônios pós-ganglionares integrantes dos gânglios motores viscerais, locali- zados próximos ou dentro das vísceras. Quando estimulados fazem as glândulas lacrimais e sali- vares secretarem e causam constrição da pupila e dos brônquios, acomodação visual, bradicardia, ativação dos movimentos peristálticos, relaxa- mento dos esfíncteres do tubo digestório, esti- mulação da secreção das glândulas anexas dos genitais e ereção. Em contrapartida, a parte simpática é consi- derada toracolombar, pois seus neurônios pré- -ganglionares estão localizados nos segmentos torácicos (T1 a T12) e lombares (L1 a L5) da medula espinal. Suas fibras pré-ganglionares geralmente são curtas e fazem sinapse com neurônios pós- -ganglionares localizados em gânglios simpáticos vertebrais e pré-vertebrais. Suas fibras pós-gan- glionares, geralmente são longas e estendem-se até os órgãos efetores. O simpático é responsável pela constrição dos vasos sanguíneos, dilatação da pupila, secreção das glândulas sudoríparas, ereção dos pelos, aumento do ritmo cardíaco, dilatação dos brônquios, diminuição do peristaltismo, fecha- mento dos esfíncteres do tubo digestório, estimu- lação da secreção da glândula suprarrenal, aumen- to da contração da musculatura lisa do sistema genital masculino e feminino e pela ejaculação. Vale ressaltar que o tabagismo e as diversas situações de estresse emocional (raiva, medo e ansiedade) provocam grande estimulação do SNA simpático predispondo à elevação da pressão ar- terial, impotência sexual e distúrbios do sistema digestório. Por isso, quando sofremos um grande estresse emocional (por exemplo, se uma pessoa bate em nosso carro ou recebemos uma notícia muito perturbadora), sentimos taquicardia, “frio na barriga”, dor no estômago, alterações na respi- ração e tantos outros sinais de ativação do SNA simpático. Se estes estímulos forem persistentes ou frequentes, pode haver sobrecarga em vários órgãos, inclusive no coração. Portanto, tal fato é extremamente maléfico. 229UNIDADE 5 Para finalizar o SNA simpático e parassimpático, é importante pontuar que os neurônios centrais do SNA constituem núcleos viscerais na medula espinal e tronco encefálico, os quais são subordinados a centros superiores do diencéfalo, do cerebelo e do córtex cerebral. Adicionalmente, os gânglios ver- tebrais dispõem-se ao lado da coluna vertebral, são unidos entre si por feixes nervosos e formam o tronco simpático (direito e esquerdo) que se ligam aos nervos espinais através dos ramos comunicantes brancos e cinzentos. Além disso, enquanto os gânglios pré-vertebrais localizam-se anteriormente à coluna vertebral e compreendem, por exemplo, os gânglios celíacos, mesentérico superior e mesentérico inferior, os gânglios periféricos estão situados muito próximos ou no interior do órgão (como o gânglio ciliar, pterigopalatino, ótico, submandibular e intramurais). Por fim, o sistema nervoso entérico é constituído por redes neuronais encontradas entre as células que constituem a parede do tubo digestório. Ele é formado por neurônios motores, sensi- tivos e interneurônios, e seus principais componentes são o plexo submucoso e o mioentérico. A maioria de seus neurônios motores é formada por neurônios pós-ganglionares do SNA parassim- pático os quais recebem influência dos neurônios sensitivos e interneurônios do plexo entérico, dos neurônios simpáticos pré-ganglionares e de fibras simpáticas pós-ganglionares. Os neurônios sensitivos são estimulados por alterações na tensão da parede dos intestinos e por alterações químicas na luz intestinal. Assim, pode-se dizer que o sistema nervoso entérico é funda- mental para o controle da motilidade do intestino, da tonicidade dos vasos sanguíneos intestinais, da velocidade de proliferação das células do revestimento epitelial do tubo digestório, da secreção de hormônios e para a absorção de nutrientes (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Figura 21 - Sistema Nervoso Entérico 230 Sistema Neuroendócrino Sistema Endócrino Generalidades Todos nós já ouvimos falar que os hormônios são essenciais para o funcionamento do nosso corpo e que se eles estiverem em alta ou baixa concentração, muitas disfunções podem aparecer. Por isso, um tu- mor hipofisário, por exemplo, pode ser tão danoso quanto um tumor encefálico. Vamos compreender melhor este sistema tão importante que atua em sinergia ao sistema nervoso. Para isso, faremos um estudo do sistema endócrino de acordo com as proposições de Miranda Neto e Chopard (2014), Moore et al. (2014) e Watanabe e Erhart (2009). Em primeiro lugar, você precisa ter claro que o sistema endócrino é composto por glândulas en- dócrinas macroscópicas. Essas glândulas não pos- suem canais excretores, mas lançam seus produtos (os hormônios) na corrente sanguínea fazendo com que eles sejam distribuídos, em pouco tem- po, para todo o corpo. Assim, tais glândulas são consideradas glândulas de secreção interna (são diferentes das glândulas exócrinas que secretam para fora da corrente sanguínea, como as glându- las lacrimais, salivares, sudoríparas e sebáceas). 231UNIDADE 5 No corpo humano participam do sistema en- dócrino a glândula hipófise, a tireoide, as para- tireoides, as suprarrenais, a pineal e as porções endócrinas do pâncreas e das gônadas. Todavia, a placenta e o timo também podem ser incluí- dos dentre os órgãos deste sistema. Isto, porque a placenta produz estrógeno, progesterona e go- nadotropina, e o timo age sobre o metabolismo estimulando o crescimento corpóreo e secreta hormônios relacionados à imunidade (vale men- cionar que o mecanismo de sua ação ainda não é totalmente esclarecido). Ele fica atrás do osso esterno, entre os pulmões (na porção superior do mediastino) e é bem desenvolvido na primeira idade sofrendo atrofia após a puberdade. Além desses órgãos, existem também inúme- ras glândulas endócrinas microscópicas represen- tadas por células secretoras de hormônios isoladas ou organizadas em pequenos agregados. Elas se distribuem por todo o corpo, por exemplo, na mucosa do trato gastrointestinal. Alguns autores denominam estas glândulas endócrinas micros- cópicas de “sistema neuroendócrino difuso”. Os hormônios produzidos pelas glândulas en- dócrinas são frequentemente considerados como mensageiros químicos e participam da regulação de muitas atividades do organismo, atuando tanto no meio intra quanto extracelular. Assim, partici- pam da regulação e integração corpórea num papel regulador muito semelhante ao do sistema nervoso. Quando os hormônios agem sobre as células de um grande número de órgãos, diz-se que há uma regulação geral. Isso ocorre com a adrena- lina, por exemplo, a qual quando liberada pelas glândulas suprarrenais sob situação de estresse, causa efeitos em praticamente todos os órgãos do corpo. Todavia, a ação de um hormônio também pode ser bem específica afetando as células de um órgão em particular, como é o caso do hormônio antidiurético liberado pela neuro-hipófise para aumentar a absorção de água nos néfrons. Alguns hormônios são esteroides derivados do colesterol (como o cortisol), outros são proteicos (como a prolactina) e outros são derivados de aminoácidos (como a epinefrina). Eles podem agir na célula de várias maneiras (modificando a permeabilidade da membrana, agindo sobre segundos mensageiros, influenciando o material genético, agindo sobre enzimas etc.). Isso posto,vamos, a seguir, abordar as prin- cipais glândulas do sistema endócrino e seus hormônios. Também mencionaremos algumas disfunções que podem surgir pelo aumento ou diminuição de alguns hormônios e as principais correlações com o exercício físico. Hipotálamo Glândula Hipófise Glândula Tireoide e Paratireoide Pâncreas Glândula Suprarrenal Placenta (durante a gravidez) Testículos Glândula Pineal Timo Ovário Figura 22 - Estruturas Gerais do Sistema Endócrino 232 Sistema Neuroendócrino Principais Glândulas do Sistema Endócrino e seus Hormônios Glândula Hipófise A glândula hipófise é uma pequena glândula com cerca de 1 cm de diâmetro e 1 grama de peso. Ela é encontrada na fossa hipofisial do osso esfenoide e está ligada ao hipotálamo por meio do infundíbulo. A íntima relação entre o sistema endócrino e o nervoso pode ser vista ao constatar que quase todas as secreções da glândula hipófise são contro- ladas por sinais hormonais ou nervosos provenientes do hipotálamo o qual recebe sinais de quase todas as regiões do sistema nervoso. Essa glândula pode ser dividida em lobo anterior (ou adeno-hi- pófise) e lobo posterior (ou neuro-hipófise). A adeno-hipófise tem natureza glandular e é controlada por hormônios hipotalâmicos de liberação ou de inibição (secretados pelo próprio hipotálamo e trans- portados para a adeno-hipófise por pequenos vasos sanguíneos). A neuro-hipófise tem natureza nervosa, pois é controlada por sinais nervosos que partem do hipotálamo. Os hormônios da adeno-hipófise atuam nas funções metabólicas do corpo. São eles o hormônio de crescimento (ou popularmente co- nhecido pela sigla GH), a corticotropina, a tireotropina, a prolactina, o hormônio folículo estimulante e o hormônio luteinizante. O hormô- nio de crescimento afeta a síntese de proteína e causa multiplicação e diferenciação celular. A corticotropina controla a secreção de alguns hormônios do córtex da glândula suprarrenal os quais afetam o meta- bolismo da glicose, de proteínas e de gorduras. Enquanto o hormônio tireotropina controla a secreção de tiroxina pela glândula tireoide, a prolactina desenvolve as glândulas mamárias e estimula a produção do leite. Já o hormônio folículo estimulante e o luteinizante controlam o crescimento das gônadas e suas atividades reprodutivas. 233UNIDADE 5 Figura 23 - Glândula Hipófise 234 Sistema Neuroendócrino Por fim, a neuro-hipófise pode ser considerada uma extensão anatômica e fisiológica do sistema nervoso (apresentando, inclusive, a mesma origem embriológica). Secreta o hormônio antidiurético e a ocitocina. Enquanto a ocitocina ajuda a liberar o leite das glândulas mamárias durante a sucção e ajuda no trabalho de parto, o hormônio antidiuré- tico (também chamado de vasopressina) tem como função regular a excreção de água na urina contro- lando a quantidade de água dos líquidos corporais. A disfunção dessa glândula pode ser extrema- mente maléfica levando inclusive o indivíduo a óbito. De igual modo, alterações na produção e liberação de seus hormônios pode ser bastante prejudicial. É o caso, por exemplo, do hipertireoidismo ou do hipo- tireoidismo que resultam de anormalidades no hor- mônio do crescimento. Além disso, pode-se afirmar que seus hormônios são determinantes para a boa prática de atividades e exercícios físicos, pois se re- lacionam ao metabolismo e à homeostasia corpórea. Glândula Pineal À semelhança da neuro-hipófise, a glândula pineal está intimamente relacionada ao sistema nervoso central. Ela se localiza no epitálamo, pesa cerca de 150 mg, tem a forma de uma pequena pinha (por isso seu nome) e produz o hormônio melatonina. A melatonina é produzida a partir do aminoácido triptofano e está relacionada a quase todos os processos fisiológicos do corpo, pois causa sono e regula o ciclo sono-vigília. Assim, ela atua nos relógios circadianos (aqueles que ocorrem durante o dia) e ajuda a modular os circuitos do tronco encefálico. Segundo Miranda Neto e Chopard (2014), para sincronizar o ciclo orgânico com o ciclo cla- ro-escuro do ambiente, os organismos são dotados de sincronizadores chamados de “fotoagentes arrastadores” que detectam as variações nos níveis de luz à medida que a noite se aproxima. Esses receptores estão localizados na camada externa da retina e deles partem neurônios que chegam ao núcleo supraquiasmático do hipotálamo cuja ativação ativa neurônios que descem até os neurônios pré-ganglionares simpáticos. Esses neurônios modulam neurônios nos gânglios cervicais simpáticos superiores dos quais partem neurônios pós-gan- glionares que se projetam à glândula pineal. Assim, esta ativação permite que a ativação dos fotorreceptores da retina reduza a produção de melatonina. Por outro lado, ao entardecer, com a menor luminosidade e redução de ativação des- tes fotorreceptores, a pineal aumenta a síntese e liberação de melatonina na corrente sanguínea provocando sono (sua síntese atinge o nível má- ximo entre 2 e 4 horas da manhã). Por isso, sua disfunção pode causar, por exemplo, alteração do ciclo sono-vigília. Adicionalmente, vale destacar que a melatonina tem relação direta com o exer- cício físico e com o repouso após sua prática. Figura 24 - Glândula Pineal Glândula pineal (destacada em vermelho) 235UNIDADE 5 Glândula Tireoide A glândula tireoide é um dos maiores órgãos endócrinos do corpo. Ela está localizada anteriormente à traqueia, próximo à junção com a laringe. Ao contrário, a falta destes hor- mônios causa a doença chama- da hipotireoidismo. Nesse caso, ocorre aumento do colesterol circulante, desaceleração do metabolismo corpóreo, can- saço, alterações menstruais e deficiência cardíaca. A falta completa desses hormônios causa queda do metabolismo basal para cerca de 40% abaixo do normal. Pelo fato dos hormônios tireoidianos serem fundamen- tais para o crescimento e de- senvolvimento físico e mental, crianças com hipotireoidismo têm atraso na maturação do esqueleto, podem desenvolver nanismo, hipotonia muscular e deficiência mental. Esses sinais clínicos caracterizam o qua- dro de cretinismo o qual pode ocorrer por ausência congênita da glândula, defeito genético em sua função ou falta de iodo na dieta. Por isso, segundo Mi- randa Neto e Chopard (2014), gestantes devem ingerir iodo diariamente a quantidade mí- nima necessária (em torno de 100 microgramas de iodo/dia). Além disso, na ausência de iodo a glândula tireoide fica edemaciada formando o bócio (uma espécie de “papo” que se forma na região anterior do pes- coço). Um detalhe interessante que merece ser pontuado é que em regiões onde o solo é pobre em iodo (por exemplo, em lo- Laringe Lobo direito da glândula tireoide Traqueia Lobo esquerdo da glândula tireoide GLÂNDULA TIREOIDE Figura 25 - Glândula Tireoide Sua função é sintetizar os hormônios tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina a partir do aminoácido tirosina e do iodo. En- quanto a calcitonina diminui os níveis sanguíneos de cálcio e fosfato (provavelmente, acelerando a absorção de cálcio pelos ossos), os hormônios T3 e T4 aumentam o metabolismo de carboidratos, esti- mulam a síntese de proteínas, estimulam a degradação de gorduras, aumentam o metabolismo da água, de sais minerais e de vitaminas. A secreção excessiva destes hormônios causa uma doença co- nhecida como hipertireoidismo. Nessa condição clínica, ocorre perda de nitrogênio pela urina, redução do colesterol circulante, agitação psicomotora, perda de peso corporal, insônia, instabili- dade afetiva, tremor nas mãos, taquilalia (fala rápida), taquicardia, palpitação, hipertensão arterial, dispneia, hiperfasia, fraqueza mus- cular e osteoporose. Além disso, o excesso extremo dos hormônios T3 e T4 podem elevar o metabolismo
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