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Da Restauração á Reconstrução

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DA RESTAURAÇÃO À RECONSTRUÇÃO: impasses conceituais nos debates
patrimoniais do século XX e seus reflexos na contemporaneidade
Conference Paper · May 2017
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Ruin and cultural heritage in Brazil View project
Heritage of manufacturing buildings still with original use in the city of São Paulo View project
Angela Rosch Rodrigues
University of São Paulo
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DA RESTAURAÇÃO À RECONSTRUÇÃO: impasses conceituais nos 
debates patrimoniais do século XX e seus reflexos na 
contemporaneidade 
RODRIGUES, ANGELA ROSCH. (1) 
 
1. Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Doutora 
História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo 
Rua Aguapeí, 651, B. Santa Maria, Santo André, SP 
CEP: 09070-090 
angelarr@usp.br 
 
 
RESUMO 
Na historiografia da preservação patrimonial do século XX a opção pela reconstrução mediante um 
incidente súbito e trágico se apresentou de forma contundente em diversos momentos. Este trabalho 
tem como objetivo apresentar um panorama de algumas das principais asserções teóricas 
desenvolvidas ao longo do século XX e respectivos desdobramentos em documentos internacionais 
que englobam a problemática do tratamento a patrimônios culturais arquitetônicos acometidos por 
destruições catastróficas causadas de forma antrópica (guerras, incêndios, acidentes, etc.) ou 
naturais (enchentes, terremotos, etc.) destacando aspectos pertinentes e extremamente atuais para 
confrontar essas situações de arruinamento como: o problema do falso histórico; a questão da 
autenticidade como delineada na Carta de Veneza (1964) e Documento de Nara (1994); o 
restabelecimento da unidade potencial da obra; o preceito da distinguibilidade dos materiais e 
técnicas em relação ao preexistente; o limite operacional da reconstrução como definido na Carta de 
Burra (1980); e o imperativo moral para a restituição da identidade cultural de uma comunidade a 
partir da reconstrução, conforme disposto na Carta de Cracóvia (2000). É possível constatar um ponto 
nodal nos debates patrimoniais: o impasse conceitual que envolve a diferença metodológica entre a 
restauração e a reconstrução de um bem arquitetônico. Segundo a definição que consta na Carta de 
Veneza, a restauração tem caráter excepcional visando conservar valores estéticos e históricos do 
monumento através do respeito à matéria preexistente. Já, operações como a reconstrução (o 
repristino e o refazimento) visam à reconstituição de uma imagem formal. Segundo alguns teóricos da 
preservação ligados à concepção do restauro crítico conservativo, a intervenção de reconstrução não 
poderia ser enquadrada no campo disciplinar da restauração. Para tal vertente, embora as fronteiras 
entre a restauração e a reconstrução pareçam difusas, não basta que a materialidade preexistente 
seja mantida enquanto suporte para a transmissão da imagem, é necessário verificar o método em 
que se opera esse tratamento para não incorrer em tendenciosas reconstituições estilísticas. 
Palavras-chave: preservação patrimonial, reconstrução, restauração. 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
Destruição súbita e traumática: contextualização e 
desdobramentos teóricos 
Na historiografia da preservação patrimonial do século XX a opção pela reconstrução 
mediante um incidente súbito e trágico tem uma extensa casuística e incorre numa série de 
questionamentos que têm sido cruciais para o amadurecimento desse campo de estudos. 
Ao estabelecer um breve panorama pode-se retomar como ponto de partida para essa 
análise o colapso do Campanário de San Marco e de parte da Loggetta del Sansovino em 
Veneza que ocorreu em 14 de Julho de 1902, cujas propostas engendraram inúmeras 
controvérsias. Como solução optou-se por um processo reconstrutivo especificado pelo 
arquiteto Luca Beltrami (1854-1933) como um acurado projeto de repristino - “com`era e 
dov`era” (como era, onde estava) (Carbonara, 1997, p.183). Os trabalhos foram 
prosseguidos por Gaetano Moretti (1860-1938) que sublinhou a necessidade de se valer de 
instrumentos técnicos tradicionais e modernos para uma reconstrução que assegurasse a 
existência de um novo campanário - uma cópia do antigo com cerca de 2.000 toneladas a 
menos - cujas obras terminaram em janeiro de 1912. Os argumentos para embasar a opção 
pela reconstrução basearam-se na vontade popular que via nessa operação uma 
necessidade simbólica para o sentimento de coletividade de Veneza. O Campanário de San 
Marco tornou-se um caso paradigmático do mote com`era, dov`era para a cultura 
internacional da preservação patrimonial. 
Posteriormente, as duas Grandes Guerras propiciaram cenários decisivos no que tange à 
reconstrução. A cidade de Ypres (Bélgica), por exemplo, foi completamente destruída 
durante a Primeira Guerra; com o armistício, o governo belga iniciou um processo que 
envolveu a reconstrução de edifícios históricos em seu centro mais antigo tendo como 
referência sua aparência anterior (Martínez, 2007). 
No período entre Guerras, o engenheiro Gustavo Giovannoni (1873-1947) procurou ampliar 
a ideologia do denominado restauro filológico que havia sido delineado por Camillo Boito 
(1936-1914) em fins do século XIX. Essa postura “intermediária” (Giovannoni, 1936, p. 128) 
reiterava a necessidade de uma abordagem científica e documental dos monumentos se 
colocando entre a tendência puramente conservativa representada pelo ideário do inglês 
John Ruskin (1819-1900) e a atitude “estilística” que postulava o repristino de um estado 
original, cujo principal expoente fora Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879). 
Alguns dos preceitos básicos apresentados por Giovannoni prescreviam: mínimas obras de 
manutenção, reparação e consolidação nos bens; o respeito a todos os elementos de valor 
artístico de qualquer época; e a limitação dos acréscimos ao estritamente indispensável, 
conduzido por dados seguros embasados documentalmente. Essas considerações foram 
fundamentais para configurar a base da formulação da Carta de Atenas de 19311, 
documento internacional inaugural do campo da preservação. Dentre os princípios gerais 
enunciados na Carta de Atenas para os monumentos havia prescrições para uma 
manutenção permanente; à consideração da obra no bojo de seus aspectos históricos e 
artísticos; à utilização respeitosa do patrimônio; e ao emprego de materiais e recursos 
modernos de modo a não alterar o aspecto e o caráter do edifício evidenciando uma 
tendência para o abandono das reconstituições integrais. 
Porém, diante das destruições maciças provocadas pela Segunda Guerra como proceder de 
modo documental? Com a tragicidade e dimensão das perdas os preceitos dessa postura 
filológica passaram a ser debatidos do ponto de vista do princípio e método de aplicação. A 
nova conjuntura apresentava de forma mais incisiva o problema de restituir elementos 
indispensáveis à fisionomia das cidades danificadas evidenciando a necessidade de revisão 
e aprimoramento dos conceitos e princípios da preservação patrimonial. 
Os debates travados entre as décadas de 1940 e 1960 principalmente pelos teóricos e 
intelectuais italianos convergiram para o denominado restauro “crítico conservativo”, 
entendido como uma ação cultural, independente do momento de criação da obra e atrelada 
a outroscampos disciplinares ligados às ciências humanas (como história da arte, sociologia 
e urbanismo) lançando assim, as bases teóricas e práticas da concepção do restauro 
contemporâneo. Esse processo de revisão e amadurecimento dos princípios da preservação 
no Segundo pós-guerra confluiu para o texto da Carta de Veneza (1964)2. Esse documento 
foi promulgado com o objetivo de delinear uma unidade metodológica para as intervenções 
nos bens culturais embasada numa concepção histórico-crítica. 
As destruições súbitas e traumáticas provocadas por incidentes bélicos, antrópicos, ou 
naturais seguiram sendo um ponto nodal para as discussões travadas nas décadas 
posteriores pelos comitês e conselhos internacionais deliberando documentos que 
 
1 Produto da conferência organizada pelo Office International des Muséé, Société des Nations que ocorreu entre 
21 e 30 de outubro de 1931 na Grécia. 
2 Carta Internacional sobre conservação e restauração de monumentos e sítios, definida no II Congresso 
Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos - Icomos (Conselho Internacional de 
Monumentos e Sítios). 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
aprofundam alguns aspectos delineados na Carta de Veneza como a Carta de Burra3 
(1980), que apresenta definições específicas sobre a reconstrução; o Documento de Nara4 
(1994) que se detém na discussão sobre a autenticidade do patrimônio; e a Carta de 
Cracóvia5 (2000) que relaciona o tema da reconstrução à destruição provocada por conflitos 
bélicos ou catástrofes naturais. 
A contemporaneidade do desafio de afrontar essas situações de súbitas destruições se 
renova constantemente já que diversos bens arquitetônicos são continuamente acometidos 
por toda ordem de incidentes catastróficos. Em função dos recentes desastres naturais 
(terremotos) no Nepal e Itália e dos conflitos bélicos na Iugoslávia, Yemen, Iraque e Síria o 
Icomos se reuniu em 2016 a fim de elaborar diretrizes sobre a recuperação de Patrimônios 
Mundiais que passam por situações traumáticas originando o Guia intitulado: Post Trauma 
recovery and reconstruction for World heritage cultural properties (Icomos, 2017). 
No Brasil há várias situações traumáticas que têm atingido o patrimônio nacional (bens 
tombados pelo Iphan - ou eventos de grande repercussão em patrimônios tutelados pelas 
respectivas esferas estaduais ou municipais) no século XX, chegando à 
contemporaneidade. 
São destruições parciais ou totais deflagradas principalmente por incêndios e enchentes, 
como os seguintes casos levantados6: Igreja do Rosário e São Benedito, Rio de Janeiro (RJ) 
- incêndio em 1967; Paço do Saldanha (atual Liceu de Artes e Ofícios da Bahia), Salvador 
(BA) - incêndio em 1968; Mercado Modelo (Casa da Alfândega), Salvador (BA) - incêndios 
em 1969 e 1984; Museu do Caraça, Catas Altas (MG) - incêndio em 1984; Igreja de Nossa 
Senhora do Carmo, Mariana (MG) - incêndio em 1999; Igreja Matriz, São Vicente (SP) - 
incêndio em 2000; cidade de Goiás (centro histórico) - enchente em 2001; Igreja Matriz 
Nossa Senhora do Rosário, Pirenópolis (GO) - incêndio em 2002; Hotel Pilão, Ouro Preto 
(MG) - incêndio em 2003; Teatro Cultura Artística, São Paulo (SP) - incêndio em 2008; Igreja 
Matriz de São Luiz do Paraitinga (SP), enchente em 2010; Capela São Pedro de Alcântara, 
Rio de Janeiro (RJ) - incêndio em 2011; Solar Boa Vista, Salvador (BA) - incêndio em 2013; 
 
3 Documento produto da reunião do ICOMOS na Austrália em 1980. 
4 Produto da “Conferência sobre autenticidade em relação à convenção do Patrimônio Mundial” 
(Unesco/Iccrom/Icomos) realizada em 1994 na cidade de Nara (Japão). 
5 Produto da Conferência Internacional sobre Conservação (Unesco) em Cracóvia (Polônia) 2000, na sua sessão 
plenária intitulada: “O património cultural como fundamento do desenvolvimento da civilização”. 
6 Consulta no site do IPHAN: <http://portal.iphan.gov.br/> em 18 de abril 17. 
Mercado Público, Porto Alegre (RS) - incêndio em 2013; Casa do Chico Mendes, Xapuri 
(AC) - enchente em 2015; Museu da Língua Portuguesa (Estação da Luz), São Paulo (SP) - 
incêndio em 2015; Museu das Missões, São Miguel (RS) - tornado em 2016. 
A catástrofe do rompimento da barragem do Fundão da Samarco Mineiração SA que 
ocorreu em Bento Rodrigues - subdistrito de Mariana (MG) - em 2015 amplificou 
definitivamente os debates sobre as intervenções emergenciais em áreas e edificações 
potencialmente consideradas como patrimônio cultural. 
O fato é que mediante as situações catastróficas, a indagação se estabelece sobre o quanto 
da preexistência deve ser preservado como suporte à imagem da arquitetura perdida e qual 
é o limite da intervenção. Na conceituação entre restauração e reconstrução se 
potencializam alguns embates teóricos, dos quais nos deteremos em alguns aspectos. 
Restauração e reconstrução 
Impasses conceituais 
Ao longo dos debates teóricos da preservação patrimonial do século XX, principalmente 
após a Segunda Guerra, podem ser destacados alguns pontos envolvendo as intervenções 
em patrimônios arquitetônicos danificados que evidenciam os impasses conceituais entre as 
operações de restauração e reconstrução. Um primeiro aspecto se refere aos possíveis 
riscos da “falsificação” do patrimônio. O arquiteto e teórico da restauração ilatiano Ambrogio 
Annoni (1882-1954) em seu trabalho Scienza ed arte del restauro achitettonico - idee ed 
esempi (1946) argumentou que para uma arquitetura perdida (total ou parcialmente), a 
despeito de seus valores histórico, artístico e sentimental, a opção pela reconstrução 
deveria ser recusada, pois a reconstituição poderia incorrer numa falsificação: 
O que parece ser de suprema importância, entretanto, é não recair em 
nenhuma fantasia sentimental que pode induzir restauradores a reconstruir 
aquilo que foi destruído para além da reparação, e isso somente seria a 
perpetuação de uma fraude. (Annoni, 1946, p.21 - trad. nossa) 
Essa orientação sobre o “falso histórico” também pode ser detectada em outros teóricos do 
restauro crítico conservativo como Renato Bonelli (1911-2004) e Cesare Brandi (1906-
1988). Em seu trabalho Architettura e restauro (1959) Bonelli alega que: 
A reconstrução completa do monumento nas mesmas formas não é 
admissível, ao menos teoricamente, nem mesmo quando se disponha de 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
todos os velhos pedaços que compõe a estrutura e os precisos 
levantamentos do estado anterior à ruína, já que a remontagem não poderá 
refazer perfeitamente e em todas as nuances o processo de edificação. 
(Bonelli, 1959, p. 56 - trad. nossa) 
Ao mencionar os casos do Campanário de São Marcos e da Ponte Santa Trindade em 
Florença (destruída em 1945 e reconstruída como era), Brandi, em sua Teoria del Restauro 
(1963) se refere à gravidade de se optar pela “cópia” como: “[...] um falso histórico e estético 
e por isso pode ter uma justificação puramente didática e rememorativa, mas não se pode 
substituir sem dano histórico e estético ao original.” (Brandi, 2004, p.88-89). E acrescenta de 
modo contundente: “O adágio nostálgico ´como era, onde estava´ é a negação do próprio 
princípio da restauração, é uma ofensa à história e um ultraje à Estética, colocando o tempo 
como reversível e a obra de arte como reproduzível à vontade.” (Op. cit., p. 89). 
A problemática do “falso histórico” está atrelada ao quanto se compromete da matéria 
remanescente enquanto um “documento autêntico”, conforme disposto na Carta de Veneza. 
O ideário que o máximo da preexistênciadeva ser preservado enquanto uma referência 
fidedigna que remeta à arquitetura anterior é o embasamento para a conceituação de 
autenticidade, que foi amplamente discutida no Documento de Nara (1994): 
9. A conservação do patrimônio cultural em suas diversas formas e períodos 
históricos é fundamentada nos valores atribuídos a esse patrimônio. Nossa 
capacidade de aceitar esses valores depende, em parte, do grau de 
confiabilidade conferido ao trabalho de levantamento de fontes e informações 
a respeito desses bens. O conhecimento e a compreensão dos 
levantamentos de dados a respeito da originalidade dos bens, assim como de 
suas transformações ao longo do tempo, tanto em termos de patrimônio 
cultural quanto de seu significado constituem requisitos básicos para que se 
tenha acesso a todos os aspectos da autenticidade. (Icomos, 1994 In: Cury, 
2004, p.321) 
Essas asserções sobre autenticidade são reiteradas no conjunto de diretrizes promulgadas 
no recente Guia do Icomos sobre as providências para a recuperação e reconstrução pós 
destruições: “[...] qualquer consideração sobre intervenções deve priorizar a autenticidade 
dos atributos sobreviventes [...]” (Icomos, 2017). 
No entanto, conforme Choay (1995) o conceito da autenticidade tem se desdobrado em 
uma multiplicidade de interpretações ao longo dos séculos em diversos campos do saber. 
Durante a Idade Média o autêntico se referia à legibilidade de um texto original que não leva 
em conta alterações que ocorreram ao longo do tempo. Ao ser aplicado aos artefatos 
materiais há que se considerar a condição da ação física na materialidade que se 
transforma segundo as condições externas (tempo, destruições, etc.). Ao ser transposto 
para o campo da preservação patrimonial (durante o século XIX) o conceito de autenticidade 
se estrutura a partir de um impasse: o autêntico se refere a uma condição “original” que 
fundamenta uma identidade - estipulada e definida segundo uma determinada construção 
historiográfica; ou a autenticidade se aplica à condição da materialidade física que se 
transforma pelo porvir do tempo e demais situações (destruições antrópicas ou naturais)? 
No âmbito das teorias da preservação, Renato de Fusco (1994) fez uma inferência alegando 
que é necessário pensar a obra como um organismo que nasce em um determinado tempo 
e depois enfrenta uma existência própria; a sua presença material é tangível a uma 
constância relativa, modificada em seu percurso histórico. Suas diversas fases são mais ou 
menos “autênticas” segundo as qualificações e as interpretações que os processos 
historiográficos lhes conferem; segundo nossa análise essa consideração estaria alinhada à 
acepção de “documento-monumento” desenvolvida pelo historiador Jacques Le Goff (2010). 
Assim, é possível constatar que os remanescentes de um bem arquitetônico acometido por 
um incidente súbito testemunham sobre a sobrevivência do que um dia existiu e também 
documentam as causas do arruinamento ensejando a seguinte questão: o quanto que as 
marcas dessa destruição poderiam ser consideradas como parte história de um bem? 
A manutenção dos remanescentes originais como uma referência que confere autenticidade 
ao patrimônio está engendrada a outro ponto nodal: o grau de destruição. De acordo com 
a teoria brandiana, a complexidade em mesurar a dimensão das lacunas envolve o desafio 
da avaliação sobre o quanto da “unidade potencial” de um bem foi perdida e não pode ser 
reintegrada como era; a unidade potencial é entendida enquanto uma característica que é 
qualitativa e não necessariamente quantitativa do objeto. Ao pretender retraçar a unidade 
originária de uma obra perdida, de acordo com Brandi a restituição deveria limitar-se a 
desenvolver o que está sugerido pelos fragmentos remanescentes ou pelos testemunhos 
autênticos do estado prévio, de forma bastante distinguível. No restauro crítico conservativo, 
esse procedimento se estrutura a partir da relação dialética entre o processo crítico e 
criativo, integrando a preexistência. Segundo Giovanni Carbonara (1976) o problema da 
reintegração da imagem não trata da recuperação de uma unidade estilística, mas sim, uma 
unidade figurativa do objeto. Essa acurada operação implica numa qualificação 
metodológica que a distingue conceitualmente das ações de “reconstituição” ou 
“reconstrução”. 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
No âmbito do restauro crítico conservativo, a restauração é entendida como um campo 
disciplinar que tem princípios operacionais como: reversibilidade, de modo a não impedir ou 
comprometer intervenções futuras; mínima intervenção, para não descaracterizar o 
documento histórico devendo respeitar suas estratificações; a compatibilidade de técnicas e 
materiais, considerando a consistência física do objeto, com a aplicação de técnicas 
compatíveis ao bem e não nocivas; e a distinguibilidade, para não induzir o observador ao 
engano de confundir a intervenção ou eventuais acréscimos com o que existia antes (Kühl, 
2008). 
Desse modo, o tema da “reconstrução” torna-se particularmente controverso, por incorrer na 
discussão sobre um dos preceitos basilares para as restaurações arquitetônicas: a 
distinguibilidade que permite a leitura daquilo que é novo em relação ao preexistente. Essa 
premissa foi especialmente destacada pela teoria de Camillo Boito, em suas asserções 
apresentadas em 1884 (Boito, 2012) e reiteradas em diversos documentos posteriores. A 
Carta de Veneza, por exemplo, condensou claramente orientações sobre esse ponto em seu 
Artigo 12º: “Os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se 
harmonicamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais, a fim de que a 
restauração não falsifique o documento de arte ou de história.” (Icomos, 1964 In: Cury, 
2004, p.94). 
A partir desses pontos apresentados (falso histórico, autenticidade, grau de destruição e 
distinguibilidade), podem ser aferidas algumas controvérsias que indicam uma 
diferenciação metodológica na abordagem das intervenções de “reconstrução” e 
“restauração”. 
Caracterizações e distinções 
De acordo com o restauro crítico e conservativo, o conjunto de intervenções entendidas no 
campo disciplinar da restauração (gradativamente: manutenção, conservação e restauração) 
fundamenta-se numa profunda análise histórica e crítica do objeto, no respeito à 
materialidade da obra e a seus aspectos documentais e estéticos. As motivações para 
essas operações são primordialmente de cunho cultural e científico envolvendo uma 
pormenorizada análise do bem e sua intrínseca materialidade para identificar seu grau de 
degradação. A caracterização dessas operações consta no texto da Carta de Veneza: a 
conservação engloba ações (como a manutenção) que precedem a restauração (cujo 
caráter é mais incisivo). O Artigo 9ª da Carta de Veneza evidencia a excepcionalidade da 
operação do restauro e seu estrito embasamento documental na matéria original e autêntica 
do que está sendo avaliado para preservação: 
Art. 9º: A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. 
Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do 
monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos 
documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das 
reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como 
indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da 
composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A 
restauração será sempre precedida e acompanhada de um estudo 
arqueológico e histórico do monumento. (Icomos, 1964 In: Cury, 2004, 
p.93) 
No textoda Carta de Veneza, a reconstrução não é caracterizada ou definida; a Carta de 
Burra (1980) é o primeiro documento internacional da preservação patrimonial que vai se 
ater ao conceito da reconstrução admitindo-a como uma possibilidade de intervenção como 
uma condição para a sobrevivência de um bem: 
Artigo 1º Definições: A reconstrução será o restabelecimento, com o 
máximo de exatidão, de um estado anterior conhecido; ela se distingue 
pela introdução na substância existente de materiais diferentes, sejam 
novos ou antigos. A reconstrução não deve ser confundida, nem com a 
recriação, nem com a reconstituição hipotética, ambas excluídas, do 
domínio regulamentado pelas presentes orientações. (Icomos, 1980 apud 
Cury, 2004, p.148) 
Assim, a reconstrução se estabelece como uma opção desde que a integridade do bem e do 
conjunto avariado seja garantida; uma operação que também deveria se limitar à 
complementação de partes desfalcadas a partir do conhecimento dos testemunhos materiais 
e documentais e de forma distinguível. 
Porém, intelectuais ligados à preservação patrimonial questionam sobre se a reconstrução 
possa ser uma intervenção validada no âmbito do restauro. Como atesta Giovanni 
Carbonara (2009), as ações que comprometem a leitura da passagem temporal e suas 
respectivas marcas interpondo motivações de ordem estética às motivações de ordem 
documental e histórica não poderiam ser qualificadas como restauração. São práticas em 
que a matéria antiga não é completamente respeitada e transfiguram o monumento 
renovando-o e reduzindo-o a uma mera citação do antigo. 
O célebre caso do Teatro La Fenice em Veneza, cuja construção original de 1792 foi 
gravemente danificada por um incêndio em 29 de janeiro de 1996 ilustra esses embates 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
teóricos recentes no cenário italiano sobre a polêmica de reconstituir a obra como era antes 
do incidente. Por ser considerada uma das referências arquitetônicas mais icônicas da 
cidade houve uma grande comoção pública em prol da recuperação mimética do Teatro. A 
opção em reconstruir “como era, onde estava” passou a ser defendida por ir ao encontro do 
apelo da população veneziana. A solução, porém, não foi unânime, intelectuais ligados à 
preservação patrimonial como Giovanni Carbonara, Paolo Torsello, Roberto Di Stefano, 
Sandro Scarrocchia7 dentre outros apresentaram argumentos contrários alegando que a 
reconstrução, não faz parte do compito da restauração, a identidade da edificação perdida 
jamais pode ser restabelecida e a materialidade da preexistência com suas respectivas 
marcas deveria ser considerada no âmbito metodológico e crítico do campo disciplinar do 
restauro. 
Na confluência das possibilidades de reconstrução (como era antes do incidente) e da 
restauração (enquanto uma ação cultural) se estabelecem questionamentos circunscritos 
sobre a forma de intervir na matéria, entendida enquanto documento e enquanto suporte de 
uma imagem que se pretende resgatar. 
Se por um lado, a reconstrução é tida por muitos teóricos como uma operação 
extremamente discutível por incidir em pontos controversos, por outro lado, alguns 
intelectuais também estruturam observações críticas sobre a restauração destacando, por 
exemplo, que: a abordagem de um objeto a partir de uma dúplice avaliação das instâncias 
artística e histórica (como definido por Brandi) é limitada, pois implica somente no 
entendimento da matéria enquanto suporte da imagem e não engloba valores simbólicos de 
recepção e interpretação dessa imagem por parte dos que vão efetivamente vivenciar o bem 
arquitetônico. 
Essa problemática se associa à reflexão de Renato Bonelli para quem a intervenção de 
restauro - conforme estabelecida pela Carta de Veneza - acaba invariavelmente sobrepondo 
a instância histórica à artística, já que o monumento é definido como “histórico” (Artigo 1º), 
sendo interpretado, portanto, enquanto um documento que compreende uma somatória de 
fases. Para Bonelli, a Carta de Veneza nasce desatualizada, pois está embasada num 
simplismo empírico de um tardo positivismo oitocentista (Bardeschi, 1995); é um documento 
que descende diretamente das asserções de Gustavo Giovannoni que, por sua vez 
atualizou as considerações filológicas de Camillo Boito apresentadas no Congresso degli 
Ingegneri e Architetti di Roma em 1883. 
 
7 In: Venezia, La Fenice: i fatti, gli atti ufficiali, le opinioni [contributi diversi]. Ananke - cultura, storia e tecniche 
della conservazione, Firenze, marzo, n.13, p.24-49 1996. 
Conforme Marco Dezzi Barderschi (1995), a Carta de Veneza foi estabelecida para 
combater as persistentes sugestões de refazimento em estilo reafirmando uma postura que 
havia sido enfatizada na teoria de Brandi (explicitamente contrário ao refazimento), 
embasada no entendimento de que uma obra de arte é irreprodutível. Essa proibição de 
completamentos em estilo ou análogos à preexistência que possam comprometer a leitura e 
a preservação da materialidade do documento prévio é uma postura que qualifica parte das 
teorias italianas de restauro e que foi reiterada na Carta Italiana del Restauro de 1972. 
O arquiteto Roberto Pane (1897-1987) também fez considerações sobre os limites objetivos 
do restauro filologicamente concebido expondo a complexidade e abrangência que o ato da 
restauração pode ter mediante bens total ou parcialmente destruídos. Durante reunião da 
Unesco em 1949, Pane destacou o apelo popular para a reconstrução de monumentos 
referenciais destruídos pela Segunda Guerra, uma operação que se não era totalmente 
justificada do ponto de vista crítico, pretendia responder aos imperiosos desejos de toda 
uma comunidade. 
Nesse contexto pós bélico, a cidade de Varsóvia tornou-se um caso emblemático cuja 
reconstrução se estendeu por extensos trechos que foram totalmente destruídos pelas 
tropas nazistas em 1945. Logo após o fim da Guerra foram iniciados os trabalhos numa 
empreitada que seguiu até meados de 1950 constituindo um evento simbólico de superação 
do povo polaco diante da tragédia. As reconstruções do centro histórico utilizaram como 
referência uma extensa documentação iconográfica que havia sido conservada mesmo 
durante a ocupação nazista; os fragmentos salvos também foram sistematicamente 
resgatados por civis voluntários. Alguns monumentos foram reconstruídos décadas mais 
tarde, como a Prefeitura e o Castelo Real. A justificativa para essas reconstruções se pautou 
pelo imperativo moral de identidade do povo polonês. 
No Brasil, por exemplo, as discussões internas nos respectivos órgãos de preservação 
sobre a Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga (SP) quase que totalmente arruinada por 
uma enchente em 2010 ilustram a importância e contemporaneidade desse aspecto. Optou-
se pela reconstrução da Matriz com materiais diversos dos originais, mas mantendo a 
aparência externa (Figura 1) como era antes da enchente a fim de atender às solicitações 
da comunidade que tinha nesse objeto arquitetônico uma importante referência de 
composição da praça central da cidade; interiormente (Figura 2 e 3) foram deixados alguns 
resquícios da antiga edificação arruinada perceptíveis principalmente nas galerias laterais 
(Rodrigues, 2017). As justificativas para essa opção estiveram embasadas nas disposições 
da Carta de Cracóvia (2000) que apresenta a relevância de uma motivação social para a 
reconstrução mediante uma situação catastrófica: “4. [...] A reconstrução total de um edifício, 
que tenha sido destruído por um conflito armado ou por uma catástrofe natural, só é 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS BrasilBelo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
aceitável se existirem motivos sociais ou culturais excepcionais, que estejam relacionados 
com a própria identidade da comunidade local.” (Unesco, 2000 apud Iphan, 2010, p.148). 
 
Figura 1: Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga (SP), aspecto externo após sua reconstrução, 2014. 
Foto: Autora. 
 
Figura 2: Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga (SP), galeria lateral com a exposição das ruínas das 
paredes originais e de fragmentos avulsos, 2014. Foto: Autora. 
 
Figura 3: Igreja Matriz de São Luiz do Paraitinga (SP), galeria lateral com a exposição das ruínas das 
paredes originais, 2014. Foto: Autora. 
Mas também é possível retomar às teorias do austríaco Alois Riegl (1858-1904) 
apresentadas no início do século XX em Der moderne Denkmalkultus, sein Wesen, seine 
Entstehung (1903) como uma chave para compreender a complexidade de enfrentamento 
do impacto dessas destruições. Riegl se refere à sensação de perda ao ver uma edificação 
que possuía uma função no cotidiano de uma comunidade (como uma casa, uma igreja ou 
qualquer outra obra) e passa a não tê-la mais, o que pode proporcionar uma súbita e 
intolerável impressão de “destruição violenta” (Riegl, 1990, p.59 - trad. nossa). No caso dos 
edifícios que já conhecemos sem uso - como as ruínas de um castelo medieval ou de um 
templo romano - a falta de uma atividade humana não é tão perturbadora. 
Considerações Finais 
Como pôde ser evidenciado através dos debates teóricos do século XX que têm se 
renovado diante dos desafios contemporâneos, ao contrapor a restauração à reconstrução 
há os pontos que foram levantados - falso histórico, autenticidade, grau da perda da unidade 
potencial do bem e distinguibilidade - e que estão circunscritos na operacionalização prática 
diante do patrimônio danificado. Para além desses aspectos tangíveis relacionados às 
instâncias estética e histórica dos bens arquitetônicos há que se considerar ainda os 
aspectos intangíveis associados aos valores simbólicos e à dimensão psicossocial sobre o 
tema da perda trágica de conjuntos arquitetônicos. Sendo assim, na convergência das 
dimensões tangíveis e intangíveis de um bem cultural, diante de perdas súbitas, à 
problemática do grau de arruinamento e à constatação e aceitação da perda de sua unidade 
potencial deve ser acrescida a dimensão traumática da situação. 
1º Simpósio Cientifico ICOMOS Brasil 
Belo Horizonte, de 10 a 13 de maio de 2017 
 
Assim, os impasses conceituais levantados poderiam ser sintetizados da seguinte forma: em 
que medida a reconstrução poderia ser considerada válida, sem cometer um falso histórico 
e sem comprometer a leitura da antiguidade e autenticidade da preexistência? A 
restauração enquanto um ato cultural que envolve uma estrita avaliação de caso a caso não 
seria uma operação suficientemente adequada para responder a uma situação pós 
destruição? 
Segundo nossa análise, diante das controvérsias sobre a aplicabilidade de uma metodologia 
operacional há conflitantes abordagens sobre a reconstrução que puderam ser evidenciadas 
através dos documentos apresentados: a Carta de Cracóvia (2000) atesta que a 
reconstrução seria válida em casos de destruições traumáticas desde que haja uma 
“moticação social”; já na definição da Carta de Burra (1980), a reconstrução tem um caráter 
extraordinário que deveria limitar-se à complementação de algumas partes desfalcadas (e 
não de toda a arquitetura perdida), utilizando materiais distintos dos originais. Alguns 
teóricos demonstram que nas intervenções que buscam por uma mera restauração 
“estilística” ou uma reconstituição do bem “como era, onde estava” há uma falta de clareza 
sobre a aplicação dos princípios e métodos do campo disciplinar do restauro, 
compromentendo a conservação dos remanescentes em suas instâncias histórica e 
artística. 
No que tange à restauração, tendo em vista que se trata de um ato de natureza crítica e 
criativa (Bonelli, 1959), há um maior consenso entre os teóricos (não unanime) em 
considerá-la como uma operação respaldada por um cabedal metodológico que a dispõe de 
meios para propor soluções que coadunem as premissas que visam a preservação da 
materialidade preexistente às gerações futuras - distinguibilidade, mínima intervenção, 
reversibilidade e o uso de materiais compatíveis - aos anseios de uma comunidade que 
pretende restituir sua arquitetura danificada numa situação emergencial. 
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