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TEXTO COMPEMENTAR Disciplina: Ética Profissional Professor: Ricardo Calasans Tema 1 Leia o texto abaixo e analise a figura a seguir. As 59 universidades federais brasileiras terão de contar, em breve, com um sistema de cotas para ingresso dos novos estudantes. A expectativa é que a presidente Dilma Rousseff sancione, nos próximos dias, a lei que destina 50% das vagas oferecidas nessas universidades a alunos que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas. Metade dessa reserva beneficiará quem vem de família de baixa renda, com ganho máximo de um salário mínimo per capita. (...) Quase dez anos após o início das discussões sobre cotas no ensino público superior do País, o assunto ainda é polêmico. Especialistas concordam que o governo precisa ampliar, de alguma maneira, a participação dos jovens de famílias carentes, além de negros e indígenas, no ensino superior. Mas a reserva de vagas está longe de ser uma unanimidade entre docentes, alunos e estudiosos. "A questão é como manter a qualidade e ao mesmo tempo fazer a inclusão. Não é uma equação fácil", avalia o sociólogo Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, do Rio de Janeiro. (...) Já para o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Carlos Maneschy, é possível colocar na mesma sala de aula alunos aprovados no vestibular convencional e estudantes admitidos por cotas, sem prejuízo ao ensino. Ele conta que a Universidade Federal do Pará (UFPA), onde é reitor, adota há cinco anos a reserva de 50% das vagas para egressos de escolas públicas. E, segundo Maneschy, levantamentos mostram que, apesar das dificuldades iniciais apresentadas pelos cotistas, os índices de desempenho e de evasão entre alunos vindos de escolas públicas e de particulares são os mesmos. A UFPA ainda reserva, desde 2010, duas vagas para indígenas por curso. Disponível em <http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI6085734-EI8266,00- Cotas+para+escolas+publicas+geram+polemica+entre+especialistas.html>. Acesso em 19 out. 2012. Renda média da população, segundo sexo e cor/raça. Brasil, 2007. Disponível em <http://umapiruetaduaspiruetas.wordpress.com/2009/08/26/fez-que-ia-mas-nao-foi-pic/>. Acesso em 19 out. 2012. Com base nas ideias presentes no texto e na figura, expresse sua opinião sobre o sistema de cotas para o ingresso nas Universidades Federais. Fundamente seu posicionamento em dois argumentos. Tema 2 Leia os textos a seguir. Texto I O orçamento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para o presente exercício é de 10,1 bilhões de dólares. O montante, um bilhão maior do que o valor de 2007, evidencia a crescente valorização da responsabilidade social, considerando que os recursos provêm de doações privadas e fundos para causas específicas, como educação e saúde, além de verbas governamentais. No ano passado, o recorde de contribuições recebidas por outro organismo, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), corrobora a ampliação da consciência universal quanto à necessidade de reduzir os índices de miséria e promover a inclusão social e melhoria da qualidade da vida. No total, 181 Estados-membros contribuíram com 419 milhões de dólares para o UNFPA. Isso representa o número mais elevado de países doadores e o maior montante recebido a título de contribuições desde que a agência iniciou suas operações, em 1969. (...) Além de seus propósitos humanitários, as agências da ONU têm outro aspecto em comum: para ambas, os recursos privados são estratégicos e fundamentais. O mesmo raciocínio aplica-se às organizações do Terceiro Setor que atuam localmente, circunscritas ao atendimento de uma demanda social ou de um público específico. Como não têm fins lucrativos, sua capacidade de gerar receitas próprias é limitada. Assim, dependem do exercício da responsabilidade social por parte do capital privado e do esforço do voluntariado. A lógica do Terceiro Setor, quanto à sua inserção no mundo globalizado, é a mesma que rege o universo dos negócios. Há organizações globais, como as agências da ONU, e as locais, como alguns excelentes exemplos brasileiros, dentre os quais a APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), a Fundação Dorina Nowill e a ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). Disponível em <http://www.ipea.gov.br/acaosocial/articled3d2.html?id_article=616>. Acesso em 26 out. 2012. Texto II É inegável a importância do surgimento das ONGs e do chamado Terceiro Setor como um fenômeno dos anos 1990 que remete a novas formas de relação entre os indivíduos e seus coletivos e entre o Estado e a iniciativa privada. Observam-se, nesse processo, o surgimento e a ampliação da participação cidadã e a possibilidade da reconstrução das utopias sociais transformadoras. Ressaltam- se a autonomia e a independência do Terceiro Setor em relação aos Primeiro e Segundo Setores e fala-se, inclusive, do volume financeiro que mobiliza e do número de empregos surgidos com as iniciativas advindas desse campo. No entanto, corre-se o risco de não considerarmos as características apontadas acima de forma crítica. Assim, cabe acentuar que as diretrizes e os financiamentos de grande parte das ações e dos projetos do Terceiro Setor provêm do Estado e/ou das fundações vinculadas às empresas do Segundo Setor. Esse dado é bastante questionador da pretensa autonomia e independência do Terceiro Setor em relação aos dois outros setores. Outro aspecto que não deve passar despercebido é que o razoável montante financeiro mobilizado, assim como os empregos gerados pelas atividades do Terceiro Setor, vêm concomitantemente com os recordes de arrecadação pelo Estado e com os significativos aumentos nos excedentes financeiros auferidos pelas grandes empresas, aliados ao substancial aumento de demissões observadas nos dois primeiros setores. Mesmo a proliferação de ONGs não tem resultado em melhoria das condições de vida da população em geral. Pelo contrário, o cenário das ruas das grandes cidades do Brasil atesta a fragilidade do impacto de projetos desenvolvidos dentro da cultura do Terceiro Setor. (...) Ao não levar em conta os aspectos levantados anteriormente, o profissional do Terceiro Setor vive uma dissociação entre os ideais que permeiam o seu trabalho e o resultado prático de suas ações. (...) [Em última instância], existe o sério risco de este importante fenômeno emergente no cenário mundial, chamado Terceiro Setor, transformar-se em um mero executor de tarefas ditadas pelos Primeiro e Segundo Setores, ao que seria melhor, então, designar-se Setor Terceirizado. Disponível em <http://www.fonte.org.br/node/146>. Acesso em 26 out. 2012 (com adaptações). Com base na leitura dos textos, relacione a presença do Terceiro Setor com a capacidade de atuação do Estado. Tema 3 Leia o trecho da reportagem da Istoe, reproduzido a seguir. Por que as cotas raciais deram certo no Brasil Política de inclusão de negros nas universidades melhorou a qualidade do ensino e reduziu os índices de evasão. Acima de tudo, está transformando a vida de milhares de brasileiros Amauri Segalla, Mariana Brugger e Rodrigo Cardoso Por ser recente, o sistema de cotas para negros carece de estudos que reúnam dados gerais do conjunto de universidades brasileiras. Mesmo analisados separadamente, eles trazem respostas extraordinárias. É de se imaginar que os alunos oriundos de colégios privados tenham, na universidade, desempenho muito acima de seus pares cotistas. Afinal, eles tiveram uma educação exemplar, amparada em mensalidades que custam pequenas fortunas. Mas a esperada superioridade estudantil dos não cotistas está longe de serverdade. A Uerj analisou as notas de seus alunos durante 5 anos. Os negros tiraram, em média, 6,41. Já os não cotistas marcaram 6,37 pontos. Caso isolado? De jeito nenhum. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que também é referência no País, uma pesquisa demonstrou que, em 33 dos 64 cursos analisados, os alunos que ingressaram na universidade por meio de um sistema parecido com as cotas tiveram performance melhor do que os não beneficiados. E ninguém está falando aqui de disciplinas sem prestígio. Em engenharia de computação, uma das novas fronteiras do mercado de trabalho, os estudantes negros, pobres e que frequentaram escolas públicas tiraram, no terceiro semestre, média de 6,8, contra 6,1 dos demais. Em física, um bicho de sete cabeças para a maioria das pessoas, o primeiro grupo cravou 5,4 pontos, mais dos que os 4,1 dos outros (o que dá uma diferença espantosa de 32%). Em um relatório interno, a Unicamp avaliou que seu programa para pobres e negros resultou em um bônus inesperado. “Além de promover a inclusão social e étnica, obtivemos um ganho acadêmico”, diz o texto. Ora, os pessimistas não diziam que os alunos favorecidos pelas cotas acabariam com a meritocracia? Não afirmavam que a qualidade das universidades seria colocada em xeque? Por uma sublime ironia, foi o inverso que aconteceu. E se a diferença entre cotistas e não cotistas fosse realmente grande, significaria que os programas de inclusão estariam condenados ao fracasso? Esse tipo de análise é igualmente discutível. “Em um País tão desigual quanto o Brasil, falar em meritocracia não faz sentido”, diz Nelson Inocêncio, coordenador do núcleo de estudos afrobrasileiros da UnB. “Com as cotas, não é o mérito que se deve discutir, mas, sim, a questão da oportunidade.” Ricardo Vieiralves de Castro fala do dever intrínseco das universidades em, afinal, transformar seus alunos – mesmo que cheguem à sala de aula com deficiências de aprendizado. “Se você não acredita que a educação é um processo modificador e civilizatório, que o conhecimento é capaz de provocar grandes mudanças, não faz sentido existir professores.” Não faz sentido existir nem sequer universidade. Por mais que os críticos gritem contra o sistema de cotas, a realidade nua e crua é que ele tem gerado uma série de efeitos positivos. Hoje, os negros estão mais presentes no ambiente universitário. Há 15 anos, apenas 2% deles tinham ensino superior concluído. Hoje, o índice triplicou para 6%. Ou seja: até outro dia, as salas de aula das universidades brasileiras lembravam mais a Suécia do que o próprio Brasil. Apesar da evolução, o percentual é ridículo. Afinal de contas, praticamente a metade dos brasileiros é negra ou parda. Nos Estados Unidos, a porcentagem da população chamada afrodescendente corresponde exatamente à participação dela nas universidades: 13%. Quem diz que não existe racismo no Brasil está enganado ou fala isso de má-fé. Nos Estados Unidos, veem-se negros ocupando o mesmo espaço dos brancos – nos shoppings, nos restaurantes bacanas, no aeroporto, na televisão, nos cargos de chefia. No Brasil, a classe média branca raramente convive com pessoas de uma cor de pele diferente da sua e talvez isso explique por que muita gente refuta os programas de cotas raciais. No fundo, o que muitos brancos temem é que os negros ocupem o seu lugar ou o de seus filhos na universidade. Não há outra palavra para expressar isso a não ser racismo. Disponível em <http://www.istoe.com.br/reportagens/288556_POR+QUE+AS+COTAS+RACIAIS+DERAM+CERTO+NO+BRASIL?pathImagens=&path =&actualArea=internalPage>. Acesso em 19 ago. 2014.
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