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Autores: Prof. Rogério Carlos Traballi Prof. Fernando Gorni Neto Agricultura Internacional e o Meio Ambiente Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Professores conteudistas: Rogério Carlos Traballi/Fernando Gorni Neto Rogério Carlos Traballi Doutor em Agronomia pela Unesp/FCA (2008), mestre em Engenharia de Produção (2003), pós‑graduado lato sensu em Sistemas de Informação (2000) e Gramática da Língua Inglesa (2002) e graduado em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie (1990). Atua como coordenador‑geral do curso de Agronegócio da Universidade Paulista (UNIP), professor da UNIP e professor convidado em cursos de pós‑graduação. Possui trabalhos publicados em amostragem de solo, engenharia de produção e aplicações com os softwares estatísticos e mercado financeiro. Fernando Gorni Neto Graduado e pós‑graduado em Marketing pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e pós‑graduado em Agronegócios pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista (UNIP). Foi professor de Transportes Internacionais na Exportacian Assessoria em Comércio Exterior. Leciona no curso de graduação em Administração de Empresas na UNIP em disciplinas como Gestão de Suprimentos e Logística, Elaboração e Análise de Projetos, dentre outras, e no curso de pós‑graduação lato sensu MBA em Logística Empresarial e Supply Chain em matérias como Comércio Internacional e Marketing Internacional. Acumula mais de trinta anos de experiência em comércio internacional nas áreas de desembaraço aduaneiro de importação e exportação, tráfego marítimo internacional de granéis tramp, tráfego marítimo de navios liners, distribuição de produtos por via rodoviária, ferroviária e marítima de cabotagem e em Business Intelligence Center. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T758a Traballi, Rogério Carlos. Agricultura internacional e o meio ambiente. / Rogério Carlos Traballi, Fernando Gorni Neto. – São Paulo: Editora Sol, 2016. 256 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑054/16, ISSN 1517‑9230. 1. Agricultura internacional. 2. Meio ambiente. 3. Desenvolvimento Sustentável. I. Gorni Neto, Fernando. II. Título. CDU 631 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Juliana Mendes Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Sumário Agricultura Internacional e o Meio Ambiente APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 O CAMPO DE ESTUDO DA AGRICULTURA E DO MEIO AMBIENTE ............................................... 11 1.1 O segmento antes da porteira ........................................................................................................ 21 1.1.1 Sementes e mudas ................................................................................................................................. 21 1.1.2 Fertilizantes ............................................................................................................................................... 22 1.1.3 Máquinas e implementos agrícolas ................................................................................................. 23 1.1.4 Agrotóxicos................................................................................................................................................ 25 1.1.5 Rações ......................................................................................................................................................... 30 1.1.6 Vacinas e tratamentos sanitários ..................................................................................................... 31 1.2 O segmento dentro da porteira ...................................................................................................... 35 1.2.1 Terra .............................................................................................................................................................. 35 1.2.2 Mão de obra .............................................................................................................................................. 36 1.2.3 Administração .......................................................................................................................................... 39 1.2.4 Produção .................................................................................................................................................... 40 1.2.5 Lavouras permanentes .......................................................................................................................... 55 1.2.6 Lavouras temporárias ............................................................................................................................ 57 1.3 O segmento depois da porteira ...................................................................................................... 61 1.3.1 Processadores (ou a indústria em si) .............................................................................................. 61 1.3.2 Distribuidores ........................................................................................................................................... 73 1.3.3 Armazéns‑gerais (Ceasa/Ceagesp) ................................................................................................... 75 1.3.4 Atacadistas ................................................................................................................................................ 77 1.3.5 Supermercados e pequenos comerciantes ................................................................................... 78 1.3.6 Exportações ............................................................................................................................................... 80 1.3.7 Transporte .................................................................................................................................................. 80 1.3.8 Atividades primárias da Logística .................................................................................................... 82 1.3.9 Atividades de apoio à Logística .........................................................................................................82 2 PERSPECTIVA HISTÓRICA E TEÓRICA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ........................ 83 2.1 O primeiro choque do petróleo: 1973 ......................................................................................... 87 2.2 O segundo choque do petróleo: 1979‑80 .................................................................................. 87 2.3 Crise e desastres ambientais ............................................................................................................ 88 2.4 O Brasil e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) ........................................ 90 2.5 Teorias econômicas aplicadas ao meio ambiente ................................................................... 94 2.5.1 Financiamento da agricultura no Brasil ......................................................................................100 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade II 3 INSTRUMENTOS ECONÔMICOS DE POLÍTICA AMBIENTAL ............................................................103 3.1 Padrões de emissão e certificados negociáveis ......................................................................103 3.2 Política ambiental no Brasil e no mundo, ontem e hoje ....................................................104 3.2.1 Breve história da educação ambiental global ........................................................................... 110 3.3 Padrões de emissão ...........................................................................................................................115 3.3.1 O licenciamento ambiental ...............................................................................................................115 3.3.2 Fontes de poluição atmosférica ......................................................................................................118 3.3.3 Fontes agrossilvopastoris ................................................................................................................... 118 3.4 Meio ambiente e desenvolvimento .............................................................................................122 4 CERTIFICADOS NEGOCIÁVEIS ...................................................................................................................123 4.1 Mercado de crédito de carbono ...................................................................................................127 Unidade III 5 MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO: ALGUMAS REFLEXÕES ...............................................135 5.1 Comércio internacional e meio ambiente ................................................................................135 5.1.1 Soja ............................................................................................................................................................ 136 5.1.2 Arroz .......................................................................................................................................................... 138 5.1.3 Trigo ........................................................................................................................................................... 139 5.1.4 Cana‑de‑açúcar .................................................................................................................................... 140 5.1.5 Feijão ..........................................................................................................................................................141 5.1.6 Milho ......................................................................................................................................................... 142 5.1.7 Cevada ...................................................................................................................................................... 143 5.1.8 Carne bovina .......................................................................................................................................... 144 5.1.9 Carne suína............................................................................................................................................. 145 5.1.10 Carne de frango e aves ................................................................................................................... 146 5.2 Agroindústrias .....................................................................................................................................147 6 COMÉRCIO INTERNACIONAL ....................................................................................................................150 6.1 Impactos comerciais e políticas ambientais ............................................................................150 6.1.1 Impactos ambientais do comércio internacional ................................................................... 150 6.1.2 Impactos comerciais da regulação ambiental ......................................................................... 152 6.1.3 Políticas ambientais, comércio e competitividade no setor agrícola ............................. 154 6.1.4 Seleção da política ambiental e seus instrumentos .............................................................. 155 6.1.5 Política ambiental, comércio e bem‑estar ................................................................................. 155 6.1.6 Políticas ambientais e seus efeitos à competitividade ......................................................... 157 6.2 O setor agroexportador brasileiro e suas interfaces com o meio ambiente ..............159 6.3 Os agrotóxicos .....................................................................................................................................162 6.3.1 Impactos ambientais .......................................................................................................................... 164 6.4 Comércio internacional: leis e diretrizes ...................................................................................166 6.4.1 Organização Mundial do Comércio (OMC) ................................................................................ 167 6.4.2 Blocos econômicos .............................................................................................................................. 168 6.5 A estrutura brasileira para o comércio exterior .....................................................................170 6.5.1 Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) ........................170 6.5.2 Câmara de Comércio Exterior (Camex) ........................................................................................170 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 6.5.3 Secretaria de Comércio Exterior (Secex) .....................................................................................171 6.5.4 Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP) .............................................................. 172 6.5.5 Secretaria de Inovação (SIN) ........................................................................................................... 173 6.5.6 Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) ............................ 173 6.5.7 Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) ............................................................... 173 6.5.8 Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) .............................. 173 6.5.9 Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) ..................... 174 6.5.10 Ministério da Fazenda (MF) ........................................................................................................... 174 6.5.11 Banco Central do Brasil (Bacen) ..................................................................................................176 6.5.12 Banco do Brasil (BB) ......................................................................................................................... 176 6.5.13 Ministério das Relações Exteriores (MRE) ............................................................................... 177 6.5.14 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) .............................................. 177 6.5.15 Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) ............................................. 178 6.5.16 Apex‑Brasil............................................................................................................................................ 178 6.5.17 Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ................................................................ 179 6.6 Gestores, anuentes e autoridades em comércio exterior ...................................................179 6.6.1 Órgãos gestores .................................................................................................................................... 179 6.6.2 Órgãos anuentes .................................................................................................................................. 180 6.7 Autoridades na área de transportes ...........................................................................................185 6.7.1 Ministério dos Transportes ............................................................................................................... 185 6.7.2 Autoridades de transportes aquaviários .................................................................................... 185 6.7.3 Autoridades portuárias ...................................................................................................................... 188 6.7.4 Alfândega ................................................................................................................................................ 190 6.7.5 Órgãos Gestores de Mão de Obra (Ogmo) ................................................................................. 190 6.7.6 Operadores portuários ........................................................................................................................191 6.7.7 Navios e containers ........................................................................................................................... 193 6.7.8 Autoridades nos transportes terrestres ...................................................................................... 195 6.7.9 Transporte dutoviário ......................................................................................................................... 196 6.7.10 Transporte ferroviário ...................................................................................................................... 196 6.7.11 Transporte multimodal de cargas ............................................................................................... 197 6.7.12 Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República .................................................. 197 6.7.13 Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) .............................................................................. 197 6.7.14 Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) ....................................... 198 6.8 Barreiras ao comércio internacional ..........................................................................................198 6.8.1 Barreiras técnicas ................................................................................................................................. 199 6.8.2 Barreiras comerciais tarifárias ........................................................................................................ 200 6.8.3 Barreiras comerciais não tarifárias ................................................................................................202 Unidade IV 7 SEGURANÇA ALIMENTAR...........................................................................................................................207 7.1 Boas práticas de fabricação (BPF) ................................................................................................207 7.2 Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) ................................................209 7.2.1 Implantação do sistema APPCC ......................................................................................................212 8 GESTÃO AMBIENTAL: PRODUTOS VERDES, RECICLAGEM .............................................................214 8.1 Produto verde ......................................................................................................................................216 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 8.1.1 Organismos geneticamente modificados ...................................................................................218 8.1.2 As competências da CTNBio ............................................................................................................ 220 8.1.3 Alimentos orgânicos ........................................................................................................................... 223 8.2 Reciclagem ............................................................................................................................................225 8.3 Inovação, meio ambiente e competitividade ..........................................................................230 9 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem por objetivo capacitar o aluno a compreender a agricultura mundial e sua relação com o meio ambiente, os conhecimentos necessários sobre as operações de logística internacional no agronegócio, tanto a partir do Brasil, ou seja, suas exportações, quanto as importações, as entradas de produtos do agronegócio no Brasil, entendendo como funciona o comércio exterior. Também buscaremos apresentar a estratégia de operações e oferecer elementos para a compreensão dos conceitos essenciais, princípios, técnicas e processos dos modelos modernos de gestão, envolvendo a compreensão da relação entre agricultura, meio ambiente e desenvolvimento do agronegócio mundial, assim como conhecer as ações de preservação mundial do meio ambiente. Para que uma empresa possa progredir no agronegócio, deve ter uma preparação intensa, assim como desenvolver habilidades que lhe permitam sobreviver no ambiente competitivo e avaliar níveis de concorrência para definição de estratégias de comercialização de seus produtos ou serviços. Ao adquirir os conhecimentos sobre as operações do agronegócio mundial quanto a conceitos comuns em outros países e conhecer a característica dos modais de transporte, o aluno estará capacitado a gerenciar operações logísticas no agronegócio, tanto na exportação quanto na importação. Apresentaremos, assim, as abordagens do mercado internacional do agronegócio e as políticas comerciais estratégicas, as relações econômicas internacionais do Brasil e a sua evolução recente e, finalmente, os sistemas de transportes envolvidos no mercado internacional e sua evolução. Esta disciplina tem como objetivo principal levar ao conhecimento da classe acadêmica, de forma objetiva, os aspectos que cercam a agricultura internacional e o meio ambiente, discutindo as questões ligadas ao desenvolvimento econômico do País, com enfoque na agricultura, abordando aspectos econômicos, sociais e políticos desse processo. Cabe à disciplina fornecer elementos para que você tenha conhecimento, forme habilidades para entender o mercado internacional do agronegócio e saiba agir, analisar, fazer julgamentos profissionais. Inicialmente, iremos estudar o campo da agricultura e domeio ambiente, assim como os principais conceitos econômicos e a produção de diversos tipos de produtos do agronegócio mundial, comparando as produções existentes. Com essa base conceitual, iremos estudar os instrumentos econômicos de política ambiental, o comércio internacional e o meio ambiente e, finalmente, inovação, meio ambiente e competitividade, com seus impactos sociais e econômicos. Bom estudo! INTRODUÇÃO Agricultura, palavra que vem do latim, cujo prefixo agro tem origem no verbete latino agru, significa terra cultivada ou cultivável. A palavra agricultura vem do latim agricultura, composta por ager (campo, território) e cultura (cultivo), no sentido estrito de cultivo do solo. 10 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 O campo de estudo das Ciências Agrícolas é bastante antigo, tanto quanto o cultivo do solo pelo homem, e seu objetivo é desenvolver, por meio de pesquisas, técnicas que melhoram a produtividade, como a seleção de variedades resistentes, o desenvolvimento de agrotóxicos e o melhor modo de usá‑los, o manejo de irrigação e o controle das características do solo, entre outras, que estão fortemente relacionadas com o local onde serão aplicadas, visando muitas vezes à modificação do meio para alcançar os resultados esperados. A Agronomia é definida como um campo de estudo multidisciplinar que reúne princípios aplicados de diversas ciências das áreas de exatas, naturais, econômicas e sociais para atender a variados objetivos de melhorias da agricultura, como o aumento de produtividade e, mais recentemente, o manejo sustentado, além de outros objetivos. Devido a essa variedade de objetivos, a agronomia costuma ser dividida em ramos como agricultura, pecuária, silvicultura, piscicultura etc. Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Essa forma de desenvolvimento socioeconômico pressupõe a utilização de formas mais racionais de exploração da natureza. A noção de desenvolvimento sustentável inclui todos os aspectos que estão embutidos no conceito de desenvolvimento econômico, mas carrega consigo maior preocupação com o homem e com a manutenção de sua qualidade de vida. O Brundtland Report aborda o desenvolvimento sustentável da seguinte maneira: “A humanidade tem a capacidade de tornar o desenvolvimento sustentável para garantir que ele atenda a necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987, tradução nossa). Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas em 1983, e foi usada pela primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. 11 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE Unidade I 1 O CAMPO DE ESTUDO DA AGRICULTURA E DO MEIO AMBIENTE Na prática, a Agronomia é a ciência que estuda solo, planta, clima e interação desses fatores para ter mais eficiência em produção e produtividade, com o menor custo possível, respeitando as leis naturais e de preservação ambiental, pois sem preservar os recursos eles não durarão por muito tempo. Figura 1 – Agricultura Alvin Toffler, autor do livro A Terceira Onda (2007), denominou de primeira onda a sociedade que, em seu princípio era predominantemente nômade. Depois, há aproximadamente 10 mil anos, com a prática agrícola, o homem destacou‑se dos outros animais pela sua relação com a natureza, selecionando algumas espécies pelo seu valor alimentício ou pela sua utilidade como fonte de matéria‑prima. Essa mudança no ecossistema não acarretou desequilíbrio ambiental, uma vez que, acredita‑se, eram utilizadas práticas como as rotações de cultura, que asseguravam a manutenção de diversificadas áreas agrícolas, havendo mescla entre florestas e matas, embora as práticas fossem extremamente rudimentares e apresentassem baixa produtividade. Nessa primeira onda, o que “produzia” a riqueza era a terra. Mais tarde, ocorreu o que Toffler (2007) chamou de segunda onda, simbolizada pela Revolução Industrial, a partir do século XVIII. Iniciou‑se uma nova era dessa relação entre o homem e a natureza. A industrialização transformou as relações sociais, e houve um grande desenvolvimento de inovações. Nesse período, surgiram o motor a vapor; o semeador mecânico; o tear manual e o mecânico; as locomotivas, com a ampliação da fabricação de aço em larga escala; o motor a explosão, impulsionado por combustão a gasolina; e o telefone. 12 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I Com isso, houve um aumento da intervenção humana no meio ambiente, gerando danos que não foram suficientes para afetar a sobrevivência de modo perceptível, retardando qualquer preocupação com práticas mais sustentáveis. Por essa razão, são necessárias não apenas medidas que visem poupar recursos naturais, amplamente utilizados desde aquela época, mas também uma mudança nos padrões de consumo da população, pois o ato de comprar diretamente relacionado à necessidade ou à sobrevivência foi altamente incentivado. Depois veio a terceira onda, que começou por volta da década de 1950, nos Estados Unidos, representando um mundo novo baseado na informação e no conhecimento. É a fase calcada no setor dos serviços, na informática, por meio dos computadores, das telecomunicações, da robótica, dos microprocessadores, fazendo que o homem se adapte a uma nova realidade. Quanto ao desenvolvimento sustentável, é fundamental e necessária a introdução de duas ideias. A primeira é como se o desenvolvimento sustentável estivesse no topo de uma pirâmide evolutiva, tendo logo abaixo o desenvolvimento econômico e, na base da pirâmide, o crescimento econômico. Desenvolvimento sustentável Desenvolvimento econômico Crescimento econômico Figura 2 – Pirâmide evolutiva do crescimento econômico A segunda é que se coloca, muitas vezes, o crescimento econômico como o aumento contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) global e per capita, ao longo do tempo. Essa abordagem exclui a distribuição de renda e a preservação ambiental. Não existe, assim, uma melhoria prática sensível na vida da maioria das pessoas. Crescimento econômico é o aumento da capacidade produtiva da economia (produção de bens e serviços), definido basicamente pelo índice de crescimento anual do PIB per capita, pelo crescimento da força de trabalho, pela receita nacional poupada e investida e pelo grau de aperfeiçoamento tecnológico. Observação O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços produzidos numa determinada região, durante um período determinado. Constitui um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia. 13 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE Apenas como informação complementar, segue gráfico com os principais países do mundo em ordem de PIB, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI, 2015): Estados Unidos China Japão Alemanha Reino Unido França Índia Brasil Itália Rússia US$ 18.124.731 11.211.928 4.210.363 3.413.483 2.853.357 2.469.530 2.308.018 1.903.934 1.842.835 1.175.996 20.000.000 18.000.000 16.000.000 14.000.00012.000.000 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 Va lo re s ( em b ilh õe s d e US $) Figura 3 – PIB mundial: principais países Ao mesmo tempo que os recursos naturais vão se esgotando, a população mundial não para de crescer. Até 2050, nas estimativas mais otimistas, 9,5 bilhões de pessoas estarão neste planeta. Nas estimativas mais pessimistas, poderemos atingir 10,3 bilhões de pessoas, a consumir tudo o que se produz. A Teoria Populacional Malthusiana foi desenvolvida pelo britânico Thomas Malthus, economista, estatístico, demógrafo e estudioso das Ciências Sociais. Malthus dizia que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética. Pelo gráfico a seguir, de acordo com dados da ONU ([s.d.]a), podemos verificar a evolução ocorrida desde o ano 1. 14 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I 0 2.000.000 1 15 00 17 50 18 00 18 50 19 00 19 50 19 55 19 60 19 65 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 20 20 20 50 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 2050; 9.550.945 2020; 7.716.749 Figura 4 – Evolução da população mundial: 1 d.C. a 2050 d.C. (em milhões) Observe o crescimento populacional humano em bilhões de habitantes a partir de 1860 até os dias de hoje: • 1 a 2 bilhões de pessoas entre 1850 e 1925 (75 anos). • 2 a 3 bilhões de pessoas entre 1925 e 1962 (37 anos). • 3 a 4 bilhões de pessoas entre 1962 e 1975 (13 anos). • 4 a 5 bilhões de pessoas entre 1975 e 1985 (10 anos). • 5 a 6 bilhões de pessoas entre 1985 e 1994 (9 anos). • 6 a 7 bilhões de pessoas entre 1994 e 2011 (17 anos). Forma‑se o conceito de desenvolvimento econômico, que pode ser definido como: “além das mudanças de caráter quantitativo dos níveis do produto nacional, as modificações que alteram a composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia”. Caracteriza‑se pelo aumento sustentável da produtividade ou da renda por habitante, acompanhado por sistemático processo de acumulação de capital e incorporação de progresso técnico. É o crescimento econômico (aumento do PIB per capita), acompanhado pela melhoria da qualidade de vida da população e por alterações profundas na estrutura econômica. Então, crescimento econômico e desenvolvimento econômico são duas situações distintas. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), A sustentabilidade envolve desenvolvimento econômico, social e respeito ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais. De acordo com o relatório 15 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU em 1983, o desenvolvimento sustentável visa “ao atendimento das necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às próprias necessidades”. A mudança de paradigmas estabelece um novo cenário para o processo de desenvolvimento das atividades agrícolas, florestais e pecuárias. É, portanto, a partir da observação da realidade local, que o Ministério da Agricultura desenvolve e estimula as boas práticas agropecuárias privilegiando os aspectos sociais, econômicos, culturais, bióticos e ambientais. Nesse caso, estão incluídos sistemas de produção integrada, de plantio direto, agricultura orgânica, integração lavoura‑pecuária‑floresta plantada, conservação do solo e recuperação de áreas degradadas (BRASIL, [s.d.]f). Mas não são apenas a agricultura e a pecuária que degradam o meio ambiente. Devemos ter a noção de que o produto agrícola não é vendido na porta das fazendas: é entregue nas mãos do consumidor, depois de passar por muitos intermediários. Nessa transição entre a produção e o consumo, temos de entender o conceito de agronegócio. Esse conceito foi desenvolvido por John Davis e Ray Goldberg, pesquisadores da Universidade de Harvard. Nasceu com a expressão agribusiness, nos EUA, em 1955. O agronegócio pode ser conceituado como [...] a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas unidades agrícolas; e o armazenamento, processamento e distribuição de produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles (DAVIS; GOLDBERG, 1957). Assim, cabe o conceito de cadeia produtiva, que é definida como [...] uma sequência de operações interdependentes que têm por objetivo produzir, modificar e distribuir um produto. Ações correlatas às da cadeia do produto, tais como pesquisa, serviços financeiros, serviços de transporte e de informação, são também importantes para o estudo (ZYLBERSZTAJN; FARINA; SANTOS, 1993). Podemos considerar a cadeia produtiva como um conjunto de fases sucessivas pelas quais os insumos passam e vão sendo transformados e transferidos, desde a exploração da matéria‑prima, em seu meio ambiente natural, até o seu retorno à natureza, passando pelos processos produtivos, consumo, reciclagem, reúso, desmanche ou eliminação de resíduos. Entendendo a cadeia produtiva do agronegócio, o antes da porteira diz respeito à aquisição de sementes, fertilizantes, agroquímicos, tratores e máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação, 16 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I embalagens etc.; depois temos o dentro da porteira, representado pela produção propriamente dita (café, soja, milho, arroz, feijão, hortifrutigranjeiros, florestas plantadas, pecuária, entre outras) e finalmente o depois da porteira, que incluí beneficiamento dos produtos do agronegócio, transporte, armazenamento, processamento ou industrialização, comercialização e consumo. Ao se analisar a cadeia produtiva, é muito importante buscar uma estratégia de posicionamento. Esta tem por objetivo a busca de qualquer diferença na atuação na cadeia de valor que resulte em maior participação na distribuição do valor adicionado pela cadeia de valor. A organização, por meio da estratégia de posicionamento, muda sua relação com as demais empresas do negócio. Pertence ao escopo da estratégia de posicionamento tudo aquilo que, dentro do mesmo negócio, afete oponentes ou concorrentes. • Concorrente é toda e qualquer empresa que dispute o mesmo consumidor ou o mesmo segmento de mercado numa cadeia de fornecimento. • Oponente é toda empresa que opere na mesma cadeia de fornecimento, não disputando, porém, o mesmo consumidor. O que se deve entender, também, é que grande parte dos produtos do agronegócio é considerada commodity (termo inglês que significa mercadoria), produzida em larga escala e comercializada em nível mundial. Commodities são bens fungíveis, ou seja, são produtos iguais, que possuem a capacidade de ser substituíveis, sem uma exclusividade que os impeça de ser repostos por algo da mesma espécie, que podem ser trocados, independentemente de quem os produza, empresa ou país. O termo é usado normalmente para descrever produtos de baixo valor agregado, mas não significa sem importância. No mercado financeiro, o termo se refere às transações de matéria‑prima, ou financeiras, de muita importância para a economia internacional. Hoje temos quatro tipos de commodities: • Commodities agrícolas: soja, suco de laranja congelado, cacau, trigo, algodão, borracha, café etc. • Commodities minerais: minério de ferro, alumínio, petróleo e seus derivados, ouro, níquel, prata, cobre, estanho, zinco etc. • Commodities financeiras: títulos públicos degovernos federais, moedas negociadas em vários mercados etc. Envolvem também índices financeiros, taxa de juros, letras financeiras, que são títulos emitidos por instituições financeiras, cédulas de crédito imobiliário etc. • Commodities ambientais: produtos que são providos dos recursos naturais que estão sendo explorados em condições nas quais a sustentabilidade seja observada, para que não estejam um dia em falta para o perfeito funcionamento da agricultura ou mesmo da indústria. São sete as matrizes que geram as commodities ambientais: água, madeira, 17 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE minério, energia, biodiversidade, reciclagem e controle da emissão dos poluentes, conhecido como créditos de carbono. Commodities são negociadas no mercado físico, para exportação ou mercado interno, e nos mercados derivativos das Bolsas de Valores e contratos futuros, por isso seus valores são negociados em nível global – por exemplo, pelas bolsas: • Chicago Board of Trade (CBOT). • Chicago Mercantile Exchange (CME). • Euronext.liffe (LIFFE). • London Metal Exchange (LME). • New York Mercantile Exchange (NYMEX). • National Commodity & Derivatives Exchange Limited (NCDELX). • Multi Commodity Exchange (MCX). No Brasil, a principal e única Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros em operação no Brasil, a BM&FBovespa, criada em maio de 2008 com a integração da BM&F (Bolsa de Derivativos) e da Bovespa (Bolsa de Ações), é a instituição brasileira de intermediação para operações no mercado de capitais. A companhia desenvolve, implanta e provê sistemas para negociação de ações, derivativos de ações, derivativos financeiros, títulos de renda fixa, títulos públicos federais, moedas à vista e commodities agropecuárias. Segundo definição do Banco Central do Brasil, As bolsas de mercadorias e futuros são associações privadas civis, com objetivo de efetuar o registro, a compensação e a liquidação, física e financeira, das operações realizadas em pregão ou em sistema eletrônico. Para tanto, devem desenvolver, organizar e operacionalizar um mercado de derivativos livre e transparente, que proporcione aos agentes econômicos a oportunidade de efetuarem operações de hedging (proteção) ante flutuações de preço de commodities agropecuárias, índices, taxas de juro, moedas e metais, bem como de todo e qualquer instrumento ou variável macroeconômica cuja incerteza de preço no futuro possa influenciar negativamente suas atividades. Possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa e são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (BANCO CENTRAL DO BRASIL, [s.d.]). Se por um lado o país – e as empresas – se beneficiam do comércio dessas mercadorias por meio das Bolsas de Mercadorias, pois podem encontrar um comprador em qualquer lugar do mundo, por outro, torna o país dependente dos preços estabelecidos internacionalmente nessas Bolsas. 18 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I Quando se constata uma alta demanda internacional por determinado produto, os preços sobem, as empresas produtoras ou vendedoras lucram muito e o país recebe mais divisas no comércio internacional. Já num quadro de recessão, as commodities se desvalorizam, prejudicando os lucros das empresas e, por consequência, o valor de suas ações negociadas em Bolsa de Valores, e o país recebe menos divisas pelos produtos exportados. Entretanto, o atual modelo de desenvolvimento e, sobretudo, o padrão agrícola adotado desde a chamada Revolução Verde têm contribuído para um cenário de degradação ambiental. A agricultura, que em última instância é a intervenção humana para a obtenção de alimentos e de outros produtos de interesse humano, tornou‑se sinônimo de destruição e de poluição. A Revolução Verde fundamentava‑se na melhoria do desempenho dos índices de produtividade agrícola, por meio da substituição de produção local ou tradicional (conhecidos também como agricultura familiar) por um conjunto de práticas tecnológicas com variedades vegetais geneticamente melhoradas e mais exigentes em fertilizantes químicos de alta solubilidade, agrotóxicos com maior poder, irrigação e motomecanização. Vivemos um tempo em que é fundamental repensar a agricultura, transformando‑a de atividade “degradadora” do meio ambiente em atividade promotora do desenvolvimento sustentável. Para isso, é preciso desconstruir uma série de conceitos e noções que subsidiam as políticas públicas para a agricultura mundial, incrementada pelo modelo de crescimento econômico sustentado pelas desigualdades regionais, que acabou por instalar, em grande parte do planeta, uma crise social. Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos, ou seja, extinguem‑se. O planeta é único, não podemos multiplicá‑lo para a produção de nenhuma matéria‑prima ou para a acomodação da população. Quando determinado minério acaba em uma mina, não há como obtê‑lo do mesmo local. É necessário buscar o mesmo minério em outras fontes. Mesmo que se encontre uma nova mina, ela também um dia vai se esgotar. Se a extração de minérios continuar como está, a humanidade certamente verá uma ameaça para a sua prosperidade, pois alguns minérios possuem, com base em reservas existentes hoje, data para se esgotar. Dentre eles, podemos citar o petróleo, o ouro, o estanho e o níquel. As previsões são de que não ultrapassarão o ano de 2050. No agronegócio, temos o mesmo problema. Não podemos e não devemos ampliar as fronteiras de produção indefinidamente, pois ao buscarmos novas áreas de plantio ou de pastagens, derrubamos florestas ou destruímos a biodiversidade de determinado local. Apenas 12% das terras do planeta são cultiváveis. O cerrado brasileiro, a savana mais rica do mundo, com 5% da biodiversidade do planeta, segundo dados de 2012, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), está seriamente ameaçado por já ter perdido quase metade de sua cobertura vegetal original, e já foi desmatado um total de 975,7 mil quilômetros quadrados, quase metade da área total do bioma. A degradação da vegetação remanescente ameaça a 19 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE qualidade dos recursos hídricos, e 132 espécies da flora estão ameaçadas de extinção. Mato Grosso é o estado que mais desmatou, somando quase 359 mil quilômetros quadrados, e o município campeão em desmatamento é Formosa do Rio Preto, na Bahia, com 16.186 quilômetros quadrados (BRASIL, 2012b). As principais transformações ocorridas na agricultura mundial tiveram início com a Revolução Verde, iniciada após o fim da Segunda Guerra Mundial, e seguram a partir do início da década de 1990, marcada pela globalização econômica e pela constituição de grandes empresas, agroindústrias e varejistas. Mas qual é a sustentabilidade de um projeto com base em monoculturas e que faz uso, em grande escala, de fertilizantes, agrotóxicos e insumos de alto custo, além dos danos ao meio ambiente decorrentes do avanço das fronteiras agrícolas? A Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu, em seu período de sessões de 1990, o Comitê Intergovernamental de Negociação para a Convenção‑Quadro sobre Mudança do Clima (CIN/CQMC), ao qual encomendou a redação de uma convenção‑quadro. Os representantes de mais de 150 países se encontraram durante cinco reuniões celebradas entre fevereiro de 1991 e maio de 1992 e, finalmente, em 9 de maio de 1992, foi adotada a Convenção‑Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima na Sede das Nações Unidas (Nova York).A questão da relação entre o meio ambiente e o comércio internacional ganhou importância a partir da Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, vinte anos após a realização da Conferência de Estocolmo, realizada em junho de 1972, a primeira conferência sobre o meio ambiente, quando representantes de 108 países do mundo reuniram‑se para decidir que medidas tomar para conseguir diminuir a degradação ambiental e garantir a existência de outras gerações. Naquela época, dois processos se desenvolviam de maneira simultânea. Concomitantemente se discutiam mecanismos por meio dos quais se pudesse promover o desenvolvimento sustentável e preservar o meio ambiente. Buscava‑se a dinamização do comércio internacional, com a abertura de mercados e o livre‑comércio, no contexto de vários foros negociadores internacionais, como a Rodada Uruguai da Organização Mundial do Comércio (OMC); o Tratado Norte‑Americano de Livre‑Comércio (North American Free Trade Agreement – Nafta); o Mercado Comum do Sul (Mercosul); e a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O debate sobre a relação entre o comércio internacional e o meio ambiente ganhou atenção no aspecto internacional a partir do momento em que cientistas passaram a alertar governos e sociedade civil a respeito dos possíveis impactos sobre o planeta, do aumento da poluição atmosférica, o chamado efeito estufa, e da poluição de rios e mares. Observação Conta‑se que Mahatma Gandhi, ao ser perguntado se, depois da independência, a Índia perseguiria o estilo de vida britânico, teria respondido: “[...] a Grã‑Bretanha precisou de metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam necessários 20 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?”. A sabedoria de Gandhi indicava que os modelos de desenvolvimento precisam mudar. Os estilos de vida das nações ricas e a economia mundial devem ser reestruturados para levar em consideração o meio ambiente. Segundo o WWF ([s.d.]), nos últimos 45 anos, a demanda pelos recursos naturais do planeta dobrou. Esse aumento se deve, principalmente, à elevação do padrão de vida das nações ricas e emergentes e ao crescimento demográfico dos países pobres. A população africana triplicou nas últimas quatro décadas. O crescimento econômico dos países em desenvolvimento, como a China e a Índia, vem aumentando em ritmo frenético a necessidade de matérias‑primas para as indústrias. China e Estados Unidos, juntos, consomem quase metade das riquezas naturais da Terra. O impacto ambiental da China se explica pela demanda de sua imensa população e, nos Estados Unidos, pelo elevado nível de consumo. O mundo já consome 25% a mais de recursos naturais que a capacidade de regeneração do planeta. Se o modelo norte‑americano fosse igualmente incorporado pelo Brics, sigla que reúne os cinco maiores países em desenvolvimento (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), responsáveis por mais de 65% da população mundial, necessitaríamos de mais três planetas como este para consumirmos. Mas não é só da terra que temos de tratar. A agricultura consome 70% da água doce disponível no planeta, para irrigação. A escassez de água irá resultar no aumento da concorrência, que vai restringir a produção agrícola e afetar os rendimentos e as oportunidades de subsistência de muitos moradores em áreas rurais e urbanas. Mecanismos de governança inovadores e mais eficazes, juntamente com investimentos em tecnologias de água e infraestrutura, serão necessárias para mitigar os impactos da crescente escassez de água e garantir a sua utilização eficaz, a proteção do ambiente natural e o acesso à água para uso doméstico e agrícola. Pelas análises dos últimos relatórios divulgados pela ONU, o uso da água tem crescido a uma taxa duas vezes maior do que o crescimento da população ao longo no último século. A tendência é que o gasto seja elevado em até 50% até 2025 nos países em desenvolvimento e em 18% nos países desenvolvidos. Conhecido como Overshoot Day (Dia da Sobrecarga da Terra), 20 de agosto de 2013 foi a data aproximada em que a demanda anual da humanidade sobre a natureza ultrapassou a capacidade de renovação possível, de acordo com a WWF ([s.d.]). Portanto, nossa conta está descoberta, estamos em nosso “cheque especial” com a natureza. Fonte: WWF [s.d.]. Adaptado. 21 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE Anteriormente, vimos que o agronegócio é dividido em várias áreas de estudo. Agora, mostraremos cada uma dessas áreas mais detalhadamente. 1.1 O segmento antes da porteira Diz respeito à produção e aquisição, pelo produtor, de sementes, mudas, fertilizantes, agroquímicos, tratores e implementos, equipamentos de irrigação, embalagens etc. 1.1.1 Sementes e mudas Segundo o Mapa, A produção, o comércio, a exportação, a importação e outras atividades relacionadas a sementes e mudas no Brasil são regidas pela Lei nº 10.711/03, que instituiu o Sistema Nacional de Sementes e Mudas, regulamentada pelo Decreto nº 5.153/04. Para produzir, exportar, importar sementes ou mudas é necessário estar inscrito no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), além do Registro Nacional de Cultivares (RNC). Para produzir sementes de cultivares protegidas, inscritas no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), é necessária autorização do detentor dos direitos de propriedade intelectual. Os procedimentos para a exportação e importação de sementes e mudas são detalhados na Instrução Normativa 50/06. A importação e exportação de qualquer quantidade de sementes ou mudas precisam de autorização prévia do Ministério da Agricultura, inclusive para os materiais despachados via postal e aqueles transportados por passageiros em trânsito internacional. O primeiro passo para quem deseja produzir, exportar, importar ou realizar qualquer atividade relacionada com sementes e mudas é procurar a orientação do setor de sementes e mudas da Superintendência Federal de Agricultura (BRASIL, [s.d.]g). Saiba mais Caso tenha interesse em obter dados sobre a produção de sementes no Brasil, verifique o site da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem): ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SEMENTES E MUDAS – ABRASEM. Estatísticas. [s.d.]. Disponível em: <http://www.abrasem.com.br/site/ estatisticas/>. Acesso em: 10 jul. 2015. 22 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I 1.1.2 Fertilizantes Dentre os vários fatores da produção agrícola, a adubação racional e eficiente representa uma razoável parcela nos custos de produção, pois constitui os insumos mais importantes, em termos percentuais, para aumentar a produtividade das culturas. É muito relevante que a eficiência da adubação não dependa apenas das quantidades a serem aplicadas: os adubos devem ser usados corretamente, de modo que atinja alta eficiência. Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) (2013), o Brasil é o quarto maior consumidor mundial de nutrientes para a formulação de fertilizantes, representando cerca de 5,9% do consumo mundial, ficando atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos. Os fertilizantes são classificados em: • Adubos minerais: extraídos de minas e transformados por indústrias químicas. São diretamente assimilados pelas plantas ou sofrem apenas pequenas transformações no solo para serem absorvidos. Podem conter apenas um elemento ou mais de um. Os principais elementos fertilizantes são: nitrogênio (indispensávelpara a fotossíntese, favorece o rápido crescimento das plantas e o desenvolvimento das folhagens), fósforo (atua na raiz e permite que as plantas explorem maior área do solo, aproveitando melhor os nutrientes) e potássio (atua na circulação interna dos líquidos da planta e é fundamental para a qualidade dos frutos). • Fertilizantes orgânicos: são resíduos animais ou vegetais, de ação mais lenta que os minerais, visto que necessitam de transformações maiores (serem desmontados em compostos inorgânicos) antes de serem utilizados pelos vegetais. Vejamos a seguir como estão a produção e a importação de fertilizantes químicos no Brasil. Tabela 1 – Brasil: produção e importação de fertilizantes (2009‑2014)* Produto 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Produção 8.372,6 9.339,9 9.860,8 9.722,3 9.304,7 8.817,7 Importação 11.020,8 15.282,5 19.851,1 19.545,2 21.618,8 24.035,6 Entregas 23.579,6 25.302,2 28.655,9 29.757,7 31.081,9 32.209,1 *Em milhares de toneladas. Fonte: Anda ([s.d.]a). 23 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE Quanto ao consumo de fertilizantes por cultura, temos a seguinte distribuição, de acordo com a Anda (2013): Soja Milho Cana Algodão Arroz Café Fumo Citrus Outros t 11,49 5,17 4,58 1,32 0,65 1,76 0,4 0,35 4,6 14 12 10 8 6 4 2 0 M ilh õe s d e to ne la da s Figura 5 – Consumo de fertilizantes por cultura no Brasil (2013) A comercialização de fertilizantes no Brasil é feita por produto produzido/misturado, ensacado e transportado da origem até distribuidores e daí até as fazendas, em sua maioria, pelo uso do modal rodoviário. 1.1.3 Máquinas e implementos agrícolas A conceituação e a normalização das máquinas agrícolas são feitas pela norma ABNT/CB‑203, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), abrangendo tratores, máquinas, sistemas, acessórios e equipamentos utilizados na agricultura e na silvicultura, bem como em jardinagem, paisagismo, irrigação e outras áreas correlatas que utilizem esses equipamentos, incluindo aspectos de eletroeletrônica e identificação eletrônica de todas as categorias de animais. A seguir, definições de acordo com essas normas: • Operação agrícola: toda atividade direta e permanentemente relacionada com a execução do trabalho de produção agropecuária. • Máquina agrícola: projetada especificamente para realizar integralmente ou coadjuvar a execução da operação agrícola. • Implemento agrícola: implemento ou sistema mecânico, com movimento próprio ou induzido, em sua forma mais simples, cujos órgãos componentes não apresentam movimentos relativos. 24 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I • Ferramenta agrícola: implemento em sua forma mais simples, o qual entra em contato direto com o material trabalhado, acionado por uma fonte de potência qualquer. • Máquina combinada ou conjugada: possui, em sua estrutura básica, órgãos ativos que permitem realizar, simultaneamente ou não, várias operações agrícolas. • Acessórios: órgãos mecânicos ou ativos que, acoplados à máquina agrícola ou ao implemento, permitem tanto aprimoramento do desempenho quanto execução de operações diferentes daquelas para as quais foram projetados. Quanto à classificação das máquinas agrícolas, elas são divididas em grupos, especificados na sequência: • Grupo 1 – Máquinas para o preparo do solo: — Máquinas para o preparo inicial do solo: usadas na limpeza do solo, ou seja, na remoção de árvores, cipós etc. Constituem‑se de destocadores, serras, lâminas empurradoras, lâminas niveladoras, escavadeiras e perfuradoras. — Máquinas para o preparo periódico do solo: usadas na movimentação ou na mobilização do solo (inversão de leiva). Constituem‑se de arados de aivecas, arados de discos, subsoladores, enxadas rotativas, sulcadores etc. • Grupo 2 – Máquinas para semeadura, plantio e transplante: — Semeadoras, plantadoras e transplantadoras. — Cultivo mínimo ou plantio direto. • Grupo 3 – Máquinas para aplicação, carregamento e transporte de adubos e corretivos: adubadoras e carretas. • Grupo 4 – Máquinas para cultivo, desbaste e poda: cultivadores de enxadas rotativas, ceifadeiras e roçadoras. • Grupo 5 – Máquinas aplicadoras de defensivos: pulverizadores, polvilhadeiras, microatomizadoras, atomizadoras e fumigadores. • Grupo 6 – Máquinas para a colheita: colhedoras ou colheitadeiras. • Grupo 7 – Máquinas para transporte, elevação e manuseio: carroças, carretas e caminhões. • Grupo 8 – Máquinas para o processamento: — Máquinas beneficiadoras de café, milho, arroz, algodão e cana. 25 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE — Máquinas para tratamento e polimento: secadoras, classificadoras e polidoras. • Grupo 9 – Máquinas para a conservação do solo, da água e para irrigação e drenagem: — Irrigação: motobombas e aspersores. — Drenagem: retroescavadeiras e valetadeiras. • Grupo 10 – Máquinas especiais: reflorestamento – tratores florestais e filler bush (processador de madeira). • Grupo 11 – Máquinas motoras e tratores: tratores agrícolas, tratores industriais e tratores florestais. A tabela a seguir mostra o aquecimento dos ganhos do setor de máquinas e implementos agrícolas na última década. O faturamento do setor entre 2007 e 2012 passou de R$ 5.844,3 para R$ 9.906,7 milhões, um crescimento de 69,51%. A balança comercial desse setor, apesar de apresentar um saldo positivo, vem decrescendo com passar dos anos, o que permite intuir que o crescimento das demandas do setor advém do mercado interno. Tabela 2 – Setor de máquinas e implementos agrícolas (2007-2012)* Ano Faturamento(R$ milhões) Exportação (US$ milhões FOB) Importação (US$ milhões FOB) 2007 5844,3 685,9 193,2 2008 8336,7 100,16 343,1 2009 5986,2 474,6 244,1 2010 7478,7 823,1 397,0 2011 9972,9 997,1 583,3 2012 9906,7 727,1 597,4 *FOB: Free on Board (livre a bordo). Fonte: Abimaq (2012). 1.1.4 Agrotóxicos O Brasil é o maior consumidor de produtos agrotóxicos no mundo. Em decorrência de sua importância, tanto em relação à sua toxicidade quando à escala de uso no Brasil, os agrotóxicos possuem uma ampla cobertura legal no Brasil, com um grande número de normas. O referencial mais importante é a Lei nº 7.802/89, que rege o processo de registro de um produto agrotóxico, regulamentada pelo Decreto nº 4.074/02, de acordo com o MMA. 26 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I Os agrotóxicos podem ser divididos em duas categorias: • Agrícolas — Destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens e nas florestas plantadas, cujos registros são concedidos pelo Mapa, atendidas as diretrizes e as exigências dos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente. • Não agrícolas — Destinados ao uso na proteção de florestas nativas, outros ecossistemas ou ambientes hídricos, cujos registros são concedidos pelo MMA/Ibama, atendidas as diretrizes e as exigências dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Saúde. — Destinados ao uso em ambientes urbanos e industriais, domiciliares, públicos ou coletivos, ao tratamento de água e ao uso em campanhas de saúde pública – cujos registros são concedidos pelo Ministério da Saúde/Anvisa, atendidas as diretrizes e as exigências dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. O artigo 15 da Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, determina que aquele que comercializa,transporta ou usa agrotóxicos não registrados no País e em desacordo com a citada Lei pratica crime, estando sujeito à pena de reclusão de 2 a 4 anos mais multa. O inciso IX do artigo 17 da Lei nº 7.802/89 determina que, a critério do órgão competente, sejam destruídos os vegetais, partes de vegetais e alimentos e também alimentos processados com os referidos vegetais nos quais tenha havido a aplicação de agrotóxicos de uso não autorizado no Brasil (contrabandeados). O mesmo artigo legal, em seu parágrafo único, manda que a autoridade fiscalizadora faça a divulgação das sanções impostas aos infratores dessa lei. Assim, o agricultor que comprar e usar agrotóxico contrabandeado, além de ser processado criminalmente por receptação de contrabando e crime ambiental, poderá ter sua lavoura interditada (de imediato não poderá vender sua safra), e posteriormente destruída, mediante incineração. 27 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE Veja os dados a seguir, de acordo com o Sindiveg ([s.d.]): Outros: 7,20% Herbicidas: 54% Acaricidas: 1,30% Inseticidas: 26,10% Fungicidas: 11,40% Figura 6 – Tipo de agrotóxico: quantidade total vendida em 2013 Saiba mais Você pode obter estatísticas do setor de agrotóxicos por meio do site do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg): SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL (SINDIVEG). Estatísticas. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <http:// www.sindiveg.org.br/estatisticas.php>. Acesso em: 10 jul. 2015. As vendas de herbicidas em quantidade, em 2013, destinaram‑se, principalmente, para soja (49,4%), cana‑de‑açúcar (12,9%), milho safra (8,0%) e safrinha (10,0%), pastagem (5,1%) e algodão (4,2%). A classe de defensivos de maior acréscimo nas vendas em quantidade de produto comercial foi a dos fungicidas, que, em 2014, aumentou 17,2% em relação ao ano anterior, seguida de outras com incremento de 11,8%. Por sua vez, decresceram as vendas de acaricidas e herbicidas (ambas com 2,2%) e inseticidas (1,0%) no referido período. O mercado brasileiro de defensivos agrícolas totalizou US$ 12,249 bilhões em 2014, contra US$ 11,454 bilhões em 2013, representando aumento de 6,9% em 12 meses. As vendas em valor cresceram 12,2% para os fungicidas, 7,4% para os inseticidas e 4,4% para os herbicidas, enquanto a dos acaricidas decresceu 1,5%. 28 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I No Brasil, em 2014, a classe de inseticidas foi a que respondeu pelo maior valor das vendas, sendo responsável por 39,9% do faturamento total, ou seja, US$4,89 bilhões. Para a soja, destinou‑se a maior parte das vendas (60,3%), seguida de algodão, cana‑de‑açúcar, milho safrinha, café, milho safra, feijão, batata‑inglesa e culturas de inverno. Em quantidade de produto comercial, os inseticidas representaram 25,5% do total. Destaque‑se que do total de inseticidas comercializados (232.692 toneladas), 97,4% foram de inseticidas de aplicação foliar (226.684 toneladas) e 2,6% (6.008 toneladas) foram para tratamento de sementes. A comercialização de fungicidas, em 2014, movimentou US$ 2,91 bilhões no Brasil, o que correspondeu a 120.712 toneladas de produto comercial e 36.328 toneladas de ingrediente ativo. Observou‑se que 95,7% dos fungicidas vendidos, em produto comercial, foram para aplicação foliar, e o restante, para tratamento de sementes. As vendas de fungicidas em valor destinaram‑se, principalmente, para soja (62,6%), milho safrinha, culturas de inverno, algodão, café, feijão e batata‑inglesa. Em 2014, os herbicidas movimentaram US$ 3,90 bilhões, ou seja, 31,9% do faturamento total do setor, respondendo por 52,2% (476.860 toneladas) da quantidade total vendida em produto comercial, assim distribuídas: 347.780 toneladas e 129.080 toneladas de herbicidas não seletivos e seletivos, respectivamente. As vendas de herbicidas, em quantidade, destinaram‑se, principalmente, para soja (53,7%), cana‑de‑açúcar (12,4%), milho safrinha (8,7%) e safra (5,9%), pastagem (5,4%) e algodão (3,6%). Sobre o descarte de resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, deve ser realizado seguindo o disposto na legislação. O descarte indevido de resíduos de agrotóxicos pode resultar em sérios danos ao homem, aos animais e ao ambiente. Os resíduos incluem restos de agrotóxicos, embalagens vazias e produtos contaminados com os agrotóxicos. Os acaricidas, em 2014, foram responsáveis por 1,0% (US$ 116,99 milhões) do faturamento total do setor. O consumo de acaricidas no Brasil, em produto comercial, está mais da metade concentrado em São Paulo, tendo representado, em 2014, 54,4% (6.116 toneladas) do total das vendas brasileiras em quantidade de produto comercial e 44,1% (US$ 51,56 milhões) do faturamento dessa classe. Respondeu a citricultura de São Paulo por 47,9% do valor comercializado de acaricidas, situando‑se nesse estado a maior área colhida com laranja no Brasil. Em 2014, a soja foi a principal consumidora de defensivos no Brasil, sendo responsável por 55,6% (US$ 6,80 bilhões) do valor total das vendas. A cana‑de‑açúcar ocupou a segunda posição, com vendas de US$ 1,03 bilhão (participação de 8,4%), e queda de 11,0% em relação a 2013, refletindo o alto endividamento que carrega o segmento. Em seguida, aparecem o algodão (7,5%), o milho safrinha (5,3%) e o milho safra (3,5%). Somadas, as vendas para essas culturas concentram cerca de 80% do valor total comercializado no país. Culturas de inverno, café e pastagem demandaram 2,8%, 2,5% e 2,4%, respectivamente. O mercado brasileiro, em 2014, comercializou o valor total de US$ 12,25 bilhões em defensivos. No ranking das vendas, em valor, por unidade da Federação, Mato Grosso destacou‑se como o maior estado consumidor em 2014, tendo representado 21,0%, ou seja, US$ 2,57 bilhões (193.240 toneladas de produto comercial). Em seguida, aparecem Rio Grande do Sul (12,9%), Paraná (12,8%), 29 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE São Paulo (12,1%), Goiás (10,3%), Minas Gerais (8,3%), Bahia (6,0%) e Mato Grosso do Sul (5,7%). As demais unidades da Federação, juntas, responderam por 10,9% do valor total. Nesse mercado, 48,7% do valor comercializado foi dos genéricos (US$ 5,96 bilhões), e 51,3% (US$ 6,29 bilhões), das especialidades. Constatou‑se a predominância de genéricos na classe de acaricidas (72,0%), seguida de herbicidas (70,0%) e outras (64,2%). Porém, nas classes de fungicidas e inseticidas, houve a predominância das especialidades, responsáveis por 64,2% e 62,6%, respectivamente, de acordo com o Sindiveg ([s.d.]). Ressalte‑se que em 2014, em quantidade comercial de defensivos vendidos, os genéricos representaram a maior parcela (75,9%), ou seja, 694.390 toneladas de produto comercial, enquanto as especialidades ficaram com apenas 24,1% (219.830 toneladas). O Brasil continua bastante dependente das importações. Em 2014, foram importadas 418 mil toneladas de produtos técnicos e formulados, com acréscimo de 2,4% em relação ao ano anterior, assim distribuídas: 56,2% de produtos técnicos e 43,8% de formulados. A China se destacou como o principal fornecedor para o Brasil, respondendo por 26,3% do total importado, seguida de Estados Unidos (21,3%), Argentina (7,6%), Índia (6,3%), Inglaterra (5,5%), Suíça (5,0%) e Israel (4,4%). As embalagens vazias de agrotóxico devem ser encaminhadas à central de recebimento de embalagens vazias da região. A tríplice lavagem dos equipamentos e embalagens é um procedimento que deve ser seguido antes do envio da embalagem vazia a seudestino. O mesmo procedimento deve ser efetuado para a limpeza dos equipamentos usados na aplicação de agrotóxicos. Para a tríplice lavagem das embalagens de agrotóxicos, devem‑se adotar os seguintes procedimentos: • esvaziar a embalagem completamente, deixando o líquido escorrer no tanque do pulverizador; • adicionar água até 25% da capacidade da embalagem; • fechar e agitar a embalagem por 30 segundos; • verter a água da embalagem no tanque do pulverizador; • repetir o procedimento pelo menos mais duas vezes; • perfurar a embalagem para garantir que ela não será reutilizada para outros fins. 30 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I 1.1.5 Rações O Mapa é o órgão responsável pela regulamentação e fiscalização do setor de produtos destinados à alimentação animal. O estabelecimento que fabrica, fraciona, importa, exporta e comercializa rações, suplementos, premix, núcleos, alimentos para animais de companhia, ingredientes e aditivos para alimentação animal deve ser registrado no Mapa e observar a legislação vigente. A fiscalização destes estabelecimentos tem como principal objetivo garantir adequadas condições higiênico‑sanitárias nos processos de fabricação, bem como a conformidade e inocuidade dos produtos disponibilizados no mercado. E ainda a segurança e a rastreabilidade dos produtos importados e exportados. A definição das normas para fabricação e comercialização, registro e fiscalização dos produtos destinados à alimentação animal é realizada pela Coordenação de Produtos de Alimentação Animal (CPAA), do Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários, da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) e é executada pelos Fiscais Federais Agropecuários por meio de vistorias, fiscalizações e auditorias para verificação do atendimento da legislação. Os estabelecimentos devem cumprir o que determina a Instrução Normativa nº 04/2007, no que se refere às Boas Práticas de Fabricação (BPF) e condições higiênico‑sanitárias das fábricas. Os registros de produtos e estabelecimentos são realizados de acordo com as normas dispostas no Decreto nº 6.296/07, que regulamenta a Lei nº 6.198/74. Os pedidos de registros são encaminhados ao serviço responsável pela fiscalização de insumos pecuários, na Superintendência Federal de Agricultura (SFA) do estado onde se localiza a empresa e pode ser acessado por meio do Sistema Integrado de Registro de Produto e Estabelecimento (Sipe) (BRASIL, [s.d.]h). Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), o setor apresenta as seguintes estatísticas de produção, conforme tabela a seguir: Tabela 3 – Brasil: Produção de ração animal (2011‑2014) Segmento 2011 2012 2013 2014 Aves 37,20 36,30 35,80 37,00 Suínos 15,44 15,10 14,90 15,40 Gado bovino 7,80 7,40 7,50 8,00 Cães e gatos 2,17 2,26 2,38 2,49 Equinos 0,59 0,56 0,58 0,61 Aquacultura 0,57 0,65 0,74 0,81 Outros 0,80 0,75 0,80 0,83 Total rações 64,57 63,02 62,70 65,13 Sal mineral 2,35 1,95 2,00 2,20 Total geral 66,92 64,97 64,70 67,33 Fonte: Sindirações (2016). 31 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 AGRICULTURA INTERNACIONAL E O MEIO AMBIENTE 1.1.6 Vacinas e tratamentos sanitários A vacinação é um dos principais procedimentos do manejo sanitário, pois se trata de um ato extremamente importante, impedindo que enfermidades apareçam e se disseminem pela criação. O ato da vacinação é uma prática simples, mas requer alguns cuidados e certo conhecimento para a correta aplicação, evitando prejuízos aos produtores e danos aos animais. A função das vacinas é propiciar a proteção dos animais contra as enfermidades naturalmente ocorrentes na região onde o rebanho se encontra. As vacinações devem ser encaradas como parte de um programa global de manejo sanitário e devem ser planejadas para o atendimento das necessidades de cada rebanho. Fatores como idade, sexo, espécie, região geográfica e tipo de manejo determinam as vacinas a serem utilizadas. Após o estabelecimento de um programa de vacinação, ele deverá ser regularmente avaliado para se assegurar que suas metas estão sendo atingidas. Animais com histórico de vacinação desconhecido devem ser imediatamente submetidos a uma vacinação inicial, seguida de uma revacinação quatro semanas depois. O Mapa estabelece para algumas doenças um calendário nacional, como é o caso da febre aftosa, buscando períodos mais adequados para a aplicação em cada estado brasileiro. Em outras situações, existem calendários estipulados pelas secretarias estaduais de agricultura nas unidades da Federação. Às vezes, faz‑se necessária uma vacinação periódica ou a partir de determinada idade do bovino, como a vacinação contra a raiva. A febre aftosa é uma doença infecciosa causada por vírus. Ela atinge animais de cascos bipartidos, como bovinos, bubalinos, ovinos, caprinos e suínos – equinos não são afetados pela aftosa. Dá‑se em todas as idades, independentemente de sexo, raça, clima etc., porém há diferenças de suscetibilidade de espécie. O vírus da febre aftosa é altamente contagioso e pode ser transmitido pela baba do animal, que contém grande quantidade de vírus. O sangue dos animais infectados também contém grande quantidade de vírus durante a fase inicial da doença. O vírus dessa doença é muito resistente, podendo resistir por meses na medula óssea do animal (mesmo depois de morto), no pasto, na farinha de ossos e no couro. A doença também pode ser transmitida por contato indireto, por alimentos, água, ar, pássaros e humanos que cuidam dos animais, que podem levar os vírus em suas mãos, roupas ou calçados e infectar animais sadios. Quanto às outras doenças de importância na criação de bovinos com possibilidade de vacinação, como leptospirose, IBR, BVD, parainfluenza, vírus respiratório sincicial bovino, diarreia neonatal dos bezerros, pasteurelose, raiva e tétano, essas vacinações devem ser realizadas segundo a orientação do médico‑veterinário responsável pelo rebanho. 32 Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 02 /0 9/ 20 16 Unidade I Tabela 4 – Vacinas recomendadas para uso em bovinos Vacina/sigla Duração da imunidade Contra botulismo (Bo) 12 meses Contra raiva (Ra) 12 meses Contra ceratoconjutivite (Ce) 9 meses Contra gangrena gasosa (GG) 12 meses Contra carbúnculo hemático (CH) 12 meses Contra leptospirose (Le) 12 meses Contra pasteurelose (Pa) 6 meses A seguir, veremos a descrição de outras doenças. O carbúnculo é uma doença contagiosa que ataca todos os médios e grandes animais, inclusive o homem, e geralmente é mortal. Entretanto, os equídeos são menos atingidos que os ruminantes. Produzida por micróbio que se encontra, principalmente, onde já ocorreu a doença, pois seus esporos permanecem no solo por vários anos. Geralmente, esses esporos provêm de animais carbunculosos enterrados no campo sem o devido cuidado e trazidos à superfície pelas minhocas. As fezes e o sangue dos animais que estão na pastagem são infectados. É uma doença comum de animais mantidos em regime de pasto, porém pode surgir em estábulos, por feno contaminado adquirido em áreas onde ela ocorre. O botulismo é uma doença/intoxicação causada pela ingestão e absorção intestinal de toxinas produzidas por uma bactéria que acomete diferentes espécies, inclusive o homem. Com a evolução da doença, o animal não consegue mais se levantar e tem paresia (perda parcial da motricidade) dos músculos da mastigação, indicada pela incapacidade de mastigar e deglutir os alimentos. Nas fases mais adiantadas da doença, o animal apresenta dificuldade para respirar, em consequência da paralisia flácida
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