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Ocupações Irregulares em Terras Públicas

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Sistema de Ensino Presencial Conectado
SERVIÇO SOCIAL
ANTONIA MÁRCIA DE SOUZA RODRIGUES
UM ESTUDO SOBRE A PROLIFERAÇÃO DE OCUPAÇÕES IRREGULARES
 
EM TERRAS PÚBLICAS COMO MANIFESTAÇÃO DA AUSÊNCIA DE POLÍTICAS HABITACIONAIS
.
COARI - AM
2013
ANTONIA MÁRCIA DE SOUZA RODRIGUES
UM ESTUDO SOBRE A PROLIFERAÇÃO DE OCUPAÇÕES IRREGULARES
 
EM TERRAS PÚBLICAS COMO MANIFESTAÇÃO DA AUSÊNCIA DE POLÍTICAS HABITACIONAIS
.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de
 Bacharel em Serviço Social.
Orientador: Prof. 
Maria Lucimar Pereira
Professor Supervisor:
 Samara Zuleica
COARI - AM
2013
Londrina, _____de ___________de 20
___.
Dedico este trabalho de forma especial primeira mente ao meu adorado 
Deus
, aos meus amados pais: 
Antonio da Silva Rodrigues e Maria da Conceição de Souza Rodrigues
, 
e a minha amada filha:
 Isabella Rodrigues da Silva. 
agradecimentos
Reservo este espaço para agradecer as pessoas que certamente contribuíram de alguma forma não só para elaboração desse trabalho, mas também para a minha graduação. Neste sentido, agradeço:
A Deus por iluminar meus passos, por ser fonte de inspiração nos momentos difíceis e promover verdadeiras bênçãos em minha vida.
Aos meus pais Antonio da Silva Rodrigues e Maria da Conceição de Souza Rodrigues, que me proporcionaram a realização desta graduação.
A minha filha Isabella Rodrigues da Silva, que foi a motivação para que eu enfrenta- se todos os obstáculos ao longo deste curso. 
Ao meu mais que namorado Thiago Souza da Silva, por seu exemplo profissional, por tão valiosas contribuição e pelo incentivo constante.
Aos meus irmãos pelo apoio e incentivo para a concretização deste sonho.
A minha orientadora acadêmica Samara Zuleica, pelo aprendizado, ajuda, atenção, sugestões na elaboração deste trabalho e ao decorrer do curso, que sempre esteve disposta a nos ajudar nos momentos de duvidas, e por sua atuação profissional que com sua capacidade e competência soube nos ensinar, sendo um espelho como profissional. 
A todos os professores, mestres e doutores da Universidade Norte do Paraná/UNOPAR, que contribuíram com seus conhecimentos na ampliação dos meus conhecimentos.
A todos os funcionários do pólo Coari-AM, pelo belo trabalho realizado.
As minhas colegas de turma por terem me proporcionado momentos de alegria e amizades para a vida toda, enfatizando as: Ana Maria, Raimunda Nildes e Francisca Cleide, que sempre estiveram ao meu lado nessa luta.
Porque eu, o Senhor, Teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo.
(Isaías 41,13)
RODRIGUES, Antonia Márcia de Souza. Um Estudo Sobre a Proliferação de Ocupações Irregulares em Terras Públicas como Manifestação da Ausência de Políticas Habitacionais. 42 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso Graduação De Bacharelado em Serviço Social – Sistema de Ensino Presencial Conectado. Universidade Norte do Paraná, Coari - AM, 2013.
RESUMO
Esta pesquisa objetiva contribuir, com a compreensão dos aspectos que contribuem para o processo da constituição da questão habitacional, a proliferação e os problemas causados pelas ocupações irregulares, colocados como manifestação da ausência de políticas habitacionais, como fator que colabora para o crescimento dessas áreas irregulares no território brasileiro, e assim relatar a importância das políticas habitacionais para a solução da problemática abordada, transcrevendo também o serviço social e seu trabalho no combate ao problema habitacional e na garantia dos direitos da população brasileira. Tomou se como base para a aplicação da metodologia a linha de pesquisa denominada bibliográfica, procedendo ao levantamento em leitura e pesquisas. Desse modo procurou se ajudar também no auxilio a futuros estudos e pesquisas relacionados a essa problemática. O estudo salienta entender os problemas e possíveis soluções sobre as ocupações irregulares e os assuntos que norteiam a mesma, relatada de uma forma critica mais que expressa de forma verdadeira sobre a realidade das questões habitacionais no Brasil, e a falta de interesse de quem realmente pode mudar essa realidade. 
Palavras-chave: Questão Habitacional. Ocupações Irregulares. Políticas Habitacionais. Serviço Social.
RODRIGUES, Antonia Márcia de Souza. Study onthe Proliferation ofIrregularOccupationsinPublic Landsas ManifestationofAbsencePolicyHousing. 2013. 42 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso Graduação de Bacharelado em Serviço Social – Sistema de Ensino Presencial Conectado, Universidade Norte do Paraná, Coari- AM, 2013.
ABSTRACT
This research aims to contribute in a general context , with an understanding of the aspects that contribute to the process of constitution of the housing issue , and proliferation and the problems caused by illegal occupations , placed as a manifestation of the lack of housing policies , as a factor that contributes to the growth of these irregular areas in Brazil , and so report the importance of housing policies for the solution of the problem addressed , transcribing also social service and its work in tackling the problem of housing and in ensuring the rights of the population. Taken as a basis for the application of the methodology to bibliographic research line called , proceeding to the survey in reading and research . Thus also sought to help aid in the future study and research related to this problem . The study emphasizes understanding the problems and possible solutions on the illegal occupation and the issues that drive the same , reported a more critically expressed truthfully about the reality of housing issues in Brazil , and the lack of interest of those who really can change this reality.
Keywords: Housing Question. Irregular occupations.Housing policies.Social Service.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	01
2 OBJETIVOS............................................................................................................03
2.1 OBJETIVO GERAL...............................................................................................03
2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS................................................................................03
3 JUSTIFICATIVA......................................................................................................04
4 METODOLOGIA.....................................................................................................05
5 DESENVOLVIMENTO	06
5.1 CAPITULO l: A CONSTITUIÇÃO DO URBANO E A QUESTÃO HABITACIONAL NOCONXTETO BRASILEIRO	06
5.1.1 O Desenvolvimento do Espaço Urbano e sua Relação com a Questão Habitacional	06
5.1.2 O Direito a Habitação e a uma Moradia Adequada	12
5.1.3 18
5.2 CAPITOLO ll: OCUPAÇÕES IRREGULARES EM ÁREAS PÚBLICAS: ALTERNATIVA DE MORADIA EM FACE DA AUSÊNCIA DE POLÍTICAS HABITACIONAIS	23
5.2.1 Ocupação Irregular como Sinônimo de Exclusão Sócio-Territorial: A Constituição do Ilegal, Irregular e do Informal	23
5.2.2 As Implicações e Impactos Decorrentes das Ocupações Irregulares	26
5.2.3 A Questão da Regularização Fundiária e as Contribuições do Estatuto da Cidade: Soluções do Problema?.	29
5.3 CAPITULO lll: O SERVIÇO SOCIAL E A HABITAÇÃO	35
5.3.1 O Serviço Social e a Questão Habitacional no Brasil........................................35
5.3.2 O Trabalho do Profissional do Serviço Social na Área da Habitação...............37
4 CONCLUSÃO	42
REFERÊNCIAS	43
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso privilegiou como objeto de estudo a temática intitulada: Um estudo sobre a proliferação de ocupações irregulares em terras públicas como manifestação da ausência de políticas habitacionais.
O tema em torno das políticas habitacionais que através de sua ausência e ineficácia, faz com que os problemas habitacionais em ênfase as ocupações
irregulares e seus abrangentes não se solucionem, mais sim aumente, vem se constituindo ao longo do tempo com a falta de acompanhamento do poder publico que não deu nem uma assistência de infra estrutura no inicio da urbanização das cidades brasileiras, e não deu suporte de trabalho a população que sem condições de adquirir uma moradia adequada se refugiava, em áreas segregadas para habitar, fazendo com as cidades crescessem desordenadas, deixando bem claro a desigualdade social e a falta de implementação dos direitos devido a população. 
Relatando também os riscos que uma ocupação irregular traz a vida e a saúde da população e os impactos ao meio onde se encontra essas ocupações, tornando essas famílias moradoras das áreas, sinônimo de exclusão, ajudando na constituição da formação do ilegal e informal.
Enfatizando a importância das políticas publicas e principalmente a de habitação, para solucionar essa problemática habitacional, como iniciativa a regularização fundiária. Enfatizando a tarefas previstas na política de assistência em relação à moradia e o trabalho dos profissionais da área na luta de garantir esses direitos garantindo na constituição a população que sofre com violação. 
 É oportuno mencionar que o leque de investigação supracitada contemplará de forma prioritária o estudo sobre a proliferação das ocupações irregulares e seus abrangentes colados a cima. Visando permitir desse modo, um olhar holístico, objetivo, metódico e rigoroso sobre a dinâmica e as contradições que possam está velada na realidade estudada.
O principal objetivo desse trabalho é compreender os aspectos que contribuem para o processo da constituição da questão habitacional, a proliferação e os problemas causados pelas ocupações irregulares, enfatizando a ausência de políticas habitacionais, como fator que colabora para o crescimento dessas áreas irregulares no território brasileiro, a importância das políticas habitacionais para a solução da problemática abordada, e o trabalho do Serviço Social no combate ao problema habitacional e na garantia dos direitos da população brasileira. 
A metodologia utilizada para a realização do presente trabalho, a linha de pesquisa denominada bibliográfica, procedendo ao levantamento em leitura e pesquisa, sendo: artigos, livros, pesquisa, dentre outros; para dar suporte teórico ao tema abordado.
O estudo visa contextualizar os aspectos que ao passar do tempo colaboraram para o aumento desordenado das ocupações irregulares no território brasileiro, e os problemas posto por elas, visando analisar também a falta de políticas habitacionais como um dos fatores que contribuem para o aparecimento dessas questões e a importância delas para solucionar a problemática abordada, juntamente com a luta dos profissionais de assistência social para garantir moradia às famílias desprovida renda.
A relevância desse trabalho vai de encontro com a perspectiva de conhecer, a questão das ocupações irregulares como manifestação da ausência de políticas habitacionais, onde permitirá um aprofundamento dessa problemática que parte ate o universo da área do Serviço Social, bem como, a ampliação dos conhecimentos pelo assistente social em formação.
O presente trabalho estrutura- se em três capítulos, a saber: no primeiro capitulo contextualiza a constituição do urbano e a questão habitacional no contexto brasileiro. O segundo capitulo descreve a ocupações irregulares em áreas públicas: alternativa de moradia em face da ausência de políticas habitacionais. O terceiro dissertará o Serviço Social e a habitação, relatando o trabalho cotidiano dos assistentes sociais no combate a essa problemática e na luta para a garantia do direito a moradia. 
 OBJETIVOS
Geral:
Compreender os aspectos que contribuem para o processo da constituição da questão habitacional, a proliferação e os problemas causados pelas ocupações irregulares, enfatizando a ausência de políticas habitacionais, como fator que colabora para o crescimento dessas áreas irregulares no território brasileiro, oportunizando assim relatar a importância das políticas habitacionais para a solução da problemática abordada, transcrevendo também o Serviço Social e seu trabalho no combate ao problema habitacional e na garantia dos direitos da população brasileira. 
2.2 Específicos:
Contextualizar o processo urbano que ao longo do tempo tem contribuído para o crescimento desordenado das ocupações irregulares em todo o território nacional.
Analisar a ausência de políticas habitacionais como um dos fatores que contribuem para o surgimento do problema habitacional e o aumento das ocupações irregulares no país.
Enunciar os problemas causados pelo processo de desenvolvimento das ocupações irregulares não só a população mais a todo o país.
Apontar a importância do Serviço Social e seus profissionais para resolução da questão habitacional.
Definir a importância das políticas publicas, para solucionar os problemas habitacionais, e garantir o direito previsto em leis a uma moradia digna e adequada a população brasileira.
JUSTIFICATIVA
O tema em torno das políticas de habitação não é fenômeno novo e tão pouco um privilégio apenas do Brasil. O mesmo é discutido em todo o mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos, onde o crescimento desordenado das cidades ao longo do tempo contribuiu de forma significativa para o surgimento da questão habitacional no país, enfatizando para proliferação das ocupações irregulares que se apresenta como uma das maiores manifestação da ausência de políticas habitacionais: como a da falta de acompanhamento de infra-estrutura no processo de urbanização das cidades, a falta de importância com relação à desigualdade social, o descaso na pratica dos direitos a moradia e etc.
Diante desse contexto, o problema habitacional que está presente na maioria dos municípios brasileiros, que sem opção a população de baixa renda se conduz a habitar áreas irregulares, como o único jeito de possuir um teto para a sua abrigar sua família, que sem o devido acompanhamento do poder publico no inicio da urbanização brasileira, contribuindo com a triste realidade social que é a da falta de moradia adequada as famílias, muitos podendo contar para sua melhoria vida somente com quem é o próprio responsável pela suas situações de vida e habitacionalmente precária encontrada facilmente no país atualmente. 
O presente trabalho se faz necessário para analisar a necessidade de se adotarem medidas eficazes para os problemas habitacionais, ressaltando a falta de moradia adequada e o aumento das ocupações irregulares como única forma de moradia para muitos brasileiros, e pela importância desse tão precioso bem que a moradia própria e adequada. Possibilitando atentar se da importância que as políticas habitacionais têm no combate a falta de moradia adequada, sendo como a única solução para muitos brasileiros de ter acesso a uma moradia digna.
Assim a pesquisa poderá contribuir na analise sobre o surgimento da questão habitacional no Brasil, a importância que a as políticas publicas e principalmente a de habitação tem para a solução do problema e como sua ineficácia afeta a população, também servirá para compreender o valor que o Serviço Social e seu trabalho têm no combate ao problema habitacional e na garantia dos direitos da população brasileira. 
METODOLOGIA
Para embasar as discussões e estudos acerca das ocupações irregulares e das problemáticas decorrentes dessas, foram realizados levantamentos bibliográficos, pesquisa, em fontes impressas, sendo: artigos, livros, periódicos, atas, colunas, pesquisas e etc, e fontes eletrônicas sendo: consultas a internets, pendrive e outros. Tomou-se como base para a aplicação da metodologia, a linha de pesquisa denominada bibliográfica, onde se buscou conhecer e investigar in loco os fenômenos que permeiam o objeto de estudo selecionado. Objetivando evidenciar os principais motivos históricos e responsáveis por desencadear tais ocupações.
DESENVOLVIMENTO
5.1 CAPÍTULO I
A CONSTITUIÇÃO
DO URBANO E A QUESTÃO HABITACIONAL NO CONTEXTO BRASILEIRO.
5.1.1 O desenvolvimento do espaço urbano e sua relação com a questão habitacional.
A urbanização representa uma das manifestações mais significativas da atividade humana. Embora os primeiros aglomerados urbanos sejam milenares, sua universalização é um fenômeno recente na historia do planeta e seu processo de crescimento acelerado, configura um elemento complexo e problemático.
No contexto histórico o inicio desse processo se deu durante o período colonial, onde não havia uma rede de cidades, mas, alguns grandes pólos que concentravam as atividades burocráticas ligadas à administração. Não havia normas urbanísticas para as cidades brasileiras e somente as cidades mais importantes tinham algum calçamento nas ruas,o saneamento básico também nunca foi preocupação.
Em 1808 com o desembarque da família real e acompanhante, a historia começa a mudar, foram realizados aberturas de portos, produção industrial liberada, instituições de ensino superior fundadas dentre outras melhorias e liberações propiciou a passagem de colônia para país independente. A criação da Guarda Nacional ampliou ainda mais o poder dos grandes produtores rurais, que passaram a ser chamados de coronéis, tendo praticamente poder de vida e morte sobre a população. 
As disputas políticas que se estenderam por todo o Império, culminando com a Lei de Terras, a abolição da escravidão e a proclamação da Republica. As resistências às mudanças foram muito expressivas, e estas resultaram de acordos que buscavam acomodar interesses dominantes.
Seria absolutamente impossível entender a cidade colonial, sem o trabalho escravo, eles eliminavam os dejetos, abasteciam as casas de água, transportavam mercadorias e pessoas dentre muitas outras funções. Mas sendo um privilegio só das parcelas mais ricas, que podiam adquiri-la.
Foi só em 1850 que uma nova lei passou a ser cumprida, apesar das resistências. O consentimento de terras era feita mediante a uma clausula que permitia retorno a Coroa. A abundância de terras desocupadas no Brasil dispensou o rigor e para o império brasileiro o que contava mais era a capacidade de ocupá-la e produzir, dado pelo trabalho escravo. Assim a propriedade de escravos era tão importante quanto a terra.
O processo de industrialização no Brasil deu-se integrado a expansão da cultura do café, que toma impulso a partir de 1830. Foi, portanto, sob o domínio absoluto do café que o crescimento urbano/industrial se inicia, gerando uma sociedade mais diversificada, com o aparecimento da classe media formada por profissionais liberais, jornalistas, militares e etc. 
Foi apartir desse mesmo ano, que surgiu o serviço social, no inicio do processo de industrialização e urbanização no país. A emergência da profissão encontra-se relacionada à articulação dos poderes dominantes (burguesia industrial, oligarquias cafeeiras, Igreja Católica e o Estado varguista) à época, com o objetivo de controlar as insatisfações populares e frear qualquer possibilidade de avanço do comunismo no país. Mais o ensino só foi reconhecido em 1953 e a profissão foi regulamentada em 1957 com a lei 3252.
A base política continuava sendo constituída pela mesma elite agrária, aliado aos intermediários urbanos, que havia séculos dominado o pais. Mas parte dela tinha incorporado os valores positivistas de conhecimento técnico e racionalidade, refletidos no slogan que seria adotado pela Republica: Ordem e Progresso. Estado e Igreja são separados, e o registro civil de nascimento e casamento é instituído. 
Apesar de tudo, no final do século XIX, a maioria dos trabalhadores brasileiros estava no campo, alguns no setor de serviços (a maior parte em empregos domésticos) e uma minoria na indústria, o que da uma dimensão de como o setor rural ainda era dominante. 
Mas a indústria nascente aos poucos se expande, e as cidades não são mais apenas o local das atividades administrativas, comerciais, financeiras, culturais. Elas começam a ser também o local da produção.
Nas décadas de 30 e de 40, o Estado brasileiro passou a investir pesado nas indústrias, contribuindo com a produção das condições necessárias para o desenvolvimento industrial do país no pós-guerra. 
Como expõe SPÓSITO (1991) a cidade, em decorrência do processo de industrialização, cresce tanto em termos demográficos como territorialmente. A urbanização, por sua vez, toma uma nova forma, uma vez que além de ser palco do comércio e do poder (política), o espaço urbano torna-se também o lócus da produção. O aumento das cidades, propriamente, está associado diretamente à necessidade de força de trabalho em excesso, sendo essa, uma das principais condições para o acúmulo de capital a partir da indústria. 
Os imigrantes que não se dirigiram para a zona rural (ou dela fugiram para evitar o tratamento antes dispensado aos escravos), os escravos libertos e os trabalhadores brancos livres foram aos poucos se constituindo em uma massa urbana, que, por sua vez, passou a demandar produtos industriais para sua sobrevivência.
Em 1980, a maior parte da população brasileira já vivia nos centros urbanos. Conforme Souza (1988) “essa população veio a se concentrar principalmente nas regiões metropolitanas, evidenciando uma urbanização fundamentada no processo de metropolização”.
Esta urbanização rápida produz vários tipos de problemas sociais, especialmente em termos de habitação, visto que a oportunidade de emprego não acompanham as taxas de crescimento e os governos não foram capazes de prover habitação e infra estrutura suficiente para acomodar de forma adequada o crescimento populacional das cidades.
Nem todos tinham uma casa adequada para viver com dignidade. Os que não podiam pagar eram obrigados a ir para a periferia, ocupar favelas, cortiços, margens de rios e represas, ou outras áreas de risco, vivendo em moradias precárias, em áreas deterioradas da cidade. 
A urbanização brasileira se manifesta de maneira diferenciada e a modernização é outra mudança, acarretando distorções e reorganizações, variáveis segundo os lugares, mas interessando a todo o território.
Neste momento as cidades passam por um grande processo de transformação caracterizado pela realização de grandes obras e sendo orientadas pela arquitetura e pelo paisagismo, como a abertura de vias amplas, reformas, retirada de cortiços das áreas centrais, expulsão dos pobres, embelezamento da cidade, etc., são algumas das características desse momento.
Segundo Batista (2003) O próprio poder publico reforçava ainda mais a tendência de expulsão dos pobres nas áreas bem localizadas, a medida que as construções dos conjuntos habitacionais se dava nos terrenos mais baratos, resultando em expansão populacional nas áreas frágeis ou de preservação ambiental.
É neste momento também que se ampliam as correntes migratórias campo-cidade. Fluxos de população saem do campo em direção a cidade, em particular as grandes cidades, adensando sua ocupação sob condições precárias de infra estrutura e equipamentos urbanos, transferindo a pobreza do campo para a cidade.
Para a população pobre, por não ser detentora de bens lucrativos capazes de proporcionarem moradia em áreas de alto valor residencial, resta elaborar estratégias que permitam o acesso a casa, dentre eles, cortiços, sistemas de autoconstrução, conjuntos habitacionais fornecidos pelo Estado. 
Conforme Corrêa (2000) essas estratégias pressupõem uma vinculação a um agente sem, no entanto, ocasionar sua transformação da camada populacional excluída em agente modelador do espaço urbano.
Deve ser considerado que o espaço urbano tem suas distinções com relação ao uso e ocupação do solo produzindo uma ocupação caracterizada pela desigualdade. Ou seja, nas cidades as melhores áreas são ocupadas pela população de maior renda enquanto aquelas localizadas em áreas desinteressantes ao capital são destinadas a uma massa de trabalhadores de baixo ou nenhum poder de compra.
Para Corrêa (2000) é preciso pensar o espaço urbano capitalista como produto
social de ações acumuladas por agentes que o produzem e o consomem. Isso porque a, partir do momento em que a terra urbana passa a ser mercadoria seu acesso torna-se restrito àqueles que tenham a capacidade de comprá-la. Mercadoria cara, o acesso ao solo urbano torna-se cada vez mais restrito gerando um claro processo de distinção espacial na cidade.
Com o crescimento da classe trabalhadoras nas cidades e o difícil acesso a uma moradia legalizada, ampliou-se de forma sigficativa o numero de moradias em condições inadequadas e em situações de riscos. Esse fenômeno, fortemente relacionado com o processo de industrialização e urbanização.
O processo de urbanização no Brasil e caracterizado por uma forte concentração de população nas grandes metrópoles que crescem de forma desordenada nas ultimas décadas. Essas metrópoles são marcadas pela fragmentação do espaço, exclusão social e territorial e profunda desigualdade entre as áreas pobres (sem condições ideais de infra estrutura) e ares ricas, (onde estão concentrados os equipamentos urbanos).
A moradia regular, não acessível para a maioria da população das cidades, passou a ser comercializada, em um mercado cada vez mais restrito, enquanto a população pobre passou a sustentar um mercado imobiliário irregular, com características de sub mercados, com regras próprias e marcada pela insegurança de posse.
Se por um lado o mercado imobiliário formal não atende a demanda habitacional da população de baixa renda, o estado se mostrou ineficaz na provisão de políticas publicas e habitacionais. Com a seqüência o problema da moradia popular produziu soluções informais das mais variadas nas regiões metropolitanas como as favelas, cortiços, loteamentos irregulares, ocupações de ares de riscos e etc.
Segundo ROLNIK e SAULE JUNIOR (2002) sem alternativas legais de acesso a terra urbana e a moradia, a população pobre das grandes cidades foram empurradas para terrenos mais impróprios, muitas vezes em áreas ambientalmente vulnerável, marcando um processo de urbanização de riscos. 
Assim aumentando a questão habitacional e penalizando a cidade como um todo, a moradia em que esse processo se expande desordenadamente, ampliando a segregação social espacial, avançado sobre as áreas de interesse ambiental e gerando um elevado custo pela expansão da infra estrutura.
O desenvolvimento industrial, devido à abolição da escravatura e a crise da cafeeira, geraram uma fonte de atração de imigrante para a cidade sem que houvesse se uma intervenção do estado na área social.
Neste contexto, o cenário urbano vai se modificando, porem sem infra estrutura adequada para acompanhar o rápido processo de industrialização, exemplo da falta de moradia para a maioria da população. Nesse momento a questão habitacional se torna um problema resultante do processo de urbanização acelerado das cidades, sobre tudo para a classe trabalhadora, que passa a viver em habitação precária.
Essa população passou a ter como única opção de moradia os cortiços, (que se apresentaram como espaço de habitação coletiva das camadas empobrecidos) e as ocupações de áreas irregulares, dando inicio ao processo de favelização. 
Segundo ABRAMO (2002) Devido à forte concentração fundiária urbana, o cortiço passou a ser uma atitude rentista, realizada via mercado de alugues com grande rentabilidade para o especulado. 
Tal situação reflete se também na especulação imobiliária, na elevação dos preços dos imóveis e alugues e, portanto, na proliferação de favelas, afetando não só a classe popular, mais a classe média que, apesar de possuir um poder aquisitivo maior, também não escapa da crise de moradia.
O crescimento acelerado da população urbana não foi acompanhado pelo aporte de infra estrutura, saneamento e habitação, necessária para atender a uma demanda de expansão. Conseqüentemente, o crescimento das medias e grandes cidades foram desordenadas, com as rápidas expansões das habitações precárias e irregulares.
Neste contexto de inflamação populacional e inadequada gestão do território urbano, os problemas habitacionais tornam se evidentes. Esses problemas são muitos e incluem como regra a segregação espacial da população pobres em assentamentos informais, a carência de moradia, a escassez de infra estrutura, dificuldade de acesso as oportunidades de emprego produtivo e a ocupações de áreas de riscos ou legalmente protegidos. Sua materialização denota a ineficácia do poder publico no enfretamento de gestões relacionado ao acesso a moradia. 
Dessa forma, como resposta a essa postura negligente, vigora nas cidades brasileiras uma realidade habitacional marcada essencialmente, pela carência e precariedade, deixando bem claro a falta do cumprimento dos direitos constituídos por leis a uma moradia regular. Esses direitos serão relatados no próximo tópico, onde será exposto os direitos a habitação e a uma moradia adequada garantidos pela constituição e como do dever do estado.
5.1.2 O direito a habitação e a uma moradia adequada.
Depois de vermos o processo de urbanização e a forma como os problemas habitacionais surgiram, fica fácil compreender os fatores históricos que trouxeram á necessidade do reconhecimento dos direitos a população brasileira, que desde 1808 sofre com a desigualdade, daí a necessidade de entender a forma como esses direitos se constituíram e se constituem hoje na sociedade contemporânea.
Pois segundo Saposati (1998, p.37): “(...) a desigualdade, ao torna-se parte constitutiva da experiência diária de miséria e opressão na vida dessas classes articula-as e encoraja-as na conquista de seus direitos e na expressão de seus interesses”.
Portanto, foi através de lutas e reivindicações principalmente por parte da classe trabalhadora, que alguns direitos passam a ser reconhecidos como tal, sendo que no primeiro momento eles são reconhecidos somente com intuito de controlar as manifestações, posteriormente passa a ser uma questão fundamental em uma sociedade democrática para a construção da cidadania.
Dessa forma, em 1948, a Declaração dos Direitos do Homem, vai trazer uma universalidade nos campo dos direitos sendo um importante avanço para a sociedade por ser um dos primeiros documentos que traz uma proposta que alcance a todos os cidadãos de forma universal. 
Antes da Declaração dos Direitos do Homem o conceito de cidadania era reduzido, somente aqueles que se enquadravam no processo produtivo eram considerados cidadãos, acirrando assim as contradições.
Mas foi no pós-78, que no Brasil a classe trabalhadora passa a se organizar de maneira mais expressiva, através de movimentos populares, criando uma consciência coletiva que reconhece sua necessidade não como individual e sim como necessidade de uma classe, que a partir de então vão lutar para o reconhecimento de seus direitos através dos movimentos sociais.
Tendo como maior expressão dessas lutas, no Brasil, a Constituição Federal de 1988, que vem definir o papel do Estado colocando-o com o dever de garantir a proteção da sociedade. Reconhecendo e legitimando muitos direitos, sendo considerada como uma Constituição Cidadã.
Segundo Sposati (1998, p.37):
Hoje se coloca uma nova forma de concretização da cidadania, que é coletiva. A legitimação de demandas coletivas se coloca em confronto ao Estado liberal, enquanto este se funda no individuo como categoria social e política com autonomia referida a si e não ao grupo que pertence.
Sendo assim essa articulação da classe trabalhadora foi de total importância para os reconhecimentos dos direitos e para a sua legalização no âmbito da legislação. Tendo como maior desafio na atualidade a sua consolidação.
No entanto, entende-se que os direitos hoje reconhecidos eles foram construídos ao longo da história, não de forma linear, e muito menos de forma pacífica. Mas eles foram frutos de contradições da sociedade capitalistas que geraram lutas e conflitos para que hoje estes direitos se constituam como tal. Por isso os direitos sociais eles são um retrato de cada sociedade, pois são construídos
de acordo com as necessidades que vão surgindo e vão evoluindo ao longo do tempo em cada sociedade.
A discussão a que quero me remeter aqui é ao direito à moradia. Para isso vamos nos dispor primeiramente das disposições legais que garantem esse direito como fundamental.
Nas palavras de Flavio Pansieri (2008, p.51):
O direito a moradia como direito fundamental e previsto expressamente como um direito social no artigo 6º da Constituição brasileira, em correspondência com os demais dispositivos constitucionais, tem como núcleo básico o direito de viver com segurança, paz e dignidade.
A Constituição Federal, através da emenda constitucional de 10 de fevereiro de 2000, estabelece em seu artigo 6º que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, à proteção a maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. A Constituição Federal estabelece ainda, que é dever do Estado, nas suas três esferas, promover programas de construção de moradias e melhorias das condições habitacionais e de saneamento básico (artigo 23, inciso IX). O direito à moradia também faz parte das necessidades básicas dos trabalhadores urbanos e rurais que devem ser atendidas pelo salário mínimo (artigo 7º, seção IV). Outra documentação legal que veio regulamentar e estabelecer diretrizes gerais da política urbana é o Estatuto das cidades, criado em 2001, com intuito de definir os instrumentos legais para que a propriedade cumpra a sua função social e ambiental.
Neste contexto, dois arcabouços legais são importantes: a inserção na Carta Magna, em seu artigo 6º, do direito à moradia; e a criação do “Estatuto da Cidade”4. Em decorrência, principalmente, das obrigações assumidas perante a comunidade internacional, o Brasil inseriu no texto legal, através da Emenda Constitucional nº 26/2000, o direito à moradia como um direito fundamental dos cidadãos brasileiros. 
 Sendo assim são muitas as garantias legais que fundamentam a moradia como um direito social e necessário para a reprodução das relações Sociais. Mas apesar da garantia desses direitos no âmbito legal, parte do povo brasileiro, infelizmente, moradia ainda é sinônimo de carência: falta água encanada, luz elétrica e saneamento básico. São milhões de pessoas sem teto ou morando em habitações precárias no Brasil, e a falta de moradia é um sério problema a ser enfrentado. 
A Comissão das Nações Unidas para Assentamentos Humanos estima que 1,1 bilhões de pessoas estão agora vivendo em condições inadequadas de moradia, somente nas áreas urbanas. O direito a uma moradia adequada está vinculado a outros direitos humanos. Sem um lugar adequado para se viver, é difícil manter a educação e o emprego, a saúde fica precária e a participação social fica impedida.
Como sabemos, a moradia é mais do que um teto sobre a cabeça. Quando se fala de habitação “adequada”, estamos falando de vários outros aspectos que devem fazer parte de uma moradia digna.
Para analisarmos a respeito da habitação adequada, antes é preciso compreender o que é uma moradia que possui mínimas condições de adequação. Para isso o Comitê da ONU sobre os Direitos Econômicos e Sociais, em 1991 adotou sete indicadores básicos: Segurança nos direitos de propriedades, que garante a proteção contra despejos forcados; disponibilidade de serviços, equipamentos e infra estrutura, tais como serviço de esgoto, água, coleta de lixo, energia, iluminação dentre outros; disponibilidade a preços acessíveis, para que o preço da moradia seja compatível com a renda da população e não comprometa outras necessidades da família; habitalidade, garantindo aos seus moradores espaço adequado, protegendo-os de fatores climáticos garantido a sua segurança física; acessibilidade a todos os grupos sociais levando em conta as necessidades habitacionais especifica de idosos, crianças, deficientes físicos, moradores de rua, população de baixa renda; localização que possibilite o acesso ao emprego, ao serviço de saúde, e outros equipamentos sociais; a adequação cultural, de modo a permitir a expressão das identidades culturais.
Não se trata apenas do espaço de moradia em si. Mas de um mínimo de qualidade e conforto que as casas precisam oferecer como infra-estrutura básica; (água, esgoto, energia elétrica e drenagem); acesso a transporte coletivo (ônibus, metrô e trens) e aos equipamentos sociais (saúde, educação, segurança, lazer e cultura), como postos de saúde, hospitais, creches, escolas, postos de polícia, bombeiros, parques, teatros etc. 
O direito à moradia não se resume apenas à presença de um abrigo ou teto, mas significa ter acesso a uma habitação adequada, que possua infra-estrutura básica e, portanto, que ofereça aos moradores uma possibilidade de melhoria contínua de suas condições de vida.
Vejamos a seguir os conceitos essenciais de uma Habitação Adequada, de acordo com a observação geral nº 4 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas:
O direito a uma moradia adequada significa dispor de um lugar onde se possa asilar, caso o deseje, com espaço adequado, segurança, iluminação, ventilação, infra estrutura básica, uma situação adequada em relação ao trabalho e o acesso aos serviços básicos, todos a um custo razoável (PANSIERI, 2006, p.112). 
Uma habitação adequada significa dar um espaço adequado para cada morador, ao mesmo tempo em que é resistente, protege as pessoas do frio, umidade, calor, chuva, vento ou outras ameaças à. Moradias ruins (ou insalubres, como são chamadas) são causa de vários problemas de saúde.
O respeito ao direito à habitação adequada é uma forma de garantir os demais direitos econômicos e sociais. A cada dia, ressalta-se a urgência de uma política habitacional como instrumento insubstituível de inclusão social e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. É uma concreta afirmação de cidadania a fim de possibilitar o acesso a uma vida mais saudável, segura e feliz, a todos os brasileiros.
O direito à moradia vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões jurídicas e sociais, em face dos altos índices de déficit habitacional nas cidades, da urbanização acelerada e desordenada, da irregularidade fundiária e da dificuldade de acesso a uma moradia digna para as parcelas mais pobres da sociedade.
Na Constituição Brasileira o direito à moradia está previsto como um direito social, a exigir a ação positiva do Estado por meio da execução de políticas públicas habitacionais. É obrigação do Estado impedir a regressividade do direito à moradia e também tomar medidas de promoção e proteção deste direito. Os compromissos que constam nos Tratados e Convenções internacionais têm natureza vinculante aos países signatários, acarretando obrigações e responsabilidades aos Estados pela falta de cumprimento das obrigações assumidas.
Sobre o assunto afirma Letícia Osório (2004, p. 21):
Portanto, o Estado brasileiro tem a obrigação de adotar políticas públicas de habitação que assegurem a efetividade do direito à moradia. Tem também responsabilidade de impedir a continuidade de programas e ações que excluem a população de menor renda do acesso a uma moradia adequada. A dimensão dos problemas urbanos brasileiros contém a questão habitacional como um componente essencial da atuação do Estado Brasileiro como promotor de políticas voltadas para a erradicação da pobreza, a redução das desigualdades e a justiça social. A cidade informal evidencia a necessidade de construção de uma política urbana que vise à inclusão social e territorial da população, tendo como meta a regularização fundiária e a urbanização dos assentamentos de baixa renda.
Mesmo tendo a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos tratado do tema da moradia como algo de suma relevância para a preservação da dignidade da pessoa humana, ainda podemos observar no Brasil e no mundo inteiro altíssimos índices de déficit habitacional.
As políticas públicas brasileiras cujas finalidades são a efetivação do direito à
moradia normalmente pecam pela constante busca da concretização do direito da propriedade, considerando que a moradia existe quando se tem a propriedade de um imóvel utilizado com o fim de nele residir. Porém a moradia não depende da propriedade, mas do exercício da posse.
Portanto é necessário que se criem novas formas de enfrentamento frente a essas questões, no sentido de problematizar essa defasagem que há entra a legislação e a sua efetivação, como vimos. Ressaltando que é imprescindível que essa luta se dê por meio da participação efetiva da sociedade civil, da reforma do Estado, e por meio também das instituições. Na busca de respostas eficazes que venham promover cidadania e consolidação de direitos.
É o que vai ser abordado no próximo subtítulo, que vai relatar, as lacunas deixadas pelas políticas publicas, e o surgimento das ocupações irregulares.
5.1.3 A ineficácia das políticas públicas e o surgimento das diversas formas de uso e ocupação do solo.
O problema da falta de moradia para tantos cidadãos brasileiros possui raízes num longo passado histórico, como já vimos nos primeiros tópicos. Ele é fruto também da ausência de políticas públicas, possibilitada por uma política que sempre esteve voltada para os interesses da elite dominante. 
Dessa forma, coexistem, nos dias atuais, bairros luxuosos e miseráveis, cuja semelhança se dá no fato de que em ambos moram seres humanos. Embora a atual Constituição Federal assegure à moradia como um direito fundamental, a todos os cidadãos, é visível, em toda parte das cidades brasileiras, que a moradia digna ainda é inexiste para milhares de pessoas. 
Contudo, ainda assim, é só através da intervenção estatal que a população de baixa renda possui condições de acesso à moradia adequada, haja vista o alto valor do bem. 
Segundo o pensamento de VALENÇA (2003) são várias as formas de atuação do Estado neste sentido, regulando os mercados através de políticas de subsídios que reduzam os custos da produção e acesso á moradia; desenvolvendo políticas de concessão de créditos, viabilizando a atividade imobiliária e o consumo; desenvolvendo políticas de investimentos públicos em favor dos mais necessitados; exercendo controle sobre o preço da terra; incrementando o setor da construção civil; e, gerando emprego e renda. 
Ao que preconiza a Constituição Federal de 1988, as políticas públicas seriam teoricamente, a forma eficaz de diminuir o problema habitacional, mas, ao contrário, mostram-se ineficazes em razão do clientelismo, corrupção e, dentre outros fatores, a falta de relação com as demais políticas urbanas, pois, o problema habitacional é parte de uma problemática maior e de natureza estrutural que é o modelo econômico excludente. 
Desse modo, o Estado deveria atuar no sentido de corrigir as distorções do mercado de terras. Entretanto, costuma fazer vista grossa aos especuladores imobiliários e permite que se forme uma grande massa de excluídos vivendo a margem da tomada de ações governamentais capazes de beneficiá-los. 
Entendem alguns doutrinadores que as políticas públicas devem refletir um compromisso assumido pelo Estado de promover a igualdade, transformando situações existentes, através da consolidação, dos objetivos estipulados por estas políticas. 
É consenso também quanto às políticas públicas que o Estado tem a obrigação de criar programas, planos de ação e instrumentos de modo a garantir esses direitos para os seus cidadãos, porém, na prática, o que se observa é uma contradição entre o dever e o fazer.
Na concepção de Souza (2006) as políticas públicas na sua essência estão ligadas fortemente ao Estado, este que determina como os recursos são usados para o beneficio de seus cidadãos, onde faz uma síntese dos principais teóricos que trabalham o tema das políticas públicas relacionadas às instituições que dão a ultima ordem, de como o dinheiro sob forma de impostos deve ser acumulado e de como este deve ser investido, e no final fazer prestação de conta pública do dinheiro gasto em favor da sociedade.
Percebe-se, pelos conceitos acima, que a viabilização de recursos, a decisão sobre onde aplicar, para que aplicar e quando aplicar são deliberações que cabem ao Estado em primeira instância e, posteriormente, aos municípios. Portanto o Estado contribui para que o direito fundamental à moradia deixe de se efetivar, vez que para ser implementado carece de medidas estatais, seja de forma isolada, seja por meio de ações conjuntas.
Dependendo é claro de normas orientadoras para as ações que serão desenvolvidas pelo poder público e que, em regra, envolvem a aplicação de recursos financeiros, mas depende principalmente da seriedade daqueles que administram as verbas públicas cuidando para garantir que sejam destinadas para os fins aos quais foram previstas, mas que em grande parte das vezes não é assim que ocorre.
Mais a realidade encontrada na maioria das vezes é, alicerçada na corrupção, no uso indevido do dinheiro público em benefício próprio ou de uma minoria a cujos interesses é preciso atender, em troca ou em paga de favores e favorecimentos. A absoluta falta de ética no tratamento com o dinheiro público tem se apresentado como um dos maiores e mais sérios obstáculos ao desenvolvimento de políticas públicas.
 Segundo, Guerra (2007 p. 52): 
A efetividade dos direitos fundamentais está diretamente relacionada com o desenvolvimento de políticas públicas que não fujam das metas, dos objetivos e das diretrizes constitucionais, uma vez que todos os direitos fundamentais primam por concretização, exigindo ações estatais, pois a Constituição tem compromisso com a realização de seu núcleo básico. Para ele, é grande a quantidade de direitos fundamentais que, para se concretizam dependem de políticas públicas.
Aí reside, a nosso ver, o grande problema das políticas públicas no Brasil, o desrespeito às metas estabelecidas, mais não compridas, o desrespeito com a população que necessita dessa implementação para conquistar melhor qualidade de vida. Nesse sentido, faltam atitudes consolidadas e legitimadas pelo bom senso, pela moral, pela transparência.
Nota-se que mediante a ineficácia e inércia do Estado no sentido de coibir o escoamento do dinheiro público para fins de outros que não aqueles previstos na legislação em vigor, deixa-se de atender à demanda habitacional das populações mais carentes.
Como uma das conseqüências, verifica-se cada vez mais, a propagação de áreas de ocupação irregular que, em função das lacunas deixadas pelo Estado na medida em que não consegue cumprir o que contem o seu papel.
Como o Estado tem o dever e a obrigação de promover moradia aos mais necessitados, ele deve ser o garantidor das políticas publicas habitacionais de forma articulada com as necessidades da população mais carente. Como eles não dispõem de recursos financeiros, é nas áreas desvalorizadas e rejeitadas pelo mercado imobiliário privado e nas áreas públicas que a camada pobre da população vai se instalar, criando, espaços segregados e precários.
Esses assentamentos precários apresentam várias configurações, e os mais vistos são as favelas, loteamentos irregulares ou clandestinos, cortiços, conjuntos habitacionais ocupados, etc. Eles se denominam cada como:
VAVELAS – tal como definido pela agência das Nações Unidas, é uma área degradada de uma determinada cidade caracterizada por moradias precárias, falta de infraestrutura e sem regularização fundiária, normalmente caracterizadas pela degradação urbana e a elevadas taxas de pobreza .
LOTEAMENTOS IRREGULARES – Loteamentos que correspondem a processos de parcelamento do solo em que existe um agente econômico responsável pela subdivisão e pela venda. A irregularidade diz respeito ao não cumprimento integral da normativa urbanística, embora haja sido dado início aos procedimentos de licenciamento.
LOTEAMENTOS CLANDESTINOS – a clandestinidade diz respeito a parcelamentos efetuados sem qualquer iniciativa de licenciamento, ou seja, empreendimentos sobre os quais não há registro oficial pelo
poder municipal.
CORTIÇO – caracterizam-se como moradias de aluguel, geralmente contando com apenas um cômodo e com sanitário e outras instalações coletivas, através, na maioria dos casos, da subdivisão de edificações antigas em áreas centrais que passam por processo de esvaziamento econômico e/ou transformação de uso.
Correspondendo cada denominação a uma forma específica de processo de produção destes assentamentos. São caracterizados pela ocupação irregular do solo, público ou privado freqüentemente com padrões urbanístico inferiores aos mínimos exigidos pela legislação.
Enquanto uns tem onde morar, mesmo sendo em condições inadequados ou irregulares, outros perambulam pelas ruas, noite e dia, revirando latas e sacos de lixo para comer, dormem embaixo de viadutos, em praças, albergues ou ao relento! A maioria passa longe dos financiamentos de compra da sonhada casa própria, pois não tem como comprovar renda. Barracos à beira de esgotos abertos, camas de papelão sob viadutos e refúgio em cortiços são soluções precárias para os problemas desta população que não tem teto e vive nas ruas.
Permite-se, então, concluir que não basta o simples fato da Constituição Federal trazer expressamente, em seu texto, a regulamentação dos dispositivos que o legislador entendeu serem de suma importância ao cidadão, visando protegê-lo nas turbações daquilo que lhe é básica. Requer sim, que a previsão legal seja colocada em prática, para que com isso, aquele a quem a norma se destina possa efetivamente gozar de seus direitos.
Portanto, cabe ao Estado não apenas a obrigação de instrumentalizar políticas públicas de habitação que garantam o direito à moradia, também o encargo de coibir toda e qualquer ação passível de impedir a população de ter acesso a uma habitação, entre elas, fraudes, corrupção, desvio de dinheiro, super faturação, evitando, desta forma, primeiramente, o enriquecimento ilícito, depois, a perpetuação de práticas de exclusão, de marginalização e de segregação destas populações.
Pode-se inferir que, se os direitos humanos não se efetivam, é porque faltam políticas públicas capazes de implementá-los. Na verdade, não se nega a existência de políticas públicas, porém, de nada adianta a sua existência se na prática são ineficazes e não conseguem cumprir os propósitos para os quais foram criadas.
5.2 CAPÍTULO II
OCUPAÇÕES IRREGULARES EM ÁREAS PÚBLICAS: ALTERNATIVA DE MORADIA EM FACE DA AUSÊNCIA DE POLÍTICAS HABITACIONAIS.
5.2.1 Ocupação irregular como sinônimo de exclusão sócio-territorial: a constituição do ilegal, irregular e do informal.
Dentre as conseqüências do processo de urbanização acelerada e desordenada das cidades brasileiras, a proliferação de processos informais de ocupação urbana assume proporções preocupantes.
O acesso ao solo urbano e à moradia para grande parte dos brasileiros só foi possível através de mecanismos informais e ilegais, resultando em problemas de ordem social, econômica, urbana e ambiental, comumente em áreas impróprias ao uso.
O intenso crescimento urbano nas grandes cidades brasileiras foi acompanhado da deterioração das condições de vida da maior parte da população. Uma parcela significativa da população é excluída do acesso à terra urbana e da moradia.
Conforme Funes (2005) o principal agente da exclusão territorial é a segregação espacial, que traz consigo uma lista interminável de problemas sociais e econômicos, tendo como conseqüência a exclusão e a desigualdade social que propicia a discriminação, o que gera menores oportunidades de emprego, dentre outros problemas, ocasionando assim uma perpetuação da pobreza e a ausência do exercício da cidadania. 
O padrão de urbanização brasileiro criou cidades segregadas, onde de um lado tem-se a cidade formal, que concentra os investimentos públicos e de outro lado a cidade informal, que cresce exponencialmente na ilegalidade urbana, sem atributos de urbanidade, exacerbando as diferenças socioambientais.
As moradias impróprias estão presentes na maioria dos municípios brasileiros, escancarando uma triste realidade social, a da falta de moradia adequada, os assentamentos urbanos produzidos a margem da legislação vigente, identificados como: assentamentos irregulares, ilegais ou informais.
Tratam-se dos assentamentos urbanos produzidos espontaneamente pela população de mais baixa renda, onde estão presentes a ilegalidade no acesso à terra, através de invasões ou aquisição de lotes em parcelamentos irregulares ou clandestinos; onde não são observados os quesitos estabelecidos através da legislação urbanística, determinando a irregularidade com relação a essas normas vigentes. As favelas, loteamentos clandestinos, são parte desse universo onde encontramos uma produção informal de moradias, precariamente autoconstruídas, em áreas invadidas ou irregularmente loteadas, com ausência total ou parcial de infra-estrutura e serviços urbanos. 
São em sua maioria, ocupações de forma desordenada e densa, carente de serviços públicos essenciais, em áreas de risco ou de preservação permanentes, legalmente protegidas, excluídas da formalidade habitacional, apropriadas pela população que toma para si a atribuição do Estado, que falhou no provimento de moradia à população. 
Os dados estatísticos do Banco Mundial informam que de 1 milhão de moradias produzidas no Brasil, cerca de 700 mil são ilegais, o que comprova que a maior parte da produção habitacional no país é informal. Os dados destacados demonstram a tolerância do setor público com essa ilegalidade, porque na legislação brasileira o registro do imóvel é constitutivo de propriedade, valendo à máxima “quem não registra não é dono”. Assim, uma das maiores implicações desse processo refere-se à insegurança jurídica perante à moradia, que deixa a população residente dessas áreas numa situação de vulnerabilidade. 
As ocupações irregulares de terrenos urbanos para moradia da população de baixa renda se repetem na maioria das cidades. Associado às ocupações irregulares, há ainda a inadequação das moradias existentes, em virtude da precariedade, da insalubridade, da ilegalidade e da falta de infra-estrutura urbana. O acesso ilegal/informal e inadequado ao solo e à moradia acaba se tornando mais regra do que exceção. 
A grande maioria das cidades brasileiras convive, cotidianamente, com limitações e dificuldades institucionais no controle do solo urbano. Essas limitações vão desde o reduzido número de fiscais, com pouca qualificação e baixa remuneração, escassez no quadro técnico efetivo, cadastro imobiliário desatualizado/subutilizado, passando pelo desconhecimento por parte do cidadão das legislações urbanísticas, uma arraigada relação de clientelismo entre o poder público e os cidadãos, até chegar a um grande número de situações de ilegalidades urbanas (obras sem alvará, ocupação irregular dos passeios, invasões e ocupações de áreas públicas e privadas e irregulares, públicos e privados).
A persistência da informalidade, conforme mencionado por BIDERMAM (2008), em cidades da América Latina não pode ser totalmente explicada pelas taxas de pobreza, e pelo insuficiente investimento público em habitação social, infra-estrutura urbana e serviços. 
Há uma maior conscientização de que o mercado de terra urbana e as normas e regulamentos são também fatores contribuintes para a informalidade. Assim, inadequados regulamentos de uso do solo e códigos de obras reforçam outros fatores que já contribuem para a informal e irregular ocupação dos solos urbanos. 
Conforme explicitado por MARICATO (2000), “esta gigantesca ilegalidade não é fruto da ação de lideranças subversivas que querem confrontar a lei. Ela é resultado de um processo de urbanização que segrega e exclui”. 
A ilegalidade em relação à posse da terra, além de ser um fator de exclusão social da população de menor renda, é o principal agente do padrão de segregação espacial que caracteriza as cidades brasileiras. 
Esta dinâmica de urbanização e ocupação do território valoriza significativamente os terrenos
situados nas áreas nobres, o que, ao mesmo tempo, exclui a população carente de acesso à terra e moradia através do mercado formal.
Se o mercado imobiliário formal não atende a demanda habitacional da população de baixa renda, o estado se mostrou ineficaz na provisão de políticas publicas e habitacionais. Com a seqüência o problema da moradia popular produziu soluções informais das mais variadas nas regiões metropolitanas como as favelas, cortiços, loteamentos irregulares, ocupações de ares de riscos e etc.
Segundo ROLNIK (1989) sem alternativas legais de acesso a terra urbana e a moradia, a população pobre das grandes cidades foram empurradas para terrenos mais impróprios, muitas vezes em áreas ambientalmente vulnerável, marcando um processo de urbanização de riscos.
Os assentamentos informais em áreas urbanas decorrem, principalmente, da carência de políticas adequadas de moradia - inacessíveis e insuficientes, ressalta-se, mercados especulativos formais e informais, sistemas políticos clientelistas, legislação e planejamento urbanos elitistas e tecnocráticos. 
Dessa forma, como resposta a essa postura negligente, vigora nas cidades brasileiras uma realidade habitacional marcada essencialmente, pela exclusão, carência e precariedade, deixando bem claro a falta do cumprimento dos direitos constituídos por leis a uma moradia adequada.
Além desses assentamentos se caracterizarem por precárias condições de vida, resultando também em problemas de questão social, jurídica, econômica, ambiental e etc. Esses impactos e implicações é o que será abordado no próximo subtítulo. 
5.2.2 As Implicações e Impactos Decorrentes das Ocupações Irregulares.	
 
As ocupações ilegais e irregulares estão presentes na maioria dos municípios brasileiros, escancarando uma triste realidade social. O acesso ao solo urbano e à moradia para grande parte dos brasileiros só foi possível através de mecanismos informais e ilegais, comumente em áreas impróprias ao uso. 
Esses assentamentos, além de se caracterizarem por precárias condições de vida, contribuem sobremaneira para diversos problemas e agravamento as famílias residentes dessas áreas e ao país como um todo.
As famílias de baixa renda que moram em periferia, favelas, cortiços, margens de rios e represas, ou outras áreas de risco. Vivem em moradias precárias, em áreas deterioradas da cidade. Falta água limpa, sistemas de esgoto, asfalto nas ruas, não têm infra-estrutura básica e são focos de doenças como chagas, dengue, diarréia, hepatite A etc. 
Essas ocupações irregulares geram varias implicações e impactos, na questão social, os problemas são muitos e incluem a segregação espacial da população pobres em assentamentos informais, a carência de moradia, a escassez de infra estrutura, dificuldade de acesso as oportunidades de emprego produtivo e a ocupações de áreas de riscos ou legalmente protegidos. 
Assim gerando a exclusão e a desigualdade a traves: do não acesso aos serviços publico, de uma moradia onde apresenta riscos tanto acidente como por doenças causadas pela precariedade das casas. Uma realidade encarada na vida dessas famílias, que na maioria das vezes por falta de oportunidade de emprego não tem a chance de saírem dessas difíceis situações, resultando no aumento dessas áreas e conseqüentemente no crescimento populacional, fazendo com que aja um crescimento também da marginalidade e criminalidade nessas áreas.
 Na questão jurídica, as ocupações irregulares implicam na falta que o morador tem na segurança da posse da terra onde mora, porque essas áreas por serem irregular como: sem nem uma infra estrutura básica, sendo algumas em áreas de riscos e etc., não podem ser retirado nem um documento registrado pelo cartório, nem podendo transformar a posse de determinadas áreas em propriedade com endereço, identidade, acesso a serviço de infra-estrutura, equipamentos coletivos e etc, por serem áreas ilegais.
Vários são os impactos e implicações causados pela produção desse espaço ilegal. Na questão social, geram a exclusão e marginalidade; na questão jurídica, a falta de segurança da posse. Na prática política, produz a vulnerabilidade e o clientelismo. Na questão econômica, reproduz cidades caras para os pobres. Na questão ambiental, geram as ocupações de áreas de preservação, áreas de risco e diversas outras formas de poluição.
Dentre os diversos impactos ocasionados pelas ocupações irregulares podemos salienta também os impactos no meio ambiente que por muitas vezes é provocado pelos próprios moradores e conseqüentemente pela falta de uma educação ecologia. 
Essa alteração pode, em maior ou menor proporção, afetar a segurança e a saúde da população, pôr em risco a existência de espécies animais e vegetais e comprometer a qualidade dos recursos naturais. Essas ocupações espontâneas das sociedades principalmente as de baixa renda organizam-se, reproduzem-se e promovem significativas mudanças na natureza. Mudanças que interferem no ciclo natural do ecossistema local, ocasionando impactos muitas vezes irreversíveis. 
Os invasores não hesitam em derrubar parte da mata atlântica para construírem suas casas. A partir do momento que um casa é construída em um local, a área ao seu redor começa a ser devastada, para criar mais espaço. Muita madeira é extraída e vendida ilegalmente, quando não é usada na construção das próprias moradias. Estradas e caminhos são construídos indiscriminadamente, rasgando a mata e facilitando novas invasões. Embora os invasores sejam multados e suas moradias sejam interditadas e derrubadas, a recuperação daquele trecho levará anos para ser reconstituída ou muitas vezes esse impactos sejam irreversíveis.
A desordem urbana gerada por esses assentamentos, tem um preço para o meio ambiente e para a sociedade. As comunidades sofrem o contato direto com o lixo e esgoto. 
O excesso de lixo produzido pelas famílias e a poluição, trazem freqüentemente conseqüências desastrosas àquele ambiente, o acumulo de resíduos sólidos e a quantidade de dejetos e objetos jogados em rios ou córregos, vão se acumulando a ponto de não permitir o fluxo da água para locais onde o rio é canalizado, isto resulta nas enchentes.
Quando o lixo se acumula e permanece por algum tempo em determinado local, começa a ser decomposto por bactérias anaeróbicas, resultando na produção de chorume, que é 10 vezes mais poluente que o esgoto. Isto por que o chorume dissolve substâncias como tintas, resinas e outras substâncias químicas e metais pesados de alta toxicidade, contaminando o solo e impedindo o crescimento das plantas, ou fazendo com que estas substâncias se acumulem na cadeia alimentar. O lixo exposto ao ar atrai inúmeros animais, pequenos ou grandes, estes animais também são veiculadores de muitas doenças.
O esgoto doméstico também tem um fim terrível. É, em grande parte, jogado, sem tratamento, nos poucos córregos e riachos que passam pela região.
Os resultados dos impactos e implicações decorrentes das ocupações irregulares acima descritos são bem conhecidos. Na medida em que a cidade cresce, crescem também os problemas habitacionais. A produção de desigualdade social em massa não foi interrompida nem amenizada. Ao contrário, o que vimos foi o crescimento exponencial da pobreza urbana e da segregação sócio-espacial e também da falta de possíveis ações e soluções que pudessem ser tomas pelas autoridades publicas e possíveis políticas habitacionais que lutassem para reverter esse quadro.
5.2.3 A Questão da Regularização Fundiária e as Contribuições do Estatuto da Cidade: Solução do Problema? 
Os problemas habitacionais estão presentes na maioria dos municípios brasileiros, escancarando uma triste realidade social: a da falta de moradia. Porém, o problema não é apenas a falta de imóveis para morar, mas também a ausência da segurança da posse, que por sua vez faz favorece a péssima qualidade com que são construídos os que existem, em especial nas áreas ilegais. 
[...] como soluções adequadas ainda parecem estar longe e nas cidades o crescimento
natural e a migração exige soluções imediatas, as populações continuam a ocupar e invadir áreas livres, públicas e privadas. Na ausência de soluções preventivas, resta ao poder público, em principio, três alternativas: ignorar os fatos, despejo forçado ou regularização das ocupações [...] (ALFONSIN, 1997).
Diante desta questão social e com o objetivo de reverter esse quadro, a Constituição Federal Brasileira de 1988 instituiu um capítulo destinado à Política Urbana, no qual a regularização fundiária é destacada, através da função social da propriedade, como política de habitação social.
O Estatuto da Cidade, lei complementar que regula o capítulo que trata da política urbana da Constituição Federal, apesar de não estabelecer normas relacionadas diretamente à questão habitacional, inclui, em seu texto, um conjunto de instrumentos capazes de induzir à reforma da estrutura fundiária urbana brasileira, pois ataca aspectos essenciais da cidade capitalista: a especulação imobiliária e a proliferação dos assentamentos informais nas grandes cidades, principal componente da cidade ilegal.
O Estatuto da Cidade, desde sua aprovação pelo Congresso Federal, em julho de 2001, tem sido celebrado como um marco decisivo na legislação urbana, oportunizando a possibilidade da prática do planejamento e da defesa e preservação do ambiente urbano. 
Em 2003 criou-se no Brasil um órgão governamental superior dedicado exclusivamente às questões urbanas - o Ministério das Cidades -, através do qual vem sendo propostas ações e programas, visando à regularização fundiária de assentamentos ilegais, promovendo a urbanização das áreas e reconhecendo os direitos dos moradores. 
Para o aprofundamento a respeito a questão da Regularização Fundiária, o conceito consagrado em diversas publicações é o formulado por Betânia Alfonsin, através de uma visão bastante holística do processo.
Regularização fundiária é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídicos, físico e social, que objetiva a permanência das populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no ambiente urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária (ALFONSIN, 1997).
Nesse sentido, a regularização fundiária dos assentamentos urbanos ocupados pela população de baixa renda revela-se como um dos programas prioritários da política urbana necessário para a inclusão sócio espacial de grande parcela dos moradores. Significa transformar a posse de determinada área em propriedade com endereço, identidade, acesso a serviço de infra-estrutura, equipamentos coletivos, participação social nos processos de gestão e educação ambiental.
Com efeito, propicia a transformação da economia informal em economia formal, beneficiando os moradores com a legitimação de sua posse, concedendo-lhes novos direitos, como, por exemplo, a segurança à posse da área que ocupam há muitos anos e acesso ao crédito para melhoria na habitação, garantindo o direito constitucional à moradia digna e à Cidadania.
Segundo (MELO, 2010) a regularização fundiária vai além de garantir a segurança da posse e o exercício do direito de morar dignamente, consiste em dar condições para o acesso à moradia e aos que habitam na ilegalidade. 
A regularização fundiária apresenta-se como um dos mais importantes instrumentos para a recomposição do tecido urbano e a conquista do inegável direito à cidade por todo e qualquer cidadão, porém, com efeito apenas curativo.
As causas de irregularidades são muitas, como, por exemplo, a negligência fiscalização por parte da administração pública, a irresponsabilidade do parcelador, a ausência de sanção a ser imposta aos infratores, desconhecimento do interesse dos compradores, burocracias e custos excessivos do processo de legalização, inacessibilidade à cidade formal, dentre muitos outros.
E para uma abordagem mais democrática da regularização fundiária, demanda o envolvimento de vários atores na discussão das propostas de intervenção, execução de projetos e obras, elaboração e aprovação de legislações, utilização de instrumentos e viabilização de recursos. São eles: Administrações Municipais, Cartório de registros imobiliários, Defensoria Pública ou Serv. de Assist. Juríd. aos municípios, Poder Judiciário, Ocupantes da área a ser regularizada, Ministério Público, Câmara de Vereadores, Organizações não governamentais e instituições.
Frente a tantas concepções vigentes, parece óbvio que estamos lidando com um fenômeno que integra diferentes dimensões. De fato, nossa compreensão tem avançado no sentido de que a regularização fundiária é uma intervenção que, para se realizar efetiva e satisfatoriamente, deve abranger um trabalho jurídico, urbanístico, físico e social. Se alguma destas dimensões é esquecida ou negligenciada, não se atingem plenamente os objetivos do processo. 
Na concepção de ALFONSIN, (1997) "Regularização fundiária é um processo conduzido em parceria pelo Poder público e população beneficiária, envolvendo as dimensões jurídica, urbanística e social de uma intervenção que prioritariamente objetiva legalizar a permanência de moradores de áreas urbanas ocupadas irregularmente para fins de moradia e acessoriamente promove melhorias no ambiente urbano e na qualidade de vida do assentamento bem como incentiva o pleno exercício da cidadania pela comunidade sujeito do projeto”. 
Contudo, é no Estatuto da Cidade que o direito à moradia adequada vem merecer maior amplitude no tocante à sua efetividade, seja por impor deveres ao Poder Público, principalmente à Municipalidade, seja por impor aos titulares do domínio o dever de conferir à propriedade sua função social, dando-lhe destinação útil.
A partir do Estatuto da Cidade, novas perspectivas foram abertas para orientar as ações do Poder Público municipal para elaborar e executar a política urbana, reforçando os princípios da função social da propriedade e da cidade, consagrados na Constituição Federal de 1988.
Contudo, os municípios têm encontrado dificuldade para trabalhar os temas relacionados ao planejamento de seu espaço territorial, principalmente no tocante à elaboração de sua legislação urbanística e desenvolvimento de programas de regularização fundiária de interesse social que contemplem as inovações introduzidas pelo Estatuto da Cidade.
No entanto, o cenário encontrado revela um número considerável e preocupante de áreas que, até então, estavam excluídas de qualquer forma de benefício urbanas público, abrigando uma população marginalizada, assentada em áreas impróprias à moradia, a partir de uma ocupação não planejada e desordenada.
Sob esse aspecto destacam-se a necessidade de fazer cumprir o princípio da função social da propriedade estabelecido na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade; a necessidade de promover o adequado ordenamento urbano e a garantia do acesso democrático a terra urbanizada e a habitação digna para todos os moradores da cidade; e a necessidade de aprimorar os mecanismos legais, administrativos e institucionais para enfrentamento do tema da urbanização e regularização fundiária dos assentamentos informais existentes nos municípios brasileiros.
A partir da elaboração dos Planos Diretores, as áreas precárias, subutilizadas e informais deverão ser identificadas e definidas como Zonas Especiais de Interesse Social, requerendo estudos e projetos mais específicos para balizarem a priorização das intervenções por parte do poder público.
Dessa forma, os municípios devem aproveitar este momento singular e seguirem com a elaboração do Programa de Regularização Fundiária, garantindo atendimento amplo e evitando estabelecer, social ou espacialmente, qualquer diferença de direitos.
Cabe ao Município a fundamental tarefa de avaliar a cidade como um todo, verificando em seu território a melhor solução para os problemas gerados pela ocupação descontrolada, bem como prevenir situações de risco social, organizando áreas e estimulando a regularização
fundiária.
Portanto, soluções são elaboradas e garantidas, mais para fazer com que os problemas sejam pelo menos amenizados, se faz necessário a implementação desses projetos, através do interesse e medidas do poder publico, para fazer com que a carência de moradia adequada para as famílias de baixa renda possam ser erradicadas. 
5.3 CAPITULO lll
O SERVIÇO SOCIAL E A HABITAÇÃO
5.3.1 O Serviço Social e a Questão Habitacional.
O Brasil vivencia, na década de 1930, o processo de industrialização e urbanização que esteve vinculado ao capitalismo dependente e a uma conjugação de fatores internos que demarcaram a formação econômica e social brasileira. Isso se tornou mais visível com a passagem do modelo agrário-exportador para o modelo urbano-industrial de desenvolvimento. 
Para Oliveira (1979), ocorre a partir desse período um forte deslocamento da população do campo para as cidades em busca de trabalho e melhores condições de vida. 
Entretanto, o espaço urbano não reunia as condições necessárias para absorver esse contingente populacional, e, como conseqüência, multiplicaram-se problemas, como: pobreza, desemprego, precárias relações de trabalho, doenças e exclusão social, insuficiência e inadequação de moradias e de infra-estrutura urbana, formaram-se espaços de contradições e desigualdades. Neste mesmo momento histórico, surge uma profissão que atua nas desigualdades sociais vigentes o Serviço Social. 
Segundo Iamamoto (2007): O Serviço Social, que se gesta e se desenvolve na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana. 
No inicio o trabalho assistencial era realizado pelas “damas da caridade” que eram mulheres da sociedade que prestavam assistência a população carente, com o auxilio da igreja católica.
O desenvolvimento industrial, somado a outros fatores, avivou as desigualdades paulatinamente acentuadas gerando a necessidade de um trabalho fundamentado em princípios científicos e organizado tecnicamente a partir da interpretação da sociedade baseada nas ciências sociais. 
A implantação do Serviço Social se dá no decorrer do processo de luta da classe operária por melhores condições de sobrevivência, porém a profissão possui em seu início uma base social delimitada e fontes de recrutamento e formações de agentes sociais informados por uma ideologia igualmente determinada. (CARVALHO & IAMAMOTO, 2004, p. 127). 
A profissão é ligada inicialmente à religiosidade passando a atuar junto às demandas resultadas do conflito capital e classe operária, que em 1940 e 1950 contam com instituições públicas nascidas com o objetivo de assistir, através de políticas públicas mínimas de inclusão social, os excluídos gerados por esse processo, com uma visão de caridade, a exemplo da Legião Brasileira de Assistência (LBA). 
O Serviço Social se institucionaliza enquanto profissão, inserida na divisão sócio técnica do trabalho a partir do momento em que surge a necessidade de um profissional que atue nas políticas sociais inerentes ao Estado, como forma de enfrentamento da questão social. 
Portanto o Assistente Social é o profissional comprometido com a implantação e cumprimento das políticas sociais. E sendo a questão social o elemento fundamental de enfrentamento dessas políticas, onde suas expressões são objeto da intervenção profissional, nada mais do que coeso aprofundarmos o debate em torno dela.
O Serviço Social, enquanto profissão dinâmica, tem em seu objeto de intervenção as múltiplas refrações da questão social, dentre as quais salienta-se as questões habitacionais, intervindo na implementação de programas e projetos nas cidades, voltados para os segmentos populares, ou seja, a parcela da população caracterizada na faixa de interesse social. Nesse campo, localiza-se a prática profissional do assistente social desenvolvendo o trabalho social junto à população inserida no foco dessas ações.
Atualmente, a responsabilidade de assegurar as moradias é, sobretudo, do Estado, devendo prover o direito de habitar aos que não dispõem de recursos, através da Política Habitacional com vistas a minimizar o déficit de moradias na sociedade, seja criando condições para residir nas áreas de assentamentos com melhorias na infra-estrutura e no fornecimento de água, energia elétrica e criação de rede de esgotos, como na posse da terra aos assentados, garantindo a possibilidade de fixarem-se ao local, ou através da construção de conjuntos habitacionais para aumentar a possibilidade de aquisição de um imóvel às famílias. 
O trabalho social inserido nos Programas Habitacionais tem se constituído de importância fundamental para garantir o acesso de famílias de baixa renda à moradia, ao mesmo tempo em que fortalece a perspectiva de sustentabilidade de direitos, posta pela Política pública de Habitação.
A problemática da habitação social envolve a dinâmica do exercício profissional dos Assistentes Sociais constituindo um lócus que carece de intervenção, vindo a ser um trabalho técnico, que só pode ter um procedimento com colaboração das políticas publicas.
5.3.2 O Trabalho do Profissional de Serviço Social na Questão Habitacional.
O profissional de serviço social realiza um trabalho essencialmente sócio educativo e está qualificado para atuar nas diversas áreas ligadas á condução das políticas públicas e privadas, tais como planejamento, organização, execução, avaliação, gestão, pesquisa e assessoria. O trabalho tem como principal objetivo responder ás demandas dos usuários dos serviços prestados, garantindo o acesso aos direitos assegurados na constituição federal de 1988 e na legislação complementar.
Ele atua nas expressões da questão social formulando e implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de políticas sociais públicas entra elas a política habitacional que visa garantir o acesso á moradia, as famílias que não tem condições de possuir uma moradia adequada.
Os órgãos gestores da Política Habitacional têm como objeto de atuação as manifestações da questão social expressa pela crise habitacional, que são vivenciadas pela precariedade de titulação, infra-estruturas inadequadas e a falta de moradias. São responsáveis pela elaboração da Política urbana, de Habitação e Planos Diretores.
Os assistentes sociais se inserem nos espaços de gestão na, execução e monitoramento da Política Habitacional, com a concepção de direito à moradia que vem ao encontro ao compromisso ético-político profissional, fundamentado nos princípios de justiça social, equidade, democracia e cidadania.
Entre os fatores que geram demandas aos profissionais de Serviço Social na esfera pública podemos elencar: a crise habitacional evidenciada na falta e precariedade das moradias e condições irregulares de titulação; urbanização; regularização fundiária; situações emergenciais de alagamentos, incêndios, deslizamentos; remoções em situações de risco físico e social; e de interesse do Poder Público e assentamentos de famílias inscritas nos municípios; Os fatores apresentados revertem em trabalhos de Desenvolvimento Social em Programas de Assentamento, Regularização Fundiária e Remoções.
Os usuários do Serviço Social na área Habitacional, são sujeitos sociais que não tem acesso a uma moradia regular, ou seja, uma parcela significativa da classe trabalhadora, como pagadores de aluguel, moradores de áreas de ocupação irregular e grupos organizados.
Para o desenvolvimento de suas atividades os assistentes sociais utilizam-se de meios Teóricos, Legais e Institucionais participando no planejamento da política de habitação e elaboração de diagnósticos, pesquisas e projetos de intervenção, trabalhando em equipe multiprofissional na instituição e também entidades parceiras, realizando trabalho com as comunidades para o desenvolvimento sócio-educativo inclusão social e mediação das necessidades sociais entre comunidade e órgão público e representando o segmento

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