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BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 2 Autoridades Interventor Federal na Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr General de Exército Walter Souza Braga Netto Secretário de Estado de Segurança Exmº Sr General de Divisão Richard Fernandez Nunes Comandante-Geral Ilmº Sr Coronel PM Luis Cláudio Laviano Chefe do Estado-Maior Geral Ilmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Marinho Pires Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel PM Ricardo Bakr de Souza Faria Comandante do CFAP 31 de Vol Ilmº Sr Coronel PM Rosana Fernandes de Paula Comandante do Centro de Qualificação de Profissionais de Segurança Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Maximiano Boaventura Bresciani BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 3 APRESENTAÇÃO Atualmente, conhecimento, informação, tecnologia e serviço constituem valores de primeira grandeza, capazes de transformar o ambiente interno e externo das organizações sociais e das instituições públicas. No intuito de instigar a autonomia, permitir a flexibilidade temporal, evitar o deslocamento de efetivo e facilitar questões de cunho logístico, o Comando da Corporação, através da proposta do Diretor-Geral de Ensino e Instrução, interligando os eixos acima supracitados, oferece a você, Sargento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o Curso Especial de Formação de Sargentos EAD/2018 (CEFS – EAD/2018). Este curso tem por objetivo não só capacitar, mas confirmar as divisas dos policiais militares já promovidos à graduação de 3º Sargento. Para tanto, as disciplinas do CEFS serão todas no ambiente virtual de aprendizagem, através da Escola Virtual, no Centro de Qualificação de Profissionais de Segurança Pública (CQPS), Assim, ressaltamos a importância de sua dedicação ao curso, pois um policial militar bem formado, bem treinado, capacitado e motivado para o cumprimento da missão, conhecedor dos valores institucionais alicerçados sob a base do conhecimento, da informação, da tecnologia e do serviço, é capaz de consolidar e aprimorar a sua consciência democrática; cultivar elevados padrões morais para continuar com dignidade no exercício da profissão; garantir o respeito às leis e a dedicação ao cumprimento do dever; estimular o senso de responsabilidade e o interesse pela comunidade; dentre outros. Desta forma, esperamos que com este curso você, policial militar, possa estar fortalecendo seu vínculo profissional, repensando o seu papel como profissional diante da necessidade de soluções cada vez mais rápidas e dentro da legalidade para os mais complexos problemas enfrentados no singular cotidiano do Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Ricardo Bakr de Souza Faria - Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 4 Desenvolvedores Supervisão Geral do Curso MAJ PM Carlos Eduardo Oliveira da Costa Coordenação Pedagógica CAP PM Ped Vânia Pereira Matos da Silva Equipe Técnica SUBTEN PM Wilian Jardim de Souza CB PM Marco Antônio José Ribeiro Júnior CB PM Wagner Moraes de Paiva Conteudista 1º TEN PM Carolina de Sá 2ºSGT PM Marco Antônio de Paula Franco Revisor Ortográfico Cap PM PED Patricia Kalife Paiva Revisores: Divisão de Ensino CFAP 31 Vol Cap PM PED Patricia Kalife Paiva 3º SGT PM Elaine Xavier de Oliveira Alves de Lima CB PM Rodrigo Barroso Candido Diagramação 3º SGT PM Wallace Reis Fernandes CB PM Alecsara Tognoc da Costa Abreu CB PM Thiago Silva Amaral CB PM Raquel Mendes Macolagwa CB PM Adriana de Oliveira Santos de Souza Design Instrucional CAP PM Ped Vânia Pereira Matos da Silva Vídeo e Animação CB PM Joyce Gaspar de Almeida Web Designer SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao aluno 2º SGT PM Anderson Inácio de Oliveira BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO À BIOSSEGURANÇA ........................................... 6 A HIGIENE DURANTE O SERVIÇO POLICIAL MILITAR ............ 14 AVALIAÇÃO GERAL DA VÍTIMA .............................................. 22 HEMORRAGIAS E ESTADO DE CHOQUE .................................. 40 TRAUMAS ............................................................................... 52 PARTO DE EMERGÊNCIA ........................................................ 74 ATENDIMENTO EM DESMAIO OU SÍNCOPE ............................. 83 CONVULSÕES E ATAQUE EPILÉTICO ...................................... 87 FERIMENTOS ......................................................................... 92 QUEIMADURAS ...................................................................... 96 CONCLUSÃO ......................................................................... 101 BIBLIOGRAFIA .................................................................... 102 BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 6 INTRODUÇÃO À BIOSSEGURANÇA Você saberia identificar a aplicação dos conhecimentos de biossegurança na atividade de Policial Militar? E a relação entre biossegurança e segurança pública? Identificar os riscos inerentes à atividade Policial Militar, com atenção aos riscos biológicos e ergonômicos e suas implicações na saúde é muito importante, tão como distinguir fatores capazes de desencadear problemas de ordem psicológica, psiquiátrica ou, até mesmo, doenças ocupacionais. Vamos começar? O policial preparado para atuar numa sociedade democrática deve conhecer os conceitos fundamentais e atitudes básicas necessárias à prevenção e redução dos danos ao cidadão, a si próprio e aos companheiros de profissão. Deve ainda conscientizar-se dos riscos aos quais está exposto no exercício de sua ação profissional. E, através de informações e técnicas adquiridas na disciplina, recorrer a cuidados e procedimentos que evitarão contaminações em um ambiente de crime, problemas de ordem psicológica ou psiquiátrica, ou até mesmo doenças ocupacionais. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 7 Acidente de Trabalho De acordo com a Lei nº 8.213 de 1991, “acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa [...], provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Assim, fica definido que, para se determinar um acidente, há a necessidade de dano ao trabalhador. Por outro lado, vários incidentes, isto é, acontecimentos não esperados ou desejados que não levam a danos, mas reduzem a eficiência da empresa, podem ocorrer durante o trabalho. Dessa forma, a correta notificação de incidentes, identificação e correção das causas é importantíssima para se evitar os acidentes. Causas do acidente Entre as causas de acidentes, durante a ação policial, podem ser elencados: Fatores sociais; Manutenção falha de equipamentos; Inobservância de regras; Planejamento inadequado; Desqualificação; Falta de higiene pessoal; Jornada excessiva; Projeto inadequado, etc. Sendo assim, as causas do acidente podem ser classificadas em ato inseguro, condição insegura ou fator pessoal de insegurança. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 8 Ato inseguro É todocomportamento de risco, voluntário ou não, que uma pessoa assume e que pode provocar um acidente. Exemplos: manuseio irregular de arma de fogo; falta de manutenção nos equipamentos de segurança; não utilização de coletes balísticos e capacetes, quando necessários. Para evitar esse tipo de acidente, o policial militar deve: Realizar uma avaliação criteriosa das normas de segurança veicular nas viaturas; Verificar a calibragem de pneus, estepe, extintor de incêndio, funcionamento correto do GPS e do rádio transmissor; Cumprir as normas do decálogo do policiamento ostensivo. Condição insegura Trata-se de situações existentes no ambiente que podem provocar acidentes. Exemplos: utilizar uma viatura com problemas de freio em um declive, com baixa luminosidade em período noturno e em dias chuvosos. Para evitar esse tipo de acidente, o policial militar deve: Avaliar criteriosamente a cinemática do tipo de acidente, no momento da abordagem; Observar se há luminosidade suficiente no local da ocorrência para avaliação do acidentado; Considerar as condições climáticas e geográficas (aclives ou BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 9 declives) em relação ao tipo de viatura utilizada; Analisar o tipo de ocorrência em relação ao número de componentes da guarnição; Fazer uma observação primária de possíveis locais de abrigo em situações de confronto armado. Fator pessoal de insegurança Refere-se a problemas pessoais do indivíduo que podem provocar acidentes. Exemplo: Policial Militar portador de doenças neurológicas que não busca tratamento nas unidades de saúde e continua realizando serviços externos. Tipos de Acidentes Com a implantação das Unidades de Polícia de Pacificação, temos de levar em conta que a cinemática do acidente poderá ser de forma doméstica ou externa, podendo resultar em acidente de trabalho para um policial. Acidente doméstico É todo acidente acontecido no ambiente interior, seja de uma residência ou mesmo de um espaço geográfico compreendido intramuros. Exemplos: explosões de botijões de gás e de panelas de pressão; na parte elétrica, os curtos-circuitos; pisos molhados e ensaboados; utilização de cadeiras ou outros pequenos móveis em substituição de escadas. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 10 Acidente externo É todo acidente acontecido em vias públicas, campos e praças. Exemplos: utilização de linha de pipa com cerol, que podem causar danos graves a pedestres e motociclistas; transpor alambrados desgastados. Risco e Perigo Toda condição de trabalho tem seus respectivos perigos, isto é, há sempre fontes ou situações com potencial para gerar danos à saúde ou à integridade física, ao patrimônio, ao ambiente de trabalho, ou a uma combinação destes. Da mesma forma, a probabilidade de o perigo se materializar é considerada o risco inerente a cada função. A Lei de Biossegurança no Brasil nº 11.105 de 24 de março de 2005- enfoca os riscos relativos à manipulação de organismos geneticamente modificados e às pesquisas científicas com células- tronco embrionárias. Entretanto, o conceito de biossegurança engloba atividades em diversos outros cenários, onde há o enfoque à prevenção de riscos gerados pelos agentes químicos, físicos e ergonômicos, envolvidos em processos nos quais o risco biológico se faz presente ou não. Nestes casos, a ideia de biossegurança converge com os objetivos de outras áreas, como a engenharia e a medicina do trabalho, a higiene industrial e a engenharia clínica. De acordo com o Ministério de Trabalho (Norma Regulamentadora nº 5), os riscos são classificados em: físicos, químicos, biológicos, riscos ergonômicos e de acidentes. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 11 Riscos Físicos São os riscos oriundos das diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores. Exemplos: ruído, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, ultrassom, materiais cortantes e pontiagudos e outros. Riscos Químicos Riscos químicos são os resultantes da penetração, no organismo do trabalhador, de substâncias, compostos ou produtos químicos pela via respiratória, nas formas de poeira, fumo, gases, neblina, névoa ou vapores, ou, dependendo da natureza da atividade ou da exposição, por meio da absorção através da pele ou por ingestão. Riscos Biológicos As bactérias, vírus, fungos, parasitos, entre outros, são agentes de risco biológico. Os agentes de risco biológico podem ser distribuídos em quatro classes de 1 a 4 por ordem crescente de risco, classificados segundo os seguintes critérios: Patogenicidade para o homem; Virulência; Modos de transmissão; Disponibilidade de medidas profiláticas eficazes; Disponibilidade de tratamento eficaz; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 12 Endemicidade. O risco ocupacional relacionado a materiais biológicos varia de acordo com a quantidade e o tipo do material biológico envolvido (sangue, saliva, sêmen etc), forma de exposição (contato, injeção de material biológico), a área exposta ao material (mucosa, pele, ferida) e as condições clínicas do paciente-fonte. Riscos de Acidentes Quaisquer fatores que coloquem o policial em situação vulnerável e possam afetar sua integridade e seu bem-estar físico e psíquico. Exemplos: confronto armado, resgate de vítimas em poder de marginais, trabalho com máquinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio, explosão e outros. Riscos Ergonômicos Quaisquer fatores que possam interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando sua saúde. Exemplos: o levantamento e transporte manual de peso, o ritmo excessivo de trabalho, a monotonia, as atividades repetitivas, a responsabilidade excessiva, a postura inadequada de trabalho, o trabalho em turnos e outros. A ergonomia é a ciência que se ocupa do estudo dos riscos ergonômicos no ambiente de trabalho. Atualmente, a ergonomia é entendida como o estudo científico multidisciplinar e a aplicação de BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 13 tecnologias às relações do homem com seu ambiente de trabalho. Essa noção de ambiente de trabalho não se restringe ao local de atuação, mas vai além, alcançando os instrumentos, as metodologias e a própria organização do trabalho. Enquadram-se, ainda, no campo da ergonomia, as características psicológicas, fisiológicas, antropométricas e biomecânicas do trabalhador. Dessa forma, a ergonomia não só avalia e propõe mudanças para reduzir os riscos ergonômicos, mas pretende contribuir para satisfazer as necessidades humanas no ambiente de trabalho, promovendo saúde e bem-estar ao trabalhador. A ergonomia busca prevenir, por exemplo, a LER – Lesão por Esforço Repetitivo / DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. No entanto, deve-se ficar atento ao fato de que a propensão a se desenvolver LER/DORT apresenta relação com o trabalho, com a carga horária da atividade e também com aspectos da vida diária família. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 14 A HIGIENE DURANTE O SERVIÇO POLICIAL MILITAR Você já ouviu falar sobre o conceito higiene ocupacional? Seria capazde reconhecer as ações preventivas para a manutenção da saúde do trabalhador? É muito importante sabermos identificar os possíveis meios de contágio de doenças infectocontagiosas em nossa profissão. Reagir e enfrentar situações de urgência, com prudência, coragem e segurança fazem parte da nossa missão. Para isso, é preciso adotar cuidados e procedimentos que evitem contaminações em um ambiente de crime ou situações adversas, entre outras. Portanto, vamos conhecer os principais equipamentos de proteção utilizados pelas forças policiais, suas características técnicas, formas de utilização e cuidados. Higiene Ocupacional O policial militar deve identificar fatores que possam interferir no cotidiano, avaliar atitudes profissionais em campo e adotar medidas de precauções que sirvam de subsídio para a melhoria e prevenção de situações de risco a que estão expostos, as quais incluem a correta utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), bem como a observação dos demais princípios básicos de higiene. É imprescindível que o Policial Militar conheça as medidas de prevenção a fim de evitar as principais doenças infectocontagiosas, com atenção especial àquelas transmissíveis no socorro. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 15 Princípios básicos de higiene e proteção na atividade policial militar Utilização de equipamento de proteção individual (EPI) apropriado; Lavagem das mãos; Atenção na manipulação de materiais e instrumentos; Cuidado na manipulação de materiais perfuro-cortantes; Limpeza e desinfecção de superfícies e equipamentos; Imunização (vacinas). Biossegurança em Abordagens de Urgência Sabe-se que em inúmeros acidentes o policial é o primeiro a chegar ao local, e sua atuação é primordial para o salvamento de vidas. Vale ressaltar, no entanto, que muitas vezes, em situações de socorro, os policiais são expostos a material potencialmente contaminado, pois em geral desconhece-se a condição clínica do paciente-fonte. Nestes casos, é importante a avaliação clínica e laboratorial destes pacientes sempre que possível. Doenças Transmissíveis no Socorro Embora tenha sido documentado que pelo menos 60 patógenos podem ser transmitidos através da exposição aos fluidos corpóreos, muita ênfase tem sido dada à epidemiologia e à prevenção das exposições ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), Vírus da hepatite B (HBV) e Vírus da hepatite BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 16 C (HCV), que passaram a representar um sério problema de saúde pública. Sobretudo em ocorrências de atendimento pré-hospitalar às vítimas de acidentes, o risco de aquisição de infecções virais como HIV e hepatites (B e C) é real, podendo variar de 0,09% (em caso de contato de mucosa com sangue HIV positivo) a 60% (no caso de exposição ocupacional ao vírus da hepatite B). Por isso, equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras devem estar disponíveis e ser utilizados sempre que exista risco de contato com materiais biológicos humanos. Hepatites Cinco diferentes vírus são reconhecidos como agentes etiológicos da hepatite viral humana: o vírus da hepatite A (HAV), o vírus da hepatite B (HBV), o vírus da hepatite C (HCV), o vírus da hepatite D ou Delta (HDV) e o vírus da hepatite E (HEV). Transmissão: As Hepatites virais B e C possuem via de transmissão parenteral, sexual (esperma e secreção vaginal) e vertical, por diversos mecanismos, como o compartilhamento de material contaminado, seja para uso de drogas (seringas, agulhas e canudos), seja para higiene pessoal (alicates de unha, barbeadores, escova de dente), seja para colocação de tatuagens e piercings, entre outras. Prevenção: Use preservativos de látex (“camisinha”) nas relações sexuais; Evite promiscuidade sexual (múltiplos parceiros); Não compartilhe agulhas ou seringas; Use luvas protetoras quando em contato com sangue ou outras secreções corporais; Evite a ingestão de água e alimentos de origem e condições sanitárias desconhecidas. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 17 Vacinação: É recomendada a vacina contra a hepatite B em três doses (dias 1, 30 e 180); Em caso de exposição à doença, procure um médico imediatamente. Síndrome da imunodeficiência adquirida humana (AIDS) É causada pelo “vírus da imunodeficiência humana” (HIV). O vírus entra no organismo provocando defeitos no sistema de defesa contra infecções. Transmissão: Contato direto do vírus com o sangue (transfusões, uso compartilhado de drogas endovenosas); Contato íntimo (sexual) com a membrana mucosa dos olhos, boca, garganta, reto ou vagina; Parto ou amamentação realizada por lactante contaminada. Prevenção: Use preservativos de látex (“camisinha”) em todas as relações sexuais; Não compartilhe agulhas ou seringas; procure ajuda médica para tratamento; Evite a promiscuidade sexual (múltiplos parceiros); Não faça aleitamento materno cruzado (o recém-nascido deve ser amamentado pela própria mãe, evitando-se a “ama de leite”). Procedimentos: Evite o contato com sangue, sêmen e secreção vaginal dos portadores do vírus; Pessoas com AIDS não precisam e não devem ser afastadas de suas casas, escolas, trabalho ou comunidades, já que não oferecem BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 18 risco de contágio apenas pela convivência; Evite o contato direto com a vítima, principalmente se houver sangue e secreções, pois podem estar contaminadas pelos vírus da AIDS ou da Hepatite B; De maneira geral, recomenda-se que os cortes abertos sejam cobertos com bandagens ou tecidos plásticos, evitando o contato com o sangue da vítima; se não houver disponibilidade de conseguir luvas de látex, podem-se utilizar sacos plásticos; Em caso de necessidade de realização do procedimento de respiração boca a boca, utilize alguma proteção para evitar o contato direto com a boca da vítima; mas vale salientar que não existe qualquer evidência de que a AIDS seja transmissível pela saliva. Principais meios de contágio das doenças infectocontagiosas na atividade policial militar Contaminação das mãos no contato indireto, por rádio de comunicação, maçanetas, alça de mochila, puxadores de portas, ou outros objetos contaminados; Exposição direta dos olhos, boca e mãos às secreções eliminadas pela vítima; Inalação de vírus e bactérias no ambiente onde a vítima se encontra; Acidente com material perfuro-cortante; Inobservância de normas de biossegurança em atividades de primeiros socorros ou durante o próprio processo de descontaminação de superfícies e materiais. Biossegurança em Assepsia de Viaturas e Materiais Quando e porque realizar a assepsia de viaturas e materiais: Em caso de transporte de objetos sujos, contaminados; Em caso de transporte de feridos (infratores, suspeitos e BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 19 outras pessoas envolvidas em ocorrências policiais ou o próprio Policial Militar); Socorro a vítimas de acidentes; Socorro de parturientes; O objetivo é inibir a proliferação de agentes infecciosos e evitar a contaminação dos profissionais. Materiais: luvas de borracha, papel toalha ou lenço de papel descartável, pano de chão, rodo, hipoclorito de sódio 1% (solução pronto uso). Procedimentos: Reúna os materiais e produtos necessários paraexecutar a limpeza; Use barreiras de proteção apropriadas para tarefa a ser executada (luvas, óculos de proteção); Retire a matéria orgânica (se houver) com pano ou papel e despreze em saco de lixo que deverá ser bem vedado; Realize a limpeza utilizando movimentos em um único sentido; Coloque a solução de hipoclorito sódio 1% no local de onde foi retirada a matéria orgânica e deixe agir por 15 minutos; Remova o hipoclorito de sódio da área higienizada; Limpe com água e sabão o restante da área conforme técnica de dois baldes: (um balde com água e sabão; um balde com água limpa); Descarte o lixo em local apropriado. Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) De acordo com a NR-6 do Ministério do Trabalho, Equipamento de Proteção Individual (EPI) é todo dispositivo ou produto de uso BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 20 individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. ATENÇÃO: EPIs não conferem 100% de proteção! Todo EPI deve apresentar um certificado de aprovação pelo Ministério do Trabalho, além dos certificados de conformidade de instituições como o INMETRO. Os EPIs devem estar dentro do prazo de validade. O empregador deve prover aos trabalhadores os EPIs, ensinar o correto uso e exigir sua utilização, responsabilizando-se pela higienização e substituição imediata quando danificados ou extraviados. Por outro lado, o empregado deve utilizar os EPIs apenas para a finalidade a que se destinam, responsabilizar-se pela guarda e conservação deles, comunicar ao empregador qualquer alteração que os torne impróprios para uso e cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. Equipamentos de Proteção Individual na Atividade Policial Militar Dentre os diversos equipamentos de proteção utilizados pelas forças policiais, destacamos aqui aqueles destinados à proteção do profissional de segurança pública, dos quais os mais comuns e mais importantes são: Colete balístico: Destinam-se à proteção, das regiões do tórax e abdome, contra de disparos de arma de fogo. Atualmente, o uso do colete à prova de balas como equipamento de proteção individual está amplamente difundido tanto no meio militar quanto no policial, desde as equipes dos grupos de operações especiais, no policiamento motorizado e até mesmo aos que cumprem o policiamento ostensivo a pé. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 21 Capacetes e Escudos: Destinam-se à proteção do crânio e face em ocorrências onde se verificam possibilidades de impactos provenientes de arremesso de pedras e similares, golpes com barras metálicas e disparos de arma de fogo, dentre outros. Máscara contra gases: A máscara contra gases é um equipamento de proteção individual, que permite a permanência do homem em atmosfera gaseada, sem que inspire ar contaminado. É o principal meio de proteção individual, tanto em ambiente químico quanto biológico ou nuclear. Na atividade policial é mais usada por grupos de operações especiais e tropas de choque, visto que essas unidades policiais utilizam com maior frequência os agentes químicos, que exigem o uso deste importante EPI. Perneiras: As perneiras, mais usadas por tropas de choque e grupos táticos, visam proteger os policiais contra objetos arremessados por possíveis agressores e pancadas das pernas contra objetos e barricadas durante a entrada em edificações. Luvas e balaclavas: Confeccionados em NOMEX ou ARAMIDA, esses equipamentos têm o objetivo de proteger o usuário de chamuscamento no rosto e nos braços, causados pelo lançamento de coquetéis molotov ou outros artefatos incendiários que possam vir a ser lançados contra a tropa ou por barreiras incendiárias. Figura 1. EPIs utilizados na atividade Policial Militar BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 22 Figura 2. EPI’s utilizados pelas forças de operações especiais da Policial Militar AVALIAÇÃO GERAL DA VÍTIMA Você está preparado para prestar os primeiros socorros com segurança para a vítima, para si mesmo e para sua equipe? Você sabe o que deve ser avaliado nas vítimas no primeiro contato? Distinguir os sinais e principais causas de uma parada respiratória e cardíaca, efetuando de forma precisa as manobras de suporte de suporte básico de vida ou identificar uma situação de BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 23 obstrução de vias aéreas por corpo estranho, sendo capaz de aplicar as principais manobras de desobstrução de vias aéreas, por exemplo, são procedimentos de suporte básico de vida, daí a grande importância de nos dedicarmos a esta disciplina. Análise do Cenário Ao se deparar com o local de acidente ou desastre, o policial militar, antes de atender à (s) vítima (s), deve observar alguns fatores de extrema importância que preservarão sua segurança e de sua guarnição e auxiliarão no diagnóstico das lesões sofridas pela(s) vítima(s). Tais fatores são os seguintes: Cinemática do trauma; Neutralização do perigo; Observação inicial do acidentado. Portanto, é necessário seguir uma rotina no atendimento, desde o deslocamento para o local do acidente ou desastre, passando pela chegada à área de socorro, remoção e condução da ocorrência. Vejamos cada tópico separadamente. Cinemática do trauma Observação do local onde aconteceu o acidente, dos problemas apresentados e avaliação do local em relação ao risco para o policial militar e sua equipe. Neutralização do perigo Deparando-se com o local de acidente ou desastre, é dever da guarnição analisar a área como um todo. Quando identificada uma situação de risco pela equipe, o policial militar deve procurar imediatamente neutralizá-la ou removê-la, manter a calma, afastar os curiosos, isolar e proteger o ambiente, autorizar a atuação de outras pessoas somente se estas forem qualificadas e identificadas. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 24 As situações de risco mais comumente encontradas são: Emboscada; Proximidade de curiosos; Ataque de animais; Incêndio; Cabos elétricos energizados; Desabamento; Curto-circuito; Vazamento de combustível. Exame geral da vítima (avaliação primária) A observação inicial da vítima é conhecida como Avaliação Primária, e quando bem feita, concorre de maneira decisiva no sucesso do socorro. Seu objetivo é identificar e corrigir, de imediato, problemas que ameacem a vida a curto prazo. Assim, na avaliação primária o socorrista analisa o nível de consciência, a presença de pulso palpável (indicativo da presença ou ausência de circulação), a presença de respiração e a qualidade da ventilação e sinais de hemorragia externa ou interna, intervindo sempre que necessário. Avaliação do nível de consciência Estando o ambiente seguro, o cidadão socorrista, de posse das barreiras de proteção, deve aproximar-se da vítima posicionando-se com os dois joelhos ao solo e, então, verificar o estado de consciência, fazendo uso da técnica AVDI: A – Alerta: vítima alerta, acordada; V – Estímulo Verbal: responsivo a estímulos verbais; D – Estímulo Doloroso: responsiva a estímulos dolorosos, através da técnica de esfregaço do meio do osso externo, evitando ao máximo utilizar a torção do mamilo, embora ainda permaneça no protocolo daOMS; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 25 I – Inconsciente: não responsiva. Em vítimas inconscientes, deve-se avaliar as funções vitais do organismo (batimentos cardíacos, respiração, temperatura, etc). Independente do estado da vítima deve-se acionar o serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU), a fim de garantir assistência adequada e sua remoção, caso necessário. Avaliação da circulação Deve ser feita deve através da palpação do pulso carotídeo, que não deve demorar mais que 10 segundos, e na ausência deste iniciar as compressões torácicas. Em bebês deve ser utilizada a artéria braquial, palpável na face interna do braço, entre o cotovelo e o ombro. Ainda nesta fase da avaliação, caso seja constatada a presença de grandes hemorragias, deve-se providenciar sua contenção. Pulso fraco, inconsciência, pele fria e pegajosa, de coloração acinzentada ou pálida são indicativos de uma rápida diminuição do volume sanguíneo resultante de presença de hemorragia. Logo, o socorrista deve também atentar para uma avaliação rápida destes sinais vitais nesta fase da avaliação. Avaliação e manutenção de vias aéreas Estando a vítima inconsciente, deve ser feita a abertura das vias aéreas através da inclinação da cabeça e elevação do queixo. Em caso de suspeita de trauma medular, deve-se fazer somente a elevação da mandíbula, tomando-se o cuidado para que as manobras realizadas sejam feitas com a proteção da coluna cervical, isto é, de sem hiperextensão da cabeça. A seguir abre-se a boca da vítima à procura de objetos estranhos que possam obstruir a passagem de ar para os pulmões, como: prótese dentária deslocada, dentes quebrados, balas, etc. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 26 Deve-se fazer a lateralização da cabeça em caso de vômito ou secreções abundantes na região oral, a fim de evitar a aspiração e manter desobstruídas as vias aéreas superiores. Entretanto, A principal causa de asfixia em vítimas inconscientes é a obstrução pela própria língua devido à falta de tônus muscular. Assim, evitar a queda da língua e manter a permeabilidade das vias aéreas, pode salvar muitas vidas. Avaliação da respiração A abertura das vias aéreas por si só não significa respiração adequada, estando a vítima inconsciente é preciso avaliar sua respiração, para tanto, pode-se apoiar a mão sobre o peito ou costas da vítima, o que irá permitir visualizar e sentir os movimentos respiratórios. Outro modo seguro é aproximar o ouvido das vias aéreas da vítima de modo a ouvir o som oriundo da passagem de ar, bem como verificar a presença de ruídos que denotem alguma dificuldade respiratória. É possível avaliar a respiração e circulação simultaneamente, posicionando dois dedos sobre a artéria carótida e aproximando seu ouvido do nariz e boca da vítima. Assim, você terá uma noção mais rápida da respiração e circulação, poupando tempo. Figura 2. Pulso da artéria carótida Figura 3 - Manobra da inclinação da cabeça e elevação do queixo. Figura 4 - Manobra de elevação do ângulo da mandíbula. Figura 5 – Inspeção e desobstrução de vias aéreas. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 27 Exame físico O exame físico deve ser feito através da inspeção e palpação do corpo da vítima, no sentido céfalo - caudal, isto é, da cabeça até os pés. Ao examinar devemos saber o que estamos procurando, pois do contrário os sinais aparecerão e passarão despercebidos podendo levar a complicações diversas ou até mesmo ao óbito. Cabeça e pescoço: Observar a coloração da face; Verificar a existência de corpos estranhos nas vias aéreas; Pesquisar hemorragias, ferimentos ou queimaduras no nariz e nos olhos; Verificar se a vítima consegue abrir os olhos e se enxerga bem; Observar os ouvidos; Apalpar delicadamente todo o crânio, verificando se há depressões nos ossos; Apalpar o pescoço e checar o pulso carotídeo; Apalpar a coluna vertebral da nuca até os ombros, procurando por deformidades. Coluna vertebral Correr a mão pela coluna desde os ombros até a região sacra, procurando irregularidades ou sensações dolorosas; Se suspeitar de fratura de coluna, toda movimentação deverá ser evitada. Tórax e membros superiores Pesquisar ferimentos no peito, dor ao respirar ou ao comprimir o tórax; Tentar localizar dores nos ombros, cotovelos, punhos ou entre essas regiões, procurando luxações ou edemas (inchaços); Estando a vítima inconsciente, fazer esta avaliação com mais cuidado, pois os parâmetros de dor e incapacidade funcional não podem ser pesquisados. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 28 Abdômen e membros inferiores Procurar ferimentos, rigidez muscular ou dores abdominais; Pesquisar dor e incapacidade funcional nos membros inferiores, deformações e edemas; Observar quanto à possibilidade de ter havido fratura do osso da pelve e hemorragia interna. Atenção! É importante procurar nos documentos qualquer informação sobre possíveis doenças de que a vítima seja portadora. Suporte Básico de Vida É um conjunto de procedimentos encadeados em sequência fixa, caso a vítima apresente para respiratória ou cardiorrespiratória, que visa manter as funções vitais mínimas (circulação e respiração) até a chegada de auxílio especializado. Os passos básicos do Suporte Básico de Vida são chamados de “ABC da Reanimação”, na verdade, CAB de acordo com o novo protocolo preconizado pela Associação Americana do Coração em 2010. C = Manter funcionando a circulação e controlar grandes hemorragias; A = Manter a permeabilidade das vias aéreas com estabilização da coluna cervical; B = Assegurar uma boa respiração. Assim, a sequência de procedimentos do suporte básico de vida é: Reconhecimento rápido da parada cardíaca e início imediato das compressões torácicas com vistas à reanimação cardiopulmonar e manutenção da circulação; Ação rápida diante de qualquer vítima que se torne BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 29 inconsciente com atenção à abertura de vias aéreas e manutenção de sua permeabilidade, procedendo a respiração de resgate para vítimas em parada respiratória; Reconhecimento e tratamento da obstrução das vias aéreas por corpo estranho. Parada cardíaca A parada cardíaca representa uma situação de emergência muito grave e requer tratamento imediato. A falta de circulação sanguínea no organismo decorre da falta de bombeamento por parte do coração, leva à falência sucessiva de vários órgãos do nosso corpo, iniciando-se pelo cérebro, pois os neurônios não suportam mais que cinco minutos sem oxigênio para realizar seu metabolismo. Da mesma forma, há a falência dos outros órgãos, determinando, em poucos minutos, a morte do indivíduo. Ausência de batimentos cardíacos e pulsação; Ausência de respiração; Inconsciência; Lábios, unhas e língua com coloração azulada ou arroxeada (cianóticos); Palidez excessiva; Pupilas dilatadas. Reanimação cardiopulmonar (RCP) em adultos Procedimentos: Para que os procedimentos de RCP sejam eficazes, a vítima deve ser posicionada sobre uma superfície plana e rígida em decúbito dorsal (ditada de costas no solo). A cabeça não deve ficar mais alta que os pés, para não prejudicar o fluxo sanguíneo cerebral; Apoie a palma de uma das mãos sobre a metade inferior do esterno; Coloque a outra mãosobre a primeira. Os dedos podem ficar BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 30 estendidos ou entrelaçados, mas não devem ficar em contato com o esterno; A compressão deve ser feita diretamente sobre o esterno, na frequência de, no mínimo, 100 compressões/min, profundidade igual ou maior que 5cm, sempre permitindo o retorno do tórax após cada compressão; A força da compressão deve ser provida pelo peso do seu tronco e não pela força de seus braços; Efetue 30 compressões sobre o esterno seguidas de 2 ventilações; O procedimento deve ser repetido até a chegada do serviço médico de urgência. Figura 6 – Localização do ponto para realização das compressões torácicas Figura 7 - Posicionamento para realização das compressões torácicas Figura 8 - Realização de compressões e ventilações. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 31 Lembre-se: São 30 compressões para duas ventilações sobre o esterno Reanimação cardiopulmonar (RCP) em crianças de 1 a 8 anos Procedimentos: A vítima deve ser posicionada sobre uma superfície plana e rígida em decúbito dorsal; As compressões devem ser realizadas na metade inferior do esterno, sempre evitando o apêndice xifoide, com 1 ou 2 mãos, o que determina se será necessária a utilização de 1 ou 2 mãos é o diâmetro anteroposterior (AP) da vítima; A frequência das compressões deve ser, no mínimo, de 100/min e no máximo de 120/min, se for realizar apenas compressões, com profundidade de no mínimo 1/3 do diâmetro torácico, cerca de 5 cm, sempre permitindo o retorno total do tórax à sua posição inicial, após cada compressão; Assim como na RCP em adultos, a relação de compressões/ventilações deve ser de 30 compressões para 2 ventilações; A cada 30 compressões e 2 ventilações é denominado 1 ciclo; Deve-se minimizar as interrupções nas compressões, não demorar mais de 10 segundos entre a última compressão de um ciclo e a primeira compressão do ciclo seguinte; O procedimento deve ser repetido até a chegada do serviço médico de urgência. Figura 9 - Compressões torácicas em crianças com 1 ou 2 mãos. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 32 Reanimação cardiopulmonar (RCP) em bebês de 0 a 1 ano de vida Procedimentos: Deitar a criança sobre uma superfície firme; Traçar uma linha imaginária nos mamilos, colocar 2 dedos logo abaixo da linha intermamilar e comprimir o tórax no esterno, em linha reta, numa profundidade de 1/3 da altura anteroposterior do tórax, cerca de 4cm; A frequência das compressões deve ser, no mínimo, de no mínimo 100 compressões por minuto. O tórax deve retornar à sua posição normal após cada compressão. No atendimento com apenas um socorrista, realizar 30 compressões e 2 ventilações; Na existência de dois socorristas, um profissional deve realizar compressões torácicas, enquanto o outro mantém a via aérea aberta e executa ventilações a uma razão de 15 compressões e 2 ventilações, com interrupções mínimas nas compressões torácicas. O procedimento deve ser repetido até a chegada do serviço médico de urgência. Figura 10 - Compressões torácicas realizadas por 1 socorrista em lactente. Parada respiratória A parada respiratória é a suspensão súbita dos movimentos respiratórios que pode ou não se acompanhada de parada cardíaca. Em geral, o fluxo sanguíneo cerebral inadequado, resultante de acidente vascular cerebral, choque ou parada cardíaca pode afetar gravemente o centro respiratório encefálico, responsável pelo controle da respiração, provocando então a parada respiratória. Entretanto, BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 33 uma parada respiratória pode ser provocada também quando a oxigenação do sangue for muito reduzida, mesmo que a quantidade de sangue que circula pelo encéfalo seja normal. Nesses casos, a vítima pode apresentar uma parada respiratória completa ou realizar esforços respiratórios ineficazes – respirações “agônicas”, geralmente associados à contrações de músculos de braços e pernas. Sinais: O peito da vítima não se mexe quando ocorre parada dos movimentos respiratórios; Os lábios, língua e unhas ficam azulados (cianótico). Causas: Gases venenosos, vapores químicos ou falta de oxigênio; Envenenamento com ingestão de sedativos ou produtos químicos; Abalos violentos resultantes de explosão; Pancada na cabeça ou no abdômen; Choque elétrico; Soterramento; Afogamento. Tão logo seja evidenciada a parada respiratória ou respiração anormal em uma vítima, deve ser realizada a reanimação pulmonar através das respirações de resgate. Método de respiração boca a boca (para adultos) Procedimentos: Coloque-a deitada de costas, levante seu pescoço com uma das mãos e incline a cabeça dela para trás, mantendo-a nesta posição; Verifique se há qualquer objeto obstruindo a boca ou a garganta da vítima; Use a mão que levantou o pescoço para puxar o queixo da vítima para cima, de forma que a língua não impeça a passagem do ar; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 34 Feche bem as narinas da vítima usando o polegar e o indicador; Coloque sua boca com firmeza sobre a boca da vítima; Sopre para dentro de sua boca até notar que o peito está se levantando; Deixe-a expirar livremente; Repita o movimento 12 a 18 vezes por minuto. Figura 11 – Método de respiração boa a boca. Método boca a boca/nariz (para crianças e bebês) Procedimentos: Deite a criança com o rosto para cima e a cabeça inclinada para trás; Levante seu queixo de modo que fique projetado para fora; Conserve a criança nessa posição de forma que a língua não obstrua a passagem de ar; Coloque a boca sobre a boca e o nariz da criança, soprando suavemente até notar que seu peito se levanta; Deixe-a expirar livremente; Tão logo a criança expire, repita o método; Mantenha um ritmo de 12 a 18 ventilações por minuto; Sempre que possível, pressione levemente o estômago da criança para evitar que este se encha de ar. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 35 Figura 12 – Método de respiração boca a boca/nariz Obstrução de Vias Aéreas por Corpo Estranho (OVACE) Entende-se por obstrução de vias aéreas toda situação que impeça total ou parcialmente o trânsito de ar ambiente até os alvéolos pulmonares. A restauração e manutenção da permeabilidade das vias aéreas nas vítimas de trauma são essenciais e devem ser feitas de maneira rápida e prioritária, podendo resultar em morte dentro de minutos se não tratadas. Uma vítima pode desenvolver obstrução de vias aéreas devido a causas intrínsecas (obstrução das vias aéreas por relaxamento da língua) ou extrínsecas (aspiração de corpo estranho). Classificação da obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE) Obstrução leve (parcial): A vítima apesenta sibilos e respiração ruidosa. No entanto, é capaz de tossir e ainda consegue manter uma troca gasosa satisfatória. Neste caso, o socorrista não realiza as manobras para expelir o corpo estranho. Deve encorajar a vítima a persistir na tosse espontânea e nos esforços respiratórios, até a chegada do serviço médico de urgência. Obstrução Grave (total): A vítima apesenta aumento na dificuldade respiratóriae incapacidade de tossir ou falar. Pode ainda demonstrar o sinal clássico, universal de asfixia, agarrando o próprio pescoço, apresentando ansiedade e cianose. Neste caso, a pronta ação do socorrista é urgente, preferencialmente enquanto a vítima ainda BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 36 está consciente. A intervenção precoce é fundamental para que o atendimento seja o mais eficaz possível. Desobstrução das vias aéreas Em caso de obstrução grave das vias aéreas em vítima consciente, deve-se utilizar a Manobra de Heimlich. Esta técnica foi descrita, em 1974, pelo médico americano Henry Heimlich. Consiste em um impulso abdominal, o qual eleva o diafragma e aumenta a pressão na via aérea, forçando o ar residual dos pulmões. O que pode ser suficiente para criar uma tosse artificial e expelir o corpo estranho da via aérea. Procedimentos: Em adultos Posicione-se atrás da vítima, abraçando-a em torno do abdome. Estando a vítima em pé, ampliar sua base de sustentação, afastando as pernas, e posicionar uma perna entre as pernas da vítima (para evitar que ela caia, caso venha perder a consciência); Localizar o umbigo; Colocar a mão fechada 1 dedo acima do umbigo. A mão do socorrista em contato com o abdome da vítima está com o punho fechado e o polegar voltado para dentro. A outra mão é colocada sobre a primeira; Aplicar 5 compressões abdominais sucessivas, direcionadas para cima. Conferir se a vítima voltou a respirar expelindo o objeto; Se necessário, reposicionar e repetir os ciclos de 5 compressões, até que o objeto desobstrua as vias aéreas, ou a vítima perca a consciência; Se a vítima ficou inconsciente, apoiá-la cuidadosamente até o solo e iniciar manobras de reanimação cardiopulmonar (30 compressões torácicas e 2 ventilações). Reavaliar a cada 2 minutos (5 BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 37 ciclos) ou se a vítima mostrar sinais de desobstrução, respiração espontânea e circulação); Se a vítima for menor que o socorrista, o mesmo poderá posicionar-se de joelhos atrás da mesma para a realização da manobra de Heimlich; Se a vítima estiver grávida ou for obesa, compressões torácicas devem substituir as compressões abdominais. Atenção! A manobra de Heimlich é perigosa e poderá provocar lesões internas graves. As principais complicações são lesões de vísceras abdominais como o fígado e o baço e a regurgitação de material do estômago com bronco aspiração. Sendo, portanto, recomendada apenas para crianças maiores de 1 ano e adultos. Sempre encaminhe a vítima ao médico após a aplicação da Manobra. Em Crianças As técnicas utilizadas caso a vítima seja uma criança são semelhantes às efetuadas em um adulto, variando apenas a força com que são aplicadas. Sendo assim: Estimule a criança a tossir; Figura 14 - Compressões abdominais em adultos Figura 15 - Compressões torácicas em vítimas grávidas ou obesas BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 38 Se a tosse for ineficaz, aplique 5 pancadas interescapulares; Se a criança continuar com obstrução, deve-se iniciar a Manobra de Heimlich (5 compressões abdominais); Repita sucessivamente séries de 5 pancadas interescapulares e 5 compressões abdominais, até o objeto sair. Em bebês Coloque a vítima em decúbito ventral com a cabeça mais baixa do que o resto do corpo, suportando a cabeça com uma mão e apoiando o tórax sobre o antebraço e/ou coxa; Aplique 5 pancadas interescapulares (entre as omoplatas, com a mão em forma de concha) para remover o objeto; Se não surtir efeito, inicie 5 compressões torácicas (em vez das 5 compressões abdominais que se efetuam caso a vítima seja um adulto), com a finalidade de deslocar o objeto; Continue a executar 5 pancadas interescapulares, alternando com 5 compressões torácicas, até o objeto sair. Figura 16 - Compressões abdominais em criança. Figura 17 – Compressões abdominais podem ser realizadas com a criança sentada BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 39 ACONTECEU... PM salva bebê engasgado em São Sebastião, no DF; veja vídeo. Criança de 14 dias engasgou ao mamar; avó chamou grupo de PMs na rua. Menina foi levada ao hospital, está em observação e passa bem, diz família. Fonte: G1 – Globo.com Observe que: A aspiração de corpo estranho (ACE) é a causa mais frequente de acidentes em crianças e lactentes, ocorre com maior frequência durante a alimentação ou quando a criança introduz pequenos objetos na boca ou nariz. Estatísticas americanas demonstram que 5% dos óbitos por acidentes em menores de 4 anos se devem à ACE e está aparece como a principal causa de morte acidental domiciliar em menores de 6 anos. No Brasil, a ACE é a terceira maior causa de acidentes com morte, nesta faixa etária. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 40 HEMORRAGIAS E ESTADO DE CHOQUE Você saberia reconhecer sinais ou sintomas indicativos de uma hemorragia? E as diferentes técnicas para controle de hemorragias externas? Classificar o choque com base em sua etiologia; reconhecer as causas, os sinais e sintomas mais comuns do estado de choque; bem como identificar a melhor técnica a ser utilizada no socorro à vítima de choque, em especial o choque hemorrágico, podem fazer toda a diferença e salvar vidas. Vamos estudar? Hemorragia Conceito Hemorragia é a perda de sangue devido ao rompimento de um vaso sanguíneo, veia ou artéria, alterando o fluxo normal da circulação. As hemorragias podem ser internas ou externas, espontâneas ou provocadas (nos ferimentos), causadas por lesões da parede vascular de natureza inflamatória, traumática ou tumoral. O Policial Militar deve estar consciente da importância dos conhecimentos básicos de primeiros socorros como atitude primordial para a redução da mortalidade de vítimas de lesões provocadas ou de acidentes. Em situações de ferimentos graves com hemorragias de grande vulto, o tempo é o fator determinante para a sobrevivência da vítima, muitas vidas são perdidas por falta de preparo e de conhecimentos básicos no atendimento de urgência. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 41 Classificação da Hemorragia Quanto ao tipo: Arterial: decorrente de um rompimento de uma artéria é a mais grave e também a mais difícil de ser controlada. É caracterizada por um sangue vermelho vivo que jorra da ferida, em geral aos jatos, e espumoso. Mesmo uma ferida perfurante pequena em uma artéria pode produzir uma hemorragia que ameace a vida; Venosa: provém de camadas mais profundas do tecido, decorrente do rompimento de uma veia. É menos perigosa do que a arterial e de mais fácil controle. O sangue sai vermelho escuro e escorre da lesão. Em geral, não ameaça a vida, a não ser que a lesão seja grave ou a hemorragia não seja controlada; Capilar: é causada por escoriações que lesiona minúsculos capilares imediatamente abaixo da superfície da pele. O sangue goteja lentamente a partir da lesão. Em geral, diminui ou mesmo cessa em poucos minutos. Quanto à localização: Externas: derivadas de ferimentos na pele ou estruturas mais profundas, acompanhadas de lesão muscular; Internas: derivadas de lesõesem órgãos internos, podendo o sangue se exteriorizar ou não. Hemorragia interna (não exteriorizada) A hemorragia interna não exteriorizada é resultante de um ferimento profundo com lesão de órgãos internos, como em traumas abdominais e torácicos. O sangue não aparece. É a mais grave, já que normalmente seus sintomas são identificáveis apenas quando a vítima já perdeu em torno de um litro de sangue e começa a apresentar sinais de choque hipovolêmico. Sintomas: pulso fraco e rápido, pele fria, sudorese, sede intensa, palidez, mucosas descoradas, calafrios, ansiedade, tonteira, BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 42 podendo haver perda de consciência (estado de choque). Deve-se atentar também para sinais como, distensão do abdome, tensão exagerada em uma extremidade ou hematoma expansivo. Procedimentos: Para a vítima que apresente hemorragia interna, nada poderá ser feito no atendimento pré-hospitalar, no sentido de estancar o sangramento. A vítima necessitará ser encaminhada rapidamente ao hospital de referência equipado com recursos humanos e materiais, pois o controle da hemorragia é potencialmente cirúrgico. Entretanto, alguns procedimentos podem ser adotados no sentido de se evitar o choque, tais como, manter a vítima deitada, com a cabeça mais baixa que o corpo, exceto se houver suspeita de fratura de crânio ou derrame cerebral, quando a cabeça deve ser mantida elevada. Aplicar compressa de água fria ou sacos de gelo na região afetada, agasalhar a vítima e, se não houver fraturas, manter os membros elevados. Lembrando-se de lateralizar a cabeça da vítima caso ela esteja inconsciente. Hemorragia interna (exteriorizada) Facilmente detectável, pois, apesar de ocorrer em órgãos internos, o sangue exterioriza através de cavidades naturais. No caso de epistaxe (nariz) e/ou otorragia (ouvido) por fratura de crânio, o sangramento é de pequena quantidade e pode sair acompanhado de líquido encefalorraquidiano. Não se deve tentar conter esse sangramento nem introduzir qualquer material para tamponar. Hematemese Sangue lançado sob a forma de vômito com ou sem restos alimentares. Essas hemorragias provêm do estômago, se manifestam com náuseas e vômitos de sangue escuro. Procedimentos: mantenha a vítima deitada de costas sem travesseiro, aplicando sacos de gelo sobre a região epigástrica (boca do estômago), e não lhe dê nada pela boca. O atendimento médico é BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 43 indispensável. Epistaxe Hemorragia na mucosa nasal ou que flui através das fossas nasais devido ao traumatismo crânio-encefálico ou a processos hipertensivos. Procedimentos: solicite que a vítima se sente e aperte a narina que sangra durante 5 minutos. Aplique compressas geladas sobre o nariz com a cabeça inclinada para frente. Coloque um tampão de gaze por dentro da narina. Se a hemorragia continuar, o atendimento por médico é necessário. Hemorragia externa Em geral a hemorragia externa ocorre em ferimentos abertos, como por exemplo, em cortes, avulsões, traumas penetrantes e evisceração. O controle imediato de hemorragias pode salvar vidas, por isso deve-se identificar e tratar a hemorragia já na avaliação primária da vítima. Uma grande hemorragia quer seja de origem arterial ou venosa, se não for controlada de imediato, eleva consideravelmente o potencial de morte da vítima. Hemostasia é o processo utilizado pelo socorrista para se estancar uma hemorragia externa, ou mesmo uma hemorragia interna exteriorizada, como no caso da epistaxe (hemorragia nasal). A aplicação da pressão direta controla a maioria das hemorragias externas até a chegada do serviço médico de urgência ou o transporte da vítima para um serviço de emergência. Procedimentos: Mantenha a região que sangra mais elevada que o resto do corpo; Use uma compressa ou pano limpo e seco sobre o ferimento pressionando com firmeza para estancar a hemorragia; No caso de evisceração, deve-se cobrir as vísceras com BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 44 compressas úmidas. Não se deve tentar recolocar as vísceras no interior do abdômen; A compressa não deve ser retirada do local. Se estiver encharcada, deve-se colocar uma nova compressa sobre a mesma, mantendo-se a pressão no local do sangramento. Caso necessário, utilize uma atadura, uma tira de pano, gravata ou outro recurso que tenha à mão para amarrar a compressa e mantê-la bem firme no lugar; Caso não disponha de uma compressa, feche a ferida com dedo ou comprima com a mão, evitando uma hemorragia abundante; Após o controle da hemorragia, um curativo compressivo deve ser mantido no local da lesão; Aplique torniquete principalmente em caso de membros amputados, esmagados ou dilacerados; Conserve o torniquete no local mesmo cessada a hemorragia, apertando-o se necessário. Figura 18. Procedimentos de controle de hemorragias A hemorragia abundante e não controlada pode levar à morte em 3 a 5 minutos. Como confeccionar um torniquete? Com uma tira de pano larga, envolva o membro acima do ferimento; Faça um nó e coloque um material rígido (pedaço de madeira, cano etc.) sobre o nó, fazendo outro nó; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 45 Gire o material rígido até observar que a hemorragia parou; Caso as extremidades de um membro dilacerado ou esmagado estejam presas ao corpo, deve-se observá-las periodicamente, se estas estiverem cianóticas, deve-se afrouxar o torniquete até que a coloração das mesmas volte ao normal e apertar em seguida; Nunca utilize materiais finos, como fio, barbante etc. na confecção do torniquete devido à maior probabilidade de causar danos às artérias e aos nervos superficiais. Figura 19. Etapas de confecção de torniquete Observação: Em caso de membros amputados, não deixar de conduzir a parte amputada também para o hospital, pois pode ser possível o seu reimplante. A gravidade das hemorragias depende basicamente de três fatores fundamentais: Quantidade de sangue perdido; Rapidez da perda sanguínea; Local da hemorragia. A avaliação da coloração da pele, temperatura e umidade, contribui para saber a gravidade e quantidade de sangue perdido. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 46 Estado de choque Conceitos O estado de choque é um estado de grande enfraquecimento do corpo ocorrido quando a descarga de sangue por parte do coração não é suficiente para o enchimento das artérias, nem o sangue possui pressão suficiente para irrigar os órgãos vitais, especialmente o cérebro. O corpo humano tem entre 4 a 5 litros de sangue circulante. A perda de 20% desse volume acarretará danos muitas vezes irreversíveis. Por isso, a necessidade premente do atendimento aos casos de hemorragias e da identificação dos tipos e localização. Causas O estado de choque pode ser provocado por: queimaduras graves, ferimentos graves e extensos, esmagamentos, perda excessiva de sangue, acidentes por choque elétrico, ataque cardíaco, exposição a extremos de calor ao frio, dor aguda, infecções, intoxicações alimentar, fraturas, grande perda de líquidos (diarreia e vômitos). Principais Tipos de Choque: Choque hipovolêmico (perda de sangue e fluido, desidratação); Choque cardiogênico (insuficiência de bombeamento do sangue); Choque distributivo: ─ Psicogênico (emoções violentase intoxicações por barbitúricos e tranquilizantes); ─ Séptico (por toxinas de bactérias circulantes no organismo durante processo infeccioso); ─ Anafilático (alérgico); ─ Neurogênico (hipotensão). BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 47 Choque hipovolêmico O choque hipovolêmico é o mais comum e ocorre em casos de hemorragias (perda de plasma e hemácias) ou desidratação (perda de líquidos em geral, em casos de vômitos, diarreias e nas grandes queimaduras). A rapidez com que uma vítima desenvolve o choque depende da velocidade de perda de volume sanguíneo. Logo, uma vítima aparentemente estável, caso não tenha sua hemorragia controlada, pode evoluir em pouco tempo para o estado de choque. Classificações do Choque Hipovolêmico O choque hipovolêmico ou choque hemorrágico (choque decorrente da perda de sangue) pode ser dividido em quatro classes, dependendo da gravidade da hemorragia: Hemorragia classe I – perda de até 15% do volume sanguíneo (até 750 mL de sangue) pulso levemente acelerado e ansiedade discreta; Hemorragia classe II – perda de 15% a 30% do volume sanguíneo (de 750 a 1.500 mL de sangue), aumento da frequência respiratória aumentada, pulso rápido e fraco, ansiedade branda; Hemorragia classe III – perda de 30% a 40% do volume sanguíneo (1.500 a 2.000 mL de sangue), frequência respiratória acelerada, pulso rápido e fraco, ansiedade e confusão mental (sinais clássicos de choque); Hemorragia classe IV – perda de mais de 40% do volume sanguíneo (mais de 2.000 mL), frequência respiratória acelerada, pulso rápido e fraco, confusão mental grave ou perda de consciência (estado de choque grave com risco de evolução para óbito em poucos minutos). Choque Cardiogênico O choque cardiogênico, ou falha na atividade de bombeamento do coração, resulta de causas que podem estar diretamente relacionadas à lesão do próprio coração (causas intrínsecas – arritmia; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 48 disfunção das válvulas cardíacas; lesão do músculo cardíaco) ou relacionadas a problemas fora do coração (causas extrínsecas – presença de sangue no saco pericárdico decorrente de trauma; pneumotórax hipertensivo, decorrente de lesão penetrante do tórax). Choque Distributivo O choque distributivo pode ocorrer em virtude da perda do controle do sistema nervoso sobre a musculatura dos vasos sanguíneos (psicogênico e neurogênico) ou em consequência da liberação de substâncias que causam vasodilatação em resposta a reações alérgicas ou infecções graves (anafilático e séptico). Principais Sinais de Choque Embora diferentes entre si, tanto no aspecto fisiológico, quanto em sua origem, o choque deriva do mau funcionamento dos sistemas do organismo, resultando num conjunto de sinais característicos, os quais incluem: Redução do nível de consciência, ansiedade, desorientação, agressividade, comportamento bizarro; Pulso rápido e fraco, hipotensão arterial; Respiração rápida e superficial; Pele fria e úmida, palidez ou cianose, sudorese intensa; Náuseas e vômito. Procedimentos de Socorro a Vítima: Uma vez que a hemorragia é a causa mais comum de choque em vítimas de trauma, todo choque deve ser considerado hemorrágico até que se prove o contrário, priorizando-se a identificação e controle imediato da hemorragia externa. Caso não haja evidência de hemorragia externa, deve-se suspeitar da presença de hemorragia interna. Avaliar o nível de consciência, acalmar a vítima, coloca-la deitada e efetuar hemostasia, se for o caso; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 49 Afrouxar as roupas da vítima e aquecê-la; Imobilizar fraturas se houver (fraturas fechadas podem se transformar em fraturas expostas, na ausência de imobilização, rompendo vasos importantes e resultando em hemorragias); Elevar os membros inferiores (caso não sejam evidenciadas fraturas). ACONTECEU... Policiais de UPPs recebem instrução para atendimentos básicos de emergência. No encontro, a instrução contou com a participação do Major Médico Fernando Martins, considerado um dos mais conceituados neurocirurgiões da Polícia Militar. Ele ensinou técnicas sobre controle de hemorragias. Observe que: Em geral, os torniquetes são descritos como a técnica do "último recurso". A experiência militar no Afeganistão e no Iraque, somada ao uso rotineiro e seguro de torniquetes pelos cirurgiões, tem levado a se reconsiderar essa posição. Embora não existam estudos que avaliem o uso de torniquetes por socorristas no cenário extra-hospitalar, eles são muito eficazes no controle de hemorragia grave, seu uso é razoavelmente difundido e praticado por profissionais que não possuem experiência prévia, em especial no contexto das zonas de batalhas e guerras. Assim, seu emprego deve ser considerado caso a pressão direta do local de sangramento ou um curativo de pressão não consigam controlar a hemorragia de uma BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 50 extremidade. A hemorragia não controlada é a causa mais comum de choque em vítimas de trauma. Portanto, considerando que o policial militar expõe-se constantemente em zonas de conflito, o treinamento no emprego de torniquetes constitui ferramenta de grande valia. No Atendimento sob Fogo, o uso de torniquetes em hemorragias de membros é o padrão. O "auto auxílio" e o "auxílio a colegas" são componentes cruciais do atendimento sob fogo. A auto aplicação de um torniquete em uma lesão balística na artéria femoral, com risco de morte, por exemplo, poderá salvar a vítima, assim como impedir a exposição desnecessária dos profissionais de saúde ao fogo hostil. Os benefícios relacionados à mortalidade claramente compensam o baixo risco de comprometimento nervoso ou vascular. ACONTECEU... Noivo morre ao cair sobre tulipa de vidro Corte na veia que matou noivo no Rio é fatal se não for estancado “Veia femoral leva ao coração todo o sangue que sai da perna, diz médico. Ferimento profundo pode matar uma pessoa em até 20 minutos.” Observe que: Em geral, há menos hemorragia na ponta de uma extremidade com uma amputação completa do que em locais com vasos sanguíneos danificados, mas não completamente seccionados. Lesões como a citada no exemplo acima, em geral apresentam BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 51 hemorragia de difícil controle e em local não passível da aplicação de torniquete. Nestas situações, a compressão direta sobre o local da hemorragia continua sendo a melhor alternativa, mesmo se a perda sanguínea não for completamente interrompida. Há evidências clínicas de que a compressão do vaso lesionado, além de reduzir o fluxo sanguíneo, reduz o tamanho da abertura, possibilitando que o sistema de coagulação do sangue cesse a hemorragia. Vários estudos sobre hemorragia em locais de punção da artéria femoral apontam a compressão direta como medida eficaz. Um erro grave, neste caso, é transportar a vítima sem o controle adequado da hemorragia. Além disso, a compressão direta é impraticável em caso de transporte prolongado. O conhecimento destas informações poderia ter evitado a tragédia citada na reportagem acima. Conclusão O estado de choque é resultado de um mau fornecimento de oxigênio aos órgãos. Pode ser cardiogênico, séptico, anafilático ou resultante de hemorragias. Em geral, os sintomas são: pele fria, pegajosa e pálida; torpor;pulso fraco; aumento da frequência cardíaca; suor exacerbado; inconsciência total ou parcial e respiração irregular, em geral curta e rápida. Quando a hemorragia é de ferimento leve, pode-se controlá-la por meio de pressão local. Nos ferimentos graves, deve-se colocar a região ferida em plano mais alto e pressionar o ponto com o uso do dedo ou mão. Em hemorragias internas no abdômen, deve-se manter o paciente deitado com a cabeça mais baixa que o tronco, aplicar compressas frias no provável ponto hemorrágico, afrouxar as roupas e retirar próteses ou alimentos do interior da boca. Em geral, lesões abdominais e torácicas podem estar associadas ao choque hemorrágico. Nestes casos, na ausência de extravasamento de sangue, deve-se suspeitar de hemorragia interna e priorizar os BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 52 procedimentos para evitar o choque. No caso de evisceração, devem- se cobrir as vísceras com compressas úmidas. Não se deve tentar recolocar as vísceras no interior do abdômen. TRAUMAS Você saberia diferenciar os tipos de trauma? Aqui falaremos um pouco sobre trauma crânio- encefálico, trauma raquimedular, trauma torácico, entre outros. É importante demais diferenciarmos lesões e fraturas ortopédicas, bem como as fraturas abertas, a fim de escolher a melhor técnica de imobilização e transporte de uma vítima de trauma. O trauma pode ser definido como toda lesão corporal resultante da exposição à energia (mecânica, térmica, elétrica, química ou radiação) que interagiu com o corpo em quantidade acima da suportada fisiologicamente. Nesta aula será dada ênfase às lesões provocadas por energias mecânicas, cujos principais agentes incluem: colisões automobilísticas, atropelamentos, ferimentos por projéteis de armas de fogo, ferimentos por objetos penetrantes, quedas de altura, entre outros. O policial militar deve estar ciente de que o trabalho da polícia, longe de ser o tipo de ocupação que exige baixa qualificação, envolve o constante exercício de julgamento e habilidade para lidar com problemas de grande complexidade e importância. Neste contexto, o Policial Militar deve estar preparado a prestar cuidados de primeiros socorros, imediato e adequado, ao cidadão e aos membros de sua equipe, envolvidos em eventuais traumas que possam acometê-los no atendimento de ocorrências policiais. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 53 Tipos de Trauma: O trauma pode ser intencional ou não intencional e variar de grave a leve. Uma vez que diferentes partes do corpo podem sofrer lesões traumáticas, podemos classificar cada tipo de trauma conforme descrito a seguir: Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE) O TCE trata-se de uma lesão advinda de uma força externa, podendo ser acidental ou por um ato de violência, resultando no rompimento anatômico do couro cabeludo, crânio, meninges e encéfalo, necessitando de cuidados de emergência e atenção especial no intuito de evitar comprometimentos severos resultantes de possível lesão cerebral. As fraturas de crânio podem ocorrer na calota craniana (superfície) ou na base do crânio, atingindo as estruturas ósseas internas. Havendo lesão cerebral, o TCE pode tornar-se bastante grave. Sintomas: a vítima pode estar inconsciente ou apenas confusa, pode apresentar frequência respiratória e pulso acelerados, bem como, Sinais: Sangramento e/ou saída de outros líquidos pelos ouvidos, nariz e boca (náuseas e vômitos) ou alteração na mobilidade dos olhos e pálpebras, pupilas desiguais (anisocoria); Deformidade no crânio que podem ser palpáveis (depressão ou abauluamento); Fraturas da base do crânio podem ser evidenciadas pela presença de equimose periorbital (“olhos de guaxinin”) e/ou pelo Sinal de Battle (equimose retroauricular). BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 54 alteração de movimentos. Convulsões e agressividade também podem ser observados. Procedimentos: Se a vítima estiver consciente – faça algumas perguntas, como: o seu nome, para onde estava indo, nome do pai, nome da mãe etc. Se ela demorar a responder, deve-se começar a pensar em traumatismo craniano. Em caso de inconsciência ou inquietação – deite a vítima de costas e afrouxe suas roupas, principalmente em volta do pescoço, e a agasalhe. Coloque a cabeça da vítima mais elevada que o corpo. Se houver saída de líquidos, vire a cabeça da vítima para o lado em que os líquidos estiverem saindo e não tente contê-los. Havendo hemorragia em ferimento no couro cabeludo – coloque uma compressa ou pano limpo e seco, sem pressionar, para proteger a ferida e conter a hemorragia. Mantenha desobstruídas as vias aéreas, acompanhe os sinais vitais todo o tempo, principalmente o estado de consciência e os sinais neurológicos, Acione o serviço de emergência para transporte imediato a um hospital. Traumatismo Raquimedular (TRM) O TRM é um trauma comumente decorrente de quedas, choque no fundo de piscinas após mergulho de cabeça e fraturas em chicotada (movimento brusco de frente para trás da cabeça) após acidentes de trânsito. Neste caso, pode haver o comprometimento da estrutura da coluna vertebral e da medula espinhal. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 55 Sinais: paralisia (falta de reflexos), perda ou aumento exagerado de sensibilidade, emissão involuntária de urina ou fezes, ereção peniana contínua (priapismo), deformidade em topografia da coluna. Sintomas: Dor, dor com movimentação, formigamento, amortecimento ou fraqueza, dificuldade para respirar, paralisias e tetraplegias temporárias ou definitivas. Procedimentos de improviso de imobilização da coluna cervical: A estabilização da cabeça e coluna são procedimentos imprescindíveis em caso de lesão ou suspeita de lesão na coluna cervical. Entretanto, a estabilização manual se dá à custa da limitação da ação do socorrista, como também pode não ser suficientemente eficaz. Um colar cervical eficiente pode ser improvisado utilizado peças do fardamento do policial militar ou da vestimenta da própria vítima. Para tanto, os seguintes procedimentos devem ser observados: A aba da cobertura deve ser posicionada entre o peito e queixo da vítima, limitando os movimentos da cabeça. Os coturnos devem ser Procedimentos: Deixe a vítima deitada onde se encontra, promova a estabilização da cabeça e pescoço, impedindo os movimentos da vítima. Mantenha as vias aéreas desobstruídas. Observe a respiração e esteja pronto para iniciar respiração boca a boca. Acione o serviço de emergência e mantenha a vítima imóvel até a chegada do mesmo. Se possível, a vítima deve ser mantida aquecida. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 56 posicionados com os solados voltados para a cabeça da vítima, estabilizando-a. O próprio calçado da vítima (tênis ou sapatos) pode ser empregado nas laterais da cabeça para estabilizá-la. Pode-se utilizar ainda uma calça, uma toalha de banho ou um pedaço de papelão para improvisar o colar cervical. Em todos os casos, um cinto deverá ser utilizado para fixar o colar cervical improvisado. Vale a pena lembrar! Quando há suspeita de fratura na coluna vertebral,toda movimentação deve ser evitada. Em hipótese alguma se deve flexionar a coluna da vítima. O perigo desse tipo de fratura não é apenas a ruptura do osso, mas também a lesão da medula espinhal pelos fragmentos ósseos produzidos. As consequências para o acidentado serão mais graves quanto mais altas forem as vértebras atingidas. Figura 20. Alunos do CFSd em treinamento BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 57 Técnicas de retirada de capacete A retirada do capacete de uma vítima de acidente faz-se necessária quando a mesma se encontra inconsciente, apresenta respiração ruidosa ou suspeita de parada cardiorrespiratória. Entretanto, vale lembrar que nestes casos os sujeitos envolvidos tratam-se de vítimas de trauma, com possível lesão raquimedular. Desse modo, a simples retirada do capacete pode movimentar a cabeça e piorar traumas no crânio e na coluna. Portanto, é imperativo manter essa região cervical estável durante a retirada do capacete. Para isso, dois socorristas são necessários. Procedimentos: Um socorrista estabiliza o conjunto capacete/cabeça, enquanto o outro solta a presilha que prende o capacete na região do maxilar; Após a abertura desta trava, o socorrista irá estabilizar o maxilar da vítima com uma das mãos e proporcionar apoio para a cervical passando sua outra mão ou antebraço por baixo da nuca da vítima, estabilizando todo o conjunto; Em seguida o outro socorrista retira o capacete com movimentos suaves para cima e para baixo, tendo cuidado na passagem do capacete pelo nariz da vítima; Uma vez retirado o capacete, faz-se a abertura das vias aéreas e manutenção da permeabilidade das mesmas, sempre com estabilização da coluna cervical e da cabeça. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 58 Traumas de Tórax Traumas de tórax nos dias atuais assumem grande importância, devido em parte, à sua incidência e, por outro lado, pelo aumento da gravidade das lesões e da mortalidade. Isto se deve pelo aumento do número, poder energético e variedade dos mecanismos lesivos, como por exemplo, a maior velocidade dos automóveis, a violência urbana, e dentro desta, o maior poder lesivo dos armamentos, além de outros fatores. Os traumas de tórax podem apresentar lesões associadas, como fratura de esterno e das costelas e vértebras. Além disso, é nessa região que estão os grandes vasos, como a artéria aorta, cujo traumatismo pode levar a óbito na maioria dos casos. Figura 21. (Alunos do CFSd em treinamento) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 59 Como ocorre com outras formas de lesão, o trauma torácico pode ser causado por mecanismos contusos ou penetrantes. Podendo então ser classificados da seguinte forma: Quanto ao Agente Causal Arma de fogo (FAF); Arma branca (FAB); Acidentes Automobilísticos; Outros. Procedimentos de socorro aos principais tipos de trauma de tórax Fratura de costelas – As fraturas de costelas são as lesões mais comuns do tórax. Costelas fraturadas podem levar a perfurações pulmonares caso se movam. Sinais e sintomas: dor no local da fratura, dor ao respirar (movimentos respiratórios curtos), crepitação óssea. Procedimentos: Na ausência de ferimento externo, posicione o braço da vítima em uma tipoia e oriente a mesma para evitar movimentação e torção do tronco sobre o local da lesão. Estimule a vítima a manter inspirações profundas e a tossir para evitar o colapso pulmonar. Deve ser evitada a imobilização de costelas com bandagem firme ou ataduras que envolvam todo o tórax devido à predisposição ao desenvolvimento de Quanto ao Tipo de Lesão: Lesão Penetrante (Trauma torácico aberto): Há perda da continuidade da parede torácica. Os mais comuns são os causados por arma branca e por arma de fogo. Lesão Contusa (Trauma torácico fechado): Não há rompimento da parede torácica. O tipo mais comum dessa categoria de trauma é representado pelos acidentes automobilísticos. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 60 colapso pulmonar e pneumonia. Havendo perfuração da parede do tórax, o pulmão se fecha, impedindo os movimentos respiratórios (pneumotórax). Nesse caso, faz-se necessário fechar o orifício com curativo, coloque sobre o ferimento uma gaze, um pano limpo para impedir a penetração de ar através do ferimento, fixando com um cinto ou atadura, que deve circundar o tórax sobre o curativo, mantendo fechado o ferimento, sem apertar muito para não prejudicar os movimentos respiratórios da vítima. Tórax instável – Ocorre quando duas ou mais costelas adjacentes são fraturadas em pelo menos dois lugares, fazendo com que um segmento da parede torácica passe a não apresentar mais continuidade com o resto do tórax. Em geral está associado à contusão pulmonar. Sinais e sintomas: Deformidade visível do tórax (afundamento), crepitação óssea, dor ao respirar, dificuldade para respirar profundamente, respiração paradoxal (enquanto uma área contrai, a região fraturada retrai), dispneia e expressão de ansiedade, pois o movimento respiratório paradoxal do segmento fraturado e a contusão pulmonar dificultam a ventilação e as trocas gasosas. Procedimentos: Acalme a vítima e observe a frequência ventilatória estando atento para uma possível piora do quadro, acione o serviço móvel de urgência para remoção imediata da vítima ao atendimento hospitalar; Tentativas de estabilização do segmento instável devem ser evitadas devo ao risco de comprometer ainda mais a movimentação da parede torácica. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 61 Trauma penetrante – São traumas abertos do tórax, geralmente provocados por objetos capazes de atravessar a parede do tórax (armas brancas, projeteis de armas de fogo ou outros) causando um ferimento através do qual o ar penetra no tórax causando o colabamento do pulmão (pneumotórax). Sinais e sintomas: insuficiência respiratória evidente, ansiedade, pulso fino e rápido, presença de orifício ou lesão na parede torácica que pode produzir ruídos audíveis de aspiração durante a inspiração, com borbulhamento durante a expiração. Procedimentos: Feche a lesão através da aplicação de um pedaço papel metálico ou um plástico, fixado em três lados na parede torácica (curativo de três pontos), o qual irá permitir a saída do ar na expiração e ao mesmo tempo impedir sua entrada na cavidade torácica durante a inspiração. Acione o serviço móvel de urgência para transporte rápido da vítima ao atendimento hospitalar. Figura 22. (Alunos do CFSd em treinamento) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 62 Objetos encravados no tórax (armas brancas, pedaços de vidro, lascas de madeira, ferragens, etc.) jamais deverão ser removidos. Deve-se promover a estabilização do objeto através de um curativo compressivo volumoso firmemente preso ao tórax e providenciar o transporte da vítima para o ambiente hospital. Vale a pena lembrar! A cavidade torácica contém os órgãos vitais que oxigenam e distribuem sangue para todo o corpo. Apenas algumas poucas intervenções fundamentais podem ser feitas no local. Uma vez identificados os sinais e sintomas deuma lesão torácica o socorrista deve providenciar a remoção imediata da vítima para o atendimento médico de emergência mais próximo. O reconhecimento e o tratamento precoce das lesões torácicas melhoram o prognóstico dos pacientes que sofreram traumas no tórax. Lesões Traumo-Ortopédicas São aquelas que afetam as condições anatômicas e/ou funcionais do esqueleto e estruturas associadas. Entorse (rotação) – É o deslocamento temporário das superfícies de uma articulação. Caracteriza-se mais como um traumatismo ligamentar. Figura 23. Curativo de três pontos em trauma aberto de tórax (Fonte: PHTLS 7ª ed. 2012) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 63 Distensão (estiramento) – É a tração excessiva ou violenta de um músculo, nervo ou ligamento de uma articulação, que provoca seu deslocamento temporário. Luxação – É o deslocamento permanente da superfície que compõe uma articulação, a qual perde, assim, suas relações anatômicas e funcionais. Sinais: Em todos os casos citados os sinais serão semelhantes, com dor, edema e perda da função da articulação. Procedimentos: Os procedimentos de socorros também serão semelhantes: imobilize a região afetada e aplique gelo (não aplique nada quente). Fratura – É a ruptura ou perda da solução de continuidade de um osso ou cartilagem. As fraturas podem ser simples ou fechadas, nas quais a pele encontra-se íntegra, apesar de o osso ter sido quebrado, ou expostas ou abertas nas quais o osso está exposto. Há perda da capacidade de movimento na região da fratura, dor intensa e edema local (inchaço por acúmulo de líquidos). BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 64 Fratura simples ou fechada Sinais: dor espontânea e ao toque, contratura muscular local, impotência funcional (dificuldade de movimentação), sensação de atrito no local (entre as extremidades do osso quebrado). Em algumas fraturas fechadas, há alteração no formato do membro, o que torna seu diagnóstico mais fácil (em crianças, muitas vezes não se observam deformidades). Procedimentos: Exponha o membro fraturado (cortando a roupa da vítima se preciso) e imobilize a fim de impedir o deslocamento das partes quebradas para evitar maiores danos, já que as agudas arestas do osso quebrado poderão rasgar o tecido e os órgãos adjacentes. Se possível eleve o membro para diminuir o edema e aplique gelo. Fraturas expostas ou abertas Sinais: o tecido é rompido estabelecendo-se uma comunicação com o ambiente, ocorre, ainda, a exposição ao meio externo dos fragmentos ósseos quebrados (é muito grande a possibilidade de infecção nesses casos). Procedimentos: Exponha o membro fraturado (cortando a roupa da vítima se preciso), faça de imediato, um curativo oclusivo na região onde há o sangramento, para evitar hemorragia. Em seguida, imobilize o membro da mesma forma que na fratura simples. Neste caso a extremidade óssea exposta não deve ser reposicionada de modo intencional a fim de evitar contaminação local. Ocasionalmente, porém, os ossos retornam a sua posição quase normal quando realinhados pelos espasmos musculares observados em casos de fratura, Fratura da pelve Este tipo de fratura é muito difícil de acontecer em um acidente, mas não é impossível. O osso que geralmente quebra ou fratura é o osso da região pubiana, e faz com que esse tipo de fratura se torne mais grave, devido à perfuração de órgãos internos, como bexiga, intestinos etc. Por isso a necessidade de todo o cuidado na BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 65 movimentação ao primeiro sinal de fratura desse tipo. Geralmente, nesses casos, as pernas tendem a se encontrarem em forma de “bailarinas”, uma para cada lado, e não há por parte da vítima nenhum reflexo de rotação dos pés. Procedimentos: imobilize os membros do jeito em que se encontram até a chegada da ajuda especializada. Vale lembrar: Nem sempre é possível, no local, colocar os ossos na posição anatômica correta. Nesses casos, imobilize na posição que estiver até o atendimento hospitalar. Aplicação de técnicas de imobilização com improviso A imobilização do membro lesado é o primeiro socorro a ser dado a uma vítima de fratura. O objetivo básico da imobilização consiste em diminuir a dor, impedir a movimentação de fragmentos ósseos, evitando assim a lesão de músculos, vasos sanguíneos ou pele, bem como prevenir a ocorrência de outras fraturas. Na atividade Policial Militar, são grandes as chances de fraturas resultantes de quedas de alturas, acidentes automobilísticos, agressões, entre outras causas. Muito embora o policial não disponha de material específico para este tipo de lesão traumática, ele deve estar preparado para prestar socorro a si mesmo ou a seus companheiros, aplicando a técnica adequada de improvisação com o material disponível no momento da lesão. Pode-se improvisar uma imobilização utilizando-se jornais, revistas, papelão, um cinto, o cadarço do coturno ou da guia do armamento, faixas de tecidos, garrafas pet, etc. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 66 Procedimentos: Utilize papelão, revista ou qualquer objeto capaz de manter fixa a parte afetada. Passe em volta, com a técnica de nó de “rabiola”, um cadarço, barbante, faixa de tecido ou gaze, evitando o nó no local do edema. A imobilização da fratura deve impedir a movimentação de uma articulação acima e uma abaixo do local da fratura e, quando a lesão for na articulação, imobilize um osso acima e um abaixo da articulação afetada. No caso de fraturas expostas, deve-se controlar a hemorragia, utilizando um pano limpo sobre o ferimento e imobilizar o membro lesado com o material disponível, deixando espaço para a extremidade óssea exposta a qual pode ser estabilizada antes da imobilização. Vale a pena lembrar! A imobilização inadequada ou a manipulação não cuidadosa de um membro fraturado pode converter uma fratura fechada em uma fratura exposta, bem como, aumentar muito a hemorragia interna das extremidades ósseas, do tecido muscular adjacente ou de vasos lesionados. Figura 24. (Aula Prática com o Tenente RR Gutemberg e Alunos do CFSd) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 67 Técnicas de Manipulação e Transporte Acidentados O transporte de uma vítima de acidente sempre deve ser realizado por pessoal especializado (bombeiro, SAMU), a exceção desta regra só se justifica caso haja perigo iminente à integridade física e à vida da vítima ou de quem a está socorrendo. Contudo, antes de escolher a técnica mais adequada para o transporte o socorrista deve certificar-se de que a respiração e os batimentos cardíacos estão estáveis, de que as hemorragias estão contidas e de que lesões ortopédicas estão imobilizadas. Além disso, deve-se considerar a gravidade das lesões, o estado geral da vítima (consciente ou inconsciente; tipo de trauma) e a possibilidade de agravamento deste quadro. Na existência de apenas um socorrista e necessidade extrema de remoção da vítima, o mesmo pode ser realizado com apoio lateral simples ou nas costas. Havendo dois socorristas, o transporte da vítima pode ser realizado em uma cadeira ou no colo. Os socorristas podem, ainda, montar uma cadeirinha com os braços ou segurando a vítima pelas extremidades. Entretanto, essas técnicas são usadas preferencialmente quando a vítima está consciente e apresentaferimentos leves. Para vítimas traumatizadas, conscientes ou não, o melhor transporte é a maca ou padiola. Para isso, são necessários dois socorristas. Na necessidade de montar uma maca improvisada, podem ser utilizados cabos de vassoura ou tubos de ferro enrolados com um cobertor ou camisas abotoadas. A vítima deve ser transportada cuidadosamente em decúbito dorsal. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 68 Havendo três ou mais socorristas disponíveis, o transporte pode ser feito com o uso de um lençol. Ou, de preferência, sobre uma superfície plana, rígida e resistente (tábuas, portas, pranchas de surfe, etc.). Independente da superfície em que será realizado o transporte, a manipulação de uma vítima de trauma deve ser realizada em bloco, como objetivo principal de resguardar a coluna vertebral, bem como evitar danos ou agravamento de possíveis lesões existentes na medula espinhal. No entanto, as vítimas nem sempre estarão ao solo na posição ideal para serem transportadas. Algumas estarão totalmente desalinhadas, devendo ser posicionadas adequadamente antes de prosseguir com seu posicionamento na superfície a ser usada no transporte. Para tanto, podem ser utilizadas diferentes técnicas de rolamento. Serão descritos a seguir os rolamentos de 90°, rolamento de 180° e a elevação a cavaleiro. Rolamento de 90° Indicado para vítimas que se encontram em decúbito dorsal, desde que haja espaço para circulação dos Socorristas ao seu redor. Deve ser feito preferencialmente para o lado em que a vítima não apresente suspeita de lesão ou fratura. São necessários no mínimo 3 socorristas para a realização desta técnica. Procedimentos: Um dos socorristas deve se colocar o mais próximo possível da cabeça da vítima, com joelhos apoiados no solo e estabilizar a cabeça e cervical da vítima, mantendo o alinhamento da coluna vertebral. Os demais se posicionam ao lado da vítima, ao longo de seu Figura 25. Maca improvisada com bastões e gôndolas (modificado de Ministério da Saúde, 2003). BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 69 corpo, na altura do tórax e da cintura pélvica, respectivamente. Um dos socorristas posiciona uma das mãos no ombro da vítima e a outra na lateral da cintura pélvica, enquanto o outro posiciona uma das mãos também na lateral da cintura pélvica e a outra logo abaixo do joelho da vítima. A superfície a ser utilizada para o transporte deverá ser colocada do mesmo lado em que se encontram as lesões, oposto ao rolamento, bem junto ao corpo da vítima. Antes de iniciar o rolamento, um dos socorristas posiciona o braço da vítima, do lado que será realizado o rolamento, alinhado acima da cabeça. O outro braço poderá estar alinhado ao longo do corpo ou cruzado sobre o tórax. Os socorristas posicionados ao lado da vítima preparam-se para iniciar o rolamento segurando firmemente e aguardam o comando daquele que segura a cabeça. O rolamento deverá ser realizado em sincronismo, movimentando o paciente em bloco, tomando-se o cuidado para que não ocorra a rotação da cabeça. Uma vez realizado o rolamento, a superfície a ser utilizada para o transporte deve ser posicionada ainda mais próximo do corpo da vítima. Finalmente o movimento oposto ao inicial do rolamento irá posicionar a vítima sobre a superfície de transporte. Qualquer ajuste final do posicionamento da vítima também deverá ser realizado em bloco. Rolamento de 180° Indicado para vítimas encontradas em decúbito ventral (barriga para baixo), desde que haja espaço para circulação dos Socorrista ao seu redor. Do mesmo modo que no rolamento de 90º, são necessários no mínimo 3 socorristas para a realização desta técnica. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 70 Procedimentos: Esta técnica é realizada em dois tempos de 90°, atentando para o fato de que, no primeiro movimento, a cabeça permaneça imóvel para ser alinhada ao corpo. Assim, no segundo movimento, a vítima será rolada em bloco. Para que as mãos não fiquem invertidas no decorrer do movimento, é muito importante que o socorrista que segura a cabeça da vítima, ao proceder com a estabilização da coluna cervical, o faça com os polegares apontados na direção do nariz da vítima. A superfície a ser utilizada para o transporte deverá ser posicionada do lado oposto ao rosto da vítima. Os Socorristas 2 e 3 se colocarão posicionados sobre este material, trazendo, ao final do rolamento, o corpo da vítima para cima desta superfície. As demais etapas do rolamento são semelhantes à realizada no rolamento de 90º. Lembrando-se de realizar o rolamento no sentido oposto ao lado para o qual a cabeça da vítima se encontrar virada. Figura 26. (Alunos do CFSd em treinamento – Rolamento de 90º e 180º) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 71 Elevação a Cavaleiro Esta técnica é comumente indicada para vítimas com suspeita de fratura bilateral de fêmur, pelve e ainda em ambientes onde se tornam inviáveis as técnicas de rolamento. Neste caso, especificamente, não é a vítima que será colocada sobre a superfície de transporte, mas a superfície de transporte será colocada sob a vítima. Esta técnica proporciona menor manipulação da vítima, sendo de execução mais simples que as técnicas de rolamento. Entretanto, serão necessárias 5 socorristas para efetuar a manobra. Procedimentos: Um dos socorristas deve ficar responsável pela fixação da cabeça e estabilização da cervical, mantendo a coluna vertebral da vítima alinhada. Este socorrista também será o responsável pelos comandos de movimentação da vítima. Os outros socorristas se posicionam de pernas abertas, na altura do tórax, do quadril e da panturrilha da vítima, respectivamente. Segurando firmemente estas regiões do corpo da vítima, aguardam o comando para elevá-la do solo. A elevação da vítima deverá ser realizada em sincronismo, movimentando o paciente em bloco, tomando-se o cuidado para que não ocorra a movimentação da cabeça. Uma vez elevada a vítima, a superfície de transporte deverá ser posiciona embaixo da mesma, por entre as pernas dos socorristas. Por último os socorristas descem a vítima sobre a superfície de transporte. Este movimento também deve ser realizado cuidadosamente e com sincronismo. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 72 Elevação na Prancha A superfície a ser usada para o transporte da vítima, idealmente, deverá ser transportada por no mínimo três socorristas. A fim de evitar danos para a coluna dos socorristas, tanto para elevar a vítima, como também para colocá-la no solo, a ação deve ser dividida em dois tempos. O socorristas deve tomar o cuidado de manter suas colunas retas e utilizar os músculos de suas coxas para erguer ou descer o peso. Sempre que possível, o deslocamento deverá ser feito na direção dos pés da vítima, mantendo seu tronco e cabeça menos vulneráveis. Durante o deslocamento, caso seja necessário passar por terreno acidentado, ladeiras ou escadas, é importante atentar para o nivelamento da vítima, ou seja, a cabeça e os pés da vítima devem andar num mesmo plano. Figura 27. (Alunos do CFSd em treinamento) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 73ACONTECEU PMs ficam feridos em confronto com manifestantes Foto: Felipe Dana / AP Policial atingido na cabeça é socorrido por colegas e manifestantes ao lado da Alerj. Observe que: O couro cabeludo é composto de várias camadas de tecido e é altamente vascularizado. Até mesmo uma pequena laceração pode causar hemorragia abundante. Um grande impacto na cabeça pode causar um hematoma do couro cabeludo, que pode ser confundido com uma fratura de crânio com afundamento durante a palpação do couro cabeludo. Na ausência de maiores danos, o sangramento pode ser controlado por compressão direta e curativo compressivo. Todavia, qualquer mecanismo contuso que produza impacto violento na cabeça pressupõe cuidados e avaliação especiais a Figura 28. (Alunos do CFSd em treinamento) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 74 fim de se excluir ou identificar precocemente a presença de uma lesão cerebral traumática, uma vez que a gravidade da mesma pode não ser imediatamente aparente. Neste caso, os primeiros socorros incluem controle da hemorragia, monitoração dos sinais vitais e análise criteriosa do nível de consciência da vítima, observando se a mesma apresenta abertura ocular, capacidade de orientação com resposta verbal coerente e resposta motora preservada; e, não menos importante, o acionamento do serviço móvel de urgência para o transporte imediato ao atendimento médico especializado. PARTO DE EMERGÊNCIA Você já se viu realizando ou acompanhando um parto na rua ou na viatura, por exemplo? Alguns e nossos irmãos de farda já vivenciaram essa situação. Para tanto, é importante saber identificar os estágios do trabalho de parto, bem como reconhecer, se preciso, sinais de anormalidades no parto e no pós- parto. Assim, encaminhará a parturiente para atendimento especializado com rapidez e segurança. Fases do Trabalho no Parto Em geral reconhece-se que a grávida está em trabalho de parto quando apresenta fortes e frequentes contrações uterinas. Além disso, a mulher apresenta enrijecimento do abdômen, perda de líquidos (quando rompe a bolsa), secreção sanguinolenta vaginal e sensação BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 75 de evacuação. Além, é claro, da observação da cabeça do bebê no canal de parto, que é sinal inequívoco. O parto de emergência divide-se em três etapas: pré-parto, trabalho de parto e expulsão da placenta. Pré-parto Esse período pode levar 7 horas nas multíparas (mulheres com mais de uma gestação) e 12 nas primíparas (mulheres de primeira gestação). São apresentados os seguintes sinais: Maior frequência de micção e facilidade respiratória (iniciando a descida do bebê no útero e, consequentemente, o fundo do útero também desce, pressionando a bexiga e liberando a respiração); Aumento da lordose (dores lombares devido ao estiramento e relaxamento das articulações da cintura pélvica); Aumenta o volume de secreção vaginal, o muco, pelas glândulas do colo do útero; Início da dilatação do colo do útero; Eliminação do tampão mucoso “catarrinho” (formação de muco espessa e gelatinosa com algumas raias de sangue); Contrações uterinas inicialmente regulares, de pequena intensidade, com duração variável de 20 a 40 segundos, podendo chegar a duas ou mais contrações em dez minutos. Trabalho de parto O trabalho de parto se divide em três estágios: dilatação, expulsão e secundamento. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 76 1º Estágio – Dilatação É considerado o período mais demorado, e consiste nas modificações que o colo uterino sofre (acontecem as contrações que levam à dilatação do colo uterino). A dilatação indica a abertura do colo do útero e é expressa em centímetros. As contrações forçam a descida do bebê, o que provoca a abertura do colo do útero e o aumento do ritmo e da intensidade das contrações. No final dessa fase, o colo uterino atinge a dilatação máxima de 10 cm e forma-se um único canal entre o útero e a vagina. Esse é o período em que a parturiente experimenta desconfortos e sensações dolorosas e pode apresentar reações diferenciadas como exaustão, impaciência, irritação ou apatia, entre outras. 2º Estágio – Expulsão O período de expulsão inicia-se com a completa dilatação do colo uterino e termina com o nascimento completo do bebê. A parturiente menciona pressão no reto, vontade de evacuar e urgência em urinar. Ocorre distensão dos músculos perineais e abaulamento do períneo. Nesse momento, inicia-se o coroamento (aparecimento da cabeça do bebê na entrada da vagina). Esses sinais, observados pela pessoa que assiste o parto, indicam que o nascimento é iminente e o socorrista deve preparar-se para auxiliar a parturiente. Ela deve ser colocada em posição ginecológica (deitada de costas, joelhos flexionados e bem separados, pés apoiados na superfície que está deitada) e orientada a respirar tranquilamente, repousando nos intervalos das contrações para economizar energia. No caso de mulheres em primeiro trabalho de parto (primíparas), esse BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 77 estágio pode demorar, em geral em torno de 1 hora. As multíparas tendem a apresentar uma fase expulsiva rápida, entre 15 a 30 minutos. No momento do coroamento fetal, a parturiente deve ser encorajada a realizar força para baixo, durante as contrações. Depois que a cabeça sair totalmente, deve haver um pequeno movimento de giro (para a direita ou esquerda), e, então, sairão os ombros e o restante do corpo. Com a saída da cabeça e ombros, o corpo desliza facilmente, às vezes acompanhado de um jato de líquido amniótico. 3º Estágio – Secundamento ou expulsão da placenta Também chamado de dequitação, esse período tem início após a expulsão do feto e termina com a saída da placenta e seus anexos. Após o nascimento, as contrações retornam com intensidade bem menor levando a placenta a desprender-se do útero, saindo, finalmente, pela vagina, levando a bolsa de líquido amniótico vazia. O desprendimento da placenta é considerado como um processo fisiológico, e deve ocorrer espontaneamente, evitando-se manipulações e massagens uterinas (compressões no abdome). O Cordão umbilical jamais deverá ser puxado para acelerar a saída da placenta. Ao constatar o coroamento, o socorrista realizará a “proteção do períneo”, manobra que consiste em aplicar de forma constante um apoio firme, protegendo o períneo com uma das mãos aberta e coberta por uma compressa (pano limpo), ao mesmo tempo em que a outra faz um leve apoio sobre a cabeça, com a intenção de controlar a velocidade de desprendimento fetal. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 78 Após a saída da placenta, é comum a hemorragia através do canal vaginal. A contração natural do útero deve diminuir gradativamente este sangramento. Entretanto, deve-se estar atento à perda sanguínea anormal e ao estado geral da parturiente, até a chegada do serviço médico de urgência. Durante 10 a 20 minutos após o parto, o músculo uterino continua a se contrair, fazendo com que o útero se contraia e ajude a expulsar a placenta. Figura 29. Estágio expulsivo e saída da placenta (modificado de http://embarazo.cuidadoinfantil.net/) Possíveis Complicações do Parto O cordão umbilical pode encontrar-se envolto no pescoço do bebê. Nesse caso, deve-se pedir a gestantepara respirar suavemente e não fazer força para baixo, enquanto que, com muito cuidado, o socorrista examina o estado do cordão. Se frouxo ele deve ser desenrolado, usando-se os dedos, no sentido face-crânio do bebê, antes que os ombros saiam. Se muito apertado, havendo a impossibilidade de se desenrolar o cordão, o bebê deve ser monitorado quanto à possibilidade de hipóxia fetal (diminuição ou ausência do aporte de oxigênio para o feto). Após o nascimento, caso o bebê não esteja respirando, segure-o, pelas pernas, com a cabeça para baixo, com cuidado para que não escorregue, e dê tapinhas nas costas. Se ele continuar sem respirar, inicie manobras de reanimação. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 79 Outros problemas podem levar ao aumento demasiado no tempo do trabalho de parto, como por exemplo, quando o bebê apresenta as nádegas em vez da região craniana no canal de parto. Isso resulta sofrimento para o bebê, podendo haver alterações da frequência cardíaca e hipóxia, por esse motivo, a parturiente deve ser encaminhada imediatamente ao ambiente hospitalar. Quando for necessário transportar a parturiente até um hospital, deve-se colocá-la deitada voltada para o lado esquerdo, com as pernas flexionadas, pois essa posição melhora a ventilação da gestante e do bebê, além de diminuir as contrações. Procedimentos de um Parto de Emergência O parto só deve ser assistido fora do hospital em situação real de emergência, isto é, caso bebê já estiver coroando. Do contrário, deve-se acionar o serviço médico de urgência e a parturiente deve ser levada para o hospital. Quando da necessidade de assistência do parto fora da unidade hospitalar, o policial militar deve pedir autorização à parturiente ou parente que esteja junto, o qual deve acompanhar o parto. Neste caso, os seguintes procedimentos devem ser observados: Entrevista à gestante Antes de qualquer procedimento, o policial militar deve, primeiramente, perguntar: O nome e a idade da mãe; Se ela realizou exame pré-natal; Se há indicação de parto gemelar (múltiplo); BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 80 Se for o primeiro filho (se for primípara, o período de expulsão do bebê demorará cerca de 1h; este tempo será mais curto a cada parto subsequente – multípara); A que horas iniciaram-se as contrações (checar e anotar); Se já houve a ruptura do saco amniótico; Se sente vontade de defecar ou urinar (a mãe não deverá ir ao banheiro se o bebê estiver coroando). Preparação do ambiente Coloque a parturiente de costas, com os joelhos dobrados e bem afastados e os pés apoiados sob a superfície em que está deitada (posição ginecológica); Não exponha a parturiente a curiosos. Cubra-a com lençóis limpos, se possível; Se possível, lave bem as mãos, com água e sabão; Providencie um barbante (cadarço do coturno ou da guia do armamento) para amarrar o cordão umbilical (NÃO CORTE O CORDÃO); Providencie um pano limpo para proteger a vagina de possíveis emissões de fezes. Normalmente, a criança nasce com as vias respiratórias voltadas para baixo e a parturiente pode emitir fezes nesse momento. Procedimentos Aguarde que a criança saia gradativamente, com uma mão (entre o ânus e a vagina); segurando com firmeza; Coloque a outra mão a fim de aparar a cabeça do bebê evitando que saia com violência, nunca tente puxá-la; Verifique se há circular de cordão, caso haja, desfaça com cuidado; Coloque a criança de cabeça para baixo, facilitando a saída de secreções; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 81 Avalie a respiração do bebê, estimule-a, se necessário, massageando com movimentos circulares a região das costas e/ou estimulando a planta dos pés; Caso o bebê não esteja respirando, peça que a mãe aspire a secreção da boca e do nariz e oriente-a a fazer respiração boca a boca; Amarre um barbante (cadarço do coturno ou da guia do armamento) em volta do cordão umbilical, a cerca de 5 cm do bebê (quatro dedos) para interromper a circulação sanguínea no cordão. A seguir, amarre outro barbante em volta do cordão umbilical, a cerca de 10 cm do bebê (entre os dois nós, deve haver uma distância aproximada de 5 cm); Envolva a criança em pano limpo e coloque-a sobre o colo da mãe; Anote a hora do parto; Mantenha mãe e filho aquecidos e monitore os sinais vitais; Controle a hemorragia da mãe com absorvente higiênico ou pano limpo e mantenha suas pernas unidas e elevadas. Cuidados Não interfira no processo do parto; Certifique-se de que a parturiente não apresenta nenhum distúrbio grave (hemorragia, dor de cabeça excessiva, perda de consciência) e que mantém a respiração. A partir do coroamento, a parturiente deve ser instruída a respirar profundamente nos intervalos das contrações e superficialmente (respiração cachorrinho) durante as contrações; Não lave a película de cor esbranquiçada que cobre o corpo do recém-nascido; ela é uma proteção para a pele dele; Nenhuma medida deverá ser tomada com relação aos olhos e ouvidos do bebê; Limpe as vias aéreas (nariz e boca) do bebê usando um pano limpo. Não use líquidos de qualquer natureza; BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 82 Não puxe a placenta pelo cordão umbilical; a expulsão desta se dará com a continuidade das contrações uterinas; Após a saída da placenta, coloque-a em um pano úmido ou saco plástico; Tranquilize a mãe, fazendo-a sentir-se o melhor possível e registre todos os dados da ocorrência; Transporte à mãe e a criança ao hospital e não deixe de levar a placenta. ACONTECEU Policial militar ajuda mulher após parto em UPP O soldado Jônatas Cleisson dos Santos Marcelino, da UPP de Parque Proletário, no Complexo da Penha, ajudou uma moradora que acabara de dar à luz. Deitada numa escadaria da comunidade, Claudineia Soares pedia socorro com a criança nos braços. O policial cortou o cordão umbilical, fez a limpeza e enrolou a criança em um pano. Em seguida, acionou os bombeiros, que levaram mãe e filho para o hospital. Observe que: Cada vez mais se discute a natureza do trabalho policial e se demandam mudanças de foco na atuação dos organismos policiais. Em uma sociedade democrática, cuja política se baseia em gestão e prevenção, exige-se que os policiais sejam treinados para agirem de forma proativa na resolução de problemas que insurjam do cotidiano. Assim, embora a natureza do trabalho policial se torne cada vez mais complexa, as possibilidades de emprego do policial se BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 83 ampliam, atendendo aos anseios da sociedade. O processo de formação do Policial Militar do Estado do Rio de Janeiro abrange conteúdos diversos e requer o desenvolvimento de habilidades distintas, as quais incluem, por exemplo, a aplicação de conhecimentos de primeiros socorros, cuja importância, muitas vezes, não é compreendida pelos policiais em formação. Todavia, as situações com as quais o Policial Militar tem de lidar no dia a dia dão provas da importância e aplicabilidade desses conhecimentos, consoante ao que a sociedade de hoje espera da polícia. ATENDIMENTO EM DESMAIO OU SÍNCOPE Você saberia identificar possíveis causa de um desmaio ou síncope? E como oferecer, de forma segura, o atendimento inicial a um desmaiado? Em uma situação dessas, garantir a integridade da vítima, bem como a salvaguarda de seus pertencesfaz parte da nossa tarefa. Vamos ver como fazer? Síncope ou desmaio é a perda súbita e transitória da consciência, associada à incapacidade de manutenção do tônus postural, com recuperação total e espontânea, podendo ser resultado de um grande número de alterações devido a uma redução transitória do fluxo sanguíneo cerebral e consequente redução da oxigenação, suficiente para alterar as funções cerebrais normais. Os sintomas são palidez generalizada e repentina, tontura, fraqueza, sudorese abundante, respiração e pulso fracos, enjoo, náuseas e vertigem, pressão arterial baixa, extremidades frias, escurecimento da visão e, mais raramente, convulsões. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 84 Classifica-se em cardíaca, quando ocorre redução do débito cardíaco efetivo, seja por arritmia, disfunção miocárdica ou mesmo obstrução ao fluxo sanguíneo. As síncopes não cardíacas são classificadas como neurológica, psiquiátrica, por disautonomia, hipotensão ortostática e vasovagal ou neurocardiogênica. Quando, apesar de extensa investigação não invasiva, a causa não pode ser explicada, chama-se síncope de origem indeterminada. Técnicas de Socorro ao Desmaiado Caso a pessoa esteja apresentando os sintomas característicos da síncope, mas ainda não tenha desfalecido, sente-a em uma cadeira, curve-a para frente com a cabeça baixa (entre as pernas), pressionando-a para baixo. A pessoa deve ser solicitada a respirar profundamente até passarem os sintomas. Se o desmaio já aconteceu, afrouxe as roupas, deite a vítima de costas e mantenha sua cabeça e ombros em posição mais baixa em relação ao resto do corpo, elevando suas duas pernas a cerca de 30 centímetros do chão para facilitar a irrigação sanguínea e consequente oxigenação do cérebro. Caso haja vômito ou emissão de outras secreções pela boca, vire a cabeça lateralmente para evitar sufocamento. Afaste curiosos, se preciso abra janelas para manter o ambiente arejado. Se o desmaio durar mais de um ou dois minutos, agasalhe o paciente e procure um médico. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 85 Caso você seja a vítima, sentindo que vai desfalecer ao ver uma hemorragia, ferimento, ou por qualquer outro motivo, abaixe imediatamente a cabeça ou, então, sente-se e curve-se para frente com a cabeça entre as pernas, mais baixa que os joelhos, e respire profundamente. Cuidados no Socorro ao Desmaiado A perda da consciência de um paciente em qualquer situação ou ambiente sempre deve induzir o socorrista a pensar em um pior prognóstico, pois diversos são os fatores que levam a essa alteração neurológica, podendo ir aos extremos de gravidade que vão da lipotimia (estado de pré-desmaio, com sensação de perda dos sentidos) ao estado de coma. Portanto, independente da causa do desmaio, ainda que a vítima recobre rapidamente a consciência, o serviço médico de urgência deve ser acionado e a vítima encaminhada para avaliação no ambiente hospitalar. Em geral, a vítima de desmaio rápido com recuperação de consciência pode ser transportada apenas com um apoio, isto é, passando seu braço por trás da nuca do socorrista, o qual deve segurar a vítima passando o braço, em diagonal, por trás das costas da mesma. Caso haja duas pessoas para o socorro, pode-se realizar o transporte na posição descrita, com um socorrista posicionando de cada lado da vítima. Entretanto, toda pessoa encontrada desacordada sem que alguém relate a cinemática de como ela caiu, deve ser tratada pelo BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 86 socorrista como traumatismo crânio encefálico e raquimedular, isto é, necessitando de cuidados e imobilização da cervical, até que a vítima seja encaminhada a um centro especializado de trauma e seja submetida a exames que comprovem a integridade do sistema nervoso central, pois a vítima que faz uma síncope cai ao solo sem defesa e acaba traumatizando a cabeça com consequente reflexo na coluna vertebral. ACONTECEU... Motociclista desmaia após cair em córrego e é resgatado por PM Fonte: Globo.com De acordo com informações da PM, o policial foi acionado para a atender a ocorrência e encontrou a vítima já desacordada depois que perdeu o controle da moto. Os primeiros socorros foram feitos no motociclista, que retomou a consciência ainda no local do acidente. Uma equipe do Corpo de Bombeiros também esteve no local apoiando ao atendimento a vítima. Apesar de apresentar apenas escoriações leves, o motociclista foi levado ao Hospital São Vicente, em Jundiaí, onde passou por exames. A assessoria de imprensa do hospital informou que o homem, que tem 43 anos, passa bem. As causas do acidente serão investigadas. Observe que: A pesquisa policial tem demonstrado que o trabalho da polícia, longe de ser o tipo de ocupação que exige baixa qualificação, envolve de fato o exercício de julgamento e uma habilidade para lidar com problemas de grande complexidade e BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 87 importância. Em uma sociedade moderna, Bittner (2003) identifica algumas expectativas em relação à função da polícia, dentre as quais se destaca o fato de que se espera que a polícia vá fazer algo a respeito de qualquer problema que seja solicitada a tratar. A intenção não é afirmar que a polícia não deve se preocupar com a prevenção, repressão e controle do crime, mas sim chamar a atenção para o fato de que essa não é a única, nem a principal função e muito menos o foco com maior demanda de solicitação para intervenção policial. Muitas das ocorrências atendidas envolvem acidentes e requerem atendimento de emergência dentro de um cenário distante de um pronto-socorro. Portanto, o policial militar deve estar preparado para fazer o melhor possível para proporcionar assistência ao cidadão, de acordo com seu treinamento, até a chegada do serviço móvel de urgência. CONVULSÕES E ATAQUE EPILÉTICO Você saberia reconhecer os principais sinais e sintomas das convulsões? E os procedimentos para o atendimento básico, de urgência, de uma pessoa em convulsão ou em crise epilética? Vamos estudar como realizar esses primeiros socorros de modo a garantir a integridade e zelar pela segurança da vítima? Em geral, relacionamos convulsões aos ataques epiléticos, mas nem sempre a correção é verdadeira. É possível que uma pessoa apresente convulsões devido a infecções e lesões cerebrais (por exemplo, meningite, tumores, hemorragias e traumatismos), hipoglicemia, overdose ou abstinência de drogas, febre muito alta, entre outras causas. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 88 Convulsão É uma contratura involuntária da musculatura, provocando movimentos desordenados e, geralmente, acompanhados de perda da consciência. Há dois tipos fundamentais de convulsão: tônica e clônica. Além disso, há um tipo que é a soma dos outros dois: tônico-clônicas. As contrações tônicas se caracterizam por serem sustentadas e imobilizarem as articulações. As clônicas são rítmicas, alternando-se contração e relaxamento. Após a crise o paciente apresenta-se confuso por um período curto de tempo (cerca de 1 a 2 minutos ou mais), demonstra fadiga e sonolência. Os casos mais comuns de convulsão estão associados à febre alta (principalmente em crianças com menos de cinco anos), insolação, infecções, AIDS, malária, raiva, sífilis, tétano, toxoplasmose, insuficiência renal ou hepática e hipoglicemia.Alcoolismo, overdose ou abstinência de drogas ilícitas devem ser causas consideradas em indivíduos sem histórico de convulsões. Figura 30. Convulsão tônico-clônica. Fonte: https://medlineplus.gov/encyclopedia.html BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 89 Epilepsia É uma condição neurológica crônica, de etiologia diversa, caracterizada por crises repetidas de distúrbios nas funções elétricas cerebrais (as células cerebrais descarregam impulsos elétricos anormais), resultando em atividade cerebral anormal, que se manifesta, em geral, na forma de contrações repetidas e espasmódicas dos músculos de partes distintas do corpo (as convulsões), podendo ser precedida de anomalias sensoriais e psicológicas. As condições cerebrais que produzem estes episódios podem estar presentes desde o nascimento ou podem se desenvolver mais tarde, devido a traumatismos, anormalidades estruturais, exposição a agentes tóxicos, ou até mesmo por razões ainda não compreendidas pela medicina. Os sinais clínicos podem se apresentar de duas formas – em crises epiléticas parciais (se os sinais elétricos estão desorganizados em apenas um dos hemisférios cerebrais), ou totais (se essa desorganização ocorrer nos dois hemisférios). Na grande maioria dos casos, as crises desaparecem espontaneamente, mas a tendência é que se repitam de tempos em tempos. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, assim como o tempo de recuperação. Porém, em geral, após a crise convulsiva epilética o organismo, gradativamente, recobra sua homeostase. Assim, o paciente recupera seu estado de consciência lentamente, podendo ficar confuso por certo tempo e ter amnésia do episódio. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 90 Sinais Muitas vezes, há perda do controle dos esfíncteres urinário e anal. Em casos extremos, pode ocorrer cianose e até parada respiratória. Entretanto, convulsão não é sinônimo de epilepsia. Epilepsia é uma doença específica, que predispõe a pessoa a convulsões, mesmo na ausência de problemas como febre alta, pancadas na cabeça, derrames ou tumores cerebrais, sendo sua causa sempre de origem neurológica. Procedimentos Mantenha a calma e não procure impedir o ataque; Se possível, procure evitar que a vítima caia e se machuque; Posicione a vítima em uma superfície plana; Afaste móveis e objetos duros ou pontudos a fim de evitar que a vítima se machuque com golpes espasmódicos; Afrouxe as roupas da vítima; Proteja a cabeça da vítima, faça a lateralização para evitar que sofra asfixia em caso de vômitos ou salivação excessiva; Monitore a respiração e espere até que a crise passe; Depois da crise procure mantê-la calma explicando o ocorrido, caso esteja consciente, e que deve receber ajuda médica; Coloque a vítima na posição lateral de segurança (vítima inconsciente) e/ou de lado (vítima consciente); Os sinais de convulsão e epilepsia são muito parecidos, a pessoa apresenta perda da consciência, enrijecimento muscular, principalmente do pescoço e extremidades, movimentos espasmódicos, alteração da posição dos olhos, salivação excessiva. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 91 Resfrie crianças febris com toalhas molhadas com água em temperatura ambiente; Não lhe dê tapas, não jogue líquidos de qualquer natureza, nem lhe ofereça qualquer coisa para beber; Afaste os curiosos e proteja a privacidade da vítima, que muitas vezes encontra-se fragilizada e confusa; Deixe a vítima dormir, caso queira e monitore os sinais vitais; Em caso de crise de epilepsia, muitas vezes, após o primeiro episódio convulsivo, ainda que já tenha recobrado a consciência, a vítima apresenta uma segunda crise convulsiva. (Crise que dura mais de cinco minutos ou diversas crises recorrentes indicam uma situação de emergência neurológica conhecida como estado do mal epilético. Nesse caso, o paciente precisa de atendimento médico imediato); De qualquer modo, em ambos os casos o atendimento médico faz-se necessário, acione o serviço médico de urgência. Lembre-se Durante a crise convulsiva a vítima pode apresentar contratura muscular de velocidade equiparada a um veículo a 150 km/h, portanto, nunca introduza sua mão ou qualquer outro objeto entre os dentes da vítima nem tente segurá-la. É preciso ficar claro que a vítima jamais conseguirá engolir a própria língua. O máximo que pode acontecer é mordê-la e feri-la, mas ela cicatrizará sem problemas depois. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 92 FERIMENTOS Com certeza você vai afirmar que sabe diferenciar um ferimento aberto de um ferimento fechado, não é? No entanto, saberia descrever o atendimento de feridas abdominais e ferimentos com objetos cravados? Conhece o uso apropriado de curativos compressivos e oclusivos? Saberia reconhecer ferimentos por PAF? É muito importante conhecermos as técnicas básicas de hemostasia nos ferimentos causados por projétil de arma de fogo. De acordo com o tipo de ferimento, identificar a melhor técnica a ser utilizada para transporte da vítima faz toda a diferença. Vamos lá? Ferimentos são lesões traumáticas da pele ou dos tecidos adjacentes, podendo ocasionar um variável grau de dor, sangramento, laceração e contaminação. O trauma causado pelos ferimentos penetrantes pode ser estimado pelo socorrista, classificando os objetos penetrantes em três categorias, de acordo com o nível de energia que possuem: Armas de baixa energia – são as usadas com a mão (faca, punhal, picador de gelo, tesoura etc.). Produzem lesão somente com as pontas afiadas ou bordas cortantes. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 93 Armas de média energia – são as armas de fogo como revólveres e alguns rifles (velocidade de até 300 m/s). Produzem cavidade temporária 3 a 5 vezes maior que o calibre do projétil. Armas de alta energia – são as armas de fogo como fuzis, espingardas (velocidade superior a 600 m/s). Produzem cavidade temporária 25 ou mais vezes, maior que o calibre do projétil. Tipos de Ferimentos Ferimentos Abdominais Abertos (Com Evisceração) Procedimentos Não toque nas vísceras expostas, nem tente recolocá-las no lugar (intestinos, estômago etc.); evite mexer nesses ferimentos; Mantenha-os como estiverem; se estiverem expostos, cubra- os com pano úmido, tomando o cuidado de manter úmido todo o tempo, e passe uma tira de pano em volta com firmeza sem apertar (o objetivo é proteger os órgãos expostos por meio de um curativo, evitar que ressequem e minimizar a contaminação); Não remova corpos estranhos encravados (facas, punhais etc.), os mesmos devem ser estabilizados com auxílio de uma atadura ou faixa de tecido e ao redor deste deverá ser feito um curativo compressivo, sem apertar; Não dê à vítima qualquer líquido, pois pode haver extravasamento pelo intestino ferido, contaminando todo o abdômen. Caso necessário, a vítima deverá ser transportada com as pernas encolhidas. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 94 Observação Não oferecer líquidos às pessoas com feridas penetrantes, pois existe a chance de as mesmas serem submetidas à cirurgia para assegurar a saída do derrame sanguíneo ou para investigação da cavidade.Se houver sede, apenas molhe os lábios com pano limpo embebido em água. Ferimentos Extensos ou Profundos Os seguintes ferimentos exigem pronta atenção médica: Quando as bordas dos ferimentos não se juntam corretamente; Quando há presença de corpos estranhos; Quando a pele, músculos, nervos e tendões estão dilacerados; Quando há suspeita de penetração profunda de objeto causador do ferimento (projétil, faca, prego etc.); Se o ferimento é no crânio ou na face. Procedimentos Providencie repouso da parte afetada, colocando compressas frias ou gelo sobre o local; Figura 31. (alunos do CFSd em treinamento) BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 95 Atente para que a movimentação seja cuidadosa e conduza a vítima para o serviço médico de urgência; Controle os sinais vitais e esteja pronto para iniciar a respiração artificial. Ferimento Tipo Avulsão É lesão que envolve rasgos ou arrancamento de uma grande parte da pele. Procedimentos Se possível, e se a pele estiver presa, deve ser recolocada sobre o ferimento, a hemorragia deve ser controlada e, em seguida, deve-se cobrir o ferimento com curativo estéril fixado com bandagem ou ataduras; Se a pele foi arrancada, proceder da mesma maneira que no caso de membro amputado, armazenar membro a parte arrancada em saco plástico ou pano úmido; Corpos estranhos, como fragmentos de vidro, madeira ou outros que estejam presos aos tecidos lesados e que ofereçam resistência, não devem ser retirados. Proceda à limpeza ao redor com soro fisiológico, proteja a área afetada e encaminhe a vítima para tratamento definitivo. Objetos Impactados ou Empalados Procedimentos Corpos estranhos presos ao corpo da vítima, como facas, estiletes, pedaços de ferro ou outro tipo de material, jamais devem ser retirados, pois sua remoção pode causar hemorragia grave ou lesar nervos ou músculos próximos ao ferimento. Estes objetos devem ser estabilizados com curativo volumoso, faixas, ataduras ou outros, se possível fazendo a limpeza ao redor, e deve-se transportar a vítima BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 96 para atendimento adequado. QUEIMADURAS Você sabia que há diferentes tipos de queimaduras? Você saberia identificar a gravidade de uma queimadura pela área corporal atingida e pela profundidade da lesão? Vamos estudar um pouco este assunto com bastante atenção! Queimaduras são lesões corporais produzidas pelo contato com agente térmico (frio ou calor), radioativo, químico, biológico ou elétrico, podendo causar a destruição parcial ou total das camadas da pele, atingindo músculos, ossos e órgãos internos. As causas mais frequentes das queimaduras são a chama de fogo, o contato com água fervente ou outros líquidos quentes e o contato com objetos aquecidos. Menos comuns são as queimaduras provocadas pela corrente elétrica, transformada em calor ao contato com o corpo, e queimaduras químicas, as quais são lesões cáusticas provocadas por agentes químicos, em que o dano tecidual nem sempre resulta da produção de calor. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 97 A pele é frequentemente o órgão mais afetado nas queimaduras. Considerada o maior órgão do corpo humano, a pele é a parte do organismo que recobre e resguarda a superfície corporal, tendo algumas funções importantes, dentre as quais se destacam: controlar a perda de água e promover a manutenção da temperatura geral do corpo. Além disso, a pele forma uma barreira protetora contra a atuação de agentes físicos, químicos ou bacterianos sobre os tecidos mais profundos do organismo. A queimadura compromete a integridade funcional da pele, a magnitude do comprometimento dessas funções irá depender da extensão e profundidade da queimadura. Procedimentos de Socorro O primeiro cuidado é tirar a vítima do contato com a causa da queimadura. Deve-se remover a fonte de calor, afastando a vítima da chama ou objeto quente. Se as vestes estiverem em chamas, a vítima deve ser orientada a rolar no solo e nunca correr ou ser envolvida em cobertores que podem ativar as chamas (sempre que for necessário apagar o fogo do corpo da vítima, o mesmo pode ser feito abafando-o com a devida atenção ao material utilizado para abafar a chama). Em seguida, deve-se iniciar, o quanto antes, a interrupção do processo de queimadura, irrigando com grandes volumes de água à temperatura ambiente durante cerca de 10 minutos, podendo chegar a 20 minutos, caso seja necessário. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 98 As vestes devem ser retiradas, desde que não aderidas à pele. Relógios, pulseiras, anéis também devem ser retirados, pois estes itens podem manter calor residual e continuar ferindo a vítima. Além disso, sua retirada se torna mais complicada após o desenvolvimento de edema. A seguir, deve-se verificar a respiração, os batimentos cardíacos e o nível de consciência da vítima. A dor dever ser controlada cobrindo- se a área afetada com um tecido limpo (com gazes, compressas ou toalhas de algodão, úmidas, em seguida cobertas por plástico ou outro material impermeável). Cuidados Com o Queimado Não coloque gelo sobre a área afetada. Não estoure bolhas nem retire as roupas e outros materiais aderidos à pele. Se as bolhas estiverem rompidas, não as coloque em contato com a água. Não aplique pomadas, líquidos, cremes e outras substâncias sobre a queimadura. Caso a vítima esteja consciente e sinta sede, deve-se dar água. No entanto, caso a área da queimadura seja muito extensa (> 20%), a água deve ser recusada. Vítimas com grande extensão corpórea queimada podem apresentar hipotermia e evoluir para o choque, portanto devem ser mantidas aquecidas (deve-se resfriar a queimadura mas aquecer a vítima) e levadas para atendimento hospitalar o quanto antes. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 99 Nos queimados graves há perdas plasmáticas consideráveis, e a demora na reposição expõe a vítima a grande risco de desenvolver choque hipovolêmico. Portanto, há urgência na reidratação parenteral em queimaduras de segundo e terceiro graus superiores a 10% de superfície corporal queimada em crianças e a 15% superfície corporal queimada em adultos. Assim, o serviço médico de urgência deve ser acionado mesmo antes do início dos primeiros socorros ao queimado. Cuidado especial deve ser dado no socorro das vítimas de acidentes com eletricidade, as quais não devem ser tocadas diretamente. A corrente elétrica deve ser desligada e deve-se estabelecer o isolamento. Se não for possível desligar a corrente elétrica, deve-se tentar afastá-la com objeto isolante, seco. Nestes casos, deve sempre ser lembrado o risco de parada cardiorrespiratória, devido a arritmias cardíacas resultante da descarga elétrica. Queimaduras por agentes biológicos requerem atenção quanto ao desenvolvimento de reações alérgicas sistêmicas (choque anafilático). Porém, na maioria das vezes, estas queimaduras podem ser aliviadas irrigando-se com grandes volumes de água. Em caso de lesão provocada por água-viva, no entanto, utiliza-se vinagre para alívio dos sintomas de queimação local. Independente da gravidade ou natureza da queimadura o atendimento médico jamais deve ser dispensado. No caso de queimaduras por agentesquímicos, deve-se retirar as vestes da vítima e só lavar a área afetada em água após verificar a natureza da substância (em alguns casos o contato com a água pode agravar a lesão). BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 100 Biossegurança em Procedimentos de Queimados Como a maior causa de morte entre os queimados é a infecção, esta deve ser prevenida utilizando, se possível, luvas, máscaras e matérias estéreis para o socorro da vítima. O uso do EPI e a manutenção da assepsia do local serão importantíssimos para o tratamento posterior da vítima. Além disso, assim como em qualquer outra situação de emergência, o socorrista deve evitar o contato direto com as secreções da vítima, a fim de previr contaminações e preservar sua própria integridade. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 101 CONCLUSÃO É importante que você policial militar tenha ao menos conhecimentos mínimos sobre os primeiros procedimentos que devem ser adotados no socorro, tendo sempre a consciência que você não é bombeiro e nem médico, porém geralmente é o primeiro a chegar em muitas ocorrências e alguns procedimentos podem salvar a vida da vítima que pode ser você. BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 102 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. Lei nº 9.503 de 23 de setembro de 1997. BRASIL. Código Penal. PMERJ. Manual Básico do Policial Militar. Rio de Janeiro: CFAP/PMERJ, s/d (mimeo) BRASIL. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (SENASP). Rede de Educação a Distância para Segurança Pública. Emergencista Pré-Hospitalar. Disponível em: https://ead.senasp.gov.br/. Acesso ao conteúdo com login e senha. COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Programa de Integração das Normas Internacionais de Direitos Humanos e Princípios Humanitários Aplicáveis à Função Policial: Normas Internacionais de Direitos Humanos Aplicáveis às Instituições Policiais. Brasília. 2010. DPRF. Manual de Primeiros Socorros da Polícia Rodoviária Federal. Brasília:DPRF, s/d. (mimeo) NÓBREGA, Antonio Cláudio; CONSTANTINO, Patrícia; CASTRO, Renata Rodrigues Teixeira de. Biossegurança e abordagem de urgência. Rio de Janeiro: Instituto de Segurança Pública, 2007. 50p. (Coleção Instituto de Segurança Pública. Série Formação Policial, v.12). FOLEY, Conor. Protegendo os Brasileiros contra a tortura. Um Manual para Juízes, Promotores, Defensores Públicos e Advogados. Brasília: International Bar Association (IBA) / Ministério das Relações Exteriores Britânico e Embaixada Britânica no BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM EM URGÊNCIAS - 2018 103 Brasil, 2011. OSSE, Anneke. ENTENDENDO A POLÍCIA: Um guia para ativistas de direitos humanos. Amnesty International Nederland, Fundação Educando. Porto Alegre, Brasil. 2007. COMISSÃO INTERAMERICANAS DE DIREITOS HUMANOS. Sistema de Petições e Casos: Folheto informativo. Organização dos Estados Americanos. 2010. CURSO TRÁFICO DE PESSOAS - Módulo 1. SENASP/MJ. Fábrica de Cursos. 2009. DECRETO Nº 5.948, DE 26 DE OUTUBRO DE 2006. DECRETO Nº 6.347, DE 8 DE JANEIRO DE 2008