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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DO CICLO VITA1

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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DO CICLO VITAL – PDCV
MÓDULO 1 - INFLUÊNCIAS PRÉ E PERINATAIS NO DESENVOLVIMENTO
DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL
A fecundação acontece a partir do momento em que o espermatozoide penetra o óvulo e forma o zigoto, assim se inicia a reprodução celular. Tudo que acontece a partir da fertilização até o nascimento são o desenvolvimento pré-natal e leva cerca de 38 semanas, sendo dividida em três fases:
Período germinativo ou zigótico – Acontece desde a fecundação até a segunda semana da gravidez, ocorre nas trompas uterinas. O zigoto cresce por meio da divisão celular. Enquanto ele se divide, desce pela trompa em direção ao útero. Com o resultado da reprodução celular, se forma o blastocisto, cuja as células dão origem ao embrião.
Estágio Embrionário – Acontece entre a terceira e oitava semana de gravidez, desde que o zigoto se torna um embrião. Neste período os principais órgãos são definidos. O crescimento do embrião segue dois princípios, céfalo-caudal (da cabeça pra baixo) e próximo- distal (do tronco para cima). Este é considerado um período de alta vulnerabilidade às influências do ambiente pré-natal. Quase todos os defeitos congênitos ocorrem neste período, bem como, os abortos espontâneos.
Estágio Fetal – Neste período os órgãos formados se desenvolvem. É um momento de crescimento e refinamento de todos os sistemas. Há o aparecimento das primeiras células ósseas e é possível perceber os movimentos do feto. 
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FATORES TERATOGÊNICOS 
Os fatores teratogênicos são agentes ambientais que podem causar problemas no desenvolvimento e conduzir anormalidades e causar até a morte. Entre as doenças de maior risco, podemos citar, a rubéola e a AIDS. Gestante usuárias de drogas, podem trazer prejuízos para o desenvolvimento do feto, como por exemplo, baixo peso, baixo nível de atenção, hiperatividade e síndrome da morte súbita na infância.
Podemos também destacar como risco ambiental, substâncias como chumbo, mercúrio, radiação e poluição. Esses agentes podem trazer consequências, como por exemplo, as mutações genéticas. A susceptibilidade aos agentes, interage com outros fatores, como por exemplo, a idade da mãe, nutrição e condição do útero.
 
INFLUÊNCIAS MATERNAS E PATERNAS
A influência paterna e o estado psicológico da mãe, são relevantes no período pré-natal. O pai, exposto a drogas e chumbo, por exemplo, pode produzir espermatozoides anormais. Além de haver uma relação com a idade do pai alguma anomalias. 
O NASCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DO RECÉM-NASCIDO
O nascimento acontece quando o feto é expulso do útero. A forma com que o parto acontece pode influenciar na saúde do bebe. Podemos destacar como problema, a prematuridade. Esses problemas podem trazer sequelas desenvolvimentais. 
O recém- nascido possui habilidades, como por exemplo, reflexos. A presença dos reflexos e seu desaparecimento são sinais de desenvolvimento neurológico. O bebe dispõe de todas as capacidades sensoriais básicas no nascimento. Ele não possui muitas habilidades motoras, elas se desenvolvem gradualmente ao se desenvolver.
MÓDULO 2 - PRIMEIRA INFÂNCIA (POR VOLTA DOS ZERO AOS DOIS ANOS)
DESENVOLVIMENTO PERCEPTUAL E MOTOR
 
O desenvolvimento é composto de uma série de fatores relacionados entre si, como por exemplo, físicos, cognitivos e psicossociais. 
Os marcos iniciais do desenvolvimento são: erguer a cabeça por volta de 4 meses, engatinhar por volta dos 10 meses e caminhar, por volta dos 12 meses. Essas habilidades, determinam a forma que a criança se relaciona com o mundo. 
DESENVOLVIMENTO FÍSICO
 
Fatores ambientais, políticos, sócio-econômicos e padrões culturais, podem afetar o ritmo de desenvolvimento do bebê. 
Aos 10 meses, os bebês já andam como apoio. A habilidade vai melhorando por volta dos 12 meses. Próximo aos 2 anos as crianças se tornam mais ágeis, sobem escadas e cadeiras, caminham rapidamente, mas precisam de supervisão constante. 
As crianças adquirem habilidades gradativamente, esse processo é chamado de maturacional.
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Segundo Jean Piaget, a criança de 2 a 6 anos, desenvolve o pensamento pré-operatório. É neste período que aparece a função simbólica, a capacidade da criança de empregar símbolos e signos, isso traz modificações na conduta afetiva e intelectual da criança. Entre os 4 e 5 anos as crianças conseguem desenvolver teorias sobre como funciona a sua mente e de outras pessoas. 
A linguagem da criança se aperfeiçoa com o tempo, suas frases vão se tornando complexas, o seu vocabulário aumenta e a gramática e sintaxe se tornam mais sofisticadas. 
 
DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL
 
 Esse desenvolvimento é constituído pelo desenvolvimento da personalidade. Estudar o desenvolvimento psicossocial de crianças de 0 a 2 anos implica em descrever seus passas do desenvolvimento. Essa é sequência: 
O autoreconhecimento físico: Por volta dos 18 meses, quando a criança olha no espelho ou em foto sua e reconhecer-se.
 Autodescrição e autoavaliação: ocorre entre 19-30 meses, a criança pode definir-se em termos descritivos.
Resposta emocional a má ação: por volta dos 20 meses as crianças costumam ficar aborrecidas pela desaprovação dos pais e por algo que foi desaprovado e visto como mau.
Os irmãos podem influenciar de maneira positiva e negativa. As ações e atitudes dos pais podem afetar os relacionamentos entre irmãos. O contato com outras crianças, principalmente após o primeiro ano, pode afetar o desenvolvimento cognitivo e psicossocial.
MÓDULO 3 - SEGUNDA INFÂNCIA (POR VOLTA DOS DOIS AOS SEIS ANOS)
DESENVOLVIMENTO FÍSICO
Na frase pré-escolar as áreas sensório-motoras estão mais desenvolvidas. Os ossos e músculos estão mais fortes e há um aumento na capacidade respiratória. Tudo isso depende de variações como herança genética e oportunidades do meio.
Aos 3 anos as crianças normalmente começam a perder a forma de bebê e assumem a aparência mais esguia infantil. 
Quanto às habilidades motoras finas, elas também avançam e nesta fase a maioria das crianças já podem se servir e usar o banheiro sozinha. As crianças neste período, ainda dormem bem à noite e fazem uma soneca ao dia.
 Aos 5 anos, o sono é retardado. A primeira dentição se completa entre os 30 meses e começa a cair por volta dos 6 anos.
 
 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL
É nesta idade também que aparecerem as emoções simultâneas, que podemos dividir em cinco níveis:
1) Dois sentimentos quaisquer não podem existir, por exemplo: estar feliz e satisfeita.
2) Duas emoções, só podem existir se ambas forem positivas ou negativas e dirigidas ao mesmo alvo 
3) Duas emoções direcionadas a alvos diferentes 
4) Dois sentimentos opostos, com alvos diferentes 
5) Sentimentos opostos em relação ao mesmo alvo 
BRINCADERIA: O NEGÓCIO DA SEGUNDA INFÂNCIA
Ao brincar, as crianças crescem, aprendem a usar músculos; coordenam visão e dominam seus corpos; adquirem habilidades em línguas, papéis e emoções. Crianças que brincam sozinhas podem em resolver problemas. É preciso prestar atenção no que as crianças fazem ao brincar. A cultura influencia no modo de brincar.
Sobre os companheiros imaginários, ocorre com maior frequência com filhos únicos, ocorrendo mais com as meninas do que com os meninos. Os companheiros das meninas geralmente são humanos e os dos meninos, animais. Representam uma boa companhia, ajudando a criança a se relacionar com o mundo real.
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MÓDULO 4 - TERCEIRA INFÂNCIA (POR VOLTA DOS SEIS AOS DOZE ANOS)
DESENVOLVIMENTO FÍSICO
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O corpo cresce durante os anos escolares e as habilidades motoras melhoram notavelmente. Esse desenvolvimento acontece de forma menos rápida que nos períodos anteriores. É uma fase em que a criança se torna mais autônoma.
A taxa de mortalidade neste período é a mais baixa de todo ciclo vital. Por outro lado, a obesidade é cada vez mais comum. Neste período os acidentes são preocupantes e acabam sendo a principal causa de morte.
 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
Aos sete anosa criança libera seu egocentrismo e começa a construção lógica. Isto significa o surgimento de uma nova capacidade intelectual da criança. A interação com amigos estimula o desenvolvimento das habilidades de escrita. Nessa fase a criança compreende o jogo no sentido coletivo.  Neste período surgem novos sentimentos morais. A fala egocêntrica começa a diminuir gradativamente.
 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL
Neste período, as crianças costumam passar menos tempo com os pais, porém esta permanece a relação mais importante. A cultura influência nos relacionamentos, nos papéis e na importância da família. A criança descobre que a aceitação ou rejeição social depende de suas realizações. As relações com companheiros e amizades nesta fase, são mais profundas e estáveis, refletindo o desenvolvimento emocional e cognitivo.
MÓDULO 5 - ADOLESCÊNCIA (DOS DOZE AOS VINTE ANOS)
 Desenvolvimento Físico
A adolescência tem sido um tema de grande interesse na sociedade contemporânea. As características desta fase, tanto biológicas, quanto psicológicas têm sido descritas por inúmeras obras e autores. Neste sentido é preciso fazer uma distinção entre a puberdade e adolescência, como ponto de partida para o início dessa discussão, pois tais processos, embora intimamente ligados, não devem ser identificados, porque não são exatamente simultâneos e em alguns aspectos chegam a ser completamente independentes.
Puberdade está ligada às modificações biológicas que se passam nesta fase, assinaladas por dois tipos gerais de mudanças físicas: o primeiro relativo ao aumento no peso, altura, gordura e músculos corporais e o segundo, ligado à maturação sexual e ao desenvolvimento das características sexuais secundárias (como pêlos faciais e corporais e o crescimento de seios nas meninas entre outros).
Um indício de amadurecimento sexual na puberdade, para os meninos é a produção de espermatozóides vivos, e para as meninas é a menarca, isto ocorre em termos médios por volta dos 12 aos 15 anos
Nessa fase há o estirão do crescimento, os púberes podem crescer de 7 a 15 centímetros por ano e também ganhar muito peso rapidamente. Alguns indivíduos, inclusive, sentem muitas dores devido ao crescimento acelerado, a chamada, dor do crescimento.
O corpo do púbere e do adolescente não cresce de forma homogênea: as mãos e os pés crescem antes, até atingir o tamanho final, a seguir, vêm os braços e as pernas. Portanto, o corpo do indivíduo passará por várias transformações até o final da adolescência.
A adolescência diz respeito às transformações psicossociais que acompanham o processo biológico. No entanto, o início da adolescência pode coincidir ou não com a puberdade. Há casos em que a puberdade antecede a adolescência, quando, por exemplo, um indivíduo tem o corpo completamente desenvolvido, mas ainda pensa e age como criança; ou o contrário, há casos em que a adolescência antecede a puberdade, quando, por exemplo, uma garota sofre intensamente porque já pensa como uma adolescente e se comporta como adolescente, mas seu corpo é de menina. 
As alterações físicas da puberdade são inter-relacionadas com os outros aspectos psicossociais do desenvolvimento e tendem a fazer com que os adolescentes destinem uma grande atenção à sua aparência física. As transformações físicas e a importância da aceitação por parte dos outros fazem com que o adolescente se preocupe demasiadamente com a sua imagem corporal.
 
 Desenvolvimento Cognitivo
 
 
É necessário um pequeno raciocínio que não é imediato, mesmo no adulto, para achar a resposta que é ... (veja abaixo, item 2, atividades recomendadas)
Para se chegar a solução dessa questão é preciso, entre outros, que o adolescente possa fazer uma discussão interiorizada, e ela marca o início de um outro tipo de reflexão, que até então não era possível.
O desenvolvimento cognitivo do final da infância à fase adolescente se caracteriza pelas seguintes mudanças: de esquemas conceituais e operações mentais referentes a objetos e situações concretas para formação de esquemas conceituais abstratos (amor, fantasia, justiça, etc.), realizando com eles operações mentais formais (abstrato, sem necessidade do concreto).
Neste período, o pensamento é formal / hipotético- dedutivo, isto é, o indivíduo é capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma observação real. Envolve uma dificuldade e um trabalho mental muito maior que o pensamento operacional- concreto.
De acordo com Piaget, a personalidade começa a se formar no fim da infância (8-12 anos) com a organização autônoma das regras, dos valores e a afirmação da vontade. Esses aspectos subordinam-se num sistema único e pessoal e vai-se exteriorizar na construção de um programa/projeto de vida.
Após os 11 – 12 anos, as operações lógicas começam a ser transpostas do plano da manipulação concreta para o das idéias, sem o apoio da percepção, da experiência, nem mesmo da crença. Assim, o adolescente é capaz de lidar com conceitos como liberdade, justiça, etc.
Para Piaget, o adolescente é um indivíduo que constrói sistemas e teorias, liga soluções de problemas por meio de teorias gerais, das quais se destaca o princípio. Têm facilidade de elaborar teorias abstratas que transformam o mundo, em um ponto ou noutro.
Muitas vezes, o adolescente pretende inserir-se na sociedade dos adultos por meio de projetos, de programas de vida, de sistemas frequentemente teóricos. A verdadeira adaptação “a sociedade vai-se fazer automaticamente, quando o adolescente de reformador transformar-se em realizador”.
 
Desenvolvimento psicossocial
 
É uma fase na qual se enfrenta a crise de identidade. Por crise, entende-se, como um ponto conjuntural necessário ao desenvolvimento, é o momento no qual o repertório que o indivíduo possuía entra em colapso, não é suficiente frente a novas demandas e, então, é necessária uma mudança desenvolvimental qualitativa.
Identidade é a consciência que o indivíduo tem de si mesmo como “um ser no mundo”. Traz o sentimento de pertinência e de diferenciação (apesar de ter características específicas por pertencer a vários grupos, tem características que o tornam único).
Na busca da construção de sua identidade o adolescente faz uma série de experimentações tentando identificar, quem ele é.
Quando não se tem a definição de algo, parte-se do contraste definindo-se primeiramente o que não é.
Muito frequentemente, o adolescente quer experimentar uma série de esportes ou cursos, para depois conseguir definir os mais compatíveis com ele. A escolha vocacional é um dos grandes dilemas do adolescente, pois implica em analisar e inter-relacionar uma série de fatores e, entre inúmeras opções, escolher apenas uma. Evidentemente este não é um processo fácil e gera muita ansiedade.
Erikson afirma que a adolescência é um período de moratória no qual a pessoa necessita de tempo e energia para representar papéis diferentes e viver com auto-imagens também diferentes. Assim, para o autor, o dilema desta fase é identidade versus confusão de papéis. A resolução dessa crise contribui para que o indivíduo desenvolva um senso de auto-identidade, de coerência interna.   Por outro lado, aqueles que não conseguem atingir uma identidade coesa, apresentarão uma confusão de papéis. São pessoas que no geral, não sabem quem são, ou o que querem para as próprias vidas, não sabem que trajetórias seguir em termos de escolha profissional, vida afetiva, etc.
Ainda segundo Erikson, a força básica que deveria se desenvolver durante a adolescência é a fidelidade, que surge de uma identidade de ego coesa e engloba sinceridade, genuinidade e um senso de dever nos nossos relacionamentos com as outras pessoas.
Quando se pensa nas interações sociais que ocorrem nessa fase, é preciso salientar que, na maioria dos casos, há uma tendência para a dissolução dos grupos de meninas (Turma da Luluzinha) e dos meninos (“Turma do Bolinha”). Portanto, formam-se os grupos mistos e, posteriormente, no decorrer desta fase, há a formação de casais. Como já mencionado,os grupos de amigos são muito importantes e exercem uma forte influência recíproca, podendo ser traduzida, muitas vezes, como uma “grande pressão sobre os companheiros“.
O adolescente é impulsivo tende a se perceber com indestrutível e ilimitado e por isso, os grupos de adolescentes se envolvem em atividades que permitem o confronto com todos os limites de resistência, coragem e capacidades, tais como os esportes radicais, disputas de “rachas”, entre outros.
Freqüentemente os adolescentes transferem a relação fusionada que mantinham com os pais para os amigos ou namorado(a). Quer dizer, os adolescentes vivem as relações como se fossem um só: um só desejo, uma só necessidade. Por isso, parece ser comum as explosões dos adolescentes por sentirem-se traídos em suas relações afetivas, ou com os amigos, como por exemplo quando um elemento de um grupo conversa com alguém que não faz parte deste grupo, isso pode ser interpretado como traição, provocando discussões ou brigas entre os membros do grupo.
Na adolescência a sexualidade e a definição da orientação sexual são temas centrais no desenvolvimento e corroboram para a definição da identidade. É fácil observar, nas situações diárias, o quanto o comportamento do adolescente é recorrentemente voltado para questões inerentes à sexualidade.
Portanto, como já haviam identificado Knobel & Aberastury (1981), na adolescência o indivíduo tem que elaborar três lutos, a saber, luto pelo corpo infantil; luto pela identidade e papel infantil; luto pelos pais da infância. Ou seja, o adolescente terá que se reorganizar frente às perdas integrando as aquisições próprias desta fase.
Embora o período da adolescência seja freqüentemente descrito por muitos autores, como uma fase de tempestade e tormenta, cheio de revoluções, muitos adolescentes não têm essa vivência e podem experimentar sentimentos de admiração e confiança nos pais, lidando de forma positiva com os desafios dessa fase.
 
A adolescência como construção social e as características do processo psicossocial na adolescência.
 
Bock (2007) faz uma análise da adolescência à luz perspectiva sócio-histórica em Psicologia. Afirma que tanto no campo da Psicologia do Desenvolvimento, quanto nas áreas da Psicologia da Educação e Psicologia Social, a adolescência tem sido apresentada dentro de uma concepção liberal, uma visão naturalizante. Nessa, o sujeito é tomado como independente, livre, racional e natural. Assim, o adolescente estaria sujeito às leis naturais e ao mesmo tempo, autônomo, capaz de usar a razão soberana.
Tal posicionamento que grassa na maioria das obras da Psicologia contemporânea, postula características da adolescência, como expressões da natureza humana, independente da realidade material. Portanto, as práticas decorrentes desta visão são curativas e remediativas, e se propõe apenas a observar o trajeto do adolescente, cuidando para que ele siga o que está previsto pela natureza. Caso haja alguma alteração nesta caminhada, é preciso que o profissional de psicologia ajude-o a se adaptar e voltar ao caminho. Portanto as práticas são intervenções que contribuem a adaptação do que está de antemão estabelecido pela sociedade vigente.
Este posicionamento de adaptação aponta para políticas públicas voltadas à juventude que não contribuem para desvelar as relações sociais e formas de vida relacionadas à gênese das características da adolescência, e se voltam exclusivamente à tolerância.
A referida autora alerta para a necessidade de compreensão da adolescência, como uma fase de desenvolvimento constituída nas relações sociais e nas formas de produção da sobrevivência, o que leva necessariamente a uma ressignificação e a busca de novas maneiras de relacionamento que tenham no adolescente um parceiro social. Portanto, as ações, comportamentos e pensamentos dos adolescentes são fruto das relações sociais, das condições de existência e dos valores sociais que permeiam a cultura em que ele está inserido e isto é responsabilidade de todos os que fazem parte de um conjunto social.
Osório (1992) contribui para a ampliação da compreensão da adolescência, evidenciando algumas de suas características. Segundo o autor, são elas:
- Redefinição da imagem corporal - perda do corpo infantil e da conseqüente aquisição do corpo adulto.
- Culminação do processo de separação/individuação dos pais da infância.
- Elaboração de lutos referentes à perda da condição infantil.
- Estabelecimento de uma escala de valores ou código de ética próprio.
- Busca de pautas de identificação no grupo de iguais.
- Estabelecimento de um padrão de luta/fuga no relacionamento com a geração precedente.
- Aceitação dos ritos de iniciação como condição de ingresso ao status adulto.
- Assunção de funções ou papéis sexuais auto-outorgados, ou seja, consoante inclinações pessoais independentemente das expectativas familiares e eventualmente (homossexuais) até mesmo das imposições biológicas do gênero a que pertence.
MÓDULO 6 - ADULTO- JOVEM ( POR VOLTA DOS VINTE AOS QUARENTA ANOS)
 
 Mudanças Físicas
 
 
 
Se nesta fase ocorre o auge da vitalidade física, porque há tantos casos de infertilidade?
Os estudos e pesquisas sobre a vida adulta ainda são muito recentes e, neste sentido, já é notória a necessidade de uma ampliação dos mesmos.
Alguns dos temas recorrentes nessa fase são: o conceito e as vivências do adulto, as determinações sócio-históricas e culturais e aspectos como o trabalho, tempo livre, família e mudanças físicas.
A vida adulta compreende o período que gira em torno dos 20 aos 65 anos, e dessa forma, nela se pode observar que os aspectos físicos contemplam um continuum que vai da plenitude física ao começo do declínio.
Muitas das diferenças encontradas podem ser atribuídas, entre outros, ao estilo de vida (exercícios, alimentação, sono, etc).
Não se pode deixar de destacar também, outros fatores relevantes como: o avanço da medicina, a ausência de guerras, melhores condições sanitárias e políticas de natalidade
Assim, parece-nos que a ampliação dos estudos e pesquisas na fase adulta passa a ser cada vez mais importante.
Com relação aos aspectos físicos, na fase adulta jovem ou juventude, a pessoa se encontra no auge das estruturas intelectuais e morais. Por volta dos 25 anos, há uma diminuição das mudanças fisiológicas, pois as funções do corpo já estão todas desenvolvidas. Na realidade, pode-se afirmar que as funções corporais se encontram plenas, a força muscular está no seu ponto máximo, bem como a agudeza sensorial.
Quanto à estatura, os homens costumam atingir sua estatura máxima por volta dos 21 anos, e as mulheres, em torno dos 18 anos.
O adulto jovem faz parte do grupo mais saudável da população. É preciso destacar que os casos agudos predominam sobre os crônicos.
Por outro lado, a maior causa de morte neste período, são em decorrência principalmente de acidentes ou atos de violência como homicídios ou suicídios.
 
 
Mudanças Cognitivas
 
Como já foi afirmado anteriormente, este período se caracteriza pelo auge das estruturas intelectuais. Além disso, geralmente se dá o início do trabalho e estudos superiores. Neste momento, muitas pessoas começam a modelar seu um projeto de vida, sua vocação, colocando suas decisões à prova ou alterando seu plano de vida.
Griffa (2001) apresenta um estudo longitudinal que acompanhou quase 300 estudantes com idades entre 25 e 35 anos. Os resultados apontaram para “uma tendência a adaptar-se ao meio social, dedicar-se ao trabalho e à família”. Outro aspecto importante observado é que estas pessoas apresentaram “pouca auto-reflexão e dedicação às atividades individuais; por outro lado, tiveram “maior auto-exigência e menor auto-satisfação”.
Percebe-se que a maioria dos adultos jovens têm a necessidade de impor-se, expandir-se, com vistas ao êxito à ascensão social.
Portanto, esta fase se caracteriza por um pensamento de natureza mais complexa, em que são feitas as escolhas profissionais e vocacionais.
Apesar de Piaget apresentar o estágio operatórioformal como o ápice da realização cognitiva, há outros estudiosos que afirmam que a cognição se estende além dessa etapa.
Uma nova linha de investigação relaciona fatores como lógica, emoção e experiência prática, trata-se do pensamento pós-formal.
Neste caso, o adulto pode lidar com a incerteza, inconsistência, contradição, imperfeição e tolerância através de um pensamento maduro que se baseia na experiência subjetiva, na intuição e na lógica.
Como os dilemas sociais são mais desestruturados e carregados de emoção, os adultos maduros tendem a recorrer ao pensamento pós-formal.
É preciso destacar que essas características se assentam num desenvolvimento neurológico marcado pela formação de novos neurônios, sinapses e conexões dendríticas.
Há também uma expansão das habilidades lingüísticas e os julgamentos morais podem se tornar muito mais complexos.
 
Mudanças Psicossociais
Além da estabilização da vida afetiva e do início da vida matrimonial, alguns outros fatos são comuns nesta fase da vida: o ingresso na vida social plena; auto-sustento social, psicológico e financeiro e, o trabalho.
Elementos básicos para o amadurecimento das pessoas, tais fatos muitos vezes acabam sendo postergados em função das atuais exigências e normas culturais. As conseqüências de tais restrições podem levar a dependência familiar; flutuações afetivas; falta de experiências vitais; tendência a idealizar.
Outros fatores que delimitam este período dizem respeito ao encontro ou conflito de gerações; a modelagem do projeto de vida. As escolhas são colocadas à prova ou modificadas.
Heinz Rempleim (in Griffa, 2001) afirma que na busca do êxito e da ascensão social, há um desejo de impor-se, permeado de uma atitude otimista. Isso é mais intenso no sexo masculino.
Segundo Levinson (in Griffa, 2001), por volta dos 18 aos 24 anos, se dá o primeiro estágio, a saída do lar, que permite ao jovem uma maior independência, o contato com instituições, que lhe outorga por exemplo, status de estagiário.
O segundo estágio é o ingresso no mundo adulto, em torno dos 24-28 anos e nesta fase a pessoa permanece mais no mundo do que no lar.
Dos 28 aos 33 anos, é a época de reafirmar os compromissos e de alguma maneira se liberar dos afazeres diários para novas perspectivas de vida. Esse estágio é denominado de transição para a quarta década.
Para Erik H. Erikson a questão central nesta etapa é a conquista da intimidade X isolamento. Para o referido autor a intimidade diz respeito a capacidade de “entregar a afiliações e associações concretas e de desenvolver força ética necessária para cumprir esses compromissos, mesmo quando eles podem exigir sacrifícios significativos”.
Tal capacidade permite ao adulto jovem enfrentar a perda do ego, atrelada às situações que exigem auto-abandono, como nos casos de solidariedade entre amigos ou a união sexual; ou por outro lado, na sua ausência, pode levar ao isolamento.
A mutualidade do orgasmo representa para Erkson, saúde sexual e neste caso, a frustração não implicará em regressão patológica.
Portanto, um marco do final da adolescência é a capacidade da pessoa manter uma relação de intimidade.
Sendo este aspecto o ponto central da crise neste período, segundo Erikson, o trajeto a ser percorrido para a intimidade passa necessariamente por alguns níveis de relações interpessoais, ou seja, graus de comprometimentos. De acordo com Griffa (2001) os três níveis são:
1.º ) TAREFA. Por exemplo, quando dois adultos trabalham juntos na montagem de um motor. Neste caso, não é preciso tentar conhecer o outro ou revelar-se, porque a tarefa é o principal ponto de contato e integração entre as pessoas.
2.º) SISTEMA DE NORMAS EXPLÍCITO OU IMPLÍCITO. As normas regulam o comportamento, facilitando na prevenção ou antecipação da cultura grupal. Por exemplo, nos grupos da escola, nos jogos com regras. Em ambos os casos, é suposto um maior compromisso pessoal, pôr-se no lugar do outro e um contato físico. Isto não ocorre no nível da tarefa.
3.º) INTIMIDADE. Nesta situação, não há o predomínio da tarefa e nem das normas. Os relacionamentos baseiam-se na criatividade de cada pessoa, para construí-lo. Portanto, há uma abertura pessoal para o conhecimento mútuo em profundidade, o questionamento das regras e normas e da formalidade do vínculo. Assim, ocorre uma reflexão permanente sobre o vínculo, e emergem questões como: somos amigos ou somos noivos?
 
 
 
 Casamento: conjugalidade e individualidade
 
 
A autora supra mencionada, levanta questões relevantes na discussão que faz sobre o casamento contemporâneo. Além do seu significado e importância social, o casamento é um espaço em que se confrontam duas forças contraditórias, permeado por tensões individuais e conjugais.
O casamento ocupa um lugar privilegiado entre as relações significativas validadas pelos adultos na nossa sociedade.
A autora realiza um estudo para investigação do casamento contemporâneo, com dois grupos não-clínicos, de casais da classe média carioca: 10 casais de primeiro casamento e 10 casais de casamentos subseqüentes, com idades variando de 25 a 45 anos, tempo de vida conjugal de 3 a 13 anos e número de filhos variando de 1 a 4.
Os resultados encontrados indicam algumas diferenças quanto à manifestação das dimensões de aliança e de sexualidade em casais de primeiro casamento e em casais recasados. As conclusões foram:
- escolha conjugal - no grupo de primeiro casamento a aliança assume um papel mais significativo do que a sexualidade, enquanto esta é mais relevante para os recasados;
- relacionamento com a família de origem - é freqüente, mais forte e mais valorizado no grupo de primeiro casamento;
- relacionamento com os diferentes grupos de amigos - o grupo de amigos comuns é mais presente e valorizado no primeiro casamento, enquanto os recasados possuem mais amigos individuais e valorizam que os membros do casal possam sair às vezes separadamente;
- renda familiar - as diferenças não são grandes entre os dois grupos, embora entre os recasados haja mais mulheres participando da renda familiar, algumas das quais em proporção maior que os homens; neste grupo os papéis de homem e de mulher aparecem de forma menos rígida, mesmo assim, a mulher que trabalha fora se sente mais exigida em ambos os grupos;
- relacionamento sexual - em ambos os grupos o relacionamento sexual é considerado muito importante para o casal, mas a sexualidade aparece de forma mais personalizada e criativa entre os recasados, para os quais são maiores as demandas e as expectativas em relação à atividade sexual.
Ampliando a discussão, percebe-se que no casamento, a autonomia e a satisfação de cada um, sobrepuja os laços de dependência entre o casal. Isto parece confirmar os ideais de individualismo e hedonismo presentes no mundo contemporâneo e acaba por levar ao confronto direto com a realidade, projetos e desejos do casal.  
Neste sentido, emerge a questão da separação conjugal e suas conseqüências para os membros do casal e da família. O aumento do número de separações parece estar muito mais atrelado à busca de uma relação “perfeita” no sentido de atender a expectativas que não podem ser cumpridas, porque as aspirações enquanto “indivíduos” conflitam com as de “casal”.
Quando observamos os dados estatísticos das separações e divórcios no mundo e no Brasil, podemos constatar que os números aumentam e tendem a aumentar mais ainda. Por exemplo, em 1994, os dados são de um divórcio para cada quatro casamentos e, atualmente os números são muito maiores.
Para finalizar, é oportuno destacar que os filhos desses casamentos desfeitos, bem como o casal, têm tarefas complexas para enfrentar. A família precisará encontrar novas alternativas para se recompor, bem como precisará elaborar seus lutos.
 MEIA- IDADE ( POR VOLTA DOS QUARENTA AOS SESSENTA E CINCO ANOS )
Mudanças Físicas
 
 
É uma fase que contempla alguns paradoxos. Geralmente, por um lado, poderá haver uma grande satisfação conjugal e profissional; mas, por outro lado, o declínio físicocomeça a ficar evidente.
Se, por um lado, muitos se sentem jovens e dispostos, o relógio biológico é implacável e o corpo começa a ficar mais lento. Quanto à aparência, os cabelos se tornam brancos e as rugas tendem a aumentar.
Por volta dos 40 anos, também é muito frequente o aparecimento de pigmentações na pele e adiposidades.
A acuidade visual tende a diminuir de forma gradual e ininterrupta; há uma perda gradual de audição (55 anos); diminui a sensibilidade ao gosto e ao cheiro.
Além destes, a força e a coordenação diminuem gradualmente; há perda de massa muscular, que é substituída por gordura; diminuição de habilidades motoras complexas envolvendo muitos estímulos, respostas e decisões, mas que não resultam necessariamente em pior desempenho porque o conhecimento baseado na experiência pode mais do que compensar as mudanças físicas.
Quanto à aparência física, os indivíduos tentam parecer mais jovens embora a grande maioria aprende a aceitar de maneira realista as mudanças que estão ocorrendo em si mesmos, como será discutido posteriormente junto aos aspectos psicossociais.
Muitas pessoas com 50 anos optam por tarefas mias sedentárias e contemplativas em função de um decréscimo da capacidade física. Por exemplo, subir 20 andares é uma tarefa diferente para um jovem de 20 anos e para um adulto de 50 anos. Provavelmente, a maioria das pessoas com 50 anos, conseguirá subir as escadas de forma mais lenta e se cansará mais. Por outro lado, no que diz respeito ao trabalho, não há diferenças significativas.
Outro aspecto que pode ser vivenciado de modo diferente nesta fase é a gravidez. Após os 40 anos, é muito mais freqüente um aumento da pressão arterial, do que numa mulher de 25 anos. No entanto, após o parto, os órgãos de ambas tendem a funcionar igualmente.
Quando o adulto médio goza de plena saúde, a maioria escolhe o melhor momento para aposentar. No entanto, quando a saúde está fragilizada ou quando ocorre, entre outros, casos de alcoolismo, a pessoa sente mais intensamente o envelhecimento, restando-lhe poucas escolhas e a maioria se aposenta mais cedo, muitas vezes com condições financeiras difíceis.
Para a maioria das pessoas de meia-idade a saúde tende a ser boa, e que, os casos de mortes ocorrem, com maior freqüência por derrame, câncer e doenças cardíacas.
No entanto, a remoção cirúrgica do útero, a histerectomia, costuma ocorrer em larga escala, nas mulheres, por volta dos 60 anos.   
Resumidamente, em termos de mudanças físicas, esta fase se caracteriza por uma lenta deterioração das capacidades sensoriais, da saúde, vitalidade e força física. Porém, é preciso destacar que são grandes as diferenças individuais. Em função das alterações hormonais, ocorre um lento declínio da excitação sexual.
 
Mudanças Cognitivas
 
 
Pode-se afirmar que a cognição na fase adulta ultrapassa a rigidez em direção à flexibilidade, ou seja, nesta fase as pessoas compreendem que determinadas coisas podem ser de uma forma, mas que, em seguida, isto pode se modificar. Compreendem também, que não existe a única resposta certa, e as opiniões podem não ser tão válidas, sendo relativas a determinado momento ou circunstância.
Logo, as questões podem ter uma causalidade múltipla e, mais que uma solução.
É comum neste período, que as decisões e opiniões da maioria tenham um caráter mais pragmático, com vista a uma solução mais prática e rápida.
Cabe destacar que os paradoxos são presentes em suas consciências e neste sentido, a questão da atitude e suas conseqüências ou desdobramentos, também estão claros.
Os adultos na meia-idade são capazes de integrar a lógica com a intuição e a emoção, integram fatos e idéias, e integram novas informações com o que já sabem. Eles filtram pela sua experiência de vida e aprendizagem prévia. Assim, tendem a ser bons para solucionarem os problemas.
Isto significa que, neste momento da vida, o indivíduo pode fazer uso e tem o incremento da sua inteligência cristalizada que é a capacidade de se lembrar e usar informações adquiridas durante uma vida inteira.
A inteligência cristalizada é relacionada à educação e experiência cultural. O conhecimento especializado é um exemplo deste tipo de inteligência.
Quando se pensa na questão cognição e gênero, uma pesquisa (BEE, 1996) com 30 estudantes de cada sexo indica que as mulheres apresentam um conhecimento subjetivo (intuição); enquanto que os homens lançam mão de métodos de procedimentos (sistemática e analítica).
Em síntese, as capacidades mentais na fase adulto médio, podem atingir um nível excelente. Principalmente, as habilidades relativas à área de especialização e à solução de problemas práticos se encontram muito desenvolvidas.
A criatividade pode declinar, mas sua qualidade é melhor. Isto implica muitas vezes num grande sucesso na carreira; mas por outro lado, pode ocorrer também um esgotamento ou mudança de carreira.
É importante destacar que no aspecto neurológico, é freqüente o início da deterioração das respostas motoras complexas.
 
Mudanças Psicossociais
 
Geralmente, na meia-idade, muitas pessoas estão no auge da competência, da produtividade e do controle. É um momento, em que muitos já desenvolveram um grande senso de autoconfiança e auto-estima e sentem-se capazes de lidar e enfrentar todas as circunstâncias e questões que aparecem.
Segundo Erikson, nesta fase muitos adultos se encontram ativamente envolvidos no ensino e na orientação da próxima geração.  No entanto, essa necessidade não é restrita aos filhos, pelo contrário, não basta ter filhos ou não é preciso tê-los, para alcançar essa capacidade, que Erikson denominou de generatividade. Ela diz respeito a uma preocupação ampla com os outros, um compromisso para além de si mesmo, com a família, com o trabalho, com a sociedade e com as gerações futuras. Manifesta-se na necessidade de ensinar ou guiar os mais jovens, não só para ajudá-los, mas também para formar a própria identidade.
A pessoa que orienta sente-se necessária, tem o feed-back daquilo que produziu e de que deve cuidar e, assim, pode-se dizer que o conceito de generatividade inclui o de produtividade e de criatividade.
Entretanto, quando as pessoas de meia-idade fracassam na capacidade generativa, elas são tomadas pela estagnação, tédio e empobrecimento interpessoal. Essas pessoas podem sentir que “ficaram paradas na vida” e então, passam a buscar compulsivamente uma pseudo-intimidade, mas ainda assim, permanecem com o sentimento de vazio.
Portanto, a sétima crise psicossocial, proposta por Erikson, vivenciada pelos indivíduos nessa faixa etária é generatividade versus estagnação.
A crise da meia-idade é caracterizada por um “balanço de vida” que é balizado em função da sua finitude. Esse é o primeiro momento do ciclo vital em que o indivíduo se depara com a morte enquanto uma possibilidade real. Alguns amigos da mesma geração morrem; os sinais de envelhecimento são encarados de uma forma realística; algumas metas traçadas no projeto de vida não foram alcançadas e o indivíduo percebe que está na metade da sua vida. É possível mudar, retomar metas, mas existe um tempo e um limite.
Nesse processo é comum o indivíduo adotar uma postura mais introspectiva a fim de se auto-avaliar. É freqüente o questionamento do sistema de valores que regeu sua existência, os objetivos de trabalho, sociais e econômicos, o uso que fez do seu tempo livre, dedicação à família e amizades, entre outros.
A partir desta análise, muitos indivíduos reconduzem suas vidas. Por exemplo, é o momento que algumas pessoas optam por uma segunda carreira, ou voltam a estudar; mudam hábitos de saúde e auto-cuidado, como praticar esportes ou optar por um estilo de vida mais saudável; há muitos casais que se separam; outros desenvolvem uma busca espiritual, entre outros.
Alguns tentam recuperar a juventude envolvendo-se afetivamente com pessoas mais jovens ou adotando comportamentos próprios de outros períodos de vida. Como por exemplo, a mulher na meia-idade começa a usar as mesmas roupas que sua filha adolescenteou o homem quer acompanhar o seu filho em uma trilha com esportes radicais, ou ainda, relaciona-se com uma garota de 20 anos.  Nas famílias com pais na meia-idade e filhos na adolescência é comum estabelecer-se uma relação de inveja: os filhos detêm a juventude; os pais detêm o poder da vida adulta, muitas vezes, simbolizado pelo poder econômico.
No final deste período, pode ocorrer uma transformação na dinâmica familiar que é conhecida como a síndrome do ninho vazio. Nesse momento, os filhos saem da casa de seus pais e esses têm que se reorganizar frente à nova realidade. Alguns casais vivem esta fase como uma segunda lua de mel, agora livres dos encargos parentais; outros entram em crise pessoal e/ou conjugal, na maioria das vezes, porque o casal não se reconhece na conjugalidade, mantinham-se juntos apenas enquanto um casal parental, quando esta função é esvaziada, não há outro ponto de intersecção.
As amizades nesta fase são especialmente importantes atuando como uma rede de apoio frente a grande sobrecarga de funções que recaem sobre os adultos na meia-idade, no entanto, no geral, resta pouca energia para se dedicar aos amigos.
O relacionamento com as respectivas famílias de origem, exceto em épocas de necessidade, tendem a diminuir de importância durante a idade adulta. Nessa fase, algumas pessoas tornam-se as cuidadoras dos pais, o que pode ser um fator de estresse no relacionamento com a família de origem e/ou com a família constituída, quando não há divisão nas tarefas.
Ainda nesta fase, algumas pessoas tornam-se avós, este é um evento importante na vida de uma pessoa, mas seu momento de ocorrência e significado variam. Um avô pode servir de professor, cuidador, modelo de papel e às vezes mediador entre as crianças e os pais. Essas diferentes atribuições podem representar um prazer ou um peso físico, emocional e financeiro
 
Sexualidade na Fase Adulto-Intermediária.
 
Observa-se nesse período entre os homens e mulheres, algumas modificações no aparelho reprodutor. Reações mais lentas e menos diferenciadas, bem como a menor probabilidade de reprodução, são muito comuns nesta fase.
A menopausa, originariamente biológica, ocorre em algum momento, entre os 42-58 anos (em média aos 51 anos), datada em 1 anos após o última menstruação da mulher.
É um evento marcante no desenvolvimento físico e as pesquisas revelam que a maioria das mulheres sente pouco ou nenhum desconforto. No entanto, há uma grande probabilidade dos problemas psicológicos associados à menopausa serem causados principalmente pela visão negativa do envelhecimento por parte da sociedade.
Marcado por vários sintomas biológicos e psicológicos, o climatério, precede a menopausa, dura em torno de 6 anos e a mulher já se ajusta a níveis menores de estrogênio.
Quanto aos impactos de tais modificações, mais que os aspectos biológicos, as atitudes acabam por ser mais importantes.
Os sintomas da menopausa e as atitudes em relação a mesma, dependem de caracterísiticas pessoais, fatores culturais e experiências passadas.
A terapia de reposição parece trazer benefícios à saúde da mulher após a menopausa, e é um tema controverso, pelos riscos que apresenta.
Parece que muitas mulheres após a menopausa, ficam mais propensas à doenças cardíacas, câncer de mama e perda óssea, que leva a osteoporose.
No que diz respeito ao sexo masculino, pode-se afirmar que o climatério masculino, tende há iniciar 10 anos mais tarde que a menopausa, nas mulheres. Pesquisas indicam que cerca de 5 % dos homens sentem depressão, fadiga, menor impulso sexual, disfunções eréteis ocasionais e queixas físicas. As causas desses sintomas podem estar associadas a mudanças hormonais; causas psicológicas – por exemplo, adaptações às novas demandas como a morte dos pais - e atitudes culturais em relação ao envelhecimento.
Com relação à expressão sexual, medida pela frequência das relações sexuais e dos orgasmos, neste período, ela costuma declinar gradativamente, embora existam diferenças individuais, inclusive algumas pessoas param completamente, enquanto que outras contiunam diariamente.
Nos homens, entre outros, a estimulação sexual passa a ser mais demorada e as reações do orgasmo são menos intensas.
Nas mulheres, é mais difícil medir a capacidade de ter orgasmos, porém, estudos indicam que o erotismo e os orgasmos não apresentam alterações neste período, caso não haja outros problemas complicadores, físicos ou psíquicos.
Quanto aos casais, considerando que o sexo é o resultado de uma interação social, e quando a relação é ativa e satisfatória, ela permanecerá da mesma forma, caso não ocorra nenhum outro fator complicador, tais como: problemas emocionais, enfermidades físicas e medicamentos.
Outro aspecto a ser considerado, com relação à diminuição da atividade sexual pode ser a monotonia do relacionamento, preocupação com negócios, fadiga entre outros. Mas, como já afirmado anteriormente, há alguns relacionamentos sexuais que melhoram nesse período, por exemplo, pelo fato de estarem desvinculados da capacidade reprodutiva e, portanto livres do risco de gravidez.
É oportuno destacar que a atividade sexual costuma promover o interesse e estímulo sexual, e vice e versa, ou seja, a sua ausência, resulta em diminuição de interesse e estímulo.
 
VELHICE E MORTE
Mudanças Físicas e Cognitivas
Apesar da maioria dos idosos serem saudáveis e ativos, há um declínio das capacidades físicas e da saúde. Pode-se afirmar que, após 65 anos, se inicia um declínio mais intenso da reserva orgânica, do sistema imunológico e da força muscular. Isto pode desencadear uma grande suscetibilidade às doenças crônicas, agudas, bem como ao câncer e problemas cardíacos.
Cabe destacar, no entanto, que os cuidados com a saúde e a qualidade da assistência médica podem interferir de forma a minorar estas ou outras doenças.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à necessidade de sono, que tende a diminuir, bem como podem aparecer disfunções sexuais e, por outro lado, as habilidades lingüísticas tendem a aumentar até a idade muito avançada.
No entanto, o sistema nervoso tende a ficar mais lento, devido à perda de substância cerebral, como também há um aumento no tempo de processamento e de reação.
Assim, é freqüente ocorrer falhas na memória, embora isto esteja mais relacionado a alguns aspectos e neste sentido, a memória de longo alcance é mais durável, enquanto que a operacional ou curta é a primeira a desacelerar.
A demência é uma doença que pode aparecer na velhice, principalmente nos mais idosos. O Alzheimer, a depressão ou as drogas podem desencadear a demência.
Algumas teorias ou modelos do envelhecimento destacam os aspectos biológicos. Segundo Griffa (2001) são elas:
a) Teorias Genéticas: consideram o ciclo vital como determinado;
b) Teoria da Mutação somática: apontam a existência de um acúmulo gradual de células modificadas, que não funcionam mais normalmente;
c) Teorias Biológicas: evidenciam o acúmulo progressivo de elementos tóxicos em células e órgãos;
d) Teorias Imunológicas: indicam que os anticorpos perdem a capacidade de distinguir proteínas próprias e estranhas, atacando-as.
Outras mudanças físicas podem ocorrer como a perda de pigmentação, textura e elasticidade da pele; os pelos tornam-se mais finos e brancos, diminuição da estatura; rarefação dos ossos e as modificações corporais são mais notórias entre os 75 e 80 anos de idade.           Essas mudanças podem provocar no indivíduo sentimentos de inferioridade frente a uma sociedade que nega a velhice e cultiva o corpo jovem.
Por outro lado, percebe-se que mesmo que a inteligência e a memória sofram desgastes, a maioria dos idosos encontra formas compensatórias, intensificando seus interesses, valores filosóficos ou estéticos, e o mais importante é manter a cognição funcionando.
Mudanças Psicossociais
 
O fenômeno de envelhecimento demográfico e as demandas sociais específicas dele decorrentes tornaram a velhice um tema privilegiado de investigação no mundo contemporâneo.
Questõescomo “se muda a personalidade” das pessoas na terceira idade, são evidenciadas.
Entre outros, Erikson se debruça sobre a personalidade, dentro de uma perspectiva psicossocial e propõe a velhice como a oitava crise. Nela, ou seja, no último estágio psicossocial, o indivíduo se depara com uma opção entre a integridade do ego e o desespero ou desesperança e a partir dessa avaliará a própria vida.
É muito comum nesta etapa da vida que a maioria das pessoas examinem, reflitam e façam um último “balanço” sobre a própria vida. Se diante dessa análise, o indivíduo sentir-se satisfeito com a vida que viveu, estiver em paz consigo mesmo, ou seja, apresentar um sentimento de realização e satisfação, achando que lidou de maneira adequada com os acertos e erros da vida, pode-se dizer que ele tem a integridade de ego e conquistou a virtude da sabedoria, aceitando o seu lugar e o seu passado.
Caso contrário, quando a pessoa se depara com um sentimento de frustração, porque perdeu oportunidades e se arrepende de seus erros, percebe que não há mais tempo para corrigi-los, então se sentirá desesperançada.
Ainda segundo o referido autor, as pessoas idosas precisam fazer mais do que refletir sobre o passado, precisam continuar ativas, participantes, buscando desafios e estímulos no seu ambiente.
Portanto, como afirmado anteriormente, a força básica associada a essa fase final do desenvolvimento é a sabedoria que, derivada da integridade do ego, é expressa na preocupação desprendida com o todo da vida. Ela é transmitida às próximas gerações numa integração de experiências que é mais bem descrita pela palavra “herança”.
Outro aspecto a ser destacado é que muitos idosos param de se preocupar com uma série de convenções sociais, com as repercussões do que “pensa, fala, sente e faz” e muitos afirmam que isso é algo permitido nesta idade.
Os relacionamentos sociais são muito importantes para os idosos, embora a freqüência do contato social decline na velhice. Em muitos casos, a rede social do idoso fica esgarçada, já que ocorrem muitas perdas e rupturas.   
Com a perda de pessoas significativas como os cônjuges, parentes e amigos, alguns papéis sociais deixam de ser exercidos e muitos dos idosos recorrem à religião como forma de transcendência e encontram nela novas possibilidades de compreensão da vida, de esperança e alegria.
Griffa (2001) descreve algumas das principais teorias ou modelos do envelhecimento destacando os aspectos psicossociais. Entre elas, a teoria personal-espiritualista propõe que o idoso espera cada vez menos da vida e, portanto, intensifica sua sensação de transitoriedade, ficando cada vez menos impressionado com os acontecimentos, isto é, não leva-os tanto a sério, em função da sabedoria recentemente adquirida. Alguns estudos indicam que a religiosidade e a espiritualidade se relacionam com a saúde e bem estar e diminuição de mortalidade.
Outras teorias sobre o envelhecimento apontadas pela autora mencionada, são, o Desapego, que nos informa que há uma diminuição do interesse por atividades e objetos, um abandono dos papéis. Nesta perspectiva, envelhecer bem é desapegar-se das coisas ao seu redor. Ocorre, então, uma libertação da busca de conquistas, como a dos bens materiais e do status, desacelera-se a corrida por ascensão e o ego preenche-se com o que está próximo, no presente, sem urgências.
O modelo da Atividade, que relaciona o envelhecer bem a um envelhecer ativo e; a Teoria dos Novos Papéis, em que a ênfase é na diminuição da atividade, com conseqüente busca de novos papéis, que no momento não são mais impostos; mas consideram as motivações pessoais e a capacidade física.
De acordo com o modelo da Continuidade, o melhor envelhecimento é aquele em que a pessoa envelhece como viveu, e; a da Teoria da Descontinuidade, entende exatamente de forma contrária, as mudanças podem gerar novas formas de envelhecer bem.
Cabe encerrar, lembrando que muitas pessoas nesta fase, ainda sofrem de forma intensa com o preconceito e estigmas, fruto de uma sociedade que valoriza o novo. As singularidades da vivência do velho apontam a falência do projeto de vida que a ideologia defende, justifica e vende. 
Alguns autores afirmam que o preconceito contra a velhice é mais forte do que o preconceito racial, porque é incorporado sem crítica, envolve toda a sociedade e é aceito pelas próprias pessoas de idade. 
Muitas vezes, a velhice é temida, pois o idoso nos lembra de nossa própria fragilidade e da enfermidade de nossa existência. 
Finalmente, parece que um envelhecer criativo implica no desenvolvimento de uma filosofia adequada de vida ao longo do processo evolutivo, tanto quanto a manutenção de uma identidade psicológica que permita ao indivíduo considerável autonomia funcional.   
A morte nas diferentes etapas do desenvolvimento humano: representações históricas, sociais e culturais.
Desde os tempos remotos o homem se intriga com a morte e busca vencê-la. A partir da consciência de sua mortalidade, de sua finitude, o homem tenta encontrar meios para conseguir a vida eterna, ou melhor, a juventude eterna.
A imortalidade, por outro lado, também é alvo de heróis, artistas, etc.
Outra forma de lidar com a morte podem ser os mecanismos de defesa: negação, deslocamento, racionalização. E há outras pessoas que já estão mortas, estando vivas, é a chamada morte em vida.
Ao nascer, já se morre um pouco quando, por exemplo, a mãe se afasta, é a morte como ausência, perda, separação.
Para a criança, definir a morte é algo complexo, porque ao mesmo tempo em que ela percebe o não-movimento, a possibilidade de reversão está presente. Tal fantasia, também está no imaginário de outras pessoas, exemplo disso são os jovens ou adolescentes que tentam o suicídio, acreditando poder morrer só um pouco.
À medida que a criança cresce, seus animais, alguns parentes e mesmo os amigos morrem; na televisão a violência, o sangue e a morte são evidenciados e passa-se a conviver com a idéia de que a morte só ocorre com o outro.
Outro fator presente na infância é o sentimento de culpa pela morte do outro, ao vincular seus desejos à morte de fato.
Para muitos adultos, isto também acontece; mais no plano emocional do que racional. Os adolescentes se sentem fortes e distantes da morte. Para eles, a morte dos amigos em acidentes, uso indevido de drogas entre outros, representa o fracasso, a fraqueza e a imperícia. No entanto, se nessa fase ela parece estar tão distante, eles desafiam-na constantemente.
Na fase adulta, alguns motivos de morte são os ataques cardíacos fulminantes e, na fase seguinte, no balanço de ganhos e perdas, emerge a possibilidade de “minha morte”, que neste momento pode engendrar a ressignificação da vida.
Na terceira idade, com as perdas corporais, financeiras, separações, etc, há que se fazer uma escolha: a ênfase será na vida ou na morte?
Segundo Kovács (2002) a morte numa perspectiva biológica é o fim da existência e não da matéria e, do ponto de vista da medicina, é a interrupção completa e definitiva das funções vitais.
Algumas pessoas já viveram situações muito próximas da morte e relataram questões como: sensação de paz, experiência extracorpórea, encontros com seres-iluminados.
Muitas pessoas buscam na experiência religiosa uma forma de obter um conforto maior para lidar com a morte, vista como finitude.
 
A Morte, a separação, as perdas e o processo de luto.
 
Se por um lado, a morte se associa com sentimentos como dor, tristeza, medo, perda, ruptura e interrupção, por outro lado, permite que a pessoa entre em contato como a sua potência, capacidade de amar, de se vincular e estar vivo.
O grande historiador francês Philippe Ariés, mencionado por Kovács (2002), descreveu várias representações da morte. A Morte Domada, em que há o lamento da vida, a busca do perdão dos companheiros e a absolvição sacramental. O medo com o que vem após a morte, inferno, castigo eterno, entre outros caracterizam a Morte de Si Mesmo.
Com o avanço da medicina, emergem questões como os segredos da vidae da morte do cadáver, que providencia matéria-prima para alguns remédios, fertiliza a terra e transmite vida, é a chamada Vida no cadáver, Vida na Morte.
A Morte do Outro representa a possibilidade de evasão, liberação, fuga para o além; mas também a ruptura insuportável e a separação e, no mundo contemporâneo, temos a Morte Invertida, é a morte como fato que não deve ser percebido, é vergonhoso e representa o fracasso.
O Luto é entendido como um processo que congrega uma série de reações diante de uma perda. Segundo Bowlby (1985) o processo de luto contempla quatro fases. Na primeira, o enlutado vive uma sensação de entorpecimento diante da notícia da perda, que pode ser acompanhado de tensão, raiva ou pânico. Chama-se fase de choque.
Em seguida, pode ocorrer ao enlutado que tudo é uma ilusão ou um pesadelo. A pessoa tem a sensação de que o morto pode voltar, ou tudo não passou de um sonho, porque há um anseio por reencontrar a pessoa morta, é a fase de desejo e busca da figura perdida.
Na fase de desorganização e desespero, o enlutado se depara, ou constata com a perda como definitiva, emerge o desespero de sobreviver sem a pessoa perdida. E, finalmente, a última fase de alguma organização, o enlutado aceita a perda se conscientiza da necessidade de reconstrução e continuidade de sua vida. Geralmente, há uma diminuição da depressão e da desesperança, um investimento afetivo na vida, e muitas vezes, as pessoas precisam fazer adaptações, como por exemplo, aprender ou desenvolver novas habilidades que antes eram exercidas pela pessoa que morreu.
Segundo Kovács (2002), durante o período de elaboração do luto podem ocorrer distúrbios alimentares ou de sono. Um número grande de enlutados apresenta quadros somáticos e doenças graves depois do luto. O tempo de luto é variável e em alguns casos, podem durar anos, em outros nunca termina.
De acordo com Bowlby (1979), um luto torna-se patológico quando há dificuldade de expressar abertamente todos os sentimentos envolvidos na situação de perda e quando a pessoa manifesta as características do enlutamento de forma prolongada e severa.
Bowlby (1979) destaca alguns aspectos que interferem no processo de elaboração de luto. A identidade e papel da pessoa morta; a idade e o sexo do enlutado; as causas e circunstâncias da perda; as circunstâncias sociais e psicológicas do enlutado, na época e após a perda e; a personalidade do enlutado.
O luto antecipatório, diz respeito ao processo de luto que ocorre com a pessoa ainda viva, mas que, por uma doença grave ou incapacitação parou de exercer papéis ou funções. Essas perdas já têm que ser elaboradas, com ela ainda viva, de ambos os lados. Nesses casos, é comum a morte ser vista como um alívio, mas também, pode eliciar sentimentos de culpa.  
Quanto ao luto infantil, Kovács (2002), afirma que sofre influências do processo de luto dos adultos e também do nível de informação que a criança recebe. Informações sonegadas e confusas, como dizer que a pessoa foi morar no céu ou que a fada veio buscar, atrapalham o processo de luto. Respostas que escamoteiam o caráter de permanência da morte, como, por exemplo, dizer que a pessoa foi viajar, acaba por não permitir que a elaboração da perda ocorra, porque a criança vai esperar a volta do morto.
Outro aspecto a ser destacado é o fato de alguns pais esconderem os seus sentimentos para não entristecer a criança. Isso pode causar mais problemas, pois ela sente que também não deve manifestar seus sentimentos.
A criança passa pelas mesmas fases do luto que o adulto, conforme elucidado acima, choque; desejo e busca da pessoa; desorganização e desespero e; alguma organização. Isto é possível, desde que ela esteja de posse dos esclarecimentos de que necessita e que devem ser fornecidos levando-se em conta o seu nível cognitivo e sua capacidade de compreensão. A continência e apoio são extremamente importantes.
A separação é uma experiência universal que todos conhecem e vivem desde a infância, mas nem por isso, é uma vivência fácil.
Na separação dos casais, uma das maiores dificuldades é elaborar o divórcio emocional, ou seja, é preciso matar o outro dentro de si e aceitar que se morreu dentro do outro. Envolve vários sentimentos ambivalentes como, amor e ódio.  Nesses casos, há também uma série de outras mortes presentes e lutos a serem elaborados, como: alteração no padrão social e econômico, eventuais mudanças de residência, alterações nas redes sociais e de identidade, entre outros.
Segundo Kovács (2002), alguns mecanismos de defesa podem ser acionados em caso de separação, tais como: agressividade (ódio, raiva, desvalorização), indiferença (pouco importa); fuga para adiante (mantendo várias atividades profissionais, de lazer, ou sociais); estoicismo (conformação, resignação).
O luto tem que ser elaborado no processo de separação, do contrário, os casais não conseguem se separar de fato e, muitas vezes, passam a viver a morte em vida, já que ficam estagnados e não se reorganizam frente à nova situação.  Muitas disputas judiciais, na área de família, são alicerçadas em lutos não resolvidos.
Além desses, a doença pode propiciar o contato do indivíduo com a sua finitude, embora nem sempre corresponda com a realidade. A morte pode aparecer também, enquanto diminuição das funções, dificuldade para a realização de atividades ou interrupção de carreira.
A morte social pode ser vivida a partir do afastamento dos amigos que por não saberem conviver com uma determinada limitação, se afastam.
A hospitalização, por si só, pode ser sentida como uma morte ligada ao afastamento da casa, da família, e sentida como uma invasão de privacidade e solidão.
É importante destacar que a expressão de sentimentos, desidentificação e reinvestimento quando ocorrem numa ambiente acolhedor, como a psicoterapia, pode contribuir grandemente no processo de experiências com a morte.

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