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Trabalho Final- a filosofia do tractatus Wittgenstein

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UFMG – FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
Trabalho Final
Camilla de Carvalho Felicori
Trabalho apresentado para avaliação da disciplina Seminário em Filosofia Contemporânea 2, do curso de bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Professor: Paulo Margutti
BELO HORIZONTE
2007
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Grupo 1 – O contexto ético-metafísico do Tractatus
1. Schopenhauer faz uma distinção entre conhecimento abstrato, próprio do cientista, e o conhecimento intuitivo, próprio do gênio. Explique as bases e as conseqüências filosóficas de tal distinção.
- Mostre em que medida as idéias envolvidas podem ter alguma relação com a filosofia do Tractatus.
Para Schopenhauer, o conhecimento abstrato é aquele do homem comum, preso à sua vontade, um conhecimento que serve a seus interesses e a fins práticos. Trata-se de um conhecimento de uso (constituído a partir de conceitos) que se fia no princípio da razão e é a realização do homem comum, uma vez que ele se dá no terreno da afirmação da vontade, que é a afirmação do próprio corpo, um corpo que é querer e sofre por essa carência. Esse tipo de conhecimento é próprio à ciência, preocupada com os fenômenos do mundo. 
O segundo tipo de conhecimento, que não se submete ao princípio da razão, é o conhecimento intuitivo. Este conhecimento só é possível quando há uma modificação significativa no sujeito cognoscente, ou seja, o sujeito abandona o conhecimento discursivo (que caracteriza o conhecimento abstrato) e passa a se preocupar unicamente com a natureza das coisas, “concentra toda a sua força na intuição”�. Essa mudança só é possível com a negação da vontade que consiste em perder “de vista seus interesses, sua vontade, seus fins práticos”� e conseguir esquecer a sua personalidade individual e as relações que lhe são próprias, ou seja, uma transformação transcendental que, “ao negar-se, a vontade, como condição transcendental de possibilidade da representação, elimina o ser que serve de base ao fenômeno”�. Com isso, perde-se a relação dicotômica entre sujeito e objeto que se fia no tempo e na causalidade para a produção do conhecimento abstrato, possível somente nesse estado de supressão livre da vontade. Esse tipo de conhecimento intuitivo é próprio ao gênio e ao artista que é aquele que tem aptidão para a contemplação pura (livre de relações próprias à vontade, ou seja, causalidade, relação entre sujeito e objeto). Esse tipo de conhecimento caracteriza a Filosofia, que, diferente de um conhecimento utilitário (próprio à ciência) busca conhecer a essência (quid) do mundo, sendo, assim, um conhecimento ontológico. Desse modo, “ao perguntar pelo quid, a mente do filósofo se torna eterna, pois contempla o mundo da perspectiva do eterno”�. Essa contemplação se dá como um conhecimento sem mediações através da experiência de acesso à auto-consciência, uma vez que a consciência de si possibilita a visão efetiva das coisas.
Wittgenstein antes de alistar-se para a Guerra parece estar muito preocupado com a questão da genialidade, uma vez que “estabelece uma dicotomia entre viver como ‘mulher’ ou ‘judeu’, ou seja, dominado pela sensualidade e pelos desejos mundanos e viver como um ‘homem’, ou gênio, isto é, liberto da sensualidade e dos desejos mundanos”�.
Ademais, no Tratactus de Wittgenstein, a filosofia também aparece ocupando um lugar para além das ciências naturais, já que a tarefa fundamental da filosofia é a crítica da linguagem, crítica essa baseada no fato de que as verdades das ciências naturais são expressas através da linguagem. E, além disso, após uma voltar uma atenção forte à crítica da linguagem que tem por base a análise da proposição, Wittgenstein acaba por concluir que as proposições descrevem fatos no mundo, sendo aqui claro o seu valor ontológico. Com isso, Wittgenstein parte de um problema de linguagem para chegar em um problema ontológico como seria em Schopenhauer esse deslocamento desde o conhecimento discursivo em direção a um conhecimento abstrato. Sendo que ao final chega-se a uma experiência mística de natureza não discursiva, ou seja, sem mediações, que se assemelha ao conhecimento intuitivo, qual seja, a vivência beatífica que consiste num conhecimento direto do eterno, mas que não pode ser dita, pois a linguagem é mediação. 
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Grupo 2 – O contexto lógico-científico do Tractatus
7. Explique os conceitos freguianos de sentido e significado, ilustrando com exemplos. 
- Mostre em que medida estes conceitos podem ter influenciado na elaboração da filosofia do Tractatus
Para Frege, podemos ter duas expressões que designam o mesmo objeto, como, por exemplo, no caso de “A estrela da manhã”(a) e “A estrela da tarde”(b); ambas expressões designam como objeto o planeta “Vênus”. Nesse caso a designa o mesmo objeto que b, trata-se, assim, de diferentes modos de apresentação do objeto designado por a e por b. Frege nomeia os modos de apresentação do objeto de sentido, ou seja, a e b são sentidos diferentes que designam o mesmo objeto, no caso, Vênus. Ao objeto designado pelos sentidos Frege chama de significado. Com isso, no caso acima temos a e b, que expressam o mesmo significado mas com sentidos diferentes, ou seja, uma diferença de representações subjetivas que fazemos de um mesmo objeto. 
Em um outro exemplo temos o nome próprio (p)‘Platão’. Seu significado corresponde a um determinado homem que escreveu diálogos e praticou filosofia na Grécia Antiga. Entretanto, seu sentido é ambíguo, pode ser:
(a) O mestre de Aristóteles.	 (b) Escreveu o diálogo A República.
Uma pessoa pode saber que a expressão (a) se refere a (p), mas não saber que (b) se refere a (p). Nesse caso, se dissermos que ‘Platão fundou a Academia’, essa mesma expressão pode ter sentidos diferentes, dependendo do modo como (p) é apreendido, seja como (a) ou (b). Com isso, a diferença de sentidos do termo (p) faz com que a mesma sentença possa ter sentidos diferentes, ainda que o significado de (p) seja sempre o filósofo Platão. 
	Em outro exemplo, a sentença ‘Platão fundou a Academia’, temos como sentido da sentença o pensamento expresso por ela e como significado temos ‘o verdadeiro’ ou ‘o falso’, ou seja, se o pensamento expresso corresponde a uma verdade no mundo. No entanto, uma sentença pode ter um sentido sem ter um significado, ou seja, não ter um valor de verdade, como no caso da ficção. Assim, na expressão ‘O atual rei da França é careca’ o componente ‘O atual rei da França’ (r) não tem significado, ou seja, nada no mundo corresponde a (r), logo, a expressão não pode ter um valor de verdade. Nesse caso, temos um aparente furo na teoria Freguiana. Com isso, “levada até suas últimas conseqüências, a análise freguiana gera uma grande desconfiança acerca da linguagem natural, cuja lógica apresenta-se como enganadora”�. 
A solução proposta por Fregue é que no caso desse último exemplo o significado de (r) corresponde ao conjunto vazio (ao invés de simplesmente não ter um significado).
	Assim, a perspectiva filosófica de Frege tenta pensar a linguagem e como é possível a descrição do mundo através dela, sendo a linguagem considerada como formada por “modelos logicamente articulados”�. Wittgenstein também vai pensar nessa direção quando ele propõe uma crítica da linguagem que busca compreender o que pode ser dito sobre a natureza e a experiência mística. Trata-se, portanto, de um trabalho de clarificação conceitual. Wittgenstein reconhece a dificuldade dos conceitos freguianos de ‘sentido’ e ‘significado’ mostrados com o último exemplo (r) no qual não a expressão não apresenta significado, ao menos que se aceite a solução freguiana segundo a qual o significado é o conjunto vazio. 
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Grupo 3 – A filosofia do Tractatus
10. Em que consiste a “crítica da linguagem” tractatiana e qual é o seu objeto? Explique e justifique
A crítica da linguagem é, para Wittgenstein, a tarefa mais importante da filosofia.Wittgenstein vai opor a forma lógica superficial, que pode ser enganadora, em relação à forma lógica profunda das expressões lingüísticas. Essa oposição é feita uma vez que o filósofo está preocupado com as condições transcendentais de possibilidade das expressões�. Wittgenstein considera que os conhecimentos (que dizem de verdades) são expressos através da linguagem, logo, a filosofia, diferente das ciências naturais, deve voltar-se para a condição de possibilidade da linguagem dizer o mundo, condição essa que culmina na condição de possibilidade das próprias ciências naturais, que dizem verdades acerca do mundo através da linguagem. Assim, enquanto as ciências buscam descrever o mundo, a filosofia deve buscar as “condições de possibilidade da descrição do mundo”�. 
O objeto da crítica da linguagem para Wittgenstein é a proposição pois ele compartilha da posição freguiana segundo a qual a sentença é a menor unidade lingüística. Assim, temos as sentenças: 1. João dorme.	2. João dorme! 	 3. João dorme?
Para Wittgenstein essas sentenças apresentam o mesmo conteúdo judicável que é o fato de João dormir. A diferença consiste no modo como esse conteúdo é usado. 
Em outro exemplo, temos as sentenças: 1. João dorme.	2. John is sleeping.
Tanto em (1) quanto em (2) temos o mesmo conteúdo judicável, ou seja, essas sentenças expressam o mesmo pensamento.
Desse modo, essas sentenças apresentam conteúdos descritivos de um pequeno domínio do mundo. Em um terceiro exemplo: 	1. João hoje foi dormir cor-de-rosa.
Temos uma sentença que não descreve um fato no mundo, logo ela não tem um conteúdo descritivo autêntico, sendo, portanto, um contra-senso. Com esse último exemplo é possível perceber a importância da função descritiva para as proposições, afinal proposições dizem de fatos acerca do mundo. A crítica tractatiana, consiste, portanto, na análise das proposições levando em consideração quais as condições de possibilidade das sentenças declarativas. �
Grupo 4. 
18. Como você se posiciona pessoalmente em relação à filosofia do Tractatus? Explique e justifique.
Pessoalmente eu considero interessante começar a pensar as condições de possibilidade da linguagem como forma de pensar as condições de possibilidade de se dizer o mundo, que culmina nas condições de possibilidade da própria ciência de dizer verdades sobre o mundo. Realmente faz sentido em pensar se não podemos confiar na linguagem como podemos confiar no que dizemos, ou seja, se a linguagem pode ser enganadora é possível dizer mentiras que se pareçam a verdades. 
Esse problema me parece mesmo importante, já que a questão sobre como dizer o mundo, como dizer a verdade está presente em toda a história da filosofia, quer considerada com maior ou menor importância. Por outro lado, sobre a questão da ética, da impossibilidade de dizer a experiência mística, isso também está presente na história da filosofia, Nicolau de Cusa, por exemplo, busca de todos os modos em sua Douta Ignorância dizer o infinito, usando recursos lingüísticos e matemáticos em um movimento muito interessante, mas imagino que alguém que teve uma experiência mística não vai concordar que a melhor forma de descrever o eterno é através do triângulo que na verdade é uma linha pois seus lados são infinitos, ou seja, tenta-se expressar algo indizível através de metáforas, claro, mas metáforas são mediações. 
Penso agora em um outro exemplo para esse problema que é um texto literário que estou lendo, o conto “El perseguidor”, de Cortázar. Nesse conto temos um personagem que tem uma outra relação com o mundo e com a vida, e outra experiência com o tempo, sendo que ele vivencia um minuto de quarto de hora, ou seja, em dois minutos ele consegue vivenciar um quarto de hora através principalmente da música, bem, penso que esse personagem se parece muito com isso da dificuldade de dizer sobre certas experiências, tanto que em todo o conto ele é incompreendido e muitas vezes considerado um louco. 
 
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Referência bibliográfica:
PINTO, Paulo Roberto Margutti. Iniciação ao Silêncio – Análise do Tractatus de Wittgenstein. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
� PINTO, Paulo Roberto Margutti. Iniciação ao Silêncio – Análise do Tractatus de Wittgenstein. São Paulo: Edições Loyola, 1998. p. 58. Doravante colocaremos apenas o número da página.
� P.57.
� p.59.
� p.58.
� p.125.
� p.99.
� p.119.
� p.137.
� p.144.
�PAGE �2�
-�PAGE �8�-

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