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1 A IMPORTÂNCIA DA CONDIÇÃO DE ENTRADA* Este livro analisa o caráter o e significado da “condição de entrada” para os ramos de atividade manufatureiros; baseia-se numa investigação sobre a força da concorrência latente de potenciais novos vendedores em vinte ramos de atividade nos Estados Unidos. Realizou-se essa investigação em função de duas convicções: (1) de que a maioria das análises sobre a forma de atuação e o que faz atuar tem dado pouca ênfase à concorrência latente ou à ameaça de entrada de possíveis novos competidores, colocando uma ênfase desproporcionada sobre a concorrência entre as formas já estabelecidas em qualquer ramo de atividade; (2) de que tanto quanto os economistas tenham reconhecido a possível importância desta “condição de entrada”, eles não têm uma idéia muito clara de quão importante ela realmente é. Se essas convicções são razoáveis, parece necessário realizar duas tarefas: desenvolver uma teoria sistemática a respeito da possível importância da condição de entrada como uma influência na conduta e no desempenho empresarial; e avaliar, nas formas possíveis, o alcance e a natureza de sua importância efetiva. Estas são as principais metas deste livro. Além disso, poderemos deduzir uma política pública em relação ao monopólio e à concorrência. Inicialmente, porém, façamos um apanhado dos fatos e conceitos que estamos prestes a explorar. Concorrência efetiva versus ameaça de entrada Quando se fala na concorrência como um regulador dos preços e das quantidades produzidas pelas empresas, usualmente é a concorrência entre as firmas já estabelecidas neste ou naquele ramo da indústria que é enfatizada. Ao nível da conduta do mercado, dá-se uma atenção detalhada à questão de se as políticas de preço das firmas estabelecidas são formuladas independentemente ou à luz de uma “reconhecida interdependência” entre elas, se há ou não conluio entre estas firmas e, caso haja, até que ponto é imperfeito. Ao nível da estrutura de mercado, muita ênfase é dada àquelas características do ramo de atividade que presumivelmente influenciam a conduta competitiva entre rivais estabelecidos e, particularmente, ao número e à distribuição por tamanho destes vendedores rivais e ao modo pelo qual seus produtos diferenciam-se uns dos outros. A maior parte da atenção é dedicada à concorrência entre as firmas estabelecidas. Isto é verdadeiro tanto no que diz respeito à teoria econômica abstrata quanto às investigações empíricas que a implementam, testam ou aplicam. Quando a teoria convencional dos preços trata do funcionamento da concorrência empresarial, devota quase toda a sua minuciosa análise às conseqüências da rivalidade entre as várias conformações alternativas de vendedores estabelecidos, a tal ponto que os efeitos da entrada efetiva ou potencial de novos vendedores geralmente são referidos, quando o são, de forma ambígua e quase como uma reflexão tardia. Da mesma forma, os estudos empíricos sobre a estrutura de mercado centram-se comumente na concentração de vendedores dentro desses grupos e em outras determinantes do caráter da concorrência entre vendedores estabelecidos. A maior parte dos estudos sobre ramos de atividade particulares refere-se, quando discute a concorrência, quase que inteiramente à rivalidade entre as firmas estabelecidas. * Tradução de Joe S. Bain, Barriers to New Competition. (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1956) cap. 1. 2 Correspondentemente, a condição de entrada tem recebido geralmente apenas uma atenção nominal como elemento regulador da conduta e do desempenho do mercado. Versões típicas da teoria abstrata dos preços reconhecem o impacto a longo prazo de uma suposta “livre” ou “fácil” entrada de novos vendedores em ramos de atividade com muitos pequenos vendedores. Quando se voltam, contudo, para a importantíssima categoria das indústrias oligopo- lizadas, elas usualmente não distinguem numerosas situações alternativas possíveis com respeito à condição de entrada, como também não identificam nem desenvolvem apropriadamente hipóte- ses relativas aos determinantes estruturais da condição de entrada. Elas são incapazes, portanto, de oferecer quaisquer prognósticos sistemáticos, no que tange aos efeitos de variações na condição de entrada, sobre a conduta de mercado dos vendedores estabelecidos e o desempenho de longo prazo da indústria. A teoria dos preços em mercados não atomísticos é geralmente por demais simplificada para poder identificar ou distinguir variações de comportamento potencialmente grandes e significativas dentro do setor oligopolista das indústrias. Muitas investigações empíricas sobre a estrutura e a concorrência das atividades empresariais têm seguido a rota da teoria abstrata e encontrado um obstáculo no fato de que a teoria abstrata oferece poucas pistas na área da condição de entrada. Embora investigações sobre a amplitude da concentração existente entre vendedores em várias indústrias sejam hoje abundantes nas agências governamentais e em outros locais, nunca se empreendeu sistematicamente uma avaliação da altura e da natureza das barreiras à entrada. Os estudos sobre estrutura e desempenho concorrenciais dedicaram muita atenção a termos como o papel do líder de preços na eliminação ou canalização da concorrência entre vendedores estabelecidos e na forma como isso influencia a relação fundamental entre preço e custo na sua indústria, mas usualmente têm dedicado muito menos atenção ao grau em que as firmas estabelecidas moldam suas políticas de preço à luz de sua antecipação de nova entrada, decidindo tentar ou não impedi- la. Em resumo, nem o significado teoricamente possível, nem efetivo da condição de entrada tem recebido muita atenção por parte dos economistas. É claro que é apropriada uma forte ênfase na concorrência efetiva entre os vendedores existentes. Tal concorrência, juntamente com seus determinantes é, muito provavelmente, de importância primordial como um regulador da atividade empresarial. Negligenciar a condição de entrada, porém, é algo definitivamente inadequado, dado que há considerável evidência da importância da condição de entrada como co-regulador da conduta e do desempenho das atividades empresariais. Entendemos o termo “condição de entrada” em uma indústria, como algo equivalente ao “estado de concorrência potencial” por parte de possíveis novos vendedores. Mais ainda, vamos visualizá-la como podendo ser avaliada, grosso modo, pelas vantagens dos vendedores estabelecidos em uma indústria sobre potenciais entrantes, vantagens estas que se refletem no grau em que os vendedores estabelecidos podem, persistentemente, elevar os seus preços acima de um nível competitivo, sem atrair a entrada de novas empresas na indústria. Como tal, a “condição de entrada” é, antes de tudo, uma condição estrutural, determinando em qualquer indústria os ajustes internos que poderão ou não induzir a entrada. A sua relação com a conduta potencial em vez da efetiva descreve, pois, basicamente, apenas as circunstâncias sob as quais a potencialidade da concorrência representada por novas firmas se efetivará ou não. Se entendermos a condição de entrada desta maneira, ficará clara a sua importância como um determinante do comportamento concorrencial. A teoria convencional dos preços tem sido bastante explícita no que diz respeito aos efeitos de um tipo de condição de entrada – a entrada livre ou fácil. Ela deduziu a partir de premissas razoáveis a acertada conclusão de que, em mercados com muitos pequenos 3 vendedores, a entrada fácil forçará, a longo prazo, o preço a igualar-se aos custos médios mínimos e levará a quantidade produzida a um nível suficiente para suprir todas as demandas a este preço. Ao voltar-se para mercados com poucos vendedores e com condiçõesde entrada diferentes da fácil, a teoria dos preços tem sido comumente pouco explícita, vaga ou silenciosa. Elaborações relativamente elementares da teoria recebida tornaram claro, contudo, que variações na condição de entrada, à medida que ela se afasta do pólo “fácil”, podem exercer uma influência substancial sobre o desempenho das firmas estabelecidas em qualquer indústria. Mesmo em indústrias organizadas atomisticamente, as barreiras à entrada podem, sob certas condições, conduzir, no longo prazo, a uma elevação dos preços e lucros e a uma restrição da quantidade produzida. Se as firmas estabelecidas são restritas em número e se se defrontam com deseconomias de escala, a entrada irá operar no sentido de limitar os preços unicamente quando estes tiverem excedido um certo nível supra-competitivo. Em indústrias oligopolizadas, algo adicional é geralmente verdadeiro. Cada um dos poucos grandes vendedores estabelecidos – agindo coletiva ou separadamente – vai estimar a condição de entrada e, antecipando que a entrada poderá ocorrer caso o preço exceda um dado nível, regulará sua política de preços adequadamente. Haverá, então, uma espécie de interdependência reconhecida das ações, não somente entre os vendedores estabelecidos, mas entre estes e os potenciais entrantes. Neste caso, pode-se presumir que variações na condição de entrada terão efeitos substanciais sobre o comportamento dos vendedores estabelecidos, apesar de que no decorrer de longos intervalos a entrada real raramente ou nunca se efetive. Extensões elementares da lógica dedutiva da teoria convencional dos preços sugerem, portanto, um importante papel da condição de entrada e enfatizam o desejo de descobrir o quanto esta varia de fato de indústria para indústria. Observações empíricas reforçam a impressão de que a condição de entrada é um importante determinante do comportamento do mercado, especialmente no caso de indústrias oligopolizadas. O exame de um número considerável de indústrias concentradas revela a existência de grandes diferenças em relação à conduta e desempenho de mercado entre elas, apesar do fato de que em cada uma delas uma interdependência reconhecida entre os vendedores estabelecidos parece estar definitivamente presente. Variações no grau de concentração ou de diferenciação do produto entre os oligopólios podem explicar uma parte destas diferenças de comportamento, mas não todas elas. A outra variação estrutural mais evidente entre oligopólios é a da condição de entrada e observações casuais indicam que esta variação está de alguma maneira vagamente associada com variações no comportamento. É necessário, portanto, um estudo empírico mais sistemático da importância da condição de entrada. O significado da condição de entrada Como foi sugerido acima, a condição de entrada é um conceito estrutural. Como outros aspectos da estrutura de mercado, pode ser tomada como potencialmente suscetível a uma avaliação quantitativa, nos termos de uma avaliação contínua. Esta variável é o percentual pelo qual as firmas estabelecidas podem elevar seus preços acima de determinado nível competitivo sem atrair novos entrantes – um percentual que pode variar continuamente de zero até uma medida bastante alta, tornando-se a entrada gradativamente “mais difícil” ao longo deste movimento. À medida que a dificuldade de entrada (assim entendida e avaliada) aumenta, pode- se prever algumas variações sistemáticas no comportamento das firmas estabelecidas. A descrição anterior é obviamente pouco específica em numerosos detalhes. Baseado no fato de que aqui se trata primeiramente de um estudo empírico lidando com os dados disponíveis e de que não temos a intenção de elaborar um instrumento de precisão para captar todas as 4 minúcias do fenômeno, não parece proveitoso desenvolver uma definição precisa e detalhada da condição de entrada. (O autor deu alguns passos nesta direção em um artigo anterior1, e mesmo o moderado grau de detalhe ali utilizado parece, no presente quadro, fora de propósito.) Seria útil, contudo, ser algo mais específico e expor de modo simples, sem uma discussão teórica detalhada, o que deve ser entendido pelos vários termos e noções expressas ou implícitas na definição até então apresentada. Como já foi dito, a condição de entrada pode ser avaliada pela medida em que os vendedores estabelecidos podem elevar persistentemente os seus preços acima de um nível competitivo sem atrair novas firmas a entrarem na indústria. O primeiro termo que precisa ser considerado é “atrair novas firmas a entrarem na indústria”. Isto implica uma definição específica do conceito de entrada, envolvendo tanto a noção de “nova firma” como o significado do verbo “entrar”. Como uma primeira aproximação, a entrada de uma nova firma pode ser tomada como a combinação de dois eventos: (1) o estabelecimento, como produtor, de uma entidade legal independente, nova na indústria; e (2) a concomitante construção ou introdução pela nova firma de capacidade produtiva física que não era usada para produção na indústria antes do estabelecimento desta nova firma. Requer-se, portanto, uma adição à capacidade já em uso na indústria, mais o surgimento de uma firma nova nesta indústria. Esta definição exclui dois eventos relacionados com a condição de entrada. O primeiro é a aquisição por uma nova entidade legal de capacidade produtiva já existente, seja por meio de compra de uma firma pré-existente, seja por uma reorganização envolvendo uma mudança no nome e na estrutura da corporação, ou quaisquer outros meios. A simples mudança de propriedade ou controle de capacidade operativa existente não é considerada entrada. A segunda exclusão é a expansão de capacidade por uma firma estabelecida. Se, por exemplo, uma pequena firma estabelecida dobrar sua capacidade, isto deve ser considerado como uma fase da concorrência entre as firmas estabelecidas e não um ato de entrada. O crescimento de uma firma rival já estabelecida no ramo de atividade não é considerado, conseqüentemente, como uma entrada neste ramo de atividade. Ambas as exclusões são, em certa medida, arbitrárias, desde que a introdução de um novo dono de antiga capacidade pode constituir uma mudança perceptível na situação competitiva, e desde que a expansão de um concorrente já estabelecido pode ter, do ponto de vista de outra firma estabelecida, quase o mesmo significado da entrada de uma nova firma com nova capacidade. O presente propósito, não obstante, torna conveniente distinguir concorrência entre competidores já estabelecidos e entrada de novos concorrentes e traçarmos, então, as fronteiras indicadas. À medida que formos prosseguindo, teremos ocasião de fazer referência ao significado de eventos estreitamente relacionados com a entrada, na forma em que foi definida. Dadas estas exclusões, uma nova firma pode ingressar em uma indústria tanto pela construção de capacidade produtiva nova, quanto pela conversão, para uso neste ramo, de plantas previamente utilizadas em outros ramos de atividade, ou reativando capacidade previamente em uso naquele ramo mas presentemente ociosa. Qualquer um destes atos realizados por ma nova firma isoladamente ou em associação constituir-se-á, de acordo com a definição, em uma entrada, mesmo que a nova firma tenha também adquirido capacidade operacional de outra já existente. A compra de uma empresa já existente por uma nova firma simultaneamente com a expansão deste negócio constitui, pois, uma entrada, na medida da expansão. Uma implementação detalhada desta definição requer maiores especificações, como a duração do 1 Ver J. S. Bain, “Conditions of Entry and the Emergence of Monopoly”. Monopoly and Competition and Their Regulation, editado por E. H. Chamberlin (Londres, 1954), pp. 215-241. 5 período de ociosidade,necessária para distinguir uma planta em operação de uma ociosa. De qualquer modo, já temos o suficiente para tornar clara a nossa definição. Vimos, portanto, que a condição de entrada pode ser avaliada pelo grau em que as firmas estabelecidas podem elevar seus preços acima do nível competitivo sem induzir novas firmas a adicionarem capacidade àquela já em uso na indústria. Quantas novas firmas ou de que tamanho? Por ora diremos “uma ou mais” novas firmas de “qualquer tamanho”. Posteriormente trataremos deste tópico quando considerarmos a diferença entre a condição imediata e a condição geral de entrada. O segundo conceito crucial é o “nível competitivo de preços”, o qual, por definição, as firmas estabelecidas podem exceder cada vez mais à medida que a condição de entrada torna-se progressivamente mais difícil. O “nível competitivo de preços” é aqui definido como o custo médio mínimo que pode ser conseguido na produção, distribuição e venda do bem em questão, incluindo a taxa de retorno normal do investimento da empresa2. De fato, esta é equivalente ao nível de preços hipoteticamente atribuído ao equilíbrio de longo prazo em concorrência pura. Se o equilíbrio fosse do tipo estacionário, freqüentemente descrito nos livros-texto de teoria, no qual cada firma produz regularmente e ininterruptamente ao nível mais eficiente, então este preço competitivo seria igual ao custo médio mínimo atingível (incluído o retorno sobre o investimento) para a escala mais eficiente da firma, quando a sua capacidade é utilizada sempre no ponto ótimo. Nas situações reais, onde a demanda é instável e incerta e o equilíbrio é, necessariamente, um ajustamento a uma média de situações variáveis no tempo, o nível competitivo de preços é elevado o suficiente para cobrir, para a escala mais eficiente da firma, os custos adicionais resultantes de desvios periódicos da taxa ótima de utilização, bem como aqueles que resultam de inevitáveis erros na estimativa das demandas, custos futuros e outras coisas do gênero. Este nível de preço competitivo ou de custo mínimo é uma referência útil para a avaliação da condição de entrada. A entrada completamente fácil ou desimpedida envolve a incapacidade das firmas estabelecidas de elevarem seu preço acima deste nível – persistentemente ou em média ao longo do tempo – sem atrair novos entrantes. Se o preço pode exceder persistentemente este nível sem induzir a entrada, então a entrada estará, de certa forma, impedida. Quanto maior este percentual de excesso atingido persistentemente sem induzir a entrada, mais difícil pode-se dizer que é a entrada. Deve ser notado que esta medida da condição de entrada refere-se a um padrão de custo definido independentemente e não necessariamente ao custo real das firmas estabelecidas na indústria. Portanto não é, simplesmente, uma medida das margens de lucro que elas podem estabelecer sem induzir a entrada, mas, de modo mais específico, da margem entre o preço indutor de entrada e os custos mínimos competitivos, na forma em que foram definidos. Haverá uma tendência a uma relação direta entre as duas margens. Porém, é possível que, por exemplo, numa indústria o preço possa ser substancialmente elevado acima do nível competitivo sem induzir a entrada, e os lucros, não obstante, possam estar ausentes, porque as firmas estabelecidas 2 Os custos mínimos, como foram aqui definidos, pressupõem o uso das técnicas ótimas de produção disponíveis. Onde encontrarmos diferenciação de produtos e promoção de vendas, tais custos incluirão também os custos de promoção de vendas incorridos, de acordo com o critério de maximização de lucros. A distinção entre o custo médio mínimo atingível pela firma (supostamente atingido no equilíbrio de longo prazo em concorrência pura) e a aproximação àquele custo mínimo supostamente atingido em equilíbrio de concorrência monopolística será negligenciada na definição de custo mínimo ao longo da discussão que se segue. Hipoteticamente, o nível básico de custo mínimo a partir do qual a condição de entrada é medida, deve referir-se simultaneamente aos dois níveis, dependendo se a diferenciação de produto faz-se presente ou não. 6 foram construídas com tamanhos ineficientes. Um terceiro termo que precisa ser considerado é “persistentemente”. Utilizamos para nossa medida o nível de preço que pode ser persistentemente atingido pelos vendedores estabelecidos sem induzir a entrada. Esta condição é inserida deliberadamente para dar um aspecto estrutural e de longo prazo à nossa definição de condição de entrada, evitando assim que reflita meramente as condições transitórias e variáveis a curto prazo de ano a ano. Por uma elevação persistente do preço em relação a um nível competitivo, queremos dizer, portanto, uma elevação montada na média por um período de tempo substancial, longo o bastante para abranger uma gama típica de condições variáveis de demanda, preço dos fatores e de outros elementos. Pode-se pensar neste período como sendo normalmente de cinco a dez anos. A definição refere- se, pois, sumariamente, à relação média entre o preço efetivo e o preço competitivo que pode ser mantida por um certo número de anos sem atrair a entrada. A relação entre a entrada e o nível de preços a curto prazo – mantida apenas por alguns meses ou um ano, por exemplo – é deliberadamente negligenciada como errática e sem muita significação na maior parte dos ramos de atividade. Voltemos nossa atenção agora para uma elaboração bastante necessária de nossa definição de condição de entrada, no intuito de levar em conta (1) as diferenças entre as firmas estabelecidas em um ramo de atividade; (2) as diferenças entre as potenciais firmas entrantes. Até agora, temos nos referido a todas as firmas estabelecidas num ramo de atividade como um agregado e, às firmas entrantes, sem fazer referência ao seu número ou identidade. Agindo assim, falamos como se, em geral, todas as firmas estabelecidas em um ramo de atividade cobrassem um preço único e tivessem um único nível competitivo de preço ou um custo mínimo comum. Também não demos conta da existência ou das conseqüências de possíveis diferenças de custos e outras mais entre as potenciais firmas entrantes. Embora ambas as proposições pudessem ser adotadas para propósitos de teorização simplificada, nenhuma das duas encontrará apoio nos fatos. Faz-se necessário, portanto, elaborar a definição. Com respeito às firmas estabelecidas, as complicações são duas. Pode haver um tipo de diferenciação entre seus produtos que justifique algum sistema de preços diferenciados, de forma que, na realidade, eles não cobrem em momento algum um único preço comum mas, em vez disso, mantenham um certo regime de preços diferenciados. Elas podem ter também custos mínimos distintos, os quais são utilizados na definição do nível “competitivo” de preço, uma vez que pode haver diferenças de qualidade entre seus produtos ou vantagens diferenciadas de custo. Tendo em vista estas diferenças de custo e preço, como definiremos o máximo excesso de preço sobre o nível competitivo ao qual a entrada pode ser impedida? Não existe uma resposta simples, pois a existência deste tipo de diferenças de custo e preço, verificadas na realidade, torna a condição de entrada a um ramo de atividade um conceito intrinsecamente mais complicado e que não pode ser plenamente avaliado pela diferença entre preço efetivo e preço competitivo de uma firma em particular. Só poderia ser plenamente avaliado através de um conjunto de diferenças individuais para todas as firmas individuais – isto é, margens de preços efetivos sobre custos mínimos – que seria encontrado quando todas as firmas tivessem simultaneamente elevado seus preços até o limite do ponto onde a entrada é induzida. Como este procedimento teoricamente satisfatóriode avaliação não é útil para fins práticos, requer-se uma simplificação arbitrária. Vamos sugerir os seguintes termos para a avaliação da condição de entrada onde existem diferenças entre as firmas pertencentes a um ramo de atividade. Em primeiro lugar, o hiato relevante entre preço e custo mínimo (em cujo limiar a entrada é induzida) será aquele encontrado quando todas as firmas estabelecidas elevarem seus preços simultaneamente em 7 quantias ou proporções similares, mantendo quaisquer diferenciais costumeiros de preços. (Não se fará referência aos hiatos associados com aumentos hipotéticos por uma ou poucas firmas, uma vez que são relativamente de pouco interesse.) Em segundo lugar, a condição de entrada pode, então, ser especificamente medida como o hiato máximo entre preço e custo mínimo com o qual a entrada pode ser impedida, para a firma ou firmas mais favorecidas estabelecidas no ramo de atividade, supondo elevações simultâneas de preços por parte de todas as firmas estabelecidas. (A “firma mais favorecida” pode ser identificada como aquela com o maior hiato preço-custo mínimo.) Pode-se introduzir uma maior precisão nesta medida através de qualquer informação que revele um hiato significativamente diferente para outras firmas estabelecidas. Uma aproximação mais precisa ou elaborada parece difícil de ser implementada com os dados que são ou podem vir a se tornar disponíveis. O nosso próximo problema refere-se às diferenças entre as potenciais firmas entrantes. A condição de entrada é medida pelo hiato de longo prazo entre custo mínimo e preço que as firmas mais favorecidas podem atingir sem atrair entrada – mas a entrada de quem e de quantos? Assumimos que todas as entrantes são iguais e que haverá uma oferta ilimitada e perfeitamente elástica de firmas entrantes se o hiato indutor de entrada for excedido? Caso contrário, o que assumimos sobre o número e o tamanho das entrantes atraídas quando o hiato indutor de entrada for excedido? Não é realista assumir que todos os entrantes em potencial sejam iguais, tanto em sua capacidade para entrar quanto com respeito ao hiato que as induzirá a entrar. Da mesma forma, não se pode assumir que as firmas estabelecidas se defrontarão com uma oferta indefinidamente grande de firmas entrantes, se excederem algum hiato preço-custo mínimo crítico. As hipóteses mais plausíveis são (1) que é concebível que as potenciais firmas entrantes possam diferir quanto ao hiato que as induzirá a entrar, na medida em que cada entrante em potencial difere dos outros neste aspecto; e (2) que qualquer hiato indutor de entrada específico pode induzir apenas a entrada de um número finito de firmas. A condição de entrada em qualquer indústria pode então ser plenamente medida só como uma sucessão, dentro de qualquer espaço concebivelmente relevante para o comportamento do mercado, de hiatos preço-custo mínimo indutores de entrada, sucessivamente mais elevados, que atrairão firmas ou grupo de firmas sucessivas a entrarem no ramo de atividade. Podemos, portanto, estabelecer dois conceitos complementares: a condição imediata de entrada e a condição geral de entrada. A condição imediata de entrada refere-se aos impedimentos à entrada da firma ou firmas que podem mais fácil ou rapidamente serem induzidas a entrar no ramo de atividade numa dada situação. Esta condição imediata de entrada é avaliada pelo hiato preço-custo mínimo de longo prazo (para as firmas estabelecidas mais favorecidas) que está no limiar (suficiente exatamente na margem) de induzir a entrada do que podemos chamar de entrante ou entrantes potenciais mais favorecidas. Em qualquer estágio do seu desenvolvimento, todo ramo de atividade tem alguma condição imediata de entrada assim definida e avaliada, embora o número de potenciais firmas entrantes às quais a medida se refere possa variar bastante de ramo de atividade a ramo de atividade. A condição geral de entrada refere-se, então, à sucessão de valores da condição imediata de entrada quando se realiza a entrada no ramo de atividade – à distribuição dos hiatos preço- custo mínimo exatamente necessários para induzir firmas ou grupos de firmas sucessivamente menos favorecidas a entrarem consecutivamente no ramo de atividade, começando com a firma melhor situada. Em qualquer estágio de seu desenvolvimento, todo ramo de atividade tem uma condição geral de entrada em prospecto (assim como uma passada, ou uma enfrentada por várias firmas estabelecidas antes de ingressarem no ramo), refletindo a sucessão de hiatos preço-custo 8 mínimo de longo prazo indutores de entrada para os quais sucessivos incrementos à entrada são previstos de ocorrer. Num extremo, esta condição poderia ser representada pela repetição sustentada de um valor único de condição de imediata de entrada, refletindo de fato uma oferta perfeitamente elástica de entrantes. Em outro extremo, poderia ser representada por uma série de valores distintos, cada um referindo-se à entrada de uma única firma. Na maioria dos casos, deve-se supor que a condição geral de entrada esteja entre estes dois extremos. Se a condição de entrada refere-se às condições para a indução de entrada de sucessivos números finitos de firmas, ela deveria logicamente referir-se também ao tamanho de cada entrada, visto tanto como realizada ex post ou antecipada ex ante. Isto é, uma medida plena de condição imediata de entrada (a sucessão das quais define a condição geral), deve incluir não apenas uma medida do hiato preço-custo mínimo de longo prazo para as principais firmas estabelecidas, necessário para induzir algum incremento à entrada, mas também uma medida da escala de longo prazo (atingida ex post ou esperada de ser atingida ex ante) das firmas incluídas neste incremento. Uma tal medida de escala pode ser expressa como uma porcentagem da produção total do ramo de atividade. Se a escala a ser atingida pelos entrantes é uma gama de valores alternativos, dependendo da escolha de políticas alternativas disponíveis às firmas estabelecidas, então a condição de entrada é medida em parte por tal gama de valores. A última elaboração na medida de condição de entrada representa um refinamento de um tipo não muito útil para ser aplicado aos dados reais. Pode ser possível, contudo, ao avaliar várias condições de entrada, fazer alguma estimativa geral das escalas comparativas possíveis de serem atingidas pelos entrantes em potencial se eles entrarem, e das circunstâncias que, caso existam, limitariam os seus tamanhos. As elaborações e definições dos termos precedentes devem ter tornado o significado geral da condição de entrada em um ramo de atividade suficientemente explícito para os nossos propósitos. Refere-se às vantagens que as firmas estabelecidas em um ramo de atividade gozam sobre potenciais firmas entrantes. É avaliada em geral por medidas dos níveis de preços indutores de entrada relativos aos níveis competitivos definidos. Um ponto básico que não recebeu atenção nesta definição, contudo, refere-se aos retardos de entrada, isto é, os intervalos de tempo necessários para as firmas efetivarem suas entradas. Dada qualquer condição imediata de entrada particular avaliada por algum excesso de preço sobre o nível competitivo capaz de induzir à entrada, ainda há espaço para variação no período de tempo que uma firma entrante requer para tornar efetiva a sua entrada. Para fins de uma primeira aproximação, podemos dizer que uma entrada é iniciada quando uma nova firma toma medidas mais ou menos irrevogáveis no sentido de estabelecer e utilizar nova capacidade na indústria, e é completada quando a firma se estabeleceu e apossou-se de todos os meios necessários para permitir-lhe produzir de modo rotineiro no seu nível de produção planejado. O período de retardo, então, é o intervalo temporal entre essas duas datas e pode variar grandementeentre os ramos de atividade. Na indústria de vestuário feminino pode ser de apenas alguns meses; na indústria de cimento pode ser de um ano ou dois; na indústria de bebidas destiladas, requer-se mais de quatro anos para desenvolvimento de estoques de uísque envelhecido. Quanto maior for o intervalo de tempo em questão, menor a influência que qualquer ameaça de entrada terá sobre os vendedores estabelecidos. O fato de que a fixação do preço a um certo nível poderá induzir três novas firmas a entrarem na indústria tem mais probabilidade de dissuadir as firmas estabelecidas de chegarem a um preço tão alto se a entrada puder tornar-se efetiva em seis meses do que, digamos, em seis anos. O efeito que qualquer condição de entrada tem sobre o comportamento do mercado tenderá, assim, a variar de acordo com o tamanho do 9 retardo de entrada que a acompanha. A questão de se o “valor” da condição de entrada deve ser modificado para refletir o tamanho dos retardos de entrada parece ser principalmente uma questão semântica. Desde que não existe logicamente nenhum método singular para combinar medidas de um hiato de preço indutor de entrada com um retardo de entrada, seguiremos aqui a convenção de definir ou avaliar a condição de entrada em qualquer ramo de atividade sem fazer referência aos retardos de entrada, isto é, em termos de um excesso de preço indutor de entrada sobre o nível competitivo, seja qual for o período de retardo. Consideraremos, porém, os dados sobre os retardos de entrada como informação suplementar, útil para prever as conseqüências da condição de entrada, na forma como foi definida. Este procedimento parece colocar os intervalos necessários para a efetivação da entrada no seu papel apropriado em nossa análise. Os determinantes da condição de entrada Uma vez que a condição de entrada já foi definida e avaliada, a próxima questão é o que determina a condição de entrada em um ramo de atividade. Qual é a natureza das vantagens que as firmas estabelecidas possuem e que circunstâncias tecnológicas ou institucionais dão origem a essas vantagens? Pode-se buscar a identidade dos determinantes imediatos da condição de entrada considerando as características comumente atribuídas à situação teórica de “entrada fácil”. Na moderna teoria dos preços, a “entrada fácil” é concebida como uma situação onde não há impedimentos à entrada de novas firmas, na qual as firmas estabelecidas não possuem nenhuma vantagem sobre potenciais firmas entrantes ou na qual, mais precisamente, as firmas estabelecidas não podem elevar persistentemente os seus preços acima do nível competitivo de custo mínimo sem atrair a entrada de um número suficiente de firmas para provocar a queda do preço para o nível competitivo. A condição de entrada, como já vimos, pode ser avaliada pelo percentual que as firmas estabelecidas podem exceder o nível competitivo sem atrair entrada. Com a entrada fácil, pois, a condição imediata de entrada possui um valor zero em todos os pontos de qualquer seqüência de entrada possível (cada firma adicional que entra não tem nenhuma desvantagem em relação às firmas já estabelecidas) e a condição geral de entrada é correspondentemente representada por um único valor igual a zero. A entrada, é claro, deixa de ser fácil e torna-se mais difícil à medida que os valores da condição de entrada passam a exceder o zero ou quando, num ponto ou outro da progressão de entrada, as firmas estabelecidas podem fixar preços acima do nível competitivo sem induzir entrada. As características essenciais da situação na qual a entrada fácil prevalece devem fornecer uma pista direta sobre a identificação dos determinantes da condição de entrada em geral. Para a entrada fácil, três condições devem em geral ser simultaneamente verificadas. Em qualquer estágio da progressão relevante de entrada tem-se que (1) as firmas estabelecidas não possuem nenhuma vantagem absoluta de custo sobre potenciais firmas entrantes; (2) as firmas estabelecidas não têm nenhuma vantagem de diferenciação de produto sobre potenciais firmas entrantes; e (3) as economias de uma firma de grande escala são desprezíveis, no sentido de que a produção de uma firma de escala ótima (custo mínimo) é uma fração insignificante do total da produção do ramo de atividade. Vamos ver rapidamente o que cada uma dessas condições significa e porque é importante. A condição de que com a entrada fácil as firmas estabelecidas não possuem nenhuma vantagem absoluta de custo significa que, para um dado produto, as potenciais firmas entrantes podem trabalhar com o mesmo custo médio mínimo de produção com o qual as firmas 10 estabelecidas operavam antes de se dar a entrada. Isto, por sua vez, implica que (a) as firmas estabelecidas não devem dispor de nenhuma vantagem de preço ou de outra natureza sobre as entrantes na aquisição de qualquer fator produtivo (incluindo fundos para investimento); (b) que a entrada de uma firma adicional não tem nenhum efeito perceptível sobre o nível de preço de qualquer fator; e (c) que as firmas estabelecidas não têm nenhum acesso preferencial às técnicas produtivas. Se essas condições forem preenchidas, então as firmas estabelecidas não poderão elevar seu preço acima do nível competitivo sem atrair entrada, uma vez que não dispõe de nenhuma vantagem absoluta de custo sobre as potenciais firmas entrantes. Se ocorre diferenciação de produtos, então, o equivalente desta condição deve ser preenchido. A condição de que com entrada fácil não deve haver nenhuma vantagem de diferenciação de produto por parte das firmas estabelecidas significa ou que não há nenhuma diferenciação de produto ou que, se a diferenciação de produto se faz presente, as potenciais firmas entrantes devem ter a capacidade de assegurar uma relação preço-custo tão vantajosa quanto a das firmas estabelecidas. Geralmente, se as diferenças de produto, custos de produção e custos de venda são reconhecidas, a potencial firma entrante deve sempre ser capaz de assegurar uma relação do preço com o custo unitário de produção acrescido do de venda tão favorável quanto a das firmas estabelecidas, de forma que as firmas estabelecidas nunca possam usufruir de lucro quando as entrantes não puderem, ou mesmo não possam igualar as receitas e custos totais (break even) quando as entrantes estão perdendo dinheiro. Para isto ser verdadeiro, as firmas estabelecidas não devem dispor de nenhuma vantagem de preço ou custo de venda em função da preferência dos consumidores pelos seus produtos e também nenhuma vantagem de preço na aquisição dos fatores de produção. A condição de inexistência de vantagens de diferenciação de produto é obviamente essencial para a entrada fácil, pois de outro modo, as firmas estabelecidas poderiam elevar seus preços algo acima do nível competitivo sem criar uma situação na qual entrantes potenciais pudessem vender lucrativamente. A condição de que não haja economias significativas para a firma de grande escala significa, é claro, que uma firma entrante, mesmo se entrar com a escala ótima ou de custo mínimo, acrescentará tão pouco à produção do ramo de atividade que a sua entrada não terá nenhum efeito perceptível sobre os preços vigentes no ramo. As firmas entrantes não necessitariam aumentar a produção do ramo a ponto de tornar os preços aí praticados menos atrativos, para poder operar ao nível de custo mínimo das firmas estabelecidas. Desta forma, a persecução de economias de escala ao máximo é possível e não constitui um obstáculo à entrada. A importância desta condição é evidente quando consideramos a possibilidade oposta. Se para ingressar com uma escala ótima a firma tiver que acrescentar uma fração significativa à produção do ramo de atividade, são vários os cenários possíveis. Se as firmas estabelecidas mantiverem a produção vigente, a entrada comtal escala tenderá, em geral, a reduzir o preço do ramo. Se elas mantiverem ou aumentarem seus preços, a fatia de mercado passível de ser obtida pelas entrantes pode muito vem ser insuficiente para permitir-lhes operar numa escala ótima. Mais ainda, pode-se gerar uma fixação de preços retaliativa pelas firmas estabelecidas; e uma escala suficientemente reduzida para não perturbar o mercado irá requerer uma escala abaixo da ótima e custos mais elevados. De uma forma ou de outra, a entrada tende a ser obstaculizada em tal grau que permite às firmas estabelecidas elevarem seus preços pelo menos algo acima do nível de custo mínimo sem induzir entrada. O entrante em potencial, caso decida entrar com uma escala significativamente grande, irá provavelmente esperar ou temer um preço no ramo de atividade, após a entrada, algo menor do que o vigente antes dessa entrada, ou uma fatia de mercado envolvendo custos acima 11 dos de escala ótima3. Assim, ela provavelmente não será induzida a entrar por um preço supra- competitivo no ramo. Se ela considerar a entrada com escalas insignificantes, incorrerá em custos acima do nível competitivo e não será, novamente, induzida a entrar por um preço acima do competitivo. Economias de escala significativas tendem, assim, a impedir a entrada e sua ausência é essencial para a entrada fácil. As três condições que acabamos de descrever são tanto necessárias quanto suficientes para a existência de entrada fácil. Se isto é verdade, está claro que identificamos por conseqüência as fontes de desvio da entrada fácil e os determinantes imediatos da condição de entrada na forma em que foi definida. Afastamentos da condição de entrada do “pólo zero” de entrada fácil devem ser atribuídos a um ou mais dos seguintes fatores: (1) vantagens absolutas de custo das firmas estabelecidas; (2) vantagens de diferenciação de produtos das firmas estabelecidas; e (3) significativas economias das firmas de grande escala. Correspondentemente, a altura das barreiras à entrada ou os “valores” da condição de entrada (expressos como percentuais pelos quais as firmas estabelecidas podem fixar seus preços acima do nível competitivo enquanto bloqueiam a entrada) irão claramente depender do grau dessas vantagens absolutas de custo ou de diferenciação de produtos e da extensão das economias de escala das grandes firmas. A natureza específica destes determinantes da condição de entrada é presumivelmente um tanto óbvia, mas um pequeno sumário dos seus caracteres servirá para sugerir o caráter das condições institucionais ou de outro gênero das quais eles se originam. As vantagens absolutas de custo das firmas estabelecidas originam-se, em geral, de uma dessas três coisas: (1) a entrada de uma única firma pode elevar perceptivelmente o preço pago por um fator de produção, tanto pelas firmas estabelecidas quanto pela entrante, elevando, assim, o nível de custos; (2) as firmas estabelecidas podem ter assegurado o uso de fatores de produção, incluindo fundos para investir, a preços mais reduzidos do que os pagos pelas entrantes potenciais; e (3) as firmas estabelecidas podem ter acesso a técnicas de produção mais econômicas do que as potenciais entrantes, capacitando-as, assim, a usufruírem custos menores. Tais vantagens absolutas de custos tendem a garantir para as firmas estabelecidas um nível de custos menor do que o das potenciais entrantes, permitindo-lhes, assim, fixarem seus preços acima de um nível competitivo, ao mesmo tempo em que impedem a entrada. As vantagens de diferenciação das firmas estabelecidas resultam, é claro, das preferências dos compradores pelos produtos daquelas firmas quando comparados com os produtos das entrantes. O que irá constituir uma vantagem efetiva de diferenciação de produto vai depender da importância das economias de escala de produção e venda no ramo de atividade. Se não há economias de escala, de forma que os custos unitários de produção e venda não são aumentados por uma redução da quantidade produzida a quantias bem pequenas, pode-se dizer que uma entrante em potencial não sofre de nenhuma desvantagem caso obtenha um preço tão alto, relativo ao custo unitário, quanto o das firmas estabelecidas produzindo no mesmo nível, embora ela só o consiga operando num nível bem mais reduzido do que o das firmas estabelecidas. (A existência de um grande número de tais potenciais entrantes – mesmo que cada um esteja restrito quanto ao volume de vendas – iria gerar uma entrada fácil.) Contrariamente, a 3 Pode-se conceber logicamente casos nos quais uma fatia de mercado que permite uma escala de custo mínimo pudesse ser assegurada por um entrante – e.g. onde as firmas estabelecidas operassem numa escala acima da ótima antes da entrada, de forma que os vendedores em geral não seriam forçados a escalas sub-ótimas ao terem de repartir o mercado entre um número maior de participantes. Que isso ocorra, porém, bem como a ausência de algum tipo de retaliação por parte das firmas estabelecidas, parece improvável. 12 posse de uma vantagem pelas firmas estabelecidas no caso de inexistência de economias de escala implicaria a capacidade dessas firmas de assegurarem-se, em algum nível de produção, um preço mais elevado ou um menor custo – ou geralmente uma razão preço/custo de produção e venda mais alta – do que as entrantes potenciais mais favorecidas poderiam assegurar-se, seja qual for o nível de sua produção4. A existência de tais vantagens ligadas à diferenciação de produto é possível e confere às firmas estabelecidas a habilidade de elevarem seus preços acima de um nível competitivo e ao mesmo tempo impedirem a entrada. Se há algumas economias de escala sistemáticas para a firma, de forma que os custos unitários de produção e venda declinam em relação ao preço em alguns níveis de produção, a ausência de vantagens por parte das firmas estabelecidas requer a habilidade das entrantes em geral de obterem não apenas preços comparáveis, mas de consegui-los em um nível comparável de volume de vendas, assegurando-se, assim, igualmente de custos comparáveis. De outro lado, a posse de vantagens pelas firmas estabelecidas iria requerer apenas que elas fossem capazes de vender a um preço mais elevado do que o que as potenciais entrantes podem praticar, em escalas aproximadamente ótimas, mesmo que as entrantes potenciais pudessem alcançar uma paridade de preços operando em escalas pequenas e ineficientes. De fato, inexistência de desvantagens por parte das entrantes implica que estas obtenham não apenas uma paridade de preços, mas que alcancem esta meta a níveis de venda economicamente grandes. Não é preciso dizer muito mais sobre a natureza das vantagens das firmas estabelecidas que são inerentes a substanciais economias para a firma de grande escala. O fato de que as entrantes devam acrescentar uma quantia significativa à produção do ramo de atividade para poderem operar com custos mínimos e que incorreriam em custos perceptivelmente mais elevados se operassem em níveis de produção mais reduzidos garante às firmas estabelecidas a capacidade de elevarem seus preços algo acima do nível competitivo sem atrair entrada. As economias em questão podem ser tanto aquelas de produção e distribuição de grande escala ou, como foi sugerido na nota 4, aquelas de promoção de vendas em larga escala. As vantagens das firmas estabelecidas seriam obviamente aumentadas e a condição de entrada tornar-se-ia mais difícil tanto se a escala ótima da firma tornar-se maior em relação ao mercado, quanto se o aumento dos custos em escalas menores fizerem-se de forma mais abrupta. Uma questão relacionada a esses determinantes imediatos da condição de entrada, como foram definidos, refere-se à identidade das circunstâncias institucionais e tecnológicas básicas que dãoorigem aos bloqueios imediatos à entrada. Não se requer aqui nenhum tratamento exaustivo, mas a tabulação seguinte sugere os tipos de circunstâncias que tipicamente dão origem a uma entrada impedida e que podem logicamente ser objeto de uma investigação centrada na condição de entrada. Essas circunstâncias são, em certo sentido, as determinantes últimas da condição de entrada em um ramo. Enfatizamos ao longo desta exposição que a condição de entrada é um conceito estrutural e que é avaliada pela extensão na qual as firmas estabelecidas podem, na média por um longo período, elevar seus preços acima de um nível competitivo de longo prazo, ao mesmo tempo em que bloqueiam a entrada. Consistentemente, as determinantes últimas da condição de entrada refletem ou se referem diretamente às características estruturais de longo prazo dos mercados; e são elas que determinam a condição de entrada como a definimos aqui. 4 Uma variedade disto é que as entrantes em potencial, na ausência de economias de escala diferentes das vantagens de preço e custo de venda das promoções de vendas em larga escala, poderiam, de modo equivalente, assegurarem-se um preço relativo aos custos unitários apenas a um nível de produção que constituísse uma fração significativa do mercado. Neste caso, as firmas estabelecidas também gozariam de uma vantagem líquida, embora fossem atribuídas, de certo modo, ao significado das economias de escala per se. 13 Circunstâncias que ocasionam impedimento à entrada I. Circunstâncias típicas que dão origem a uma vantagem absoluta de custo para as firmas estabelecidas A. O controle de técnicas de produção, via patentes ou segredo, pelas firmas estabelecidas. (Tal controle pode inviabilizar o acesso de entrantes à técnica ótima ou, alternativamente, implicar a cobrança de uma royalty discriminatória sobre seu uso.) B. Imperfeições no mercado de fatores (e.g. trabalho, matérias-primas, etc.) que implicam preços de compra mais baixos para as firmas estabelecidas. Alternativamente, teríamos o controle ou a propriedade da oferta de fatores estratégicos (e.g. recursos) pelas firmas estabelecidas, o que implica ou a impossibilidade das entrantes terem acesso a essa oferta, levando-as a empregar fatores de qualidade inferior, ou a fixação de preços discriminatórios para a compra destes fatores pelas referidas entrantes. C. Limitações significativas na oferta de fatores produtivos nos mercados e sub-mercados para eles, relativos à demanda de uma firma entrante eficiente. Um incremento à entrada irá, então, aumentar perceptivelmente o preço do fator. D. Condições no mercado de dinheiro que impõem taxas de juros mas elevadas para as entrantes em potencial do que para as firmas estabelecidas. (Essas condições tendem a constituir uma fonte de vantagem efetiva para as firmas estabelecidas à medida que a necessidade absoluta de capital para uma entrante eficiente aumente.) II. Circunstâncias típicas que dão origem a vantagens de diferenciação de produto para as firmas estabelecidas A. As preferências cumulativas dos compradores pelas marcas e reputação das companhias estabelecidas, tanto em geral ou apenas com a exceção de um pequeno número de compradores. B. O controle de desenhos superiores de produto pelas firmas estabelecidas através de patentes, implicando ou o não-acesso das entrantes a esses, ou a cobrança de uma royalty discriminatória. C. A propriedade ou o controle contratual dos melhores pontos de distribuição pelas firmas estabelecidas, em situações nas quais a oferta desses canais de distribuição não é perfeitamente elástica. III. Circunstâncias típicas que desencorajam a entrada pela manutenção de economias significativas à firma de grande escala A. Economias reais (isto é, em termos da quantidade de fatores utilizados por unidade produzida) de produção e distribuição de larga escala, de tal forma que uma firma ótima suprirá uma parcela significativa do mercado. B. Economias estritamente pecuniárias (isto é, economias apenas monetárias, tais como aquelas oriundas do maior poder de barganha dos grandes compradores) da produção em larga escala, tendo um efeito similar. C. Economias reais ou estritamente pecuniárias de propaganda ou promoção de vendas em larga escala, tendo um efeito similar. 14 Se estes são os determinantes da condição de entrada, deveríamos ter igualmente clareza sobre as coisas que não constituem seus determinantes. Os verdadeiros determinantes são aquelas coisas que determinam para as firmas estabelecidas a possibilidade de relações preço- custo que induziriam ou não a entrada. Eles não são aquelas coisas que determinam se a entrada se efetivará ou não num dado momento. Temos então que, embora a vantagem persistente de diferenciação de produto para as firmas estabelecidas constitua um determinante verdadeiro da condição de entrada, a relação corrente e transitória entre a demanda do ramo de atividade e a capacidade não constitui um determinante. É verdade, obviamente, que se um ramo de atividade está correntemente acometido de um pesado excesso de capacidade (causado, por exemplo, por um declínio secular da demanda frente às plantas de longo prazo), os preços podem ficar em média abaixo dos custos e nenhuma entrada terá lugar por muitos anos. Isto, contudo, não significa que a condição de entrada seja conseqüentemente difícil, pois não elimina o fato de que bastaria um pequeno e persistente ex- cesso de preço acima de um nível médio de custos mínimos de longo prazo (talvez improvável de acontecer nesta situação) para induzir à entrada. Devemos, pois, em geral, rejeitar movimen- tos correntes seculares ou cíclicos de demanda, capacidade e custos como determinantes da condição de entrada a um ramo de atividade, da mesma forma que rejeitamos o registro corrente das entradas efetivadas como evidência direta ou conclusiva sobre a condição de entrada. Tais coisas, como a relação entre demanda e capacidade num ramo de atividade, afetariam a condição de entrada como foi definida apenas na medida em que persistissem por algum tempo e, em adição a isso, até o ponto em que afetassem a maneira pela qual os potenciais entrantes reagissem a determinadas diferenças persistentes entre o preço efetivo e o preço competitivo5. Já fizemos várias vezes referência ao fato de que a condição de entrada a um ramo de atividade é uma condição estrutural e de longo prazo. Isso não significa que ela seja necessariamente permanente e imutável. As características estruturais básicas de um mercado podem mudar e a condição de entrada poderá então se modificar em resposta a isso. A descoberta de novos depósitos de um determinado recurso natural pode, pois, minar a vantagem absoluta de custo mantida pelas firmas estabelecidas ligadas ao seu processamento, que controlavam todos os depósitos previamente conhecidos; o desenvolvimento de um novo projeto de produto por uma firma de fora pode reduzir as vantagens de diferenciação de produto das firmas estabelecidas que fabricam produtos similares; mudanças tecnológicas podem tanto aumentar quanto diminuir as vantagens de produzir em grande escala qualquer linha e em qualquer período. Quando tais mudanças ocorrem, a condição de entrada a um ramo de atividade tende a ser alterada. Isso levanta a questão de se a condição de entrada e os seus determinantes são suficientemente estáveis ao longo do tempo, de forma que possam ser tomados provisoriamente como determinantes quase independentes, de longo prazo, do comportamento do mercado. Se a condição de entrada e os seus determinantes se modificam lentamente ao longo do tempo e não são facilmente sujeitos a alterações deliberadas pela ação de potenciais entrantes e se, assim, eles representam, antes de tudo, um arcabouço estruturalpara o comportamento do mercado em vez de serem um resultado deste, então essa visão é legítima. Por outro lado, é claro, existe a 5 A principal exceção possível ocorreria se movimentos seculares de demanda ou custo de longo prazo, seguidos por um ajustamento defasado da capacidade do ramo de atividade, levassem os entrantes potenciais a reagirem diferentemente a dadas diferenças persistentes entre os preços das firmas estabelecidas e seus [dos entrantes] custos mínimos. Que a reação dos entrantes potenciais possa ser afetada desta maneira parece ser algo inteiramente possível. 15 possibilidade da condição de entrada ser uma espécie de engodo instável, modificando-se rapidamente ao longo do tempo, ou ser prontamente alterada pela ação de potenciais entrantes. Neste caso, dificilmente haveria motivo para estudá-la como determinante estrutural de longo prazo do comportamento do mercado. Está postulado de forma definitiva para os propósitos do presente estudo – com base em ampla observação empírica – que a condição de entrada, como foi definida, e seus determinantes últimos são usualmente estáveis e se modificam lentamente ao longo do tempo e não são geralmente suscetíveis a alterações por entrantes prospectivos a vários mercados. A condição de entrada e as várias vantagens específicas das firmas estabelecidas que fixam o seu valor podem então ser vistos, em geral, como determinantes estruturais de longo prazo da ação empresarial. Essa generalização, como muitas outras sobre questões econômicas, só é verdadeira, é claro, sujeita a exceções ou como representação de uma tendência geral. Certamente que a condição de entrada se modificou rapidamente ao longo do tempo em alguns poucos ramos de atividade, assim como potenciais entrantes têm conseguido periodicamente modificá-la a seu favor em alguns casos. Essas exceções, contudo, parecem ser pouco freqüentes ou incomuns o bastante para justificarem o nosso procedimento com base na hipótese levantada. Só uma exceção específica pode merecer especial atenção quando estudamos os vários ramos de atividade. Em alguns ramos (embora definitivamente não na sua maioria), a habilidade de entrantes potenciais de desenvolverem inovações eficazes de produto tem periodicamente derrubado as vantagens de produto das firmas estabelecidas e efetivamente facilitado a entrada a esses mercados. Aqui, o papel das preferências pelos produtos existentes como determinantes estruturais da ação deve ser questionado. Será interessante ver se conseguimos identificar alguns determinantes mais fundamentais da condição de entrada nessa área, na forma dos elementos que determinam se os potenciais entrantes estarão ou não em posição de realizarem inovações eficazes de produto. Teoria a respeito dos efeitos da condição de entrada A razão pela qual temos dado tanta atenção à condição de entrada é a nossa crença na substancial influência que ela exerce no comportamento ou desempenho do mercado em vários ramos de atividade. A força da concorrência potencial como reguladora dos preços e quantidades produzidas pode ser encarada como de importância comparável aos efeitos exercidos pela concorrência real. Mas de que modo? Qual o provável impacto da condição de entrada no desempenho do mercado em um ramo de atividade? Como a variação da condição de entrada de um ramo a outro faz com que o desempenho do mercado também seja distinto entre eles? Poderemos abordar estas questões de duas maneiras – através de uma lógica teórica ou dedutiva, ou através de testes empíricos. Mais tarde empreenderemos alguns testes empíricos para o efeito da condição de entrada na medida em que os dados disponíveis permitirem. Infelizmente, os dados de que se dispõe no momento não permitem muita coisa, de forma que testes empíricos conclusivos e abrangentes não são possíveis. Somos forçados, pois, a nos basear no memento numa teoria a priori como fonte primaria de nosso conhecimento das conseqüências da condição de entrada. Se abordarmos as previsões das conseqüências da condição de entrada como um problema rigorosamente articulado numa teoria formal, um sistema de hipóteses bastante complicado e elaborado pode emergir mediante extensões simples da teoria recebida. A condição de entrada é intrinsecamente uma idéia muito complexa e pode assumir uma variada gama de “valores” significativamente distintos, com efeitos prováveis significativamente diferentes. Mais 16 ainda, as conseqüências da condição de entrada irão variar com as variações na estrutura de qualquer mercado ou entre vendedores estabelecidos. Assim, uma variedade bastante considerável de modelos teóricos formais poderia ser construída para distinguir: (1) um grande número de padrões variáveis de “condição geral de entrada”; (2) diferentes fontes de impedimentos à entrada, na medida em que estas diferenças forem significativas; e (3) diferentes situações estruturais entre vendedores estabelecidos. Algumas tentativas nesse sentido foram feitas num artigo anterior6. Não parece desejável reproduzir aqui ou expor extensamente os argumentos teóricos ou a gama de hipóteses teóricas, relativamente elaborados, aí desenvolvidos. Tais hipóteses são por demais minuciosas, mesmo para testes e verificações experimentais com os dados disponíveis no momento, ou num futuro próximo. Parece desejável, porém, estabelecer, como uma espécie de guia experimental para nossas investigações, algumas hipóteses simplificadas com relação aos efeitos da condição de entrada. Três coisas parecem ser de importância básica para o desenvolvimento dos prováveis efeitos da condição de entrada. A primeira é o valor da condição de entrada, medido pelo percentual em que as firmas estabelecidas podem fixar seu preço acima de um nível competitivo enquanto impedem a entrada7. Esta “medida” pode ser traduzida como um valor único para a condição imediata de entrada, quando calculada para o entrante ou entrantes potenciais mais favorecidos, ou como uma série de valores sucessivos para a condição geral de entrada, quando calculada com referência a potenciais entrantes ou grupo de entrantes com status progressi- vamente menos favorecido. O segundo elemento é o grau de concentração entre os vendedores já estabelecidos no mercado, a correspondente existência ou não de uma reconhecida interdepen- dência ou de uma colusão expressa ou tácita entre eles ou o grau de imperfeição de sua colusão, expressa ou tácita. O terceiro elemento é a fonte de afastamento da entrada fácil e, se esse afasta- mento envolve ou não a existência de economias significativas para a firma de grande escala. A interação dos três determinantes mencionados deve, hipoteticamente, determinar o efeito da condição de entrada. Um quarto determinante em potencial, aqui negligenciado, diz respeito ao fato de as firmas estabelecidas defrontarem-se ou não com deseconomias de grande escala, isto é, custos unitários em elevação em razão de a firma ter excedido um certo tamanho. Consideraremos esta probabilidade improvável e assumiremos custos unitários aproximadamente constantes à medida que o tamanho da firma excede o mínimo necessário para os custos mais reduzidos. [Primeiro determinante] O “valor” da condição de entrada – e vamos nos referir aqui basicamente à sucessão de valores individuais englobados na condição de entrada – é obviamente importante, pois coloca potencialmente um limite ao nível em que os preços podem se manter a longo prazo num ramo de atividade. Ligado a isto, podem ser feitas duas distinções entre as diferentes condições gerais de entrada. A primeira distinção refere-se às diferenças entre os potenciais entrantes. Em primeiro lugar, existe potencialmente a condição geral de entrada na qual, numa dada situação, ou depois de se ter atingido certo estágiode desenvolvimento do ramo de atividade, todos os potenciais entrantes possuem o mesmo status ou enfrentam as mesmas desvantagens em relação às firmas estabelecidas e irão permanecer nesta mesma situação independentemente de quantos deles ingressem no ramo de atividade. Temos então, de fato, uma oferta perfeitamente elástica de entrantes para um dado hiato preço-custo mínimo indutor de entrada. A condição imediata de 6 J. S. Bain, “Conditions of Entry and the Emergence of Monopoly”, op. cit. 7 Para os propósitos de teorização, este percentual pode ser identificado como aquele válido para as firmas estabelecidas melhor colocadas. 17 entrada, por sua vez, permanecerá no mesmo valor para cada entrante sucessivo; e a condição geral de entrada será, portanto, representada por um único valor da condição imediata de entrada (representando o excesso de preço do ramo de atividade sobre um dado nível competitivo de preço) independentemente de quanta entrada ocorre. Uma tal situação pode ocorrer, por exemplo, se as firmas estabelecidas vendendo um dado produto tivessem uma vantagem de custo de dez por cento sobre todas as entrantes potenciais em virtude de direitos de patente (as economias de escala sendo desprezíveis) e se um número indefinidamente grande de novas firmas pudessem entrar somente sujeitas a essa desvantagem de custo de dez por cento. Em segundo lugar, temos a condição geral de entrada refletindo as vantagens diferenciais entre sucessivas entrantes potenciais, de forma que as desvantagens das entrantes potenciais, registradas pelo hiato indutor de entrada, são sucessivamente maiores ou assim se tornam à medida que essas firmas vão ingressando no ramo de atividade. As entrantes potenciais são, assim, classificadas em grupo ou individualmente e à medida que percorremos as classes, o percentual pelo qual os preços efetivos podem exceder um dado nível competitivo sem induzir a entrada torna-se maior. Isso se dá porque as potenciais entrantes possuem desvantagens diferenciais ab initio, ou porque a entrada efetiva de uma ou mais firmas torna a condição de entrada mais difícil para as restantes. A segunda distinção refere-se à altura das barreiras à entrada. Esta distinção deve ser feita separadamente para os casos da condição geral de entrada “constante”, no qual todas as entrantes potenciais estão e permanecem no mesmo estado de desvantagem em relação às firmas estabelecidas, e para os casos da condição geral de entrada “progressiva”, no qual as sucessivas entrantes potenciais defrontam-se com desvantagens progressivamente maiores. Vamos supor que haja uma condição geral de entrada constante para um ramo de atividade, representada por um valor único da condição imediata de entrada. Depois do ramo atingir um certo estágio, portanto, há um único percentual pelo qual os preços podem persistentemente exceder um dado nível competitivo enquanto impedem a entrada, independentemente de quantas novas firmas venham a ingressar no ramo: se o percentual deste excesso tornar-se e permanecer maior, todas as entrantes potenciais (até um número indefinidamente grande) estarão prontas para ingressar no ramo. Um dado núcleo de firmas estabelecidas tem, pois, uma vantagem mais ou menos mutável sobre qualquer e todas as entrantes potenciais. Como veremos abaixo, uma condição de entrada constante só pode ocorrer onde as economias das firmas de grande escala estão ausentes ou são desprezíveis, de modo que os custos das firmas estabelecidas e das potenciais entrantes não serão perceptivelmente elevados por uma redução das suas fatias de mercado à medida que a entrada ocorre8. Nesta situação, a condição de entrada pode assumir qualquer de quatro valores, cada um designado doravante por um termo especial a ser usado apenas com o significado específico que exporemos a seguir: (1) Pode haver entrada “fácil”, de forma que o preço a longo prazo não possa exceder de modo algum o nível competitivo de custo das firmas estabelecidas sem atrair a entrada. (2) O valor da condição de entrada pode ser positivo (medido com referência às firmas estabelecidas mais favorecidas), mas tão baixo que decorrem certas conseqüências. Poderá haver o que chamaremos de entrada “ineficazmente impedida”, no seguinte sentido: as firmas estabelecidas mais favorecidas podem elevar seus preços (com os pre- ços das outras firmas do ramo movendo-se simultaneamente) algo acima do nível compe- titivo sem atrair entrada, mas elas podem obter um lucro de longo prazo maior fixando os 8 O leitor está lembrado da hipótese de inexistência de deseconomias de grande escala. 18 seus preços acima do nível que impede a entrada – e atraindo, assim, algumas entrantes – do que fixando-os em um nível reduzido o bastante para impedir a entrada. Isto implica que o preço efetivamente impeditivo da entrada garante a essas firmas apenas um lucro de certa forma pequeno e similarmente apenas um pequeno percentual de excesso sobre o custo mínimo. Implica, mais ainda, que se a entrada é induzida por preços mais altos, ela se dará com uma defasagem suficiente para permitir a essas firmas lucros mais atraentes durante o intervalo em que as entrantes estão se estabelecendo. Esta situação é apropriadamente caracterizada como tendo uma entrada ineficazmente impedida9. (3) O valor da condição de entrada pode ser positivo e pode haver entrada “eficazmente impedida” no seguinte sentido: as firmas mais favorecidas podem elevar seus preços (com os outros preços do ramo alterando-se simultaneamente) suficientemente acima do nível competitivo sem atrair entrada, a ponto de garantir que seus lucros de longo prazo, ao melhor preço impeditivo de entrada, sejam maiores do que se elas cobrassem preços mais elevados e induzissem à entrada (repartindo assim o mercado com outros vendedores). Ao mesmo tempo, o melhor preço impeditivo de entrada é inferior àquele que maximizaria seus lucros se não houvesse ameaça de entrada. Isto implica que o preço impeditivo de entrada está moderadamente acima dos custos, mas não é tão ele- vado como um preço “monopolístico” seria na ausência de qualquer ameaça de entrada. (4) O valor da condição de entrada pode ser positivo e a entrada pode ser “bloqueada” no sentido de que o nível de preços inibidor de entrada no ramo de atividade está acima daquele que maximizaria os lucros das firmas mais favorecidas na ausência de qualquer ameaça de entrada. Elas não têm, portanto, nenhum virtual incentivo para elevarem seus preços a um nível que induza à entrada. A situação precedente refere-se a quatro tipos de valores da condição de entrada, se o valor permanece sempre num único nível para qualquer número de sucessivas entradas. Na medida em que se verifica uma condição geral de entrada constante, o tipo de valor pode influenciar o desempenho do mercado dentro de um ramo de atividade. Antes de explorar essas influências, vamos considerar os possíveis valores da condição de entrada quando há uma condição geral de entrada “progressiva”. Neste caso, há uma vantagem diferencial entre as sucessivas entrantes potenciais – seja ab initio ou que se desenvolve à medida que a entrada vai se efetivando – de forma que a condi- ção imediata de entrada, medida com referência aos custos mínimos iniciais das firmas estabe- lecidas mais favorecidas, torna-se mais elevada à medida que sucessivas firmas ou grupo de fir- mas ingressam no ramo de atividade. Se o percentual pelo qual o preço do ramo de atividade po- de exceder o referido nível competitivo enquanto impede no limiar a entrada da entrante ou en- trantes potenciais mais favorecidas está então em um certo valor, o percentual de excesso atin- gível enquanto impede a entrada dos próximos entrantes potenciais mais favorecidos serámaior, e assim por diante. A condição geral de entrada é representada por uma sucessão de valores da condição imediata de entrada correspondente a entrantes sucessivamente menos favorecidas. Há geralmente duas fontes possíveis da condição “progressiva” de entrada. Em primeiro lugar, potenciais firmas entrantes diferentes podem ter vantagens diferenciais absolutas de custo ou de diferenciação do produto. Essas vantagens podem tanto existir previamente à entrada de qualquer firma, quanto se desenvolver à medida que a entrada se processa – por exemplo, as “primeiras” entrantes no ramo asseguram-se de vantagens sobre as subseqüentes. Em qualquer 9 É claro que quanto maior as defasagens temporais encontradas na indução à entrada, maior será o “excesso de preço inibidor de entrada sobre o custo” considerado como aquele que impede ineficazmente a entrada. 19 dos casos, algumas entrantes potenciais tenderão a serem capazes de assegurar-se preços mais elevados ou custos mais reduzidos relativamente às outras, levando, assim, a uma progressão no valor da condição imediata de entrada à medida que a entrada se processa. Em segundo lugar, podem haver significativas economias de escala, no sentido de que uma firma de tamanho ótimo irá suprir uma fração significativa do mercado total e que os custos unitários de uma firma se tornarão progressivamente maiores para escalas progressivamente menores. Neste caso, uma progressão no valor absoluto da condição de entrada torna-se mais ou menos inevitável à medida que a entrada se processa, mesmo que todas as firmas estabelecidas ou entrantes em potencial tenham precisamente as mesmas condições de custo. A razão disto é que as sucessivas entradas irão tender a reduzir sucessivamente de modo significativo a fatia de mercado de todas as firmas estabelecidas e ocasionar-lhes, assim, custos significativamente mais elevados; e a confrontar as outras potenciais entrantes com fatias de mercado menores e custos mais elevados. Preços cada vez mais altos (relativos aos custos mínimos atingíveis) serão necessários para atrair uma subseqüente entrada, à medida que a entrada adicional eleva o nível vigente de custos, impondo tamanhos cada vez mais não-econômicos às firmas que entram para o ramo de atividade. Onde significativas economias de escala se fazem presentes, uma condição progressiva de entrada é mais ou menos automaticamente encontrada. E o que podemos dizer dos possíveis valores da condição geral progressiva de entrada? É neste ponto que a teorização torna-se especialmente difícil, desde que um número indefinidamente grande de diferentes padrões de condição de entrada são logicamente possíveis. Para propósitos de uma generalização inicial – grosso modo, contudo – pode ser suficiente distinguir alguns padrões gerais. Eles são sumariamente listados abaixo, em cada caso com a suposição de que a condição imediata de entrada é medida com referência aos custos mínimos das firmas estabelecidas mais favorecidas. (5) A condição imediata de entrada tem inicialmente um valor absoluto pequeno. Com progressivas entradas, assume valores apenas ligeiramente maiores em qualquer ponto da seqüência relevante; a entrada está ineficazmente impedida do ponto de vista das firmas estabelecidas mais favorecidas. Em outras palavras, a condição de entrada é sempre suficientemente baixa, de modo que um preço mais elevado indutor de entrada seria mais lucrativo para as firmas estabelecidas no longo prazo do que o melhor preço inibidor de entrada. (6) A condição imediata de entrada tem inicialmente um valor absoluto pequeno e encaminha-se para valores cada vez maiores com as sucessivas entradas; mas ao longo desta elevação, ela progride de ineficazmente impedida para eficazmente impedida do ponto de vista das firmas estabelecidas mais favorecidas (e possivelmente, mais tarde, para um valor bloqueado). Isto é, a entrada torna-se eficazmente impedida, no sentido que o maior preço inibidor de entrada seria no longo prazo mais lucrativo para essas firmas do que um preço mais elevado que induzisse a entrada. (7) A condição imediata de entrada encontra-se inicialmente num valor considerado como de entrada eficazmente impedida pelas firmas estabelecidas, crescendo com as progressivas entradas e permanecendo eficazmente impedida ou tornando-se bloqueada. (8) A condição imediata de entrada encontra-se inicialmente num valor bloqueado – isto é, o maior preço inibidor de entrada excede aquele que maximiza os lucros das firmas estabelecidas. (9) A condição imediata de entrada tem inicialmente um valor absoluto relativamente 20 pequeno, mas com as sucessivas entradas ela progride regularmente para valores absolutos substancialmente maiores. A condição de entrada, contudo, continua a ser considerada pelas firmas estabelecidas como ineficazmente impedida ao longo da seqüência de entrada, nunca atingindo um valor eficazmente impeditivo. Isto se dá porque, com as sucessivas entradas, a elevação do preço inibidor de entrada é contrabalançada por uma elevação dos custos, de modo que preços inibidores de entrada cada vez mais elevados não proporcionam lucros adequados. (Este padrão deve ser encontrado apenas onde se verificam substanciais economias de escala.) Neste caso, as firmas estabelecidas nunca consideram mais lucrativo, numa longa seqüência de entrada, fixar o preço em um nível suficientemente baixo para impedir a entrada10. A seqüência de valores ineficazmente impeditivos tenderia a resultar, com a progressão da entrada, num valor bloqueador, no ponto onde o preço mais lucrativo permitisse às firmas estabelecidas igualarem suas receitas aos seus custos e não atraísse a entrada. Foram listados, portanto, cinco tipos de condição geral “progressiva” de entrada em adição aos quatro tipos de condição “constante”. A lista total pode ser encurtada, porém, combinando-se os casos cujos efeitos previstos não diferem significativamente. De fato, o caso (5) acima, no qual o valor da condição de entrada permanece pequeno e é considerado indefinidamente como ineficazmente impeditivo, não difere significativamente do caso (2). Similarmente, o caso (7), envolvendo progressões de uma condição inicial de entrada eficazmente impedida, funde-se com o caso (3), representando uma condição constante de entrada eficazmente impedida, sem perda de detalhe na análise; o caso (8), da mesma forma, funde-se com o (4). Assim, apenas os casos (6) e (9) precisam ser acrescidos à nossa lista inicial de quatro. A lista combinada pode ser, portanto, assim apresentada: I. Entrada fácil constante. II. Entrada continuamente ineficazmente impedida, seja para um único pequeno valor absoluto constante da condição de entrada, seja para uma sucessão crescente de pequenos valores absolutos. III. Entrada inicialmente eficazmente impedida, seguida numa progressão de entradas seja por uma entrada eficazmente impedida, seja por uma entrada bloqueada (o valor absoluto da condição imediata de entrada pode permanecer constante ou aumentar com a entrada progressiva de novas firmas). IV. Entrada inicialmente ineficazmente impedida para pequenos valores absolutos da condição de entrada, progredindo para valores absolutos algo maiores e para a entrada eficazmente impedida. V. Entrada inicialmente ineficazmente impedida para pequenos valores absolutos da condição de entrada, seguida por valores substancialmente mais altos à medida que as entradas se processam, mas com a condição de entrada sendo considerada ineficazmente impedida ao longo de uma substancial progressão de entradas – e nunca atingindo um valor eficazmente impeditivo. VI. Entrada continuamente bloqueada, seja para um valor absoluto único constante da condição de entrada, seja para uma sucessão crescente de valores
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