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Resenha crítica do filme: “E a vida continua” sob visão epidemiológica. Catarinne Ribeiro de Jesus Dhenifer Rodrigues Paixão Santos O filme “E a vida continua” de 1993 do diretor Roger Spottiswoode, retrata o contexto do aparecimento da AIDS, fazendo uma análise crítica ainda sobre as relações sociais marcadas no filme na forma de preconceito, o qual dificultou ainda mais na façanha da descoberta da AIDS, devido à resistência das pessoas mais tradicionais da sociedade em resolver a problemática por crer que essa era uma punição divina recebida por conta das relações afetivas das pessoas acometidas na maioria dos casos. Dessa forma, a AIDS no filme foi caracterizada no começo como um “câncer gay”, isso porque as primeiras pessoas a manifestarem os sintomas foram os homossexuais, por conta da sua vida sexual ser mais ativa e diversificada, se relacionando com diversas pessoas pelo simples prazer. Como por exemplo, é exposto no filme a sauna, o local onde essas relações ocorriam. Assim, a conclusão que se pode ter dessa obra é que ela expressa uma visão sobre as dificuldades de se caracterizar e identificar uma nova doença, bem como sobre sua influência na mudança dos hábitos comportamentais da época vigente. Essa enfermidade é tratada no filme como epidemia, no entanto, atualmente, por ter se espalhado pelo planeta, é melhor classificada como pandemia. No filme ele chega a sugerir como esse espalhamento se deu, apresentando um comissário de bordo de Nova Yorque com vida sexual extremante ativa, assim, ele que era portador da doença, acabava que disseminando-a por vários lugares distintos. Essa classificação se deu como epidemia porque os métodos clínicos e os métodos epidemiológicos estão relacionados, analisando investigações individuais e suas incidências na comunidade. Nesse sentido, os métodos de pesquisa epidemiológica são bastante semelhantes aos praticados pelo médico John Snow na descoberta da cólera, isso porque no filme é evidente os métodos utilizados. Inicialmente, é observado que os primeiros casos surgem nos hospitais da França e dos Estados Unidos, tendo em comum o fato dos doentes apresentarem Pneumonia por pneumocistis, ainda é questionado o porquê da grande aparição do Sarcoma de Kaposi, entre outras análises. Em seguida, os casos são notificados aos Centro de controle de doenças de Atlanta e uma equipe é montada para o levantamento de dados. Essa equipe entra em contato com doentes e familiares, fazem questionários e coletas de informações. Além de utilizarem fichas e prontuários médicos complementar o estudo, estabelecendo a relação clínica e epidemiológica. Assim, foram analisados nessa coleta de dados informações como quantidade de relações sexuais e ambientes em que se frequenta são levantadas. As hipóteses, que é a base para desenvolvimento de vias que serão analisadas, são propostas nas reuniões da equipe, assim, após análises bioestatísticas, relacionadas ao aumento da taxa de mortalidade para a doença (de 40% para 100%) supõem que ela seja causada por um agente infeccioso (viral) de transmissão sexual e partem para um estudo mais aprofundado, chegando a analisar o material genético para saber se o vírus estudado era da família de um retrovírus a pouco descoberto pelo Dr. Gallo, o HTLV, contudo, após estudos na unidade de outro centro de pesquisa, localizado na França, é descoberto que se trata de retrovírus distintos, gerando uma pôlemica em que o Dr. Gallo é acusador de roubar a descoberta desse novo retrovírus, intitulando publicamente como sua, essa polêmica chegou aos limites judiciais e até então não foi dado exclusivamente o direito de posse para ninguém em específico. A transmissão sexual é comprovada, através da análise ao comissário de bordo de Nova Yorque supracitado e a transmissão via sanguínea é atestada após perceber o grande número de pessoas contaminadas após uma transfusão sanguínea, o que acaba implicando em uma mudança na triagem dos sangues doados e distribuídos para o uso da população. No decorrer do tempo mais casos são analisados e é possível identificar casos autóctones (cuja transmissão acontece no local de manifestação da doença), como por exemplo em transfusões sanguíneas, e um possível caso alóctone, representado pelo rapaz que, segundo seu amigo, pode ter sido infectado em Nova York. Um viés criticado implicitamente no filme foi atuação da sociedade da época, que devido ao preconceito não se empenhou de maneira assídua no combate da nova doença, pois encontravam-se em uma época onde a representação homo afetiva ainda era agressivamente lidada, não que hoje os homossexuais não sofram mais retaliações, contudo, seu espaço hoje na sociedade é maior. Assim, após ser notada a presença dos vírus em crianças haitianas e pessoas heterossexuais, a sociedade temeu a possibilidade de ser atingida e as pressões no Governo aumentaram no intuito de melhorar as políticas públicas de saúde. Por fim, é possível chegar a conclusão do papel não só de clínicos e epidemiologistas na luta contra os males que atuam na sociedade, mas também do forte papel político-social na busca de descobertas e profilaxia. Desse modo, durante o filme é possível notar os jogos de poder, quando a descoberta é tomada pelo Dr. Gallo, o acúmulo de riquezas que as mazelas proporcionam, quando o dono da sauna propõe para um dos pesquisadores que apesar das saunas serem os locais mais propícios à proliferação elas deviam continuar, pois ele ganharia dinheiro com os visitantes e o pesquisador com pacientes em busca de tratamento; e ainda, se tem representado o preconceito, onde a simples ignorância impede o avanço científico. Desse modo, foi possível notar através de toda reflexão que uma patologia é mais do que um simples partícula infeciosa, mas também seres humanos e suas análise de como é possível ganhar dinheiro ou livrar a si próprio, no mais alto grau egoísta, do mal que atinge o outro.