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CENTRO UNIVERSITÁRIO CARIOCA Metodologia Científica __________________________________________________________________________ TEXTO 14 COLETA DE DADOS Definidos o tipo de pesquisa, a abordagem a ser usada chegou o momento de escolher quais técnicas serão empregadas. Vejamos. Método = conjunto de procedimentos racionais, baseados em regras, para se atingir um propósito. Técnica = regras, aplicação prática do conhecimento para um determinado fim. Em uma pesquisa podemos usar de forma combinada uma ou mais técnicas para coletar, analisar e interpretar dados: observação, questionário, entrevistas, estatística etc. Vamos nos ater a três métodos muito utilizados nas pesquisas sociais para coleta de dados: Observação; Questionário; Entrevista; 1. Observação Fundamental na fase de coleta de dados, a observação sempre é usada, combinada com outras técnicas ou não. A observação científica tem as seguintes características: Serve a um objetivo de pesquisa; Planejada – deve seguir um roteiro; Submetida a verificação e controles de validade e precisão. A técnica de observação tem algumas vantagens e desvantagens: Vantagem: acesso direto aos fatos, fonte dos dados. Desvantagem:a presença do/a pesquisador/a pode causar alterações no comportamento dos observados, destruindo sua espontaneidade e produzindo dados pouco confiáveis. Alguns cuidados também devem ser tomados antes de se partir para a observação: Conhecimento prévio do que observar Antes de iniciar o processo de observação, procure examinar o local. Determine que fenômenos devem ser registrados. Planejamento de um método de registro Crie, com antecedência, uma espécie de lista ou mapa de registro de fenômenos. Procure estabelecer algumas categorias a serem observadas. Fenômenos não esperados Esteja preparado para o registro de fenômenos que surjam durante a observação, que não eram esperados no seu planejamento. Registro fotográfico ou vídeo Para realizar registros iconográficos (fotografias,. filmes, vídeos etc.), caso o objeto de sua observação sejam indivíduos ou grupos de pessoas, prepare-os para tal ação. Eles não devem ser pegos de surpresa. Relatório A demora em preparar o relatório pode resultar em esquecimento de fatos importantes. Em relação aos tipos de observação, usaremos a seguinte classificação: Observação não participante ◦ Observação Simples; ◦ Observação Sistemática; Observação Participante 1.1. Observação Não Participante Observador/a se mantém à parte, oculto/a ou não, sem interagir com os observados ou participar de suas atividades. Dessa forma, busca-se preservar a espontaneidade dos observados. Exige controle na obtenção dos dados para que não se percam informações importantes por distrações, falha de equipamentos etc. 1.1.1. Observação Simples É a mais utilizada em pesquisas exploratórias e quando se observam comportamentos públicos (ex: hábitos de compra). Nesse caso, o observador não anota enquanto observa, confiando em sua memória para anotar após a observação. Flexível, mas deve-se atentar para o que se vai observar e como interpretar os dados obtidos. Vantagens: Facilita obtenção de elementos para definição de problemas de pesquisa e construção de hipóteses. Preserva espontaneidade dos observados. Desvantagens: Influência da subjetividade (gostos, afetos, atração pelo exótico) na coleta e também na interpretação dos dados. Dependência da memória; Os objetivos da observação podem até mudar, visto ser esta técnica muito usada em pesquisas exploratórias. Porém, três perguntas básicas tem de ser respondidas: Sujeitos – quem, quantos, como são etc. Cenário – onde, como é o local etc. Comportamento – como as pessoas se relacionam? De que modo? Linguagem etc 1.1.2. Observação Sistemática Pesquisador/a antes da coleta de dados elabora um plano específico para a organização e o registro das informações. Por isso estabelece antecipadamente as categorias necessárias para a análise da situação. Cuidados em relação ao registro de informações em observações não participantes. Deve ser pensado com cuidado, devido à relação observador/a x observados. Anotar durante a observação pode comprometer espontaneidade; Depender da memória (cuidado – anotar logo). Uso de câmeras (questões legais e éticas) 1.2. Observação Participante Aqui o/a observador/a assume um papel no grupo ou comunidade sendo observado. A observação pode ser natural quando o/a observador/a já faz parte da comunidade a ser pesquisada ou artificial quando sua integração é feita com fins de pesquisa. Por isso, algumas questões éticas devem ser observadas. O/A pesquisador/a deve decidir antecipadamente se sua condição será explícita ou oculta. Também tem de decidir se a revelação de determinadas informações colocará em risco ou não pessoas observadas. Ou as submeterá ao escárnio e reprovação social. Vantagens: ◦ Rápido acesso a dados de situações habituais; ◦ Acesso a informações privadas; ◦ Possibilidade de esclarecer comportamentos; Desvantagens: ◦ Desconfiança dos observados; ◦ Acesso a somente um estrato social. 2. Entrevista Técnica em que o/a cientista formula perguntas a pessoa entrevistada para obter dados que interessam à pesquisa. Esta é uma das técnicas mais utilizadas para coleta de dados nas pesquisas sociais. É considerada bem adequada para coletar dados sobre o que as pessoas sabem, crêem, esperam, desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como suas razões a respeito disso. Vantagens da Entrevista Obter dados sobre diversos aspectos da vida social; Muito eficiente para obter dados sobre o comportamento humano; Dados obtidos passíveis de classificação e quantificação; Flexibilidade: esclarecer e ajustar questões Ver expressão corporal do entrevistado; Atinge pessoas analfabetas; Limitações da Entrevista Desmotivação do/a entrevistado/a para responder as perguntas; Compreensão incorreta das perguntas; Respostas falsas por razões conscientes e/ou inconscientes; Inabilidade ou incapacidade de responder; Influência do/a entrevistador/a sobre a pessoa entrevistada; Custos: capacitação, deslocamento etc. A flexibilidade das entrevistas permite que elas sejam aplicadas com diferentes níveis de estruturação. A estruturação determina quão rígido é o roteiro de perguntas que o pesquisador deve seguir, ou seja, o quanto pode se desviar do roteiro para aproveitar a fala do entrevistado para fazer mais perguntas ou mesmo cortar algumas das previstas. Entrevistas não estruturadas; Entrevistas semi-estruturadas; Entrevistas estruturadas; 2.1. Entrevistas não Estruturadas Sem perguntas pré-definidas, apenas com objetivos e tópicos delineados; Tem como meta obter uma visão geral do problema e das características dos entrevistados; Recomendada em estudos exploratórios com figuras-chave como especialistas, líderes ou pessoas representativas do meio; 2.2. Entrevistas Semi-Estruturadas Algumas perguntas são pré-definidas e outras feitas de acordo com os rumos da entrevista; Utiliza-se de pautas ordenadas que guardam relação entre si; Usadas em contextos que pedem menor rigidez, mas nos quais certos pontos precisam ser verificados e comparados com maior facilidade e clareza. 2.3. Entrevistas Estruturadas Desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntascuja ordem e redação são invariáveis. Utilizada em levantamentos, nos quais são entrevistas muitas pessoas e se precisa quantificar os dados obtidos, permitindo sua análise estatística; Tem custos menores de capacitação. Não permite análises profundas. 2.4. Entrevistas por telefone Podem seguir um dos modelos acima, trazendo vantagens e desvantagens . Vantagens: custos menores; facilidade; rapidez; maior aceitação dos moradores; possibilidade de agendamento;segurança; facilidade de supervisão. Desvantagens:interrupção pelo/a entrevistado/a; menor quantidade de informações; perda da linguagem corporal do/a entrevistado e seu ambiente; amostra. 2.5. Procedimentos para uma entrevista Quem deve ser entrevistado? Procure selecionar pessoas que realmente têm o conhecimento necessário para satisfazer as necessidades de informação. Plano da entrevista e questões a serem perguntadas. Prepare com antecedência as perguntas a serem feitas e a ordem em que elas devem acontecer. Pré-teste. Procure realizar uma pré-entrevista com alguém para fazer uma crítica de sua postura antes de encontrar o entrevistado de sua escolha. Diante do entrevistado. Estabeleça uma relação amistosa e não trave um debate de idéias. Não demonstre insegurança ou admiração excessiva diante do entrevistado para que isto não venha prejudicar a relação entre entrevistador e entrevistado. Deixe que as questões surjam naturalmente, evitando que a entrevista assuma um caráter de uma inquisição ou de um interrogatório policial, ou ainda que a entrevista se torne um "questionário oral". Seja objetivo, já que entrevistas muito longas podem se tornar cansativas para o entrevistado. Procure encorajar o entrevistado para as respostas, evitando que ele se sinta falando sozinho. Vá anotando as informações do entrevistado, sem deixar que ele fique esperando sua próxima indagação, enquanto você escreve. Caso use um gravador, não deixe de pedir sua permissão para tal. Lembramos que o uso do gravador pode inibir o entrevistado. 2.6. O roteiro da Entrevista Cuidado com o contato inicial; Formular perguntas com clareza; Começar com temas amigáveis; Cuidado com temas delicados; Número adequado de perguntas; Uma pergunta de cada vez; Perguntas não devem deixar respostas implícitas. Ex: “você não acha que...” Usar “Na sua opinião, qual seria a causa de...” 2.7. Registro de Respostas Usar gravador: exatidão do registro X constrangimentos. Isso deve ser negociado com a pessoa entrevistada. Anotar no momento da resposta, usando as palavras da pessoa entrevistada para evitar distorções. Permite que a pessoa entrevistada confira as respostas, mas torna mais lento. Anotar depois: riscos da memória e subjetividade são maiores. Mesmo que tenha utilizado um gravador, faça um relatório o mais rapidamente possível para preservar suas impressões da entrevista. 3. Questionário Técnica de investigação composta por um número de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecer opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, vivências etc. Consiste basicamente em traduzir os objetivos da pesquisa em questões específicas cujas respostas trarão dados para testar as hipóteses ou esclarecer o problema. A diferença básica entre questionário e formulário é que enquanto no primeiro o roteiro de perguntas deve ser preenchido pelo entrevistado sem o auxílio do entrevistador. (Por isso muitas vezes traz uma carta de apresentação com instruções para o preenchimento e devolução ao pesquisador, particularmente quando vem pelo correio), no formulárioo entrevistado conta com o auxílio do pesquisador para preencher o roteiro de perguntas. Vantagens do Questionário Atinge grande número de pessoas, mesmo que estejam geograficamente dispersas; Custos menores com pessoal; Garante anonimato das respostas; Respondido em horário conveniente; Não expõe os pesquisados à influência do/a pesquisador/a. Limitações do Questionário Exclui os analfabetos; Impede esclarecimentos das perguntas; Impede saber as circunstâncias em que foi respondido, o que pode afetar as respostas; Não há garantias de devolução; Itens podem ter significados diferentes para cada pesquisado, o que compromete a análise. 3.1. Tipos de Questões Os questionários trabalham com questões abertas ou fechadas, às quais também podemos acrescentar as questões dependentes. Questões Fechadas: múltipla escolha. Há um conjunto de alternativas de resposta para que o/a entrevistado escolha uma. Questões Abertas: discursivas. Espaço em branco para a pessoa escrever sua resposta. Questões Dependentes: a resposta de uma questão depende da resposta de outra. Ex: você fuma? Se sim, quantos cigarros por dia? 3.1.1. Questões Fechadas São usadas para: Evitar número grande de alternativas; Garantir que qualquer que seja a situação do respondente, há uma resposta. Ex: outros. Usar na maioria das vezes questões mutuamente excludentes, situações com mais de uma alternativa são exceções. Tornar as respostas facilmente tabuláveis, convertidas em gráfico, permitindo fazer análises estatísticas, traçar relações quantitativas. Exemplos Qual a sua religião? 1. Católico 2. Protestante 3. Espírita 4. Sem Religião 5. Outros. Você concorda com a privatização da Petrobrás? 1. Concordo plenamente 2. Concordo. 3. Não tenho opinião 4. Discordo 5. Discordo plenamente. 3.1.2. Questões Abertas Sua maior vantagem é não forçar que o/a respondente enquadre sua percepção em alternativas pré-estabelecidas. Isso facilita uma análise qualitativa dos dados obtidos. Porém, questionários com questões abertas costumam voltar com muitas delas não respondidas por requerem esforço maior; Além disso, seu processo de tabulação é mais complexo, por isso deve conter poucas perguntas. 3.2. Conteúdo das Questões O que as pessoas sabem: fatos; O que as pessoas pensam, esperam sentem, preferem: crenças e atitudes; O que as pessoas fizeram, fazem ou pretendem fazer: comportamentos. 3.3. Escolha das Questões Somente questões relacionadas ao problema pesquisado; Somente questões que possam ser respondidas sem grandes dificuldades; Evitar questões íntimas; Lembrar da necessidade de tabular e analisar os dados levantados. Definir o número e ordem das questões a partir das características dos/as respondentes: tempo; interesse pelo tema etc. A linguagem utilizada no questionário deve ser simples e direta para que o respondente compreenda com clareza o que está sendo perguntado. Não é recomendado o uso de gírias, a não ser que se faça necessário por necessidade de características de linguagem do grupo (grupo de surfistas, por exemplo) Todo questionário a ser enviado deve passar por uma etapa de pré-teste, num universo reduzido, para que se possam corrigir eventuais erros de formulação. A escolha da Técnica Cada técnica tem suas vantagens e desvantagens. Faça sua escolha a partir das características de sua pesquisa: dados que precisa levantar; características do público, seus recursos etc. Planeje bem, lembre que pode usar mais de uma técnica de forma sistemática. Ex: observação simples – entrevista semiestruturada.
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